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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

MÓDULO DIREITO DE FAMÍLIA I

1. Material pré-aula

a. Tema

União Estável. Caracterização. Contrato de União Estável. Cláusulas.


Famílias Simultâneas.

b. Noções Gerais

Definição

O Prof. Rodrigo da Cunha Pereira nos dá um conceito de união


estável, como sendo, “a relação afetivo-amorosa entre um homem e
uma mulher, não adulterina e não incestuosa, com estabilidade e
durabilidade, vivendo sob o mesmo teto ou não, constituindo família
sem vínculo do casamento civil”1.

Já para Álvaro Villaça de Azevedo, a união estável é: “A convivência


não adulterina nem incestuosa, duradoura, pública e contínua, de
um homem e de uma mulher, sem vínculo matrimonial, convivendo
como se casados fossem, sob o mesmo teto ou não, constituindo,
2
assim, sua família de fato”.
Complementada pela posição de Francisco Eduardo Orciole Pires e
Albuquerque Pizzolante, que dizem ser “meio legítimo
de constituição de entidade familiar, havida, nos termos estudados,
por aqueles que não tenham impedimentos referentes à sua união,
com efeito de constituição de família”.3

União estável. Caracterização

O Código Civil, em seu artigo 1.723 estabeleceu “É reconhecida como


entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,

1
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias, 2ª ed. Ed. Forense, 2020.
2
Azevedo, Álvaro Villaça. União Estável, artigo publicado na revista advogado nº 58, AASP, São Paulo,
Março/2000.
3
Pizzolante, Francisco Eduardo Orciole Pires e Albuquerque. União Estável no sistema jurídio
brasileiro. São Paulo: Atlas, 1999.

configurada na convivência pública, contínua e duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituição de família”.

Desse modo, os elementos para caracterização dos requisitos


essenciais à união estável são: estabilidade, continuidade da relação,
publicidade, objetivo de constituição de família.

Cumpre ressaltar que o artigo não menciona prazo mínimo de


convivência como critério para caracterização desta entidade
familiar, abandonando de vez o que dispunha a Lei nº 8.791/94.

A união estável é, também, a convivência pública, contínua e


duradoura.

Realmente, como um fato social, a união estável é tão exposta ao


público como o casamento, em que os companheiros são
conhecidos, no local em que vivem, nos meios sociais,
principalmente de sua comunidade, junto aos fornecedores de
produtos e serviços, apresentando-se, enfim, como se casados
fossem. Essa convivência, como no casamento, existe com
continuidade; os companheiros não só se visitam, mas vivem
juntos, participam um da vida do outro, sem termo marcado para se
separarem.

Quanto ao prazo para início da eficácia da união estável voltou o


legislador do atual Código Civil a preferir não o fixar, dizendo que
essa união existe quando duradoura.

Quanto à necessidade de dizer-se que a convivência existe como se


“casados fossem” os companheiros, nada há que acrescentar a essa
ideia do “more uxorio”; todavia ela está contida na expressão
“convivência pública, contínua e duradoura”, com o objetivo de
constituição de família (modo mais moderno de dizer-se dessa
relação familiar, um homem e uma mulher, convivendo, seriamente,
em família por eles constituída).

A convivência sob o mesmo teto é, às vezes, evitada para que não


se causem traumas em filhos; isso acontece até no casamento,
principalmente, em segundas núpcias, em que os filhos do

casamento anterior não querem aceitar um novo pai ou uma nova
mãe.

A Súmula 382 do Supremo tribunal Federal pode até aplicar-se,


analogicamente admite, na união estável, que os companheiros
vivam sob tetos diversos. Tenha-se presente, ainda, que a
convivência pública não quer dizer que não seja familiar, íntima,
mas sim de que todos têm conhecimento, pois o casal vive,
também, com relacionamento social, apresentando-se como marido
e mulher.

Em seu artigo 1.724, o novo Código Civil estabelece que as relações


entre os companheiros devem se pautar pelos deveres de lealdade,
respeito, assistência, de guarda, sustento e educação dos filhos.

A regulamentação sobre os deveres das relações pessoais entre


companheiros vem tipificada no art. 1.724 do Código Civil, e prevê
os deveres de lealdade, respeito e assistência, guarda, sustento e
educação dos filhos.

De acordo com Euclides de Oliveira se “comparado ao texto do


art. 2º da Lei 9.278/96, nota-se que o CC acrescenta o dever de
“lealdade” entre os companheiros, mantidos os demais deveres
constantes dessa lei” 4.

Cumpre ressaltar, que se comparado com os direitos e deveres dos


civilmente casados, previstos no art. 1.566 do Código Civil,
verificar-se-á que o dever de lealdade dos companheiros é
semelhante ao dever de fidelidade dos cônjuges, entretanto, para os
que vivem em união estável não é exigido o dever de vida em
comum no mesmo domicílio, ao contrário dos casados.

Contrato de União Estável

Por contrato de convivência na união estável a doutrina de Francisco


José Cahali entende como sendo “o instrumento pelo qual os
sujeitos de uma união estável promovem regulamentações quanto


4
OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento: antes e depois
do novo código civil. São Paulo: Método, 2003 .

aos reflexos da relação, que serão tratadas adiante quando
analisado o conteúdo das disposições contratuais entre os
5
conviventes” .

Sua finalidade se resume em tratar os assuntos pertinentes às


relações patrimoniais entre as partes que vivem em união estável.
A previsão para realização deste contrato, estipulada no § 2º, do
art. 5º da Lei nº 9.278/96, foi mantida pelo Código Civil de 2002,
em seu artigo 1.725. Em que pese à revogação dos artigos 3º, 4º e
6º da referida Lei, que tratavam da celebração e registro do
contrato de união estável, a recepção do seu artigo 5º pelo novo
Código Civil, garantiu aos companheiros a realização de contratos
desta natureza.
Sobre esta matéria, esclarece Rodrigo da Cunha Pereira:
“Indagava-se, com o advento da Lei n. 8.971/94, se era possível
estabelecer tais pactos. Devemos pensar que se as pessoas são
livres para estabelecer pacto antenupcial, da mesma forma, e por
analogia, poderão também preestabelecer os rumos da economia e
patrimônio dessas relações, sem com isso afrontar a referida Lei. Se
há essa liberdade para fazê-lo no casamento, da mesma forma
poderá haver também para as relações estáveis. Ademais, a Lei n.
9.278, de 16 de maio de 1996, respondeu de vez essa questão.
Mesmo tendo sido vetados os arts. 3º e 4º, que tratava
especificamente de registro de contratos entre os sujeitos de uma
união estável, não há nenhuma proibição de fazê-lo” 6.

Ao contrário, o art. 5º dessa Lei, em seu caput e § 2º, previu a


estipulação de contratos escritos, até mesmo para estabelecer
disposições contrárias a ela.

Entretanto, cumpre ressaltar que a simples celebração de um


contrato de convivência, não é suficiente para caracterização da
união estável.
Para explicitar melhor o tema, ensina Francisco José Cahali:
“Que o contrato de convivência não possui, porém, força para criar
a união estável, e, assim, tem a sua eficácia condicionada a
caracterização, pelas circunstâncias fáticas, da entidade familiar em
razão do comportamento das partes. Vale dizer, a união estável

5
Cahali, Francisco José. Contrato de convivência na união estável. São Paulo: Saraiva, 2002.
6
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e União estável. 9º ed. Saraiva, 2016.

apresenta-se como condicio juris ao pacto, de tal sorte que, se nela
inexistir, a convenção não produz os efeitos nela projetados” 7.

Cláusulas - Contrato de União Estável

Talvez seja a questão patrimonial a maior causadora das divergências


e intrigas entre os casais. Com o reconhecimento de direitos e o
agigantamento do tema, tornou-se necessária para a própria
estabilidade da relação a convenção em contrato escrito, agora
permitido pelo Art. 1.725 do CC.

Com a equiparação dos direitos na união estável em relação ao


casamento, ficou simplificada a prática deste ato. Não significa,
contudo, que o contrato escrito colocará totalmente a salvo o
patrimônio de quem pretende se unir a outra pessoa para ter
convivência pública, contínua e duradoura, pois poderão advir
questões inimagináveis, não previstas nas cláusulas daquele
instrumento.

Todavia, a sua importância vai além das fronteiras materiais da


relação, atingindo verdadeira maturidade e plenitude, por trazer
maior tranquilidade à relação.

A eleição de um regime patrimonial, através do contrato de


convivência, define as regras entre o casal, reduzindo as
possibilidades de conflitos e aumentando o seu nível de resolução.

É válido relatar que esta modalidade de contrato não exige muitas


formalidades quanto à sua celebração. A única exigência legal é de
que o contrato seja escrito.
Entretanto, embora não figure como requisito legal, o contrato pode
ser levado à averbação ou registro, em um Cartório de Títulos e
Registros, conferindo uma maior segurança aos companheiros, além
de resguardar os direitos de terceiros que eventualmente realizem
negócio jurídico com um dos conviventes.
É essencialmente importante que se dê publicidade ao contrato,
registrando-o em Cartório de Registro de Títulos e Documentos, pois


7
Cahali, Francisco José. Contrato de convivência na união estável. São Paulo: Saraiva, 2002.

assim alcançará os seus efeitos legais, não só em relação aos
partícipes da relação como também no tocante aos terceiros.

No contrato de convivência os companheiros podem dispor de tudo,


desde que não contrariando as normas legais. Aqui os companheiros
estipularão sobre todas as questões de interesse, deixando incólume
os direitos e deveres de cada um dos partícipes, tanto entre si como
em relação a terceiros.

Sobretudo, em se tratando de um contrato, como tal deverá observar


as regras e princípios gerais dos contratos para que gere os seus
legais e jurídicos efeitos.

A preocupação da lei agora é a de zelar pela garantia dos direitos e


deveres básicos, tal qual ocorre com o casamento. A verdade é que o
contrato de convivência evoluiu tanto quanto a sociedade. Depois de
receber diversos outros nomes e apelidos, tais como, contrato de
casamento, contrato de namoro, entre outros, alguns conceitos se
tornaram bem próprios, intimamente ligados à sua utilidade.

Para o prof. Francisco José Cahali, "além das regras gerais de


validade dos atos jurídicos, por ser uma contratação específica com
fim determinado (regulamentação contratual dos efeitos decorrentes
da união estável), o contrato de convivência submete-se a elementos
essenciais próprios, especialmente considerados que a caracterização
da relação representada requisito essencial de eficácia do pacto" 8.

Antes mesmo da feitura do contrato de convivência é importante


saber se a situação fática, a que se pretende regulamentar em
instrumento particular, é realmente possível, ou seja, se não está
eivada de nulidades e se a caracterização da união estável é mesmo
trivial e possível no sentido jurídico do termo.

Nos casos possíveis, assim entendidos aqueles ausentes de


nulidades, o contrato de convivência, com o respaldo de nossa
legislação, e agora endossado pelo CC, é instrumento de inegável
utilidade como meio probatório em quaisquer circunstâncias. Isso
porque tal pacto deve dispor de todos os pontos passíveis de


8
Ibidem.

controvérsias, a fim de elidi-los desde o início. Todavia, é
fundamental que o contrato seja bem estruturado e isento de falhas,
a ponto de ser realmente útil como documento probatório a ser
utilizado por umas das partes contratantes ou por herdeiros destes,
etc.

Cláusulas: Divisão dos bens/Alimentos/Pensão/Guarda

A maior utilidade do contrato escrito é a distribuição patrimonial.


Porém nada impede que outros assuntos também sejam tratados. Por
mais estranho que possa ser, e por menos nulidade que possa gerar,
é de bom alvitre que a tratativa mensure outros pontos
potencialmente conflitantes, visando a sua convenção pacífica. Para a
maioria dos autores, que tratam do tema, há o entendimento de que
tudo pode e deve ser tratado no contrato de convivência.

Não existe, na verdade, nada que proíba este tipo de previsão


contratual, o que deve ser considerada cláusulas lícitas. O objetivo
maior dos contratos de convivência é realmente a questão
matrimonial, embora possa atingir outros campos, porquanto podem
os convivente dispor sobre a distribuição exata de todo o patrimônio,
seja ele elaborado por instrumento público ou particular, prevendo a
forma de sucessão e a partilha em caso de morte de um dos
conviventes.

É possível, inclusive, dispor sobre os alimentos, na hipótese de


dissolução da união estável. Mas deverá ser feito de forma a evitar
um futuro questionamento quanto a sua validade como instrumento
regulador da união estável.

Permite-se, ainda, que tenha convencionado no próprio instrumento,


a questão da guarda e pensão dos filhos, em caso de separação dos
conviventes, hipótese que só poderá ser levada a termo em
condições normais de separação do casal, ou seja, em caso de
dissolução amigável da convivência.

Em eventual processo litigioso, não nos parecesse ser uma cláusula


potestativa, uma vez que estarão presentes também os interesses
particulares dos filhos, necessariamente defendidos pelo Ministério

Público, razão pela qual não poderá se furtar à apreciação do
judiciário.

“O contrato de convivência, como negócio jurídico que é, caracteriza


ato bilateral e convencional, cujas cláusulas e condições constituem
"lei" entre os seus contratantes, obrigando-os a cumprirem, sob as
penas previstas nele próprio. Tal instrumento ganha relevo ainda
mesmo fora da relação, no tocante às questões previdenciárias,
seguros, e em relação a terceiros, principalmente quando identificado
o seu caráter de documento público, diante do regular registro “9.

Deve-se, entretanto, respeitar as limitações e restrições previstas na


lei. Assemelha-se muito, o contrato de convivência, ao pacto
antenupcial, possuindo basicamente a mesma feição e natureza
jurídica em relação ao patrimônio, o que não poderia mesmo ser
diferente, pois o intuito da lei é mesmo o de facilitar a conversão da
união estável em casamento.

Eis que, na presente situação, o referido instrumento disciplinador


das regras entre os conviventes, poderá ser considerado o próprio
pacto antenupcial, primeiro porque realizado antes do matrimônio, e
segundo, porque dispõe de tudo quanto exigido seria no próprio
pacto.

À guisa de ilustração, Francisco José Cahali, citando Lafayette


Rodrigues Pereira, diz inclusive que "podem os contraentes escolher
um destes regimes, ou modificá-los e combiná-los entre si de modo a
formar uma espécie. Convencionam a separação de certos e
determinados bens e a comunhão de todos os mais. Neste caso
torna-se misto o regime e cada espécie de bens é regulada pelos
princípios do regime cardeal, a que é sujeita. Aqui se aproveita este
raciocínio, vez que o contrato de convivência poderá ser aditado
quantas vezes necessárias forem, inclusive, nada impedindo, que
seja modificado o regime de bens, até porque, hoje é permitido no
10
próprio matrimônio, desde que autorizado pelo poder judiciário” .


9
VELOSO, Z. Código civil comentado: direito de família, alimento, bem de família, tutela e curatela. São
Paulo: Ed. Atlas, 2003.
10
Ibidem.

Quanto à forma, os contratos de convivência seguem as mesmas
regras gerais dos contratos.

Segundo Euclides de Oliveira:


“O contrato de convivência é ato jurídico e "sujeita-se aos requisitos
essenciais de capacidade das partes, licitude do objeto e forma
11
prescrita ou não defesa em lei" .

Complementando, assevera que "não ha prescrição de forma


específica para a celebração de contrato dessa espécie, que se perfaz
pelo só fato da união entre homem e mulher com a finalidade de
12
constituir família" .

No contrato de convivência devem estar presentes cláusulas que


tratam de requisitos básicos para a configuração da união estável,
tais como o dever de coabitação, de lealdade, fidelidade, respeito,
assistência e criação dos filhos, os alimentos, em caso de separação
por culpa de um dos companheiros, dentre outros que também são
relevantes.

O importante, na verdade, é a manifestação inequívoca da vontade


das partes, bastando para tanto, que cumpra os requisitos formais de
documento, de tal sorte que não gere nulidades ou falhas, não sendo
necessário que se faça através de instrumento público, como ocorre
com o pacto antenupcial.

Sobretudo, é de suma importância que se dê publicidade ao contrato,


eis que essencial para a sua abrangência em relação a terceiros. A
feitura do contrato de convivência é bem menos solene que a do
pacto antenupcial, até porque poderá ser feito a qualquer tempo, seja
antes do início da relação extramatrimonial ou, ainda, a qualquer
momento durante a convivência, o que, aliás, é o mais comum de
acontecer.

Todavia, as condições gerais de elaboração de contrato devem ser


observadas, para que a formalização não se torne nula, sendo
imprescindível, consoante a própria legislação, que haja a presença


11
OLIVEIRA, E. de. União estável: do concubinato ao casamento. 6. ed. São Paulo: Editora Método,
2003.
12
Ibidem.

de duas testemunhas identificadas, que poderão mais tarde ratificar a
idoneidade do ato.

É essencial constar no contrato, independente do regime eleito pelo


casal, a relação minuciosa dos bens adquiridos antes da união,
aqueles adquiridos até a época da assinatura do contrato (se for o
caso de assinados após algum tempo de convivência), e aqueles que
virão a ser adquiridos posteriormente.

Nada obsta, ainda, que tal contrato seja aditado, alterado, modificado
ou ampliado quantas vezes necessárias forem. Naturalmente, para
que atinja plenos efeitos, especialmente em relação a terceiros, será
essencial que a sua forma possibilite o seu registro em Cartório de
Registro de Títulos e Documentos. Devem também ser registrados
todos os aditivos, porventura existentes.

Sob o enfoque patrimonial, que é o que mais interessa no contrato de


convivência, constata-se uma vasta gama de situações que, por mais
que haja contratado por escrito, dificilmente se terá uma solução
pacífica, que venha abranger todas as hipóteses necessárias, que
reclamam proteção jurídica.

Ao se formalizar o contrato de convivência será preciso se atentar


para a mantença do equilíbrio contratual e da boa-fé dos
contratantes. Acima de tudo, ao dispor de direitos e de deveres, não
poderão os conviventes deturpar a ordem legal, convencionando
cláusulas que não poderão ser recepcionadas pela legislação em
vigor.

Como bem disse Nágila Maria Sales Brito, "como os particulares


podem celebrar quaisquer contratos desde que destinados à
realização de interesses que sejam dignos da proteção legal e tendo
em vista, ainda, a necessidade das famílias da atualidade, na sua
maioria formada por casais em segundos e terceiros relacionamentos,
com seus respectivos filhos oriundos das primeiras uniões e os
comuns, é aconselhável a efetivação de um contrato escrito para
13
resguardar os interesses próprios e de seus futuros herdeiros” .


13
BRITO, N.M.S. Revista brasileira de direito de família. O contrato de convivência: uma decisão
inteligente. Porto Alegre: Síntese Ibdfam, v. 2, n. 8, jan/fev/mar/2001"

Famílias Simultâneas

Para Newton Carvalho: “Famílias paralelas ou simultâneas são as


constituídas por dois ou mais núcleos familiares, com um de seus
membros comuns a ambas, podendo existir tanto no casamento
como na união estável. Portanto, encampando foi nesta família o
14
concubinato, antigo concubinato impuro” .

As famílias simultâneas podem ser conceituadas como composições


familiares, onde o indivíduo demonstra o seu afeto para uma ou mais
pessoas, dessa forma, ocasionando núcleos familiares distintos e
concomitantes. Assim, o problema central abordado no trabalho visa
esclarecer quais seriam os possíveis efeitos jurídicos do
reconhecimento das famílias simultâneas.

Não se confunde famílias paralelas ou simultâneas, cada uma


possuindo domicílio diferente, com poliamorismo. Portanto, nas
famílias paralelas há dois ou mais núcleos familiares, com um
membro comum. Por isso mesmo rotulada também de entidades
familiares simultâneas. No poliamorismo há ocorrência de relação
afetiva entre todos os seus membros, formando tão somente uma
única célula familiar.

No Brasil vige e sempre vigeu o princípio da monogamia para a as


entidades familiares formadas pelos laços do casamento.

Nos últimos tempos, contudo, muitos são os casos em que os


Tribunais brasileiros têm se deparado não só com a existência de
um casamento ou de uma suposta união estável, mas de entidades
familiares que "concorrem" com uma ou mais uniões paralelas,
formadas por um dos cônjuges ou dos companheiros, senão por
ambos.

São as famílias simultâneas, que talvez sempre tenham existido,


mas que só agora começam a aparecer para o mundo jurídico, para
obter proteção estatal.


14
CARVALHO, Newton Teixeira. https://domtotal.com/artigo/7462/2018/05/sucessao-nas-familias-
simultaneas-paralelas-e-nas-unioes-poliafetivas/

Os núcleos concorrentes das famílias simultâneas podem ser
representados através de duas uniões estáveis ou de um casamento
e uma união estável, mas nunca com dois casamentos, o que é
tipificado como crime de bigamia pelo art. 235 do Código Penal .15

É cediço que ao lado do casamento ou de uma união estável tanto


um quanto outro pode eventualmente manter um relacionamento
paralelo. Este, por sua vez, não tem merecido a proteção do Estado,
posto imperar no direito brasileiro o princípio da monogamia.
No casamento como na união estável, o que se verifica é que o
dever de fidelidade e os deveres de lealdade e de respeito,
respectivamente, devem ser cumpridos, a fim de que a proteção
legal se concretize. Mais de um relacionamento indica que aquele
que o mantém, traindo a confiança do outro, falta com a
consideração e o respeito que se espera sejam mantidos numa
união entre duas pessoas.

No casamento a regra que se aplica é a do inciso I do art. 1.566,


isto é, a que impõe o dever de fidelidade para os cônjuges. Enfim,
se houver impedimento para um novo relacionamento, em razão de
matrimônio ou união estável precedente - exceto se houver
enriquecimento ilícito por parte de um deles, hipótese que ocorre
quando durante a união houver a aquisição de bens comuns -, não
se devem garantir direitos aos envolvidos.
Note-se que os filhos das uniões paralelas não poderão ser
prejudicados, posto a Constituição já ter, no ano de 1988,
estabelecido a total igualdade entre eles, tenham eles nascido
durante a constância do matrimônio ou não, inclusive no plano do
direito sucessório, que sempre foi uma parte do direito civil em que
desigualdades entre filhos eram legalmente previstas. Igual direito
confere-se ao adotado, cujo parentesco se estabelecerá por laços
decorrentes da lei. Logo, para os filhos é irrelevante o
reconhecimento ou não do relacionamento amoroso paralelo como
entidade familiar.

O que se constata é que a família monogâmica, pelo menos por ora,


tem tido a preferência do Judiciário e de uma boa parte da doutrina.
Com ela objetiva-se manter intacta a base da sociedade, dando

15
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; TARTUCE, Flávio. FAMÍLIAS PARALELAS. VISÃO
ATUALIZADA. Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, vol. 13, n. 2, jul./dez. 2019.

segurança aquele que se casou ou que passou a viver numa união
estável, acreditando que este seria o único relacionamento de seu
cônjuge ou companheiro.
Outro aspecto importante a ser preservado refere-se a questão da
boa-fé ou não, e ao conhecimento por parte da esposa ou não da
existência dessa relação paralela, esses elementos são
diferenciadores para a análise da forma de partilha entre os
envolvidos.
A jurisprudência dos Tribunais estaduais vem encampando,
infelizmente com certa resistência do STJ, as famílias simultâneas.

De outra parte, temos decisões que reconhecem essa forma de


família e com isso concedendo diversos direitos, dentre eles a partilha
dos bens, pensão alimentícia pelo ex-companheiro e ainda a pensão
pelo INSS.16

Nos casos em que ocorre a morte de uma das partes do


relacionamento, ocorre a problemática de como irá proceder a
meação e a sucessão de bens entre as partes dos núcleos familiares
sobreviventes, qual seria a porcentagem correspondente aos
herdeiros e para os conviventes.
Para Barcellos: “A triação pode ocorrer de duas formas: no caso de
dissolução da união estável ou poliafetiva, deve ser dividido o
patrimônio que foi adquirido durante o período da união, dividindo em
três partes, correspondendo a 1/3 para a esposa, 1/3 para a
companheira e 1/3 para o cônjuge/companheiro. Já no caso da
divisão por causa de falecimento, a esposa passaria a ficar com 50%
do valor total, enquanto a companheira e a prole ficariam com 25%
cada ”17.
Dessa maneira, alguns doutrinadores como é o caso da Luciana
Brasileiro, entendem que a triação é a maneira mais justa para as
famílias simultâneas dentro do nosso ordenamento jurídico, para a
divisão de bens no caso de falecimento.18
Embora o fato da triação ser um método que já foi aplicado em certos
casos, as decisões jurisprudenciais favoráveis ao reconhecimento das


16
REsp 1715485 / RN e AgInt no AREsp 455777 / DF
17
BARCELLOS, Karoline Malheiros de; CARUCCIO, Marlot Ferreira (Orient.). O Reconhecimento da União
Estável em Relações Paralelas e seus Efeitos
Patrimoniais. http://repositorio.upf.br/bitstream/riupf/1757/1/SAR2019Karoline%20Malheiros%20de%2
0Barcellos.pdf.
18
BRASILEIRO, Luciana. As famílias simultâneas e o seu regime jurídico.Ed. Fórum, 2019.

uniões simultâneas é minoritário, fato que fica evidente nos casos de
benefícios previdenciários. Nestes, especialmente na pensão por
morte, boa parte dos tribunais tem o entendimento de que, onde
existe o casamento e não houve separação de fato ou de direito, tem
se atribuído o benefício previdenciário apenas para a relação formal,
alegando que o outro relacionamento não possui intenção de
constituir família.19

STF e uniões estáveis simultâneas

O Supremo Tribunal Federal (STF) considerou ilegítima a existência


paralela de duas uniões estáveis, ou de um casamento e uma união
estável, inclusive para efeitos previdenciários. O Plenário negou
provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 1045273, com
repercussão geral reconhecida, que envolve a divisão da pensão por
morte de um homem que tinha união estável reconhecida
judicialmente com uma mulher, com a qual tinha um filho, e, ao
mesmo tempo, manteve uma relação homoafetiva durante 12 anos.20
Prevaleceu, no julgamento em sessão virtual encerrada no dia
18/12/2020, a corrente liderada pelo relator, ministro Alexandre de
Moraes (relator), para quem o reconhecimento do rateio da pensão
acabaria caracterizando a existência de bigamia, situação proibida
pela lei brasileira.
O ARE 1045273 foi interposto pelo companheiro do falecido, contra
decisão do Tribunal de Justiça de Sergipe (TJ-SE) que, embora
reconhecendo a existência da união homoafetiva, negou o direito à
metade da pensão por morte, por considerar a impossibilidade
jurídica de dupla união estável, com base no princípio da monogamia,
que não admite a existência simultânea de mais de uma entidade
familiar, independentemente da orientação sexual das partes.
Segundo o ministro Alexandre de Moraes, o fato de haver uma
declaração judicial definitiva de união estável impede o
reconhecimento, pelo Estado, de outra união concomitante e paralela.
Ele observou que o STF, ao reconhecer a validade jurídico-
constitucional do casamento civil ou da união estável por pessoas do
mesmo sexo, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade

19
TRF-3 – ApCiv: 00087679520114039999 SP, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL INÊS VIRGÍNIA,
Data de Julgamento: 24/06/2019, SÉTIMA TURMA, Data de Publicação: e-DJF3 Judicial 1
DATA:04/07/2019
20
STF rejeita reconhecimento de duas uniões estáveis simultâneas
http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=457637&ori=1

(ADI) 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 132, não chancelou a possibilidade da bigamia,
mas sim conferiu a plena igualdade às relações, independentemente
da orientação sexual.
O ministro ressaltou que o Código Civil (artigo 1.723) impede a
concretização de união estável com pessoa já casada, sob pena de se
configurar a bigamia (casamentos simultâneos), tipificada como
crime no artigo 235 do Código Penal. Assinalou, ainda, que o artigo
226, parágrafo 3º, da Constituição Federal se esteia no princípio de
exclusividade ou de monogamia como requisito para o
reconhecimento jurídico desse tipo de relação afetiva.
Já para o ministro Edson Fachin, que abriu a corrente divergente, o
caso não se refere ao Direito Civil ou de Família, mas ao Direito
Previdenciário. Para ele, o Regime Geral da Previdência Social (Lei
8.213/1991, artigo 16, inciso I) reconhece o cônjuge, o companheiro
e a companheira como beneficiários, pois se enquadram como
dependentes do segurado, o que permitiria a divisão da pensão,
desde que presente o requisito da boa-fé objetiva. Segundo Fachin,
uma vez não comprovado que os companheiros concomitantes do
segurado estavam de má-fé, ou seja, ignoravam a concomitância das
relações, deve ser reconhecida a eles a proteção jurídica para os
efeitos previdenciários decorrentes. Seguiram esse entendimento os
ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Carmen Lúcia e Marco
Aurélio.
A advogada Luciana Brasileiro, pondera sobre os efeitos da decisão:
“A decisão comete um grave equívoco ao usar a analogia da bigamia
para a união estável. É uma decisão que afeta negativamente
inúmeras pessoas vulneráveis financeiramente, sobretudo mulheres,
que são a maioria das dependentes dos companheiros em casos de
famílias simultâneas”, disse.
Para ela, a decisão foi pautada por questões culturais, e ignora o
“dever do Supremo de interpretar a Constituição Federal à luz da
dignidade da pessoa humana”.
Luciana reflete: “É uma decisão que desprotege, retirando do Estado
o ônus que lhe cabe por força do artigo 226, § 8.º da Constituição
Federal. Embora a decisão tenha cunho meramente previdenciário, é
um grande retrocesso, porque não enxerga o critério de dependência
econômica do direito previdenciário”.21

21
Especialistas comentam decisão do que não reconheceu uniões estáveis simultâneas em disputa
previdenciária.

c. Legislação

Constituição Federal – principal artigo: 226, §3º.


Código Civil –arts. 1.511,1. 521 inciso VI, 1.639, 1.723 a 1.727,
1.790 inciso III, 1829, inciso III e 1838.
Resolução 175 CNJ

d. Julgados/Informativos

Processo
REsp 1880056 / SE
RECURSO ESPECIAL
2020/0147797-8
Relator(a)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
16/03/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 22/03/2021
Ementa
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E
DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA COM PARTILHA DE
BENS E ALIMENTOS. PLANOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA.
REGIME MARCADO PELA LIBERDADE DO INVESTIDOR.
CONTRIBUIÇÃO, DEPÓSITOS, APORTES E RESGATES FLEXÍVEIS.
NATUREZA JURÍDICA MULTIFACETADA. SEGURO PREVIDENCIÁRIO.
INVESTIMENTO OU APLICAÇÃO FINANCEIRA. DESSEMELHANÇAS
ENTRE OS PLANOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E FECHADA,
ESTE ÚLTIMO INSUSCETÍVEL DE PARTILHA. NATUREZA SECURITÁRIA
E PREVIDENCIÁRIA DOS PLANOS PRIVADOS ABERTOS VERIFICADA
APÓS O RECEBIMENTO DOS VALORES ACUMULADOS, FUTURAMENTE
E EM PRESTAÇÕES, COMO COMPLEMENTAÇÃO DE RENDA. NATUREZA
JURÍDICA DE INVESTIMENTO E APLICAÇÃO FINANCEIRA ANTES DA
CONVERSÃO EM RENDA E PENSIONAMENTO AO TITULAR. PARTILHA
POR OCASIÃO DO VÍNCULO CONJUGAL. NECESSIDADE. ART. 1.659,
VII, DO CC/2002 INAPLICÁVEL À HIPÓTESE. PARTILHA DE PARTE DO


STFbdfam.org.br/index.php/noticias/8070/Especialistas+comentam+decisão+do+STF+que+não+reconh
eceu++uniões+estáveis+simultâneas+em+disputa+previdenciária

BEM ADQUIRIDO NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL COM
RECURSOS ADVINDOS DO LEVANTAMENTO DE SALDO DO FGTS.
POSSIBILIDADES. PRECEDENTES. DESNECESSIDADE DOS
ALIMENTOS À EX-CÔNJUGE. DEFICIÊNCIA DA FUNDAMENTAÇÃO
RECURSAL. SÚMULA 284/STF. IMPRESCINDIBILIDADE DO REEXAME
DE FATOS E PROVAS. SÚMULA 7/STJ.
1- Ação ajuizada em 01/03/2018. Recurso especial interposto em
20/01/2020 e atribuído à Relatora em 17/07/2020.
2- Os propósitos recursais consistem em definir: (i) se o valor
existente em previdência complementar privada aberta possui
natureza personalíssima e não pode ser objeto de partilha por
ocasião da dissolução da união estável; (ii) se o bem alegadamente
adquirido por sub-rogação e mediante uso de saldo de FGTS deveria
igualmente ser excluído da partilha; (iii) se, na hipótese, é devida a
pensão alimentícia à ex-cônjuge.
3- Os planos de previdência privada aberta, operados por
seguradoras autorizadas pela SUSEP, podem ser objeto de
contratação por qualquer pessoa física e jurídica, tratando-se de
regime de capitalização no qual cabe ao investidor, com amplíssima
liberdade e flexibilidade, deliberar sobre os valores de contribuição,
depósitos adicionais, resgates antecipados ou parceladamente até o
fim da vida, razão pela qual a sua natureza jurídica ora se assemelha
a um seguro previdenciário adicional, ora se assemelha a um
investimento ou aplicação financeira.
4- Considerando que os planos de previdência privada aberta, de que
são exemplos o VGBL e o PGBL, não apresentam os mesmos entraves
de natureza financeira e atuarial que são verificados nos planos de
previdência fechada, a eles não se aplicam os óbices à partilha por
ocasião da dissolução do vínculo conjugal apontados em precedente
da 3ª Turma desta Corte (REsp 1.477.937/MG).
5- Embora, de acordo com a SUSEP, o PGBL seja um plano de
previdência complementar aberta com cobertura por sobrevivência e
o VGBL seja um plano de seguro de pessoa com cobertura por e
sobrevivência, a natureza securitária e previdenciária complementar
desses contratos é marcante no momento em que o investidor passa
a receber, a partir de determinada data futura e em prestações
periódicas, os valores que acumulou ao longo da vida, como forma de
complementação do valor recebido da previdência pública e com o
propósito de manter um determinado padrão de vida.
6- Todavia, no período que antecede a percepção dos valores, ou

seja, durante as contribuições e formação do patrimônio, com
múltiplas possibilidades de depósitos, de aportes diferenciados e de
retiradas, inclusive antecipadas, a natureza preponderante do
contrato de previdência complementar aberta é de investimento,
razão pela qual o valor existente em plano de previdência
complementar aberta, antes de sua conversão em renda e
pensionamento ao titular, possui natureza de aplicação e
investimento, devendo ser objeto de partilha por ocasião da
dissolução do vínculo conjugal por não estar
abrangido pela regra do art. 1.659, VII, do CC/2002.
7- Dado que a partilha recaiu somente sobre a parte que foi
adquirida com os recursos advindos do levantamento de saldo do
FGTS, ressalvando a parte que havia sido adquirida pela arte com
recursos advindos de sub-rogação de bem exclusivo, deve ser
aplicada a jurisprudência desta Corte no sentido de que os valores de
FGTS levantados durante o interregno da união estável e utilizados
para aquisição de imóvel devem ser objeto de partilha. Precedentes.
8- A ausência de indicação do dispositivo legal supostamente violado
e a necessidade de reexame de fatos e provas impedem o
conhecimento do recurso especial no que tange aos alimentos,
aplicando-se, respectivamente, a Súmula 284/STF e a Súmula 7/STJ.
9- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão,
desprovido, com majoração de honorários.

Processo
REsp 1835983 / PR
RECURSO ESPECIAL
2019/0262515-2
Relator(a)
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO (1144)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
02/02/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 05/03/2021
Ementa
RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO
ESTÁVEL.
ALIMENTOS PROVISÓRIOS À EX-COMPANHEIRA. FALECIMENTO DO

ALIMENTANTE NO CURSO DO PROCESSO. OBRIGAÇÃO
PERSONALÍSSIMA. IMPOSSIBILIDADE DE TRANSMISSÃO AOS
HERDEIROS DO "DE CUJUS" OU AO SEU ESPÓLIO.
1. A obrigação de prestar alimentos, por ter natureza
personalíssima, extingue-se com o óbito do alimentante, cabendo ao
espólio recolher, tão somente, eventuais débitos não quitados pelo
devedor quando em vida, ressalvada a irrepetibilidade das
importâncias percebidas pela alimentada (REsp n.º 1354693/S, Rel.
p/ o acórdão o Ministro Antônio Carlos Ferreira, Segunda Seção,
julgado em 26/11/2014 DJe 20/02/2015).
2. Excepcionalmente e desde que o alimentado seja herdeiro do
falecido, é admitida a transmissão da obrigação alimentar ao
espólio, enquanto perdurar o inventário e nos limites da herança.
3. Possibilidade de ser pleiteada pela alimentanda ajuda alimentar
de outros herdeiros ou demais parentes com base no dever de
solidariedade decorrente da relação de parentesco, conforme
preceitua o art. 1.694, do Código Civil, ou, ainda, de postular a
sua habilitação no inventário e lá requerer a antecipação de
recursos eventualmente necessários para a sua subsistência até
ultimada a partilha, advindos da sua meação.
4. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

Processo
AgInt no REsp 1706745 / MG
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL
2017/0281158-7
Relator(a) Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140) Órgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA Data do Julgamento 24/11/2020. Data da
Publicação/Fonte DJe 17/03/2021
Ementa
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL.
NEGÓCIO JURÍDICO. COMPRA E VENDA. UNIÃO ESTÁVEL.
OUTORGA UXÓRIA. IMPRESCINDÍVEL PUBLICIDADE OU
CARACTERIZAÇÃO DE MA-FÉ.
1. Ausente incursão na seara fático-probatória ao analisar o recurso
especial, pois foi alcançada a conclusão de que o aresto recorrido
deveria ter sido reformado com base nas afirmações constantes no
próprio acórdão impugnado pelo recurso especial, visto que a
realidade dos autos retratada no aresto recorrido estava em
dissonância com o entendimento que esta Corte.

2. Necessidade de autorização de ambos os companheiros para a
validade da alienação de bens imóveis adquiridos no curso da união
estável, tendo em vista que o regime da comunhão parcial de bens
foi estendido à união estável pelo art. 1.725 do CCB, além do
reconhecimento da existência de condomínio natural entre os
conviventes sobre os bens adquiridos na constância da união, na
forma do art. 5º da Lei 9.278/96.
3. A invalidação de atos de alienação praticado por algum dos
conviventes, sem autorização do outro, depende de constatar se
existia: (a) publicidade conferida a união estável, mediante a
averbação de contrato de convivência ou da decisão declaratória da
existência união estável no Ofício do Registro de Imóveis em que
cadastrados os bens comuns, a época em que firmado o ato de
alienação, ou (b) demonstração de má-fé do adquirente.
4. No caso, nem foi apontada a configuração de má-fé, nem existia
qualquer publicidade formalizada da união estável na época em que
firmado o contrato de alienação, de modo que não pode ser
invalidado com base na ausência de outorga da convivente, ora
recorrida.
5. Agravo interno não provido.

Acórdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça acordam, por unanimidade,
negar provimento ao agravo interno, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Raul Araújo, Maria Isabel
Gallotti, Antonio Carlos Ferreira e Marco Buzzi (Presidente) votaram
com o Sr. Ministro Relator.

Processo
AgInt nos EDcl no REsp 1873590 / RS
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO
ESPECIAL
2020/0109295-2

Relator(a)
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
Órgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento
1002062-91.2018.8.26.0704
Classe/Assunto: Apelação Cível / Dissolução

Relator(a): Rogério Murillo Pereira Cimino
Comarca: São Paulo.
Órgão julgador: 9ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 09/04/2021
Data de publicação: 09/04/2021
Ementa: APELAÇÃO. FAMÍLIA UNIÃO ESTÁVEL. PRESCRIÇÃO.
RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO. PARTILHA. REGULAMENTAÇÃO
DE VISITAS. ALIMENTOS. Sentença que julgou procedente, em parte,
a ação, para o efeito de atribuir a guarda unilateral do filho varão à
mãe, podendo o pai exercer o direito de visitas de forma livre.
Condenou o alimentante a pagar pensão alimentícia para o filho em
montante equivalente a 25% dos rendimentos líquidos, incluindo
todas as verbas de natureza remuneratória, excluídas as de natureza
indenizatória e o FGTS. Em caso de desemprego, fixou a pensão
alimentícia em 40% do salário-mínimo federal. Inconformismo da
parte autora quanto à omissão em relação à partilha do imóvel,
postulando a redução dos alimentos. Adoção dos fundamentos da
sentença, em razão do permissivo do artigo 252, do Regimento
Interno desta Egrégia Corte. Sentença mantida. Recurso não
provido.

19/10/2020
Data da Publicação/Fonte
DJe 26/10/2020
Ementa
AGRAVO INTERNO. PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. SUCESSÕES.
CÔNJUGE OU
COMPANHEIRO SEXAGENÁRIO. PARTILHA. PROVA DO ESFORÇO
COMUM.
1. Por força do art. 258, parágrafo único, II, do Código Civil de
1916 (equivalente, em parte, ao art. 1.641, II, do Código Civil de
2002), ao casamento de sexagenário, se homem, ou cinquentenária,
se mulher, é imposto o regime de separação obrigatória de bens -
recentemente, a Lei 12.344/2010 alterou a redação do art. 1.641, II,
do CC, modificando a idade protetiva de 60 para 70 anos -, regra
também aplicável às uniões estáveis.
2. A Segunda Seção desta Corte, seguindo a linha da Súmula 377 do
STF, pacificou o entendimento de que apenas os bens adquiridos
onerosamente na constância da união, "e desde que comprovado o
esforço comum na sua aquisição, devem ser objeto de partilha"

(EREsp 1171820/PR, Rel. Ministro Raul Araújo, Segunda Seção,
julgado em 26/08/2015, DJe 21/09/2015).
3. Cabe ao juízo do inventário decidir, nos termos do art. 984 do
CPC/73, "todas as questões de direito e também as questões de fato,
quando este se achar provado por documento, só remetendo para os
meios ordinários as que demandarem alta indagação ou dependerem
de outras provas", entendidas como de alta indagação aquelas
questões que não puderem ser provadas nos autos do inventário.
Portanto, havendo o juiz de piso preconizado que a questão do
esforço comum demanda produção de provas, sendo de alta
indagação, esta deve ser dirimida nas vias ordinárias.
4. Agravo interno não provido.

d. Leitura sugerida

- GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de


Direito Civil. Volume Único, 5º ed, Saraiva, 2021.

- LÔBO. Paulo. Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e


Sucessões Ilustrado. São Paulo, Saraiva, 2017.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e União estáveis. 9º ed.


Saraiva, 2016.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias, 2ª ed. Ed.


Forense, 2020.

- GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. V. 6. Direito de


Família. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

- TARTUCE, Fernanda. DELLORE, Luiz. [coord.]. Manual de Prática


Civil. 9ª edição. São Paulo: Método, 2013.

e. Leitura complementar

- ANTUNES, André Silva Jorge. Famílias Simultâneas e seus efeitos


Jurídicos.

https://jus.com.br/artigos/86542/familias-simultaneas-e-seus-
efeitos-juridicos
Acesso em 19/04/2021.

- CARVALHO, Newton Teixeira. Sucessão nas Famílias simultâneas e


nas uniões poliafetivas.
https://domtotal.com/artigo/7462/2018/05/sucessao-nas-familias-
simultaneas-paralelas-e-nas-unioes-poliafetivas/
Acesso em 19/04/2021.

- LEYSER, Maria Fátima Vaquero Ramalho. Apontamentos sobre o


reconhecimento da união estável.
https://www.conjur.com.br/2019-jun-17/mp-debate-apontamentos-
reconhecimento-uniao-estavel
Acesso em 19/04/2021.

- LIMA, Paulo Ricardo Silva. Entidades familiares. Uma abordagem


acreca das famílias simultâneas à luz das decisões dos tribunais
brasileiros.
https://jus.com.br/artigos/72714/entidades-familiares-uma-
abordagem-acerca-das-familias-simultaneas-a-luz-das-decisoes-dos-
tribunais-brasileiros
Acesso em 19/04/2021.

- ORTEGA, Flavia. União estável. Conceito, jurisprudência, Conceito e


Deveres.
https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/496204268/uniao-
estavel-conceito-jurisprudencia-e-direitos-e-deveres
Acesso em 19/04/2021.

- MORAIS, Leicimar. Reconhecimento da União Estável como Entidade


Familiar.
https://direitoreal.com.br/artigos/reconhecimento-da-uniao-estavel-
como-entidade-familiar
Acesso em 19/04/2021.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. União Estável e Casamento .O


paradoxo da equiparação.
https://www.rodrigodacunha.adv.br/uniao-estavel-e-casamento-o-
paradoxo-da-equiparacao-2/

Acesso em 19/04/2021.

- RAVACHE, Alex Quaresma.Diferença entre namoro e união


estável.2011. http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,diferenca-
entre-namoro-e-uniao-estavel,30630.html
Acesso em 19/04/2021.

- STRAZZI, Alessandra. União estável e casamento. Semelhanças e


diferenças.
https://alestrazzi.jusbrasil.com.br/artigos/112413853/uniao-estavel-
e-casamento-semelhancas-e-diferencas-parte-2
Acesso em 19/04/2021.

- VILAS BOAS, Renata Malta. Famílias Simultâneas. Uma realidade


brasileira que precisa de amparo jurídico.
https://www.megajuridico.com/familias-simultaneas-uma-realidade-
brasileira-que-precisa-de-amparo-juridico/
Acesso em 19/04/2021.

- VARGAS, Dimas Davi. Os requisitos que caracterizam a união


estável.
https://www.conjur.com.br/2020-set-17/dimas-vargas-uniao-
estavel-requisitos
Acesso em 19/04/2021.

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