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Direito penal contemporâneo e expansionismo


punitivo
Direito penal contemporâneo e expansionismo punitivo

Gabriela Serra Pinto de Alencar

Publicado em 01/2017. Elaborado em 06/2015.

Analisa-se o direito penal contemporâneo, que tende ao


expansionismo punitivo, abordando o direito penal mínimo
como solução equilibrada. Como punir o criminoso sem
ultrapassar os limites da proporcionalidade?

RESUMO: O sensacionalismo midiático influencia notadamente o Direito Penal


Contemporâneo, pois cria temor na sociedade, que passa a enxergar o
recrudescimento das penas como solução para criminalidade. O expansionismo
punitivo atende anseios da classe dominante e significa excessiva perda de tempo
com casos de potencial lesivo insignificativo. O Direito Penal Mínimo trata-se de
uma solução equilibrada, que faz com que apenas os bens mais importantes e
necessários ao convívio social sejam protegidos juridicamente.

Palavras-chave: Direito Penal Mínimo. Expansionismo Punitivo. Criminalidade.

1 INTRODUÇÃO

O Direito Penal Contemporâneo, mediante notável influência midiática e de uma


sociedade amedrontada, tende ao recrudescimento das penas e ao aumento das
hipóteses típicas. No contexto de expansionismo punitivo, surge a ideia do Direito
Penal Máximo, com ênfase aos movimentos como o de Lei e Ordem e aos
discursos quanto ao direito penal de emergência e direito penal do inimigo.

O Direito Penal Mínimo, por sua vez, surge como crítica ao expansionismo
punitivo, à medida que possibilita ao aparato policial investigar apenas os casos de
real importância.

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O Direito Penal contemporâneo será analisado no presente trabalho, a partir de


conceitos como Direito Penal Máximo e Direito Penal Mínimo.

2  DIREITO PENAL CONTEMPORÂNEO E EXPANSIONISMO


PUNITIVO

Os avanços tecnológicos e científicos, o advento de novas políticas criminais,


enquadrados no contexto capitalista vigente, alteraram a concepção do Direito
Penal. Os meios de comunicação divulgam constantemente notícias ligadas, de
alguma forma, à criminalidade cotidiana.

 Diante de uma sociedade de risco, as soluções midiáticas estão sempre ligadas à


neocriminalização ou neopenalização, convidando o Direito Penal a atuar,
inclusive, em novos ramos, como a economia, o ambiente, ou o consumo. As
propostas são sempre dirigidas ao aumento das hipóteses típicas ou ao
recrudescimento das penas já existentes, consistindo verdadeiro expansionismo
punitivo.

A sociedade, por sua vez, amedrontada diante da violência veiculada, cede diante
dos apelos dos comunicadores de massa e passa a aderir às teses de maior
criminalização e da criação de leis que inviabilizem a possibilidade de recuperação
do agente e seu retorno ao convívio social.

Exemplo prático da atuação do Direito Penal Contemporâneo de maneira máxima


são as propostas de emendas que visam abolir direitos e garantias individuais,
tendentes a implementar as penas de morte e de prisão perpétua no Brasil, ainda
que contrariem o disposto no artigo 60, §4º, IV, da Constituição Federal.

No contexto do expansionismo punitivo, surge, em sentido diametralmente oposto


ao movimento abolicionista, o chamado movimento de Lei e Ordem, propagador
de um discurso do Direito Penal Máximo. A mídia, no final do século passado e
início do atual, foi quem divulgou citado discurso. Desse modo, profissionais não
habilitados (jornalistas, repórteres, apresentadores) se julgaram habilitados a
criticar as leis penais e, como dito anteriormente, convenceram a sociedade a
acreditar que, mediante o recrudescimento do Direito Penal, livrar-se-ia daquela
parcela de indivíduos não adaptados.

O sensacionalismo e a transmissão de imagens chocantes que causam revolta na


sociedade permitem que esta, acuada, acredite que a solução só se dá por via do
Direito Penal. O Estado Social foi substituído pelo Estado Penal. O necessário
investimento em políticas públicas de ensino, saúde, lazer, cultura e habitação é
deixado em segundo plano, em detrimento do setor repressivo.

Insta ressaltar o exemplo norte-americano, principalmente do movimento


chamado Tolerância Zero, criado no começo da década de 90, na cidade de Nova
York. Trata-se de uma vertente do movimento de Lei e Ordem, cujo objetivo é

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fazer com que o Direito Penal proteja, basicamente, todos os bens existentes na
sociedade, não importando seu valor. Assim, cumpre um papel de cunho educador
e repressor, não permitindo que condutas socialmente intoleráveis, ainda que de
pouca relevância, deixem de ser reprimidas.

Ainda no contexto do Movimento de Lei e ordem, surge o chamado direito penal


de emergência. Nesse sentido, diante de situações de urgência, exige-se uma
atuação rápida e eficiente do Direito Penal. Em tese, o direito penal de emergência
teria vigência até a resolução dos problemas que ensejaram sua criação. Contudo,
a tendência é que se torne usual e o urgente se transforme em perene.

Novamente, ressalta-se o clamor social, ou, melhor ainda, o clamor midiático,


como um dos propulsores da legislação de emergência, a exemplo da lei nº.
8.072/90, que definiu os crimes hediondos e afins.

O Direito Penal Máximo agrega, também, o chamado Direito Penal do Inimigo,


desenvolvido pelo alemão Gunter Jakobs, na segunda metade da década de 1990.
Nesse sentido, o Direito Penal não precisa observar princípios fundamentais,
tendo em vista que não se estaria diante de cidadãos, mas, sim, de inimigos do
Estado.

Para melhor compreensão das ideias citadas, transcreve-se, in verbis, as palavras


de Jakobs acerca da sua teoria:

Quem, por princípio se conduz de modo desviado, não oferece garantia de


um comportamento pessoal. Por isso, não pode ser tratado como cidadão,
mas deve ser combatido como inimigo. Resta guerra tem lugar em um
legítimo direito dos cidadãos, em seu direito à segurança, mas
diferentemente da pena, não é Direito também a respeito daquele que é
apenado; ao contrário o inimigo é excluído.

O que se percebe é que o direito penal do inimigo prevê uma minimização de


regras garantistas, de forma a tratar o criminoso como um estranho à
comunidade.

2.1 DIREITO PENAL MÍNIMO: CRÍTICA AO EXPANSIONISMO


PUNITIVO

Depois de exposto o contexto expansionista punitivo em que vive o Direito Penal


Contemporâneo, imperioso se faz atestar a falácia do discurso repressivo.

Sabe-se que a criminologia tenta, por meio de suas vertentes teóricas, explicar os
vários tipos de criminalidade, à medida que busca resolver a origem dos desvios
que importem na prática de infrações penais. O que não se pode permitir,
contudo, é a propagação do falso argumento de que o homem criminoso é
incorrigível por possuir um defeito de caráter, que o impede de agir conforme os
demais cidadãos.

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Surge, portanto, a necessidade de se aderir a uma concepção mais equilibrada,


estabelecida pelo chamado Direito Penal Mínimo. O seu discurso, coerente com a
realidade social, apregoa, em síntese, que a finalidade do Direito Penal é a
proteção tão somente daqueles bens necessários e vitais ao convívio em sociedade.
É por esse motivo que Rogério Greco (2011) o intitula de “Direito Penal do
Equilíbrio”.

Desse modo, a adoção do Direito Penal Mínimo é ferramenta essencial que


possibilitará ao aparato policial investigar apenas os casos de real importância.
Incontáveis infrações penais, nessa lógica, deverão ser retiradas de nosso
ordenamento jurídico-penal, possibilitando a agilidade necessária na solução de
condutas que afetem bens jurídicos de especial relevo.

O discurso repressivo atende somente aos anseios da classe dominante, que nele
vislumbra um instrumento de coação cuja finalidade básica é atender
egoisticamente seus interesses. O que se precisa aferir, contudo, é que a própria
sociedade não toleraria a punição de todos os seus comportamentos antissociais,
os quais, inclusive a classe dominante, está acostumada a praticar cotidianamente.

Ao analisar o comportamento social, percebe-se que os indivíduos apenas


aprovam a aplicação rígida do Direito Penal quando ela é dirigida a estranhos e
não se volta contra estes mesmos, suas famílias ou amigos.

Como se viu, o Direito Penal Máximo pretende que este seja protetor de,
basicamente, todos os bens existentes na sociedade. Nesse raciocínio, procura-se
educar a sociedade sob a ótica penal, de modo a criar-se um Direito puramente
simbólico e impossível de ser aplicado.

Essa atuação, no entanto, acaba por conduzir à falta de credibilidade do Direito,


posto que, quanto mais infrações penais, menores são as possibilidades de serem
efetivamente punidas as condutas infratoras. O Direito Penal, portanto, torna-se
ainda mais seletivo e maior a cifra negra. Nesse sentido, as palavras de Rogério
Greco (2011):

Na verdade, o número excessivo de leis penais, que apregoam a promessa


de maior punição para os deliquentes infratores, somente culmina por
enfraquecer o próprio Direito Penal, que perde seu prestígio e valor, em
razão da certeza, quase absoluta, da impunidade.

O expansionismo punitivo leva ao afastamento do alvo principal, que são as


infrações de grande potencial ofensivo que atingem os bens mais importantes e
necessários ao convívio social, estes que, na lógica do Direito Penal Mínimo,
deveriam ser protegidos, apenas.

Vale frisar que não se trata de deixar impune um comportamento que mereça a
reprovação do Estado. Contudo, existe um rol de sanções de naturezas diversas
(civil, administrativa etc.) que podem cumprir esse papel de reprimir

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comportamentos que não são tolerados socialmente, mas que, por outro lado,
também não podem sofrer os rigores da lei penal, posto que, se assim o fosse,
vislumbrar-se-ia a banalização do direito de liberdade do cidadão.

Dessa maneira, ao contrário dos movimentos antagônicos citados anteriormente,


o Direito Penal Mínimo representa uma posição equilibrada, tornando-se uma via
razoável de acesso para que o Estado possa valer seu ius puniendi sem agir de
maneira arbitrária e ofensiva à dignidade dos seus indivíduos.

3 CONCLUSÃO

É preciso  mostrar à sociedade a verdadeira face do Direito Penal, revelando que


este seleciona as pessoas que serão punidas e perde tempo demasiado com
infrações de pequena ou nenhuma importância, enquanto que processos mais
graves sofrem as consequências da justiça morosa. O Direito Penal Mínimo, nessa
lógica, apresenta-se como alternativa viável e equilibrada que, longe de defender a
ausência de sanções penais, significa combater efetivamente o alvo principal do
direito, qual seja, infrações de maior potencial ofensivo.

REFERÊNCIAS

GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio: Uma visão minimalista do


direito penal. Rio de Janeiro: Impetus, 2011.

JAKOBS, Gunther. MELIÁ, Manuel Cancio. Direito Penal do Inimigo: Noções


e Críticas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

GUZELLA, Tathiana Laiz. A expansão do direito penal e a sociedade de


risco. Disponível em:
<http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/brasilia/13_357.pdf.>
Acesso em jun.2015.

Autor
Gabriela Serra Pinto de Alencar

Acadêmica do Curso de Direito da Universidade Federal do


Maranhão.

Informações sobre o texto


Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

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ALENCAR, Gabriela Serra Pinto de. Direito penal contemporâneo e


expansionismo punitivo. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina,
ano 22, n. 4969, 7 fev. 2017.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/55167.
Acesso em: 14 out. 2022.

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