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CONTRATO DE NAMORO

SALVALAGGIO, Ana Paula. Pós-graduanda em Direito Civil e Direito Processual


Civil pelo Projuris Estudos Jurídicos Ltda, Centro Universitário das Faculdades
Integradas de Ourinhos/SP.
INTRODUÇÃO
O Contrato de Namoro é um contrato atípico que vem ocupando espaço na seara
jurídica, principalmente quando falamos em proteção de patrimônio.
A alteração da Lei nº. 9.278/96 deu abertura para esse tipo de negócio jurídico,
preceituando que “conviventes podem a qualquer tempo, requerer a conversão da união
estável em casamento”, afastando o prazo mínimo de cinco anos de convivência.  
Assim, o contrato de namoro permite certificar e constatar o status de
relacionamento dos requerentes, e o maior objetivo é a descaracterização de uma união
estável. Apesar das discussões doutrinárias, trata-se de um contrato reconhecido pela
jurisprudência.
A problemática se estabelece em razão da linha tênue existente entre o namoro
(qualificado) e a união estável. O presente estudo objetiva a análise de sua validade e
eficácia, tendo em vista que um dos argumentos contrários defendem que esse contrato
pode ser utilizado para maquiar a união estável.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para essa pesquisa foi a dedutiva, baseada em revisão


bibliográfica doutrinária e jurisprudencial.
Busca-se a análise do conceito de contrato de namoro e sua função, validade e
eficácia, sendo um pacto do casal que busca entre outros motivos, a incomunicabilidade
do seu patrimônio.
Comtempla-se, ainda, a questão legal e jurisprudência sobre o tema, que destaca
a diferença na prática entre o namoro, namoro qualificado e união estável, bem como, a
distinção e ao mesmo tempo a proximidade com o instituto da união estável, frente a
evolução e as mudanças ocorridas com os relacionamentos afetivos na sociedade
moderna.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O contrato de namoro trata-se de uma declaração da existência de um fato
social, feita por meio de escritura pública no Tabelionato de Notas. Quando ficar
constatado que o contrato foi firmado com o propósito de afastar ou impedir o
reconhecimento da união estável, de acordo com a doutrina e jurisprudência, ele é
nulo de pleno direito, sendo necessário analisar o caso concreto.
Uma expressão que vem sendo muito utilizada é “namoro qualificado”, quando
as pessoas têm um relacionamento amoroso, mas não têm intenção de constituir família.
O fato de o casal morar junto não caracteriza de pronto a união estável, da mesma forma
em que morando em casas separadas, podem ter a estabilidade da união.
Um exemplo a ser citado é o de pessoas que residiam com seus pais e, em razão
da pandemia, passaram a residir com o (a) namorado (a) a fim de proteger a saúde de
seus familiares.
Em contrapartida, os requisitos de uma união estável são a convivência pública,
notória, contínua e com vontade de constituir família, nos termos do artigo 1.723 do
Código Civil. Na união estável presume-se que os bens adquiridos na constância da
união foram objetos do esforço comum e isso vai interferir no regime sucessório e no
direito de eventual partilha. Com a dissolução de uma união estável há direito a meação
do patrimônio e a pensão alimentícia, o que não ocorre no namoro qualificado
(IBDFAM, 2018).
A expressão “namoro qualificado” foi utilizada pelo Ministro Marco Aurélio
Bellizze, em decisão monocrática sobre um pedido de reconhecimento e dissolução de
união estável com partilha de imóvel adquirido em período anterior ao casamento -
Recurso Especial número 1454643 de 10/03/2015, do Superior Tribunal de Justiça.
Em síntese, uma das partes comprou um apartamento quando estava namorando
visando uma futura moradia do casal. Por circunstâncias de trabalho, o casal acabou se
mudando para outro país e passaram a coabitar, tendo após dois anos se casado pelo
regime da comunhão parcial de bens. A decisão julgou inviável o reconhecimento da
união estável nos dois anos anteriores ao casamento com o fim exclusivo de
comunicar o bem adquirido.
Para Pereira (2015) o namoro envolve um romantismo que deveria ficar longe
de questões jurídicas, mas as mudanças culturais e a liberação dos costumes sexuais
estreitaram o namoro e a união estável. Em razão disso, por mais que pareça
desnecessário, tornou-se um instrumento importante, de modo a deixar claro o não
objetivo de constituir família, embora possa até ser uma preparação para isso, podendo
ser estipulado o regime de bens a vigorar, caso o namoro evolua para uma união estável
e casamento.
Nesse sentido, o contrato de namoro tem eficácia relativa, pois a união estável é
um fato jurídico que têm reflexos jurídicos, mas que decorrem da convivência e do nível
de comprometimento do casal. Se as aparências e a notoriedade do relacionamento
público caracterizarem uma união estável, de nada valerá um contrato que firme o
contrário e que busque neutralizar a incidência de normas cogentes, de ordem pública,
inafastáveis pela simples vontade das partes (GONÇALVES, 2010, p. 616).
Tartuce (2017) explica que nos casos em que existe uma união estável “o
contrato de namoro é nulo por fraude à lei imperativa (art. 166, VI, do Código Civil) e
também por ser o seu objeto ilícito (art. 166, II, do Código Civil)”.
Destarte, as declarações contidas no contrato de namoro podem ser úteis como
meio de prova da inexistência de união estável. Porém, caso seja averiguada a
existência efetiva da união, esse contrato não será capaz de produzir qualquer efeito
jurídico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O contrato de namoro atesta a vontade das partes de não constituir família,
afastando a caracterização de união estável. Contudo, se a estabilidade restar
comprovada, o contrato perde eficácia.
Trata-se, pois, de um instrumento não previsto em lei, mas destinado à segurança
jurídica de casais que naquele momento, vivem realmente um simples namoro, de modo
a preservar a incomunicabilidade de seus bens.
Em contrapartida a união estável tem previsão legal e visa a formação de uma
entidade familiar. Para impedir que o Estado interfira nas relações privadas, surgiu o
polêmico contrato de namoro.
Embora o contrato de namoro constitua um instrumento questionável por ser
aberto a possibilidade de má-fé, pelos princípios da afetividade e autonomia, as partes
são livres para celebrá-lo.

Palavras-chave: Afetividade. Contrato de Namoro. Namoro Qualificado. União


Estável.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 0023994-95.2009.8.19.0209
RJ 2014/0067781-5. DJ 06/11/2014. Relator Ministro Marco Aurélio Bellizze. Pesquisa
de Jurisprudência. Disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/153547625/recurso-especial-resp-1454643-
rj-2014-0067781-5>. Acesso em: 22 mar. 2021.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, vol. 6, 7ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.
IBDFAM, 2018. MT: TJ diferencia namoro qualificado de união estável..Disponível
em: < https://ibdfam.org.br/noticias/na-midia/16513/MT:
+TJ+diferencia+namoro+qualificado+de+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel>Acesso em:
22 mar. 2021.
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de direito de família e sucessões: ilustrado.
São Paulo: Saraiva, 2015.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito de Família. – 12ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2017.

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