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Filiação

Conceito e breves considerações

A palavra filiação vem do termo latino “ filiatio” que tem origem na palavra “fillius” da qual
deriva a palavra filho.

Nestes termos, tomando por base a definição etimológica da filiação, MARIA DE


CARMO MEDINA define a filiação como sendo o “vínculo que liga o filho a cada um dos
seus progenitores”.1

EDUARDO DOS SANTOS define o instituto da filiação, como sendo, um estado


jurídico de uma pessoa em razão da relação de procriação real ou suposta com terceiro,2
Sendo este estado integrado por um complexo de relações jurídicas entre procriadores e
procriados.3

A esse complexo de relações jurídicas denominam-se relações-jurídico familiares de


parentesco consanguíneo conforme o disposto no artigo 7 conjugado com o artigo 8 da
lei da família, em linha recta descendente conforme o disposto no número 2, do artigo
11 da lei da família (assumindo que parte de pai para filho ou de mãe para filho), do 1º
grau conforme o disposto no número 1, do artigo 12, 2 ª geração conforme o disposto no
artigo 10 da lei da família, ligando assim, uma pessoa a aqueles que o geraram.4

É de referir, que a filiação constitui o primeiro elo, e com certeza o mais profundo entre
aqueles que se estabelecem nas relações jurídico familiar de parentesco. Este elo pode
ser caracterizado como sendo um elo de natureza recíproca e permanente tendo em
conta que os seus efeitos pessoais se prologam durante toda a vida5.Por essa razão, nas
relações jurídicas de filiação se manifesta com maior intensidade o princípio da
solidariedade e da cooperação que deve prevalecer entre os membros da família de grau
mais próximo, no caso entre pais e filhos, tal como vem disposto a título de exemplo no
artigo 290 da lei da família.6

Sujeitos da relação jurídica de filiação

Ainda a propósito do conceito de filiação, importa referir, que esta pode ser definida
como um conjunto de normas que estabelecem a relação específica entre pais e filhos,
bem como os direitos e deveres recíprocos que entre estes se estabelece. O que faz com
que se subentenda que são sujeitos das relações jurídicas de filiação: os filhos e os seus
respectivos pais, assim como os tutores, tutelados e famílias de acolhimento e os

1
MEDINA, Maria do Carmo, pag. 100-101
2
SANTOS, Eduardo dos, (1999), Direito da Família, Ed. Almedina, Coimbra, pàg. 464.
3
SANTOS, Eduardo dos, (1999), Direito da Família, Ed. Almedina, Coimbra, pàg. 464.
4
Cfr. Artigos 7, 9, 10, nº 2, do artigo 11 e nº 1, do artigo 12 todos da lei da familia Lei da família n º
22/2019 de 11 de Dezembro
5
Idem,op.cit, pág.101
6
MEDINA,Maria do Carmo,pág. 99
respectivos acolhidos nos casos em que haja necessidade de suprir o poder parental 7
Tratando se dos filhos, essa relação se estabelece por via de regra a partir do seu
nascimento completo e com vida, tal como, vem descrito no número 1, do art.66 do
código civil 8, Tendo maior incidência na fase da menoridade, abrangendo o direito dos
menores, e conjunto de direitos e deveres que constituem a autoridade paternal.9

Sistema legal moçambicano em matéria de filiação

A situação jurídica do filho constitui um estado familiar que assume importância


fundamental dentro das relações de família e em especial no ordenamento jurídico
moçambicano.

O legislador moçambicano ciente do papel desempenhado pela família na sociedade tal


como deixou claro no artigo 119, numero 1 da lei da CRM ,

Importa referir que a relação jurídica de filiação desdobra-se em dois vínculos a ter em
conta: o que se estabelece entre o filho e o pai a que se denomina paternidade e o que se
estabelece entre o filho e a mãe denominado maternidade.10

É de referir, que a filiação constitui o primeiro elo, e com certeza o mais profundo entre
aqueles que se estabelecem nas relações jurídico familiar de parentesco.

O Estado moçambicano tem interesse na defesa da família e em especial na defesa dos


menores, nestes termos, o Estado conferiu dignidade constitucional a instituição familiar
tal como reza o número 1,do artigo 129 da CRM.

E emanou e ratificou um conjunto de dispositivos legais com vista a proteger a


instituição familiar com especial enfoque aos menores, essa defesa abrange a
preservação da sua vida, saúde e normal desenvolvimento e ainda a defesa quanto ao
aspecto da sua formação moral, intelectual e profissional tal como vem descrito no
número 3, do artigo 120 da CRM conjugado com o artigo 121 da CRM.

O Estado moçambicano joga assim, um papel preponderante na regulação do poder


parental, Controlando a forma como os pais exercem os seus direitos e deveres
funcionais impedindo que estes prejudiquem a criança e a sociedade.

O Estado a esse propósito emanou uma serie de direitos e deveres a serem tidos em
conta no exercício do poder parental e em especial na protecção dos menores.indicar
artigos exemplificativos

Em matéria de regulação do poder paternal é necessário ter em conta alguns princípios


fundamentais orientadores da jurisdição de menores pelo seu reflexo directo no domínio
da acção de regulação do poder paternal e consequente acção de prestação de alimentos
tal como afirma ADELINO MUCHANGA a propósito do direito tutelar de menores.
7
MEDINA, pag. 1oo
8
Cfr. nº 1, do artigo 66 do código civil.
9
MEDINA, pag. 1oo
10
MEDINA, Maria do Carmo, pág.101
Estes princípios provem de normas constitucionais a título de exemplo os artigos 35 da
CRM que estabelece o princípio da igualdade entre homens e mulheres, 47, 119, 120,
121 da CRM.

Disposições de direito internacional que passaram a integrar a ordem jurídica interna


como normas infraconstitucionais em obediência ao disposto no número 2, do artigo 18
da CRM, a título exemplificativo temos os artigos 2 e 4 da Carta Africana dos direitos e
bem-estar da criança, os artigos 11, 12, 13, 26, 27,30, 31, 33, 35 da lei da promoção e
protecção dos direitos da criança, os artigos 1, 2, 3 e 12 da Convenção sobre os direitos.

Ainda no âmbito da legislação interna os artigos 121, 124 e 139 do código civil, artigos
118 a 127 da lei da organização jurisdicional de menores, e não menos importantes os
artigos da lei da família e a lei do código do registro civil.

Procriação

A procriação é um facto que quando transplantada para o plano do Direito, dá lugar ao


instituto da filiação.11

“ Na base do conceito jurídico (e coerente) do parentesco está assim o fenómeno


biológico da procriação, não importando se a esta esteja ou não ligada ao
casamento.”12 É de referir que actualmente a procriação deixou de ser um dos
elementos essências do casamento, tal como vem descrito no artigo 8 da lei da
família.13

Tipos de procriação

Ao falar-se da filiação pensa-se imediatamente na filiação biológica ou natural que é


aquela que pressupõe a conjugação carnal entre homem e mulher, contudo, esta não é
a única forma de procriação existente, isto é, não é o único modo de gerar
descendentes, existem actualmente outras formas de procriação denominadas de
procriação medicamente assistida.

Procriação medicamente assistida

A procriação medicamente assistida é um conjunto de métodos científicos, que tem


em vista possibilitar que o homem e a mulher estéreis possam vir a gerar descentes.

11
Idem, op.cit, pág. 464.
12
VARELA, Antunes, Direito da Família, 4ª edição, 1º volume, livraria Petrony Lda- editores, pág. 26.
13
Cfr.artigo 8 da lei da familia
As hipóteses de procriação medicamente assistida são bastantes diversificadas,
podendo abarcar a inseminação artificial, a fecundação “in vitro”, doação de óvulos/
espermas, entre outros métodos.

Tendo em atenção o nosso sistema legal em matéria de filiação, no que tange a


procriação medicamente assistida o nosso legislador apenas aborda o assunto de
maneira superficial ao referir se a não legitimidade da impugnação de paternidade nos
casos em que houve consentimento do cônjuges ou unido de facto conforme o
disposto no número 3, do artigo 233 da lei da família

Importa referir que a relação jurídica de filiação desdobra-se em dois vínculos a ter em
conta: o que se estabelece entre o filho e o pai a que se denomina paternidade e o que se
estabelece entre o filho e a mãe denominado maternidade.14

Estabelecimento da filiação

“O estabelecimento da filiação está subjacente ao interesse público em proteger o


direito de todo o cidadão de conhecer os progenitores e o direito a que a filiação
estabelecida corresponda à verdade substancial da relação de filiação.”15VER SE NÃO
TEM NENHUM INSTRUMENTO INTERNACIONAL SOBRE O ASSUNTO

Estabelecimento da maternidade

A maternidade sempre foi evidente e aberta, diante dos sinais exteriores da gestação e
do subsequente parto, a maternidade sempre encontrou fundamento nos adágios
romanos “ partus seguitum ventrem” (o parto segue o ventre) e “mater sempre certa”
diante dos factos objectivos da gravidez e do parto. 16

Paternidade

Presunção de paternidade

A presunção “pater is est” é uma regra pauliana, para o seu funcionamento carece do
preenchimento de determinados requisitos:

a) Existência de casamento ou união de facto;


b) Nascimento ou concepção na constância do matrimónio ou da união de facto;
c) Maternidade da mulher;
d) Paternidade do marido ou unido de facto.

Fundamento da presunção

De modo a explicar as causas por de trás da presunção de paternidade surgiram


algumas teorias tais como:

14
MEDINA, Maria do Carmo, pág.101
15
IDEM,OP.CIT,Pág.102
16
MADALENO, Rolf, (2018), Direito da Família, 8ª edição, editora forense, Rio de Janeiro, pág. 694.
 Teoria do direito de acessão;
 Teoria da coabitação e fidelidade;
 Teoria formalista;
 Teoria da coabitação casual;
 Dentre as teorias acima enunciadas, a que melhor explica a presunção da
paternidade se adequando a realidade é a teoria da coabitação causal, na
medida em que: explica a concepção nos primeiros dias do matrimónio indicar
artigo e de igual modo sem excluir a função da fidelidade (dever conjugal )
indicar o artigo, o que faz com que esta actue indirectamente, por sua vez faz
da coabitação considerada a causa próxima e verdadeira na medida em que
atribui causa a uma determinada coabitação fecunda, parindo da ideia de que a
mulher casada e unida de facto deve cumprir o seu debito conjugal, mantendo
com o seu parceiro relações sexuais e uma vez provada a coabita entre mae e
filho, a lei através da regra pate ris est, presume que tal união foi fecunda e
que o filho nasceu desta relação. Pg.515 e 516 EDU

Efeitos do estabelecimento da filiação

Uma vez estabelecida a filiação provem dela alguns efeitos, tais como:

 O vínculo paterno-filial (efeito primordial) que resulta na aquisicao da situação


jurídica de filho , que da lugar a aquisição global de direitos e deveres que lhe
correspondem seja eles de natureza pessoal ou patrimonial. Importa referir
que deste vinculo deriva ainda o estabelecimento dos demais vínculos
familiares de parentesco, tais como o de afim. Ver artigo
 Direito ao nome, conforme o disposto no artigo 215 da lei da família
 Direito a pensão e segurança alimentar, entre outros. 17

Perfilhao

É um meio de adquirir o estado de pai por declaração deste.18

 Poder parental

17
CARMO, 133
18
SANTOS, Eduardo dos, Direito da Família, Ed. Almedina, Coimbra, 1999, pàg. 518
Este é um conjunto de poderes-deveres exercidos conjuntamente por ambos os
progenitores, tal como vem disposto no art.293 da LF.19

 Sujeitos do poder parental:

Sujeitos passivos:

São sujeitos passivos do poder parental os filhos menores ou emancipados, tal como
vem disposto no artigo. 292 da LF.20 E atendendo e considerando que recaindo a tutela
no pai ou na mãe exercem estes o poder parental (art.144 da lei da familia) 21 como
afirma EDUARDO DOS SANTOS , LOGO TAMBEM os maiores interditis estão
sujeitos ao poder paternal quando a tutela é deferida a algum dos progenitores.22

sujeito activo: ????

 Efeitos da filiação

poderes –deveres relactivamente à pessoa dos filhos

relacionado ao dever de segurança, surge o dever de guarda dos filhos menores e neste
ambito os menores tem residência estabelecida no domicilio da família ( que pode ser
habitada pelos titulares do poder parental) ou progenitor cuja guarda esiver (art.85 do
cc). Assim sendo os pais não podem abandonar a morada de família ou aquela que os
pais lhe tiverem destinado ou dela serem retirados.23

O pai ou mae quwe expulsarem ou abandonar o filho menor pode ser condenado.
Indicar artigo do código penal.

Responsabilidade pelos danos

A lei responsabiliza os pais pelos danos que o menor cause a terceiros, com base no art.
491 do cc e numero 2, do art. 488 e 489 todos do código civil.24 A este propósito a lei
estabelece uma presunção de culpa “in vigilando” ilidível se os pais demonstrarem que
“cumpriram o seu dever de vigilância ou que os danos se teriam produzido ainda que o
tivessem cumprido” casos em que substitui a obrigação a obrigação do incapaz. 25

Poder-dever de representcao

Compete ainda aos pais ou ao tutor o poder de representar os filhos menores.( numero 2,
do art.293) na medida em que a incapacidade destes é suprida pelo poder paternal e
subsidiariamente pela tutela art. 124 do cc26

19
CFR. 293 DA LEI DA FAMILIA DE 2019
20
CFR,ART. 124 do CC, conjugado com o artigo 292 da lei da familia
21
CFR.ART.144 DA LEI DA FAMILIA
22
SANTOS, Eduardo dos, Direito da Família, Ed. Almedina, Coimbra, 1999, pàg. 540.
23
Idem,op.cit,pag. 552
24
Cfr.
25
SANTOS, Eduardo dos, Direito da Família, Ed. Almedina, Coimbra, 1999, pàg. 553.
26
Idem,op.cit,pag. 559.
MEIOS DE SUPRIMENTO DO PODER PARENTAL

Aspectos Gerais

Modalidades

A lei da família estabelece no seu artigo 339, duas formas de suprimento do poder
parental, nomeadamente a tutela e a família de acolhimento.27

TUTELA

A palavra tutela deriva do verbo latim“ tueri ” que significa “olhar”, “defender” e
“proteger”.28

Noção

A tutela é o meio subsidiário ou sucedâneo ao poder parental, aplicado com o objectivo


de suprir a incapacidade dos menores e incapazes a eles equiparados (interditos
conforme o disposto no artigo 139) nos casos em que faltem os pais, ou estes estejam
impedidos ou inibidos de o fazer conforme o disposto no número 1, do artigo 340 da lei
da família 29. Portanto é o meio normal de suprimento do poder parental30.

Confiada apenas a pessoas capazes, conferindo lhes a faculdade de representar em


juízo ou fora dele um incapaz, de o proteger, o guardar e reger a sua pessoa e bens,
esta é a tutela geral.31

Sujeitos da tutela

Importa referir que os sujeitos da tutela podem ser: activos e passivos consoante a
posição ocupada na relação subjacente.

Sujeitos activo

São sujeitos activos: o tutor e o conselho de família.32

Sujeitos passivos

Estão sujeitos a tutela: o menor nos casos em que estejam preenchidos os requisitos
do número 1, do artigo. 340 Da lei da família;

27
Cfr. Artigo 339 da lei da familia
28
EDU, Idem,op.cit,pág. 587
29
Cfr. Artigos 139 e 340 da lei da familia
30
DA MOTA PINTO, Carlos Alberto (1996), Teoria Geral do Direito Civil, 3ª edição, Coimbra Editora,
p.227.
31
EDU, op.cit, pág. 590
32
Idem,op.cit,pg.592 e 593
E os maiores interditos quando preencham os requisitos do artigo 341 da lei da
família.33

Assim sendo, pode afirmar-se que existem dois tipos de tutela: a tutela de menores e a
tutela de maiores, cujos regimes jurídicos encontram-se previstos nos artigos 346 e 379
e seguintes, respectivamente.34

Tutela de Menores

A tutela de menores tem lugar na falta de poder parental e tem por objectivo a guarda,
educação, defesa de direitos, protecção da pessoa e do património do menor (art. 346,
n.º1 e 2 da LF).35 Importa referir que este instituto jurídico não altera os vínculos legais
existentes entre o menor e a sua família natural.

Tutela de Maiores

Designação do tutor

A designação do tutor de maiores incapazes ou declarados interditos é feita pelos


sujeitos enumerados no art.379 da LF.36

Os requisitos especiais para ser tutor vêm descritos no artigo 380 da mesma lei.

Tutela provisória é aquela realizada pelos Directores dos estabelecimentos de


assistência onde estejam internados incapazes ou interditos enquanto não for designado
outro por decisão judicial. (art.381 da LF).37

Carácter oficioso da tutela e o seu modo de constituição

Relativamente ao carácter oficioso da tutela a lei da família estabelece no seu art.343


que verificadas umas das situações previstas no art.333 da lei da família deve o MP
promover oficiosamente a instauração da tutela ou da administração. Nestes termos,
qualquer autoridade administrativa ou judicial, bem como os funcionários do registo
civil e de acção social, estão obrigados a comunicar ao MP competente, tal como reza o
número 2 do mesmo artigo. 38

33
Cfr.o numero 1, do art.34o e o art.341 todos da lei de familia
34
Cfr.346 e 379
35
Cfr. Números 1 e 2 do artigo 346 da lei da familia
36
Cfr. Os artigos 379 e 380
37
Cfr.art. 381
38
Cfr. artigos 333 e 343 da lei da familia
No que toca ao modo de constituição de tutela, o número 1 do art.344 estabelece que
esta pode ser constituída mediante sentença judicial, a requerimento do MP, dos
ascendentes ou colaterais até ao 4º grau de menor. O exercício da tutela é feito sob
controlo do Tribunal, conforme dispõe o n.º2 do mesmo artigo.39

Órgãos de tutela

Tal como já foi referido a propósito dos sujeitos activos da tutela.

A tutela é exercida por um Tutor, coadjuvado pelo Conselho de Família, conforme


dispõe o n.º1 do art, 345. O cargo de tutor é obrigatório e uma vez aceite não pode ser
recusado, salvo por motivo legítimo, devidamente comprovado pelo tribunal (número 2,
do mesmo artigo).40

Designação de tutor

De acordo com o art. 347, o cargo de tutor recai sobre a pessoa designada pelo pai ou
pela mãe, pela lei ou pelo tribunal., a este propósito de designação de tutor são ainda
relevantes os artigos 348, 349 e 350, todos da LF 41

Ainda a propósito da questão de designação de tutores a lei da família no seu art.353


enumera as pessoas que não podem ser tutoras. 42

A escusa da tutela só terá lugar nas situações previstas no n.º1 do art. 345 da LF.43

Direitos e deveres do tutelado

Conforme o dispõe no art.352 da LF, o tutelado goza dos direitos próprios dos filhos nas
relações pessoais com o tutor, a título de exemplo temos os direitos consagrados no
artigo 291 da lei da família,44 Por via disso, tem direito a ver protegidos os seus bens, o
legislador moçambicano de modo a salvaguardar o interesse dos menores e interditos
consagra a obrigatoriedade por parte do tutor de prestar contas sobre a administração de
bens em tribunal.

Deveres: O tutelado tem o dever de respeitar, estimar e obedecer ao seu tutor.

39
Cfr.art.344 da lei da familia
40
Cfr.artigo 345 da lei da familia
41
Cfr artigos 347, 348,349,350 da lei da familia
42
Cfr.artigo 353
43
Cfr o número 1, do artigo 345
44
Cfr artigo 351 conjugado com o artigo 291 da lei da familia
Actos, direitos e deveres, remoção e exoneração do tutor

O artigo. 355 da LF ao estabelecer os princípios gerais sobre os direitos e deveres do


tutor, determina que o tutor tem em princípio os mesmos direitos e obrigações dos pais,
com as modificações e limitações constantes dos artigos 356, 357 e 358 da lei da
família.45 Isto significa que em relação aos actos, o tutor tem, em princípio, a liberdade
para praticar qualquer tipo de acto, excepto os previstos nos artigos 357 e 358, todos da
LF. Em caso deste praticar actos em contravenção ao disposto no art.357 da lei em
vigor, os mesmos serão tidos como nulos, aplicando-se ao caso as regras de nulidade
constantes nos artigos 286 e 290 do código civil conjugado com o n.º1 do art.359 da
LF.46 O art.360 da LF prevê ainda outras sanções aplicáveis aos tutores em decorrência
da violação do art. 358 da presente lei.47

Direitos específicos do tutor: Relativamente aos direitos, o tutor tem o direito a ser
remunerado e o direito a ser indemnizado, nos termos do art. 362 e 366, todos da LF.48

Deveres: em relação aos deveres, tutor tem a obrigação de fazer a relação dos bens do
tutelado, obrigação de prestar contas, conforme rezam os artigos 363 e 364, todos da
LF.49

Termo da tutela

A remoção e exoneração do tutor procedem mediante a observância do disposto no


artigo 368 e seguintes da LF.50

FAMÍLIA DE ACOLHIMENTO

Noção

A noção de família de acolhimento encontra se consagrada no n.º1, do art.390 da LF em


vigor. 51

45
Cfr. Artigos 355, 356, 357 e 358 da lei da familia
46
Cfr. Art. 286 e 289 do codigo civil, conjugado com o artigo 359 da lei da familia.
47
Cfr. O artigo 360 da lei da familia
48
Cfr. Artigo 362 e 366 da lei da familia
49
Cfr.artigo 363 e 364 da lei da familia
50
Cfr. Art.368 da ,lei da familia
51
Cfr. O numero 1, do art. 390
Importa aqui referir, que a consagração da figura da família de acolhimento na lei da
família moçambicana constitui uma inovação introduzida no ordenamento jurídico
moçambicano por meio da lei da família de 2004.

A sua consagração a nível legal tem por objectivo fazer face a situação de crianças
órfãs e vulneráveis, o que veio acrescentar mais uma alternativa de amparo familiar.

A introdução deste novo instituto traduz o reconhecimento pelo legislador


moçambicano do papel preponderante desempenhado pelas famílias na formação das
crianças e da sociedade no geral, ao proporcionar as crianças a compreensão e o apoio
emocional de que carecem para a sua saúde mental e harmonioso desenvolvimento. 52

Importa referir que a instituição desta figura jurídica é dependente da decisão de um


Tribunal competente, tal como vem disposto nos termos do n.º2, do artigo 390 da LF.

E ao processo relativo à integração do menor na família de acolhimento vem regulado


nos artigos 144 e 117 da lei da organização tutelar de menores. 53 O processo de
integração é essencialmente idêntico ao da adopção com as necessárias adaptações
art.114 da lei da organização de menores.54

Direitos e deveres do administrador e remoção e exoneração e termo da


administração

Basicamente, em relação a estes tópicos o legislador aplica as mesmas disposições


relativas ao tutor, com as necessárias adaptações55

Requisitos relativos à família de acolhimento e ao menor

Para a instituição da figura de família de acolhimento, a lei estabelece alguns requisitos


relativos à família de acolhimento e ao menor, tais requisitos encontram previstos nos
artigos 391e 392 da LF.56

Relações entre o acolhido e a família natural e a família de acolhimento

52
Ficha,pg.39 e 40
53
Cfr. Artigos 114 e 117 da lei numero 8/ 2008, de 15 de julho.
54
Cfr. Artigo 114 da lei numero 8/ 2008, de 15 de julho
55
Cfr. artigos 387, 388 e 389 todos da LF.
56
Cfr. Artigos 391 e 392 da lei da família
No tocante à primeira relação a lei dispõe no seu art. 393, que o acolhido conserva todos
os direitos e deveres em relação à família natural, salvas as restrições estabelecidas na
lei.57

E quanto a segunda relação, a lei estabelece no n.º 1 do art.394, que o acolhido e a


família de acolhimento estão sujeitos aos direitos e deveres próprios do poder parental,
com as necessárias adapções.58

Quanto aos direitos sucessórios, o menor os mantém relativamente à família natural,


independentemente de poder ser chamado a suceder aos cônjuges ou companheiros da
união de facto da família do acolhimento. 59

Afastamento do menor da família de acolhimento e os seus efeitos

Esta matéria encontra-se essencialmente regulada nos artigos 396 e 397 da LF.60

A propósito do afastamento do acolhido da família de acolhimento importa referir que


os efeitos da integração do menor na família de acolhimento ao contrário do que
acontece com os efeitos pessoais provenientes do poder parental (considerados
permanentes) perduram apenas enquanto durar a relação entre o acolhido e a família de
acolhimento, o que faz com que uma vez transitada em julgada a sentença que decrete o
afastamento do acolhido da família de acolhimento os efeitos até então produzidos
deixam de existir, conforme o disposto no artigo 397

Conselho de família

A figura de conselho de família é um órgão cujo regime jurídico encontra-se


minuciosamente regulado entre os artigos 371 a 378 da LF.61

O conselho da família é constituído por 2 vogais escolhidos dentre os parentes ou afins


do menor conforme o disposto nos artigos 371 e número 1, do artigo 372 da lei da
família.62 Na falta de parentes ou afins para integrarem o conselho de família, a escolha
de vogais é feita obedecendo o disposto no número 2, do artigo 372 da lei da família. 63

57
Cfr.art. 393 da Lei da familia
58
Cfr. Art.394 da lei
59
Cfr. Numero 1, do art. 395 da lei da familia
60
Cfr. Artigos 396 e 397 da lei da familia
61
Cfr. Artigos 371 a 378
62
Cfr. Artigo 371 e numero 1, do art.372 da lei da familia
63
Cfr. Numero 2, do artigo 372
Atribuições do conselho de família

Compete ao conselho de família vigiar o modo como são desempenhadas as funções do


tutor. 64

Convocação e funcionamento

As regras para a convocação e funcionamento do conselho de família encontrassem


consagradas nos artigos 375 e 376 da lei da família respectivamente.65

É de salientar que o cargo de vogais ao contrário do que se verifico com o cargo do


tutor não é remunerado conforme o disposto no 377 da lei da família. 66

Administração de bens

Designação de administrador

A designação do administrador de bens do menor é feita nos termos das disposições


aplicáveis relativas à nomeação do tutor, com a ressalva do preceituado nos artigos 383,
384, 385, 386 da LF. 67

64
Cfr. Art. 374 da lei da familia
65
Cfr. Artigos 375 e 376 da lei da familia
66
Cfr. Artigo 377 da lei da familia
67
Cfr. Artifos 384 a 386 da lei da familia.

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