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A premissa maior do chiste, vista por esse viés, me pareceu falsa. Mas
isso ainda não era tudo. O mal-estar insistia.
Torrente de pensamentos aberta, me adveio a lição freudiana de que o
recalque não é um movimento pontual, senão um processo em marcha constante. Para
esse passo, recorri a Norbert Elias, sociólogo alemão cujo ingresso na sociedade
psicanalítica inglesa, tragicamente, foi recusado em razão de sua homossexualidade.
Em O Processo Civilizatório, lhe coube retirar consequências da tese freudiana de
que o recalque nunca se contenta com as exigências já postas.
Mas não em todas. Eis a sua tese: a repressão pode ceder quando o
recalque já é uma realidade bem sedimentada. A civilização é um processo desigual
de sujeito a sujeito, de cultura a cultura, da direita à esquerda.
Como dito por Freud e Norbert Elias, o recalque opera por camadas.
Não se afrouxa uma corda que ainda não apertou o seu laço. Como falar em
desfazimento do que não foi feito? Mais especificamente, não há sentido em se
postular que, numa camada determinada do processo de recalcamento, haveria uma
força em curso produzindo o afrouxamento do recalque em operação em outra
camada do processo.
Por amor, deixar o outro ir, nas palavras de Jean Allouch. Mas ao
preço de que novos sintomas? Disso pouco sei, a não ser que não há ponto de partida
ou de chegada, na melhor das hipóteses. A estória dirá sobre a deriva. Melhor é
escutar.