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Este artigo tem como objetivo principal desmentir uma falsa acusação que levou
milhares de judeus a morte ao longo da história. Essa acusação que foi feita pelos
primeiros cristãos e seus principais líderes após o período apostólico ecoa até os tempos
atuais. E por isso fizemos uma pesquisa para entender o resultado dessa acusação que é
a acusação de que os Judeus cometeram Deicídio, ou seja, que mataram Jesus. Após
essa pesquisa, ficou evidente que os resultados dessa acusação foram terríveis em todos
os sentidos para o povo Judeu. Em seguida analisamos algumas das principais crenças
derivadas dessa acusação e chegamos a conclusão que não existe nenhum fundamento
para defender tais crenças e que os Judeus não são Responsáveis pela morte do Messias,
e sim a liderança Político-Religiosa da época.
Palavras-Chave: Assassinos. Deicídio. Antissemitismo. Judeus. Cristãos.
ABSTRACT
This article’s main objective is to deny a false accusation that led to thousands of Jews
dying throughout history. This accusation that was made by the first Christians and their
main leaders after the apostolic period echoes to the present day. And that’s why we did
research to understand the result of this accusation, which is the accusation that the Jews
committed Deicide, that is, that they killed Jesus. After this research, it became evident
that the results of this accusation were terrible in every way for the Jewish people. We
then analyzed some of the main beliefs derived from this accusation and came to the
conclusion that there is no basis to defend such beliefs and that the Jews are not
Responsible for the death of the Messiah, but rather the Political-Religious leadership of
the time.
Key-words: Killers. Deicide. Antisemitism. Jews. Christians.
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Estudante do curso de pedagogia da UFPB. Tem interesse em cultura judaica, tradição judaica e nas
línguas Hebraica e Grega. E-mail: Lucassantos071027@gmail.com.
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Lista de abreviaturas dos nomes dos livros da Bíblia:
Êxodo – Êx João – Jo
Eclesiastes – Ec Atos – At
Isaías – Is Romanos – Rm
Zacarias – Zc 1 Coríntios – 1Co
Malaquias – Ml Efésios – Ef
Mateus – Mt Colossenses – Cl
Marcos – Mc 1 Timóteo – 1Tm
Lucas – Lc 1 Pedro – 1Pd
O padrão de abreviatura utilizado para os livros bíblicos segue o modelo da Bíblia
Sagrada Almeida Revista e Atualizada (A Bíblia 1999, [np]), pois utilizamos ela para
todos os textos Bíblicos.
Introdução
A relação do Cristianismo com o Judaísmo, Começa de forma Bela e tranquila, pois o
Judaísmo foi “[...] o horizonte fundador, mas do qual o cristianismo se separa e se
despede” (Soares 2010, p. 2). Os problemas começam a partir de uma série de fatores,
como por exemplo: “Cobrança de impostos por parte de Roma”, “A introdução do
domingo como dia de guarda em lugar do Sábado”, “Diferenças interpretativas” e a
“Substituição de costumes judaicos característicos por outros novos” (Bacchiocchi
1997; Vieira 2019). Porém o que mais trouxe sofrimento para os Judeus foi a acusação
de que Judeus são os assassinos de Jesus (Bacchiocchi 1997, p. 104). Essa acusação
acarretou uma série de eventos catastróficos para os Judeus ao longo da história,
Eventos que deixaram uma marca profunda nos Judeus.
Quando se olha para a atualidade, é visível que a relação dos cristãos com os judeus
vem mudando graças a estudos e ações que buscam apagar as manchas do passado. No
entanto, ainda existem aqueles que Insistem em acusar os judeus de terem matado o
Messias e em propagar crenças derivadas dessa acusação (Doukhan 2004). Infelizmente
isso tem gerado atitudes “Antissemitas”. Por isso tomamos a iniciativa de escrever esse
pequeno artigo, com o intuito de demonstrar as consequências dessa grave acusação e
ao mesmo tempo demonstra por meio de argumentos bíblicos que essa acusação é uma
falácia sem base bíblica. Esse artigo está dividido em quatro partes: “Introdução; As
consequências da acusação de que os Judeus são responsáveis pelo assassinato de Jesus
ao longo da História; Análise de alguns texto que supostamente dão base para as crenças
da Teologia da Substituição, da Substituição Eclesiástica e da crença em que os Judeus
cometeram Deicídio; Conclusão e por último as Referências bibliográficas.
Para a produção desse pequeno trabalho, adotamos o método chamado de “ Análise
Teológica”, pois dentro dos métodos proposto por “Osborne” (2009, p. 276), esse é o
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que mais se encaixa em nossa proposta de trabalho. E como os textos que serão
analisados são Textos Narrativos, cremos que esse método foi a melhor escolha. Através
desse método poderemos analisar o “[...] mundo narrativo da História [...] (Osborne
2009, p. 281), e isso fará com que possamos entrar em contato com “[...] o enredo e com
os personagens [...] (Osborne 2009, p. 281). E assim poderemos chegar a uma conclusão
a respeito das Crenças envoltas a acusação de que os judeus assassinaram Cristo.
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por sacerdotes, que afirmavam ser motivados somente pelo amor às pessoas às quais
torturavam ( Josefh Telushkin 1991, p. 191. apud Hagee 2009, p. 35,36).
Isso demonstra o quanto esse período da história foi terrível para os judeus.
Quando olhamos um pouco mais pra frente, vemos um dos casos mais tristes para
quem é Protestante. O homem que é o símbolo do rompimento das Heresias, que é um
dos maiores exemplos humano de fé, coragem e virtude, Martinho Lutero reconhecido
como “ O Pai da Reforma”, Não se escapa desse siclo de ódio e antissemitismo. Essa
parte da história de Lutero, muitas vezes, não é contada no meio Protestante.
Infelizmente, Martinho Lutero escreveu coisas horríveis sobre os judeus em seu livro
intitulado “ Concerning the Jews and Their Lies” (A Respeito dos Judeus e suas
Mentiras). Neste livro, Lutero chegou a falar que:
As sinagogas deveriam ser queimadas, suas casas destruídas e arrasadas, deveriam ser
privados de seus livros de orações e do Talmude, seus rabinos deveriam ser proibidos de
ensinar sob pena de serem mortos, se não obedecerem, deveríamos expulsar os
preguiçosos velhacos para fora do nosso sistema: portanto, fora com eles. [...] Para
acrescentar, caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios, se meu conselho
não lhes serve, encontrem então um melhor, de maneira a que todos nós sejamos
libertos desta insuportável carga diabólica os judeus (Lutero 1543 apud Daniel 2007
p.257).
Ele continua: “Primeiro devíamos incendiar suas sinagogas (ou escolas) que não
queimar, devia ser soterrado definitivamente, para honra de Nosso Senhor da
cristandade mostrando a Deus que não toleramos ofensas seu filho, Nem quem o segue”
( Lutero 1993, p.21 ).
O objetivo aqui não é discutir o porquê Lutero escreveu tais coisas, nem condená-lo
por ter as escrito, mas demonstra que isso ainda é um reflexo da acusação de que os
judeus assassinaram Cristo. Para finalizar essa parte e deixar claro meu pensamento
sobre a pessoa de Lutero, convoco as palavras de “Silas Daniel” que diz:
Em primeiro lugar, lembremos que os reformadores não eram super- homens espirituais,
assim como Abraão, Isaque, Jacó, Elias, Davi, Salomão e outros servos de Deus no
passado não eram. Todos estes que citei tiveram Falhas, umas maiores, outras menores,
mas todos tiveram. [...] Graças a Deus por não esconder as falhas dos heróis bíblicos!
Graças a Deus por ela mostrá-los como eles realmente são. [...] Então, não precisamos
olhar para a Reforma para aprender que homens de Deus podem falhar. Basta lermos a
Bíblia. Quem lê a Bíblia não se impressiona com a fraqueza humana, mesmo nos filhos
de Deus. Agora, em segundo lugar, devemos aprender a fazer distinção entre os Que
erram por fraqueza (como os reformadores) e os que erram por falta de conversão
mesmo, porque são ímpios travestidos de cristãos (aqueles que demonstravam viver
divorciados dos princípios do evangelho e ainda fizeram atrocidades em cima de
atrocidades em nome de Deus). No primeiro caso, não devemos ignorar os erros, mas
também não devemos comprometer toda a obra de uma vida dedicada ao Senhor por
causa desses erros isolados. Lutero e outros foram grandes homens, apesar de suas
terríveis falhas ( Daniel 2007, p. 256,257).
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Reinhard Heydrich e Heinrich Himmler elaboraram o plano conhecido como Solução
Final. O nome Solução Final foi utilizado pelos nazistas como um eufemismo para o
extermínio dos judeus. Esse plano estipulou que eles deveriam ser fisicamente
eliminados, e isso deu início a uma série de ações ( Silva Online, [s.d]).
Hitler tinha uma admiração por Lutero, em sua concepção Lutero foi um grande
lutador que lutou por suas ideias e seus ideais ( Hitler 1925), Além do mais Lutero
escreveu coisas que agradou e muito o partido nazista.
Já em relação a igreja católica, “Quando Hitler assinou um tratado com o Vaticano,
em Roma, disse: ‘Estou apenas dando continuidade à obra da igreja católica’” ( Runes
1969, p. 114. Apud Hagee 2009, p. 39, 40). O escritor “John Hagee” seu livro “Em
Defesa de Israel: Um mandato bíblico para apoiar o estado judeu” monta um quadro
sistemático nas páginas 40 a 44, onde ele compara as políticas nazistas e as políticas da
igreja romana, através desse quadro é possível ver as semelhanças entre os nazista e a
igreja romana.
Tudo isso demonstra que de certa forma a Igreja com sua visão antissemita, teve uma
grande influência sobre o que ocorreu durante esse período da história. E visão
antissemita da igreja começou através de diversos fatores, sendo o mais forte a fatídica
acusação “os judeus mataram Jesus”.
Porém vale salientar, que nem todos os cristãos ao longo da história foram
antissemita. Houveram muitos cristãos que ajudaram, amaram e até salvaram judeus de
grandes perigos, incluindo o Holocausto. Até hoje em Israel existe um jardim no
“Museu do Holocausto em Jerusalém” (YAD VASHEM), onde são plantas árvores em
homenagem aos “justos entre as Nações” que fizeram de tudo para salvar os judeus
durante o Holocausto. Muitos desses justos eram “[...] indivíduos religiosos [...] freiras,
padres, pastores [...]” (Lewin 2011, p. 29) que se arriscaram para salvar os judeus
daquela terrível atrocidade. Ou seja, assim como existiram cristãos antissemita, também
existiram os cristãos que seguiam o mandamento “ Amarás teu próximo como a ti
mesmo...” (Mt 22:37) que Jesus os deixou.
Quando chegamos no período da atualidade, vemos que o antissemitismo por parte
dos cristãos não é tão forte como foi no passado. No entanto, ainda é possível notar
resquícios de antissemitismo em algumas crenças do cristianismo. Por exemplo: “ A
teologia da Substituição” encontrada especialmente no protestantismo europeu, “A
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Substituição Eclesiástica encontrada especialmente no catolicismo, “A crença em que os
judeus cometeram Deicídio” e entre outras. (Doukhan 2004, p. 11,12,20,21 e
Bacchiocchi 1977, p. 105). Essas crenças ainda são resultados da acusação inicial de
que “os judeus assassinaram Jesus”.
Todavia essas crenças estão certas? Os judeus são responsáveis pela morte de Cristo?
Eles cometeram Deicídio e por isso foram substituído como povo de Deus?
A partir desse momento iremos analisar alguns textos que supostamente dão base para
essas crenças, e veremos se essas crenças são verdadeiras ou não. Todavia será dada
uma atenção especial para a terceira pergunta, pois ela está relacionada diretamente a
afirmação “ os judeus assassinaram Cristo”, e através dela poderemos verificar se essa
afirmação é verdadeira ou não.
1. A Teologia da Substituição
Segundo essa crença, o “Novo Testamento” que simboliza o novo concerto substituiu
o “antigo Testamento” que simboliza o antigo concerto. Segundo Doukhan ( 2004 ) essa
crença vai mais além do que isso:
Ainda mais, a graça substituiu a lei, e, o Deus espiritual de salvação do Novo
Testamento substituiu o Deus carnal da criação no Antigo Testamento. Domingo, a
celebração da libertação espiritual do mal da natureza e do corpo, substituiu o Sábado
do sétimo dia, a instituição bíblica da celebração da criação ( Doukhan 2004, p. 12).
Quando buscamos o início dessa teoria, vemos que ela se iniciou com através das
Heresias de “Marcião” por volta do segundo século. Marcião foi um dos maiores
Herege da história cristã “condenado pelos pais da Igreja como Tertuliano, Irineu,
Justino Mártir e mais tarde por Orígenes” (HARNACK, 1997, p. 2. apud Cordeiro
2018, p. 92). Entre as Heresias defendidas por ele, estavam a ideia de que o Antigo
Testamento foi criado por um Deus diferente do Deus verdadeiro revelado por Cristo
(HARNACK 2007 apud Cordeiro 2018). Além disso ele também dizia que “O Deus do
Antigo Testamento era o Deus dos judeus e não e (sic) Jesus Cristo” (MOLL, 2009, p.
87. Apud Cordeiro 2018, p. 93). As ideias de Marcião de querer afastar tudo que é
judaísmo do Cristianismo, influenciou fortemente os cristãos. Segundo Bacchiocchi
(1977, p. 107) “A influência dos ensinos anti-judaicos e anti-sabáticos de Marcion foi
amplamente sentida” no início igreja. E até mesmo agora em pleno século XXI , essa
influência é sentida através da Teologia da Substituição.
A Teologia da Substituição prega que o antigo concerto foi substituído pelo novo
concerto. Porém, quando vamos para a bíblia, vemos que o antigo concerto não perdeu
sua validade, pois assim como Deus não muda (ML3:6) os concertos dele também não.
A palavra concerto em Hebraico “( ”בריתBerith) significa “acordo, aliança, tratado,
associação, constituição, ordenança e compromisso. (Hatzamri e More-Hatzamri 2004,
p.10 e Strong 2002, [np]). “ Um concerto nas escrituras não pode ser revogado, alterado,
anulado ou substituído por um novo concerto. Um novo concerto pode enfatizar,
ampliar ou complementar o concerto anterior, mas jamais substituir o concerto anterior”
6
(Hagee 2009, p. 179). Isso foi exatamente o que Jesus fez em Mateus capítulo 5, nesse
capítulo Cristo deixa claro que não aboliu o antigo concerto, mas “Cumpriu” ele. O que
chama a atenção é o significado do verbo traduzido como “Cumprir” no versículo 17, o
verbo usado neste versículo é o verbo “Πληρης” (Pleres) e o “seu significado está
relacionado com a raiz comum, πλη (Ple), que significa ‘cheio’, ‘plenitude’.
Literalmente quer dizer ‘encher um vaso’, para que se chegue ao πληρομα [Pleroma], ou
o vaso cheio” ( Aspectos... [s.d], p. 105). Ou seja, Cristo enche o espaço criado na Lei
do eterno pelo ser humano ao longo do tempo, trazendo o real sentido da lei (Barclay
1956) e ampliando ela, isso é nítido em Mateus 5: 21-48 onde cristo amplia alguns
mandamentos como os mandamentos “Não adulterarás” e “Não matarás”.
Ainda em Mateus 5: 17 e 18, Jesus diz que “Até que os céus e a terra passem” nem um
ponto da lei passará, e uma das coisas que o sábio Salomão deixou claro é que geração
vai e vem, mas a terra não passará (Ec1:4).
Além disso o novo testamento cita várias vezes os Mandamentos do antigo concerto:
Os Dez Mandamentos, no Antigo e no novo testamento
5. Honra a teu pai e a tua mãe Êx 20:12 Ef 6:1-3; Cl3:20; 1Tm 3:2
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2. A Substituição Eclesiástica
A teoria da Substituição Eclesiástica também conhecida como “Teologia da
Substituição” e como “Supersessionismo” (Dutra 2021, Online) “ não é uma nova
revelação; é uma antiga Heresia. O autor das Epístolas de Inácio de Antioquia (70-107
D.C) apresenta a Igreja como ‘o novo Israel’ ” (Hagee 2009, p. 166), ou seja, essa ideia
remonta ao primeiro século assim como a acusação de que os judeus assassinaram
Jesus. A teoria da Substituição Eclesiástica reivindica que os cristãos substituíram os
judeus e sugeri que os judeus não têm o direito de existir (Doukhan 2004). Segundo
“Dutra”, ela:
[...] Como teoria, declara que Israel, como nação, tendo falhado com Deus, foi
substituída pela Igreja. Declara ainda que Israel está fora dos planos de Deus e que
perdeu seu status de povo eleito de Deus, assim, a Igreja é o verdadeiro Israel de Deus.
O que resultaria na transferência de todas as bênçãos profetizadas pelos profetas judeus
à Israel para a Igreja (Dutra 2021, Online).
Essa teoria defende uma ideia errônea, que leva os adeptos dela a seguinte conclusão:
“ Se eu sou o verdadeiro Israel e você não é, você não merece viver como Israel”
(Doukhan 2017, Online). Essa ideia provoca oque “Doukhan” chama de “holocausto
espiritual” (Doukhan 2017, Online) que é o início para um possível “holocausto físico”.
Os que se dedicam a estudar o antissemitismo, dizem que “[...] a substituição
eclesiástica combinada com a indiferença geral dos cristãos foi a maior motivação por
trás da destruição dos judeus durante o Holocausto” ( Doukhan 2004, p. 12).
Entretanto, essa teoria não tem respaldo bíblico, e por mais que os defensores dessa
teoria usem “um número de textos-chave e/ou temas do Antigo e do Novo Testamento
para apoiá-la” ( Doukhan 2004, p. 13), é possível notar que todos são desvirtuado do
seu sentido original. Pois os seguidores dessa teoria usam o método alegórico (Hagee
2009, p. 166; Dutra 2021, Online), Isso é um problema porque “ não é possível
examinar as declarações literais e históricas do texto bíblico, e concluir que Deus se
separou de Israel e que a Igreja assumiu o seu lugar” (Hagee 2009, p. 166).
A partir de agora analisaremos alguns textos para verificarmos que de fato a
Substituição eclesiástica não tem fundamento bíblico. Os defensores dessa crença
utilizam diversos textos para tentar defendê-la, no entanto, nós concentraremos apenas
em alguns, pois já existem inúmeros trabalhos (Exemplo: “A falácia da Teologia da
Substituição”; “O Novo Israel” e etc.) e livros (Exemplo: “The Mistery of Israel”; “Em
Defesa do estado de Israel” e etc.) que explicam de forma bem detalhada o real sentido
desses textos. Por isso analisaremos apenas três textos.
• Falha de Israel no antigo Testamento
Diversos texto são usados para tentar alegar que Israel falhou e por isso Deus os
rejeitou, porém 1 Samuel 8:7 é um dos mais usados. Lá, Supostamente, diz que o povo
de Israel rejeitou a Deus. Entretanto, “o restante da história – a unção de um rei pelo
profeta enviado por Deus, a promessa do Messias, do Ungido, descendente do rei Davi
– claramente demonstra que Deus não abandonara seu povo naquele tempo” (Doukhan
2004, p. 14). Em conjunto com esse texto eles costumam usar Romanos capítulos 9 e 10
8
para dizer que Israel rejeitou a Deus. Todavia, eles esquecem que esses capitulos devem
ser lidos em conjunto com o capítulo 11, pois ele completa o sentido dos dois capítulos
anteriores, trazendo assim uma ideia contrária a ensinada pelos defensores dessa teoria.
Na verdade, assim como diz “Stern”:
Os capitulos 9-11 do livro de Romanos contém a discussão mais importante e completa
do Novo Testamento sobre o povo judeu. Neles, Deus promete que "todo o Yisra'el
[Israel] será salvo" (11:26) e ordena que os cristãos gentios mostrem aos judeus a
misericórdia de Deus (11:31). Diante do que estes capitulos ensinam, toda forma de
anti-semitismo cristão está condenada[...]” (Stern 2008, p. 419)
9
sobre Cristo, alude a essa maldição sobre eles mesmos: ‘Quereis lançar sobre nós o
sangue desse homem!’ (At 5:28)” (Doukhan 2004, p. 22).
Mesmo que Deus tivesse amaldiçoado aquele pequeno grupo, temos que lembrar que
a bíblia declara que Deus visita iniquidade dos pais até a quarta geração daqueles que o
aborrecem (Êx 20:5). Portanto, os descendentes atuais dessa pequena multidão estariam
livres dessa maldição.
Para finalizar esse segundo texto, invocamos as palavras de “Doukhan” que diz: “[..] a
ideia de maldição, que persegue os judeus através das eras, contradiz o ensino bíblico
sobre as maldições, e, coloca em questão o caráter do Deus histórico e sua compaixão:
‘O Senhor é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a iniquidade e a
transgressão’ (Nm 14:18)” (2004, p. 23).
• Os Gentios... a Nova Raça Eleita
O apóstolo Pedro em sua primeira epístola, especificamente em 1 Pd 2:9, chama os
gentios de “Raça Eleita”, “Sacerdócio Real”, “Nação Santa” e entre outros adjetivos. E
mais uma vez os defensores da Substituição eclesiástica, distorcem o texto para se
adequar a sua visão, e através disso dizer que Deus substituiu Israel pela Igreja. Isso é
uma completa mentira, pois o fato do apóstolo Pedro chamado os gentios de tudo oque
já foi dito, “não significa que os gentios têm substituído o outro Israel, ou, porventura,
resultado na rejeição deste último. Pedro está simplesmente dizendo que, tais gentios,
agora fazem parte do povo escolhido. Pertencendo à casa de Israel, eles são agora
‘geração escolhida’, igual e dentro, não em lugar de, Israel” (Doukhan 2004, p. 24).
Por mais que tentem alegar que Deus rejeitou Israel e escolheu a Igreja como o seu
novo povo, a bíblia por meio de Paulo é clara em afirmar:
“Pergunto, pois: terá Deus, porventura, Rejeitado o seu povo? De modo nenhum! [...]
(Rm 11:1).
Por meio de uma pergunta que o apostolo Paulo faz e que ele mesmo responde, Ele
declara de forma enfática que Deus não rejeitou Israel, ou seja, Deus não abandonou
Israel e escolheu a Igreja em seu lugar.
Na verdade, a respeito de Israel, a escritura declara:
1. Todo o Israel será salvo (Rm 11:26).
2. Israel olhará para o Messias, e o aceitará (Zc 12:10).
3. Israel será perdoado de todos os pecados (Rm 11:27).
(Adaptado de Hagee 2009, p.168.)
3Observação: Buscamos de todas as formas dar o devido credito para o autor dessa frase seguindo as
normas da ABNT, no entanto não foi possível encontrar a obra. Só encontramos essa frase sendo citada
por “Dutra” (2017, Online).
10
um povo, ora escolhe outro (Hamilton 2006) e assim vai. Segundo essa visão, o que
garante que Ele não trocará a Igreja por outro povo?. Por isso essa teoria é abominável,
ela desvirtua o caráter do Eterno Deus.
Essa acusação por parte dos cristãos levou o surgimento da crença de que os judeus
cometeram Deicídio, isto é, que o os judeus mataram Jesus o Deus Filho. “De acordo
com essa visão, a maioria dos judeus fora responsável pela crucificação e rejeição de
Jesus como o Messias, e, por isso, Deus os abandonou” (Doukhan 2004, p. 20 e 21). No
entanto, esse argumento é inválido, pois ele:
Ignora o testemunho explícito e abundante dos Evangelhos: Desde o início até o final de
Seu ministério, multidões entusiasmadas admiraram e seguiram Jesus (Lc 4:14, 15;
19:48; 21:38); tanto assim que os lideres “temeram as multidões,” e tiveram toda razão
de acreditar que toda população voltar-se-ia para Jesus: “se o deixarmos assim, todos
crerão nele” (Jo 11:48). Até Caifás, o sumo sacerdote daquele ano, pôde argumentar que
“convém que um só homem morra pelo povo e que não venha perecer toda a nação” (v.
50). O autor bíblico nota, significativamente, que Caifás disse essa frase sob inspiração
profética (v. 51) (Doukhan 2004, p. 21)
Quando analisamos o local onde Jesus foi julgado, ou seja, o pretório. Vemos que “ a
evidência bíblica sugere que apenas um pequeno grupo de judeus participou do evento
(considerando, por exemplo, o espaço restrito do pretório, onde o julgamento de Jesus
ocorreu)” (Doukhan 2004, p. 21; ver também: Hagee 2009, p. 150). Além disso, a
própria bíblia deixa claro que eles nem sabiam o que estavam fazendo porque foram
enganados ( Lc 23:34; Mt 27:20), Pedro ao abordar essa questão em seu discurso no
templo, ele diz que os seus irmãos judeus fizeram aquilo por ignorância (At 3:14-17).
Os evangelhos explícita quem foram os que conspiraram para levar Jesus a morte:
“Então, os principais sacerdotes, e os anciãos do povo reuniram-se no Palácio do sumo
sacerdote, chamado Caifas; e deliberaram prender Jesus, à traição, e matá-lo” (Mt
26:3,4, ênfase nossa).
“E os principais sacerdotes e escribas ouviam estas coisas e procuravam um modo de
lhe tirar a vida; pois o temiam, porque toda a multidão se maravilhava de sua doutrina”
(Mc 11:18, ênfase nossa).
“Preocupavam-se os principais sacerdotes e os escribas em como tirar a vida a Jesus;
porque temiam o povo” (Lc 22:2, ênfase nossa).
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O sacerdote Caifás e os príncipes dos sacerdotes junto com o rei Herodes tramaram a
morte de Cristo, Herodes queria a morte de Cristo porque Jesus era uma ameaça política
para ele, pois:
No [...] cenário politico, entrou um rabino judeu, chamado Jesus de Nazaré. Os judeus
esperavam um libertador que liderasse uma revolta para romper as cadeias opressoras de
Roma. A popularidade de Jesus se espalhava como uma cadeia de relâmpagos.
Qualquer pessoa que pudesse alimentar cinco mil homens com o almoço de um menino
poderia alimentar um exército que poderia derrotar Roma. Qualquer pessoa que pudesse
curar e ressuscitar pessoas poderia curar soldados feridos e ressuscitar tropas para
combater os romanos pagãos ( Hagee 2009, p. 147 e 148).
Por isso que Cristo representava uma grande ameaça para o rei Herodes e seus aliados.
Ao ver a ameaça que Cristo representava, eles tramaram levar Jesus preso para depois
matá-lo ( Mt 26:5; Mc 12:12; 14:2).
O próprio Senhor também deixou claro quem são os responsáveis por sua morte:
Tomando consigo os doze, disse-lhes Jesus: “Eis que subimos para Jerusalém, e vai
cumprir-se ali tudo quanto está escrito por intermédio dos profetas, no tocante ao Filho
do Homem; Pois será ele entregue aos gentios [os romanos], escarnecido, ultrajado e
cuspido; e, depois de o açoitarem, tirar-lhe-ão a vida; mas, ao terceiro dia, ressuscitará.
(Lc 18:31-33, ênfase nossa)
Sob a luz das escrituras fica claro que “Pôncio Pilatos” também tem parte da culpa,
mesmo que ele tenha lavado suas mãos para simboliza que ele não tinha culpa naquele
execução, isso não muda o fato dele ter autorizado aquela execução (Mt 27:11-31).
Portanto, de acordo com os relatos bíblicos e outras fontes históricas, a responsabilidade
jurídica e moral pela morte de Cristo deve ser atribuída a Pôncio Pilatos que, sabendo-o
inocente, condenou-o a ser flagelado e crucificado. Que Pilatos tinha consciência da sua
responsabilidade nesse processo iníquo é o que se prova pelas palavras que então
proferiu, enquanto lavava as mãos e sujava a sua consciência. Com efeito, se se
declarou inocente do sangue daquele justo é porque se sabia responsável e queria iludir
a sua culpa: como afirma um conhecido adágio jurídico, uma desculpa não pedida
indicia uma manifesta acusação (Aldama 2016, online).
A morte de Cristo não é responsabilidade do povo judeu, pois o fato histórico é claro
“três em cada quatro judeus não viviam na quilo que os romanos chamavam de
Palestina, quando Jesus começou o seu ministério. Nove de cada dez judeus da Palestina
naquela época viviam fora de Jerusalém” ( Hagee 2009, p. 152). Então, não se pode
acusar o povo judeu de ter matado Jesus.
Por meio de tudo o que foi apresentado, fica claro que os verdadeiros assassinos de
Cristo foram a liderança Político-Religiosa que conspiraram até levar Cristo ao madeiro,
e mesmo assim a misericórdia de Cristo é tão grande que ele pediu que o Pai os
perdoassem, pois eles não sabiam o que estavam fazendo (Lc 23:34).
Para finalizar, faço das palavras de “Doukhan” (2004, p. 21 e 22) as minhas:
A teoria [...] não apenas repudia a verdade histórica que envolve os judeus, “cristãos” e
também romanos, como também omite a verdade teológica que “a iniquidade de todos
nós” (Is 53:6) matou-O. Portanto, quando João (1:11) diz: “Veio para o que era seu, e os
seus não o receberam” (outra referência clássica da teoria da rejeição), ele não está
referindo-se a “os seus” como exclusivamente Israel – os judeus –, mas a todo o mundo,
12
a todos os humanos no tempo e no espaço, a toda criação num senso cósmico (vv. 1-5,
10). E o Evangelho explicitamente afirma que “o mundo [kosmos] não o conheceu” (vs.
10) ( Doukhan 2004, p. 21 e 22).
Conclusão
Mediante o que foi apresentado e analisado, fica claro que essas crenças antissemitas,
em especial a de que os Judeus assassinaram Jesus e por isso merecem sofrer, não tem
fundamento bíblico e são mentirosas. E assim como foi apresentado, a acusação de que
os Judeus mataram Jesus fez com que eles fossem perseguidos e mortos ao longo dos
séculos. Sendo que eles não foram responsáveis pela morte do Messias e sim a liderança
Político-Religiosa da época. No entanto, foi possível observar por intermédio dos
escritos do autor já supracitado “Jacques B. Doukhan” que Todos nós somos de certa
forma culpados pela morte do Messias, pois ele morreu por nossos pecados (Is 53:5)
para dar a vida eterna para todos que nele Crê (Jo 3:16).
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