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Bilhetes do

Mundo Interior
S santos não falam da santidade. Vivem -na.' Isso
O ncs põe mais à vontade para falar dela. Há, real­
mente, certos termos que infundem mais do que respeito,
Orione, que voltava do Chile e da Argentina, depoisj ®péla nossa mediocridaá* e ..pela
de ter espalhado por lá a obra da Divina Providência,! §f|rraça santificante é a. causá.'' da n
onde milhões de deserdados têm encontrado, no mundo* ®|>Origem, pois, . transcende iníiJ
veneração. Mais do que veneração, uma espécie de a única Herança que não se dissipa: o Amor é o Pão 5 jfriíples desejo. E* •um- chámido >‘a.
intimidação que pode tocar às raias do terror. A san­ Qual não foi o assombro do nosso Cardeal quando oi $er, e a que geralmente" não atend
tidade é, certamente, um dêsses termos e um dèsses humílimo religioso sa^ca do bolso da. batina uma^disS E por isso é tão'frágil, geral
temas. São Francisco de Assis chegava a proibir & ciplina, ajoelha-se antes de falar e começa a ilagelar^| ftteríor. .E tão tumultuosa. Tão red
comemoração das virtudes, heróicas dos santos. “Pra- se, dizendo: “Eminência, eu não sou mais do que urii^ P^JIrevas biológicas e psicológicas
tiquem-na”,. dizia êle a seus companheiros. E começava pobre pecador!” Loucura, dirão fãcilmente os bem pen-^ ^òíí:; com uma 'pinça, como os ciru
per si* demonstrando assim a própria essência da san­ santes. E realmente a santidade, quando vence a>taM l^ryás de um tum or... A vida interi
tidade que é ser um ato, uma vida em atos e não em ponto 0 respeito humano,, toca as fimbrias daqüélal IJglãra e simples como um dia de cé
palavras. E ates que ponham as potências humanas “loucura da Cruz”, de que falava S. Paulo e xéjly nítida e pura como essas noites
.na união maior possível com o Ato em si, com o Ato plenitude da sabedoria -... -v , .* . .... 1; -y ;;.; ^ f I ifptemperamentos solares ou noturn
'jpuro que é Deus. . Mas justamente .por não ser ünívoca:‘a santidaãeí ^ | S fçQ n íO ' a santidade, é tão irred
j; Pois se a santidade, muito mais do que o silêncio é que tem levado aos altares as extravagâncias dels|f iíídade a um tipo único e inva
!e^a solidão, é a condição fundamental da vid a.interior, Felipe Nery -e;^â, 'Vida igual daquele Irmão" -jesuitâ^rfM Sfâc&>^dã- liberdade e da variedad
\è. que vem. de Deus e volta a Êle, sendo, ao mesmo Majorca, que foi apenas" porteiro do seu •conveh:tò. ^wA^çantidade"é também uma con
!tempo, unia’ causa, uma condição e um fim, a que g^com ò^ò silêncio e a solidão. E
podemos fugir ou ser indiferentes ou de q ue;nos ^po­ " S d a mortificação, da humildade,
demos aproximar'em todos os graus, dos mais-elemen-'
tares aos mais sublimes. Por isso é a santidade» -ao
;mesmo tempo, tão humana e tão sòbre-humana. - Por.
TRÍSTÃO DE ATHAYDE juçio qu$ se não é a essência da
I ^ N ã o é a renúncia à felicidade

: iisso é que a Igreja a pede a todos os fiéis, por mais


■jque sintamos a nossa mediocridade, e no entanto eleva
Ifiso. E ’ a alegria do sofriment
pèjamento. E* a vitória dos mal
e ’ viveu por meio.'século a santidade quotidiana e hUmildè á * ;Ausência. :ó fôgo do batismo
tão poucos sl glória dos altares, que os Santos repre-
E da renúnci^.;perfeita, dêsses -santos .sem . n o m e j^ ffl “EroT^mors tua, 0 mors”
; sentam, mais do que os Heróis ou os Gèruos, os faróis
altar devià E xistir 'J é á í: tôdas as *igrejas j e • que -%HS| B P ^ ; ^ U « sçre^ãí tua morte, disse
.'jsolitários que guiam a humanidade. Iluminam de tão
comemoramos no dia da Comunhão dos Santos, 'a «Cristo Senhor nosso. Êsse 0
alto, que no3 .habituamos a considerá-lo 3 çomo $eres
de novembro. Não é. santidade a veleidade .de 1|antidade, a conquista da pleni
de outra espécie, Tqüe -Vivem no' passadç, de què só
temoa notícia quando já se encontram' em regiões ina­
santo. E sim a vontade expressa e sobretudo impiyfMM vitória morrendo, e não matando
Um homem de letras, sem ser teólogo, Georges Duhaine? Igpguardando, da vida pela mo
tingíveis, no espaço e nó*'tempo, e assim nos desculpa­
mos fãcilmente de não os imitar. Como imitar Elias, e demonstrou muito bem no tipo de Satyvin*; a hcètíw ■"é por isso que a santidade é
raptado em seu carro de fogo a regiões misteriosas, que quis ser santo ?em o ser. E alcançou apénaaj| ^■procurá-la, humildemente, po
que os exégetas colocam entre o tempo e a eternidade? caricatura da santidade. Porque ela é, acima de f|çpnsciência da nossa indignida
Como imitar S. Paulo, levado 40 terceiro céu e ouvindo uma eleição, uma vocação. E a vgntade,1que adercA' Meia, da nossa pobreza espiritu
p alavra que a voz humana não pode reproduzir? Cçmo Graça divina,' não é a veleidade que pode apenas ||e| H urá-la na vida! dé cádà dia, poi
imitar, no extremo oposto, um S. Simão E3tilita ou um guir a tentação da vaidade, como. os falsos p r o íe t à ^ lf vontade d e ' Deus nas coisas
3 S. Benedito Lázaro, que se confundem de tal maneira A santidade é, pois, uma causa, uma condição - e ^ M H ffis 'fe it o s . E 0 que Deus quer,
jcom a imobilidade das coisas ou a petrificação da mi* fim da vida interior. E ’ uma causa porque vem de D e p | ^ | gahtidade. ■Apenas... A vid
j séria, que os pássaros faziam ninho nos cabelos dos e representa uma seleção a que todos são cham ádc^Sg ^p rep aração para a santidade,
i? 1discípulos de S. Patrício? pois não há privilegiados, que se isentem dessa jjição daquela. Assim como a san
E para não ir tão longe, um dia, ali no Palácio zaçãp para a guerra santa, senão fugindo a •essa^fàf rnaj-preparação para a beatitude
S. Joaquim, D„.J5ebaatião Leme recebeu a visita de D, cação universal — mas a que fugimos a cada mómènf sSna .eternidade.

■MÊÈ.
um e o dêlsniò. #égòlst a o f al so~m ist fco «Tn d a , o
tropo; quicUsta^ e "s o litá rio . Outro é ;u 0iyíMW^M)ü que não
Deus e (<*iá ao próximo um coração' v a £ iS í^ ^ á r ic lo . O verd
amor .que, ufie a Deijf? e ao ............
p r d x im l^ n ^.f^ U e " - n o s ' fAZ**lfti
nao apenas os nossos am igos mas os nossos inimigos. E’w o que 1
nos fa z estar sempre prontos a perdoar, não por - íraqueza ou uor
com placência com o m al. ou por. mèdo das * represálias, mas por
*»o r peu*r. P.üt J í ^ 116 -<Deus -i:haritas esU e \j
onde entramos em comunhão com Deus temos, fatalmente, de en­
trar em comunhão com o próximo.
E por isso a íesta da Páscoa é lam bem a festa da comunnáo
eom o próximo. Devem os sempre estar prontos a dar, a servir,
a entender, a perdoar, a sarar, a abrir-nos. Tanto em nossa vida
individual, como em nossa vida pública. Tanto na vida doméstica,
como na vida política, nacional ou internacional. Tudo o que seja
fechar o homem no homem, tudo o que seja chauvinismo regiona­
lista ou . nacionalista, tudo o que seja discriminação racial, tudo
o que sejã luta de ciasse, tudo o que seja guerra ou revolução
como sinônimos de discórdia, de im perialism o, eje predomínio da |
fórça, do prestigio, do am or do mundo e das suas glórias, tudo
isso é antitético á comunhão com o próxim o. E por conseguinte, j
é antipascoal. A Páscoa é também a íe s ta da Fraternidade, por- ;
que é a íesta da P atern idade. Se a comunhão com Deus, primeiro I
preceito da Páscoa, nos le v a ao Pai, a comunhão com o próximo
pó* am or de Deus, nos lè v a ao Filho e do Filho aos filh o s . Não
é possível separar o P ai do Filho, na trindade, nem o Pai e o Filho ÍA .
do E sp irito. E essa trind ad e nos deve Uuminar o coração e a vida
para que do amor do P a i passemos ao do Filho que è o Cristo c
do F ilh o ao do Espírito, que é a Igreja e dos três aos homens, a
todos os homens, a quem a Igreja procura levar de novo ao Pal,
com ungar com o Pai, em sua essência trinltária. Êsse espírito
trinitário de amor por todos os homens e não apenas por nossos

%
amigos, ou correligionários, ou conaòionais, ou coraciais, é que a
Páscoa nos ensina, còmo Nosso Senhor nos £hsinou pela parábola
do Bom Samaritano. ,T
m
COMUNHÃO CONOSCO MESMOS «
Essa comunhão pascoal com Deus e com o próximo é que nos
leva, finalmente, àquela reconciliação conosco, que é o m aior bem
a que podemos aspirar antes do repouso eterno, llá, no homem,
forças constantes de d ivis ã o . O homem é uma contradição perene,
desde que não queiramos ver nessa contradição uma contradição
substanciai na sua natureza. A natureza do homem é una,.'VE como
tal a lei de suav4da;_é :or£emf s a v -h a ^ homem
normal é o homem em p az consigo mèsrtio. Mas a norma Ü o ho-
mem é também que essa paz só pode ser obtida à custa de uma |
lula continua. O homem só pode comungar consigo mesmo, como
aliás só o pode fazer com Deus e com o próximo, se conseguir
vencer as tendências que, continuamente, o afastam de sua na?
\ : tureza últim a, para o prender à sua n atureza ferida, às suas In­
clinações contra »i mesm o. Pois 0 maior inim igo do homem, é o
próprio homem. E sempre que êle não procura entrafc? em com u- í
nhão consigo mesmo, as íórças de dissolução e de ^ ls c ó rd ia te ,
I apoderam de sua alma e do seu corpo e os opõem Aim ao outro, j
i como opõem cada um dêles contra sl m esm o. A moléstia o que é j
l senão uma insubordinação de um órgão contra a harmonia geral j
dos órgãos entre si? Um órgã o adoece quando começa a manifes-/
tar-se contra os demais, Xora do ritmo da comunhão o rgâ n ica. '
O mesmo se dá com o esp irito. Quando a nossa Imaginação luta,
por exem plo, contra a nossa inteligência, não podemos estudar.
E sentimos essa tremenda deslocação processar-se em nosso in t e - «
rior, entre faculdades que deveriam normalm ente harm onizar-se ►
e perdemos a paz de esp irito. E sentimos a ruina de todos os ,
] nossos projetos, ou de uma manhô^çle trab alh o ou mesmo de uma
j vida de tra b a lh o s... Tudo por falta de comunhão conosco mesmçs.
I VIuito antes de compreender o Sentido In tegra l dessa comunhão já
! me impressionavam multas sentenças como aquela de Domlnlque,
j de From entin, ou dessas leituras da mocidade que nunca mais nos.
j abandonamos pela vida inteira: «Je me suis mis d’ accord a v e c j
! moi m êm c», dizia o escritor pintor, na sua transparente autoblo-J
: grafia. E nós, há trinta anos, procurávamos êsse acôrdo e s e n tia -!
mos que não estava em nada daqueles pobres substitutivos, com \
que procuramos a Deus nas coisas que Êle nos colocava entre «s|
m&os, para nossa alegria ou nosso desespêro: os livros, as m u lhe-j
res, as viagens, 0 dinheiro, o poder, a beleza, as máquinas, tudo
o que se pode amar para nosso bem ou Id o latrar para nossa per-í
dição. ' \4 |
E ai vem então a voz do Sino e nos cham a à verdadeira co ­
munhão conosco mesmos, k verdadeira ? a z Interior, quamty ch e­
gamos à conclusão de que não somos nada e o mundo é nada •
I a vida e a morte não têm sentido algum, a não ser que com pre-
-j endamos o sentido oculto do Sofrimento, da Renúncia, da H u m il­
dade, do Silêncio. E nesse d ia então, quando a voz de tôdas aa
i sereias se calam ou não conseguem sobrepor-se à voz ?do Sino
| verdadeiro que nos chama à verdade e ao am or, nesse dia com -
j preendemos .que só é possível comungar consigo mesmo, entrar em
j acôrdo com o seu eu profundo, quando comungamos cóm Deü*
i e com o próxim o. Isto é, quando entramos no segrêdo do m is­
tério pascoal.
E êsse è o mistério que estamos vivendo no dia de hoje, dia
em que tudo se une‘ no Pai, para que os filh o s se unam aos pais
e éstes aos filhos e cada um de nós se sinta reconciliado c òn sl*o
mesmo, porque sentiu enfim que viver è comunicar-se, v iv e r / ♦
j ■tfar-se, v iv e r é entregâr-se sem reservas, nessa triplice com u n h io
j- ^ u ^ u m a v e z por ano vivem os no alto do M onte Pascoal, j-mas q u « >
{ &témos dc fa ze r frutificar, dentro de nós, sem çessar, .cajl%c|
I ‘ nijlo <\t nossa existência. •' v * /

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