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SALVAÇÃO DA BURGUEZIA
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Será possivel? Poderá escapar de um completo ani­


quilamento essa classe que trahio o Espirito e que pro­
cede hoje, individual e socialmente, como se desejasse
apenas apressar a própria morte?
£ara responder é preciso distinguir.
Se, por salvação da burguezia, entendermos o pro- V
lorigàmento da actual concepção burgueza da vida, cre­
mos que a resposta só póde ser negativa. De facto, nada
de mais patente do que o fracasso da philosophia bur-
gueza da vida. Quaes os princípios fundamentaes dessa
concépção da existencia?
Seria talvez possivel enumeral-os assim:
a) —. O agnosticfemo em religião.
b) — O subjectívismo em philosophia.
c) — O esthetismo em arte.
d) — O laicismq^em politica-.
e) — O individualismo em economia.
Ora» o que se iios depara, â uma inspecçãoum pouco •
attenta do mundo moderno é que, apezar da anarchia
reinante, todos esses fundamentos ideologicos d» bur­
guesia estão hoje oscilantes ou já por terra I
* Em religião, o qüe^yemoâ é à scisão cada. vez m ai* .
radiçal, entre cretitès e incrédulos. Se estes procuram 4 ^ ,
tirsülftíã consequencias .lógiteasf, dós princíprôs ácceitos
pelos últimos séculos burguezés, chegam nébièséàiifgmerí^ _
tè ao athèismo. E os crentes, ínélhor instruídos, ínais
experimentados ê meditando mais profundamente o

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problema da Fé, abandonam aos poucos as religiões in-
sufficientes ou ^s meias praticas de um catholicismo
convencional e reunem-se de novo em torno da cathedra
de Pedro, da religião em sua expressão integral. Tanto
uns como outros, porém, encontram-se no mesmo aban­
dono do agnosticismov
Em philosophia, vemos a queixa generalisada con­
tra a anarchia mental a que chegamos e todos reconhe­
cem que essa anarchia proveio do abuso dos methodos
subjectivos, que apenas conseguiram disseminar o ve­
neno destruidor do scepticismo. E por toda a parte ve­
mos a exigencia de novos realismos, a necessidade de
repor a intelligencia em um contacto mais profundo
com o ser. De um lado os materialistas, os mecanicistas,
os deterministas, vendo na natureza objectiva e visivei
das coisas a medida da intelligencia humana. De outro
os partidarios da philosophia christã, em suas numerosas
modalidades, os vitalistas, os neo-realistas, estendendo
essa objectividade não só ao dominio das coisas visíveis
mas ao plano das invisíveis. E todos os partidarios dos
dois campos afastando-se do subjectivismo anterior.
Em arte, já não satisfaz o esthetismo. E vemos as
preoccupações sociaes, de um lado, e as preoccupações
moraes e religiosas, de outro, invadindo o campo outr’ora
dominado pelos partidarios da arté pela arte, que foi
a elegancia esthetica da civilisação burgueza, em suas
escapatórias do dominio do economico e do político.
Em política, o laicismo é batido por todos os lados.
Os seus antigos partidarios já não se contentam com o
Estado leigo . Querem - o Estado anti-christao e mesmo
anti-religioso. Ao passó qüe os adyersarios do laicismo
já não se contam pelos dedos; sãõ númerosos^ cqiijscien-
tes do erro commettido e certos da necessidade dç reatar
as relações directas entre o Estada j^a Egreja, em todos
os domínios da vida publica.
Em economia, finalmente, o individualismo é com-
batido pelos dois grandes partidos eçonomicos em lutà:
os communistas e os neo-capitalista-s. E os catholieos,
por sua vez, mais esclarecidos sobre a doutrina social da
Egreja, começam tambem a desligar-se de muitas allian-
ças compromettedoras. E hoje em dia, ninguém ignora
que a tendencia que domina os circulos economicos me­
nos socialistas é uma tendencia nitidamente anti-indivi-
dualista.
Vemos, portanto, em todos os pontos cardeaes da
philosophia burgueza da vida, o descalabro total dessa
concepção, que ha um seculo parecia inabalavel.
A burguezia de hoje, portanto, está no ar, sem
fundamento certo. Vivendo de preconceitos ou de força
adquirida ou então procurando ansiosamente o seu des­
tino.
E ahi temos o segundo sentido em que póde ser en­
tendida a pergunta que fizemos. Poderá haver salvação
para a burguezia? ,
Sim, dizemos nós, se ella renunciar á philosophia
moribunda que oufora* sustentou è souber remontar to­
do o curso dos erros commettidos para começar uma
nova vida. Em outras palavras: renunciar ao suicídio1.
A primeira condição da vida é querer viver. E a
burguezia de hoje não quer viver, pois deseja apenas
gozar ou vencer a vida. E o gozo da vida ou a victòria
social, no sentido burguez da expressão, é a própria re­
nuncia á Vida.
Fala-se muito aqui em. communismo. Todos os
burguezes se colligam por a combatel-o. Deante .do, per
rigo imminente até se lembram novamente de Chri^to...
E jornaes que ha seis mezes' organizavam concurso$C de t
belleza femenina, numá emulação commercial do; rietf-
paganisma que corróe a sociedade biirgüeza moribunda;,
esses jornaes que ainda hoje fazem a apologia doíêspi-
ritismo, como religião tão elevada* quanto o christianis-
mo, começam a sèrvir-se dasr grandes palavras sagràdas,
que é qüasi uiii sâérilegio ver impressas ein taes folhas:
Déufe, Patria* Familia'.
Todos ós burguezes se colligam contra o inimigo j?
commum. Mas não vêm que o Inimigo está no meu* j
delles. Não vêm que' o inimigo é a sua própria alma. i
O que lhes move, em geral, na campanha anii- l
communista é o medo de perder o dinheiro* de perder
as posições, de perder o conforto da vida facil. Não é {=
ideal algum o que os anima. Estimula-os apenas o te- j
m or da morte.
E se assim fôr, se assim apenas é que proceder essa (
burguezia que não quer ter filhos, que considera ainda
a religião boa apenas para o povo ou para as mulheres»
que continua a ver no commercio e na industria o meio
mais rapido de enriquecer, que se agglomera nas cida­
des, que se agita sem finalidade segura, que continua a
ver na vida apenas uma lucta pelo bem estar e pelo-
prazer dos sentidos, — se assim fôr, então, podemos
tocar o dobre da burguezia.
Pois, se continuar no caminho que vae, nada po­
derá salval-a do aniquilamento completo. E esse aniqui­
lamento não é uma ameaça vaga e remota. É’ qualquer (
coisa de muito mais immediato do que pensamos, con­
taminados que ainda estamos pela indifferènçà clamo­
rosa em que vivemos, dos perigos mais sérios que nos »
cercam. Não' falamos da Russia, da China ou dà Aiistra- j
lia. Falamos do Rio, de S. Paulo, do Brasil^inteiro, de 1
tudo o que de mâis perto nos tóca. O perigo é de caída
minuto. Não o perigo de um regimen communista im­
mediato . Mas o da guerra civil, o da anárchia> o da
chihesação deste immenso- e desarticulado Brasil.
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, E o remedio é um só: a volta á verdade, â voltá ás
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fontes, a volta a Deus, a Christo, á Igreja;


Bem sabemos que é infinitamente mais jfacil recei­
tar que applicar. Mas é preciso, pelo menos» que se cía-
mè bem alto a verdade. Disraeli dizia que a forca da
Inglaterra estava em que lá os homens de bem não ti­
nham menos coragem que os canalhas. E* exactamente
o mal do Brasil. Os homens de bem aqui, ou se deixam
levar pelos erros mais crassos de ordem moral e social,
ou se encolhem timidamente. E no entanto não é este
o momento de se encolher. E* o momento de se expor,
de gritar bem alto a verdade, de trabalhar pára- que ella
de novo volte a informar esse pobre corpo amorpho do
Brasil, de que a Revolução de Outubro até hoje não
soube o que fazer.
E mesmo que notemos um ou outro indicio mais
animador, — o ambiente geral é temeroso e os perigos
que nos ameaçám incalculaveis.
Sejam quaes forem, porém, as medidas immediatas
para atalhar ás ameaças mais prementes, o que quere-.
mos deixar aqui bem accentuado, é que todas essas me­
didas politicas, eçonomicas e sobretudo policiaes, só
poderão ter alguma efficacia se a burguezia dominante
souber renunciar á philosophia do suicidio que adoptou
e voltar integralmente áo unico caminho capa^ de im­
pedir a perda integral de nossas almas e também da
nacionalidade. “ Eu sou o Caminho-, disse o Verbo de
Deus. E emi Cfiristo, na sua Igreja, na sua doutrina in­
tegralmente conhecida e praticada é que podemos ter
alguma esperança de impedir a dissolução completa da
nacionalidade e de trabalhar pela salvação moral e phy-
sica da nossa burguezia.

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