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DOSSIÊ

Diálogo em ternura: educar para escutar com amorosidade


Pe. José Antonio Boareto1

Resumo: O texto aborda a polarização a partir do contexto da Campanha da Frater-


nidade Ecumênica de 2021. Considerando a mensagem do Papa Francisco por ocasião
da Campanha da Fraternidade, ele afirmou que, às vezes, parece que estamos diante de
um mundo surdo. À proposta de uma conversão ao diálogo, reconhecemos que a base
do diálogo é a escuta. Para refletir sobre a escuta, oferecemos uma conceituação a partir
da lectio divina. A escuta deve ser com amorosidade, e, para isso, refletimos sobre o dom
do Espírito: a amabilidade (amorosidade) segundo a teologia paulina, o que pode ser
apreendido na carta encíclica Fratelli Tutti. Essa escuta com amorosidade só é possível
ocorrer no ser humano desde o reconhecimento de sua condição humana, enquanto é
chamado a “poder ser” ternura, e só na ternura manifestada por Cristo na Cruz o ho-
mem/mulher encontra o sentido da sua existência e também da própria história. Que-
remos com este artigo contribuir para uma reflexão de antropologia teológica que nos
ajude a reconhecer valores antes evidentes nos relacionamentos interpessoais e sociais,
os quais se fazem necessários de ser aprendidos novamente para que possamos, assim,
realizar processos para o diálogo em ternura, enquanto exercício da educação para es-
cutar com amorosidade.
Palavras-chave: Escuta. Fraternidade. Amorosidade. Diálogo.

Dialogue in tenderness: educating to listen with love

Abstract: The text addresses polarization from the context of the 2021 ecumenical
fraternity campaign. Considering Pope Francis’ message during the fraternity campaign,
he said that sometimes it seems that we are facing a deaf world. In proposing a con-
version to dialogue, we recognize that the basis of dialogue is listening. To reflect on
listening, we offer a concept based on the “lectio divina”. Listening must be lovingly,
for that, we reflect on the gift of the Spirit: kindness (lovingness) according to Pauline
theology, as can be learned in the encyclical letter “Fratelli tutti”. This loving listening
is only possible in the human being since the recognition of his human condition while
the human being is called to “be able” tenderness and only in the Tenderness manifes-
ted by Christ on the Cross does the man / woman find the meaning of his existence
as also from the story itself. With this article we want to contribute to a reflection of
theological anthropology that helps us to recognize values that were evident before in

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interpersonal and social relationships, which, it is necessary to be learned again so that
we can thus carry out processes for the dialogue in tenderness, while, exercise of the
education to listen with love.
Keywords: Listening. Fraternity. Lovingness. Dialogue.

Diálogo en la ternura: educar para escuchar con amor

Resumen: El texto aborda la polarización desde el contexto de la campaña de frater-


nidad ecuménica de 2021. Teniendo en cuenta el mensaje del Papa Francisco durante la
campaña de fraternidad, dijo que a veces parece que estamos ante un mundo sordo. Al
proponer una conversión al diálogo, reconocemos que la base del diálogo es la escucha.
Para reflexionar sobre la escucha, ofrecemos un concepto basado en la “lectio divina”.
La escucha debe ser con amor, para eso reflexionamos sobre el don del Espíritu: la bon-
dad (amor) según la teología paulina, como se puede aprender en la encíclica “Fratelli
tutti”. Esta escucha amorosa sólo es posible en el ser humano desde el reconocimiento
de su condición humana mientras que el ser humano está llamado a “poder” ternura y
sólo en la Ternura manifestada por Cristo en la Cruz encuentra el hombre / mujer el
sentido de su existencia como también de la historia misma. Con este artículo quere-
mos contribuir a una reflexión de la antropología teológica que nos ayude a reconocer
valores que antes eran evidentes en las relaciones interpersonales y sociales, que, hacen
necesario volver a aprender para que podamos realizar procesos de diálogo. en la ternu-
ra, mientras, ejercicio de la educación para escuchar con amor.
Palabras clave: Escuchar. Fraternidad. Amor. Diálogo.

Introdução

Os efeitos da polarização são sentidos não somente nas redes sociais, mas
em todos os âmbitos da sociedade. O atual pontificado do Papa Francisco tem
oferecido uma concepção de Deus, a qual, segundo alguns estudiosos, é uma
volta aos evangelhos2. Reconhecer que o nome de Deus é misericórdia, como
afirmou o Papa Bento XVI, é a ideia central de Deus hoje3. O ano extraordiná-
rio da misericórdia, em 2016, trouxe a tônica de uma evangelização a partir do
Evangelho da Misericórdia.
A Igreja, chamada a ser pobre com os pobres, misericordiosa como um
hospital em campo de batalha, sinaliza para o mundo que, por meio de uma
cultura da misericórdia, é possível fazer uma boa política que recupere a centra-
lidade da dignidade humana na busca do bem comum e, consequentemente, o
cuidado com a natureza em perspectiva de ecologia integral.
Considerando a centralidade da pessoa humana enquanto “imago Dei”,
precisamos considerar a atual cultura do descarte, em que estão inseridos os
jovens e os idosos. O Papa Francisco provoca-nos a um diálogo intergeracional,
contudo pede a nós que, no caminho educacional, realizemos grandes percursos
de diálogo com o mundo4.

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Em sua última encíclica social, o Papa Francisco reconhece a necessidade
de uma cultura do diálogo que promova uma cultura do encontro. No capítulo
seis, intitulado “Diálogo e amizade social”, propõe o caminho da amorosidade
como modo próprio do diálogo à luz da fé cristã, conforme a teologia pauli-
na. Às sombras de um mundo fechado na indiferença e que tem promovido a
cultura do ódio, somente a amorosidade, compreendida como ternura, pode
destruir a crueldade. A ternura manifestada para com os outros, por meio de
palavras doces e acariciamento, favorece um sustentar com leveza o caminho5
(FRANCISCO, 2020a).
Reconhecemos que o desafio para a educação pelo diálogo não está so-
mente no exercício de aprender a escutar, mas no modo como escutar. Pre-
tendemos com este texto oferecer uma leitura que nos ajude a redescobrir o
sentido profundo que podemos aprender da sabedoria cristã. Desde o início do
cristianismo, a espiritualidade foi compreendida como escuta à palavra, e, neste
sentido, o exercício da lectio divina6 de Guigo II, prior da Grande Cartuxa, entre
os anos 1174 e 1180, pode ajudar-nos a compreender melhor o que pretendemos
com nosso intuito. Semelhante a Salomão, que acolheu o chamado do Senhor
para assumir seu ministério real e pediu o dom para realizá-lo, nós também pe-
dimos: “Dá-me, ó Senhor, um coração que escute!” (1 Rs 3,9).

Um mundo surdo

Na mensagem que o Papa Francisco dirigiu à Igreja no Brasil por ocasião


da abertura da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021, ele fez menção
à surdez. Estamos diante de um mundo que é, muitas vezes, surdo. De fato, a
polarização que observamos nas redes sociais virtuais ocorre também em outros
âmbitos da sociedade. Diz o Papa Francisco (2021, s/p):
Como é tradição há várias décadas, a Igreja no Brasil promove
a Campanha da Fraternidade como um auxílio concreto para a
vivência deste tempo de preparação para a Páscoa. Neste ano
de 2021, com o tema: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de
amor”, os fiéis são convidados a “sentar-se a escutar o outro” e,
assim, superar os obstáculos de um mundo que é muitas vezes
“um mundo surdo”. De fato, quando nos dispomos ao diálo-
go, estabelecemos “um paradigma de atitude receptiva, de quem
supera o narcisismo e acolhe o outro” (Fratelli tutti, n. 48). E
na base desta renovada cultura do diálogo está Jesus que, como
ensina o lema da Campanha deste ano, “é a nossa paz: do que era
dividido fez uma unidade” (Ef 2,14).

Umberto Eco afirma que as redes sociais deram voz a uma legião de im-
becis7. Apesar da tônica forte, sua intenção é fazer com que escutemos a palavra
“imbecilidade”. O comportamento de muitos nas redes sociais lembra um di-

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vertimento semelhante à luta de gladiadores que ocorria nos circos máximos no
tempo do Império Romano. As lutas expressavam como funcionava o sistema
político em forma de monarquia absoluta8.
Os gladiadores e os prisioneiros faziam parte do divertimento do circo.
Eram expostos ao espetáculo de horrores, e as lutas terminavam com o impe-
rador, que participava da maioria dos jogos solicitando ao público que indicasse
qual seria sua decisão sobre o perdedor. Se o público decidisse com o dedo po-
legar para cima, isso significava que o imperador deveria agir com misericórdia
em relação ao perdedor; se fosse com o polegar para baixo, o perdedor não teria
sorte, e sua morte estava decretada.
Essa postura dos jogos remete ao que estamos considerando em relação
ao termo de Umberto Eco – imbecilidade – no sentido de que, nas redes so-
ciais, ocorre algo semelhante. A própria identidade visual de uma rede social
virtual é um polegar para cima. Nas redes sociais virtuais, no que tange ao
aspecto polarizador, não há espaço para a reflexão e o questionamento, pois a
ética está ausente.
Com certeza não ouviríamos alguém no circo questionar: vocês não perce-
bem que estamos nos divertindo às custas da vida humana? Do mesmo modo, na
polarização promovida nas redes sociais, não há espaço para um questionamento
e/ou mesmo outra consideração a ser feita. Esse movimento lembra a postura das
tribos. O tribalismo, segundo Maffesoli (2006), são comunidades emocionais que
possuem um mínimo de racionalidade da qual o grupo é ciente, mas que não per-
mite ser questionado e muito menos dar espaço para outra fala e razão.
Maffesoli (2006) entende que o nosso tempo pode ser caracterizado como
tempo das tribos, pois há um retorno do dionisíaco (emoção enquanto vibração
do instante), que é uma volta ao arcaísmo. Diz Maffesoli (2006, p. 7): “O progresso
linear e seguro causa e efeito de um bem estar social está a ponto de suceder numa
espécie de regresso que caracteriza o tempo das tribos”. E quanto ao reconheci-
mento de uma espécie de conflito entre Eros (emoção) e Apolo (razão), afirma:
Este “princípio do Eros”, do dionisíaco, está ligado a uma perspec-
tiva do destino, que não é compreendido enquanto construção da
história marcada por objetividade (racional), mas por uma objeti-
vidade (também subjetiva) do interesse comum dos indivíduos – o
importante é sentir a vibração. (MAFFESOLI, 2006, p. 18).

Esse é o movimento que observamos nas redes sociais virtuais, mas que pode
ser verificado, por exemplo, em atitudes de intolerância contra os grupos religiosos
de matriz africana9. O que ocorreu com a Campanha da Fraternidade Ecumênica
deste ano de 2021 é uma expressão do que estamos afirmando. A polarização só fez
crescer ainda mais a cultura de ódio. As críticas feitas ao CONIC/CNBB, mais dire-
tamente à sua postura de diálogo com a sociedade brasileira, revelou o quanto esses
grupos não querem conversar com os outros e são diferentes deles10.

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A crítica voltada a determinados grupos sociais expressou que a sociedade
brasileira é racista, discriminatória e se distancia da exigência do Evangelho de
amar ao próximo como a si mesmo, além de demonstrar sua surdez. Durante o
período quaresmal, as Igrejas Cristãs, membros do CONIC, chamaram os fiéis à
conversão ao diálogo como compromisso de amor.
Tal surdez se mostra também como cegueira moral, pois, ao perder a refe-
rência ao outro como pessoa, e na perspectiva da consciência religiosa de frater-
nidade, irmão e irmã, não se pode chamar a Deus de Pai. E assim, surdos e cegos
à palavra, não acolhemos o amor, mas Ele toma a iniciativa e vem ao encontro
do ser humano e oferece sua misericórdia, pois não cansa de amar e perdoar, e
sua ternura abraça toda criatura.

O nome de Deus é misericórdia

Em 2016, o Papa Francisco promulgou o Jubileu Extraordinário da Mi-


sericórdia, e seu objetivo foi colocar a Igreja em uma cultura de misericórdia.
Entretanto, é preciso considerar que ele oferece uma pedagogia da misericórdia
que ultrapassa a possibilidade de uma reforma interna da Igreja como preten-
de com seu pontificado em sua perspectiva franciscana da pobreza. Segundo o
padre Antonio Spadaro (2016), com a visita do Papa Francisco a Lampedusa,
em 8 de julho de 2013, ele indicou uma nova política internacional que tem seu
fundamento na misericórdia11.
Em 29 de novembro de 2015, o Papa abriu o ano jubilar na catedral da
cidade Bangui, na República Centro-Africana, e com essa atitude sinalizou para o
mundo que o nome de Deus é misericórdia e Ele não é indiferente ao sofrimento
humano, preferencialmente dos pobres. Contudo, a misericórdia não só expressa
a necessidade de um renovado compromisso de justiça social como exigência do
Evangelho, mas também uma conversão a uma volta aos evangelhos, ao Deus de
Jesus Cristo, ao Pai misericordioso que Ele revela com seu rosto. Esta conversão
a Jesus, que revela o rosto misericordioso do Pai, é compreendida também na
pessoa do ministro ordenado, o qual deve procurar agir em atitude de discerni-
mento a partir da misericórdia.
A exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, de 19 de março de
2016, no ano do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, propõe uma pedago-
gia pastoral que se assemelha ao método que já havia sugerido com a Evangelii
Gaudium (FRANCISCO, 2016a). Acolher, acompanhar, discernir e integrar são
passos a serem feitos em um processo de acolhimento. Em sua proposta, pri-
meiramente, é preciso considerar o drama existencial das pessoas, ou seja, suas
feridas, o sofrimento real de cada pessoa, e depois acompanhar; neste sentido, o
diálogo com certeza é o modo próprio de fazer isso, pois implica uma profunda
escuta do outro. Quanto ao discernimento, ele deve considerar, em primeiro, a

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conversão pastoral, pois, quanto mais o ministro ordenado aprofunda em sua
vida a experiência com a misericórdia de Deus, mais misericordioso tende a se
tornar também e mais cuidadoso com o discernimento a oferecer, reconhecendo
que a decisão é sempre da pessoa. Por fim, deve integrar a fragilidade. Assim, o
agir com misericórdia faz com que a cultura da misericórdia seja sentida na Igreja
e no mundo. O Papa Francisco afirma que a humanidade está ferida e que ela
precisa de misericórdia.
Várias críticas se seguiram à publicação da exortação pós-sinodal Amoris
Laetitia. Mais do que teses contraditórias, o confronto é entre duas óticas di-
versas. Diz Sorge (2018, p. 111):
Quem critica o papa se coloca na ótica típica do homem que olha
a grandeza de Deus criador (juiz e legislador, exigente e severo),
como acontecia sobretudo no Antigo Testamento. O papa Francis-
co, ao contrário, se coloca na ótica de Deus, Pai, infinitamente bom
e misericordioso, que olha com amor o homem e a sua fragilidade,
como se revelou em Jesus no Evangelho.

Grandes percursos de diálogos

No capítulo V da encíclica social Laudato Si’, o papa Francisco (2015)


propõe grandes percursos de diálogo que nos ajudem a sair da espiral de au-
todestruição em que estamos a afundar. Esses diálogos são com a política
internacional, com as novas políticas nacionais e locais, com a transparência
dos processos decisórios diante da realidade de corrupção, entre as religiões
e a própria ciência. A importância da cultura do diálogo dá-se porque se faz
necessário reconhecer a consciência de uma origem comum, de uma recíproca
pertença e futuro partilhado com todos. Essa consciência basilar é a fraterni-
dade e a amizade social, que propiciam o desenvolvimento de novas convic-
ções, atitudes e estilos de vida.
Merece atenção a afirmação de uma cultura do descarte que sofrem jo-
vens e idosos, diante de um sistema econômico liberal que se impõe sobre o
globo com seu “pensamento único”12 em perspectiva de ideologia libertária
e tecnocrática, reduzindo o ser humano à dimensão econômica e produtiva
enquanto utilitarismo pragmático. Em 2013, na Jornada Mundial da Juven-
tude, no Rio de Janeiro, o Papa lançou um forte apelo ao diálogo entre as
gerações: “Como é importante o diálogo entre as gerações, principalmente
dentro da família”13.
A profecia do nosso tempo é sonhar, e para o Papa não há futuro sem o
diálogo entre jovens e idosos. Em 2 de fevereiro de 2018, ele reconheceu que
não há futuro sem este encontro entre os idosos e os jovens; não
há crescimento sem raízes; e não há floração sem novos rebentos.
Jamais profecia sem memória, jamais memória sem profecia; mas
que sempre se encontrem! (GISOTTI, 2020, s/p).

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O ponto de encontro entre jovens e anciãos é o sonho e fundamenta essa
“cultura do encontro” intergeracional na profecia de Joel 3,1, em que afirma:
“Creio ser a profecia de nosso tempo: Vossos anciãos terão sonhos, vossos jo-
vens terão visões e profetizarão”14 (GISOTTI, 2020, s/p). E entre sonhos estão
os sonhos do Papa para a Amazônia15.
O Papa Bento XVI, por meio da sua encíclica Caritas in Veritate (2009),
afirma que a questão social é antes antropológica. O mesmo faz o Papa Fran-
cisco na Laudato Si’ (2015), ao reconhecer o antropocentrismo desordenado
que experimenta o ser humano. Em Caritas in Veritate, o Papa Bento XVI re-
conhece que se faz necessário refundar o bem comum, e, para tanto, é preciso
considerar três dimensões fundamentais que possibilitem recuperar o reconhe-
cimento da pessoa humana em seus princípios da dignidade humana: legalida-
de, ética e consciência religiosa de fraternidade (dimensão transcendente da
pessoa humana) (BENTO XVI, 2009). Afirma o Papa Bento XVI que somen-
te a consciência religiosa de fraternidade pode devolver o sentido do que seja
o bem comum enquanto salvaguardar a dignidade humana em seus direitos
humanos fundamentais (BENTO XVI, 2009).
O desafio do século XXI é vivermos unidos e convivermos com as dife-
renças, pontua o Papa Bento XVI (BENTO XVI, 2009). Sobre a interculturali-
dade, ele afirma:
A interculturalidade me parece ser hoje uma dimensão que não
pode faltar na discussão sobre as questões básicas da condição
humana. Ela não pode ficar restrita nem ao interior do cristia-
nismo, nem à tradição racionalista do ocidente, apesar de ambos
se considerarem universais em seu autoconceito [...]. Mas de fato
ambos precisam reconhecer que são aceitos e compreendidos
somente em algumas partes da humanidade. Por outro lado, é
bem mais limitado o número de culturas concorrentes do que
possa parecer à primeira vista. [...] Qual a conclusão que se pode
tirar disso tudo? Em primeiro lugar, parece-me inegável que a
universalidade das duas grandes culturas do ocidente, ou seja, a
da fé cristã e a da racionalidade secular, de fato não existe, por
mais que ambas exerçam sua influência, cada uma a sua maneira,
no mundo todo e em todas as culturas. [...] Com outras palavras,
aquela fórmula universal, racional ou ética ou religiosa, que seja
aceita por todos e que poderia sustentar o todo, não existe. Pelo
menos no momento atual, ela não é alcançável. Por isso, também
o assim denominado etos mundial continua sendo apenas uma
abstração. (HABERMAS; RATZINGER, 2005, p. 82-86).

Na encíclica social Fratelli Tutti, de 3 de outubro de 2020, o Papa Francisco


reconhece que estamos às sombras de um mundo fechado na indiferença, que
reacende conflitos anacrônicos considerados superados, cuja política está a ser-
viço de polarizar e que nega ao outro o direito de existir e pensar, recorrendo

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à estratégia de ridicularizar (FRANCISCO, 2020a). Por isso, compreende que o
programa espiritual de São Francisco de Assis pode ser uma inspiração para vi-
vermos a fraternidade simples e aberta com todas as pessoas e em generosidade
com a natureza.
No capítulo VI, intitulado “Diálogo e amizade social”, inicia dizendo que,
“entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possí-
vel: o diálogo” (FRANCISCO, 2020a, s/p). As trocas febris nas redes sociais vir-
tuais não são diálogos, mas monólogos em paralelo. De todos, pode-se aprender
alguma coisa: ninguém é inútil, ninguém é supérfluo. O Papa remete a São Paulo,
que designa um fruto do Espírito com a palavra grega chrestotes (Gl 5,22), a qual
expressa um estado de ânimo não áspero, rude, duro, mas benigno, suave, que
sustenta e conforta. A pessoa que possui essa qualidade ajuda os outros para que
sua existência seja mais suportável. Esse modo de tratar os outros se manifesta
de diferentes formas. “Supõe dizer palavras de incentivo, que confortam, conso-
lam, fortalecem e estimulam”, em vez de “palavras que humilham, angustiam, ir-
ritam, desprezam” (FRANCISCO, 2020a, s/p). Segundo o Papa: “A amabilidade
(amorosidade) é uma libertação da crueldade que às vezes penetra nas relações
humanas, da ansiedade que não nos deixa pensar nos outros, da urgência distraí-
da que os outros também têm direito de ser felizes” (FRANCISCO, 2020a, s/p).

Na escuta do outro e dos outros

Considerando que somos pessoas (personas), seres comunicativos, ou seja,


seres em relação, entendemos que para conviver é necessário cultivar as relações.
Nas filosofias da alteridade, como a reflexão sobre o eu e o tu de Martin Buber,
é possível entender que a igualdade fundamental entre as pessoas se compreende
a partir do reconhecimento do outro enquanto outro, isto é, diferente do eu-
-mesmo. A relação humana acontece na dialética eu-tu, e não na relação eu-isso,
em que o outro é coisificado ou tornado objeto e ainda prolongamento dele.
Emmanuel Levinas traz a definição de rosto como fundamental para entender a
relação humana. Cada pessoa é imagem de Deus, e, portanto, seu rosto é a face
de Deus que merece de nós toda reverência e respeito, pois é sagrada16. Ou ain-
da, o próprio Paul Ricoeur, que oferece uma leitura interessantíssima a partir da
análise que faz da parábola do bom samaritano, em que afirma que a atitude do
bom samaritano é humana, pois o ser humano se torna humano na relação face
a face. Von Zuben propõe uma análise interessante sobre as categorias socius e
próximo na obra ricoeuriana.
Neste texto de Ricoeur, o tema do próximo é pensado de modo radi-
calmente filosófico. O próximo é aquele das relações curtas, imedia-
tas. O mundo do socius é aquele das relações longas, mediatizadas
por circuitos coletivos complexos e anônimos, pelo papel e a função
social. O próximo pode ser tanto o vizinho como o longínquo; o

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próximo é um comportamento, ou antes, uma atitude da ordem do
encontro, mais do que de um determinismo geográfico e social. Nas
palavras de Ricoeur: “[...] o que se lhe responde é que o próximo
não é um objeto social – ainda que nascido da segunda pessoa –,
mas um comportamento em primeira pessoa. O próximo é a pró-
pria conduta de se tornar presente”. Ricoeur nos surpreende em seu
pensamento, quando afirma que a surpresa tem outra fonte, “[...] o
cimo da parábola é que o acontecimento do encontro torna presente
uma pessoa a uma pessoa”. Só um homem, na narrativa, tornou-se
pessoa, próximo, presente, face-a-face. Relembrando Levinas, não
permaneceu na indiferença. Outros dois são definidos pela sua fun-
ção social, o sacerdote e o levita. Eles estão na parábola como o
indivíduo em função social, absorvido pelo seu ofício “[...] e que a
função social a tal ponto o ocupa que ele se acha indisponível para
a surpresa de um encontro; neles a instituição... veda a possibilidade
do acontecimento”. Pode-se, igualmente, relembrar a distinção esta-
belecida por Martin Buber, em seu Eu e Tu, entre a relação EU-TU,
imediata e recíproca, e o relacionamento EU-ISSO, onde o outro é
objetivado. (VON ZUBEN, 2012, p. 452)

Essas filosofias da alteridade são verdadeiros projetos éticos e oferecem


um enobrecimento da dignidade humana tão necessária atualmente em ser re-
cuperada. Reconhecendo a importância da relação humana e considerando que
ser-em-relação com os outros implica dialogar, reconhecemos que o desafio está
no modo como fazer (a atitude). Para o Papa Francisco, este fazer, ou melhor,
este modo de dialogar é com amorosidade, e acrescentamos que tal atitude deve
nascer da escuta, que é a base do diálogo.
Para refletir sobre a atitude da escuta, utilizaremos como referência à lectio,
que, fundada sobre a Bíblia e os padres, põe no seu primeiro degrau a mesma ati-
tude de escuta provinda da herança bíblica: “Shemá, Israel!” (Dt 6,4). O shemá é
a experiência que fundamenta a fé que vem de ouvir a palavra. Ouvir é tornar-se
obediente, e a escuta é atenciosa, pois é necessário ouvir para saber discernir
qual é a vontade de Deus, e, para isso, é importante silenciar para ouvir a sua voz
(COVOLO, 2013).
George Steiner (2018), crítico literário de Oxford, fala da necessidade de
fazer silêncio dentro do silêncio para conseguirmos ouvir o que o autor (nos
textos) tem a nos dizer. Para ele, o ato heroico que precisamos fazer é conseguir-
mos ficar atentos sem sermos interrompidos a qualquer instante pelo toque de
um telefone. Se conseguirmos, a humanidade está garantida; senão, corremos o
risco de estarmos mergulhados em meio a um mundo de informação, mas onde
as pessoas não mais serão capazes de criar e inovar, pois já não há memórias a
serem guardadas, já que aprendemos a ler informações, mas não ter uma atitude
educativa e formativa – responsion – e mesmo dialógica em seu sentido relacional17.

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No século II, Guigo, preocupado com a vida espiritual dos cristãos, ela-
borou um método de exercício espiritual e fez a apresentação orgânica da lectio
divina na célebre carta “ao seu amantíssimo irmão Gervásio”, intitulada também
“A escada de Jacó”. Ele propôs etapas ao que considera como degraus de uma
escada que se eleva da terra ao céu. Assim, compreende que seja possível ao ser
humano cultivar uma vida espiritual a partir de um aprendizado das “lições de
Deus” por meio dos textos bíblicos. Essas etapas são a lectio (nome que dá título
a todo o exercício), a meditatio, a oratio e a contemplatio (COVOLO, 2013).
Na consciência dos padres, a verdadeira lectio é a “doce escuta” de uma pa-
lavra que se dirige pessoalmente ao leitor, que se assemelha ao pedido de Salomão
por um coração que escute. Essa atitude de escuta é amorosa, pois, como vamos
observar nas outras etapas, trata-se do encontro com o Deus que revelou amor
pleno em Jesus Cristo. Na meditatio, segundo a tradição patrística, recolhida por
Guigo, a meditação deve fazer descer a palavra que foi ouvida até o coração. O
coração é a intimidade do ser humano, é onde ele tem nas mãos o seu destino. Vale
para a meditatio das Escrituras o antigo adágio: Cor ad cor loquitur (O coração fala
para o coração). A palavra acolhida e meditada torna-se o veículo da oração. Gre-
gório Magno ensina que a oratio brota espontaneamente do encontro do coração
do homem com o coração de Deus por intermédio das próprias palavras de Deus.
E, por fim, a contemplatio, a recompensa por subir os três degraus, inebria a alma
sedenta com uma rajada de celeste doçura (Carta 12) (COVOLO, 2013).
A experiência da oração é um diálogo amoroso com Deus que é amor. Ele
nos faz saborear a sua doçura. Santo Agostinho também afirma que a experiência
que sente é de saborear a doçura santa. O estar envolvido dessa doçura, verdadeira
candura, é sentir-se amado e amada, isto é, acolhido no seio da Trindade, que é
ternura. Se fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, então em nós há ternura
também. Reconhecer que fomos criados para sermos bons, e, para sermos mais,
é preciso compreendermos o chamado à vocação para viver em comunhão com
Deus, na fraternidade e em cuidado generoso com toda a Casa Comum.

Diálogo em ternura: educar para escutar com amorosidade

À luz da fé, reconhecemos que Logos é Criador e Amor. E sendo Deus a ra-
zão amorosa, compreendemos que em nossas atitudes é possível manifestar essa
bondade e doçura18. A decisão é fruto do discernimento a ser feito, entretanto
podemos escolher escutar com atenção, ou seja, demonstrando querer perceber
como o outro se sente e mesmo se esforçando por compreender a sua percep-
ção, e ainda escutar com amorosidade, isto é, com doçura e ternura.
Segundo o teólogo Carlo Rochetta (2014), a ternura exige, principalmente,
que a pessoa conheça a si mesma, clarificando e colocando ordem no seu modo
de ser, seja no plano psicossomático, sexuado, afetivo, intelectual e moral. A

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transparência, a empatia e a liberdade são as exigências básicas, as condições sem
as quais não é possível “poder ser” em relação a um projeto de vida escolhido
e realizado livremente em direção a uma ternura adulta, que é a ternura de ser.
A ternura exige principalmente que a pessoa se conheça a si mesma,
clarificando e colocando ordem no seu modo de ser, seja no plano
psicossomático, sexuado e afetivo, seja no plano intelectual e moral.
A “transparência”, a “empatia” e a “liberdade”, como foi dito, são
as exigências básicas, as conditiones sine qua non da realização da ter-
nura no plano antropológico. Não basta ser, é necessário poder ser,
em relação a um projeto de vida escolhido e realizado livremente,
passo a passo. Não é possível tender para uma ternura adulta se não
se alcança um mínimo de domínio de si, de autonomia, em uma
busca de unidade entre os sentimentos, pulsões, convicções e ações,
em uma unificação/harmonização do eu pessoal-corpóreo com os
outros, a natureza e o mistério de Deus. O sentido da vida interior e
da disciplina ao qual a fé nos chama é orientado à busca desta unida-
de/harmonia, reencontrando-se, renovando-se e construindo-se dia
após dia, em um processo incansável de apropriação do próprio eu
espiritual-corpóreo, de amadurecimento e de apreciação dos dons
naturais e de graça recebidos, para transformá-los em dom de si e
para os outros. É a ternura de ser: aprender a ser ternura para viver a
ternura de ser. (ROCHETTA, 2014, p. 51).

Neste sentido, é preciso passar do ter ternura para ser ternura, e em Jesus
Cristo a ternura manifestou-se plenamente e realizou-se no ato da cruz, que ir-
rompeu na história pela ressurreição um novo modo de relação entre as pessoas
e a sociedade19. Ao considerar a ternura enquanto modo de ser, tal vivência deve
manifestar-se em nosso agir e, em particular, no exercício do diálogo. Para escu-
tar com amorosidade, assim como na experiência com a palavra, é preciso estar
diante dela em uma atitude de “doce escuta”, do mesmo modo que devemos
estar diante de cada pessoa.
Escutar é colocar-se atentamente diante do outro ouvindo-o com ternura e
manifestando nossa amorosidade. Com amorosidade, a crueldade é destruída, e,
em vez de usarmos a língua para maldizer e ferir, ela será sinal de bendizer e curar.
Escutar com amorosidade é ser capaz de compreender a dor do outro, e
não ser indiferente; é sentir indignação também. Na exortação apostólica pós-si-
nodal Querida Amazônia, o Papa Francisco (2020b) oferece a imagem da Ama-
zônia como mãe e convida-nos a sentir amor por ela e, como filhos e filhas que
a amam, sentir indignação por todo crime que está ocorrendo, em particular
contra os povos indígenas. Convida-nos a contemplar a beleza da Amazônia e
unir-se a ela, em um compromisso de amor que nasce da escuta do seu grito.
Lemos no número 56 da exortação:
Despertemos o sentido estético e contemplativo que Deus colo-
cou em nós e que, às vezes, deixamos atrofiar. Lembremo-nos de
que “quando não se aprende a parar a fim de admirar e apreciar

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o que é belo, não surpreende que tudo se transforme em objeto
de uso e abuso sem escrúpulos”. Pelo contrário, se entrarmos em
comunhão com a floresta, facilmente a nossa voz se unirá à dela e
transformar-se-á em oração: “Deitados à sombra dum velho euca-
lipto, a nossa oração de luz mergulha no canto da folhagem eterna.
Tal conversão interior é que nos permitirá chorar pela Amazônia e
gritar com ela diante do Senhor”. (FRANCISCO, 2020b).

O diálogo em ternura oferece-nos a condição de escutar com atenção e


amorosidade. Um bom diálogo se faz a partir da escuta com amorosidade ao
outro e se manifesta com palavras doces que sustentam e gestos de ternura que
enobrecem, mas também do compromisso de amor que nasce desta “cultura do
encontro” em uma “cultura do diálogo” e ainda do compromisso de amor, que
se manifesta como compaixão feito justiça à terra e aos pobres.

Conclusão

Nosso intuito foi refletir acerca do diálogo na perspectiva da ternura, fa-


zendo referência ao ato de escutar com amorosidade, e, para isso, primeiramen-
te, oferecemos uma reflexão sobre a polarização e sua relação com a surdez da
sociedade brasileira. Em seguida, demonstramos como o Papa Francisco oferece
um evangelho da misericórdia e, assim, tem procurado colocar a Igreja em uma
cultura de misericórdia. Depois, apresentamos uma reflexão considerando o ato
de escutar partindo da compreensão apreendida da lectio divina.
Por fim, procuramos demonstrar a pertinência de reconhecer o ser hu-
mano enquanto ser dialógico em ternura que pode escolher em seu projeto de
vida propor-se a ser ternura e que encontra o sentido dessa decisão em Cristo, a
ternura manifestada por Deus em excelência.
Este texto de antropologia teológica quer ser um contributo para refletir
sobre os elementos que poderíamos considerar evidentes no que tange às re-
lações interpessoais, entretanto, diante da surdez e cegueira moral da própria
sociedade, eles precisam ser recuperados.

Submissão: 21/02/2021
Revisão: 27/03/2021
Aprovação: 14/04/2021

Notas
1 Doutor em Ciência da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
E-mail: joseboareto@puc-campinas.edu.br
2 Bartolomeo Sorge reconhece que a ênfase dada à misericórdia pelo Papa Francisco nos põe
diante da realidade de maneira realista, e não com um realismo qualquer, mas com o “realismo

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de Deus”, pois, para ele, não se trata de propor o ideal evangélico, e sim ao contrário, o “realismo
de Deus” convida-nos a vivê-lo dentro da história, com tudo que comporta. E isso não significa
não ser claro na doutrina, mas evitar cair em juízos e atitudes que não assumem a complexidade
da vida. Diz o Papa Francisco: “[...] Compreendo aqueles que preferem uma pastoral mais rígida
que não deixa espaço a qualquer confusão, compreendo-os. Mas penso sinceramente que Jesus
deseja uma Igreja atenta ao bem que o Espírito espalha no meio da fragilidade: uma Mãe que,
no mesmo momento em que expressa claramente o seu ensinamento objetivo, ‘não renuncia ao
bem possível, mesmo correndo o risco de se sujar com a lama do caminho’. [...] E quem mais
sujou as mãos foi Jesus. Jesus sujou-se mais. Não era um ‘limpo’, mas ia ao encontro do povo,
entre as pessoas e aceitava-as como eram, não como deviam ser” (FRANCISCO, 2016b, s/p).
A verdadeira novidade do Papa Francisco não está na ruptura com o magistério precedente da
Igreja, mas em um ulterior aprofundamento, à luz tanto da complexidade dos condicionamentos
que, na sociedade de hoje, limitam a capacidade de decisão de muitas consciências como do
“realismo de Deus” (SORGE, 2018, p. 109-111).
3 Em uma entrevista ao jesuíta Jacques Servais, o Papa Bento XVI afirma a respeito da miseri-
córdia: “Para mim, é um sinal dos tempos, o fato de que a ideia da misericórdia de Deus se torne
cada vez mais central e dominante – começando pela Irmã Faustina, cujas visões, de muitos
modos, refletem profundamente a imagem de Deus própria do homem de hoje e o seu desejo
da bondade divina. O Papa João Paulo II estava profundamente impregnado por esse impulso,
embora isso nem sempre emergisse de modo explícito. Mas, certamente, não é por acaso que o
seu último livro, que viu a luz imediatamente antes da sua morte, fala da misericórdia de Deus. A
partir das experiências nas quais, desde os primeiros anos de vida, ele constatou toda a crueldade
dos homens, ele afirma que a misericórdia é a única verdadeira e última reação eficaz contra o
poder do mal. Só onde há misericórdia, a crueldade acaba, o mal e a violência acabam. O Papa
Francisco se encontra totalmente de acordo com essa linha. A sua prática pastoral se expressa
justamente no fato de que ele nos fala continuamente da misericórdia de Deus. É a misericórdia
aquilo que nos move para Deus, enquanto a justiça nos assusta em relação a Ele. Na minha opi-
nião, isso evidencia que, sob o verniz da segurança de si e da própria justiça, o homem de hoje
esconde um profundo conhecimento das suas feridas e da sua indignidade diante de Deus. Ele
está à espera da misericórdia. [...] Na dureza do mundo tecnicizado no qual os sentimentos não
importam mais nada, porém, aumenta a expectativa de um amor salvífico que é dado gratuita-
mente. Parece-me que, no tema da misericórdia divina, se expressa de um modo novo aquilo
que significa a justificação pela fé. A partir da misericórdia de Deus, que todos buscam, também
é possível hoje interpretar de cima a baixo o núcleo fundamental da doutrina da justificação e
fazê-lo aparecer ainda em toda a sua relevância” (BADILLA, 2016, s/p).
4 Na encíclica social Laudato Si’, o Papa Francisco propõe a “ecologia integral” como um projeto
ético de solidariedade universal. Ele oferece diretrizes, o que denomina grandes percursos de
diálogo, seja com a política internacional, nacionais e locais, seja com a economia, as religiões
e as ciências. Faz-se necessário também oferecer uma pedagogia, pois quem precisa mudar é a
humanidade – falta a ela a consciência de uma origem comum e recíproca pertença em um futuro
partilhado (BOARETO, 2017, p. 12).
5 A última encíclica social do Papa Francisco intitula-se Fratelli Tutti. O título significa “to-
dos irmãos” e é uma alusão ao programa espiritual de São Francisco de Assis que compre-
endia o sentido da fraternidade de um modo simples e amplo. O Papa convida-nos a essa
redescoberta, e, para nós, cristãos, tal exigência nasce da prática do amor fraterno e, conse-
quentemente, do reconhecimento da pertença à família humana (família de Deus que somos
todos nós, pois somos filhos e filhas do mesmo Pai). Ao reconhecer que estamos vivendo às
sombras de um mundo fechado, propõe a cultura do diálogo como expressão da cultura do

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encontro e, portanto, a amizade social. Neste sentido, afirma que, entre a indiferença egoísta
e o protesto violento, o diálogo é sempre um caminho possível (FRANCISCO, 2020a).
6 Guigo II elaborou uma apresentação orgânica da lectio divina na célebre carta “ao seu amantís-
simo irmão Gervásio”, intitulada também “A escada de Jacó”, largamente difundida e recebida,
igualmente sob os títulos de: “Tratado sobre o modo de rezar”, “Carta sobre a vida contem-
plativa”, “A escada dos monges” e “A escada do paraíso”. Esses diversos títulos do escrito já
exprimem os conteúdos e, conjuntamente, indicam a esperança de frutos espirituais em resposta
à lectio divina. “Um dia ocupado em um trabalho manual”, escreve Guigo II no início da sua carta,
“encontrei-me a pensar na atividade espiritual do homem”. Portanto, exatamente enquanto exe-
cuta uma atividade manual, Guigo percebe que todo trabalho, para ter êxito satisfatório, requer
tempos e ritmos precisos ou – mais exatamente – exige uma série de operações escalares; caso
contrário, parece uma fachada! Então, ele se questiona se, por acaso, também não acontece a
mesma coisa nas atividades do espírito e, em particular, na meditação da Bíblia. E prossegue:
“Apresentaram-se, improvisamente, à minha reflexão quatro degraus espirituais, ou seja, a leitura,
a meditação, a oração, a contemplação. Essa é a escada que se eleva da terra ao céu, composta de
poucos degraus, e todavia, de imensa e incrível altura, cuja base é apoiada na terra, enquanto o
cume penetra as nuvens e perscruta os segredos do céu” (Carta 2). A reflexão de Guigo exige a
nossa atenção, pois nos permite elencar, em ordem, as quatro etapas fundamentais da lectio divina:
a lectio (o nome que dá título a todo o exercício também representa a primeira etapa), a meditatio,
a oratio e a contemplatio (COVOLO, 2013, p. 202-221).
7 Para o escritor e filósofo italiano Umberto Eco, os imbecis que antes falavam apenas em um
bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade, normalmente eram calados, mas
agora eles têm o mesmo direito à palavra de um prêmio Nobel. A TV já tinha colocado o “idiota da
aldeia” em um patamar em que ele se sentia superior, mas o drama da internet é que ela promoveu
o idiota da aldeia e portador da verdade. Essa declaração foi dada durante o evento em que recebeu
o título de honoris causa em comunicação e cultura na Universidade de Turim, norte da Itália.
8 Um texto interessante para compreender o que foi o Império Romano é “Pax Romana: pre-
tensão e realidade”, de Karl Wengst (1991). Ele apresenta, em um estudo minucioso, o que foi o
projeto de pax romana e, consequentemente, oferece uma leitura da realidade social do período
imperial. Com seu estudo, ele pretende oferecer uma análise para olhar “a partir de baixo” a
história do Império Romano, isto é, a partir daqueles que experimentaram o sofrimento, pois “O
olhar ‘a partir de cima’ sobre o brilho de Roma não faz perceber toda a realidade. Ele apresenta
sentido contradito pelas vítimas. Seria importante inverter a perspectiva numa percepção ‘a partir
de baixo’, para que a realidade experimentada como sofrimento não seja entregue ao esqueci-
mento através da glorificação e para que os vencedores da história não triunfem novamente
sobre suas vítimas da descrição da História” (WENGST, 1991, p. 19).
9 Há um aumento exponencial de denúncias por discriminação religiosa no país. Em 2018,
segundo o disque 100, foram 211 denúncias no 1º semestre, enquanto em 2019 esse número
foi de 354 (Cf. Informações do Ministério dos Direitos Humanos e Família). Em 2019, embora
“[...]representem apenas 0,2% da população do Distrito Federal, os adeptos das religiões com
ligações africanas são os que mais sofrem com o preconceito: 59,42% dos crimes de intolerância,
somando todas as religiões, têm esses grupos como alvos” (RIOS, 2019, s/p).
10 Segundo Dom Joel Portela, secretário-geral da CNBB, o clima de polarização da Campanha
da Fraternidade é um reflexo de um fenômeno mundial, mas nem por isso é complacente com
os excessos dos grupos ultraconservadores. Dom Joel afirma que a Igreja não tem ingerência
alguma – a não ser religiosa, com a orientação por padres ou leigos – sobre os grupos de inspi-
ração católica que, por serem associações civis, não há sanções previstas no ordenamento canô-
nico. “Em sua opinião, o ‘único modo de enfrentar esse tipo de atitude é o diálogo, e, no caso
das redes sociais, não compartilhar, não seguir etc.’. Pondera que, numa sociedade democrática,

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todos têm o direito de se manifestar, mas avisa: ‘Deve, contudo, arcar com as consequências,
das manifestações, que acontecem, quando é o caso, perante a justiça civil ou criminal, por ser
instituições apenas civis’” (KLEIN, 2021, s/p).
11 Para o padre Antonio Spadaro (2016), na política de Bergoglio há uma forte teologia radical e se
funda na sua raiz essencial: a volta de Deus. No fundo, o Jubileu da Misericórdia consiste em um
novo anúncio de Deus e ao mesmo tempo oferece novamente a pergunta: quem é Deus? Também
responde como ensina Santo Tomás de Aquino: dizer que Deus é onipotente e eterno significa
afirmar que ele é misericórdia. A misericórdia torna-se categoria política em Francisco, pois a
afirmação de que “nada e ninguém está definitivamente perdido” orienta o curso da história, pro-
pondo uma interpretação da situação e da crise internacional em nova dinâmica. A dinâmica da mi-
sericórdia obriga o “pensamento incompleto”, o “pensar aberto” (SPADARO, 2016, p. 212-213).
12 Na encíclica social Caritas in Veritate, o Papa Bento XVI afirma que há um pensamento único
que se impõe sobre todo o globo como ideologia libertária e tecnocrática. A ideologia libertária
compreende que o sujeito é livre enquanto autônomo, entretanto ela é retirada da sua responsa-
bilidade enquanto cidadão em seu compromisso político. E a ideologia tecnocrática faz um redu-
cionismo antropológico ao reconhecer o ser humano em sua condição materialista utilitarista e,
portanto, considera o desenvolvimento humano em termos de produtividade e desenvolvimento
econômico. Entre tantas consequências do “pensamento único”, a mais notável configura o
declínio da política. Diz o Papa Bento XVI: “O verdadeiro desenvolvimento não consiste pri-
mariamente no fazer; a chave do desenvolvimento é uma inteligência capaz de pensar a técnica e
de individualizar o sentido plenamente humano do agir do homem, no horizonte de sentido da
pessoa vista na globalidade do seu ser” (BENTO XVI, 2009, n. 78).
13 Na Jornada Mundial do Rio de Janeiro, no dia 26 de julho de 2013, o Papa Francisco defendeu
o fortalecimento do diálogo entre as gerações antes de iniciar a oração do Ângelus no balcão
do Palácio São Joaquim, na Glória, Zona Sul do Rio. Ele considerou que a família tem um valor
precioso, por ser “um lugar privilegiado para transmitir a fé”, ressaltou como “como os avós são
importantes na vida da família’’ e comentou ainda que “crianças e anciãos constroem o futuro
dos povos” (SARAIVA, 2013, s/p).
14 Uma notícia do Vatican News, intitulada “os jovens, os idosos e a profecia de Joel”, ressalta
a importância do diálogo entre as gerações. O texto afirma que para o Papa Francisco a conver-
gência entre as gerações se dá nos sonhos. E justamente foram os sonhos, a visão do amanhã,
que mantiveram e mantêm unidos os avós e os netos, que foram repentinamente separados,
adicionando um peso adicional à obrigação do isolamento (GISOTTI, 2020).
15 Os sonhos do Papa Francisco (2020b) para a Amazônia estão descritos nos capítulos da
exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, e diríamos que são os sonhos da Igreja para
a Amazônia: um sonho social que desperte em nós o sentimento de injustiça para que reconhe-
çamos o crime promovido contra a Amazônia, em particular contra os povos indígenas, e por
meio do perdão, no caminho da reconciliação, ocorra um diálogo social, respeitando o sentido
comunitário dos povos amazônicos. Um sonho cultural que seja capaz de reconhecer o poliedro
amazônico, havendo o empenho por cuidar das raízes, a sabedoria ancestral das comunidades
indígenas, e que, neste encontro intercultural, sejam defendidas suas culturas que são constan-
temente ameaçadas, colocando seus povos em risco. Trata-se de um sonho ecológico feito de
água, com o desejo de despertar para um amor maternal com a Amazônia e, assim, compreender
a dimensão do cuidado com ela. É ouvir o grito da Amazônia sem ser indiferente. É contemplar
a terra sem males e mesmo buscar no bem viver dos povos da floresta recuperar a harmonia que
o Evangelho da Criação anuncia.
16 Luiz Felipe Pondé (2012) explica que essas filosofias sustentam o direito da existência do
“outro” e são muito boas como elevação do padrão ético nas relações do mundo, mas às vezes
impossíveis, porque o mundo funciona em outra lógica: troca de interesses e de possibilidades de

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interesses. E aqui temos o problema das ideias: elas são por demais abstratas, e a realidade é sem-
pre maior ou menor que elas. Platão diz que o mundo é mal descrito porque o fazemos desde um
ponto de vista “ideal”, e não real. A idealização do outro é pior porque estamos saturados dos
outros (pessoas que pensam de forma diferente de nós que nos são desagradáveis). Amar o outro
quando ele está longe é lindo, maravilhoso, mas, quando ele tem cheiro e hábitos outros, a coisa
complica. A crítica à bobagem do outro ser lindo não significa a defesa da destruição do outro,
mas encararmos os impasses que a convivência com o outro gera para a filosofia e para a vida.
17 George Steiner (2012), no texto “O leitor incomum”, reflete sobre a obra Le Philosophe lisant,
de Chardin (1734), em que procura fazer uma correlação entre a leitura e a pena na tela de Char-
din. Há uma palavra obsoleta na língua inglesa – responsion – que ainda mantém seu significado
original na Universidade de Oxford, usada no plural: é um processo de exames que testam a
compreensão do essencial apreendido. Essa palavra pode ser usada para sintetizar estágios com-
plexos da leitura representados pela pena na tela de Chardin. Diz Steiner (2018, p. 19-22): “A boa
leitura pressupõe resposta ao texto, implica disposição de reagir a ele, atitude essa que contém
dois elementos cruciais: a reação em si e a responsabilidade que isso representa. Ler bem é esta-
belecer uma relação de reciprocidade com o livro que está sendo lido; é embarcar em uma troca
total (‘é estar pronto para um intercurso’, como diz Geoffrey Hill). A dupla incidência da luz na
página e no rosto do leitor evidencia a percepção por Chardin, desse fato primordial: ler bem é
ser lido pelo que se lê. É assumir responsabilidade pelo texto”. Além da responsabilidade que
tem o leitor semelhante ao pintor, também o silêncio é outro estágio tanto da pintura quanto da
leitura: “[...] Uma leitura genuína requer silêncio (Agostinho, em uma passagem famosa, registra
o fato de seu patrão, Amboise, ser o primeiro homem que ele via ler sem mover os lábios). A lei-
tura, como Chardin a representa, é um ato silencioso e solitário. Trata-se de um silêncio vibrante
de emoção e de uma solidão abarrotada de vida. Mas a pesada cortina separa o leitor do resto
do mundo – do que é mundano (palavra esta que, embora desgastada, aplica-se com justeza)”.
18 “A noção de Logos é fundamental na teologia ratzingeriana e aí coloca-se o fundamento do di-
álogo (relação) entre fé e razão: o Deus bíblico, ou melhor, como o Novo Testamento o descre-
ve, é Logos, é Razão Criadora e que se comunica. O Deus que é Logos comunica-se, dialoga com
a humanidade por meio do rosto de Jesus. Esta afirmação oferece condições para um renovado
diálogo entre fé e razão que não implica um repensar o papel da fé cristã no debate da sociedade
plural e secular, mas um resgate da filosofia (e, com ela, da metafísica, consequentemente)”. Para
ele, “a crise da modernidade não é sinônimo de declínio da filosofia”, mas cabe particularmen-
te a esta última compreender a natureza dessa crise, pois a modernidade bem compreendida
implica uma “questão antropológica”; a “modernidade não é um simples fenômeno cultural,
historicamente datado; ela na realidade obriga a uma nova projectualidade, a uma compreensão
mais exata da natureza do homem”. Assim, o alargamento da razão seria “uma nova abertura
à realidade à qual a pessoa está chamada na sua unitotalidade, superando antigos preconceitos
e reducionismos, para se abrir também assim o caminho para uma verdadeira compreensão da
modernidade” (ASSUNÇÃO, 2018, p. 170-176). Sobre esta compreensão mais alargada da razão
– intelectus –, isto é, descobrir o Logos, que é a Razão Criadora (Amorosa), diz o Papa Bento XVI:
“Qual é o bem que nos torna verdadeiros? A verdade torna-nos bons, e a bondade é verdadeira:
tal é o otimismo que vive na fé cristã, porque a esta foi concedida a visão do Logos, da Razão
Criadora que, na encarnação de Deus, se revelou conjuntamente como o Bem, como a própria
Bondade” (BENTO XVI, 2008, s/p).
19 Diz Carlo Rochetta (2014, p. 322-323): “Não somente o encontro com Cristo é evento de
ternura, mas não é possível compreender o significado pleno da ternura senão olhando para a
figura do Crucificado. Manifestando a ternura de Deus-Trindade e consentindo em remontar à
ternura em Deus-Trindade, o mistério da cruz revela a ternura do homem ao homem e o coloca
em uma condição de graça que só lhe permite realizá-la plenamente. A cruz está no centro da

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história como a nova árvore da vida. ‘Contemplarão aquele que transpassaram’ relembra Jo 19,
37, citando Zc 12, 10. Àquele sinal todos os povos são convidados a olhar para reencontrar a
verdade da vida e da história. O futuro da humanidade e de cada ser humano passa através da
cruz. Nessa está já inscrito o futuro do mundo como futuro de ternura redentora”.

Referências

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