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ABSTRACT: this ar@cle intends to present in a segment and ra@onal way the reading of
the book “La expansion del Derecho Penal” from Professor Jesús-Maria Silva Sanchez
(Pompeu Fabra University – Spain), presen@ng 10 species of direct or indirect
expansions from the criminal law, iden@fied sistema@cally inside his work.
KEY WORDS: Expansion. Criminal law. Silva Sanchez. First Speed. Second Speed. Third
Speen. Expansion versus expasionism. Legisla@ve expansion. Interpreta@ve expansion.
Puni@ve expansion.
A leitura da obra “La Expansión del Derecho Penal”, seja em sua primeira edição
publicada em 1999, seja em sua segunda edição de 2001, é considerada pela doutrina
como geradora de uma pequena revolução no pensamento jurídico penal.
Em sua obra, SILVA SANCHEZ é capaz de escrever um texto transtemporal, posto que
mais de uma década após, permanece atual e servindo de base fundamentadora para
a posição polí@co criminal de grande parte dos países ocidentais, inclusive jus@ficando
as posturas dilatadoras.
Por ser uma análise restrita à obra do Professor SILVA SANCHEZ, a bibliografia é
exclusivamente a de seu livro, buscando-se, assim, independência acadêmica e
cria@vidade.
2. EXPANSÃO LEGISLATIVA
Sua aplicabilidade é geramente baixa posto que a forma de sua criação, geralmente
atécnica, pode chegar até a violar princípios penais de modo acentuado.
Dessarte, a lei existe, mas não é (ou não pode ser) cumprida. Seu significado é
eminentemente populista, gerando mais o símbolo de existência de direito penal
tutelando certa esfera da sociedade do que efe@vidade jurídica.
Fundamental que a expansão não seja confundida com maior rigor penal ou reação
penal firme à violência. Assim:
“En par6cular, y para evitar de entrada malas interpretaciones,
conviene subtrayar, a este respecto, que la profundidad y la
extensión de las bases sociales de la actual tendência expansiva
del Derecho penal no 6enen nada que ver con las que en la
década de los años sessenta – y posteriores – respaldaban al
movimento, inicialmente norte americano, de law and order”. 2
1 Art. 22, parágrafo único, CF: Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
2 SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La expansión del derecho penal: aspectos de la polí@ca criminal en las
sociedades pos@ndustriales. (Colección Estudios y debates em derecho penal, 1). Buenos Aires: Euros
Editores, 2008, p. 8
legisla@vas e que, não sa@sfeito, pode não reeleger os representantes que não
atenderem suas demandas.
Nessa divcil linha, a função dos contornos entre expansionismo e expansão. SILVA
SANCHEZ aceita a segunda, mas condena a primeira e seguimos a mesma linha por ele
esposada. A criação de limites legisla@vos serviria como base lógica para admi@r
legislação nas 3 situações jus@ficadoras e evitar quaisquer outras criações abusivas. E
apresenta que
“Frente a los movimentos sociales clássicos de restricción del
Derecho penal, aparecen cada vez con mayor claridade
demandas de una ampliación de la protección penal que ponga
fin, al menos nominalmente, a la angus6a derivada de la
inseguridad”.3
Assim, o paralelo entre criminalizar lavagem de capitais e suas novas formas (por
exemplo, geradas pela tecnologia) em si e não criminalizar o advogado que recebe
honorários de alguém acusado de lavagem de capitais.
A teoria penal clássica ensina que os delitos, para serem compreendidos em sua
inteireza, devem ser visualizados sob a ó@ca de um caminho para seu come@mento.
Desta feita, há que se iden@ficar a existência de um “iter criminis”, ou seja, uma lógica
sequencial de atos para o come@mento do delito material, como ponto de par@da.
Haveria, então, um momento de cogitação, um momento de preparação, um momento
A ideia dos delitos formal, culposo e de mera conduta, por sua vez, faria com que
momento de execução e momento de consumação se fundissem. Mas certo é que os
fatos, em sua maioria, de acordo com um raciocínio clássico, somente podem ser
penalmente relevantes quando houver um movimento comissivo ou omissivo
equivalente à execução criminal, mesmo que a consumação não se a@nja (tenta@va).
Acontece que a definição de risco passa a ser volá@l e ao legislador fica o espaço para
determinar que certas espécies de risco (que a princípio não geram violação a bens
jurídicos – “harm principle” – e nem insegurança) passem a merecer tutela do direito
penal.
O legislador, posto que legi@mado, então expandiu o conceito de risco, em
determinados casos, para o momento de preparação do delito, ou seja, para um
momento em que não houve sequer exterioração da conduta no mundo fá@co.
E é isso que SILVA SANCHEZ iden@fica como uma expansão do momento consuma@vo
do delito, posto que há uma verdadeira antecipação da consumação do delito no
momento de um mero ato preparatório. Exemplos disso estão espalhados pela
doutrina brasileira como, o art. 241-B (Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente) ou o art. 51 da Lei dos Crimes
Ambientais ( Comercializar motosserra ou u@lizá-la em florestas e nas demais formas
de vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente).
Nessa expansão, o que se nota é que o iter, composto por 4 fases e que possuia
relevância penal apenas nas duas úl@mas passa a ter situações de punição para a 2ª
fase, fazendo com que a consumação seja expandida lógica e temporalmente, naquilo
que a doutrina teve por bem denominar de antecipação da tutela penal.
4. EXPANSÃO IMPUTATIVA
Novamente surge a tona a questão do risco como elemento integrante do @po penal.
Compreendemos, a par@r da leitura da obra, que SILVA SANCHEZ iden@fica que a
assunção do risco como elemento central do funcionalismo gera um enfraquecimento
do conceito de relação causal e mesmo das classificações de delitos em formal e
material (aqui assumindo que o delito formal é mais amplo que o de mera conduta e o
engloba).
Ocorre que a migração para tal valor faz com que haja legi@mação de teorias como a
do domínio do fato e da ignorância deliberada, alargando-se cada vez mais o conceito
de responsabilização subje@va, retornando-se a conceitos próximos a de
responsabilidade obje@va próprios de um direito penal de autor e re@rando valor dos
elementos subje@vos.
6 SILVA apresenta que, nos delito de acumulação, “nos hallamos ante una espécie de autoria accesoria
Isso porque a teoria do risco leva em consideração a tênue linha entre o permi@do e o
proibido, deixando-se ao lado a ideia de intenção e até mesmo de par@cipação efe@va
no fato proibido. A criação irresponsável de risco (ou incremento, inclusive pelo não
impedimento, em função de direção), mesmo que não intencionada, pode gerar
responsabilização. Observe-se, portanto, que a ideia garan@sta de indício de autoria
fica bastante rela@vizada, alargando-se, assim, o rol de imputáveis subje@vamente.
SILVA, porém, destaca que não nega que a limitação à tutela penal restrita em bens
jurídicos e suas violações (ou efe@vas tenta@vas) pode gerar uma certa lacuna na
a@tude do Estado no que se refere à prevenção de delitos. Porém entende mais seguro
a um ordenamento jurídico uma restrição penal grande ao se tratar da primeira
velocidade, totalmente garan@sta e uma expansão apenas nessa criminalidade que
denomina econômica. Coloca que:
“(...) se ha produzido seguramente la culminación del processo: el
Derecho penal, que reaccionaba a posteriori contra un hecho
lesivo individualmente delimitado (en cunto al sujeto ac6vo y al
passivo) se ha conver6do en um Derecho de ges6ón (puni6va) de
riesgos generales y, en esta medida, se há ädministra6vizado”
5. EXPANSÃO DO MEDO
Ainda que pareça que o medo e o direito penal não são diretamente relacionados,
acima apresentamos que um dos fatores que pressionam a expansão legisla@va é o
momento anterior à edição de uma lei em que a população clama por maior proteção,
depositando esperanças no direito penal.
Assim, o medo acaba criando direito penal e serve como alavanca deste.
SILVA apresenta três aspectos que destacam a cultura do medo e sua influência: a) a
velocidade das informações rela@vas a violência, b) a sensação de insegurança e de
insuficiência do Estado no cumprimento da proteção social, e c) a lucra@vidade da
cultura do medo para determinados segmentos da socidade.
Isso levaria ao segundo aspecto, em que, pela percepção acentuada, acredita-se que o
Estado é ineficaz no cumprimento de seu papel de segurança pública e, por isso, exige-
se cada vez mais que, nas situações em que o Estado se faz presente, haja
condenações e responsabilizações. Por conta disso, surge na população uma redução
do limiar de tolerância gerado pelo medo, em que a máxima “se morreu alguém,
alguém deve ser culpado” passa a ser uma realidade. Por isso, a expressão u@lizada “la
seguridade se convierte en una pretensión social, a la que se supone que el Estado y, en
par6cular, el Derecho penal deben dar respuesta” (UnglückàUnrecht).8
O ser humano, por sua curiosidade, sofre de uma síndrome denominada “Trainwreck
Syndrome”, conhecida como síndrome da desgraça. Por tal síndrome, inerente a cada
um de nós, nos interessamos pela desgraça alheia como método de autosa@sfação e
destaque da felicidade e da realização próprias.
Em outras palavras, somos atraídos pela desgraça e, sabedores de tal fato, os veículos
de mídia exploram crescentemente tal vertente da vida humana. Há relevante
destaque de nozcias desagradáveis em telejornais, apontamento para mídias
chocantes e apresentadores com discurso do medo constante, que geram grande
audiência. Quanto mais audiência, portanto, maior a quan@dade de nozcias ruins.
A sensação de medo, também, aliada à ineficiência do Estado, faz com que a economia
da segurança par@cular (autossegurança/autotutela) tenha lucra@vos resultados.
Assim, câmeras de vigilância par@cular, blindagens, cercas elétricas, segurança
par@cular, vigilante de rua, aplica@vos para smartphone que, em caso de pânico,
alertam polícia e familiares, entre outros, tudo passa a ser um negócio. E o conceito de
comunidade que se ajuda e se protege se perde para um narcicismo egoísta
individualizado e com informação e conhecimento limitados.
Destarte, o medo e o direito penal acabam sendo núcleos importantes para o giro
econômico de setores da sociedade que, assim, tem interesse em que haja a expansão
destes.
6. EXPANSÃO VITIMAL
A sexta expansão que verificamos apresentada na obra foi a vi@mal. Não se trata de
aumento estazs@co da quan@dade de pessoas que efe@vamente tornam-se
vi@mizadas, mas daquilo que SILVA denominou de sensação de potencial vi@mização.
Com a propagação da cultura do medo e da facilitação de obtenção de informações, a
sociedade passou a se conscien@zar mais da sociedade de riscos que a cerca. Deste
modo, a propagação da cultura da violência faz com que, a par@r da construção de um
cenário midiá@co, iden@fiquemos e ressaltemos nossas fragilidades.
Dessa maneira, e posto que o ser humano tende a se iden@ficar com os atores
envolvidos nas histórias que ouve, é normal que a maior parte da população se
iden@fique com a ví@ma de uma violência e, portanto, coloque-se na situação de
potencial agredido.
O principal problema destacado pelo autor é o de que esse alargamento vi@mal faz
com que haja uma interpretação enviesada das adequadas polí@cas criminais a serem
adotadas e assim, tende-se a haver busca por criminalização de condutas moral e
administra@vamente reprováveis.
Destaca, então, que a pressão popular-vi@mal será responsável pela próxima expansão
apresentada.
7. EXPANSÃO INTERPRETATIVA
A culpa gerada pela insuficiência da segurança estatal termina gerando expansão. Nas
palavras de SILVA SANCHEZ, o Estado se vê culpado por não conseguir dar às ví@mas
compensação por sua incapacidade de protegê-las e então começa a admi@r
alargamento na interpretação das leis e até mesmo o uso da analogia.
As penas passam a ser mais determinadas com base nas ví@mas do que no delinquente
como forma de compensação num “pacto de solidariedade social” e o direito penal
passa a servir de gestor de problemas sociais e vi@mais, se sobrestando à
Administração Pública.
Nessa linha, SILVA escreve que quando a moral se afasta, o direito penal se aproxima10
e coloca claramente que
8. EXPANSÃO POLÍTICA
Há alguma semelhança desta expansão com a vi@mal, posto que existem pontos de
par@da próximos: a falha ins@tucional pública em garan@r segurança a sociedade,
geradora de reações de par@culares. Assim
“Seguramente habrá que esperar para ver si la tendência que
parece manifestarse ahora – en el marco de la llamada ‘tercera
via’ – hacia uma revitalización de la sociedad civil (Zivil-
Bürgergesellschag), atribuyéndole un nuevo protagonismo,
fruc6fica en este campo.”12
Há, portanto, uma civilização do direito penal, permi@ndo-se que questões econômicas
tomem parte na tutela criminal mais e mais a cada dia. Finalmente
SILVA iden@fica a lógica racional de Law & Economics ao dizer que, aos olhos leigos, há
uma relação direta entre o aumento da pena e o deseszmulo ao crime.
Nesse sen@do, a própria expansão legisla@va gera expansão puni@va, no casos em que
o legislador aumenta os patamares mínimos e máximos da pena ou re@ra benevcios de
execução. Também há expansão quando se iden@fica criações de @pos penais especiais
para estrangeiros, com penas de expulsão.
Mas esta não é a única face de uma expansão de punição. Há aumento na punição em
abstrato (lei) e há em concreto, na ponta do poder judiciário. A aplicação puni@va
recebe, portanto, uma expansão, no momento em que o magistrado deixa de aplicar a
pena criminal no mínimo, no momento em que o magistrado aplica majorantes de
modo mais gravoso do que o proporcional, e até mesmo no momento em que
relatórios de inquéritos policiais saem de modo parcial, ”recomendando” condenação.
A ideia de pena funcional é an@ga. Acerca dela, SILVA SANCHEZ apresenta de modo
muito inteligente que:
“Ésta, por su parte, tenia três manifestaciones: como médio de
in6midación individual se dirigia al delincuente ocasional; como
instrumento de resocialización, al delincuente reiterado
corrigible’y, en fin, como mecanismo de inocuizacioón, al
delincuente de estado incorregible”15
12. CONCLUSÕES