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Análise Psicológica (2010), 1 (XXVIII): 117-132

Risco psicossocial e psicopatologia em


adolescentes com percurso delinquente

IDA TIMÓTEO LEMOS (*)

INTRODUÇÃO (ponto 1.3.). Neste contexto, as questões de


âmbito social devem certamente conduzir ao
incremento da investigação na delinquência
A crescente sensibilização da opinião pública juvenil, a qual, por sua vez, contribua para o
relativamente aos problemas sociais e aos delineamento de programas de intervenção que
direitos das crianças, a par com a necessidade de se adeqúem às características e às necessidades
controlo social por parte dos Estados, tem das populações de risco.
conduzido a um aumento na regulamentação De facto, de acordo com Rutter, Giller, e
internacional sobre o tratamento das crianças e à Hagell (1998) e Sá (2002), uma questão
criação de regulamentação específica face à pre- frequentemente ignorada é a de que as tomadas
venção e ao tratamento da delinquência juvenil. de decisão sobre a responsabilidade social e
É disso exemplo a Convenção das Nações legal das crianças não são suficientemente
Unidas sobre os Direitos da Criança que através fundamentadas, quer no conhecimento científico
do documento “Regras de Beijing” (ONU, sobre o desenvolvimento infantil, quer no
1985), estabelece as Regras Mínimas para a conhecimento dos seus contextos sociais e
Administração de Justiça Juvenil, de cujos culturais. De notar, por exemplo, a significativa
princípios gerais salientamos: a necessidade de variabilidade entre países relativamente, quer à
“(...) promoção do bem-estar do jovem e da sua idade de responsabilidade criminal, quer às
família” (ponto 1.1.) e ainda, a atenção corres- políticas e aos mecanismos de intervenção junto
pondente que deverá ser dada a “(...) medidas dos jovens que cometem delitos criminais
positivas que envolvam a mobilização total de (Negreiros, 2001).
todos os recursos possíveis, incluindo a família, No nosso país, no ano de 1999, por decisão
voluntários e outros grupos comunitários, assim conjunta do Ministério da Justiça e do Ministério
como escolas e outras instituições comunitárias do Trabalho e Solidariedade Social, foi aprovada
a Reforma do Direito de Menores (Proposta de
(*) Professora Auxiliar, Universidade do Algarve, Lei Nº 266/VII de 17 de Abril de 1999, lei nº
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, 133/99, de 28 de Agosto), até então Organização
Departamento de Psicologia, Campus de Gambelas, Tutelar de Menores (OTM). Desta forma,
8005-139 Faro; Investigadora no Instituto de procurou-se definir um conjunto de tarefas mais
Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Vocacional e
Social, Universidade de Coimbra, Portugal; e-mail: objectivas e precisas para os técnicos na
ilemos@ualg.pt intervenção junto de menores agentes de actos

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criminais (Reforma do Direito de Menores, Dornbusch, 2002; Espiritu, Huizinga, Crawford,
1999, p. 300)1. & Loeber, 2001; Fergusson, Wanner, Vitaro,
Importa referir que na literatura os termos Horwood, & Swain-Campbel, 2004; Jessor,
delinquência e comportamento anti-social são Vandenbos, Vanderryn, Costa, & Turbin, 1995;
frequentemente utilizados como sinónimos, o Peiser & Heaven, 1996) contribuindo para um
primeiro sendo aplicado na investigação clínica e aumento substancial no conhecimento das causas
criminológica como se de um diagnóstico clínico e dos factores que influenciam a perpetuação da
se tratasse. De facto, o termo delinquência é uma delinquência na vida adulta.
designação jurídica, referindo-se à transgressão Mais recentemente, observou-se também um
das leis, enquanto o termo comportamento anti- interesse crescente pelo estudo das diferenças
social é mais abrangente, referindo-se a actos individuais e dos factores contextuais, enquanto
transgressivos ou a violações de normas ou de determinantes do desenvolvimento de comporta-
expectativas sociais que são considerados mento anti-social ao longo do tempo (Caspi,
inapropriados porque danificam outros e a 2000; Loeber & Farrington, 2001; Rutter et al.,
sociedade (Matos, 2002; Rutter, Giller, & 1998; White, Bates, & Buyske, 2001). Os
Hagell, 1998; Sá, 2002; Vermeiren, 2003). resultados destes estudos, ao destacarem a versa-
Rutter e colaboradores (1998) definem o tilidade e o polimorfismo do comportamento
conceito de comportamento anti-social como delinquente, contribuíram para que as teorias
uma característica dimensional que as pessoas sobre o desenvolvimento de um percurso de
podem manifestar num grau maior ou menor e vida delinquente baseadas numa única dimensão
que diz respeito a um vasto espectro de compor- de factores causais tenham vindo a perder
tamentos que violam as normas sociais e/ou as consistência2. Nesta linha de pensamento, de
leis. Nesta ordem de ideias, utilizamos o termo acordo com Mulvey, Arthur, e Reppucci (1993) e
delinquência especificamente para melhor Negreiros (2001), uma tal versatilidade da
definirmos comportamentos anti-sociais come- trajectória delinquencial tem tornado difícil a
tidos pelos indivíduos que impliquem a infracção identificação clara dos mecanismos subjacentes
da Lei em vigor, podendo resultar em acusação ao seu desenvolvimento.
e/ou condenação pelo Sistema de Justiça. Se os resultados dos estudos criminológicos
Nas últimas décadas do século XX, o aumento têm, de uma forma bastante consistente,
de estudos sobre os factores associados à identificado variáveis individuais que carac-
delinquência juvenil gerou um incremento na terizam no global o comportamento delinquente,
quantidade e qualidade de informação, relativa- como sejam, a preponderância de jovens do
mente ao tipo e à incidência de infracções sexo masculino, comparativamente com o sexo
cometidas por adolescentes. Tais investigações feminino, a tendência para início da actividade
tiveram na base estatísticas oficiais sobre delituosa se situar por volta dos 14 anos e ainda,
delinquência juvenil (e.g., Bender & Losel, a propensão para o pico da actividade delin-
1997; Jonson-Reid & Barth, 2000; Loeber et al., quente se situar por volta dos 17-18 anos (Caspi,
2001; Mulvey, Arthur, & Reppucci, 1993) e 2000; Loeber, & Farrington, & Waschbusch,
estudos epidemiológicos, quer transversais, quer 1998; Moffit, 1993; Patterson & Yoerger, 2002),
longitudinais (e.g., Crosnoe, Erickson, & estas variáveis parecem ser, no entanto, insufi-
cientes para explicar o comportamento anti-
social na infância e adolescência.
1 “A razão de ser da intervenção tutelar educativa,
Outros factores de risco individuais e psicos-
a cargo do sistema de justiça: Quando é o próprio
menor a pôr em causa, através do seu comportamento, sociais para o desenvolvimento de comporta-
os valores jurídicos essenciais da comunidade mento anti-social na adolescência têm sido
traduzidos nas normas penais, justifica-se a
intervenção do Estado com a finalidade de o educar
para o direito e para os valores fundamentais da vida 2 Por exemplo, factores intrínsecos tais como um
em sociedade, por forma a que ele interiorize aqueles temperamento difícil, baixa auto-estima, variáveis
valores e normas básicas essenciais à vida em genéticas, ou ainda, factores extrínsecos, tais como
comunidade. (...)” (Reforma do Direito de Menores, viver num meio com índices elevados de
1999, pp. 300-305). delinquência.

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identificados, nomeadamente, o uso de drogas, objectivos primordiais destes estudos, não só a
uma história familiar de comportamentos de identificação de factores de risco associados ao
alto-risco, a falência da supervisão parental, envolvimento e actividade anti-social durante a
expectativas parentais negativas em relação ao adolescência, mas também, a identificação de
adolescente, castigos inconsistentes ou excessi- variáveis que possam contribuir para o estabele-
vamente severos, conflitos familiares, violência cimento de predições sobre a persistência versus
doméstica, a falta de investimento escolar, o desistência face a um percurso delinquente.
insucesso escolar, a imaturidade emocional De acordo com Lipsey e Derzon (1998), as
(baixo auto-controlo, agressividade e impulsivi- variáveis de risco que identificam adolescentes
dade), os pares anti-sociais e os comportamentos entre os 12 e os 14 anos, como apresentando
disruptivos com início na infância (e.g., Bender uma probabilidade acrescida de se tornarem
& Losel, 1997; Born, Chevalier, & Humblet, futuramente delinquentes graves e violentos são,
1997; Lane, Beebe-Frankenberger, Lambros, & primeiramente, a falta de laços sociais e a pre-
Pierson, 2001). sença de pares anti-sociais, em segundo lugar, o
Por sua vez, Wasserman e Seracini (2001) envolvimento em actividade criminal e em
referem como factores associados ao desenvol- terceiro lugar, a manifestação de comportamento
vimento de comportamento anti-social a agressivo, pobre desempenho escolar, apresentar
criminalidade paterna, o tamanho da família, os um diagnóstico psicopatológico, relações pais-
problemas mentais maternos, a criança ter sido filhos pobres e ainda, ser vítima continuada de
sujeita a colocação numa família de acolhimento violência física. Também Barnowski (2004)
temporário, competências parentais pobres e a referiu que o abuso e a negligência são predi-
violência doméstica, destacando-se como factor tores significativos de actividade delinquente
de risco elevado a falência parental (isto é, persistente. De referir que os estudos efectuados
supervisão ou controlo parental inconsistente sobre a relação entre os factores familiares e a
ou inexistente). criminalidade reforçam a ideia de que a crimina-
Assim, muitos dos estudos realizados tendem lidade parental prediz significativamente a
a suportar uma conceptualização socio-ecológica delinquência na geração seguinte (Farrington &
da delinquência juvenil, a qual sugere que esta é West, 1989; Farrington, Morley, Leger, & West,
multideterminada pela inter-relação recíproca e 1988; Smith & Farrington, 2004). Segundo estes
dinâmica das características do indivíduo e dos autores, quase todos estes comportamentos anti-
sistemas sociais chave (a família, o grupo de -sociais em adolescentes são passíveis de
pares, o contexto escolar e o contexto comuni- modificação ou remetem para problemáticas
tário mais vasto) (Agnew, 2003; Bender & Losel, emocionais que podem ser sujeitas a programas
1997; MacCrystal, Higgins, & Percy, 2006; de intervenção específicos se forem identificados
Tarolla, Wagner, Rabinowtz, & Tubman, 2002). no início da adolescência.
De entre estes, diversos investigadores têm Se concebemos o desenvolvimento e a
utilizado abordagens longitudinais com a manifestação de comportamento anti-social na
finalidade de identificar perfis de delinquentes adolescência como consequência da presença
juvenis através do recurso a vários critérios elevada de factores de risco ou adversidade
como, o número ou a natureza das ofensas, as psicossocial continuada e também de baixa
características de personalidade (por exemplo, a frequência de factores protectores, a prevenção
personalidade anti-social ou psicopática), um do comportamento anti-social e especificamente,
baixo auto-controle e ainda, as suas experiências da delinquência juvenil, deverá merecer igual-
sociais (tais como, a desestruturação ou instabili- mente o estudo dos recursos individuais e
dade familiar, o nível socioeconómico, os pares contextuais destes jovens. Por factores ou
delinquentes e ainda o insucesso escolar) recursos protectores entendemos, de acordo com
(Bender & Losel, 1997; LeBlanc, 1998; Lipsey Olsson, Bonda, Burnsb, Vella-Brodrickc, e
& Derzon, 1998; Loeber et al., 2001; Mullis, Sawyerd (2003), as características ou qualidades
Cornille, Mullis, & Hubber, 2004; Poppel & resilientes do indivíduo (temperamento positivo,
Born, 1994; White, Bates, & Buyske, 2001). São competências comunicacionais, atitudes pro-

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sociais, etc.), ou do seu ambiente (o afecto, a criminal de pais ou irmãos e/ou comportamento
supervisão e o encorajamento parentais, a coesão desviante dos pais – alcoolismo, toxicodepen-
familiar, etc.) agem de forma a atenuar uma dência ou prostituição.
resposta desadaptativa do indivíduo na presença No que se refere à tipologia do percurso
de adversidade (isto é, que agem de forma a delinquente, e de acordo com a perspectiva de
torná-lo mais resiliente). Moffit (1993), foi considerada relevante infor-
A intervenção, quer primária quer secundária, mação relativamente a: (a) idade de início
na delinquência juvenil baseia-se na premissa de (precocidade) do comportamento delinquente;
que para que se possa remover os factores de (b) persistência e circunstâncias dos actos
risco para o comportamento anti-social ou delinquentes e (c) tipo e diversidade dos delitos.
incrementar a resistência a estes através de Para procurarmos responder ao primeiro
factores protectores, é necessária a adequada objectivo, foram formulados os seguintes
identificação dos indivíduos e dos contextos de objectivos específicos: (a) caracterizar os adoles-
risco. A prevenção de comportamento anti-social centes no que se diz respeito a indicadores sobre
em crianças e jovens e especificamente, de o contexto familiar actual (envolvimento das
envolvimento num percurso delinquencial, está figuras parentais e disciplina parental na
assim dependente do processo de identificação educação do adolescente, história de psicopato-
de factores de risco e da opção de quando e logia e/ou comportamento desviante familiar);
como intervir (Mulvey et al., 1993). Como (b) perceber se existe envolvimento social e
referiu Yaqub (2002), as decisões sobre quando e escolar/profissional do adolescente; (c) estabe-
como intervir são prioritárias, uma vez que o lecer a tipologia do comportamento delinquente
período de desenvolvimento em que a criança se – precocidade, tipo, persistência e circunstâncias
encontra e o tipo de suporte psicossocial de que do delito (individual, em grupo de pares, em
a família necessita, determinam a forma como associação com adultos) e (d) identificar e
possam beneficiar atempadamente dos recursos a comparar os sujeitos relativamente a uma
incrementar. eventual história de maus-tratos familiares na
Nesta linha de pensamento, o presente estudo infância, em função da presença de sintomato-
tem como primeiro objectivo a caracterização de logia.
Num segundo momento foi nossa intenção
uma amostra de adolescentes em contacto oficial
avaliar a existência (ou não) de diferenças entre
com o sistema de Justiça por cometimento de
os grupos em função do relato de sintomas
actos considerados crime à luz da Lei no que diz
psicopatológicos (medido através do IGS), a
respeito a indicadores de risco psicossocial actual,
tipologia de comportamento delinquente nos
a tipologia do comportamento delinquente e a
jovens e ainda factores de risco psicossocial.
história de risco psicossocial ou adversidade na
infância.
Para a definição dos critérios de risco psicos-
MÉTODO
social, baseámo-nos no trabalho de Born,
Chevalier, e Humblet (1997), tendo sido consi-
derados os seguintes: (1) o indivíduo viveu no Participantes
contexto de uma família instável (divórcio, sepa-
ração dos pais, morte de um ou ambos os pais); A amostra deste estudo integra um total de 63
(2) o adolescente é oriundo de um meio socio- adolescentes abrangidos pela Lei Tutelar
económico baixo; (3) história de maus-tratos Educativa (LTE)3, em processo de avaliação ou
seguimento em Equipa Tutelar Educativa (isto é,
(negligência e/ou abusos parentais); (4) o jovem
cumprimento de medidas diversas de acom-
viveu num ambiente que favoreceu a delin-
quência e o comportamento desviante (isto é,
3 A Lei Tutelar Educativa abrange menores com
meio urbano ou condições habitacionais nas
idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos,
quais a intimidade não é frequente, ou ainda, prevendo no entanto que os adolescentes possam ser
contexto em que existe propensão para compor- abrangidos pelas medidas tutelares educativas até aos
tamento violento ou delinquente); (5) história 19 anos de idade.

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panhamento educativo), ou em cumprimento de O questionário é constituído por 11 grupos de
medida de internamento. questões de resposta fechada e um de resposta
No que diz respeito à caracterização da aberta, agrupadas em função das seguintes
amostra final, considerámos as variáveis sexo, dimensões:
idade, nível de escolaridade, nível socioeconó- Contexto Familiar: tamanho da família, tipo
mico (NSE), zona e distrito de residência, de estrutura familiar, nível socioeconómico dos
nacionalidade e etnia. pais, nível educacional e situação profissional
No total, a amostra seleccionada é constituída dos pais; separações significativas das figuras
por 50 adolescentes do sexo masculino (79.4%) parentais na infância; conflitos entre os pais;
e 13 adolescentes do sexo feminino (20.6%). No relações familiares; ausência de figura paterna;
que diz respeito à variável idade, os participantes história de comportamento desviante na família;
apresentavam uma média etária de 15.70 e maus-tratos ao adolescente.
(DP=1.08), situando-se entre os 13 e os 18 anos.
A generalidade dos inquiridos frequentava o Contexto escolar: nível de escolaridade,
ensino básico (98.4%) e apenas um sujeito se progresso escolar, motivação face à escola,
encontrava no ensino secundário (1.6%). rendimento escolar, interesses vocacionais ou
Relativamente ao nível socioeconómico (NSE), inserção profissional.
optámos pelo agrupamento clássico em três Problemas de comportamento: vadiagem,
níveis (baixo, médio e elevado). No total, 54 fugas à escola, fugas de casa, consumo de
adolescentes (85.7%) pertenciam a famílias com substâncias, história de problemas de compor-
um NSE baixo, seis (9.5%) a famílias com NSE tamento na infância.
médio e apenas dois (3.2%) a famílias de NSE
Comportamento delinquente do adolescente:
elevado. Quanto à zona de residência,
número e tipo de actos delinquentes (diversidade
categorizada em urbana e rural, os adolescentes
de delitos), persistência, gravidade, precocidade
inquiridos pertenciam maioritariamente a zonas
e circunstâncias do delito (cometido individual-
urbanas (87.3%), sendo que oito viviam em
mente, em grupo de pares ou com adultos).
zonas rurais (12.7%). A maioria dos adoles-
centes da amostra possuía nacionalidade Inventário de Sintomas Psicopatológicos –
portuguesa (85.7%) e 14.2% eram estrangeiros BSI
(europeus, Cabo-verdianos e Angolanos).
Dos 63 sujeitos que integraram a nossa O Inventário de Sintomas Psicopatológicos
amostra, 20 residiam no distrito de Faro, 18 no (Brief Symptom Inventory, adiante designado
distrito de Lisboa, distribuindo-se os restantes BSI) é uma versão abreviada do SCL-90 de
respectivamente pelo distrito de Setúbal, Derogatis (1977), construído pelo autor em
Portalegre, Beja e Évora. A maioria dos jovens 1982. O BSI foi originalmente validado para
era de etnia caucasiana (71.4%), e os restantes de aplicação a sujeitos adultos, embora possa ser
etnia africana (19%) e cigana (9.4%). utilizado com sujeitos adolescentes, desde que
respeitado o requisito da presença de um técnico
durante a sua administração (Canavarro, 1999;
Instrumentos Lemos, 2007).
O BSI4 pretende avaliar sintomas psicopa-
Questionário de caracterização tológicos em termos de nove dimensões de
Este instrumento foi construído com base na sintomatologia e três índices globais. Estes
revisão da literatura sobre os indicadores de últimos consistem em avaliações sumárias de
risco psicossocial para comportamento anti-
social na adolescência, destacando-se a tipologia 4 Neste inventário de auto-resposta, o indivíduo

de risco psicossocial estabelecida por Born, deverá classificar o grau em que cada problema o
afectou na última semana, numa escala tipo likert de
Chevalier, e Humblet (1997) e a tipologia do cinco pontos (de “nunca” – 0 a “muitíssimas vezes” –
percurso delinquente de Moffit (1993), já 4). A administração do inventário demora em média
referenciados neste artigo. 10 minutos.

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perturbação emocional e representam aspectos derámos os seguintes: (a) contra as pessoas, (b)
diferentes da psicopatologia. As nove dimensões contra o património, (c) contra a sociedade, (d)
primárias são a Somatização, as Obsessões- delitos relacionados com o Código de Estrada e,
-Compulsões, a Sensibilidade Interpessoal, a ainda, (e) por tráfico e consumo de drogas.
Depressão, a Ansiedade, a Hostilidade, a Ansie- Para a caracterização socio-demográfica dos
dade Fóbica, a Ideação Paranóide e o Psicoti- adolescentes, optámos pela recolha de informação
cismo (Lemos, 2007). junto dos Técnicos do Instituto de Reinserção
Para a realização da investigação que agora Social responsáveis pela avaliação ou acom-
apresentamos, efectuámos o estudo prévio das panhamento educativo dos menores.
características psicométricas do BSI junto da No que se refere às variáveis psicopatológicas
população adolescente, numa amostra de 656 em estudo, os dados foram recolhidos junto do
adolescentes escolarizados (M=298; F=358), menor pelo técnico responsável pela medida de
com idades compreendidas entre os 12 e os 19 acompanhamento, bem como pela investigadora.
anos (M=14.97; DP=2.05), tendo sido obtidos Todos os dados foram recolhidos entre Março de
níveis satisfatórios de consistência interna 2005 e Junho de 2006, tendo sido incluídos
(coeficiente Alfa de Cronbach entre .70 e .84) adolescentes em todas as situações jurídicas
(Lemos, 2007). oficiais (fase pré-sentencial, jurisdicional e fase
No que diz respeito à validade de constructo, de cumprimento de medida) e em cumprimento
a análise factorial exploratória das dimensões de medida de internamento em Centro Educativo
que integram o instrumento confirmou a sua do Ministério da Justiça.
validade enquanto indicador global de avaliação No total, foram entregues 100 questionários e
de psicopatologia. A solução encontrada revelou recolhidos 76, tendo sido excluídos 12 por apre-
que se trata de um instrumento unifactorial, que sentarem um elevado número de itens por
explica cerca de 67% da variância total das responder, ou por invalidade das respostas. A
dimensões do BSI indicando, por isso, uma amostra final ficou composta por 42 adoles-
solução unidimensional. Em termos de resul- centes acompanhados nas Equipas de Família e
tados, obtivemos saturações bastante elevadas Menores (FM) do IRS-Sul e 21 residentes em
nas diversas escalas, variando entre .74 e .88. Centros Educativos.
Neste estudo, optámos pela utilização da
medida de avaliação sumária de perturbação
emocional – Índice Geral de Sintomas (IGS), RESULTADOS
que combina o número de sintomas psicopato-
lógicos e a sua intensidade. Esta opção encontra Apresentamos, de seguida, os resultados em
justificação no facto de se tratar de um índice função dos indicadores de risco psicossocial, da
sumário que permite avaliar de forma geral os tipologia do comportamento delinquente e da
sintomas apresentados pelos sujeitos, sendo sintomatologia psicopatológica.
composto pelo conjunto de itens do BSI que Segue-se a análise das pontuações reportadas
apresentam saturações elevadas nas dimensões no IGS de acordo com as variáveis que desi-
em avaliação. O IGS é calculado através da gnámos por indicadores de risco psicossocial.
soma das pontuações de todos os índices, Note-se que estas variáveis foram operacionali-
divididos pelo número total de respostas (isto é, zadas em função das informações anamnésicas
53, se não existirem respostas em branco) obtidas junto dos técnicos do IRS sobre a
(Canavarro, 1999). existência de problemas de comportamento na
infância, consumo de álcool e drogas e dos
Procedimento de recolha de dados
seguintes acontecimentos negativos na infância:
Incluímos no nosso estudo todos os adoles- conflitos entre os pais, relações pais-filho,
centes que na altura da recolha de dados estavam separações significativas face aos pais durante a
em contacto com o Sistema de Justiça por infância, maus-tratos e institucionalizações na
cometimento de delitos criminais (indiciados ou infância e ainda, ausência de uma figura paterna
provados judicialmente). Entre os delitos, consi- no agregado familiar.

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Risco psicossocial actual, a tipologia do TABELA 1
comportamento delinquente e a história de risco Indicadores de risco psicossocial:
psicossocial ou adversidade na infância Relações familiares
Factores familiares %
Neste primeiro conjunto de resultados, foi Envolvimento parentala
nossa intenção, tal como referimos quando da Nenhum dos pais 15.9
formulação dos objectivos do estudo, Só mãe 34.9
caracterizar os adolescentes no que diz respeito a Só pai 4.8
indicadores sobre o contexto familiar actual, em Ambos os pais 22.2
Outro adulto 1.6
particular quanto ao envolvimento das figuras Total 79.4
parentais e disciplina parental na educação do
Disciplina parentala
adolescente, história de psicopatologia e/ou Nenhum dos pais 46.0
comportamento desviante familiar. Sim 33.3
Relativamente às variáveis familiares em Total 79.4
estudo, 38% dos adolescentes são oriundos de Conflitos conjugaisb
uma família biparental intacta, enquanto 31.7% Não 42.9
provêm de uma família com uma estrutura Sim 22.2
monoparental, 13% vive numa família de Total 65.1
recasamento, 11% da amostra vive com avós ou Conflito mãe-filhoc
Não 55.6
tios e os restantes 6.3% vivem numa instituição Sim 14.3
de acolhimento. Total 69.8
Quanto à dimensão da família dos partici- Conflito pai-filhob
pantes, 52.4% é oriundo de uma família de Não 39.7
dimensões médias (quatro a cinco elementos), Sim 25.4
38% dos sujeitos provém de uma família Total 65.1
numerosa (≥6 elementos) e apenas quatro sujei- Nota. aNão se obteve informações nesta variável para
tos (6.3%) estão inseridos numa família com 13 sujeitos; bNão se obteve informações nesta variável
menos de quatro elementos. Relativamente ao para 22 sujeitos; cNão se obteve informações nesta
variável para 19 sujeitos.
número de irmãos, quatro sujeitos são filhos
únicos, 33 sujeitos (52.4%) têm um a dois irmãos
e 24 sujeitos (38.1%) têm três ou mais irmãos.
No que se refere às relações familiares dos Baseando-nos em diversos estudos que indicam
adolescentes, verificámos que 34.9% dos adoles- que o comportamento desviante familiar está
centes mantêm contacto regular apenas com a significativamente associado ao comportamento
mãe e que somente 22.2% mantêm contacto anti-social na adolescência (e.g., Farrington,
com ambos os pais biológicos. É de realçar as Jolliffe, Loeber, Stouthamer-Loeber, & Kalb,
informações relativas à ausência de envolvi- 2001; Wasserman & Seracini, 2001), foi nossa
mento de qualquer dos pais incide sobre 15.9% intenção avaliar a incidência deste factor de
dos sujeitos da amostra em estudo. As informa- risco nos adolescentes em estudo. Ao contrário
ções recolhidas junto dos técnicos indicam ainda do que esperávamos, a ocorrência das diversas
que uma elevada percentagem dos adolescentes variáveis que utilizámos para descrever o
carece de disciplina parental (46.0%). comportamento desviante familiar é baixa,
Os resultados apresentados na Tabela 1 conforme podemos observar na Tabela 2.
permitem-nos observar que os pais de 22.2% dos Tentámos ainda perceber se existe envolvi-
sujeitos da amostra parecem ter conflitos mento social e escolar/profissional do adolescente,
conjugais manifestos (do conhecimento dos tendo sido considerados como indicadores de
técnicos de reinserção social) e que 14.3% dos risco para comportamento delinquente, o número
adolescentes têm uma relação com a mãe de retenções escolares, a existência de dificul-
pautada por conflito, observando-se, de igual dades de aprendizagem, a abstenção escolar e o
modo, em 25.4% dos casos, conflitos na relação abandono escolar. Como factores protectores de
com o pai. comportamento delinquente atendemos à exis-

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tência de motivação para a escola. No que diz distribuição dos sujeitos de acordo com o tipo de
respeito aos indicadores do desempenho Medida Tutelar Educativa aplicada, 28.6%
académico, os resultados obtidos apontam para encontravam-se sob medida de acompanhamento
problemas académicos numa percentagem educativo, 33.3% cumpriam medida de interna-
relevante de sujeitos: 55.9% reprovou entre três mento em centro educativo, cumprindo, os
a seis vezes e 54.0% não se encontrava motivado restantes, outro tipo de medidas comunitárias ou
para a escola. Do mesmo modo, a abstenção formativas. Encontrámos ainda registo proces-
escolar era elevada (63.7%), 52.9% dos adoles- sual de processos tutelares anteriores em 36.5%
centes tinham abandonado os estudos e apenas dos adolescentes inquiridos, alguns dos quais se
uma percentagem relativamente baixa de referiam a processos de tutela parental ou a
adolescentes (23.5%) se encontrava a frequentar situações de risco do menor por negligência ou
cursos de formação profissional (Tabela 3). maus-tratos parentais.

TABELA 2 TABELA 3
Indicadores de risco psicossocial: Indicadores de risco psicossocial:
Comportamento desviante familiar Factores académicos
Comportamento desviante familiar % Factores académicos %
Antecedentes criminais parentaisa Número de retenções escolaresa
Não 82.5 0 Retenções 2.9
Sim 7.9 1 a 2 Retenções 32.4
Total 90.5 3 a 6 Retenções 55.9
Comportamento delinquente de irmãosb Total 91.2
Não 71.4 Motivado para a escolab
Sim 20.6 Não 54.0
Total 92.1 Sim 39.7
Toxicodependência de paisc Total 93.7
Não 74.6 Dificuldades de aprendizageb
Sim 11.1 Não 55.6
Total 85.7 Sim 38.1
Total 93.7
Alcoolismo de paisd
Não 74.6 Abstenção escolarb
Sim 14.3 Não 30.2
Total 88.9 Sim 63.5
Total 93.7
Nota. aNão se obteve informações nesta variável para
6 sujeitos; bNão se obteve informações nesta variável Abandono da escolaa
para 5 sujeitos; cNão se obteve informações nesta Não 38.2
variável para 9 sujeitos; dNão se obteve informações Sim 52.9
nesta variável para 7 sujeitos. Total 91.2
Frequenta Curso de Formação Profissionala
Não 67.6
Sim 23.5
Apresentamos de seguida os resultados Total 91.2
relativamente à tipologia do comportamento Nota. aNão se obteve informações nesta variável para
delinquente (precocidade, tipo, persistência e 1 sujeito; bNão se obteve informações nesta variável
circunstâncias do delito (individual, em grupo de para 4 sujeitos.
pares, em associação com adultos).
No que se refere à situação jurídica dos
menores, observámos que 27.0% dos sujeitos se Quanto à persistência e início de comporta-
encontravam sem aplicação de medida (fase de mento delinquente, verificámos que 46.0% dos
inquérito) e que 68.3% dos adolescentes se adolescentes já tinham sido anteriormente sinali-
encontravam em fase de cumprimento de zados por comportamentos delinquentes, tendo
Medida Tutelar Educativa. No que diz respeito à estado em contacto com a Equipa de Menores e

124
Família da sua área de residência, o que contribuiu percentagem relativa dos sujeitos que compõem a
para caracterizar os sujeitos relativamente a per- amostra apresenta uma história de problemas de
sistência do comportamento delinquente. A comportamento durante a infância (38%). A este
persistência e/ou o aumento de gravidade no propósito, foram assinalados pelos técnicos os
cometimento de delitos pelo menor, tendencia- seguintes problemas de comportamento: agressões
lmente, dão origem a novos processos jurídicos. a pares, fugas de casa, comportamento de
No que se refere ao tipo, diversidade e aumento oposição face a adultos, hiperactividade, furtos,
da gravidade de delitos, é de assinalar que a associação a pares anti-sociais, fugas à escola e
maioria dos adolescentes cometeu o primeiro problemas de integração escolar. Note-se que
delito por volta dos 14 anos (38.1%), embora estes resultados são consistentes com os estudos
encontremos uma grande amplitude de idades de diversos autores sobre a presença destes
(entre os 5 e os 16 anos). Relativamente a outras problemas de comportamento concomitantemente
informações recolhidas junto dos técnicos do IRS, ao percurso delinquente (e.g., Born et al., 1997;
observámos que se verificou um aumento da Carr & Vandiver, 2001; Tarolla et al., 2002).
gravidade dos delitos praticados em 30% dos Para analisarmos eventuais diferenças entre os
adolescentes, o que, associado à persistência do grupos em função da existência de aconteci-
comportamento delinquente (46%), sugere que mentos negativos na infância, utilizámos o teste
estes adolescentes podem estar em maior risco de Mann-Whitney. Foram considerados como
para delinquência crónica e grave. indicadores de acontecimentos negativos na
No que diz respeito ao tipo de delitos prati- infância: separações das figuras parentais, história
cados, verificamos que a maioria está qualificada de maus-tratos, institucionalizações, conflitos
como infracções contra o património ou contra a
entre os pais e ausência de figura paterna no
sociedade (60%) e que 33.3% dos delitos repre-
agregado familiar (Tabela 4).
sentam agressões contra pessoas. Observámos
Na análise das diferenças nas pontuações do
ainda que a maioria dos adolescentes da amostra
IGS de acordo com as variáveis denominadas
foi notificado pela prática de único tipo de delito
acontecimentos negativos na infância, podemos
(67.6%), 23.5% indica ter praticado dois a três
afirmar que não foram encontrados valores com
tipos de delitos e apenas 1.5% cometeu mais do
significância estatística para as variáveis
que três tipos diferentes de infracções à lei. Por
último, apurámos que a maior parte dos separações significativas, institucionalizações e
comportamentos delinquentes ocorreu em maus-tratos na infância. No entanto, os
contexto de grupo de pares (79.4%). adolescentes cujos pais têm uma relação
De acordo com as informações recolhidas, conflituosa parecem apresentar um índice de
somente uma percentagem muito baixa dos sintomas psicopatológicos significativamente
sujeitos tem história anterior de consumo de superior ao dos adolescentes cujos pais não
substâncias (menos de 8%). As informações apresentam conflitos aparentes. Comparámos os
sobre maus-tratos sofridos e institucionalizações adolescentes relativamente aos valores médios
na infância recaem, respectivamente, sobre 22% das pontuações obtidas no IGS, segundo a
e 16% da amostra. presença versus a ausência de uma figura paterna
Ainda de referir que os resultados do coefi- no agregado familiar. Embora se observe uma
ciente de correlação de Spearman sugerem a tendência para os indivíduos do grupo com
existência de uma associação baixa mas estatis- ausência de figura paterna apresentarem, em
ticamente significativa entre a idade do primeiro média, valores superiores no IGS, as diferenças
delito e os valores obtidos no IGS (p=.255, não se revelaram estatisticamente significativas.
p=.049), podendo sugerir que o relato de sinto- De referir ainda que relativamente à variável
mas psicopatológicos tende a ser mais intenso, problemas de comportamento na infância,
quanto mais elevada for a idade em que foi constatámos que os resultados obtidos não
cometido o primeiro delito. sugerem diferenças com relevância estatística
No que se refere à história de risco psicossocial entre grupos nas pontuações médias do IGS (M-
ou adversidade na infância, observámos que uma W=396.00, Z=-.701, p=.483).

125
TABELA 4 em função destas duas situações (M-W=354.00,
Médias, desvios-padrão do IGS e teste Mann- Z=-1.269, p=.205).
Whitney em função dos acontecimentos Relativamente à tipologia do comportamento
negativos na infância (n=63) delinquente, não encontrámos diferenças
Separações significativas de figuras parentais* significativas nas pontuações no IGS com o
Sim (n=14) Não (n=49) teste não paramétrico de Kruskal-Wallis,
M DP M DP Z p segundo as variáveis tipo de delito cometido (K-
1.64 .66 1.62 .61 -.306 .760 W=.011, g.l.=2, p=.995) e diversidade de delitos
História de maus-tratos (n=60) (K-W=.246, g.l.=2, p=.884).
Sim (n=14) Não (n=49) Não foram igualmente encontrados valores
M DP M DP Z p estatisticamente significativos de acordo com as
1.87 .62 1.58 1.87 -1.530 .126 circunstâncias em que os delitos foram
Institucionalizações (n=62) cometidos – indivíduos que praticaram os actos
Sim (n=10) Não (n=52) solitariamente, em grupo de pares ou com
M DP M DP Z p adultos (K-W=.686, g.l.=2, p=.710), o uso ou
1.79 .73 1.60 .60 -.507 .612 não de violência no acto delituoso (M-
Conflitos entre os pais (n=41) W=345.50, Z=-.962, p=.336) e ainda,
Sim (n=14) Não (n=27)
relativamente à persistência, ou não, do
M DP M DP Z p
1.92 .58 1.46 .62 -2.434
comportamento delinquente (M-W=433.50, Z=-
.014* .821, p=.412).
Ausência de figura paterna (n=62)
Sim (n=23) Não (n=39)
M DP M DP Z p DISCUSSÃO
1.81 .60 1.52 .61 -1.946 .052
Nota. Atendeu-se a períodos superiores a um mês, por A investigação realizada permitiu-nos
motivos relevantes: os pais divorciaram-se, um dos encontrar alguns resultados que consideramos
pais ou ambos emigraram, morte ou doença de figura
parental e ainda conflitos ou maus-tratos, consoante a pertinentes. Não obstante, observámos outros
categorização disposta na variável motivos de inconclusivos face aos objectivos que nos
separação. propusemos atingir neste estudo.
Retomemos o primeiro objectivo, relativo à
caracterização de uma amostra de adolescentes
Diferenças entre os grupos em função do em contacto oficial com o sistema de Justiça por
relato de sintomas psicopatológicos e a tipologia cometimento de actos considerados crime à luz
de comportamento delinquente nos jovens da Lei, relativo a indicadores de risco psicos-
social actual, à tipologia do comportamento
De seguida, apresentamos os resultados das delinquente e ainda, à história de risco psicos-
análises efectuadas com vista a estudar a social ou adversidade na infância.
existência de diferenças nos resultados obtidos No que diz respeito às relações familiares,
no IGS entre grupos, em função da tipologia do tem sido referido invariavelmente que, quer a
comportamento delinquente (operacionalizado falta de envolvimento parental (isto é,
em termos de precocidade, diversidade, participação das figuras parentais em questões
gravidade e persistência de delitos). que dizem respeito à educação do adolescente),
De referir que foram considerados dois grupos quer a falência da supervisão e disciplina
de adolescentes, de acordo com a sua situação parental (especificamente do comportamento e
tutelar – institucionalizado em Centro Educativo actividades quotidianas dos filhos), assim como
do Ministério da Justiça ou em acompanhamento relações pais-filhos pautadas por conflitos, estão
por uma Equipa de Família e Menores do entre os factores de risco que, de forma cumula-
Instituto de Reinserção Social. Os resultados do tiva, actuam no desenvolvimento de comporta-
teste de Mann-Whitney sugerem a não existência mento anti-social nos adolescentes (e.g.,
de diferenças significativas na resposta ao IGS Farrington & West, 1989; Farrington et al., 1988;

126
Loeber et al., 2001; Rutter et al., 1998; Wolf, cometimento do primeiro delito na idade de 14
1995). Na nossa amostra, um subgrupo de anos, embora a amplitude de idades diste entre os
adolescentes parece não beneficiar quer de 5 e os 16 anos. Ainda de acordo com as infor-
envolvimento parental, quer de supervisão e mações oficiais, a ocorrência de comportamento
disciplina parental, factores estes que, como anti-social, ocorreu maioritariamente, em contexto
anteriormente referimos, se preconizam como de grupo de pares. De acordo com a literatura,
sendo protectores face a envolvimento em estes resultados sugerem um maior risco para
comportamento anti-social e a reincidência num reincidência num percurso delinquente no
percurso desviante. No sentido do que subgrupo de adolescentes com comportamento
preconizam Knutsonn, DeCarmo, e Reid (2004) anti-social persistente, com início precoce e com
a vulnerabilidade familiar tende a comprometer a aumento de gravidade dos delitos, se não houver
qualidade da parentalidade. Por sua vez, um intervenção de cariz psicossocial (Barnoski, 2004;
comportamento parental pautado por negli- LeBlanc, 1998; Lipsey & Derzon, 1998; Tarolla et
gência, uma pobre supervisão parental, ou a al., 2002). Especificamente, defendemos que uma
falta de envolvimento parental são factores a tal intervenção será mais eficaz ao nível na
tomar em consideração na etiologia do compor- prevenção de reincidência quanto mais domínios
tamento anti-social nas crianças e adolescentes. incluir (familiar, escolar, pares, e comunitário
Relativamente aos indicadores de risco mais vasto). Esta questão remete-nos para a
psicossocial e, em particular, no que se refere ao relevância do estudo de variáveis psicossociais, a
desempenho académico, os resultados apontam qual retomaremos adiante.
para problemas académicos numa percentagem Um outro resultado sobre o qual nos parece
significativa de sujeitos. Por exemplo, consta- importante reflectir, embora não forçosamente
támos que 55.9% reprovou entre três a seis vezes associado a comportamento anti-social, diz
e que 54.0% não se encontrava motivado para a respeito ao consumo de substâncias. As informa-
escola. Do mesmo modo, a abstenção escolar é ções recolhidas junto das fontes oficiais sugerem
elevada e apenas 23.5% dos sujeitos da amostra se que somente uma pequena percentagem dos
encontrava a frequentar um curso de formação adolescentes parece apresentar, associado ao
profissional. Com base na revisão da literatura, comportamento delinquente, um comportamento
sabemos que o envolvimento na formação de abuso de substâncias. Vimos na revisão da
académica ou profissionalizante surgem entre as literatura que os estudos criminológicos apontam
variáveis protectoras de um percurso delinquente para uma associação entre o consumo de
(Carr & Vandiver, 2001; McCluskey, Bynum, & substâncias e a delinquência juvenil (Office of
Patchin, 2004; Moffit, 1993, Moffit, Caspi, Juvenile Justice and Delinquency Prevention,
Belsky, & Silva, 1996). Assim sendo, estes 1995). Esta associação não é, contudo, linear,
adolescentes parecem estar desprotegidos ao nível sendo possível que as informações sobre o abuso
da inserção escolar/profissional quando entram em de substâncias nestes adolescentes não façam
contacto com o sistema de justiça. necessariamente parte dos dados oficiais, a não ser
As informações oficiais recolhidas junto dos que o adolescente, de forma evidente, apresente
técnicos de reinserção social face a comporta- uma perturbação de dependência de drogas.
mentos delinquenciais dos jovens quando do Relativamente à análise retrospectiva da
primeiro contacto com a Equipa de Família e tipologia do comportamento delinquente,
Menores, permitiram caracterizar os sujeitos pensamos que a sua persistência (em 46% dos
relativamente às variáveis persistência de sujeitos), o aumento da gravidade (em cerca de
comportamento delinquente (46%) e ao aumento 30% dos indivíduos), a diversidade dos delitos
da gravidade dos delitos praticados (30%), o que relativamente baixa (25.0% dos sujeitos
nos parece apontar para risco de envolvimento em praticaram mais do que um tipo de delitos), a
comportamento criminal futuro, persistente ou idade em que prevalece a informação oficial
crónico, antes da intervenção pelo Sistema de sobre o primeiro delito cometido (13 e 14 anos)
Justiça. Observámos ainda uma baixa diversi- e, ainda, as circunstâncias dos delitos (79.4% em
dade de delitos cometidos e a incidência do grupo de pares) são resultados que carecem de

127
análises posteriores, de forma a perceber se, na No que diz respeito ao primeiro destes
população portuguesa, estes podem contribuir resultados (e não deixando de considerar a baixa
para predizer, no sentido em que atestam magnitude da significância encontrada), estes
diversos autores (e.g., Moffit, 1993; Moffit et al., podem sugerir, ao contrário do que descreve a
1996; Tarolla et al., 2002), a persistência futura literatura (e.g., Vermeiren, 2003; White et al.,
ou recorrência de delinquência. A investigação 2001), que um envolvimento precoce em
sobre as variáveis eventualmente preditivas de comportamento anti-social não estaria, de algum
um percurso delinquente continuado exigirá o modo, associado a mais sintomas psicopatoló-
desenvolvimento de um estudo com um desenho gicos. No entanto, diferentes limitações nos
longitudinal prospectivo. impõem cautela: não sabemos se este resultado se
No global, a descrição da amostra de acordo devem a uma falta de sensibilidade do IGS como
com as variáveis de risco psicossocial seleccio- indicador de sintomatologia nestes adolescentes,
nadas permitiu-nos observar a presença de um ou se, na verdade, não existe qualquer associação
conjunto de indicadores de risco individuais e entre a tipologia do comportamento delinquente e
familiares para a continuidade de um percurso a presença de psicopatologia. Importa investigar
delinquente. esta questão futuramente, através de medidas
No que se refere à presença de conflito mais exaustivas de avaliação de psicopatologia.
conjugal e de relações pais-filhos conflituosas, Ainda relativamente sãos resultados obtidos
não sabemos se estes riscos são directamente no Índice Geral de Sintomas, podemos sugerir
psicopatogénicos, mas podemos afirmar, de que os adolescentes cujos pais têm uma relação
acordo com Balbernie (2002), que representam conflituosa expressa parecem apresentar um
no mínimo uma probabilidade de se tornarem índice de sintomas psicopatológicos significati-
patogénicos, conduzindo a um resultado vamente superior ao dos adolescentes cujos pais
desenvolvimental desfavorável. não apresentam conflitos aparentes. Ainda no
Num segundo momento, analisámos possíveis que diz respeito às relações familiares, os pais de
diferenças nos resultados obtidos na escala de 22.2% dos participantes manifestam conflitos
avaliação de psicopatologia (IGS) em função das conjugais e 14.3% dos adolescentes têm uma
características do comportamento delinquente relação com a mãe pautada por conflito,
e, ainda, das variáveis contextuais ou sócio- observando-se, de igual modo, em 25.4% dos
-familiares (nível socioeconómico, estrutura e a casos, conflitos na relação com o pai.
escolaridade dos pais, estrutura e dimensão do Relativamente aos resultados inconclusivos
agregado familiar). Analisámos também o relato obtidos no indicador de psicopatologia, em nosso
de problemas psicopatológicos pelos adoles- entender somente o estudo mais exaustivo das
centes abrangidos pela LTE em função dos propriedades psicométricas do Brief Symptom
diversos indicadores de risco psicossocial Inventory nos permitirá afirmar se estes se devem
(institucionalizações, separações significativas a uma falta de sensibilidade da escala na triagem
de figura parental, motivos atribuídos para as de sintomatologia nestes adolescentes, ou se, na
separações, problemas de comportamento na verdade, não existe qualquer associação entre o
infância e desempenho académico). tipo, a persistência e as circunstâncias do delito e
Os resultados comparativos por grupos na a presença de problemas psicopatológicos.
maioria destas variáveis não demonstraram Devemos realçar que, devido à dimensão dos
diferenças significativas ao nível dos indicadores grupos, e tendo em consideração as limitações do
de perturbações psicopatológicas expressos pelo instrumento na triagem de problemas emocionais
Índice Geral de Sintomas, com excepção das (pelo facto de ser pouco exaustivo), no futuro,
variáveis definidas com base nos registos devemos prosseguir a confirmação destas análises
oficiais: a idade do primeiro delito – sugerindo com um instrumento de avaliação de psicopato-
que o relato de sintomas psicopatológicos pode logia mais abrangente, de forma a percebermos se
ser mais elevado com o aumento da idade em estes resultados reflectem dificuldades inerentes à
que é cometido o primeiro delito; e, ainda, os avaliação de indicadores de psicopatologia e se, de
conflitos conjugais manifestos. facto, a presença destes factores, considerados de

128
risco na literatura (e.g., Barnoski, 2004), está Por sua vez, os resultados da comparação
associada à manifestação de psicopatologia nestes dos grupos em função da existência de conflitos
adolescentes. entre os pais sugerem que os adolescentes cujos
Em relação ao estudo do comportamento pais apresentam uma relação conflituosa, tendem
desviante ao nível do contexto familiar, ficamos a reportar níveis significativamente mais
por saber se esta característica da amostra elevados de sintomatologia psicopatológica.
reflecte, de algum modo a “realidade” destas Assim, reportando-nos ao trabalho de Rutter e
famílias, o que, se assim for, contraria os Smith (1995), se o conflito no seio da família é
resultados dos estudos que apontaram para uma um factor de risco para o desenvolvimento de
elevada incidência de comportamento desviante perturbações psicopatológicas e de problemas de
familiar na problemática da delinquência juvenil adaptação psicossocial na criança e no
(e.g., Farrington, 2004; Farrington et al., 2001; adolescente, a sua ausência (ou baixa preva-
Lipsey & Derzon, 1998), ou se uma falta de lência) deveria, a par com outros factores
informações sobre as circunstâncias familiares, protectores (e.g., atitudes parentais pautadas por
por parte dos técnicos, poderá ter influenciado os afecto e por supervisão ou controlo parental),
resultados obtidos, o que, a ter acontecido, se estar associada a um melhor ajustamento
alega como uma limitação ao estudo. psicossocial (Fleming, 1997). Também neste
Investigações futuras deverão centrar-se na sentido, Lerner, Lerner, Almerigi, e Theokas
avaliação do impacto dos diferentes tipos de (2005) preconizam que os conflitos conjugais se
intervenção previstos pela Lei Tutelar Educativa encontram entre os factores de vulnerabilidade
sobre a integração social dos jovens. Na nossa familiar, pela probabilidade acrescida de
opinião, esta questão merece ser aprofundada interferirem nas competências parentais.
através de um estudo longitudinal que compre- No nosso entender, os conflitos conjugais
enda o seguimento dos sujeitos da adolescência podem influir na disponibilidade emocional dos
até à adultez, de forma a avaliar a eficácia das pais, reduzindo a sua capacidade de resposta às
intervenções em termos da sua reinserção sócio- necessidades emocionais do adolescente. Fica no
profissional. Parece-nos ainda relevante estudar as entanto por responder a questão levantada por
características psicopatológicas dos adolescentes Balbernie (2002) e por Strand (2000) de perce-
institucionalizados, comparativamente com os bermos se os conflitos parentais terão um
adolescentes seguidos em ambulatório pelas impacto imediato na criança, ou se este factor
equipas de reinserção social. Sabemos que os será de risco por afectar a qualidade da
jovens delinquentes em regime de institucionali- parentalidade. Resta-nos adiantar que embora
zação tendem a experienciar mais problemas de não saibamos o seu peso relativo, provavel-
saúde mental comparativamente aos não mente, os dois factores são relevantes para o
bem-estar dos adolescentes.
institucionalizados (Robertson, Dill, & Husain,
2004; Vermeiren, 2003).
Importa ainda referir que a presente investi-
gação apresenta limitações, quer ao nível do seu REFERÊNCIAS
desenho transversal, quer relativas à dimensão da
Agnew, R. (2003). An integrated theory of the
amostra. Um outro aspecto que nos parece
adolescent peak in offending. Youth & Society,
relevante diz respeito à necessidade de leituras 34(3), 263-299.
cuidadas de alguns resultados, considerando
Balbernie, R. (2002). An infant in context: Multiple
eventuais problemas de validade e fidelidade dos
risks, and a relationship. Infant Mental Health
instrumentos utilizados. Não obstante, os resul- Journal, 23(3), 329-341.
tados obtidos permitem-nos sugerir alguns
Barnoski, R. (2004). Assessing Risk for Re-ofense:
factores como protectores face a persistência de
Validating the Washington State Juvenile Court
comportamento anti-social. Em particular, Assessment. Olympia, WA: Washington State
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Thousand Oaks, CA: Sage Publications.
Palavras-chave: Comportamento anti-social,
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1093. of the individuals’ characteristics and their key social
systems (Agnew, 2003).
In this paper, we present the results of a study
aimed at identifying retrospectively, in a group of
RESUMO juvenile delinquents, a set of psychosocial risk factors,
patterns of anti-social behavior and previous events of
Muitos dos estudos realizados no âmbito da risk or psychosocial adversity during infancy.
delinquência juvenil tendem a dar suporte a uma The research has also focused on understanding the
conceptualização socio-ecológica da delinquência relationship between these factors and self-reported
juvenil, a qual sugere que esta é multideterminada pela psychopathological symptoms.
inter-relação recíproca e dinâmica das características do The study comprised a sample of 63 adolescents in
indivíduo e dos sistemas sociais chave (Agnew, 2003). the Portuguese Justice System for minors in judicial
Neste artigo, apresentamos os resultados de um custody, and data were collected in the south of the
estudo conduzido com o objectivo de identificar country.
retrospectivamente, num grupo de adolescentes delin- To collect the required information we used the
quentes, um conjunto de factores de risco psicossocial, General Symptom Index (GSI) of the Brief Symptom
tipologia do comportamento delinquente e história de Inventory, as well as a questionnaire designed for this
risco ou adversidade psicossocial na infância. A study, based on literature review on psychosocial risk
investigação centrou-se ainda na compreensão da factors for antisocial behavior in adolescence,
relação entre estes factores e indicadores de sintomato- particularly, the typology of psychosocial risk
logia psicopatológica. established by Born, Chevalier, and Humblet (1997)
O estudo integrou um total de 63 adolescentes and Moffit’s developmental taxonomy on adolescents’
abrangidos pela Lei Tutelar Educativa e os dados anti-social behaviour (1993). The results suggest that
foram recolhidos na região sul do país. adolescents whose parents have a clearly conflictual
Como instrumentos de recolha de dados, foram relationship tend to have an index of psychopatho-
utilizados o Índice Geral de Sintomas (IGS) do Brief logical symptoms significantly higher than those
Symptom Inventory e um questionário de caracteri- whose parents did not present apparent conflicts.
zação construído com base na revisão da literatura However, the report of psychopathology is not
sobre os indicadores de risco psicossocial para compor- significantly higher in people with indicators of
tamento anti-social na adolescência, destacando-se a negative events in childhood (separation from a parent,
tipologia de risco psicossocial estabelecida por Born, absence of a father figure, institutionalization, child
Chevalier e Humblet (1997) e a taxonomia desenvolvi- abuse, conflict between parents).
mental do comportamento anti-social de Moffit (1993). Results are discussed, limitations of the study are
Os resultados obtidos sugerem que os adolescentes considered and proposals for future research are made.
cujos pais apresentam uma relação conflituosa tendem Key-words: Anti-social behaviour, Juvenile
a apresentar um índice de sintomas psicopatológicos delinquency, Portuguese juvenile justice system,
significativamente superior ao dos adolescentes cujos Psychosocial risk factors; Psychopathology.

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