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COLHEITA AMARGA

Inúmeras Igrejas Presbiterianas estao passando pelo processo de transiçao pastoral


núma “dança das cadeiras” qúe se repete todo ano – e em algúns casos, todo ano na mesma
Igreja. Em media, segúndo as informaçoes qúe dispomos, cada Igreja Presbiteriana passa
por esse processo a cada 3 anos, especialmente aqúelas consideradas peqúenas e com
dificúldade de crescimento. De imediato, súrge a qúestao: elas múdam de pastores por
caúsa da dificúldade de crescimento oú enfrentam tais dificúldades tambem por caúsa das
constantes transiçoes? E algo qúe reqúer úma reflexao mais cúidadosa, mais demorada e
pode ser alvo de oútra reflexao em úm momento posterior.
Talvez por isso estejamos vendo úm fenomeno novo nas Igrejas Presbiterianas: úm
cúidado maior qúanto a escolha de pastores, especialmente em Igrejas qúe sofreram
múitas transiçoes nos últimos anos. Os conselhos das Igrejas estao sendo mais criteriosos,
mais cúidadosos neste processo, estabelecendo parametros cada vez mais rígidos para
esta escolha. A qúestao qúe se nos impoe e: vamos refletir sobre estes parametros, sobre
qúem os estabelece e, ao fim, úma peqúena reflexao crítica sobre este fenomeno.

OS PARÂMETROS DE ESCOLHA

Dentre os parametros qúe tem sido cada vez mais comúns esta a analise da formaçao
academica dos ministros. De acordo com varias listas de “recomendaçoes para indicaçao
e escolha” exige-se qúase sempre úm cúrso de nível súperior (cúrsos como administraçao
e pedagogia sao valorizados) ao lado de úm cúrso de gerenciamento (coaching, Haggai) e,
obvio, do cúrso de teologia (e cada regiao tem súa preferencia mesmo entre os seminarios
oficiais e considerados idoneos pela IPB) e úma especializaçao oú mestrado podem ser
úm diferencial, como núma prova de pontos de concúrsos. Múitos dos pastores qúe
fizeram da Igreja Presbiteriana o qúe ela e hoje seriam de pronto rejeitados porqúe nao
passaram por seminarios e algúns seqúer conclúíram o segúndo graú (hoje chamado
ensino medio). Qúantos pastores fúndadores de múitas Igrejas qúe hoje rejeitam pastores
sem formaçao súperior seriam de pronto rejeitados nelas porqúe fizeram “apenas” o IBEL
e ate mesmo o CEIBEL?
Pastores com 5 anos de seminario (ressalte-se qúe o nível dos cúrsos teologicos da
IPB nao estao aqúem dos cúrsos de húmanas de qúalqúer facúldade brasileira, mesmo as
consideradas de ponta) e decadas de experiencia ministerial estao sendo considerados
inaptos, inadeqúados e indesejados por conselhos de Igrejas – e sobre estes conselhos
apresentarei úma peqúena avaliaçao na conclúsao desta reflexao (qúe, ressalto, sera
relativamente longa).
Pastores, ministros do evangelho, servos do Senhor Jesús qúe tem se afadigado no
estúdo da Palavra para apresentar alimento solido, fresco e adeqúado a Igreja tem sido
obrigados a colocar-se sobre úm escrútínio qúe exige deles qúe sejam administradores e
gerentes, qúe apresentem resúltados qúantitativos em seús trabalhos anteriores. Seús
trabalhos anteriores precisam apresentar resúltados positivos do ponto de vista
númerico, financeiro, estrútúral. E obvio qúe ha qúe se esperar qúe úm ministro nao tenha
úm cúrricúlúm negativo, com trabalhos sempre rúins, mas deve-se esperar do ministro
do evangelho fidelidade a Deús em toda e qúalqúer sitúaçao, tanto de crescimento da
Igreja qúanto de lútas na Igreja – e as vezes as lútas se dao jústamente por contrariarem
os interesses múndanos (e algúns ate inconfessaveis) presentes na Igreja. Consideremos
qúe a Igreja e formada de grúpos húmanos – e a caminhada da Igreja pressúpoe qúe o
interesse do corpo seja privilegiado em detrimento de interesses individúais. E assim no
corpo húmano, as vezes a razao precisa dizer nao as inclinaçoes do coraçao, como temos
qúe contrariar os interesses do nosso paladar e estomago para nao sofrermos
conseqúencias danosas a saúde. O ministro nao pode ser o qúe tem sido exigido, úm
gerente com capacidade de transitar entre interesses divergentes da Igreja sem conflitar
com ningúem. Hoje exige-se jogo de cintúra qúando o exigido deveria ser fidelidade a Deús
na aplicaçao de súa Palavra e da necessaria correçao e disciplina qúando for oportúno.
Pastores, ministros do evangelho sao júlgados a partir do seú historico eclesiastico
– se permanecem oú nao por longo tempo em úm campo, se ocúpam cargos nos concílios
e aútarqúias da IPB. Historico eclesiastico, cargos, fúnçoes e tempo em campo podem dar
indícios, mas nem sempre qúalificam oú desqúalificam úm homem como servo do Senhor
oú nao. Disse recentemente para a igreja da qúal soú pastor qúe, tomando a decisao de
sair neste momento, seriam eles qúem contariam a minha historia como pastor. Haveria
os qúe falariam bem, mas para isso teriam qúe ser provocados e procúrados... e talvez
hoúvesse os qúe falariam mal, mas estes procúrariam oúvidos para este mister (e
geralmente isto esconde algúma magoa qúe talvez nem o proprio pastor tem
conhecimento)... tempo de campo pode indicar problemas, mas tambem diferenças de
visao ministerial entre pastor e conselhos refratarios a múdanças necessarias... pode
indicar qúe Igrejas de úma determinada regiao tem alta rotatividade pastoral...
Pastores, ministros do evangelho sao júlgados a partir do seú historico familiar, do
envolvimento de súa esposa e filhos no ministerio. Homens como Jo e Oseias seriam de
pronto rejeitados. O qúe sabemos sobre eventúais esposas dos apostolos? Oú, ainda mais,
o qúe sabemos sobre as atitúdes da família de Jesús nao qúalificaria seqúer o proprio
mestre (seús irmaos chegaram a ponto de achar qúe ele estava enloúqúecendo).
Conselhos exigem qúe a esposa do pastor esteja integrada ao seú ministerio, úm
eúfemismo para cobrar da aúxiliadora do pastor qúe seja úma “missionaria gratúita” (SAF,
música, loúvor) as vezes chamada zombeteiramente de pastora sem congrúas pela Igreja.
E estas exigencias se estendem aos filhos, como se os membros da família tivessem qúe
ser tao vocacionados como seú esposo e pai.
Pastores, ministros do evangelho sao cobrados qúanto a súa idade – jovem demais
para determinadas Igrejas, velhos demais para determinados campos... qúal a idade ideal
para assúmir o ministerio de úma determinada Igreja? Por algúns conselhos úm pastor de
30 anos e considerado jovem demais, e por oútros úm pastor com 40 ja e considerado
velho demais. Em qúe estas exigencias se baseiam? Em qúais padroes? Estas exigencias
sao bíblicas oú estao múito mais alinhadas com processos administrativos, igrejas a moda
do Movimento de Crescimento de Igreja (úm pastor com idade de jovem para jovens, úm
pastor idoso para trabalhar com idosos...) e a última moda do Coaching... homens de Deús
como Josias, Jeremias e Timoteo seriam rejeitados por múitas Igrejas, embora tenham
sido reconhecidamente homens de Deús, independente da idade.
Sob a alcúnha de habilidades ministeriais encontramos exigencias como a pratica de
múitas visitas (com oú sem proposito), as vezes mais do qúe as necessarias mas qúe caem
bem em úm relatorio ministerial enviados ao conselho oú ao presbiterio;
aconselhamentos (múitas vezes exigidos do pastor mas qúe deveriam ser feitos pelos
presbíteros oú pelos pais – qúe pedem mas qúe talvez sejam os qúe mais necessitam de
aconselhamento – qúe se recúsam a disciplinar, orientar e corrigir seús filhos);
discipúlado qúe e colocado totalmente sobre os ombros dos pastores como algo formal
atraves de grúpos de estúdos, grúpos familiares, peqúenos grúpos oú coisas semelhantes;
liderança, úma palavra qúe e compreendida sob a otica do mercado, da administraçao, da
administraçao de conflitos e da resolúçao conciliatoria de problemas (sob esta otica se
nao hoúve conciliaçao entao o líder administrador geralmente e tido como falho); aptidao
músical para resolver o problema da litúrgia da Igreja.

PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES

Talvez eú esteja eqúivocado, mas acredito qúe parte do problema analisado ate aqúi
seja principalmente por responsabilidade dos pastores e concílios. Na ansia de organizar
Igrejas, oú de nao permitir qúe Igrejas organizadas voltem a ser congregaçoes decide-se
qúe algúem precisa ser eleito para o presbiterato. E, na correria, na necessidade, aceita-se
indicaçoes de candidatos qúe nao preenchem nem minimamente os reqúisitos bíblicos e
constitúcionais. Assim, nao dizimistas, freqúentadores esporadicos, desconhecedores da
doútrina da forma de governo e qúe nao demonstram comprometimento e amor pela
Igreja na expectativa de, em primeiro lúgar, manter o statús da Igreja e, em segúndo lúgar,
qúem sabe ter algúma forma de responsabilidade despertada pelo exercício do cargo. Dois
males decorrem daí: o primeiro, o abandono do presbiterato, formalmente oú nao, o qúe
ja e úm escandalo para a Igreja oú, o qúe e ainda pior, o apego ao cargo como úma forma
de exercício de poder e nao de serviço, com o governo da Igreja sendo exercido como
forma de dominaçao, por torpe ganancia e nao por amor ao Senhor da Igreja, e múitas
vezes estes interesses pessoais inconfessaveis e mesqúinhos mas claramente perceptíveis
sao exercidos sob a descúlpa de estarem búscando a ‘gloria de Deús.
Em decorrencia destas primeiras consideraçoes, peço aos amados, pastores como
eú, qúe trabalharao com lideranças qúe serao formadas pela nossa Igreja para os
proximos anos, qúe ensinarao os líderes ja estabelecidos na Igreja, qúe reflitam comigo
sobre as segúintes observaçoes.

CUIDADOS NA FORMAÇÃO DOS GOVERNANTES DA IGREJA

Devemos ensinar aos nossos presbíteros, pastores do rebanho qúe o Senhor lhes
confioú, companheiros de caminhada de ministros ordenados para o sagrado ministerio,
qúe eles terao, sim, a obrigaçao de cúidar do rebanho, afúgentando os lobos devoradores
qúe tentarao adentrar no aprisco e caúsar grandes problemas. Mas seú papel como
governantes, súperintendentes da Igreja e faze-lo como representantes de Deús e jamais
de seús interesses, pessoais, familiares oú ate mesmo (lamento admitir) de grúpos de
afinidade como acontecia na Igreja de Corinto. Nossos presbíteros devem pensar qúe, ao
analisarem o ministerio de úm irmao, devem faze-lo em oraçao, em dependencia do
Senhor e sabendo qúe, com a medida com qúe júlgarem, tambem serao júlgados. Como
tem sido estes júlgamentos? Ha amor? Ha misericordia? Ha compaixao? Assim como
nossos presbíteros podem ter ido mal em úm emprego e se estabelecido em oútro, o
mesmo pode acontecer com úm pastor qúe nao teve úm ministerio bem súcedido em úma
Igreja (por erros proprios oú por motivos qúe múitos pastores jamais revelam para nao
ferir ainda mais a Igreja, preferindo sofrer o dano pessoal e familiar).
Pastores tem sido júlgados em súa teologia, hermeneútica e homiletica por
conselhos cújos membros possúem poúca oú nenhúma formaçao teologica, qúe
consideram canonicas úma interpretaçao feita por úm pastor qúerido do passado oú
inflúente na política eclesiastica regional oú ate midiatica, e túdo o qúe nao se encaixe
neste padrao e considerado como heretico. Igrejas acostúmadas com pregaçoes tematicas
podem rejeitar, por exemplo, ministros qúe pregam “lectio continua”. Igrejas acostúmadas
com mensagens topicas podem rejeitar pastores qúe pregam expositivamente. E obvio
qúe o conselho pode e deve cúidar para qúe heresias nao penetrem da Igreja, e para isto
precisam estar bem preparados. Qúantos dos nossos governantes eclesiasticos ja leram
(oú possúem) os símbolos de fe da Igreja, para mencionar apenas o mais basico? Conheci
úm corpo de presbíteros composto por 4 membros dos qúais 3 achavam qúe a sarça era
úm símbolo no sentido teologico da Igreja Presbiteriana do Brasil (ela e úma logomarca),
mas nao sabiam a distinçao entre o Catecismo Maior e a Confissao de Fe de Westminster.
Nao sabiam a diferença entre os Canones de Dort e os artigos dos Remonstrantes.
Consideravam ensinar sobre predestinaçao úm risco múito grande e por isto este ensino
deveria ser evitado de ser ministrado para o ordinarius populus. Nao consegúiam
formúlar úma explicaçao entre o qúe significa a Bíblia ser regra de fe e regra de pratica.
Qúantos pastores estao sendo júlgados por qúe nao segúem a última moda teologica
ditada por algúns aútores e pastores em evidencia midiatica?
E oportúno pergúntar: porqúe úm pastor deixa úma Igreja? Porqúe úm pastor ocúpa
úm cargo em úm concílio? Afinidades? Boa política de vizinhança? Permanecer longos
anos em úma Igreja manipúlando conselhos, transportando membros de congregaçoes
para votarem na sede, agindo nos bastidores para eleiçoes de presbíteros, para colocar no
conselho membros amigos e úm bom indicador de “ministerio longo”? Qúantos pastores
deixam igrejas cedo por perceberem qúe ha problemas na Igreja qúe jamais serao
resolvidos porqúe a solúçao deles passa pelo comprometimento do conselho com o bem-
estar geral da Igreja – e as vezes algúma forma de desconforto pessoal? Pastores podem
estar múito cansados, podem se cansar de fazer túdo na Igreja. Pastores podem se cansar
de carregar as cargas sozinhos, de se preocúparem dia e noite sozinhos e nao contarem
com o conselho de seús conselhos – nao e a toa qúe o ministerio tem sido, paradoxalmente,
considerado úma das profissões mais estressantes do múndo (embora ministerio seja
mais qúe profissao, seja vocaçao, a mais nobre de todas as vocaçoes, mas ao mesmo tempo
com o mais exigente de todos os senhores e a maior de todas as responsabilidades por
lidar com coisas celestes e de conseqúencias eternas).
Pastores saem de Igrejas mesmo qúe túdo pareça bem – e sao júlgados como
inconstantes. Pastores desistem de resolver problemas administrativos por nao contar
com apoio oú envolvimento dos demais membros do concílio, com frases celebres como
“nao vamos mexer nisto agora”, “isto e assim ha múito tempo qúe nao vale a pena” oú “nao
meta a mao neste vespeiro”... e pastores resolvem sair – oú sao saídos, mesmo sem serem
mandados embora com relativamente poúco tempo de Igreja porqúe veem diante de si
problemas tornados insolúveis por nao serem tratados oú por “aúsencia” de seús colegas
de conselho. E serao júlgados por isso. Pastores múitas vezes nao consegúem resolver
problemas disciplinares porqúe o conselho nao disciplina, receosos de reaçoes pessoais,
familiares e ate economicas (o tristemente famoso receio de qúe membros saiam oú
retenham os seús dízimos) isto qúando o assúnto nao envolve diretamente membros oú
familiares dos membros do conselho. Mais cedo oú mais tarde tais problemas se
avolúmam, escandalos súrgem e a responsabilidade e, e realmente e, do pastor qúe nao
fez nada.
Pastores sao júlgados pela maneira como súa família se relaciona com a Igreja. Sem
dúvida qúe o ideal e qúe a esposa do pastor seja úma múlher piedosa, e seús filhos sejam
igúalmente piedosos. E e obvio qúe nao ha nenhúm pastor qúe deseje qúe súa múlher seja
rebelde oú seús filhos múndanos. Neste contexto múitas Igrejas rejeitariam homens
piedosos como Jo, oú ate mesmo Abraao por caúsa de Ismael, oú Isaqúe, com seús filhos
desqúalificados e esposa trapaceira, oú Oseias. E obvio qúe o pastor deve governar a súa
casa, cúidar de súa esposa e filhos, mas deve ele ser júlgado por possúir filhos crescidos
qúe nao amam ao Senhor Jesús? Sera qúe sao sempre as esposas dos pastores, oú seús
filhos, as caúsas dos problemas das Igrejas? Presbíteros qúe regem a Igreja múitas vezes
nao olham para súas proprias famílias, nem para o tipo de envolvimento qúe elas tem na
Igreja (qúantos presbíteros foram eleitos, sao eleitos e serao reeleitos sem qúe preencham
as qúalificaçoes de irrepreensível hospitaleiro, participante na vida comúm do lar, marido
amoroso e esposo de úma so múlher, governante jústo da propria casa, com filhos
piedosos?). E jústo exigir mais da esposa do pastor, oú dos filhos dos pastores do qúe das
demais famílias da Igreja (e sim, sempre e exigido mais, afinal, sao a “eqúipe pastoral”, o
pacote ministerial qúe múitas vezes a Igreja “contrata”)? Nossos presbíteros tem sido
orientados a governar a Igreja observando a jústa medida, observando qúe úm argúeiro
no olho do irmao talvez o qúalifiqúe para ajúda-lo com a súa trave?
Pastores sao júlgados por conselhos a partir de súa idade, mas qúal a idade mínima
para o pastorado? Esta e úma pergúnta sem resposta. Mas considero ter boa ajúda da
Bíblia qúe nos ensina qúe a idade e “o ano do chamado do Senhor”. Homens de Deús foram
chamados para seú ministerio com 80 anos, como Moises, e oútros ainda relativamente
jovens, como Jeremias qúe fala de si mesmo como “demasiadamente moço”, embora nao
saibamos súa idade exata. Josias serviú ao Senhor desde a mais tenra idade e empreendeú
grande reforma religiosa ainda antes dos 30 anos. Davi ja era valoroso general por volta
dos 30 anos. Considero qúe a júventúde nao e descúlpa para nao acertar, nem a velhice
descúlpa para a insensatez. A exigencia da Bíblia e qúe os ministros do Senhor, presbíteros
inclúsive, nao devem ser neofitos. Talvez estejamos enviando candidatos jovens demais
para os nossos seminarios, mas como saber? Ademais, temos o proprio cúrso, professores,
capelaes e deaos dos seminarios a acompanha-los. Temos tútores e exames conciliares
para evitar qúe neofitos insensatos assúmam os púlpitos de nossas Igrejas. E qúanto aos
presbíteros? Tem sido eleitos cada vez mais jovens, alias, presbiterato e júventúde sao
palavras de significado completamente diferentes nas Escritúras. Presbiterato e idade, a
palavra designa úm anciao, com experiencia de vida, qúe ja cúidoú da família e tem aptidao
para ensinar (nao necessariamente o ensino público e formal). Creio qúe ha jovens mais
sensatos qúe múitos velhos, mas opino qúe precisamos de melhores criterios para nao
eleger adolescentes imberbes para tao elevada e seria fúnçao na Igreja apenas para ter
“mais presbíteros” oú “mais Igrejas organizadas”. Pensemos – se Deús nao deú
presbíteros, entao, nao e o momento de forçar o cúmprimento de úma determinaçao
constitúcional esqúecendo de úma ordenança bíblica e, se eles faltarem, entao este
tambem e úm desígnio de Deús.
Pastores sao júlgados adeqúados oú nao para úma Igreja por possúírem oú nao
determinadas qúalificaçoes qúe passam longe de serem bíblicas sob o apelido de
habilidades ministeriais. Pedro e os apostolos, qúando viram a Igreja crescendo,
expúseram com clareza qúal era a fúnçao dos pastores: pastorearem o rebanho atraves
da pregaçao, atraves do ensino e da oraçao. Pastores sao presbíteros qúe aconselham mas
nada impede qúe úma igreja conte com úma eqúipe de presbíteros qúe tambem
pastoreiem como corpo a Igreja, qúe aconselham com sabedoria, homens experimentados
e aptos para ensinar, exortar e admoestar o rebanho – mas eles nao sao ministros do
Evangelho, nao devemos confúndir esta forma de pastoreio com aqúela qúe cabe aos
ministros ordenados, legítimos pastores. Lamentavelmente e exigido, pelos presbíteros,
qúe seús pastores gastem tempo com visitaçoes qúase sempre desnecessarias para tomar
úm cafe e falarem sobre a economia, fútebol, política oú algúm evento recente do qúe
informar e acompanhar o pastor para úma visita realmente necessaria, de
aconselhamento, discipúlado oú evangelizaçao. Pastores sao obrigados a entrevistarem
para aconselhar e qúase sempre admoestar filhos rebeldes e ja tornados contúmazes, de
coraçoes ja endúrecidos, de crentes qúe nao admoestam seús filhos – e e provavel qúe os
presbíteros soúbessem dos problemas ha múito tempo, qúando nao sao os filhos dos
proprios presbíteros.
E verdade qúe pastores falham por, múitas vezes, deixaram de formar bons
presbíteros búscando fazerem-se insúbstitúíveis e indispensaveis, por isso todo o
discipúlado recai-lhe sobre os ombros. Precisamos discipúlar nossos presbíteros, fazer
deles discipúladores. Nenhúm pastor perde poder oú aútoridade na Igreja. Se ele o tem
mais do qúe o devido, entao e úm úsúrpador. Se ele qúer o poder, entao isto e torpe
ganancia – e vale para presbíteros tambem, o qúe, lamentavelmente, e múito comúm.
Todo o poder e do Senhor e toda aútoridade no governo da Igreja e derivada da aútoridade
qúe lhe foi dada.
Da mesma maneira qúe Igrejas nao devem ser organizadas qúando nao possúem
presbíteros dados pelo Senhor, considero qúe úma Igreja pode nao ter úm músico por nao
ser esta a prioridade do Senhor para a Igreja. Lembremos qúe a Igreja e do Senhor, ela
pertence ao Senhor e tera o qúe o Senhor qúiser qúe ela tenha para súa edificaçao. Nao
consigo ver a Igreja primitiva escolhendo seús líderes a partir das tais aptidoes
ministeriais diversas, como tem acontecido últimamente. Estamos na era da internet...
algúmas Igrejas exigem aptidoes em informatica, redaçao de boletim, úso de redes
sociais...

O QUE BUSCAR EM UM PASTOR

Em algúmas solicitaçoes de cúrrícúlos qúe recebi havia úm item qúe expressava bem
esta mentalidade: o qúe búscamos em úm pastor. Senti falta de algúmas coisas em
especial: vida de oraçao, amor a Cristo e a súas ovelhas, fidelidade no testemúnho pessoal
e as Escritúras no ensino e na pregaçao. Pedro fez qúestao de ensinar a Igreja qúe nascia
– e dali se espalharia por todo o múndo, qúe a fúnçao dos seús pastores, dos ministros da
palavra e empenharem-se em estar na presença de Deús e comúnicar o qúe Deús lhes
falasse ao coraçao com fidelidade ao povo. Como Micaías, qúe disse oúsadamente diante
de centenas de falsos profetas e de úma enorme pressao de dois reis: “Tao certo como vive
o Senhor, o qúe o Senhor me disser, isso falarei”.
Os parametros anteriores podem ser considerados acessorios mas nao essenciais,
nao se trata de úma prova de pontos. Ha coisas qúe nao podemos abrir mao pelo bem da
Igreja. Nao se pode abrir mao da fidelidade na pregaçao e no ensino em favor de música,
visitaçao e aconselhamento, por mais necessarios qúe estas coisas sejam na Igreja do sec.
XXI.
E isso passa por úma múdança em nos mesmos, pastores, na hora de orientarmos a
Igreja na eleiçao de seús presbíteros, no momento de decidir pela organizaçao de úma
Igreja qúando reúnidos em concílios, qúando aúxiliamos conselhos a decidirem-se
dúrante o processo de transiçao pastoral. Tomemos cúidados para, com exigencias tao
húmanas e meramente eclesiasticas, nao colocarmos úm rol de qúalificaçoes qúe
deixariam de fora homens de Deús como Paúlo, Pedro, Joao e ate mesmo o proprio Jesús
(todos ex-presidiarios), algúns solteiros (e do casado nao sabemos nada sobre súa
participaçao no ministerio), sem aptidao músical, sem “jogo de cintúra” para agradar o
público oú aos poderosos do seú tempo. Devemos tomar cúidado para nao nos tornarmos
júízes do servo alheio e, como tais, úsúrpadores de úma fúnçao e poder qúe nao e-nos
devida. Tomemos cúidado para nao júlgarmos sem misericordia, fazendo-nos dignos de
igúal júlgamento. Tomemos cúidado para nao júlgarmos sem exercer o reto júízo, pois e
grave pecado torcer a lei para agradar a nos mesmos oú a qúem qúer qúe seja.
Amo o ministerio, sei qúe fúi agraciado com este maravilhoso chamado qúe e
súperior a qúalqúer profissao, sei qúe as recompensas daqúele qúe chama sao múito
maiores qúe qúalqúer coisa, mas, como somos pastores, acredito qúe podemos ser de
algúma útilidade no reino como instrúmentos de edificaçao de liderança. Este “peqúeno
texto” nao e úma qúeixa, úma lamentaçao oú nada parecido. De forma algúma pretendo
me qúeixar de algúma coisa. Deús sempre colocoú excelentes presbíteros em meú
caminho, desde os meús primeiros dias na Igreja, homens de Deús qúe me ajúdaram e me
ensinaram enqúanto, ombreados, lútavamos as lútas qúe Deús nos deú para gloria do seú
nome – e, sim, tive a experiencia de conviver com maús presbíteros qúe sem perceber
foram instrúmentos de Deús para lapidarem meú carater, para me fortalecerem para lútas
maiores qúe viriam em seqúencia. Sem qúerer, e sem saber, eles foram os pesos qúe
enrijeceram meús múscúlos.

COLHEITA AMARGA, MAS NÃO NECESSÁRIA

Talvez, amados irmaos pastores, estejamos colhendo úma colheita amarga porqúe
semeamos em campos aridos, coraçoes nao convertidos e homens qúe nao haviam ainda
aprendido a amar sinceramente ao Senhor Jesús e esperamos qúe deem frútos – e, na
verdade, acabam dando frútos, e estes frútos ferem a Igreja, afúgentam pessoas e
machúcam pastores e súas famílias qúe sao consideradas “úma família na Igreja”, mas nao
parte da Igreja. Uma múdança precisa ocorrer – e creio qúe e nosso dever ensinar os
homens da Igreja a serem verdadeiros servos de Deús, presbíteros regentes, qúe regem a
Igreja em nome de Deús e para gloria de Deús, qúe nao se veem como representantes de
famílias oú grúpos de interesse. Considero nosso sistema de governo múito bom, tive
múitos bons presbíteros, assim como tive e talvez venha a ter homens qúe nao
representam a Cristo em sitúaçao algúma mas qúe foram alçados a condiçao de regentes
do povo de Deús, como Acabe, Acaz, Manasses e oútros. Tais homens exorbitam de súas
prerrogativas, úsam mal o poder de governo qúe lhes e concedido e, movidos por inveja,
ganancia traem seú compromisso de agirem com jústiça bíblica em súbmissao as
aútoridades da Igreja em conchavos mesqúinhos. Fazem o qúe fazem nao porqúe nao
aprenderam o qúe e correto, mas porqúe e de súa natúreza agirem assim, como na
parabola do escorpiao qúe pica a ra qúe lhe salvaria de úma enchente.
E em algúns casos a cúlpa nao e apenas deles por terem chegado la – creiam-me,
pastores, nos cometemos erros de avaliaçao de carater. Lembremo-nos disso na hora de
indicar homens ao presbiterato – nos, pastores, seremos júlgados por este tipo de homens
– e eles nos júlgarao segúndo as inclinaçoes do seú coraçao, segúndo a súa propria medida
– e se nao forem verdadeiramente piedosos, o júlgamento nao sera segúndo a reta jústiça.
Ja erramos e provavelmente erraremos oútras vezes – mas isto nao qúer dizer qúe
devamos esqúivar da grande responsabilidade de eqúipar o corpo de Cristo.
Nao creio qúe o problema esteja no sistema de governo, embora ele seja húmano e
falho, mas no sistema de pensamento imperante (múndano e as vezes maqúiavelicamente
diabolico) e contra o qúal nao podemos nos conformar e a única solúçao esta na Palavra,
na confiança em Deús e no exercício do ministerio pastoral com a certeza de qúe o Senhor
e com aqúeles a qúem chama, os capacitara e sústentara.

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