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MAIS UM ANNO DE TRABALHO

(Relatorio dos trabalhos do


Centro D. Vital, em 1931-1932, lido
pelo seu presidente, á beira do tu-
mulo de Jackson de Figueiredo, em
4 de Novembro de 1932, quarto an-
niversario de sua morte).

Começa em Janeiro o anno civil do Estado e em Dezem­


bro o anno liturgico da Igreja. Mas a Providencia determi­
nou que nós, “ vitalistas”, marcassemos a chronologia dos
nossos humildes trabalhos a partir deste mez de Novembro,
quando Jackson em plena irradiação de mocidade nos dei­
xava para paragens mais altas e mais felizes.
E aqui estamos, mais uma vez, reunidos em torno deste
tumulo obscuro e luminoso, ao mesmo tempo, que encerra
os seus despojos. Tumulo obscuro porque nelle a humildade
christã é completa: nenhum ornato, nenhuma vaidade, ne­
nhum luxo. Nem mesmo o seu nome aqui vemos. Nem mes­
mo uma pedra o recobre. Apenas uma cruz e essa mesma
formada de folhas crescidas na terra que guarda o seu cor­
po. Tumulo obscuro, christianissimamente obscuro.
Mas, também, luminoso. Luminoso porque esta obscuri­
dade irradia da sombra os raios de alento e perseverança com
que nos alimentamos. Luminoso porque a obra que elle creou
está viva, cada vez mais viva, e essa vida a devemos á Pro­
videncia Divina, em primeiro logar, e em seguida ao appello
continuo que dia a dia nos chega deste recanto de silencio
e de paz. Luminoso ainda, porque as previsões que em vida
nos fazia aquelle que hoje o occupa, com os seus ossos e com
a presença impalpavel da saudade de sua alma, todas ellas
se vêm realizando e a morte deste grande espirito só tem
feito confirmar a luz agudissima de sua excepcional penetra­
ção dos acontecimentos.
Tumulo ao mesmo tempo obscuro e luminoso, onde vi­
mos beber o exemplo da humildade e da coragem para
326 A ORDEM

proseguirmos em nossa tarefa. Porque não nos reunimos


aqui para chorar o passado e sim para dar contas áquelle
que continua a ser o nosso chefe, do modo como nos vamos
desempenhando de nossa tarefa de defensores e continuado-
res de sua obra. Repellimos categoricamente todo saudosis­
mo e sabemos que o melhor meio de sermos fieis á alma do
nosso grande orientador e amigo, é trabalhar pela irradiação
da obra que elle iniciou. E\ portanto, uma prestação de con­
tas, uma cerimonia de vida e de saudade sadia que aqui nos
reune todos os annos neste dia 4 de Novembro, em que en­
cerramos e reabrimos a chronologia annual dos nossos tra­
balhos.
Venho aqui, portanto, Jackson, em nome de todos os
nossos companheiros, dar contas daquillo que fizemos de
mais importante no decorrer desses últimos doze mezes,
pela tua e pela nossa Causa, que é a causa de Jesus Christo
e de sua Igreja no Brasil, como semente de toda a nossa de-
feza e regeneração nacional.
Começamos, logo 11a primeira
sessão do nosso anno vitalista, em 6
Apostolado da Com- de Novembro de 1931, por assentar a
munhão Freqüente pedra fundamental de todos os nos­
sos trabalhos: a vida sobrenatural.
Já no decorrer daquelle trágico mez
de Outubro de 1930, quando a nossa unidade esteve a ponto
de romper-se, tinhamos tido occasião de verificar concreta-
mente que só pelo recurso a uma vida espiritual mais inten­
sa, por uma communhao mais intima de nossa fraternidade
no Coração de Nosso Senhor, é que podiamos defender a nos­
sa união e a permanencia do nosso grupo. Convencidos de
que esse é o ponto central de todos os nossos trabalhs e de
que a deficiencia, a inconstancia e a incomprehensão dos de-
verès de nossa vida sobrenatural, pela Missa e pela Eucha-
ristia, estão na base de todos os defeitos do catholicismo em
nossa terra, — deliberamos fundar o Apostolado da Commu-
nhão Freqüente. Seu objectivo principal é justamente es­
palhar a doutrina invariavel da Igreja sobre a posição fun­
damental que o Santo Sacrifício da Missa e a Communhao
durante elle occupam na economia liturgica da Igreja e no
equilibrio profundo de nossa vida individual e social. Entre­
gamos a orientação desse Apostolado aos nossos companhei­
ros Durval de Moraes, Tasso da Silveira e José Carlos de
Mello e Souza, que organizaram a obra *dividindo-a em cir-
culos de 5 a 20 pessoas, espalhadas por todo o Brasil, cada
um sob o patrocinio de um Santo da Igreja, sendo o pri­
meiro o de Santo Thomaz de Aquino, composto de membros
A ORDEM 327

do Centro D . Vital, aqui no Rio. Deliberaram publicar


tambem um boletim de propaganda desse utilissimo aposto­
lado espiritual, base e condição imprescindível de todos os
nossos esforços, chamado o “ Pão da V id a” e de que já sahiu
o primeiro numero em Junho deste anno. Recommendamos
vivamente essa obra aos seus organizadores e a todos os
que participam do nosso movimento ou com elle sympathi-
sem, — pois a nosso ver todo o exito ou o fracasso dos nos­
sos trabalhos depende da maior ou menor propagação desse
Apostolado da Missa e da Communhão Freqüentes e se pos­
sível quotidianas.
Nessa mesma data e por pro­
posta do nosso consocio Xavier de
Prem,io Jackson de Oliveira, o companheiro nordestino
Figueiredo das pescarias tão tragicamente rema­
tadas de Jackson, — creamos o prê­
mio Jackson de Figueiredo.
Consiste esse premio em uma medalha, a que futura­
mente accrescentaremos uma pequena somma em moeda cor­
rente, afim de recompensar e recommendar a melhor obra
inédita publicada no decorrer de cada anno, sobre thema
literário, social ou philosophico, desde que informada pelos
mais rigorosos principios da orthodoxia catholica.
Não estamos aqui, é bom desde já advertir, para fazer
um panegyrico dos nossos trabalhos, mas para relatar obje-
ctivamente os exitos que devemos á Providencia e os fracas­
sos com que marcamos os nossos defeitos humanos. Infeliz­
mente, a creação do premio não correspondeu á nossa ex­
pectativa, não sabemos se por falta de propaganda ou melhor
pelas graves e excepcionaes circumstancias políticas e eco-
nomicas em que decorreu o anno vitalista que hoje encerra­
mos. Nenhum candidato se apresentou a esse premio e só
nos resta appellar para o novo anno que hoje começamos,
esperando que circumstancias mais propicias facilitem a acti-
vidade dos nossos autores catholicos.
A tarefa a que em seguida nos
entregamos foi a de estudar as possi-
Confederação Na- bilidades de uma organização do ope-
cional de Opera- rariado catholico brasileiro em syndi-
rios Catholicos catos profissionaes informados pelo
espirito da doutrina social da Igreja.
Foi o que ficou decidido em sessão de
12 de Novembro de 1931, com a apresentação de um proje­
cto pelo Presidente do Centro. Nomeada uma commissão,
foi o assumpto estudado em varias reuniões successivas, pre­
valecendo afinal o plano traçado pelo nosso companheiro
328 A ORDEM

Lourival Fontes e encarregando-se de redigir outros esta­


tutos parciaes da organização Raymundo Padilha, Cláudio
Ganns e o Presidente do Centro. Todos esses projectos fo­
ram remettidos á approvação de S. E. o Cardeal Sebastião
Leme, bem como ao estudo da Corporação dos Trabalhado- !
res Catholicos de Villa Izabel e á Confederação do Traba­
lho de Bello Horizonte. Desta não obtivemos resposta á
nossa consulta, mas a Confederação de Villa Izabel acceitou
o nosso plano, tendo sido entregue exclusivamente a elemen­
tos operários da mesma Corporação, que já conta 12 annos I
de existencia, a direcção geral da Confederação, officialmen-
te installada ha poucos dias atraz, na sessão de 21 de Outu-
bro, sob a presidencia do Sr. Mario Michelotto
Consideramos essa iniciativa do Centro D. Vital, como um j
dos pontos capitaes do nosso programma. A Revolução de !
1930 veiu mostrar, no Brasil, a crise gravíssima que está por
toda a parte soffrendo o Estado-Individualista, que tentou
organizar-se á revelia da Igreja ou em opposição a ella. Ju l­
gamos que o Estado Ethico-Corporativo, baseado no direito ■
grupai muito mais naturalmente christão que o direito indi- j
vidual do Estado Burguez, está em condições de preencher
muito melhor a finalidade natural do Estado, por cuja sorte
tanto se interessa a Igreja, em sua tarefa duas vezes mille-
nar de salvar as almas e para isso de velar pela justiça e pela
caridade social.
Se a Republica dos Syndicatos, entretanto, que hoje ?e
pretende instaurar no Brasil, se fizer de novo á revelia dos
nossos princípios, como o fez ha quarenta annos a Repu­
blica dos Politicos, — teremos começado uma nova éra poli- j
tica de desagregação crescente e de revolução latente. Para
evitar esse mal ou pelo menos para attenual-o, na medida de ;
nossas forças, é que promovemos essa organisação corpora- \
tiva de todos os trabalhadores catholicos do Brasil, afim
de pesarem amanhã como força efficiente nas novas modali­
dades politicas que se estão preparando. Bem sabemos que
essa actividade chóca um pouco o conservantismo de certos
meios catholicos, mas não é por aventura e sem fundamento,
na razão e na autoridade, que enveredamos por esse caminho.
As directrizes de acção que o Santo Padre Pio X I nos tra­
ça em sua memorável “ Quadragésimo A nno”, com que com­
pletou os ensinamentos de Leão X III, na “ Rerum Novarum”,
não são de molde a aconselhar aos catholicos a abstenção
nessa tarefa considerável, do mundo moderno, de trazer as
classes trabalhadoras, victimas do liberalismo economico, a j
uma participação mais justa na distribuição racional da eco- \
nomia e nas espheras da vida politica nacional. [
A ORDEM 329

A creaçao da Confederação Nacional dos Operários Ca­


tholicos, cuja tarefa principal, para começar, é promover a
quéda da iniqua prohibição que a actual lei de syndicaliza-
ção consagra contra os syndicatos profissionaes de base re­
ligiosa — representará uma nova phase de acção social ca-
tholica no Brasil, caso possa ser levada avante pelo esforço
dos seus dirigentes, o que a Deus rogamos em nossas mais
ardentes orações.
Afim de incentivar o trabalho de
todos os nossos companheiros e pôr
CommissÕes em pratica os dispositivos já consi­
gnados em nossos estatutos, delibera­
mos dividir os socios do Centro pelas
respectivas commissÕes de Theologia e Liturgia, de H isto­
ria e Apologetica, de Sociologia e Letras, de Philosophia e
Sciencias, de Imprensa e de TraducçÕes. Visamos com isso
distribuir os trabalhos, desenvolver as especialidades, esti­
mular os estudos e provocar o exame de todas as matérias
focalisadas á luz dos nossos princípios.
Infelizmente, não foi possivel até hoje levar avante o
nosso plano. Mas o fracasso não nos leva a crer que seja im-
praticavel. -Continuamos a julgar que só distribuindo os
trabalhos poderemos conseguir que todos trabalhem. E es­
tamos certos de que a necessidade desse esforço individual
a ninguém se affigura inútil.
Em uma das ultimas sessões do anno deliberamos mes­
mo crear uma nova commissão, a de Estatística, cujo fim é
levantar todos os dados numéricos possiveis sobre o catho-
licismo no Brasil. A esse respeito, é preciso chamar a atten-
ção sobre o trabalho extremamente interessante do nosso
companheiro Heitor da Silva Costa, publicado no ultimo nu­
mero da “ A Ordem”, sobre a maneira irrespondível de de­
monstrar a allegada maioria catholica do povo brasileiro.
Esperemos que o novo anno nos traga, para os trabalhos
das CommissÕes, uma aura mais benefica.
Outra das creaçoes, que reputa-
mos altamente vantajosa, do perio-
Instituto Catholico do de trabalhos de que aqui vimos
de Estudos Su- prestar contas ao nosso querido mor-
periores to. é a do Instituto Catholico de Es­
tudos Superiores. Decidida a sua
creação, em 11 de Dezembro de 1931,
e obtida a approvação de S. E. o Cardeal para os seus es­
tatutos e programmas de estudos, tivemos a grande ale­
gria de inaugurar o nosso Instituto, sonho de muitas me­
ditações anteriores, no dia 24 de Maio do anno corrente, no
330 A ORDEM

Salão Nobre da Escola de Bellas Artes e com a assistência


de S. E. o Cardeal, de S. Exc. o Nuncio Apostolico, do
Ministro da Educação Dr. Francisco Campos, do Reitor da
Universidade do Rio de Janeiro D r. Fernando Magalhães,
e de uma grande assistência de professores, jornalistas e in-
tellectuaes.
Desde então não cessou a actividade do Instituto. Mais
de cem (100) alumnos inscriptos em suas varias matérias,
Theologia, Philosophia, Sociologia, Introducção á Biologia,
Philosophia do Direito e Philsophia da Mathematica, e uma
frequencia que tem attingido por vezes a mais de 70 alu­
mnos, nos trazem a convicção de que o Instituto poderá
realmente, em sua modéstia actual, vir a ser semente da
Universidade Catholica Brasileira, com que sonhamos ha
muito.
Ultimamente, graças á munificencia do D r. Linneu de
Paula Machado, e sua Exma. Senhora, aos quaes aqui dei­
xamos a expressão dos nossos agradecimentos, pôde o Ins­
tituto receber um mobiliário moderno que muito beneficiou
tanto aos alumnos como aos professores.
Convencidos da necessidade de elevar o nivel de nossa
cultura religiosa, verificando a inutilidade de qualquer orga­
nização efficiente dos catholicos brasileiros antes de conhe­
cerem perfeitamente os pontos fundamentaes de sua Fé e
de tudo o que directa ou indirectamente com ella se relacio­
na e assistindo á falta absoluta de instituições para a cultura
superior catholica dos leigos, entre nós, — julgamos que o
nosso Instituto é uma necessidade e que merece viver pelo
menos até o dia em que outro valor mais alto se alevan-
tar. . . Collocado sob o patrocínio de Santo Alberto Magno,
o grande canonisado de ha poucos mezes, contando com o
apoio cultural de tres grandes ordens religiosas, os jesuitas
pelo nosso assistente, P. Leonel Franca, S. J., os domi­
nicanos pelo nosso professor de philosophia, F r. Pierre Se-
condi, O . P ., e os benedictinos pelo nosso mestre de Theolo­
gia P . Thomaz Keller, O. S. B ., e dos demais professores
Drs. Hamilton Nogueira (Biologia), Sobral Pinto (Direito),
e Souza Vianna, hoje substituído pelo Dr. Alberto Nu­
nes Serrão (Mathematica), além da de Sociologia, apoiado
ainda na assiduidade e na cultüra de um escolhido corpo de
alumnos e muito particularmente de alumnas — contamos
o nosso Instituto, até hoje, entre as obras coroadas de mais
exito das que tem o Centro D . V ital emprehendido.
Deliberada por S. E. o Cardeal D.
Sebastião Leme a creação de varias
Reforma Eleitoral commissoes de Estudo para acompa­
A ORDEM 331

nhar os trabalhos legislativos em curso, a unica que realizou


algum trabalho foi a commissão eleitoral, composta toda de
nossos socios como sejam Everardo Backheuser, Conde Cân­
dido Mendes, Plácido de Mello, Sobral Pinto, Ferreira de
Souza, Silva Costa e Cláudio Ganns. Este ultimo foi o relator
da representação dirigida ao governo provisorio sobre o pro­
blema da reforma eleitoral. Se alguns pontos não lograram
a acolhida que deviam ter tido, como o que diz respeito á
isenção do serviço militar armado para o clero, — outros
conseguiram effeito completo e de grande importancia para
a vida nacional, como sejam a eliminação do preceito que
excluia os religiosos do voto e sobretudo o fracasso da ten­
tativa de excluir a mulher casada do direito eleitoral. Esse
memorial se acha inserto no primeiro numero dos Annaes
da Sociedade Juridica Santo Ivo, ha pouco publicado.
Na sessão de encerramento de
nossos trabalhos em 31 de Dezem-
Problema Social bro de 1931, foi pelo presidente do
Centro D . Vital apresentado um es­
boço de programma em assumptos de
interesse politico, economico e educativo a ser discutido pe­
los socios por occasião da reabertura dos trabalhos em 1932,
adoptando-se, se possivel, um programma social vitalista, que
seria muito util neste momento de tanta confusão de idéas.
Foram pedidas suggestôes a todos os socios de modo a ten­
tar-se um programma commum. Infelizmente, talvez de­
vido á disparidade de opiniões em matérias relativamente
livres, como essa, não vieram senão poucas respostas, de
modo que não foi possivel concretisar esse projecto num
programma de idéas e realizações sociaes do Centro.
Ficou apenas firmado, nessa ses­
são, o programma de palestras a se-
Palestras e Con- rem realizadas, no decorrer dos tra-
ferencias balhos de 1932, pelos socios nas ses­
sões semanaes de estudo, segundo um
programma de theses de livre escolha,
mas articulado num plano geral de estudos. A maioria des­
sas palestras tem sido realizada, falando em muitas ses­
sões, numa variedade de themas que interessam a todos e
tócam differentes assumptos:
1 — Luiz Sucupira, sobre a “ Questão Social” ;
2 — Heitor da Silva Costa, duas vezes sobre os cál­
culos da “ maioria catholica” e sobre “ architectura
religiosa” ;
3 — Cláudio Ganns, sobre o “voto familiar” ;
4 — Durval de Moraes, sobre a “chimica medieval” ;
332 A ORDEM
-

5 — Tasso da Silveira, sobre “ philosophia da histo­


ria” ; |
6 — Padre Lecourieux. sobre “ Santo Agostinho” ; í
7 — Severino Sombra, sobre “ Syndicalisação” ;
8 — Hamilton Nogueira, sobre “ Euthanasia” ;
9 — Xavier Pedrosa, sobre “assistência religiosa nos
hospitaes” ;
10 — Osorio Lopes, sobre a “ imprensa catholica” ; j
11 — Coinde Debané, sobre o “ espirito do Evangelho” ; |
12 — José Mariz de Moraes, sobre Dom Vital. j
Além disso, em todas as ultimas sextas feiras do mez, j
continuam a realizar-se as já hoje famosas conferencias de
nosso assistente espiritual, o grande P. Leonel Franca S. J.,
iniciadas a nosso pedido em 1929 e seguidas por um publico
cada vez mais numeroso e escolhido, que attinge sempre a í
mais de 300 homens !
Além disso, no primeiro sabbado de cada mez tem fa­
lado no radio um de nossos companheiros, na “hora catho­
lica” do Radio Club, em boa hora organizada por D . Ma- '
rietta Lopes de Souza. I
De combinação tambem com a corporação dos traba- j
lhadores catholicos de V illa Izabel, têm falado varios dos
nossos, sobre problemas sociaes e economicos, toda ultima
quarta-feira, na séde da Corporação, de modo a iniciar pra­
ticamente essa approximação de classes que é um dos prin-
cipios fundamentaes da sociologia catholica. Tambem no
nucleo operário catholico da Gavea, fundado pelo nosso
companheiro Mario Sombra, tive occasião de realizar uma j
palestra, }
Quanto á nossa approximação do clero, principio fun- >
damental da acção catholica, que Pio X I define como sendo j
“ a participação dos leigos”, tambem se tem procurado levar {
avante, convidando o Padre Henrique de Magalhães para j-
abrir as nossas sessões de 1932, accudindo ao convite j
do Padre Manoel Gomes para falarmos nas conferen­
cias para operários que iniciou quando a:nda vigário em
Santo Antonio dos Pobres e convidando outros sacerdotes
para falar no Centro e entrar para elle. Já hoje contamos
com varios sacerdotes entre nossos membros, como sejam o
P. Henrique de Magalhães, Monsenhor Joaquim Nabuco,
o P. Manoel Gomes, o Conego Cavalcanti, Monsenhor Mello
Lula e outros que estão para entrar.
Outra serie de conferencias deste anno foi a que realizei
em Bello Horizonte, Em S. João d^El-Rei e em Juiz de Fora, e
durante a ,qual tive a optima opportunida;de de estreitar os
laços intimos que me ligam, de coração e de espirito, e mes-
A ORDEM 333

mo de sangue, á gente sadia da montanha, fiel da balança do


equilibrio nacional nesta hora incerta que vivemos.
Não podemos tambem silenciar sobre a honrosa visita
que nos fez, o eminente Embaixador de Portugal, prof. Mar-
tinho Nobre de Mello, em I o de Julho do corrente anno, na ses
são justamente em que dei conta da minha inesquecível via­
gem a Minas, onde fui recebido de braços abertos por esse
povo mineiro a quem me ligam laços indestructiveis de san­
gue, de amizade e de admiração. O Embaixador portuguez,
figura das mais notáveis dessas novas gerações portuguezas,
que estão dando á gloriosa patria de nossos avós um novo
lustre que é o assombro do universo na hora presente, foi
recebido em nosso meio como um amigo e como um mestre.
Outras palestras têm sido realizadas por nossos compa­
nheiros, em sessões da A . U. C ., da Sociedade Medica de
S. Lucas, da Academia Fluminense de Letras e no Insti­
tuto Albertino. E no 50.° anniversario da repatriação dos
despojos do nosso glorioso patrono, D . Vital, realizamos
uma sessão especialmente dedicada ao acontecimento, tendo
falado sobre o immortal Bispo de Olinda o nosso compa­
nheiro José Mariz de Moraes.
Este anno ficou assignalado pela
fundação de tres novos centros D . Vi-
N o v g s Centros tal, nos Estados, e pelo lançamento
das bases de mais um quarto.
Trata-se dos Centros de Bello-
Horizonte, fundado em Junho deste anno, durante minha vi­
sita, e já hoje trabalhando sob a presidencia do nosso grande
amigo e mestre, o professor Lucio José dos Santos, Reitor
da Universidade mineira. Em São João d'El-Rei foi, então,
empossada a directoria do Centro, fundado alguns mezes
antes pelo infatigavel professor Lara Rezende e hoje em
plena actividade sob sua direcção.
Em Juiz de Fóra, ficaram tambem lançadas as bases
de um nucleo vitalista, sob a direcção desse forte espirito
de catholico militante, que é o professor José Hargreaves,
alma da acção catholica em Juiz de Fóra.
Tivemos tambem o prazer de ver fundado o Centro D .
Vital de Aracaju', terra do nosso Jackson, e sob a presiden­
cia do seu proprio irmão, o nosso excellente amigo Rubens
de Figueiredo e hoje Cicero Sampaio, outra alma de escól,
hoje definitivamente integrado no seio da Igreja.
Tocamos ahi na actividade que o
Centro vem desenvolvendo no senti-
Circulo de Estudos do, não apenas de trabalhar “intra
muros”, para a educação religiosa e
334 A ORDEM

cultural dos seus membros, o que é a base de tudo, mas |


tambem “ extra muros”, na necessidade christã do aposto- ]
lado. O anno de 1932 trouxe-nos mais tres centros novos, j
os de Minas, e temos conhecimento dos trabalhos conti- j
nuos que vem realizando o Centro de São Paulo. |
Outra obra de irradiação, que é a ultima das nossas acti-
vidades este anno, é a dos Circulos de Estudo, espalhados
por todos os bairros da cidade e quanto possivel na proximi­
dade dos centros operários e escolares, onde mais probabili- !
dade existe de propaganda anti-catholica. Uma commissão j
composta de Hamilton Nogueira, Joaquim Ribeiro de Oli- /
veira, Osorio Lopes e Ferreira de Souza ficou encarregada \
de organizar o plano de acção. E como a obra é urgente e j
viva, sem formalismos nem rigor geometrico, adaptando-se j
docilmente, na parte applicada, ás necessidades de cada local, j
já um grupo decidido de aucistas, Hasselmann, Joffily, Mar­
tins, Isnard, Amoroso Anastacio, Jacau’na, se poz á nossa
disposição e já iniciou a organização pratica dos circulos, j
quanto possivel, em combinação com os circulos femininos I
projectados por M lle. Hemptine e já organizados, em nu- ;
mero superior a 20, por D . Cecilia Luiza Rangel Pedrosa e j
um grupo de moças apostolicas, como aquellas que ha deze- j
nove séculos ajudavam o Apostolo das Gentes. |
Por iniciativa do nosso compa- i
nheiro Heitor da Silva Costa e se- !
Liga Eleitoral Ca- guindo o ensinamento da Pastoral j
tholica Collectiva e das directivas do Car- i
deal D . Sebastião Leme, em sua mo­
delar organização da acção catholica f
do Rio, — foi constituida a Liga Eleitoral Catholica para
pôr em pratica as palavras com que D . Leme, em 30 de
Maio de 1931, encerrava o Mez Marianno que no dia se­
guinte ia ter a consagração memorável da Procissão de N .
S. Apparecida.
Installada effectivamente a 8 de Setembro e espalhada
por todo o Brasil, acha-se a Liga Eleitoral Catholica em
pleno funccionamento, no afan de alistar o maior e o me­
lhor numero de catholicos para as futuras eleições, afim de
apoiar os candidatos á deputação que acceitem o seu pro-
gramma de defeza da doutrina social da Igreja. Longo se­
ria entrar em pormenores sobre o espirito e a constituição
da Liga, que é hoje um dos orgãos mais activos da acção ca­
tholica brasileira. Basta que se saiba que tambem ella nas­
ceu do Centro D . Vital, por iniciativa de um dos nossos e
está articulada em nossa organização central.
Outra iniciativa de um vitalista, o nosso companheiro
A ORDEM 335

Henrique Baptista, é a da A. B. C.
Associação de Bi- que visa, como diz o art. l.° dos seus
bliothecas Catho- estatutos já publicados — “ á propa-
licas gação e divulgação das boas leituras”,
bem como “ difficultar e mesmo evitar
a disseminação de escriptos que a
Igreja prohiba” .
Composta de socios isolados, de circulos, de sédes e de
uniões, reune a A. B. C. toda a sorte de grupos de pessoas
“ que disponham de bibliotheca e desejem franqueal-a ás de­
mais”, como de quaesquer associações já existentes, “asso­
ciações religiosas de juventude cathòlica, syndicatos ope­
rários, escolas, hospitaes, asylos, prisões, quartéis, navios
mercantes e de guerra, U. M . C ., empregados de um esta­
belecimento commercial, operários de uma fabricá, circulos
de estudo”, etc., etc., — que desejem propagar entre seus
membros a boa leitura, sadia e educativa. E* inutil encare­
cer a importancia dessa obra, cujo centro é uma secção do
Centro D . Vital, que fornecerá conselhos, esclarecimentos,
listas de bibliographia e mesmo livros se possivel fôr e cuja
peripheria tóca o Brasil todo.
Temos tambem o projecto, em
inicio de realização, de formar uma
Confederação da Central jornalistica, em nosso grupo,
Imprensa Catho- de modo a entrar em entendimento
lica com toda a imprensa cathòlica do
paiz, fornecendo informações, distri­
buindo artigos, mantendo correspon­
dência e troca de material jornalístico, de modo a estimular
as boas iniciativas no Brasil todo e manter uma grande uni­
dade de acção e de doutrina. Será possivelmente esse o nú­
cleo do grande diario catholico que todos pedem, mas que
as circumstancias economicas actuaes tornam por óra uma
utopia, nos moldes em que deveria ser feito. A esse respeito,
redigiu o nosso companheiro Waldemar de Moraes uma opti-
ma carta explicativa, que tive o maximo prazer em assignar
como Presidente do Centro e enviar a todos os Arcebispos e
Bispos brasileiros, explicando o nosso objectivo.
Confederação Nacional dos Ope­
rários, Instituto de Estudos Superio-
Colligação Catho- res, Liga Eleitoral, Associação de Bi-
lica Brasileira bliothecas, Confederação da Impren­
sa, toda essa concentração de obras
catholicas, — desdobradas em um an­
no do nosso Centro D . Vital, do mesmo modo que em 1928
um grupo de universitários creava a Acção Universitaria
336 A ORDEM

Catholica, hoje em plena prosperidade e com mais de 200


socios, sob a presidencia desse incansavel Paulo Sá — tudo
isso exigia uma denominação commum, que mantendo a au­
tonomia de cada nucleo explicasse o laço espiritual e consti­
tutivo que reune a todos num mesmo fe1 ’xe de esforços con-
cordantes. Dahi nasceu a idéa de darmos a esse grupo de
associações o nome de Coliigação Catholica Brasileira, que
é o que actualmente designa a nossa concentração de estu­
dos doutrinários e de acção pratica.
Mas não é apenas um nome que
exigia esse desdobramento de activi-
Nova séde dades especialisadas. Era tambem
uma séde condigna. Todo esse grupo
de associações, algumas de intensa
actividade quotidiana, como a L. E. C. nao podia mais ser con­
tido dentro de sete paredes das duas salas com que a A. U.
C. generosamente nos hospedava na Avenida Rio Branco.
Foi então que nos mudamos para o 2.° andar do edificio,
em que tambem funcciona a Academia de Commercio, á
Praça 15 de Novembro, 101.
Com numerosas salas e de tamanho que permittiu di­
visões interiores augmentando o numero de peças disponí­
veis, forneceu-nos esse edificio, depois de uma adaptação dis­
pendiosa, uma acolhida ampla e condigna, onde podemos of-
ferecer aos numerosos socios da nossa Colligação as vanta­
gens de um verdadeiro centro social.
Com todo esse movimento tem
augmentado o interesse em torno do
Socios nosso grupo de acção e com elle o nu­
mero de associados. Já se encontra o
Centro D . Vital, — que é o tronco
de todas essas ramificações em botão ou em galho já fru-
ctificado como a A . U . C ., — com mais de 170 socios e uma
renda mensal que permitte senão reiniciarmos já nossa acti­
vidade editora, como é de nosso desejo, pelo menos fazer face
ás grandes despezas da nova installação (com o auxilio de
uma subscripção especial a que acudiram os nossos compa­
nheiros com a melhor boa vontade) e ao auxilio necessário
áquelles de nossos grupos que ainda não têm economia pró­
pria. As contas apresentadas pelo nosso thesoureiro José
Carlos de Mello e Souza esclarecem perfeitamente a nossa
situação financeira, baseada exclusivamente na contribui­
ção mensal dos nossos associados.
Dissemos acima que a situação
Actividades edito- economica do Centro ainda não per-
riaes mitte reiniciarmos as actividades edi-
A ORDEM 337

toriaes que tanto marcaram a sua primeira phaçe, logo de­


pois de creado pelo .nosso grande Jackson, pioneiro de tudo
o que vamos fazendo com os olhos fitos no seu exemplo e
amparados na fé em Nosso Senhor Jesus Christo.
Seguindo entretanto as ultimas disposições da vontade
de Jackson, que nos confiou o seu romance inédito “ Aevum”,
foi este publicado no decorrer desse periodo, sendo rece­
bido pela critica com grandes louvores e achando-se quasi
exgotada a edição.
A Livraria Cathòlica. sob a gerencia do nosso compa­
nheiro Simões dos Reis, e atravez das quasi insuperáveis dif-
ficuldades a vencer, está tentando tambem reiniciar a sua
actividacle editorial. E já publicou este anno a excellente
traducção das “ Fioretti”, do nosso Durval de Moraes, uma
segunda edição dos “ Casos Reaes a Registar”, de Felicio
dos Santos, o livro “ Politica” em que reuni as conferencias
feitas em Minas, e tem no prelo a 2.a edição da obra sobre
“Acção Cathòlica” do Cardeal D . Sebastião Leme.
“ A Ordem”, sob a gerencia do nosso amigo Wagner
Antunes Dutra, que é tambem o administrador da Colliga-
ção Cathòlica Brasileira e que reune ás qualidades moraes de
um catholico de fé profunda a subtileza de espirito de um
filho das montanhas mineiras, tem mantido escrupulosamente
as suas promessas aos assignantes, apezar dos grandes pre-
calços da hora que passa. Continuamos a sahir mensalmente,
com o mesmo numero de paginas e com uma collaboração
variada, em que se destacam a “ chronica politica” de Sobral
Pinto e a “ chronica Jitteraria” de Jonathas Serrano.
Durante o ultimo movimento ci­
vil e militar que dividiu o Brasil con-
Appello á paz tra si mesmo e trouxe-nos horas de
grande angustia, como a todos os
brasileiros, mantivemos a attitude ex-
tra-politica que anteriormente tinhamos conservado durante
o movimento de Outubro de 1930. Querendo ir além, entre­
tanto, e trazer á pacificação do Brasil o concurso de nossas
forças moraes, juntamo-nos a grande numero das maiores
associações não politicas do Rio, dirigindo um appello a to­
das as grandes forças em jogo, ao Chefe do Governo, ao Go­
vernador Civil de São Paulo, aos interventores do Norte, ao
Presidente de Minas e ao interventor do Rio Grande do Sul.
Embora em vão, cumprimos com o nosso dever de pacifi­
cação, pois nada esperamos do fragor das armas e do derra­
mamento de sangue de irmãos e sim do esforço incessante,
pela acção e pela oração. E encerrada a lucta dirigimo-nos a
todos os núcleos vitalistas do paiz pedindo uma intensifica-
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338 ORDEM

ção cada vez maior de nossos laços, no sentido de prégar e


empregar os meios espirituaes como os unicos capazes de
salvar o Brasil do desmembramento ou da desnacionali­
zação.
Não posso, emfim, encerrar este
relatorio dos nossos trabalhos, sem
Directoria uma menção muito particular aos es­
forços incontáveis que os nossos com­
panheiros de directoria têm ultima­
mente desenvolvido.
Hamilton Nogueira, vice-presidente, que este anno m ui­
tas vezes presidiu e que se tem desdobrado em conferencias
ou artigos, e está empenhado agora na diffusão dos Circulos
de Estudo; Sobral Pinto, primeiro secretario, redactor dos
“ Annaes” do Centro, onde se regista toda a nossa vida so­
cial, escriptor primoroso da nossa “ chronica politica”, onde
se commentam com serenidade superior e á luz dos princípios
catholicos o tumulto dos acontecimentos actuaes; Luiz Sucu­
pira, segundo secretario, que em pouco tempo conquistou-
nos a todos pela sua admiravel capacidade de servir e a sua
intelligencia em bem servir; José Carlos de Mello e Souza,
espirito de meditação e de vida mystica intensa e que entre­
tanto não se dedigna de redigir escrupulosamente o arido
capitulo das finanças — todos esses companheiros de dire­
ctoria constituem o nervo de nossas realizações. Mas se
fossemos designar a todos os que têm trabalhado pelo Centro,
muito mais longa seria a lista das citações, que aqui limito
estrictamente aos companheiros de directoria, lamentando a
ausência do nosso querido Perillo, que de Almeria onde se
acha como consul, não se cansa de enviar para “ A Ordem”,
collaborações interessantíssimas que nos dão uma visão
panoramica da vida cathòlica em todos os continentes.

Jackson, eis ahi em linhas geraes o que fizemos desde


a. ultima vez em que aqui nos encontramos á beira deste teu
recanto de silencio e de repouso.
Podia ter sido mais. Mas tambem podia ter sido menos. j
A consciência nos diz que fomos fieis, ainda este anno, ás I
promessas que aqui te fizemos no dia doloroso de Novem- j
bro de 1928, em' que teus amigos carregaram chorando paraí
aqui o que o mar nos devolveu de teus despojos. ?
Aqui estamos mais uma vez para mostrar-te que teus

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