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JOURNAL

EFCI
2ªSEMANA
Durante esta semana, exploramos o modelo de
HUMANIZAÇÃO DO comunicação exemplificado por Jesus. A base para

INDIVÍDUO: esse estudo foi o encontro dele com a mulher


samaritana, conforme narrado em João 4:3-26.
A CHAVE PARA UMA Durante nossas aulas e ao consultar o livro
"Comunicando Claramente" de Landa Cope, extraí
COMUNICAÇÃO princípios valiosos desse encontro.

EFETIVA DO Aprofundando ainda mais esse tema em sala de

EVANGELHO aula, unido a estudo bíblico e ao utilizar um estudo


de caso, tornou-se evidente que a humanização do
indivíduo desempenha um papel crucial na
comunicação eficaz. Esta abordagem não apenas nos
ajuda a perceber os pontos de contato entre as
pessoas, mas também facilita uma compreensão
cultural mais profunda, a redução de conflitos e o
estabelecimento de relacionamentos genuínos.

Esses quatro pilares desempenham um papel


Autor: Pedro Magalhães fundamental na busca pela clareza e no correto
JOCUM Casa entendimento da mensagem, aprofundando a
DATA: 15/09/2023 relação comunicador-interlocutor.
Existem muitos casos nos quais a comunicação do Evangelho tem se utilizado da abordagem
comunicacional "nós para eles". Nessa perspectiva, a qual alguns estudiosos chamam de “Comissão
Grega”, os propagadores da mensagem se percebem como heróis, salvando indefesas almas do
inferno. Essa postura de orgulho e objetificação do outro (percebendo o outro apenas como uma
alma a ser salva) faz com que a mensagem seja carregada da cultura do transmissor, subjulgando
a cultura e a identidade do receptor da mensagem. Isso tem gerado resistência à mensagem por
parte de alguns, e muitos novos convertidos têm se tornado seguidores de regras dogmáticas que
têm pouco efeito na santificação. Com isso, também ocorre uma “demonização da própria cultura”,
trocando o Evangelho pessoal e vivo por um pseudoevangelho que não “encaixa” na realidade do
indivíduo, afastando-o da família e comunidade.

Como, então, construir uma ponte de conexão onde a forma de comunicação utilizada seja "nós
com eles", onde o receptor é visto de maneira holística e participante ativo na contextualização do
Evangelho para sua própria vida e cultura?

Para responder a essa pergunta, foi necessário olhar para o modelo de comunicação de Jesus e os
princípios ensinados por antropólogos e comunicadores cristãos que perceberam a aplicação dos
princípios bíblicos sobre o assunto. Busquei aprofundar no livro “Comunicando Claramente” de
Landa Cope por ressaltar os princípios do modelo de Jesus e nos livros e artigos de Ronaldo
Lindório e Paul G. Hiebert pela abordagem de aplicações dos princípios em diferentes contextos.
Por fim, extrai o princípio de terceiro espaço do livro “Liderança Missional e Global” de Kirk J.
Franklin.

Segundo Paul G. Hiebert, "a transmissão do Evangelho transpondo os abismos que separam uma
cultura da outra depende principalmente da comunicação pessoal entre os homens". Ele ressalta
que a qualidade do relacionamento entre os indivíduos envolvidos afeta diretamente a mensagem
transmitida.

A humanização na descoberta dos pontos de contato e no aprofundamento da compreensão


cultural
Um estudo de caso foi uma situação que me deparei na Espanha. Sempre tive dificuldades para
comunicar, principalmente, encontrar pontos comuns com pessoas de culturas "muito diferentes" da
minha. Em certo momento, tive um encontro com marroquinos muçulmanos. A princípio, fiquei
desconfortável, como acontecia normalmente, inclusive pelo fato de tanto eu quanto eles não
serem fluentes em espanhol, a língua ponte que estávamos utilizando. Começamos a brincar de
alguns jogos de cartas e, à medida que interagíamos, percebi a competitividade de alguns, outros
não se importando muito em ganhar, mas felizes por poderem estar jogando, e outros
comunicando histórias da vida comum. Os muçulmanos, que no meu imaginário eram muito
diferentes de mim, agora estavam ali, cheios de aspectos que encontrava em diversos outros
contextos. À medida que o primeiro ponto comum (o jogo de cartas) acontecia, muitos outros
pontos comuns foram percebidos, desde curiosidades sobre a política no Brasil até mesmo em
conversas mais profundas sobre questões pessoais. Tudo isso foi possível por perceber que eram
pessoas, apesar das diferenças culturais. Eles tinham suas apreensões, suas relações familiares, o
desejo de pertencerem e o anseio pela eternidade.
Segundo Landa Cope, o primeiro grande problema da humanidade apresentado em Gênesis é a
solidão. Fomos feitos para nos relacionar e viver em comunidade, o pecado quebrou essas
relações, e essa busca é comum a todo ser humano. Landa também afirma que todos nós temos as
mesmas tentações, todas temos necessidades sentidas e somos feitos à imagem de Deus. Em
Eclesiastes 3:11 vemos que Deus colocou no coração do ser humano a eternidade.
Por outro lado, segundo Paul Hiebert, no momento da pregação do Evangelho, muitos missionários
não levam em conta a distância da própria cultura com a cultura do receptor nem a distância da
cultura do texto bíblico com a própria cultura e a cultura do outro.
A humanização atua nesse sentido trazendo a percepção de que o outro é um ser com
complexidades e expressões da imagem de Deus, nos levando a perceber que o melhor caminho é
o relacionamento com o outro, disposto a aprender e construir juntos a ponte de conexão que
permitirá que a mensagem seja mais fluida. Jesus faz isso com a mulher samaritana, transpondo
as barreiras culturais ao olhar para ela a partir de sua humanidade. Ele pede água a ela, a vê
como capaz de suprir sua necessidade e também trata ela percebendo seus anseios e necessidades
básicas. Ele se identifica e valoriza ela como ser humano, dotado da imagem de Deus e digna de
receber da água viva e adorar a Deus da maneira que ele quer ser adorado.

A humanização na construção de relacionamentos genuínos


Na medida em que olhamos para o indivíduo dotado de capacidades e detentor da imagem de
Deus, podemos construir relacionamentos. Amizades são formadas, e esses amigos se tornam
intermediários entre a mensagem e o grupo/povo receptor. Don Richardson, nos livros "O Fator
Melquisedeque" e "Totem da Paz", fala das pessoas dentro de certa comunidade que realizam esse
papel. Ele as denomina "pessoas de paz". Podemos observar vários textos do Novo Testamento
onde Jesus e os primeiros discípulos encontram essas pessoas, e através da transformação da vida
daquele indivíduo, toda uma comunidade é alcançada pelas Boas Novas de Salvação. A mulher
samaritana se torna uma mensageira do Evangelho aos samaritanos e os leva até Jesus. Paul
Hiebert diz que a comunicação transcultural mais eficaz ocorre quando os missionários e os locais
formam relacionamentos íntimos e trabalham como equipe, e essa união produz os maiores
resultados na tarefa missionária.

A humanização na redução de conflitos


Kirk J. Franklin no seu livro "Liderança Missional e Global" fala da criação do terceiro espaço,
esses são lugares neutros, inclusivos, abertos e que fornecem apoio e conforto psicológico, também
são seguros para desenvolver valores. É um "ambiente" que não é físico, mas um processo mental.
Nele, pessoas de diferentes culturas e cosmovisões podem se sentir bem e encontrar "meio-termos"
para dialogar, construir relacionamentos e resolver conflitos. O comunicador percebe o receptor de
maneira humana, busca compreender a cosmovisão e cultura do outro, e juntos constroem esse
ambiente integrador. Esse espaço só pode ser criado a partir da sensibilidade cultural e
humildade, isso só é possível através da sensibilidade ao outro como indivíduo.
Jesus faz isso no poço, com a mulher samaritana. Utiliza o ambiente físico, onde naquele horário,
não haveria ninguém para julgá-la e manda os discípulos para longe. Ele cria esse ambiente
também no próprio diálogo, nos momentos em que "cede" para falar de assuntos que ela
propunha, mas comunicando o que ele queria dizer. Um momento claro é quando a mulher
samaritana pergunta sobre a adoração, a lógica dela é binária, dizendo: vocês (os judeus) ou nós
(os samaritanos) adoramos corretamente? Jesus responde que nem uma coisa nem outra, mas um
terceiro espaço havia sido criado, ele era aquele espaço, onde a adoração aconteceria em espírito
e em verdade.
Por que isso importa?
Isso significa que os cristãos podem ter uma abordagem mais humilde e mais parecida com Jesus.
Percebendo o indivíduo como um ser humano dotado da imagem de Deus e que possui vários
aspectos comuns por sua humanidade e ao mesmo tempo, cheio de complexidades.

Ainda é necessário investigar mais sobre como psicologicamente o indivíduo é afetado por essa
abordagem. Pesquisar em outros meios como a humanização pelos profissionais da saúde, pelos
profissionais de prestação de serviço e profissionais da área de mídia pode contribuir
significativamente para encontrarmos o caminho para que o Evangelho possa responder aos
diferentes aspectos da vida humana e seja holística no olhar para o indivíduo.

O importante a ressaltar é que a humanização possibilita o trabalho conjunto com os receptores


para que a partir dos pontos de contato, compreensão da cultura, construção de amizade e a
criação do terceiro espaço, o Evangelho seja relevante, claro, contextualizado e efetivo para o
receptor da mensagem, seja um indivíduo, um grupo ou uma comunidade.

Resumindo
O que aprendi é que Jesus veio resgatar a imagem de Deus corrompida pelo pecado em todos
aqueles que creem nele, e essa é a missão da Igreja: anunciar a Cristo e encarnar a vida dele.
Para isso, é necessário comunicar de maneira em que deixemos de objetificar as pessoas e tratá-
las como pessoas. Isso é o modelo de Jesus, e seguir esse princípio nos livrará da presunção de que
somos a resposta e abrirá as portas para que a mensagem de Cristo alcance com menos ruídos os
corações.

Materiais para saber mais sobre o assunto:


"Comunicando Claramente" - Landa Cope, para mais informações sobre os princípios de
comunicação utilizados por Jesus.
"Antropologia Missionária" - Ronaldo Lindório, para conhecer sobre maneiras de aplicação de
uma metodologia que auxilia na comunicação transcultural.
“Fator Melquisedeque” e “ O Totem da Paz” - Don Richarson, para entender sobre a pessoa de paz
e perceber pontos de contato do Evangelho com diferentes culturas.
“Liderança Missional e Global” - Kirk J. Franklin, para compreender sobre o terceiro espaço.
“O Evangelho e a diversidade de culturas” - Paul Hiebert, para saber qual a postura e o papel do
missionário em um ambiente transcultural.
Faça a Escola de Fundamentos da Comunicação Intercultural da JOCUM, para ser fundamentado
nos princípios de uma comunicação bíblica e compreender melhor as dinâmicas de interações com
a transmissão do Evangelho para novas culturas.
Estude a Bíblia com o foco nos princípios de comunicação e buscando perceber os exemplos da
comunicação do Evangelho bem sucedida.

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