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A REGULAÇÃO SOCIAL E PESSOAL DA CONDUTA DELITUOSA1

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Marc Le Blanc

Hirschi formulou, em sua obra “Causes of delinquency” de 1969, uma teoria do vínculo social
para explicar a conduta delituosa em adolescentes. Ela afirma que a força do vínculo do
indivíduo com a sociedade garante a conformidade aos padrões convencionais de conduta. Em
contrapartida, um vínculo fraco com a sociedade favorece o cometimento de atos de
delinqüência. O vínculo social pode se estabelecer com diversas instituições, mais
particularmente a escola, a família e os pares, no que se refere ao adolescente. Este vínculo
tem quatro fontes: o apego, o empenho, o investimento e as crenças. Além disso, Hirschi
especificou os mecanismos que permitem desenvolver e sustentar cada um destes quatro
componentes do vínculo. Ele consagra, então, o essencial de seu livro para demonstrar a
existência destes mecanismos e para verificar empiricamente o conjunto de sua teoria. Esta
teoria foi ampliada por Gottfredson e Hirschi em 1990 e ela comporta uma nova noção: trata-
se do “auto-controle”.

Ao longo dos últimos vinte anos, esta teoria se tornou a teoria dominante da criminologia dos
adolescentes. A grande maioria das publicações teóricas se refere a ela para apoiá-la, criticá-la
ou para integrar a ela outros elementos (ver Messner, Krohn & Liska, 1989). Além disso,
aproximadamente cinqüenta estudos empíricos confirmam esta teoria (ver a revisão de
Kempf, 1993). Nós replicamos os resultados de Hirschi com uma amostra de adolescentes de
Montreal (Caplan & Le Blanc, 1985). Também, a formalizamos (Le Blanc & Caplan, 1993) e
a elaboramos (Le Blanc & Biron, 1980; Le Blanc, 1983; Le Blanc, 1986; Le Blanc, Ouimet &
Tremblay, 1988; Ouimet & Le Blanc, 1989). Nossa última versão desta teoria (Le Blanc,
1993, 1996a) oferece não somente uma explicação da atividade delituosa, mas, igualmente,
uma versão relativa à passagem ao ato e uma outra relativa ao fenômeno da delinqüência de
forma geral. Além disso, nossos diferentes trabalhos empíricos mostram que esta teoria
explica uma proporção de variância mais elevada do que as teorias concorrentes e que ela se
aplica tanto aos meninos, quanto às meninas, assim como aos adolescentes que atravessaram
esta fase da vida durante cada uma das duas últimas décadas (Le Blanc & Ouimet, 1988; Le

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“La régulation sociale et personnelle de la conduite marginale”. Em : Le Blanc, M. “Manuel sur des
mesures de l’adaptation sociale et personnelle pour les adolescents québécois” – École de psychoéducation –
Groupe de recherche sur les adolescents en difficulté – Université de Montréal, Montréal, 1997: 3-22.
Tradução: Ruth Estêvão. Organização Comunitária Santo Antônio Maria de Claret – Proj: Ações Integradas Pró-
Adolescente em Conflito com a Lei. Ribeirão Preto – 2002.
Revisão em 2012: Marina Rezende Bazon (Curso de Aperfeiçoamento “Fundamentos e metodologias de
avaliação e de intervenção psicossocial em programas socioeducativos para adolescentes em conflito com a Lei”,
Departamento de Psicologia, FFCLRP- USP

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Blanc & al. 1988, 1992; Le Blanc, 1992, 1993, 1996 b). Nossa versão da teoria da regulação
social e psicológica da conduta divergente toma a forma seguinte:

2.1. A TEORIA GERAL

A teoria da regulação social e pessoal aplica-se à atividade divergente dos adolescentes. Por
atividade divergente, é necessário entender, primeiro, as condutas proscritas pelo código
criminal. Em seguida, o termo divergente se refere às condutas que são socialmente
desaprovadas para os adolescentes. Estas condutas são a rebelião familiar e escolar, o
consumo de álcool e psicotrópicos, a promiscuidade sexual, etc.

A regulação da atividade divergente se opera por meio das interações recíprocas entre quatro
componentes: os vínculos que o indivíduo estabelece com a sociedade e seus membros, os
constrangimentos exercidos pelas instituições sociais, o nível de desenvolvimento do
alocentrismo do indivíduo e o grau de exposição às influências e às oportunidades sociais
(anti e/ou pró-sociais). Estas interações recíprocas são moduladas por diversas condições tais
como a idade e o sexo do indivíduo, a capacidade biológica, o status sócio-econômico da
família, etc. Cada um dos componentes do sistema de regulação obedece a uma dinâmica
interna que lhe é própria e ela responde às influências concorrentes e temporais dos outros
componentes. Assim, através do tempo, a força do sistema de regulação se modifica de acordo
com as interações entre estes componentes e seu desenvolvimento, mas a natureza da
regulação muda também, ela passa de exodirigida para autodirigida. A figura 1 ilustra esta
formulação geral da teoria bem como a dinâmica sincrônica e diacrônica entre seus
componentes; ela compreende, então, seis elementos: os vínculos, o alocentrismo, os
constrangimentos, a exposição às influências, as atividades divergentes e as condições sociais
(para uma definição mais elaborada destes componentes ver Le Blanc, 1994 a).

A figura 1 expõe que a regulação da conduta divergente se opera no contexto de diversas


condições sociais e da capacidade biológica. A importância dos componentes reguladores e a
natureza das interações que elas mantêm entre si podem variar em função dos contextos. Estas
condições que afetam a regulação são: o sexo e a idade do indivíduo, as características sociais
de seu meio de vida (o que Walgrave, 1992, chama de vulnerabilidade social), os traços
biológicos da pessoa ou dos componentes de seu meio ambiente. Estas condições individuais
e sociais agem, então, como variáveis contextuais sobre o mecanismo de regulação da
atividade divergente, eles são fatores de risco.

No quadro de nossa formulação da teoria os vínculos que o indivíduo estabelece com as


instituições e seus membros são de três ordens, a saber: o apego às pessoas, o investimento
nas atividades convencionais e o empenho/engajamento em relação às instituições sociais. As
duas primeiras formas de vínculos conjugam-se como fonte da última, enquanto que esta aqui
contribui para a consolidação das duas primeiras. A introdução deste componente do sistema
de regulação da atividade divergente retorna à Hirschi (1969, ver também Le Blanc & Caplan,
1993; Kempf, 1993). O indivíduo pode se apegar a diversas pessoas, primeiro seus parentes,
seu pai, sua mãe e os membros fraternos, em seguida às pessoas em posição de autoridade,
seus professores, seu instrutor em uma equipe esportiva, etc., ou às pessoas de seu grupo de
idade, seus pares. O primeiro destes tipos de apego permite o desenvolvimento dos outros
tipos que por retroação reforçam o primeiro. Estes apegos se constróem na medida em que o
indivíduo comunica com as pessoas em causa, o que permite a indivíduo sustentar uma

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percepção adequada de suas expectativas, tendo como conseqüência que ela favorecerá a
assimilação/identificação afetiva a estas pessoas.

Sobre as bases do apego às pessoas, o indivíduo está em condições de cultivar seu


investimento na vida social, nos meios que ele freqüenta e seu empenho em relação às
instituições sociais. O investimento refere-se ao tempo que o indivíduo consagra às diversas
atividades convencionais, a cumprir suas obrigações escolares, a participar da vida familiar, a
ocupar seus tempos livres (leitura, esporte, atividades artísticas ou sociais, etc.). O empenho
refere-se à maneira como o indivíduo cria para si uma obrigação, principalmente, face à
educação, à religião e aos esportes ou à cultura. O adulto poderá substituir a educação pelo
trabalho e o sucesso, e ele acrescentará o casal e a família às instituições às quais ele pode
investir e se empenhar. A elaboração de uma obrigação em relação às instituições sociais
repousa sobre o seguinte mecanismo: o equilíbrio que se estabelece entre as capacidades e o
desempenho suporta as aspirações e o sentimento de competência; as aspirações e o
sentimento de competência favorecessem o fortalecimento da atitude de aceitação das
instituições que, em contrapartida, reforça as aspirações e o sentimento de competência. Esta
dinâmica atitudinal, que repousa sobre uma base de capacidade e de desempenho, conduz,
então, ao empenho, ao desenvolvimento do sentido de obrigação em relação a uma instituição.
Ele é também sustentado pelo nível dos investimentos na vida social de cada uma das
instituições que constituem os pontos de fixação do indivíduo, como a família, a escola e os
pares.

O apego às pessoas, o investimento nas atividades convencionais e o empenho em relação às


instituições sociais são três proteções fundamentais contra a atividade divergente. Diretamente
e indiretamente, individualmente e conjuntamente, elas garantem, em parte, a conformidade
aos padrões convencionais de conduta.

O alocentrismo é o movimento da pessoa humana em direção ao que é diferente dela, é a


disposição de se orientar em direção aos outros e a capacidade de se interessar pelos outros
por eles mesmos. Fréchette e Le Blanc (1987) utilizam este constructo para sintetizar o
conjunto dos trabalhos sobre a personalidade dos delinqüentes. Ele extrai sua importância do
fato do homem, pela sua própria natureza, ser dedicado à comunicação, à relação e à troca
com o outro. O esquema normativo do desenvolvimento, tal como apresentado nas diversas
teorias e modelos do desenvolvimento da pessoa humana (ver revisão de Lerner, 1986),
propõe justamente as etapas desta progressão em direção ao alocentrismo. Em contrapartida,
os escritos da psicocriminologia descrevem o infrator como uma pessoa egocêntrica, uma
pessoa que traz tudo para si e que favorece seu interesse antes de tudo. Ele traduz uma
centralização excessiva, rígida e unívoca sobre sua própria pessoa, ele mantém um nível de
egocentrismo que não é apropriado em relação ao desenvolvimento psicológico esperado para
um indivíduo de sua idade.

O alocentrismo protege contra as condutas agressivas e predatórias, e sustenta a conformidade


aos padrões convencionais de conduta e é tributário das capacidades biológicas e intelectuais,
bem como, do temperamento do indivíduo. Daí resulta que os vínculos com a sociedade, o
apego às pessoas, o investimento nas atividades convencionais e o empenho em relação às
instituições, tornam-se mais difíceis para se estabelecer para o indivíduo egocêntrico. A
receptividade aos constrangimentos sociais encontra-se também diminuída na pessoa afetada
por um tal atraso de desenvolvimento da maturidade, enquanto que a sensibilidade às
influências divergentes torna-se maior nesse contexto.

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Os constrangimentos sociais que exerce a sociedade para bloquear a atividade divergente


podem ser classificados em quatro categorias, seguindo a combinação das duas dimensões
seguintes: internas ou externas e formais ou informais (ver a revisão dos escritos de Le Blanc,
1994b). Os primeiros teóricos da Regulação (Reiss, 1951 e Nye, 1958) distinguiam entre os
controles externos e internos ou diretos e indiretos, mas Hirschi não acreditou ser bom
integrar explicitamente este aspecto à sua teoria (ver Le Blanc e Caplan, 1993). Fazendo isto,
ele esqueceu um componente que para Durkheim (1924) tinha reconhecida importância, ao
referir-se à punição, às normas e à vigilância como tipos de conduta que são exteriores ao
indivíduo e que são dotadas de um poder imperativo e coercitivo, em virtude da qual se
impõem ao indivíduo, quer ele queira ou não.

O constrangimento é formal quando ele refere-se a uma reação apreendida ou real da parte
dos organismos do sistema de justiça ou de outras instituições, por exemplo, a escola; trata-se,
então, das sanções sofridas ou da percepção do risco de ser sancionado. O constrangimento é
informal quando se trata da reação de pessoas com quem o indivíduo mantém relações
interpessoais de natureza íntima, como aquelas dos membros da família ou de seus amigos.
Esse se manifesta, então, sob a forma do estabelecimento de regras de conduta, da vigilância e
da aplicação de sanções, da reprovação às punições físicas; a adesão às normas é igualmente
uma forma de constrangimento informal. O constrangimento é externo se ele refere-se a
condutas iniciadas por pessoas do meio do indivíduo. Trata-se simultaneamente de sanções
formais e informais. Finalmente, o constrangimento é interno ou interiorizado na medida em
que o indivíduo fez sua as normas de conduta promulgadas pela escola, pelos pais e pela
sociedade em geral. Trata-se aqui da adesão às normas, o que Hirschi denominou como
“crenças”, e da percepção do risco de uma sanção formal.

O constrangimento externo precede o constrangimento interno no processo de socialização


das crianças; porém, é o constrangimento interno que funciona como última barreira à
atividade divergente, a partir da adolescência. O constrangimento formal é independente do
constrangimento informal, entre outras razões porque ele se aplica a um número muito
limitado de indivíduos. Se o constrangimento social se anuncia como o último dique que
protege o indivíduo da atividade divergente, a receptividade que cada um manifesta a esses
depende dos vínculos estabelecidos com a sociedade e do nível de alocentrismo atingido. O
indivíduo receptivo ao constrangimento, aquele que adere solidamente às normas, será menos
susceptível a sucumbir às influências e às oportunidades antisociais.

A exposição às influências e às oportunidades antisociais é um componente do sistema de


regulação cuja importância foi reconhecida pela Criminologia, desde a formulação da Teoria
da Associação Diferencial de Sutherland, em 1934. Desde essa época, as pesquisas empíricas
e os modelos teóricos têm demonstrado sua importância para explicar a atividade divergente
(ver Hirschi, 1969, e as revisões recentes seguintes: Elliott, Huizinga & Ageton, 1985; Elliott,
Huizinga & Menard, 1989; Le Blanc & Caplan, 1993; Kempf, 1993), mas esta dimensão tem,
entretanto, sido explorada tão somente no que se refere ao fato de ter amigos delinqüentes. De
fato, as influências divergentes e as oportunidades de cometer delitos podem manifestar-se
segundo diversas outras modalidades. Por exemplo, pode-se tratar de assistir a televisão, e em
particular assistir à violência televisionada, a participação em outras atividades divergentes
(consumo de drogas licitas e ilícitas, precocidade nas relações sexuais, etc.), o fato de morar
em uma comunidade onde a taxa de delinqüência é elevada e onde as oportunidades
criminosas são numerosas, de se implicar em atividades de rotina não convencionais
(perambular em grupo, freqüentar locais de jogos, trabalhar muito, sendo estudante, etc.) e do
fato de tomar parte em atividades convencionais fora de casa (esportivas ou culturais).

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A sensibilidade às influências antisociais e a não abdicação às oportunidades criminais


sustentam a não conformidade aos padrões de conduta na medida em que a dinâmica seguinte
é encadeada: a implicação nas atividades rotineiras não convencionais e a participação em
outras atividades divergentes aumentam a probabilidade de o adolescente encontrar e se
associar a pares com comportamento divergente. Além disso, a implicação em atividades não
convencionais se tornará mais provável se a pessoa é desensibilizada pela televisão às
modalidades violentas de relações interpessoais e se ela é ativa fora de seu meio familiar.
Além disso, o fato de morar em uma comunidade onde a taxa de delinqüência/criminalidade é
elevada aumenta as oportunidade de associação com a pares divergentes; assim, a pessoa que
mora em um bairro onde as oportunidades criminais são numerosas terá maior probabilidade
de sucumbir. Em suma, as influências antisociais e as oportunidades criminais terão um
impacto determinante sobre a conduta dos indivíduos na medida em que elas serão reforçadas
pela associação a pares divergentes. E se seguirá que estas filiações privilegiadas serão uma
fonte maior de atividade divergente.

Assim, um alocentrismo insuficiente, vínculos frágeis com a sociedade e constrangimentos


sociais deficientes aumentarão a sensibilidade às influências antisociais e a possibilidade de
não abdicar diante das oportunidades de delinqüentes e, em contrapartida, suportarão um
crescimento da atividade divergente. Em compensação, esta sensibilidade e a não abdicação
tornarão os vínculos mais difíceis com a sociedade e seus membros, elas perturbarão a
receptividade aos constrangimentos sociais e elas retardarão o crescimento do alocentrismo.

A atividade divergente é, então, regulada pelas forças e contra-forças implicadas pelo nível
de desenvolvimento pessoal atingido, a solidez dos vínculos construídos com a sociedade e
seus membros, o poder dos constrangimentos sociais exercidos e o grau de exposição às
influências e oportunidades antisociais disponíveis. Todavia, ela não é indiferenciada e ela
obedece a uma dinâmica interna específica. Blumstein, Cohen, Roth e Visher (1986)
demonstraram que as explicações da participação e da repetição da atividade delituosa não são
sinônimas. De sua parte, Le Blanc e Frechétte (1989) mostram que o desenvolvimento da
atividade delituosa, do aparecimento à extinção, realiza-se por intermédio de três mecanismos
complementares, a saber: a ativação, o agravamento e a desistência. Em conseqüência, como
indica a figura 1, a atividade divergente tende a se perpetuar ela mesma e, isto, seguindo
mecanismos precisos em razão da aceleração, da diversificação e da estabilização.

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Figura 1: Representação esquemática da Teoria Geral da Regulação Social e


Pessoal da Conduta

Condições Vínculos
- apego
Influencias e
- investimento oportunidades
Sociais - empenho / antissociais
engajamento

Atividades
Divergentes /
Delituosa

Capacidade Consntragimen
Alocentrismo tos /entraves
Biológica

A figura 1, como as figuras 2 a 7, apresentam caixas superpostas para cada uma das
noções da teoria. Estas caixas representam a dimensão tempo, isto é, o desenvolvimento dos
vínculos sociais, do alocentrismo e de sua atividade divergente. Cada conjunto de caixas
indica a dinâmica interna do alocentrismo, do vínculo, etc., enquanto que as flechas que unem
as caixas se referem às relações recíprocas ou causais entre os componentes da teoria. Trata-
se, então, de correlações em um momento preciso e através do tempo.

2.2. AS TEORIAS DE MEIO ALCANCE

A regulação da atividade divergente realiza-se não somente por uma mecânica geral que
transcende as instituições responsáveis da socialização, aquelas que acabamos de descrever,
mas ela opera da mesma forma no nível de cada delas. Assim, no que se refere às instituições
mais relevantes para os adolescentes, as normas sociais, a família, os pares, a escola e as
atividades de rotina, a regulação da conduta divergente pode ser representada pelas teorias de
meio alcance. Nós as apresentaremos sob os títulos de regulação familiar, regulação escolar,
regulação colateral, regulação pela rotina e regulação normativa.

Estas formas de regulação da conduta divergente interagem para produzir um nível específico
de conduta não apropriada da parte de um adolescente.

2.2.1 Regulação familiar

A regulação familiar da atividade divergente realiza-se na medida em que as condições


estruturais não constituem uma desvantagem marcada para o adolescente. Dois tipos de

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condições estruturais são pertinentes: a desvantagem socioeconômica da família e o nível de


desvantagem familiar. O fraco status socioeconômico e a dependência econômica constituem
o primeiro grupo de fatores de desvantagem. Um grupo de irmãos numeroso, dividido, que
muda freqüentemente e uma mãe que trabalha são outras condições estruturais que reduzem a
probabilidade de um funcionamento harmonioso do sistema familiar e, mais particularmente,
se a dissolução for recente.
Vínculos conjugais harmoniosos são uma fonte de investimento na vida familiar e de apego
entre os pais e as crianças.
A ausência de exposição a modelos divergentes, isto é, não ter pais que praticam abertamente
condutas de delinqüencia ou que mostram atitudes e valores divergentes, constitui uma outra
proteção contra a atividade divergente. Ela favorece a qualidade dos vínculos conjugais, o
apego entre os pais e o adolescente e a receptividade dos adolescentes aos constrangimentos
impostos pelos pais.

Na medida em que as condições estruturais não são adversas e que os modelos parentais
divergentes estão ausentes, o investimento na vida da família floresce e o apego entre o
adolescente e seus pais se desenvolve; assim, os vínculos sociais constituem uma outra
barreira que põe diques à atividade divergente. O investimento na vida familiar é de três
ordens: aquele dos pais que lhe consagra tempo, aquele do adolescente que participa das
tarefas e das atividades e aquela do adolescente que compartilha seu tempo com outros
membros de sua família; a primeira destas formas de investimento reforça as duas outras. O
apego aos pais se constrói, por sua parte, com a ajuda da comunicação mútua; esta permite
uma percepção justa das expectativas dos pais e daí resulta uma assimilação/identificação
afetiva entre o adolescente e seus pais.

Se todos estes aspectos da vida familiar são adequados, segue-se que o adolescente é mais
receptivo aos constrangimentos que os pais lhe impõem. Os constrangimentos constituem a
última barreira contra a atividade divergente. Estes constrangimentos tomam a forma de
regulamentos que os pais promulgam. Se o adolescente considera que eles são legítimos,
então a supervisão é mais suportável e as sanções são aceitas mais facilmente, pois elas fazem
sentido.

A desordem do sistema familiar, no nível das condições estruturais, dos modelos divergentes,
dos vínculos sociais, dos constrangimentos, ou de dois ou de vários destes componentes,
manifesta-se, primeiro, pela rebelião na família, que por sua vez suporta a atividade
divergente. Este modelo está validado empiricamente para os adolescentes e ele se aplica para
os adolescentes do meio dos anos 1970 e do meio dos anos 1980 (Le Blanc e Ouimet, 1988;
Le Blanc, 1992; Le Blanc. McDuff & Kaspy, 1996).

No plano do desenvolvimento, o aparecimento da rebelião na família pode alterar a natureza


da regulação familiar. A vida do casal pode ser mais difícil devido às disputas que a rebelião
encoraja. Conseqüentemente, o investimento na vida familiar é reduzido. O apego aos pais
pode igualmente diminuir sob a influência da rebelião. E, assim, os constrangimentos são
reforçados ou questionados. A instabilidade assim introduzida no sistema familiar facilita, em
contrapartida, a rebelião e o surgimento ou continuidade da atividade divergente. O
mecanismo da regulação familiar está ilustrado na figura 2.

Notemos que se os constrangimentos não apropriados constituem um fator de aproximação da


atividade delinqüêncial, durante a adolescência, não é o mesmo para a criminalidade adulta.
Em termos de prognóstico da criminalidade entre 18 e 30 anos, que ela seja oficial ou

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autorrevelada, Le Blanc (1992,1993) mostra que os vínculos familiares, em particular o apego


aos pais, constituem o preditor mais poderoso desta forma de conduta divergente.

Figura 2

2.2.2 Regulação escolar

Le Blanc, Vallières e McDuff (1992) mostram que a regulação escolar da atividade divergente
repousa sobre três mecanismos complementares. Trata-se do desempenho escolar (atrasos e
resultados), os vínculos com a escola (investimento, empenho e apego) e o nível de
constrangimentos escolares (internos e externos). Além disso, ela se dá em três condições que
determinam diretamente o desempenho e os vínculos com a escola. Estas condições quando
desfavoráveis são três: o atraso escolar, uma fraca escolaridade dos pais e o estresse
psicológico que a experiência escolar ocasiona. Estas três condições particulares não
favorecem o desenvolvimento máximo do desempenho e dos vínculos psicossociais com a
escola.

O nível do desempenho constitui uma sorte de pivô da regulação escolar. O desempenho


aumenta a capacidade de investimento, de apego, do empenho e a eficácia dos
constrangimentos internos e externos com capacidade de prevenir a desadaptação escolar e a
atividade divergente. Quanto mais o desempenho for elevado, mais os vínculos serão sólidos
com a escola.

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O vínculo com a escola. O investimento na vida escolar manifesta-se por uma mecânica onde
o tempo consagrado aos estudos, associado ao sentimento de fazer seu possível, reforçam a
implicação (engajamento) nas atividades para-escolares. O nível do investimento é suportado
pelo desempenho e o apego aos professores e, em contrapartida, ele suporta o empenho
face à educação e diminui a necessidade de constrangimentos externos na escola (por parte
dos agentes escolares). Por sua parte, o apego aos professores, tal qual o observado no tocante
ao mecanismo geral do apego às pessoas, articula-se em torno de três elementos: a
comunicação com os professores e os pais sobre a experiência escolar, a percepção de que há
ajuda disponível no que concerne às matérias escolares e a assimilação/identificação afetiva
com o professor. Este último componente (identificação) é o resultado dos dois outros,
enquanto a comunicação permite ao adolescente perceber as fontes de ajuda e de se identificar
a um professor. A força do apego reforça por sua parte o empenho/engajamento escolar e ele
limita, igualmente, a necessidade e a utilidade dos constrangimentos externos. O
empenho/engajamento face à educação é um mecanismo chave da regulação escolar. Seu
nível influencia diretamente os constrangimentos impostos para si (INTERNOS) e pelas
autoridades escolares (EXTERNOS). Este empenho é construído como o mecanismo geral do
empenho. Uma boa percepção de sua competência favorece uma atitude positiva face à
escola; esta permite ao adolescente sustentar expectativas elevadas em termos de duração dos
estudos e, finalmente, o nível das aspirações determina a importância do sucesso escolar pelo
adolescente. Os constrangimentos internos são a última defesa contra a desadaptação escolar e
a atividade divergente; esse é constituído pelo sentimento de legitimidade das normas,
enquanto que os constrangimentos externos, as sanções, ampliam a desadaptação escolar e a
atividade divergente.
As relações entre as sanções e a desadaptação escolar são complexas. Esta última
justifica as primeiras e essas têm por conseqüência ampliar a desadaptação. Mais que
todas as outras dimensões da experiência escolar, a rebelião escolar e as sanções
constituem os suportes principais da atividade divergente.

A figura 3 assinala igualmente que a ausência de uma regulação escolar adequada tem por
primeira conseqüência o aparecimento das condutas divergentes na escola que, elas, em
contrapartida, precedem e acompanham a atividade delituosa.

FIGURA 3

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Num perspectiva desenvolvimentista, as primeiras manifestações de desadaptação


serão seguidas da aplicação de sanções que, em contrapartida, terão por efeito uma
diminuição do desempenho, uma redução do investimento, uma diminuição grande do apego
e uma destruição do empenho, e também um aumento da rebelião escolar e da atividade
divergente. Este modelo foi validado empiricamente (Le Blanc, Vallières & McDuff, 1992).

No que se refere à criminalidade adulta, Le Blanc & al. (1993) mostram que o baixo
desempenho escolar é, entre as variáveis escolares, aquela que prediz melhor a atividade
criminosa oficial ou auto revelada, entre 18 e 30 anos.
Os constrangimentos impostos pelas autoridades escolares ampliam a delinqüência dos
adolescentes se elas obtêm o apoio de um fraco desempenho e vínculos mantidos com a
escola, mas eles não servem para predizer a criminalidade adulta.

Notemos, no plano do prognóstico, que o desempenho escolar e o apego aos pais são os
fatores os mais eficazes para predizer a criminalidade adulta (Le Blanc, 1993).

2.2.3 Regulação colateral (pelos pares)

A regulação colateral refere-se à maneira como o mundo dos pares age para limitar ou
aumentar a atividade divergente. Desde Sutherland, os pares estão inscritos em posição
privilegiada na agenda dos fatores etiológicos relacionados à delinquência. Todavia, os

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criminólogos propuseram uma visão simplista do mundo dos pares, pois eles se referem quase
que exclusivamente aos pares infratores/delinqüentes em suas teorias e em suas pesquisas
empíricas. A adolescência, sendo o período em que as relações com os pares ocupam um
lugar especial na socialização do indivíduo, requer a proposição de um modelo complexo da
regulação colateral (ver Cloutier, 1985; Sebald, 1984). Seis componentes das relações com os
pares decorrem da teoria geral da regulação. Estes são: a amplitude da rede de pares, o apego
aos pares, o investimento de tempo com os pares, o empenho em relação à convivência
adolescente, a aceitação dos amigos pelos pais e a afiliação a pares divergentes.

É postulado que a amplitude da rede de pares e a aceitação dos amigos pelos pais
constituem os contextos nos quais o apego, o investimento e o empenho podem florescer
(vínculos). O apego aos pares se constrói sobre a base da comunicação mútua e da confiança e
estas aqui favorecem a assimilação/identificação afetiva aos amigos. O investimento é o
tempo consagrado para discutir e fazer atividades com seus amigos. O empenho em relação à
convivência adolescente permite apreciar a importância dada aos amigos pelo indivíduo. Ele
constitui uma atitude que dá preponderância aos valores veiculados pelos pares de preferência
aos dos pais e das pessoas em posição de autoridade. Ele (o empenho) elabora-se na medida
em que o adolescente é leal a seus amigos, mais que aos adultos, que ele é sensível à pressão e
à coerção que eles exercem e que ele assume uma certa liderança entre eles.
O investimento na convivência é fonte de apego aos pares e de empenho em relação aos
pares; apego e empenho/engajamento se alimentam um ao outro.

O impacto do apego, do investimento e do empenho/engajamento face aos pares sobre a


atividade divergente é mediada pela natureza das filiações. Se tratar-se de um grupo de
pares convencionais, a atividade divergente será rara; ao contrário, se o adolescente se filia a
pares divergentes atividades divergentes serão então numerosas (e isso é independente do
nível de delinquencia anterior do adolescente).

Não é tanto o vínculo com os pares que prima mas o tipo de pares com os quais o adolescente
se filia. A figura 4 ilustra a regulação colateral.

FIGURA 4

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2.2.4 Regulação pela rotina / rotineira

A regulação pela rotina refere-se ao investimento do adolescente nos diversos tipos de


atividades que lhe são propostas. A rotina, o tempo consagrado às atividades convencionais,
constitui uma das barreiras protetoras contra a atividade divergente.

As atividades de rotina são reagrupadas em quatro categorias. A primeira categoria se refere


às atividades que implicam tempo compartilhado com os adultos: são os investimentos
escolares (em seus trabalhos escolares), familiar (na vida familiar e com os irmãos) e
religiosos (praticar uma religião). A segunda categoria propõe atividades individuais ou de
grupo que caracterizam a ocupação do tempo livre, trata-se das atividades culturais (cinema,
espetáculos, música e criação artística), a leitura, as atividades sociais (falar e discutir com
seus amigos) e as atividades de participação (hobbies, esportes, lazer organizados). A terceira
categoria reagrupa a presença ou a ausência de uma tarefa que o adolescente se designa
(trabalhar x oscio - vadiar constantemente). Finalmente, a última categoria se refere às
atividades precipitantes, isto é, à freqüência em lugares reconhecidos como out sides
(divergentes) (lan houses, por exemplos) e a exposição a modelos agressivos pela televisão, os
filmes e as leituras.

A figura 5 esquematiza a ideia de que estes tipos de atividades não têm todos a mesma relação
com a atividade divergente e que elas se ordenam em seqüência umas em relação às outras.
Assim, o tempo compartilhado com os adultos favorece atividades sociais, culturais e
participantes, limitando a possibilidade de tempo ocioso. A natureza da ocupação dos tempos
livres limita o tempo que pode ser dedicado ao oscio (à vadiagem) e pode encorajar o trabalho

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complementar aos estudos. O adolescente que pratica uma religião não terá tendência a
procurar modelos divergentes/agressivos nas mídias.
Por outro lado, o adolescente que trabalha e cujas atividades sociais e de participação são
muito numerosas mostra uma probabilidade mais elevada de freqüentar ambientes divergentes
(bares, lan houses, por exemplo) e, assim, aumentar sua atividade divergente, isto,
principalmente, se ele é receptivo aos modelos agressivos das mídias. O dinheiro de bolso que
dispõe o adolescente é também um fator que condiciona a participação, particularmente no
que se refere às atividades sociais e culturais e a freqüência aos ambientes divergentes.

FIGURA 5

2.2.5 Regulação normativa

A regulação normativa compreende todo o campo moral e, entre outros, o constructo de


crença introduzido por Hirschi. Trata-se da adesão do adolescente ao sistema normativo da
sociedade convencional. Para avaliá-lo, cinco conceitos são medidos: a adesão às normas, o
respeito pelas pessoas com autoridade, a percepção dos riscos de apreensão, a atitude
divergente dos pais e a prática de uma religião. A atitude divergente dos pais reduz o respeito
do adolescente pelas pessoas com autoridade e a prática regular de uma religião a reforça.
Estas condições prévias sustentam a crença no sistema normativo. Além disso, o adolescente
pode ser dissuadido de cometer delitos se ele percebe os riscos de apreensão como reais. E ele
tende a não violar as normas de conduta porque ele adere ao sistema normativo que lhe
propõe sua religião. A figura 6 ilustra a dinâmica descrita.

Estas medidas da dimensão normativa referem-se ao CONSTRANGIMENTO INTERNO da


teoria geral, isto é, à interiorização das normas. Existe um outro tipo de constrangimento, o
constrangimento externo composto da supervisão, das sanções impostas pelas autoridades

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escolares, os pais, os pares ou o sistema de justiça. Quando o constrangimento interno é


colocado em competição com o constrangimento externo, é o constrangimento interno o que
explica melhor, simultaneamente, a delinqüência durante a adolescência e a criminalidade
adulta segundo as análises relatadas por Le Blanc (1994b). Assim, a adesão às normas é um
critério útil para o prognóstico da criminalidade adulta.

FIGURA 6

2.2.6 Regulação psicológica

A regulação psicológica apoia-se sobre as características específicas da pessoa, quer elas


sejam biológicas, libidinais, cognitivas, afetivas, morais ou relacionais. Ela se desdobra no
quadro da interação entre a pessoa e seu meio. Seu fundamento é a capacidade biológica do
indivíduo, seus traços neurológicos, fisiológicos, físicos, etc. Estes aqui determinam a
capacidade intelectual e o temperamento da pessoa. Em conseqüência, o potencial de uma
pessoa para construir uma interação adaptada com seu meio repousa sobre o funcionamento
intelectual, o desenvolvimento da inteligência sob todas suas formas, e o temperamento de
base, as características gerais que definem uma pessoa. As capacidades biológicas e
intelectuais, assim como o temperamento são os substratos do desenvolvimento da adaptação
pessoal como ressalta a figura 7.

Se aceitamos que o desenvolvimento da personalidade manifesta-se como uma progressão em


direção ao alocentrismo de modo cada vez mais acentuado, a pessoa cujo desenvolvimento é
retardado será mais suscetível de recorrer a padrões de condutas não apropriadas. Em
conseqüência, Frechétte e Le Blanc (1987) propuseram que o grau de egocentrismo do
indivíduo manifesta-se, em particular quando se trata da atividade divergente repetitiva, por
deficiências estruturais no plano da personalidade (problemas em dois eixos e suas quatro
dimensões).

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A adaptação pessoal que resulta daí define o nível de harmonia psíquica entre a pessoa e seu
meio. Ela implica o desenvolvimento de uma mentalidade que assimila as exigências da vida
social e o estabelecimento de relações íntimas com outros seres humanos.

A adaptação pessoal pode ser abordada segundo dois caminhos: de uma parte, o eixo
interpessoal e, de outra parte, o eixo intrapessoal. Retardos acumulados e específicos sobre
estes dois eixos produzem uma adaptação pessoal marcadamente egocêntrica. Uma adaptação
pessoal marcadamente egocêntrica sustenta condutas divergentes.

O eixo interpessoal reúne as dimensões psicossociais e psico-relacionais da vida psíquica.


Este eixo acentua as relações da pessoa com os outros. A dimensão psicossocial da adaptação
pessoal refere-se ao desenvolvimento de uma mentalidade e de uma funcionalidade social. O
déficit psicossocial refere-se às tensões específicas face às exigências da vida social, em
particular às atitudes primitivas e dissociais. A dimensão psico-relacional da adaptação
pessoal refere-se ao desenvolvimento de uma mentalidade que favorece as relações inter
indivíduais íntimas. O déficit psico-relacional indica a presença de bloqueios específicos face
às relações interpessoais, em particular de atitudes vingativas e de aloplastia.

O eixo intrapessoal reúne as dimensões psicocognitivas e psico-afetivas da vida psíquica. Este


eixo acentua características intrínsecas da pessoa, sua vida endo-psíquica. A dimensão
psicocognitiva da adaptação pessoal refere-se ao desenvolvimento de uma mentalidade que
permite uma percepção justa da realidade. O déficit psicocognitivo indica distorções
específicas na percepção da realidade, em particular das atitudes de irrealismo e de ceticismo.
A dimensão psico-afetiva da adaptação pessoal refere-se ao desenvolvimento de uma
mentalidade que permite a expressão apropriada dos afetos. O déficit psico-afetivo indica
resistências específicas para expressar os sentimentos e as emoções, em particular uma
vulnerabilidade emocional e uma atitude de esconder-se face aos afetos.

Assim, oito dimensões estruturais permitem circunscrever a adaptação pessoal egocêntrica.


Estas são: o primitivismo, a dissociabilidade, a atitude vingativa, a aloplastia, o irrealismo, o
ceticismo, a vulnerabilidade e o ocultamento. Estas dimensões estruturais, que
operacionalizam o grau de alocentrismo atingido por um indivíduo, sustentam a atividade
divergente (ver figura 7).

O alocentrismo protege contra as condutas agressivas e predadoras, ele sustenta a


conformidade aos padrões convencionais de conduta e é, além disso, tributário das
capacidades biológicas e intelectuais e do temperamento da pessoa.

Na medida em que os traços que representam estas dimensões estruturais consolidam-se no


ativo psicológico do indivíduo (na personalidade), resulta daí que sua progressão em direção
ao alocentrismo é bloqueado; o adolescente mantém e reforça, assim, seu egocentrismo
natural de criança. Em conseqüência, os vínculos com a sociedade, o apego às pessoas, o
investimento nas atividades convencionais e o empenho em relação às instituições, tornam-se
mais difíceis de serem estabelecidos pelo indivíduo egocêntrico. A receptividade aos
constrangimentos sociais encontra-se diminuída, enquanto a sensibilidade às influências e
oportunidades divergentes torna-se maior nesta pessoa. E, através da espiral do tempo, estes
componentes do sistema de regulação da conduta começam a diminuir a marcha do indivíduo
em direção ao alocentrismo, o que tem por conseqüência retardar o desenvolvimento das
relações sociais da pessoa.

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FIGURA 7

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