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PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA:

a influência da mídia nos casos


Reitor Cancellier e Boate Kiss

Jonathan Viegas Avila Cruz*


Ana Carolina Filippon Stein**

RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso objetiva analisar como funcio-
nam os veículos de comunicação em casos envolvendo processos criminais,
e como seu discurso sensacionalista pode ser difundido culpabilizando
o acusado antes mesmo da sentença do juiz, sob alegação de ser o livre
exercício do direito à liberdade de imprensa. Por ser a liberdade de
imprensa um direito constitucionalmente garantido, acaba gerando um
conflito em relação a outro direito fundamental, à presunção de inocência.
A busca pela justiça imediata feita pela população, acaba gerando aos
veículos de informação papéis que não dizem respeito à sua real função,
ultrapassando os limites necessários para um bom funcionamento do
sistema penal, como é o caso de Luiz Carlos Cancellier de Olivo, ex-reitor
da UFSC, acusado em processo criminal, e o caso do trágico incêndio da
Boate Kiss, em que Elissandro Callegaro Spohr, ex-sócio da boate, Mauro
Londero Hoffmann, também ex-sócio, Marcelo de Jesus dos Santos, voca-
lista da banda Gurizada Fandangueira, e Luciano Bonilha Leão, produtor
musical, também foram acusados criminalmente. O trabalho foi dividido
em quatro capítulos para melhor entendimento do assunto, onde primei-
ramente é abordado o propósito do Direito Penal, em segundo momento
o Princípio da Presunção de Inocência, seguido do limite da liberdade de
informação e, para finalizar, uma análise a respeito da influência da mídia
nos dois casos criminais estudados.
Palavras-chave: Mídia; Presunção de Inocência; Liberdade de Imprensa;
Sensacionalismo.

* Graduando do Curso de Bacharelado em Direito do Centro Universitário


Metodista – IPA.
** Orientadora do artigo, Mestra em Direito - Ciências Criminais e professora
do Curso de Bacharelado em Direito do Centro Universitário Metodista – IPA.

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JUSTIÇA & SOCIEDADE, V. 7, N. 2, 2022
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PRESUMPTION OF INNOCENCE: THE INFLUENCE OF THE


MEDIA IN THE CASES OF REITOR CANCELLIER AND
BOATE KISS

ABSTRACT
This course conclusion work aims to analyze how the communication
vehicles work in cases involving criminal proceedings, and how their sen-
sationalist discourse can be disseminated, blaming the accused even before
the judge’s sentence, on the grounds that it is the free exercise of the right
to freedom of press. Because freedom of the press is a constitutionally
guaranteed right, it ends up generating a conflict with another fundamen-
tal right, the presumption of innocence. The search for immediate justice
made by the population ends up generating roles for the media that do
not relate to their real function, exceeding the necessary limits for a good
functioning of the penal system, as is the case of Luiz Carlos Cancellier
de Olivo, former rector of UFSC, accused in criminal proceedings, and the
case of the tragic fire at the Kiss nightclub, in which Elissandro Callegaro
Spohr, former partner of the nightclub, Mauro Londero Hoffmann, also
former partner, Marcelo de Jesus dos Santos, lead singer of the band Guri-
zada Fandangueira, and Luciano Bonilha Leão, music producer, were also
criminally charged. The work was divided into four chapters for a better
understanding of the subject, where firstly the purpose of Criminal Law
is addressed, secondly the Principle of the Presumption of Innocence,
followed by the limit of freedom of information and, finally, an analysis
regarding the influence of the media in the two criminal cases studied.
Key words: Media. Presumption of Innocence. Freedom of the Press.
Sensationalism.

1. INTRODUÇÃO
O presente projeto aborda o Princípio da Presunção de
Inocência através de teorias e conceitos de alguns autores rele-
vantes dentro do Direito, especificamente o Direito Penal, e os
possíveis danos causados pela influência das mídias nos casos
Reitor Cancellier e Boate Kiss, bem como questões referentes
à liberdade de imprensa e sua responsabilidade civil por difa-
mação, injúria e calúnia.

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Observa-se que quando trata-se de um processo penal de


grande repercussão, há um paradigma de superexposição nas
mídias, o que pode interferir diretamente ao fato concreto, pois
gera um clamor social e arrisca violar o Princípio da Presunção
de Inocência do acusado, que é uma das mais importantes ga-
rantias constitucionais, estabelecida no art. 5º, inciso LVII, da
Constituição Federal.
Posto isso, este estudo foi baseado na seguinte pergunta nor-
teadora: Houve violação do Princípio da Presunção de Inocência,
em razão da exposição midiática, nos casos Reitor Cancellier e
Boate Kiss?
Os diversos meios de comunicação, como jornais, revistas,
televisão, rádio e internet possibilitam uma enxurrada de infor-
mações todos os dias, entretanto, se a informação for repassada
sem a necessária responsabilidade, a notícia transmitida começa
a ser observada pela sociedade, como uma verdade absoluta, o
que para um processo penal em andamento, é uma aberração.
A reflexão acerca da possível violação do Princípio da Pre-
sunção de Inocência, em virtude da influência da mídia nos casos
Reitor Cancellier e Boate Kiss, é de extrema importância, pois esse
tema ainda gera grande comoção e revolta no âmbito jurídico.
Não se trata apenas de uma indignação de advogados, estão
incluídos delegados de polícia, promotores de justiça, enfim, ope-
radores do Direito em geral, visto que, os desfechos de ambos os
casos, foram considerados atrocidades do Direito brasileiro. Essa
realidade, tem ligação com a superexposição das mídias enquanto
os processos ainda estavam em andamento, que por consequên-
cia, pode ter influenciado a gerar outros fatores negativos, como
por exemplo, erros jurídicos, juízo de valor no tribunal do júri e
principalmente violação de princípios penais e constitucionais, o
fato é que não se deve, de forma alguma, confundir o direito de
informar e opinar, dos meios de comunicação, com o direito de
definitivamente condenar o acusado antecipadamente.

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Para realização do presente trabalho será utilizada a metodo-


logia de estudo de caso, através de pesquisa teórica e descritiva,
por meio de livros, artigos científicos, legislação vigente, análise
de documentos e, por ser um assunto muito atual, por via de sites
jornalísticos e blogs.
Com o objetivo de analisar se a mídia realmente influenciou
e violou o princípio da presunção de inocência, nos casos Reitor
Cancellier e Boate Kiss, o trabalho irá abordar a atuação da mídia,
como formadora de opinião

2. PROPÓSITO DO DIREITO PENAL


O Direito Penal é um setor do direito que tem uma das
funções mais importantes no ordenamento jurídico. Nesse con-
texto, Greco (2015) salienta que o objetivo do Direito Penal é
tutelar bens jurídicos extremamente valiosos do ponto de vista
político, tão valiosos que não seria suficiente apenas a proteção
dos demais ramos do Direito. Deste modo, ressalta ainda que,
“a pena, portanto, é simplesmente o instrumento de coerção de
que se vale o Direito Penal para a proteção dos bens, valores e
interesses mais significativos da sociedade” (GRECO, 2015, p. 2).
Capez (2003) salienta que o Direito Penal é o segmento do
ordenamento jurídico que trata do crime em seus aspectos gerais,
tem por objetivo selecionar os comportamentos humanos mais
graves e perniciosos à coletividade, e por consequência disciplinar
como uma pena correta e justa deve ser aplicada, além de informar
sobre, o espaço, o momento de efetivação do delito e os elementos.
Para Nucci (2007) o Direito Processual Penal é o corpo de
normas jurídicas cuja finalidade é disciplinar os procedimentos
de cada caso, ou seja, regular o modo, os meios e o poder punitivo
estatal utilizado quando é cometido algum delito e o infrator é
acionado penalmente. O Direito Processual Penal é espelhado
em princípios contidos na Constituição Federal, como também
em princípios próprios, então o processo penal não pode ser

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contemplado apenas para satisfazer interesses de uma das partes


envolvidas, a sua eficiência deve ser medida pela obtenção de um
resultado justo, que implica garantir uma persecução penal eficaz,
e da melhor e mais ampla defesa do acusado, extraindo-se dessa
síntese, em prazo razoável, a melhor solução da lide.
De acordo com Foucault (1987) o Direito Penal teve uma evo-
lução gritante, em sua origem era um espetáculo sádico de penas
cruéis e desumanas, em que o castigo exagerado era o tema das
condenações e imposto pela sociedade, além disso, os processos
eram secretos e sem direito ao contraditório ou ampla defesa.
A Constituição Federal (BRASIL, 1988) em seu art. 5º, dando
importância ao tema, elencou dentre os direitos fundamentais
alguns princípios que regulam a matéria do Direito Penal e
Processo Penal que não podem, em hipótese alguma, serem es-
quecidos, entre eles está o Princípio da Presunção de Inocência,
Princípio da Verdade Real, Princípio da Ampla Defesa e Contra-
ditório, Princípio da Imparcialidade do Juiz no processo, Devido
Processo Legal entre outros.
Diante da criação da Constituição Federal de 1988, que se-
gundo Oliveira (2010) não poderia ser mais bem vinda, e depois
de longa e sofrida vigência de uma codificação caduca em seus
pontos estruturais, foi marcado o fim das bases autoritárias do-
minantes e a instituição de direitos fundamentais assegurados
de maneira mais efetiva. Após o surgimento do Estado Demo-
crático de Direito, todos os ramos do direito se atrelaram mais
à Constituição, em especial o Direito Penal e Processual Penal,
que lidam com a liberdade, considerada o segundo bem jurídico
mais importante, atrás apenas da vida.
O Direito Penal e o Direito Processual Penal possuem princí-
pios, princípios estes que não podem ser violados, independente-
mente da comoção social que houver, violar um princípio é muito
mais grave que descumprir uma norma comum, pois implica grave
ofensa, não só a um específico mandamento obrigatório mas a

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todo o sistema, ou seja, é a mais grave figura de ilegalidade ou


inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido se
demonstra subversão de seus valores fundamentais, afronta a seu
arcabouço lógico e corrói sua estrutura mestra (MELLO, 1996).
Lopes Junior (1998) destaca que o processo, serve como
ferramenta para a prática do Direito Penal, e deve ter duas fun-
ções, são elas: tornar viável a aplicação da pena, e também servir
efetivamente como instrumento de garantia dos direitos e liber-
dades individuais constitucionalmente previstas, preservando os
indivíduos contra os atos abusivos do Estado.
Desta forma, o Direito Penal fomenta a recepção dos princí-
pios constitucionais, pertinentes ao modelo garantista, e com isso
assegura a dignidade da pessoa humana. Nesse contexto, o próximo
capítulo irá abordar sobre o Princípio da Presunção de Inocência.

3. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA


Para Carnelutti (2009, p. 24) “O delinquente, enquanto não
está preso, é outro ser.” E é dessa forma que o acusado deve
ser observado, pois o Princípio da Presunção de Inocência está
previsto na Constituição da República Federativa do Brasil no
artigo 5º, inciso LVII, “Ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória” e, em virtude
desse princípio, em nosso ordenamento jurídico a liberdade é a
regra e a prisão exceção, ou melhor, até que se prove o contrário
o acusado é inocente, e cabe apenas aos órgãos jurisdicionais
condená-lo, garantindo assim o Estado Democrático de Direito.
Conforme Batisti (2009) a presunção de inocência até o acu-
sado ser comprovadamente culpado, é um princípio indispensável
da maior parte dos sistemas legais do mundo e está ligado com o
conceito de ônus da prova, ou seja, em casos criminais, é impres-
cindível que a acusação prove, extinguindo qualquer possibilidade
de dúvida, se houver alguma dúvida sobre a culpa de uma pessoa,
ela deve ser inocentada. Por mais importante que esse princípio

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seja para o conceito de justiça, a presunção de inocência vai além


de uma ferramenta legal, se tornou um dos valores fundamentais
da sociedade, hoje, faz parte da cultura, todo cidadão está ciente
da presunção de inocência em um caso criminal.
Canotilho (2003) explica que, severamente, as garantias pro-
cessuais, como o Princípio da Presunção de Inocência, também
são direitos, ainda que muitas vezes salienta-se nelas apenas a
função instrumental de proteção aos direitos. As garantias se
constituem tanto no direito dos cidadãos a exigir dos poderes
públicos a proteção dos seus direitos, quanto no reconhecimento
dos meios processuais adequados a essa finalidade.
Caleffi (2018) ressalta que a administração do sistema de
justiça criminal procura o equilíbrio entre a busca da verdade
e a justiça do processo. Com esse objetivo, a lei deve amparar
os direitos individuais e consequentemente demandar diversos
encargos legais ao Estado. Um desses utensílios é o Princípio da
Presunção de Inocência até que a culpa seja comprovada, este é
um princípio constitucional e exige que se prove que os elementos
do crime estão além de qualquer dúvida razoável.
De acordo com Bahury (2016) a presunção de inocência é
parte vital do sistema de justiça criminal, sobretudo, garante um
julgamento justo para todos, pois quando o Estado garante que
apenas os sujeitos considerados culpados serão punidos, protege
o vulnerável. É de fato um princípio fundamental, constitucional-
mente estabelecido em nossa Carta, entretanto, é frequentemente
interpretado de forma inadequada, sem a necessária relativização
ao fato concreto, à exemplo dos casos em que existem provas
incontestáveis de que os acusados possuem responsabilidade
penal, logo, devem arcar com as consequências previstas.

Na prática processual penal, sabem os que lá ope-


ram, além dos cidadãos leigos bem informados,
que a garantia de que ninguém é culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória

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acaba por servir como um escudo protetor muitas


vezes intransponível. Tal se dá pela interpretação
recorrente e equivocada de que os princípios
constitucionais fundamentais são aplicados na
metodologia “tudo ou nada” e de que eventuais
concessões e mitigações à amplitude da garantia
significariam, de per se, um retrocesso inominável
a um regime ditatorial e autocrático, muitas vezes
até propalado retoricamente como fascista (ARAÚ-
JO, 2009, p. 14/15).

Lopes (2014) relata que nos primórdios da presunção de


inocência, este princípio recebeu muitos elogios de juristas famo-
sos como Carrara e Lucchini. No entanto, também houve críticas
de grandes juristas como Enrico Ferri e Vicenzo Manzini sobre a
possível interpretação literal da regra proveniente da Declaração
Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão que refere-se a
uma “presunção de inocência”, argumentou-se que tal presun-
ção enfraqueceria o poder do estado, tornando-se um obstáculo
para considerar possíveis resoluções contra o acusado durante o
processo, especialmente no que diz respeito à prisão preventiva,
chegando à conclusão de que no julgamento, o acusado não será
presumido inocente ou culpado, e sim, literalmente um acusado,
isto é, há motivos para que o magistrado o envie perante os juízes
e acredite que ele é culpado.
Schreiber (2005) argumenta que o equívoco é que rigorosa-
mente falando, em sua essência, significado, conteúdo e alcance, o
princípio não entrega de bandeja uma presunção de inocência, e
sim um estatuto jurídico ao abrigo do qual o acusado é inocente
até que exista contra ele uma firme condenação, ou seja, como
estado civil, cada pessoa goza de um estado de inocência mesmo
quando há um processo criminal contra ele, com a perspectiva
de que o acusado seja considerado um cidadão e, portanto, um
sujeito de direitos face ao Estado, ao contrário de um mero objeto
de investigação, ou pior, um inimigo desse Estado.

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É indiscutível a importância de resguardar o princípio


constitucional da presunção de inocência, especialmente em se
tratando de acusados em processo criminal, pois há grande inte-
resse público enquanto dever constitucional do Estado, visto isso,
o próximo capítulo irá expor o limite da liberdade de informação.

4. LIMITE DA LIBERDADE DE INFORMAÇÃO


De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas (2007)
e seu Código de Ética dos Jornalistas em vigor, é um dever dos
meios de comunicação veicular a informação de maneira correta
e precisa. Além disso, o mencionado Código de Ética ao tratar
sobre os direitos dos profissionais de imprensa dispõe que é um
dever do jornalista divulgar todos os fatos que sejam de interesse
público, desde que, se respeite o direito à privacidade do cidadão.
Conforme a Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece
em seu artigo 5º, inciso IV: “é livre a expressão da atividade inte-
lectual, artística, científica e de comunicação, independentemente
de censura ou licença”, e o art. 220, inciso 1º da CF estabelece
que: “Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir em-
baraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer
veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º,
IV, V, X, XIII e XIV”.
Sendo assim, os incisos específicos citados e dispostos no
art. 5º da Constituição declaram que:

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo


vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional
ao agravo, além da indenização por dano material,
moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;

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XIV - é assegurado a todos o acesso à informação


e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário
ao exercício profissional; (BRASIL, 1998, inciso 5°).

A liberdade de informação foi uma lenta conquista, uma vez


que, mesmo em sociedades que visavam um princípio democrático,
a liberdade em geral como a que temos hoje, não existia , original-
mente o direito de imprensa não se trata apenas do direito de um
grupo de profissionais ou empresas de comunicação, em tempos
passados foi necessário uma grande mobilização para que esse
direito seja assegurado, e ao passar do tempo o posicionamento
deve ser o mesmo, firme e vigilante diante de movimentos que
coloquem em risco ou ameacem essa conquista. (CARVALHO, 1994)
Em complemento, este autor destaca que: “tais normas pos-
suem eficácia plena, não admitindo qualquer contenção através
da lei ordinária, a não ser que seja para confirmar as próprias
restrições mencionadas nos incisos referidos do art. 5º (CARVA-
LHO, 1994, p. 31)”.
Segundo Carvalho (1999) um jornalista não merece ser cen-
surado quando agir com a precaução necessária, para noticiar um
fato com aparência de verdadeiro, por ele diretamente percebido
ou a ele narrado, mas é importante que fique claro, poderá haver
uma reparação civil caso ele cometa excessos na sua atividade.
Com base no exposto, Costa Junior (2004) salienta que não
é qualquer assunto de interesse público que justifica a divulga-
ção jornalística de um fato, na verdade, a liberdade de imprensa
ocorrerá nos casos em que houver um relevante interesse social
nos acontecimentos noticiados.

O Estado democrático defende o conteúdo essencial


da manifestação da liberdade, que é assegurado
tanto sob o aspecto positivo, ou seja, proteção
da exteriorização da opinião, como sob o aspecto
negativo, referente à proibição de censura. (FER-
REIRA, 1998, p.68)

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Para Caldas (1997) a imprensa tem uma função fundamen-


tal para a manutenção do Estado democrático de direito, pois
a mesma é responsável por veicular informações à população.
Contudo, ressalta que a liberdade de imprensa exige rigorosa-
mente o princípio da verdade, tendo em vista que, apesar de ter
o direito de informar a sociedade sobre fatos e idéias, também
tem o dever de informar objetivamente, ou seja, sem alterar a
verdade ou modificar o sentido original do fato, pois agindo desta
maneira a imprensa passa dos limites da informação.
A imprensa precisa cumprir o seu papel na sociedade, e o
direito de informação sem censura é uma garantia constitucio-
nal, mas essa liberdade não pode ser ilimitada, haja vista que
qualquer liberdade exige responsabilidade, um exemplo disso,
são notícias transmitidas acerca de matérias sobre pessoas in-
vestigadas e processadas criminalmente, na teoria uma notícia
como essa deve ser analisada com o máximo de cautela, para que
tais pessoas não sejam submetidas a um julgamento processual
antecipado pela mídia, a notícia deve levar em consideração as
suas limitações, tendo em vista que a própria verdade em si pode
não ser absoluta, pois muitas vezes é impossível alcançar as ver-
dades dos fatos, entretanto, na prática, uma fração da imprensa
propaga notícias sensacionalistas, sem constatar a veracidade,
pois assuntos pertinentes a crimes chamam a atenção da socieda-
de, e assim se começa a criar um juízo de valor sobre aquele que
cometeu o crime e está sendo utilizado como o produto da notícia,
resultando na destruição da dignidade humana do indivíduo, no
fim das contas a mesma mídia que pode construir positivamente
a imagem de uma pessoa, pode destruir a sua honra caso esteja
envolvida em um processo penal, então indiretamente a mídia
passa a ser um meio de controle social, pois reflete na opinião
pública (VIEIRA, 2003).
Já conceituado o limite da liberdade de informação, bem
como os possíveis danos causados quando esses limites não são

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respeitados, agora se faz necessário abordar a influência da mídia


nos julgamentos.

5. A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS JULGAMENTOS


Conforme Kellner (2001) o rádio, a televisão, o cinema e
outros produtos da indústria cultural contribuem ativamente na
construção de “modelos sociais”, ou seja, definem característi-
cas sobre o que significa ser homem ou mulher, bem-sucedido
ou fracassado, poderoso ou impotente. A mídia influencia na
cultura de uma sociedade, e indiretamente constrói um senso
de classe a ser seguido por muitas pessoas, principalmente
na classificação do “nós” e “eles”, portanto, modela a visão do
mundo e seus valores mais significativos como a definição de
bom ou mau, moral ou imoral.
Vieira (2003) destaca com propriedade que a mídia através
do sensacionalismo sem moderação, busca chocar o público,
causar impacto, exigindo seu envolvimento emocional, dessa ma-
neira, a imprensa e as redes de televisão produzem um modelo de
informação que confunde. Esse mundo-imaginação é envolvente
e o leitor ou telespectador se tornam inertes, incapazes de criar
uma barreira contra os sentimentos, incapazes de discernir o que
é real do que é sensacional, esta incapacidade de discernimento
do receptor gera grandes problemas e ao mesmo tempo aumenta
o poder da mídia, pois, se o telespectador soubesse filtrar as in-
formações passadas a ele de uma forma racional seria assim um
sensacionalismo frustrado. A mídia sabe das fraquezas de seus
receptores e se beneficia disso, a manipulação e interferência é
tão forte que cria uma repercussão social e deixa a população
comovida da forma que quiser, levando-a da tristeza por um
acontecimento isolado, a uma fúria, uma necessidade arrebata-
dora de fazer justiça com as próprias mãos ou pressionar o Poder
Judiciário em si, ecoando no sistema penal.

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A cobertura massacrante, com ênfase no suposto agente de-


litivo, colocando o suspeito como bandido ou “inimigo do Estado”,
provoca a tensão entre o direito de se expressar livremente e os
direitos da personalidade do acusado, ambos direitos constitu-
cionais. A confiança do povo aplicada à mídia, a torna cada vez
mais poderosa, e com a ajuda da repercussão social, se cria uma
contaminação de ideias leigas que corroboram com o afronte ao
nosso Poder Judiciário, um juiz munido pelo poder de decisão,
pode sim afetar-se com a inflamação da mídia e também com a
repercussão social, sentindo-se direta ou indiretamente pres-
sionado a aplicar penas mais rígidas ao acusado, tirando de si a
imparcialidade e o “convencimento livre” (SILVA, 2005).
Atualmente o Direito Penal e a mídia estão muito próximos,
visto que, as pessoas se interessam por informações que dizem
respeito à burla das regras penais, a imprensa, portanto, não
pode ficar desatenta ao interesse público, até porque a mesma
é o “olho da sociedade”, então jornais, revistas, e o noticiário
televisivo e radiofônico destinam significativo espaço para este
tipo de notícia. Acontece que, a mídia de massa forma a opinião
pública, e frequentemente, a divulgação reiterada de crimes e a
abordagem sensacionalista dada por alguns veículos de comuni-
cação, potencializam a sensação de medo e insegurança da socie-
dade, gerando indignação e comoção social, o clamor e a pressão
popular sobre os atores do processo causam danos irreparáveis
ao suspeito, como a exclusão social e a prisão cautelar ilegal, ou
seja, a pena pelo crime supostamente cometido já começa a ser
cumprida no momento da persecução penal (ALMEIDA, 2007).
Brito (2009) salienta que a mídia tem seu poder de influên-
cia a muito tempo, no início do século XX, surgiu na Inglaterra a
ideia de mídia como o “quarto poder”, quando, na sede do parla-
mento inglês, criou-se uma galeria para receber os repórteres que
acompanhariam as decisões dos representantes dos três poderes
da época, o “poder temporal”, o “poder espiritual” e o “poder dos

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comuns”. Dessa maneira, a presença das pessoas que dariam pu-


blicidade às decisões passou a ser conhecida como “quarto poder”,
pois formavam um poder fiscalizador e essencial para viabilizar
a manifestação de pensamento e liberdade de expressão dos ci-
dadãos, a expressão popularizou-se nas democracias ocidentais
até ser relacionada com os conhecidos poderes Legislativo, Exe-
cutivo e Judiciário, então não há como negar a sua importância
na sociedade em si, pois, a mídia é realmente algo indispensável
para os dias atuais, o grande problema que ela traz é ocasionado
por uma falta de ética profissional e fidelidade às notícias.
O jornalismo policial atualmente inflama a fúria da socieda-
de, e erroneamente procura solucionar conflitos complexos de
maneira rápida, estando assim, denominado “o quarto poder”,
capaz de influenciar decisões em grandes casos polêmicos perante
o magistrado (BOBBIO, MATTEUCCI, PASQUINO, 1998):

Os meios de informação desempenham uma função


determinante para a politização da opinião pública
e, nas democracias constitucionais, têm capacidade
de exercer um controle crítico sobre os órgãos dos
três poderes, legislativo, executivo e judiciário. A
imprensa independente, portanto, enquanto se po-
siciona em competição cooperativa com os órgãos
do poder público, foi definida como o Quarto poder
(BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 1040).

Segundo Moretzsohn (2003) apesar de a figura do juiz contar


com uma vasta formação jurídica, e possuir independência, assim
como obrigação de permanecer imparcial, há pressão midiática
diante dos julgamentos, como consequência da atuação do jor-
nalismo policial, que vem buscado responsabilidades diversas
das suas – como o direito de informar –, agindo em encargos que
necessitam da atuação apenas por parte do judiciário e policiais.
A mídia pode e deve cumprir a sua missão enquanto os ór-
gãos da administração estão investigando um fato delitivo, pois a

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informação é importante para uma sociedade democrática, mas é


imprescindível que os fatos sejam divulgados como eles realmente
são. O problema é que uma parte da mídia costuma atribuir um
juízo de valor à matéria que produzem, isso pode influenciar a
sociedade e até mesmo a maneira de pensar do juiz, ou seja, não
o influencia completamente, mas cria uma pressão sobre sua
consciência, fazendo com que muitas vezes ele decida de acordo,
com o que a mídia e a sociedade esperam dele (SANGUINÉ, 2001).
Pacheco (2010) relata que a nova Constituição Federal foi um
marco na história do direito, e que esse marco nos proporcionou
uma profunda transformação jurídica, mas apesar disso, ainda pre-
sencia-se no cotidiano forense, infelizmente, uma política criminal
falha, onde podemos observar uma interpretação da Constituição
a partir do Código de Processo Penal, quando na verdade o correto
seria o contrário, as consequências são princípios cruciais sendo
violados em decorrência de um sistema jurídico desorganizado e
facilmente influenciável pela mídia e pela pressão popular. Isso
caracteriza uma abominável situação onde o contraditório passa
a ser substituído pelo inquisitivo, a ampla defesa, entre outros
princípios tornam-se apenas ilustrativos, próximos a sem serven-
tia, e a presunção de inocência desconsiderada.
Analisando o cenário brasileiro, resta claro os casos em que
houve expressiva participação por parte da imprensa, gerando
grande revolta em boa parte da população, nas próximas seções
este trabalho abordará dois casos de grande repercussão midiá-
tica no Brasil, que nortearam esta análise.

5.1 Caso Reitor Cancellier


Casos como os do presente estudo devem ser analisados
diante do princípio constitucional acima estudado, pois a mídia
com sua exposição excessiva pode ultrapassar os limites da repor-
tagem, para o Desembargador Lédio Rosa, essa foi a última lição
de Cancellier, ao dizer que “contra a mais absoluta injustiça e con-

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JUSTIÇA & SOCIEDADE, V. 7, N. 2, 2022
Revista do Curso de Direito do Centro Universitário Metodista – IPA

tra o terrorismo de Estado, só a tragédia pode chamar a atenção


de uma população que vive uma histeria coletiva” (ROSA, 2017).
Luiz Carlos Cancellier de Olivo concluiu sua graduação no
ano de 1998, obtendo também o grau de mestre (2001) e dou-
tor (2003) em Direito, todos pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), sendo posteriormente professor e diretor do
Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) da universidade. Em 2015
teve sua campanha vitoriosa pela Reitoria com o movimento “A
UFSC Pode Mais”, tomando posse em maio de 2016, entretan-
to, um pouco mais de um ano após sua posse como reitor da
universidade, o dia 02 de outubro de 2017 foi marcado por um
trágico acontecimento em Santa Catarina, isso porque Luiz Carlos
Cancellier, na época com 59 anos de idade, cometeu suicídio ao
pular do 7º (sétimo) andar de um shopping center da cidade de
Florianópolis/SC. (NOTÍCIAS UFSC, 2017).

Figura 1 - Reitor da UFSC comete suicídio em shopping de Florianópolis


Fonte: Diário Catarinense; Agecom/UFSC

Cancellier estava sendo acusado de obstruir as investigações


de supostos desvios de verbas relacionadas aos cursos de ensino
à distância da UFSC, financiados pela CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Segundo informa-
ções prestadas pela polícia, o reitor havia ignorado as denúncias
e tentado atrapalhar as investigações feitas pela corregedoria
da universidade, surgindo o então nome da operação: “Ouvidos
Moucos” (G1, 2019).

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PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA:
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS CASOS REITOR CANCELLIER E BOATE KISS

Sua acusação preencheu diversas páginas de jornais, revistas,


entre outros veículos de informação, por tratar-se de um esquema
de corrupção dentro da Universidade Federal de Santa Catarina,
desencadeando uma série de sentimentos como a revolta da
população e, principalmente, por parte de alguns acadêmicos da
referida universidade. Ironicamente, após seu fim trágico, as pá-
ginas dos mesmos meios de comunicação, passaram a estampa-lo
como vítima de um sistema penal falho, no entanto, questiona-se
o importante papel da imprensa ao apurar os acontecimentos
da investigação, repassando à população a ideia de culpado do
reitor Luiz Carlos Cancellier, ofendendo diretamente o Princípio
da Presunção de Inocência (VALENTE; TUROLLO JUNIOR, 2017).
Em 28 de setembro de 2017 a PF pediu a prisão temporária
por cinco dias de sete professores, incluindo Cancellier, que foi
solto no dia seguinte à sua prisão, mas foi proibido pela Justiça
de entrar na UFSC, após 14 dias, o reitor publicou um texto na
página O Globo, de título “reitor exilado”, relatando não possuir
qualquer envolvimento com os desvios das verbas objeto da in-
vestigação, a qual acusou de frágil e equivocada. (OLIVO, 2017)

Para além das incontáveis manifestações de apoio,


de amigos e de desconhecidos, e da união indis-
solúvel de uma equipe absolutamente solidária,
conforta-me saber que a fragilidade das acusações
que sobre mim pesam não subsiste à mínima
capacidade de enxergar o que está por trás do
equivocado processo que nos levou ao cárcere.
Uma investigação interna que não nos ouviu; um
processo baseado em depoimentos que não per-
mitiram o contraditório e a ampla defesa; infor-
mações seletivas repassadas à PF; sonegação de
informações fundamentais ao pleno entendimento
do que se passava; e a atribuição, a uma gestão que
recém completou um ano, de denúncias relativas a
período anterior. (OLIVO, 2017)

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JUSTIÇA & SOCIEDADE, V. 7, N. 2, 2022
Revista do Curso de Direito do Centro Universitário Metodista – IPA

Figura 2 - Bilhete encontrado no bolso do ex-reitor após sua morte.


Fonte: VEJA

O remédio processual utilizado para prender Cancellier na


operação “Ouvidos Moucos”, foi a prisão temporária, se deu pelo
suposto risco de interferência na investigação, no entanto, Gui-
lherme de Souza Nucci denomina esse ato como investigação às
avessas, isso porque acredita que, a polícia, ao invés de investigar
o fato criminoso, buscando suas possibilidades, elege um sus-
peito a fim de vê-lo confessar com o objetivo de conseguir mais
provas para concluir o inquérito, encerrando-o e enviando-o ao
Ministério Público (NUCCI, 2007).
Com a omissão do Ministério Público Federal e da Justiça
Federal, a PF determinou a prisão temporária do reitor por
obstrução da investigação, as mídias de todo país estamparam
manchetes que mencionavam um desvio de R$ 80 milhões na
universidade, e o reitor foi descrito como o chefe da organiza-
ção criminosa, posteriormente, a própria polícia desmentiu a
informação que havia dado, ou seja, não houve desvio de R$ 80
milhões, este valor se referia ao total dos repasses entre 2008 e
2016 para o programa de ensino a distância, alvo da investigação,
além disso, até hoje a PF não foi capaz de informar qual é o valor
total dos desvios, mas é tarde demais, o reitor já foi condenado no
noticiário. Outras 23 pessoas relacionadas à UFSC foram indicadas
por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e peculato, os

148
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA:
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS CASOS REITOR CANCELLIER E BOATE KISS

quais também não foram comprovados ao final do relatório da


PF. A suposta quadrilha teria agido entre os anos de 2008 e 2017,
com a afirmação de que o reitor era o comandante do esquema
criminoso, no entanto, Cancellier só assumiu o cargo em 2016.
Questionada sobre a falta de provas, a PF apenas informou que
a investigação foi encerrada pela cooperação, passando a estar
sob análise do Ministério Público Federal, a Delegada Federal
Erika Marena, responsável pela operação “Ouvidos Moucos” foi
denunciada pela família de Cancellier, pelas irregularidades e
abuso de poder durante a investigação, entretanto, foi inocentada
pela corregedoria e transferida para Sergipe, sem sofrer qualquer
advertência (FILHO, 2018).

5.2 Caso Boate Kiss


Outro caso de grande repercussão nas mídias é o caso da
Boate Kiss, um incêndio no interior de uma casa noturna que ma-
tou diversos jovens, deixando vários feridos, na cidade de Santa
Maria, no Rio Grande do Sul. Noticiou-se que o evento realizado
na Boate Kiss teria sido organizado por estudantes de diversos
cursos e, durante apresentação de uma banda, quando um dos
integrantes acendeu um artefato pirotécnico no palco iniciou-se o
fogo no teto da boate. Em consequência, o local teria se difundido
com a fumaça do fogo, o que fez com que muitas pessoas não
conseguissem sair dos interiores da boate, apesar de tamanha
fatalidade, os donos da boate, o vocalista da banda que tocava
naquele momento e, o produtor musical foram denunciados pelas
diversas mortes e feridos (BECK, 2021).

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Figura 3 - Incêndio Boate Kiss


Fonte: Agência RBS/AP/VEJA

Tendo em vista a enorme repercussão social que o feito


tomou, os denunciados, Elissandro Callegaro Spohr, ex-sócio da
boate, Mauro Londero Hoffmann, também ex-sócio, Marcelo de
Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira, e
Luciano Bonilha Leão, produtor musical, pediram desaforamento,
ou seja, pediram que fossem processados e julgados em comarca
distinta daquela, pois, pela comoção social, a condenação já seria
certa, até mesmo sem analisar as provas do processo, ou a vonta-
de de praticar tais atos, se houve dolo ou não (BOCCHINI, 2022).
Com o deferimento do desaforamento, todos os réus foram
processados e julgados na Comarca de Porto Alegre, sendo que
todos foram condenados pelo Tribunal do Júri. Em decorrência da
grande repercussão social, o julgamento foi transmitido ao vivo,
em diversas emissoras, sendo que foi um dos julgamentos mais
longos da justiça do Rio Grande do Sul. A título ilustrativo, a rádio
gaúcha, GZH, ZH e Diário Gaúcho disponibilizaram repórteres

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PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA:
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS CASOS REITOR CANCELLIER E BOATE KISS

para noticiar todos os fatos realizados durante a sessão do júri,


inclusive na área externa. O GZH informou que disponibilizaria
conteúdos que fizessem menção da data do ocorrido até o jul-
gamento, inclusive iria transmitir ao vivo com intervenções de
repórteres locais. A RBS TV transmitiu no jornal, antes do julga-
mento, oito reportagens referente aos oito anos do incêndio na
boate, e durante o julgamento seria transmitido ao vivo. O jornal
do comércio noticiou fatos que entenderam ser mais relevantes.
A rede Record, sendo o Jornal Correio do Povo transmitiu o jul-
gamento ao vivo, através das suas plataformas, as quais seriam
atualizadas simultaneamente, de modo que foi necessário diversos
repórteres e fotógrafos, bem como se disponibilizou a transmitir
caso o julgamento continuasse durante a madrugada. A Record
TV transmitiu o julgamento ao vivo, com acompanhamento diário
até o seu fim. A rádio Guaíba fez cobertura integral e presencial
do julgamento (COLETIVA.NET, 2021).
Vale a pena abrir um parêntese para elucidar a influência
da mídia nas condenações dos denunciados, pois, é necessário
reconhecer que a participação das redes sociais, considerando que
as notícias foram amplamente divulgadas e reiteradas, travestidas
de julgamentos, fez com que a população de plano já condenasse
os réus, não sendo necessário sequer um processo. A proporção
da repercussão social foi tanta, que diversos professores e opera-
dores de direito manifestaram-se a respeito do julgamento e seus
impactos, entre eles está o Felipe Oliveira, professor de processo
penal na Escola de Direito da PUCRS (BECK, 2021).

A decisão que vier desse julgamento vai ter um


peso muito grande em termos históricos. Um fato
extremamente triste e que entra para a história do
judiciário. Seja uma sentença condenatória ou uma
sentença absolvitória, esse processo já entrou para
a história jurídica do Brasil. (BECK, 2021)

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JUSTIÇA & SOCIEDADE, V. 7, N. 2, 2022
Revista do Curso de Direito do Centro Universitário Metodista – IPA

Vale ressaltar que a denúncia contra os quatro réus foi pela


condenação de homicídio duplamente qualificado, sendo as qua-
lificadoras por motivo torpe e com meio cruel por emprego de
fogo, todavia, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que
no presente caso trata-se apenas de homicídio simples, sendo que
as condutas teriam sido praticadas com dolo eventual.
Dentro desse contexto, é importante dizer que dolo even-
tual é quando o agente tem consciência das suas ações e sabe
que pode gerar um resultado, de modo que, o agente assume
este risco. Nesse sentido, para o Ministério Público os donos
da boate são autores dos homicídios e das lesões, pois assumi-
ram os riscos na implantação de espuma altamente inflamável
e sem indicação técnica de uso nas paredes e no teto, além da
contratação do show onde seria utilizado fogos de artifício, com
a boate lotada, sem condições de evacuação e segurança contra
fatos dessa natureza. No que se refere ao produtor musical e
o vocalista da banda que tocava no momento do incêndio, es-
tes seriam autores porque foram responsáveis por adquirir e
acionar os fogos de artifícios, respectivamente. Dentro desse
contexto, a tragédia foi assistida à exaustão pela sociedade, onde
a cobertura midiática trouxe notícias recheadas de julgamentos,
divulgando o sofrimento e inconformidade dos sobreviventes
e familiares dos que morreram, algo que sem dúvidas, por si
só, influencia no tribunal do júri popular que julgou os réus,
razão pela qual, não se esperava outra decisão que não fosse
condenatória (BOCCHINI, 2022).
Por maioria de votos, no dia 03/08/2022 a 1ª Câmara Cri-
minal do TJ/RS aceitou o recurso protocolado pela defesa dos
acusados e acolheu nulidades processuais ocorridas durante
sessão do Tribunal do Júri de Porto Alegre, realizada em de-
zembro de 2022, entre as nulidades mais destacadas nos votos
dos dois magistrados está a formação do Conselho de Sentença
(MIGALHAS, 2022).

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PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA:
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS CASOS REITOR CANCELLIER E BOATE KISS

Jayme Weingartner Neto pontuou em seu voto:

Os atos praticados foram atípicos. As regras vigen-


tes foram descumpridas. Foram descumpridas no
sorteio de número excessivo de jurados, e foram
descumpridas na realização de três sorteios, sen-
do o último flagrantemente fora do prazo legal, a
menos de dez dias úteis da data da instalação da
sessão. (MIGALHAS, 2022).

Na mesma linha de raciocínio, José Conrado Kurtz de Souza


falou sobre a não observância da lei:

É preciso zelar para que todos os julgamentos,


complexos ou não, obedeçam à lei. Não há dois
Códigos de Processo Penal. O sorteio de 25 jurados
é o ponto fulcral da questão. (MIGALHAS, 2022)

Ao rechaçar essa nulidade, o relator Manuel José Martinez


Lucas argumentou que o debate referente a realização de mais
de um sorteio, sendo um fora do prazo legal, não teria causado
dano à defesa:

Ainda que não obedecidas rigorosamente, as regras


processuais, a subversão é imposta pela complexi-
dade do processo. (MIGALHAS, 2022)

Após a decisão do TJ/RS de anular o júri do caso envolvendo a


Boate Kiss, Lopes Júnior (2022), advogado criminalista e professor
da PUCRS, afirmou em sua rede social que a anulação tem “caráter
pedagógico” e não foi nenhuma surpresa, pois “Ao longo daquele
julgamento era visível uma série de ilegalidades”, salientou ainda:

Você pode punir, punir é necessário, é civilizatório,


mas é preciso respeitar a regra do jogo (...) você não
pune quem violou a lei, violando a lei. Não se com-
bate crime, cometendo crime. (LOPES JUNIOR, 2022)

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JUSTIÇA & SOCIEDADE, V. 7, N. 2, 2022
Revista do Curso de Direito do Centro Universitário Metodista – IPA

Conforme o que foi apresentado neste capítulo, foi realizada


a análise da influência da mídia nos casos Reitor Cancellier e Bo-
ate Kiss. No capítulo seguinte estarão dispostas as considerações
finais deste trabalho

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou demonstrar de maneira objeti-
va as noções básicas que norteiam a liberdade de imprensa e o
princípio da presunção de inocência, foi destacado o importante
papel que os meios de comunicação exercem no Estado Demo-
crático de Direito, buscando elucidar a sua função informativa e
de construção de pensamento perante a sociedade.
Verificou-se a alta influência da mídia no Direito Penal, es-
pecialmente quando se trata de crimes que serão submetidos ao
júri popular, pois, nesse caso, são pessoas da própria sociedade
que irão condenar ou absolver o “acusado”, sendo que, na maioria
das vezes, em decorrência das repetidas notícias e, seu poder de
persuasão, o jurado já possui um pré julgamento, e está muito
mais inclinado a condenar.
De lado a lado, pode-se dizer que a mídia também influencia
na fase investigativa, de modo que, o clamor social exige celerida-
de para realizações de todos os atos, sendo eles necessários, ou
até mesmo desnecessários, pois tem sido cada vez mais frequente
o uso de medidas de exceção em processos investigativos, com
atuações desmedidas e abusos de autoridade.
A par disso, quando a mídia estimula a explanação da opinião
popular para os casos de repercussão social, as decisões judiciais
em sua maioria das vezes são tomadas em consonância com re-
feridas opiniões, opiniões essas que não clamam por justiça, e
sim por vingança
Observou-se que a liberdade de informação não é absoluta,
devendo ser limitada para justamente preservar a presunção de
inocência do acusado, entre outros direitos fundamentais, além

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PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA:
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS CASOS REITOR CANCELLIER E BOATE KISS

disso, as mídias possuem responsabilidade civil pela matéria


publicada e poderão responder por danos materiais e morais
oriundos da violação do direito à intimidade, à vida privada, a
honra e a imagem das pessoas.
O jornalista, no regular exercício da profissão, tem o direito
de divulgar os fatos sobre a conduta de determinada pessoa, des-
de que se restrinja a finalidade de apenas informar a sociedade,
algo bem diferente do que é feito atualmente pela imprensa, a
mesma deve respeitar os seus limites, pois só assim ela conse-
guirá utilizar do poder que tem em mãos para o benefício da
sociedade. Exige-se que os meios de comunicação veiculem a
notícia de maneira correta e precisa, ou melhor, sem juízo de
valor, o sensacionalismo não é admitido em nosso ordenamento
jurídico, sendo este a veiculação de notícias ofensivas, injuriosas
e difamantes, que descem ao ataque pessoal do indivíduo.
Discorrendo sobre a pesquisa ressalto que estamos diante
de dois direitos previstos na constituição, um serve de limitação
ao outro, devendo haver um ponto de equilíbrio entre eles, a
Constituição Federal não pode estar em conflito consigo mesma.
Quanto à indagação do objeto da pesquisa, conclui-se que
de fato houve violação do princípio da presunção de inocência,
em razão da exposição midiática excessiva, nos casos Reitor
Cancellier e Boate Kiss, visto que, o sensacionalismo causado
por mídias irresponsáveis cria falsas memórias que influenciam
na análise das provas, e sem dúvidas na vida pessoal do acusado
mesmo antes do trânsito em julgado, em ambos os casos anali-
sados nesta pesquisa não foi diferente.
A recuperação da garantia do processo penal depende do
reconhecimento da necessidade dos atores jurídicos, afastando-os
do julgamento de teor populista, a sociedade precisa compreender
que a justiça não pode se guiar pelo senso comum, ela precisa
garantir um processo penal ileso. Casos de linchamento moral,
como o que ocasionou nulidades processuais durante a sessão

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JUSTIÇA & SOCIEDADE, V. 7, N. 2, 2022
Revista do Curso de Direito do Centro Universitário Metodista – IPA

do Tribunal do Júri no caso Boate Kiss, ou o suicídio do reitor da


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) são inadmissíveis
numa sociedade justa e democrática, no fundo, o ato de Cance-
llier serviu como denúncia sobre uma ação desmedida da Polícia
Federal aliada à mídia sensacionalista.
Foi possível analisar a aplicabilidade da presunção de
inocência, quando confrontada na prática com a liberdade de
informação, em dois casos concretos, buscando compreender os
impasses gerados por referido confronto, resta claro que todas
as garantias tipificadas no texto de nossa Constituição Federal
possuem imensa importância e responsabilidade, no entanto,
para que haja sucesso na aplicação desses direitos se faz ne-
cessário não só sua previsão em textos legais, mas também, o
entendimento de quem de fato os utiliza, para que não ultrapasse
o limite do que é fundamentalmente garantido, devendo todas as
instituições cooperar para que se tenha um resultado satisfatório
para ambos os lados.
Assim, conclui-se que a sociedade necessita de informações,
desde que pautadas de veracidade e prudência, importando-se
em não ofender, nem intimidar indivíduos em busca de audiência.

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