SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
– COMO ENTENDER ESTE DESEJO CONSTANTE
DAS GERAÇÕES ACTUAIS PERMANECEREM ALIENADAS –
Introdução
Quando, na década de 60, foi declarada a morte de Deus por uma ala da
teologia norte-americana já a segunda modernidade (Pós-modernismo) tinha
rompido com todo o seu anelo pelo mundo espiritual. É interessante verificar que o
surgimento da teologia que encarnava a secularização, o cientismo e o neo-
positivismo da primeira metade do século XX – a teologia da morte de Deus –
tenha coincidido com o início do seu próprio fim, com o regresso do religioso, com
o relativismo que iria minar a ciência enquanto verdade absoluta e do Maio de 68
que gritava “Tomemos a revolução a sério, mas não nos tomemos a sério” ou “A
imaginação ao poder”.
É natural que já não haja angústia neste novo homem. Durante muito
tempo, ainda enquanto adolescente, desconfiava das inúmeras declarações que ia
ouvindo de cima do púlpito, aquelas que apontavam para um vazio interior do
homem que só podia ser preenchido por Jesus Cristo. O meu cepticismo não se
reportava ao facto de Cristo preencher todo e qualquer vazio da nossa existência,
mas sim se, de facto, as pessoas que estavam à minha volta sentiam esse vazio.
Com efeito, não era isso que eu testemunhava. De vez em quando lá encontrava
uma ou outra pessoa na qual o vazio, a angústia da falta de sentido, era evidente.
Mas essa descrição do estado psíquico dos indivíduos contemporâneos não
correspondia com a maioria dos casos. Durante algum tempo cheguei mesmo a
julgar que esse vazio não era sentido por todas as pessoas, o que na verdade
encaixava sem qualquer problema em muitas teologias da reforma. Mas, aos
poucos, fui percebendo que o vazio, com efeito, está lá, no interior do ser humano,
em qualquer ser humano, mas completamente adormecido pelo seu estado de
embriaguez contemporâneo, isto é, pela alienação constante em que o homem
procura estar.
A tão famosa indiferença, cara aos europeus e que tantas dores de
cabeça tem dado aos missionários espalhados pela Europa, é
simplesmente um produto da alienação. Aquela já passou a fazer parte do
senso comum dos movimentos missionários mundiais: a Europa é o cemitério dos
missionários.
Há uma apatia constante nas novas gerações, uma preocupação pelo
supérfluo excessiva e desproporcionada, como se nós tivéssemos medo de
assumir seja o que for, medo de fazer uma única asserção positiva da qual nos
possamos vir a arrepender, medo de assumir qualquer mentira. Como se para os
pós-modernos só pudesse vir sofrimento da verdade, já que a verdade ou não
existe ou é exactamente isso, sofrimento. Nada há que nos sirva de guia. Estamos
sozinhos e abandonados na existência. Dessa forma, temos de compreender que a
alienação não é algo em relação à qual se possa responsabilizar o alienado. Fazê-lo
é incorrer num grave erro. Ela não é uma procura positiva da parte das gerações
mais novas: é, antes sim, uma consequência. De facto, o jovem de hoje procura
activamente a alienação, faz por ser alienado, mas fá-lo por fugir da
angústia, por não suportar esse estado do homem aporético, nessa
confusão e desorientação constantes.
Por essa razão, a indiferença também não é mais do que um estado de
embriaguez que esconde um profundo vazio existencial, ou seja, uma profunda
mágoa por se julgar impossível alcançar a verdade. Se ao olharmos para um
europeu, ao invés de vermos indiferença passarmos a ver um total estado de
embriaguez, talvez comecemos a entender a nossa actualidade. A indiferença
esconde uma fome de significado. Na verdade, ao contrário do que se poderia
esperar, esta geração é uma geração ávida de sentido! A única dificuldade é
a de não ser possível transmitir seja o que for a um bêbado pois tem de se esperar
que cure a embriaguez. Da mesma forma como não se procura orientações
geográficas a quem não esteja na posse das suas correctas faculdades mentais,
também não se pode falar de Cristo a um alienado durante a sua alienação.
O problema é que as gerações actuais procuram, pelo estilo de vida que
professam, estar constantemente alienadas e muitas são as formas que têm
surgido para satisfazer esta pretensão.
Outrora o vazio existencial que perseguia o ser humano era substituído por
outras ideologias que o motivavam a seguir em frente. Sabemos que uma pessoa
motivada por uma boa causa consegue grandes feitos, principalmente um jovem.
Mas o que se passa na geração de hoje? O descrédito pelas metanarrativas leva-
nos a ficar sem pontos de referência. Como se a realidade fosse éter ao qual não
se pode agarrar. Tudo é fugidio e passageiro. Não há pontos de referência
estáveis, só existe o devir. Que saída poderia restar a este homem que não a
alienação, a fuga, a ocupação frenética que lhe permite desistir de procurar uma
resposta?
É, de facto, deveras impressionante verificar que foi o falhanço em
encontrar a verdade que lançou a sociedade nesta conjectura actual. A verdade
está assim nos dois extremos deste relativismo hodierno. O homem procura ser
alienado porque acredita seriamente que nada mais há a fazer. Ele rejeita até a
possibilidade de adquirir sentido para a sua vida muitas vezes por desconfiança,
por receio de ser enganado, por receio de ser desiludido como os seus pais o
foram. Mas o receio de desilusão, mais uma vez, só faz sentido se se acreditar na
verdade.
Como será possível ao homem de hoje apostar num valor ou num
significado se vê nas gerações mais velhas uma falência das suas opções de vida,
uma dedicação inglória a certas ideologias? Como pode ele não assumir um
cepticismo profundo se vê aqueles que procuravam a verdade perderem-se por
entre os inúmeros corredores da modernidade que acabaram por conduzir a becos
sem saída? Não suportando a vacuidade de sentido, esse constante lançar de um
gesto no vazio, a alienação revela-se como a única opção possível.
Quais são, então, os recursos alienantes utilizados?
Podemos começar pela primeira de todas, por aquela que cruza grande
parte da sociedade, que tem definido a nossa consciência e valores e aquilo que
hoje em dia parece ser o centro nevrálgico da actividade humana: o Sexo.
É óbvia a presente erotização da sociedade. O erotismo e o sensualismo
estão por todo o lado. A percentagem de metáforas ou incitações explícitas ao
sexo nos anúncios publicitários são cada vez mais frequentes e, em alguns dias,
chegam a ser maioritárias nos nossos ecrãs televisivos. Não interessa o produto,
uma simples água ou manteiga podem recorrer a imagens e a uma lógica da
sensualidade para captar a atenção dos consumidores.
Nas camadas mais jovens a temática da sexualidade está sempre presente.
Talvez tal fosse compreensível em adolescentes que assistem às suas mudanças
fisiológicas. Todavia, o fenómeno é transversal a todas as gerações e a cada ano
que passa parece cada vez mais central. O sexo enquanto estratégia publicitária
veio para ficar, não é uma moda passageira.
Antigamente (ainda me recordo perfeitamente) para se referir ao acto do
coito utilizava-se a expressão “fazer amor”. Em meados da década de 90 essa
expressão foi sendo preterida a favor de uma aparentemente mais madura, mais
séria, mais objectiva: relações sexuais. Actualmente, apesar de se usar ainda esta
última, basta somente a palavra “sexo” ou a expressão “fazer sexo”. É importante
analisar estas expressões pois representam posturas diferentes frente ao tema.
Sexo é agora a palavra fria, seca, directa, sem qualquer expressão sentimental
que representa efectivamente o paradigma dominante hoje em dia. O sexo é
apenas isso: já não é mais fazer amor, pois quem há ainda que acredita no amor?
Sem dúvida de que se trata de uma relação mas esta palavra parece ainda possuir
alguma centelha de emotividade da qual se quer expurgar todo o sexo.
Sexo. È exactamente isso, nada mais; é a procura do meu prazer; é a
procura do teu prazer. Apenas e só. Tudo o que se pode acrescentar a esta posição
é dúbio, arriscado, tendendo a expor-nos demasiado à possibilidade de
encontrarmos o engano e, consequentemente, a desilusão.
SEXO E VERDADE
As coisas mudaram de tal modo que aquilo que anteriormente era visto
como uma fórmula científica da psicologia humana entre adolescentes – o rapaz dá
amor em troca de sexo e a rapariga dá sexo em troca de amor – já não faz
qualquer sentido nas gerações mais novas. Quem é que está agora à procura de
amor quando faz sexo? As jovens adolescentes que participam em orgias cada vez
mais frequentes na alta/média alta sociedade? Que procuram activamente o sexo?
Que se enfadam quando têm o mesmo namorado mais do que uma semana? Que
se habituaram a falar de “experiências” com as colegas (e quando não as têm vão
à procura delas)? E aquelas que ainda não perceberam a mudança e procuram o
amor no sexo, rapidamente aprendem pela via mais dura que hoje, o que é certo é
o sexo e apenas o sexo, nada mais.
Alguns pais têm-se recusado a entender estas mudanças recentes, outros
nem sequer se apercebem do que se passa hoje em dia nas escolas e nas festas
entre amigos. Os jovens de hoje estão cada vez mais activos e mais cedo
relativamente à sua vida sexual, não porque procurem afecto mas porque
pretendem uma ilusão de sentido tal como é proporcionada pelo sexo. E este não
só se apresenta como indiscutível e certo (ao contrário de tudo o mais à nossa
volta) como permite obter sensações alienantes, capazes de apagarem a mente
durante alguns momentos, proporcionando uma incontornável impressão de
escape deste mundo com traços de irrealidade. A verdade e o prazer do sexo
permitem fugir da existência amórfica na qual se é obrigado a viver. Uma
realidade feita de lama que se desfaz por entre os dedos a qualquer tentativa de
apropriação e que nos atira para a instabilidade perpétua.
Tendo em conta as circunstâncias actuais, como pode o acto sexual não ser
apelativo? Poderá haver mistura mais explosiva para esta pós-modernidade
(possibilidade de escape baseada numa certeza inabalável)?
Para o homem aporético nada há de mais paliativo do que o sexo, o que,
como consequência, obsequiará o surgimento de um homo ebrius embriagado de
sexo. Qualquer tentativa de lho tirar produzirá uma reacção semelhante àquela
que tem um toxicodependente quando lhe tentam impedir de consumir
estupefacientes, com a diferença de que, no caso do jovem viciado em prazer
sexual, a opção passa pela ridicularização (de alguém que lhe transmita uma
perspectiva diferente) ou pela vida dupla (quando os seus condicionalismos sociais
o aconselham a ser discreto) e não, como no caso do toxicómano, pela recurso à
violência.
A vastidão de toda esta nova conjectura é difícil de imaginar. Agimos mal
quando, perante ela, apenas avançamos justificações hedonistas como causa.
Nesta sociedade que aparentemente abandonou a pretensão de alcançar a
verdade, a busca pela mesma ainda condiciona, mesmo que inconscientemente,
as nossas decisões e acções. Entre a procura obsessiva pela verdade no
Modernismo e a desilusão amarga pela falta dela no Pós-modernismo, o elemento
comum continua a ser o mesmo.
Todavia, o sexo como única verdade possível não pode trazer verdadeira
satisfação. Já Kierkegaard no século XIX havia apontado os problemas intrínsecos a
qualquer filosofia de vida baseada no prazer: o seu fim é o desespero. Desesperam
os homens em aflição constante pela procura incessante de novidade que nunca
trará completa satisfação. A procura de felicidade mediante o prazer é inglória: o
resultado é sempre o descontentamento, numa sede que aumenta à medida que
se experimentam novas formas de prazer e que nunca nos satisfazem. No homem
esteta, a verdadeira felicidade encontra-se sempre ao virar da esquina.
Assim é o retrato da sociedade contemporânea. A alienação momentânea
proporcionada pelo acto sexual não permanece e esvai-se com a facilidade com
que surgiu. A angústia retorna e o ciclo de euforia e angústia que este estilo de
vida fomenta leva ao desespero. Daí que ao homem que pretende estar
constantemente alienado a erotização da sociedade não chega. É preciso algo
mais que preencha esses tempos vazios (a maioria da vida) onde ele regressa a si
e é obrigado a conviver com este nonsense da existência, com a ausência de
referências, com o desconforto e náusea que pressente através de si mesmo e no
que o rodeia. E torna-se urgente outra forma de alienação que evite este retorno
ao estado aporético…
ALIENAÇÃO E CONSUMISMO
OS JOGOS DE COMPUTADOR
Aqueles que ainda julgam que os videojogos têm como públicos alvo as
crianças encontram-se um pouco desfasados da realidade. Hoje em dia os
consumidores de consolas não são mais as crianças mas sim uma franja de
gerações que compreende os mais pequenos até aos adultos com 40 anos de
idade. Enquanto os jogos virtuais representavam uma dimensão no interior do
computador doméstico, jogado principalmente com um teclado, as crianças eram
os seus principais consumidores, mas no momento em que as consolas surgiram
como mais um apetrecho da sala de estar, esta forma de diversão generalizou-se e
passou também a fazer parte dos tempos livres de graúdos. O surgimento de um
aparelho que permitia interacções divertidas com a televisão da sala,
nomeadamente os jogos da PlayStation (a consola que mais contribuiu para este
vício das gerações de jovens adultos), fez com que filhos e pais se sentissem uma
vez mais a brincar juntos, sem que para isso fosse necessário sair de casa ou
permanecerem mudos diante de um programa televisivo. Os jogos de computador
conseguiram essa proeza de fornecer também aos adultos aquilo que lhes faltava
na televisão: uma interactividade onde o herói da trama já não era outro que não
eu mesmo e onde já não se tratava de receber passivamente os conteúdos mas
sim de participar neles. Pais e filhos poderiam quebrar o silêncio que se tinha
estabelecido diante da “caixa negra” e passarem, ao invés, a comunicar mediante
actividades lúdicas que se encontravam à distância de um polegar.
Por outro lado, existe já todo um conjunto de gerações que viveu jogando
este tipo de jogos, incorporando um estilo de vida e de ocupação de tempos livres
que não desaparecem só por se atingir a idade adulta. Pelo contrário: os novos
adultos (20 aos 35 anos) são aqueles que na adolescência já não sabiam divertir-
se sem incorporarem esta dimensão lúdica. Mesmo sem filhos, os jovens adultos
simplesmente estabelecem uma linha de continuidade entre a sua adolescência e
a sua maioridade.
Recordo-me de uma situação recente numa loja FNAC, onde à volta de um
novo jogo virtual de acção se encontravam a jogar e a assistir 7 adultos. Após o
gesto cada vez menos corajoso de um adulto ao pegar no comando, logo se
reuniram à sua volta, paulatinamente, um grupo atento de adultos com mais de 30
anos. Apesar deste ser apenas um episódio já não foi o primeiro assistido e
acredito que será cada vez mais frequente. Há alguns anos atrás seria impensável
um acontecimento como este pois nenhum adulto teria a coragem de se expor
publicamente a uma “actividade tão infantil”. Se hoje isto é possível é porque não
é mais considerado um exercício exclusivo das crianças. Vivemos numa era em
que o ideal de permanecer jovem é absolutamente incontornável. A necessidade
que os nossos pais e avós tinham de marcar a diferença entre a idade juvenil e
adulta já não existe, antes pelo contrário. Gastam-se esforços para que essa
distinção não apareça, ou pelo menos não seja muito visível. O tempo que se
passava em discotecas na adolescência é o mesmo tempo que se passa já com
emprego e, por vezes, com uma vida a dois. O que se pretende é permanecer
jovem não havendo qualquer complexo de revelar posturas, indumentária e acções
juvenis. O que se ambiciona é exactamente isso. A distinção que havia outrora é
agora evitada até onde a idade o permitir (o que será destas gerações quando
atingirem a terceira idade?).
Os telemóveis também vieram obsequiar a utilização de jogos de vídeo
entre os adultos. Apesar de arcaicos e graficamente pouco atraentes, os jogos que
os telemóveis disponibilizam têm permitido aos que viajam comummente em
transportes públicos, utilizar as diversões virtuais como forma de passar o tempo,
divertindo-se enquanto esperam e viajam. Desta feita, os telemóveis
transformaram-se numa divulgação em massa deste tipo de ocupação lúdica e no
futuro serão cada vez mais apelativos.
Mas para além das razões sociais que obsequiaram a incorporação dos jogos
de vídeo como uma actividade banal entre os jovens adultos é a própria natureza
do jogo virtual que oferece uma um estilo de alienação praticamente único.
Se repararmos com atenção, o jogo de computador responde a duas
necessidades fundamentalmente pós-modernas e que se encaixam perfeitamente
no perfil do homo ebrius:
Vivemos numa sociedade obcecada pelo sucesso. Lidamos mal com as
derrotas e fracassos e o alvo da nossa vida é apresentarmo-nos como pessoas
vitoriosas no que fazemos. Estes valores são tão hegemónicos que até penetraram
nas igrejas mediante a teologia da prosperidade: só conseguimos levantar a
cabeça se, de alguma forma, podemos apresentar o sucesso que nos circunscreve,
que emana das nossas acções, pois, viver é ter êxito, não interessa em quê. A
paranóia atingiu um tal grau que a sétima arte não se coíbe de apresentar vilões
ou heróis anti-heróis que nos fazem admirá-los não pelos valores que professam
mas por serem bem sucedidos. Aliás, a nova definição de herói que se encontram
nas películas é exactamente essa: aquele que, no final, consegue obter os seus
intentos, independentemente da natureza dos mesmos. Só dessa forma se
compreende que actualmente se consiga consumir séries e filmes onde a
personagem principal é um advogado que não olha a meios para atingir os seus
fins, ou ladrões de bancos e outras instituições abonadas de capital, ou assassinos
que escolhem matar aqueles que, de forma arbitrária, são consideradas más
pessoas ou ainda o fascínio que o bom vilão passa a ter sobre o bom polícia que o
capturou e vice-versa (pois só um polícia de sucesso poderia capturar um vilão de
sucesso).
Mas qual a relação desta obsessão da sociedade com o mundo dos jogos
virtuais? Não é um facto muito alardeado, mas uma das sensações que os jogos
proporcionam é a da vitória, esmagando um inimigo ou superando um obstáculo
físico (mas virtual) ou intelectual. Os jogos de computador permitem uma radical
sensação de superação de limites, a constante ilusão de ganhar um pedaço de
alguma coisa que, na verdade, nada é. Os que conhecem este tipo de jogos sabem
que os editores necessitam de produzi-los com um equilíbrio bastante difícil de
alcançar, onde a balança tem nos seus pratos por um lado o desafio que o jogo
lança e por outro a dificuldade em ultrapassá-lo. Um jogo demasiado fácil é
abandonado por ser ridículo, por não entusiasmar, por não ser um adversário à
altura. Por outro lado, um jogo bastante difícil que não permite uma superação
progressiva é também abandonado imediatamente: ao invés de proporcionar uma
sensação de vitória provoca no jogador uma desconfortável sensação de fracasso.
Esta é a razão que explica a dificuldade deste tipo de actividade lúdica atingir os
adultos acima dos 40 anos. O facto de não estarem habituados ao joystick nem à
dinâmica do teclado necessária aos jogos de computador faz com que tenham
mais dificuldade em saírem vitoriosos dos mesmos. Mas para aqueles que
experimentam a progressão num jogo, a probabilidade de incorporarem este
divertimento no seu dia-a-dia aumenta exponencialmente. Também não é por
acaso que todos os jogos de computador incluem a possibilidade de configurar
previamente a sua dificuldade, permitindo uma progressiva adaptação ao mesmo.
Trata-se de facilitar o equilíbrio.
A oportunidade de sucesso no mundo virtual pode ainda colmatar algum
fracasso da vida real, numa verdadeira lógica de substituição. Se no mundo real
não se tem êxito nas relações amorosas, profissionais, etc., tudo isso pode ser
alcançado virtualmente, obtendo assim as sensações que, de outra forma, estão
vedadas. Mas, é importante frisar, que a possibilidade de sucesso no mundo do
jogo de vídeo não atrai somente quem não o tem na vida real mas qualquer um
que a experimente: vencer uma inteligência artificial, superando os desafios
apresentados, é aliciante para qualquer um.
Em jeito de conclusão
Novembro de 2008
Manuel Rainho