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A PAIXÃO

DE

,JESUS CHRISTO
PELA

ASSOCIAÇÃO DA ADORAÇÃO CONTINUA


A JESUS SACRAMENTADO

O FUNDADOR

DR. ]OÃO PEDREIRA DO COUTO FERRAZ jUNIOR

S• EDIÇÃO
(Ddinitivamente correcta e augmentada)

1925
'l'ypographia das •Vozes de Petropolis•
Petropolis
S. S. PIO XI

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ÓAL \'ATlfAN0.29 1923

"'º•.<>'º
NoTembre

�l'f:RJI\ U\ S
DI S•JA S.'JIT!TA

111. rr.o :>ignore,

Mi do preIDura di s1gn1f1oarle ohe 11 Santo Padre si ê ben�

volmente degnato d1 gradire l'omaggio da Lei fattogli dell1

sua interessante pubblioaz1one.

�ua �antità la ringrazia d1 queaio·davoto pensiero e mentre

ei congratula paternamente oon Lei pei suo lavoro le invia di


cuore l'Apoetol1ca Bened1z1on11._

Profitto dell'occaaione per raffermarmi eon distinta sti01&

di V. S. lll,ma

· ,
Aff mo per
' eervi�la

/ ( Í•'J""'"

111.mo Stgnore
IR, JOAN PEDREIRA
Ci rou_lo Catb oli oo
Rua Rodàr1go·stlva B. }
RIO JANEIRO

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A PAIXÃO
DE

JESUS CHRISTO

"Um pensamento seri o da Pa:­ exerckio que· dá maiores alegrias


xão de Nosso Senhor aproveita aos mesmos Anjos do ciu.» ·
mais a uma alma do que jejuar a (S, Bernardo}
pão e agua durante um anno in­
teiro.»
( Bemaventurado Alberto •Si não tens cabedal para ele­
o Orande) var-te a cousas &ltas, e que se cs•
condcm no céu, segue a Christo
cm sua Paixão e suas Chagas sa­
_
gradas sejam tua grata -habitação;
tem por certo que, si cheio de de·
•Meus Irmãos : Meditar a Pai­ voção fugires do mundo para as
xão de Jesus Christo, lembrar se feridas e chagas preciosas de J e·
dos seus indizivcis soffrimenros i sus, ainda em meio das tribula·
a cousa mais agradavel á infinita çõcs, has de gozar de incffavcl
Majestade de Deus • . É o sacri· consolação."
lido que mais o aplaca... É o (lmit. de Christo, L. li, C. /)

NIHIL OBSTAT

Padre João Baptista de Siqueira

Rio. 14 de Fevereiro de 1925

IM?RIMATUA

Rio, 14 de Fevereiro de 1925


Mons. Rosalvo Costa Rego, Vigario Geral

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PALAVRAS DE UMA CARTA
DE SUA EX.eia O SR . ARCEBISPO
DOM SEBASTI AO LEME

«.

Vivemos em uma época que parece gozar. Mas, é certo


011e a humanidade soffre como nunca.
De porta em porta, nas tendas aridas do mundo, quan­
tos não s·e arrastam por ahi, mendigando em vão uma gota
de orvalho para as febres da alma?
Ora, a leitura da Sa.grada Pai·xão de Nosso Senhor
tem o condão mysterioso de consolar as almas amarguradas.
Só por isso, avu lta e sobresai a missão deli:ada desfo
l ivro. Elle va: i levar o balsamo divino a muito coração
ferido.
Ha mais: por' ser a Paixão de Jesus Christo a ampli -
tude infinita do amor de um Deus por nós, a leitura de
sua historia constiht·e uma escola i11comparavel d e virtude
e santidade.
Que lições ma·gnificas não encerram os quadros da
Pétixão!
Para citar alguns tão sómente: --- a flagel lação, a ne­
gação d·e Pedro, a multidão ululante contra o Mestre e
ninguem que O defende, o ser J esus posto em comparação
com Barrabás e o ver o povo preferir este - o bandido -7

a Elle que é Filho de Deús, o encontro com Maria, a


cmdfixão, a: agonia, o abandono geral, o silenci-:> do Céu..
o testame-nto de amor, a morte, emfim. Alguns minutos
qu� meditassemos em uma só das scenas indescriptivei3-
desse drama div•ino, seriam o suffi :L�nte para accender em
nossa alma o fogo do amor generoso que suscita e aH-
menta os san tos. _

São conhecidas as palavras de S. Francisco Xavier:


•<Da vossa cruz, Senhor, vós me abraçaes . . . tudo soffrestes
por mim peccador : como não amar-vos, Jesus amorosissi­
mo? como n ão querer padeceT e morrer por Vós?»
Eis por que aos nossos espinhos e provações da vida
chama a Imitação de Christo - a estrada real. E' que
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A PAIXÃ.0 DE JESUS CHRISTO

nor ella a multidão das almas faz a escalada do céu, car­


regando, abraçandó 011 beijando, cada um, a sua cruz,
o seu calice . . .
A magnanimidade christã dus que sabem sojjrer, asa
mystica dos que se ele\•am na virtude e germen fertilis­
simo de hero,ismos incomprehemivcis para o mnndo, é
cousa que só se apr2nd·� na leitura dc\·ota e reflectida dos
grandes mysterios da Paixão d� N. Senht>r.
O nosso rei, o nosso Deus é wn Dcus,-um rei cruci­
ficado; a mai·or graça que Elle pod� fazer a uma alm<.l
é j u lg a i - a digna de um togar no seu refoado d� dôr.
Oh' como ·irradiam agora ns palavras do Mestre: Bem­
aventnrados os que sàffrem ! Beali qui luge11t.' ...

(Da 1." edirão J.

UMA CIRCULAR DE D. SEBASTIÃO LEME

Dom Sebastião Leme da Silveira


Cintra, por mercê de Deus e da Sata
Sé Apostolica, Arcebispo Coadjutor.

Aos qne as presentes letras virem, saudação, paz e ben­


ção no Senhor.
Jesns llrucificado - mot.i'vo dominante da prégação do
Apostolo (1. Cor. I, 23), a�sumpto predilecto da sua sciencia
(lbid. II, 2), deve ser rambem o objecto pl'eferido do chrisr.ão
para as suas meditações (lmit. de Christo, L. II, cap. I,-
21 seg.)
o crucifixo é o livro s• blime escripto com o precioso san­
gue do Redempt ..r. Livro ailmiravel q11e nos ensina altissimas
e profnnda:-; lições onde se encontra soluÇão para todai! as dif­
ficuldades qne se nos offerecem no exercicio da vida christan.
O sangue divino que lhe enrubesce as paginas está-nos a
dizer qne, sem a eft"1são do sangue da penitencia, do sacrificio,
da abuegação, 11ão ha redem pção possível (Ad Heb. IX, 22) .
. Na sua dolorosa paixão, quiz o Salvador resumir a vida
christan com toda!! as snas agouias, tormentos e amarguras.
O ma g no problema do soffrimento h11rnano, que tauto pre·
occupára OH philosophos pagãos, para os quaes foi sempre um
my!lterio, teve, nos dias da paixão, clara e satisfactoria expli­
cação.

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A PAI X ÃO DE J ESUS CH RISTO

A vi da hnmana, ensinou Jesus Ohri!!to pelo exemplo, é


nma viagem angnstiosiL do berço para o tnmulo._ Nessa penosa
viagem, cheia de contradições, tem o homem de provai· l\S tor­
turas moraes que lhe infligt'm 11 peso da c11lpa, a indifferença
dos amigos, a traição dos intimos, a felonia dns qne. foram
por elle be•1eflciados. a i nvej a. dos advP1-sarios, a fraqueza dos
sens defommres, a irrisiio dos homens brutaes ._ a calnmnia dos
descontente$, o odio dos grat.uit.os adversarios. ,
·
Suffrer, suffrer, t.orlos os dias, soffrer até á morte. é, de­
pois do µeccado de origem, a condição 11at'lral do homem de­
cahido, visto como traz em i mesmo o germen da dôr. Mas a
dôr é o µreço de nma ·victol'ia. .
A11 lado da cruz pôz ó Redemptor um tumnlo glorioso, ·

com- to1las as fulgurações do trinm 11ho.


. A todos 1.1s homens dirige o l\Ie:-:tre e Guia uma palavra
qne os 11ortefa.; Segui-me. Arompanhae-me os passos, e eu da­
rei ás vossas dôres o valor de nma corôa immortal. Ao Calva­
rio o acompanha o exercito de almas genernsas que compram,
a preço de sangue, a rerle111pção final.
Aos chrh� r ão s, pois, como discipnlns de ilm Deus flagel­
Iadn e c r • 1 c ifi cado , cabe-lhes a sorte de suffrer o flagello das lín­
guas inter11aes, a cr11cific11çfi.o dol11r11sa da" calumnias, as detra­
cções, as diffamações. as perversac; interpretações.
Jesns Crurificado é, as Rim , o modelo do chl'istão. Modelo
perfeito e provadam'311te effit'az.
O crncrfixu foi e é o grande livro em que as alma� santf!.S
·apprehenderam e apprehendem a sciencfa da pe rfeição. Nelle
béberam " sciencia da car idade, do sacrificio· e do heroísmo os
apo>1tol11s, os martyres. os C· nfessorel'l, as almas CO"nsagritdas a
Deus os denodados missinnarios e t.od11s aq•ielles qne aRpiram
á"R delicias do eterno Thabo 1· O C rucifixo é sempre a ,razão s u-
prema - a nlt.ima p a l av r a
·

«Não é o discipnlo melhor q••e o Mesti-e (l\Iath. X. 24).


Si perst'gniram a mim, tambem hão de perseguir a vós.
(S. João XV, 20).
Christo padeceu por nós deixando-vos o exemplo, para
para Q"e l'ligaes os passos 11 (I Ped. II. 21).
Eis o modelo eis a e scola do christão . No Crucifixo está
compendiado ·o Evangelho. Nelle encontramos o pharol que
nos gnia, a força e •o e!•Corajameuto qne nos anima a sup-
portar O!I e n •b at es da vida..
·

Com razão, puis, os Padres da Igreja, os thenlogos. asce­


tas. os directures de consciencia encarecem e i1111hite11temente
recommendam a medir.ação da Paixão do Redemptor.
Naifa t.ão efficaz. para levar as almas ao amor do sacri­
fício. nada tã&convinceute para resolver todas as duvidas e

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10 A PAIXÃO DE JESUS CHRJSTO

aplanar todas as difflcnldades que, a cada passo, encontramos


no cami11ho da virtude.
E' explicavel. portanto. o sem nnme1·0 de 1ratados as-.
ceticos sobre a Paixão de Jesns Ch r i s to
.

A todos qniz a ASSOCIAÇÃO DA ADORAÇÃO CON­


TINUA A. JESUS SAGilAMEN'rADO a/untar umii compila­
ção methcdica de factos e dciutrinas referentes á Paixão,
narrados e desenvolvidos em obras de reconlucido valor.
E', sim, um trabalho de abelha, mas bem haja a abe­
lha. qne soube escolher as mais mimosas flôres, para nellas.

haurir o mel com que regala os fracos e doentes e preparar


a cera que arderá deante do Tabernacnlo.
Recommendamos e�se mel precioso a todos os que pre­
ci s a m de duçnra, alento e conforto na penosa_ peregdnação.
E quem é que não precisará? .
Essas admiraveis paginas são ainda luz para as almas
peccadoras e cham mas qne ·aquecem co1·ações gelidos Eis por
,

que. muito desejamos que ellas i;ejam objecto de conti n u a lei­


tura e ·meditação para no.�sos dio ces anos e irmãos.
No bem immenso qne ás almas vae fazer a l eitura dest.e
livro. veja o Sr. Dr. João Pedrefra do Couto Fen·az Junior
um pre nunci o da linda e et.erna recompemia qne lhe pr epar a.
o Mes�re Divino, por tndo quant.o em benefido de sna santa
causa tem feito e contiuúa a fazer com tama;nho zelo e dedi­
�ção.
Rio de Janeiro, 10 de Abril, Sexta-feira santa de 1926.

(A.) t Sebastião, Arcebispo-Coadjntor.

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BENÇÃOS E PALAVRAS DE S. EMl.cia, O .SR.
CARDEAL, S. EX . . cias OS SRS.
ARCEBISPOS E BISPOS

S. Eminencia o Sr. Card eal D. Joaquim Arco1·crdc:


Benção e offer ta de um obulo
· .

S. Ex.eia D. Octavia110, Bispo de Pouso Ategi·e:


Fel4cita pelo excellente e piedoso trabalho. Mandará
annunciar o lfrro no Orgão offici 11 da Diocese.

- D. Manuel, Bispo do Aterrado:


Refiro-me ao piedoso e sentimental lilro sob o titulo:
«A Paixão de Nosso Senhor Jesus Christo»: A o modo · com
que o seu livro se apresenta e fala á al ma piedosa, não
ha mistér encarecimento. E' simplesmente admirnvel ! . . .

Assim o seu livro armou-se desse predoso co ndão de at­


trahir, de arrebatar. Elle e nv er eda as almas e os corações
para os segredos da verdadeira felicidade. Ei 3 o segre.do do
seu magnifico livro. Ei3 o que ha de fazer delle o vade­
merum das almas que aspi ram ao amor de Deus.

--- S. Ex.ria D. flHtO, Bispo do Amazonas:

Agradeço o brinde que me fez de seu exemplar e pie­


doso livro. L ou v o e abençôo o seu 'apreciabili 3s·imo trabalho.

--- S. Ex.eia Fr. Maria , Bispo de S. Luiz de Caceres:


Dou-lhe os meus parabens por of fer ece r aos fieis um
meio facil de m e l hor c0<nhecer e medüar os mysteri':Js de
nossa Redempção em s·eu precioso Hvro, cuja leitura é ao
m es mo tempo agradavel, instTuctiva e edifi�ante.

S. Ex.eia D. Rrmulpho, Bispo de Otrnxape:


Lendo o seu livro, o nosso- espirita se transporta aos
Jogares sag rado s, onde se r ealizarl! m as pungentes scenas
dos pad eci mentos - do nosso divino R ede mpt or. E essa lei­
tura tão santa e edificante faz bem á no ssa alma e enche
o · coração de amor a Nosso Senhor. AbenÇôo de coração

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12 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO

esse trabalhu e ao Rev.1110 Padre encarregado do Curato


da Cathedral encarregarei que do mesmo li\'ro se faça men-_
ção e se dê publico conhecimento. A imprensa" diocesann
ígmilmente dar-lhe-<Í divulgação.

-- S. Ex.eia D. Alberto, Bispo de Ribeiriio Prelo:

.Reservei a leitura dJ sei.t 'livro para os dias em que


devia passar no retiro espiritual com rnna pa.rte do meu
clero, e declaro que muito apreciei o dito trabalho, cuja
leitma produziu em mim grand-e e funda impressão e estou.
certo de que está destinado a afervorar nas almas christãs
o am or e a devoção a Nosso Senhor crucificado, que por
nós tanto padeceu. Que;ra remetter-me dez_ exemplares,
cuja importancia envio.

-- S. t:.r.âa D. los1;, Bispo de ;lracajLÍ:

Merece uma referencia e menção muito particular a


obra tão ·importa·nte «A Paixão de Jesus Christo>). Com
um acurado trabalho rra feição material, enriquecido de
bellas gravuras, revelando os lances desoladores da Paixão,
o vosso trabalho, escripto em primorosa Hnguagem, com­
provando muito vasta erudição, tem o segredo de produzi•r,
com a mais emocionant·e edifi:açãü, a impressão intens.is­
sima e profunda de reconfortadora consolação ao espirit a :
.
é um balsamo que suaviza as agruras todas das almas
privilegiadas por · Deus com as bençãos de suas provações.

--- D. Manuel. Arcebispo de Fortafrza:

Desejo que sua bella obra de amor a N. S. jesus


Christo produza muitos fructos ·de bençãos .nas almas.
Recommendamos ao Clero e aos Fieis da Archidiocese
da FoTtaleza o piedoso livro «A, Paixão de Jesus Christo»,
que já está na segunda edição. Obra de solida piedade
e erudita, instrue e conforta; é util á intell!gencfa e ao
coração. Ao autor e a seu bello trabalho, damos M bôa
mente nossa b('nção ef>iscopal.

--=-- D. loàv. Bispo de Oara11hu11s:


Recebi o magnifico lirro «A Paixão de Jesus Chr-isto)),
precioso mimo.
O assumpto do J,ivro e seus moldes tão attrahente-s
fazem-no eminentemente actual . . . as almas, m aximé hoje
em dia, têm necessidade da grande escola que é a Paix ão
do Senhor. Peço a-0 divino Mestre grande diffusão e maior
efficacia para a leitura desta preciosa obra.

-- D. Francisco, Bispo de Campinas;·

Agradeço o presente d.o bello e piedoso ·:<Uvro da


Paixão,,, tão opporhmo nestes infelizes tempos.. . Os meti5

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A PAIXAO DE JESUS CHRISTO 13

votos são para que seus esforços em compôr tal precios�


dade sejam coroados com uma grande diffusão desse pre- ·
cioso «Livro)), que deve passar fazendo o bem e reconfor­
.
tando a nossa sod-edade . ..
Aos meus diocesa.nos recommendo a i·nteress'ante leitura
do «Livro da Paixão>).

D. Manuel, Bispo de Caetité:


Achei muito bom ·o seu trabalho, narração simples
e concreta do que ha de mais expressivo e tocante no
drama da Sagrada Pa:xão -� morte de nosso Divino Sal­
vador. Antevejo os mais beneficos . effeitos de sua leitura
nas almas pk�dosas, e ainda nos indiff.erentes, que o lerem
por méra curiosidade 1:tterad1 .. E sperando os melhores re­
sultados desta sua obra, junto a minha benção como
·

augurio a maior diffusão do mesmo trabalho.

D. José, Bispo de Corumbá :


Essa edificante publicação vcit1 enriquecer as nossas
letras religiosas.
O seu exito está plenamente garantido.
O mundo, em meio aos seus gosos e prazeres, apesaü
de tudo, sente o vacuo que em seu derredor produzem as
suas chàmadas alegrias.
E' uma obra que dispensa encomios .. .
Julgo-a opportun. issima para os nossos pias . .. AbençÔ'o
de coração, feldcito a V. S. por sua· publicação e ca.ncedo
50 dias de i'Udulgencias aos meus diocesanos que, por
espaço de 15 minutos, o k�rem em qualquer de seus pontos.

-- D, Hermeto, Bispo de Uruguayana:


Muitos fructos espirituaes ha de produzir certamente
.
a leitura attenta deste interessante livro, pelo que de bom
grado o approvo para minha diocese, desejando vel-o lar­
gamente diffundido entre os meus diocesanos.

-- D._ Manuel, Bispo de Ilhéus:


Reputo o «Livro dà Paixão» tão bom, tão Lltil, tão
opportuno, que por si mesmo attrahe a atknção dos que
sabem apreciar uma obra de valor.
Qucira acceitar meus parabens.
Peço que envie vinte exemplans para ser divulgado
o precioso livro.

-- Frei Roberto, Prelado de Ora;ahú:


Digo-vos, com toda a s1i1nceridade, que o livro me
agradou immensamente pela sua foição material de fino
gosto e pela uncção espiri1uaJ. com qu� é tratado o dolo­
roso assumpto da Paixão de Jesus Christo. Tenho a plena

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14 A PAIXÃO OE J ESUS CH RISTO
_

con v•cça o de que


· o livro fará u m grande bem <Ís almas
que olerem.
Fazendo votos de uma larga propaganda de 11m tão
bello livro, V. S. póde contar com todo o mc11 apoio m a­
terial e espiritu ai. .
D. Moysés, Bispo de Caiazeiras:
Recebi o predoso lino «A Prixão de Jesus Chri�to .,.
Seu livro, de todo o ponto de vista, morm.:nte pelo con­
teudo, tão grato e valioso, impõe-se á affeição e á es­
tima de todos e merece, portanto, approvação e recommen­
dação de quantos as possam dar.
V. Ex. eia, escolhendo de toda a \"ida do ·dulcis5inw
Jesus º" passos dolorosos de sua paixão, dando-os ao
pu bli co enfeixados num volume, como para que os leitores
nél lcs e sómente nelles pudessem pôr os olhos, teve a
melhor e a mais feliz inspiração. Nenhuma outra ltitura·,
eff{"ctivamente, poderá ser mais proveitosa á. piedade chri3tã
nem ma·is salutar aD espírito humano que a contemplação
da padxão do divino Redemptor . . .
. . . Aú seu l<ivro :(A Paixão de Jesus>· dou toda a
m i n h .t approvação, conjuntamente com a minha benção a
recommendc aos meus diocesanos.
P. S. - Quando fôr impressa a 2a ed i ç ã o , mande·
·

me seds · exe mpl ares .


--· D. Hell'ecio. Arcebispo de Maria1111a:
Agradeço o precios-o (<A Paixão de Christo·>. Muito
apreciei não só a 1 a edição, mas sobretudo a 2", · que
vem augme11tada e vou m and ar elogiai-a no orgão archi­
diocesano. ·

--· D. José.. Bispo d<.' Pesqueira:


Fdicito pel o l ivro, e faço sinceros \·otüs de env-o l ta
com a benção de bispo e manifesto o mais 'ivo desejo
que seja ess- e trabalho conheoido e espalhado por todas
as dioceses do paiz, para ma:or glori a de Deus e bem ·

das almas.
D. Frederico Costa, Bispo de Talun11r:
Mu1to agradou-me o ,,Livro d a P a i xã o". Qu anto bem
fará no Brasii l!
D. Epaminondas, Bispo de Ta!tbaté:

Saud<.1 abençôo com respeitosa estima, agradecendu


e
de coração a offerta de seu precioso trabalho (<A Paixão
de Jesus Christo»; com a noticia referente ao mesmo optimo
livro. No proximo numero mandarei ins�rir uma noticia
ma.is completa.

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, A PAIXÃO DE J ESUS CH R ISTO 1.5

D. Joaquim. Arcebispo de Diamantina:


As palavras do Exmo. Sr. D. Sebastião Leme bas­
tam para recommendal-o á accêitaç ã o de todas as bôas
almas, Oxalá o lessem tambem quantos andam esquecidos
de que vivemos num exilio e somos di .;cipulos de Jesus!
MuHa m agoa se tornaria em doçura. Como m eio de melhor
propagar seu livro, vou mandar noHcial-o no Sem iirnrio
Archidiocesano.
D. Durirtc. Arcebispo de S. Paulo:
Felicito e abençôo pelo bello e piedoso trabalho s.o­
bre a Pa· i xão, cujos fructos não s·e farão esperar, tão
abundantes quanto os desejam as piedosas intenções do
autor.

- - D. Attico. Bispo de Santa Maria:


O livro merece · bençãos as mais esp e c i aes . Abençôo,
pois, fazendo votos para que a sua leitma conforte e ani­
me as almas christãs, que c e rt a mente nelle encontrarão
us mais abu ndant·es motivos para augmento de selt amor
ao amigo adoravel Jesus C hri-sto e ap ren d erão a
tudo s offre r por amor do Homem das dôres, e do Deus
da miseri<:ordia, que tão i:1com para\·el martyri J por nós
�0ffre11.
Frei Domingos, Bispo do Porto Nacional:
Peço a Deus que se digne abençoar todos os que lerem
o "Livro da Pa: i xãoil .
- D. Severino, Bispo do Piauhy:
Li todo o livro com cuidado e respeito, acht:i-o o pt i -

1110; f11la ao mesmo tempo á intemgencia, ao coração, á


alma. Dizendo que é um l ivro de ouro, penso . não dizer
bastante, po�s só urna expressão lhe quadra: do nome que
leva: é o livro da Paixão do Salvador, para o qual não
h;i comparaHvo adequado.
Pedíeis-me uma benção para a 3" edição. Esta ben­
ção peço eu a N. Se'f!hor que a d ê, acompanhada de gran­
des recompensas ao autor, pek> bem irnmenso que ás al­
m as fará esse trabalho.

D. Joaquim. Bispo de Florianopolis:

Abc·nçôo a obra _em sua 2a edição, sensivelmen.te ac­


cn.'scid<• e melhorada, renovando os sentimentos de ap­
pla11sos e votos de ple'flo exito.
D. Eduardo, Arcebispo de lconio:
Recebi o livro «A Paixão de Jesus C hri3tOll n a qua­
dra do anno em que a Igreja mais se occupa na me-

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16 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO

dit ação da Paixão de Nosso Senhor jesus Christo, e, por­


tanto, fome�-me o ensejo de mais aprofundar-me no
grande myster-io de amor de Deus aos homens.

-:- D. Antonió. Bispo d(' Pefrolina:


Abençôo e envio pala v ras de animação.

- D. Mr111u:>l. Bispo de Ilhéus:


Abençôo a 2" edição. Mando publicar notici :1 no ;<Mo­
niton>, jornal da diocese, e propagar o precioso livro.

D. Sr111ti110. Arcebispo de /'r/aceió:


Envio sinceras felicitações pela publi:ação do livro
«A Paixão de Jesu s Chr.ist0>>. Si um só pensamento na
Paixã(; de Nosso Senhor Jesus Christo aproveita immen­
samente á alma christã, que benefidos não lhe trará uma
·leitura attenta, reflectida, desse precioso li :ro e ai;1da mais
auxiliada com as gravuras qu·e o illustram e enri :iuecem?
E' de esperar que muito concorrerá para afervorar as al­
mas christãs que delle fizerem uso no amor á Paixão
do divi-no Redemptor. En\'io si1ceros parabens.

- D. Jero11y1110, Arcebispo da Bahia:


Abençôo de coração todos os seus trabalhos, fazendo
votos para que tenham ·grande propaganda em beneficio
ele nossa santa Religião.

- D. Augusto. Bispo da Barra:


Recebi o livro sobre a Paixão. Pela Quaresma farei
lêr no refoi to rio do meu Pequeno Seminari J.

D. A-liguei, Arcebispo de Olinda:


Li a <<Paixão de . Jesus Christo» com muita edi ficaç ão
e agrado. Avalio o bem que póde fazer ás almas. Quanto
deseja·ria que esse livro andasse por todas as naç'ões, des­
pertando em muitos a fé, aínor e caridade quasi extincta �
Seja este meu voto uma supplica ao divino Redemptor,
para que a este pn:!cioso livro dê ·�ntrada em todos >)S
lares brasileiros e se converta em despertador das con­
sciencias. Agradeço a nliosa offerta .

--- D. Octavia110, Arcebispo do 1!1aranl1ão:


Tenho l�do com muita attenção e profunda piedade
um numero que possuo da la edição. Esta obra está foita
com esméro e julgo de grnnd� convenienoia e utili:lade
-;fra toda a sorte de \.ei· tores, porque, aproveitando os
,anto.:: Evangelhos, a hi· storia, a tradição, em summa, to­
das a.; fontes de algum valor, descreve, o mais minuciosa�

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A �PAIXÃO DE J ESUS CHR ISTO 17

mente que é possivel, a Paixão e Morte de Nosso Sen hor


Jesus Christo, despertando assim u m a santa curiosidade
ao leitor, a quem interessa no acontecimento mais assom­
broso ele qu,e já foi theatro o mundo.
E' pois de crer que a 2a cd�ção estej a ainda mais
a�rfeiçoada, tornando-se, portanto, merecedora de nossos
a mplos louvores.
- D. Serap!tim. Bispo de Arassuahy:
Recommendo com ardor aos fie·is da minha diocese,
.dese] ando entre el les a mais larga diffusão.

- D. Carlos Duarte Costa, Bispo de Botucal'ú:


Deseja que o Liwo da Paixão produza todo aquelle
bem que já se divisa no proprio titulo, e concede a to­
dos os seus diocesanos que o k�rem devotamente, cin­
coenta dias de indulgencia.

-- Conego Manuel Tobias:


Dentro e m poucos dias, deverá surgir, em nossas li­
vrar<ias, u m a nova obra, porém de real valor, opulenta
de s ã doutrina ·e sal utares ensinamentos para a vida das
almas ; .intitula-se modestamente A Paixão de Jesus Christo
e é um v asto repositorio de tudo o que h a de mais im­
portante . a respeito da sangrenta Paixão do Redemptor.
Vasado em moldes didacticos, e m linguagem escorreita
e ao alcance de todos, impõe-se esse livro á leitura não
só . das almas piedosas que quefram meditar n as dôres.
i nfinitas do adoravel Jesus, mas· tambem de quantos estu­
.diosos que desejem conhecer, n as mais palpitantes minu­
oia:s, todos os lances angustiosos d a cruen ta tragedia do
Cal vario.
A Paixão de Jesus C!tristo contem curiosas notas de
archeologia, escrupulosamente colhidas em innumeras fon­
tes autorizadas, tornando, assim, a sua leitura, a um tempo,
instructiva, attrahente e amena. Consta de cerca de du­
zentas paginas, afóra setenta gravuras preciosas e raras,
nitidamente impressas, que illustram o texto, contando-se,
entre el\as, um mappa authentico, cuidadosamente recon­
struido, da cidade de J erus além do primeiro seculo, que
foi theatro do pungente drama.
A feição material do livro, de fino gosto, completa
perfeitamente a sua feição intel lectual, o que custou ao
seu venerando auctor paciente trabalho e pesq'..l isas, em
dilatadas e piedosas vigi!ias, prornitosamente empregadas
nessa bel l a obra de vulgarização dos martyrios de Jesus.
Com effeito, nada escapou á sua meticulosa preoccupa�
�ão de n ão esquecer os mais pequenj.n os pormenores, desde
a phy sionomia do Marty� e o tamanho e peso da cruz,
até as distancias de logar a logar, os trámites da jus�

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18 A PAIXÃO D� JESUS CHRISTO

tiça, as praxes e os costumes de então, a precisão das


horas, tudo.
E' no inte!Ji.gente m�thodo adoptado, na divisão das
makrias, na clareza da e'Xposi-ção, bem como na rev elação
surprehendente de curiosas minucias, -- um livro or· i­
nal e - digno de s�r p ro pa ga do e li d o no seio das fami li s
r.
ch ri st ãs.
Figura A Paixão de lesas C'J1dsto na bibliotheca ·_da
pia obra « Ado ração Continuai), mas devemol-a ao tale,h to
e aos esforços do illustre e denodado apostolo do :J ai­
cato catholico, dr. João Pedreira. do Couto Ferraz, fun­
dador daquella associação devota. Tem approvação eccle­
si a st ica e traz alguns trechos de v aliosa carta de sua excia.
rcnna. o sr. arc ebi spo d. s�bastião Leme ao au t or, o que,
na verdade, é, para o livro do -dr. Pedreira, honroso ti­
atlo de recomme-ndação.
Qut: essas paginas f�rnndas, saturadas do sangue ado­
rav e l do Salvador e tingidas das lagrimas pungentes de
Maria, pene trem -em todos os la r es christãos como balsamo
de con solação na s ma�uas d:i vida, alento -� conforto ás
alm<is cren tes e bôas !
Segundo Alberto Magno, um só pe nsa men t o serio na
Paixão de Christo apru\·eita mai3 á a lm a do CJLI<' um a nnc �
de jejum a pão � ag11a. O li v r o de que n os occupamos
é todo pen samen tos assi m ; lêl-o <' meditál-o, pois , é sa­
turar-se de Jesus Christo, v iver - n'Elle, por Elle e com
E lle, realizar a obra mais agradav2l á Divina Majestade�
é bu s car o meio mais cfficaz de 1110\-.?r a Bondade Di­
vina e . .. a pplac ar a j us t iça do Céu.
(Transcripto d' A Noite)_

Frei Pedro Sinzig, O. F. M.:


Cumprimento e agradeço penhorado o seu bello livro
«A Pa i x ão de Jesus Ch ri. s to:, obra muito apropriada par : a
augmcntar o amor - a Nosso Senhor, p .::: la qual \i iv a me n t e
o felicito.

--- Frei Thomaz Jansc11:


«Agradeço o livro q ue mi! mandou e que v ae ser com­
mentado no «Mensageiro-: d2 Novembro· p. \'.::

--· Padre Jeronymo de Castro, C. M.


Parabens,
parabens pelo querido livro «A Paixão de
j e s us Tenho litlo com filial prazer as refere�
ChristoJ).
cias e apreciações da ,,A U ni ãm) . Que_ abraço affectuoso
e caudaes de bençfos N. S. dev e ter \'os dado. Estou ma-­
ravilhado de ta•nta erudição histori::a e prevendo o bem
sorial que causará este li• vro, porque os homens, lendo-o,
por si mesmos chegarão ás reflexões asceticas, ao passo
que n �o se animarão a J.er outros tratad
- os d-� ascetas. Por

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A PAIXAO DE JESUS CH RISTO 19

isso d i go bem social. Só as imagens são eloquentes e pro­


yocam a curiosidade do texto.
Beijo-vos p oi s as mãos com gloria e commoção. En­
carrego-me de passar ce m e xem plar e s .
Com relação á 2a edição acho optima e penso que
N°isso Senhor diz : «Bene _scripsiste de me, J oa nnem».
\
-· Conego .fosé .1. p,·r:1.1:
Muito apreciei o b�ll-0 l i v ro sobre a Paixão, q·ue pro­
duzirá muito fructo entre os fiéi;;.
-- Mo11s. Pedro_ Massa. S.:
Recebi s eu e spl e ndid D mimo ·«A Paixão de Je su s
C h ri sto » ,
que . já tinha l ido e aprechdo immenso na la­
-edição.
Pc. Luiz Duprat:

Percorri o Livro da Paixão, achei o esplendido uti­


- ,

lissimo, muito bem feito � num methodo excellente.


P(' Pedrârn Ferreira:
O li\'ro da «Paixão de Jesus Christo)> muito me emo­
cionou. Está escripto não só com o maior e s crup u l o scien­
tifico, como tambem com a ma!or p iedade e en thu s iastico
.amor oo Eterno Enamorado de nossas almas.

- Pe. !. B. de Siqueira:
. . . E' u m livro que pres ta optimos s e rviço s 110 tra­
balho de pro pagan da a que me consagro.

--- P('. Sebasti:lo Paiol:


Tenho apreciado im me n same n te o Livro da Paixão,
You começar a propagai-o pela revista «Lourdes)). Darei
tambem o meu juizo crHico na Secção bibliographica.

--«D))---

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DESCRIPÇAO DA PALESTINA

:\' faixa de terra cm que habitavam us I s ra e ­


litas, n o tempo ele Jesus Christo, chamamos hoje
Palestina.
Era l imi ta d a ao N. pela Syria, a Phe11icia; ao
S. pela Icluméa e pelos d es e rt os do Egypto; a L.
pelo·; desertos da A rab i a e pela Ituréa; � O. pelü
mar Meditcrranco.
Era um pequeno pa1z de 220 k i l o mc t ro s ele
comprimento, por 150 de la rgu r a , com 33.000 ki­
lometros quadrados. A Palesti1l.1 é montanhosa,
com alg u n s v alles e pl an í c i e s.
O rio niai s i mp0r tante é _o Jo r clão; que· nasce
nos montes H er m an ç ent ra no mar M o rto, de­
pois de ter atravessado o lago de Genezareth mt -
mar da G a: liléa , tambem chamado T iberiades .
Foi n as · margens do lago de G en czar eth e na s
montanhas que o rodeiam que o divino Mestre en­
sinou ás m ultidõe s a ILWa rel igi ão.
O lago de Genezareth é suj ei t o, ainda hoj e ,
como nos tempos de Jesus, a freq u entes tempes­
tades. Ain d a se en c o ntra nellc um pei xe, chamado
«Peixe de S. Pedro:>, em memoria da pag ina do
Evangelho, que nos refere c om o S. Pedro a cho u
num peixe desse lago o dinheiro para pagar o tri­
buto a Cesar. -
No tempD de J esus Christo a Palestina era
composta de quatro províncias : Galiléa, Samaria,
judéa e Peréa. Essas quatro províncias formaram
um remo, que passou ao do m í n i o dos romanos, 63
ann os antes de Christo.
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22 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO

Além destas quatro provincias, deve - se men ­


cionar a D ecapoi e, confederação de dez cidades,
nas quaes dominára a influencia grega, e 33 ci­
dades gregas, cidades lines, f ::mnadas de elemen­
tos gentios, em que pred o mina ram os greg:is.
Na Gali1éa está Capharnaúm, onde Jes us tan­
tas vezes prégou e fez sua principal residenC:·ia; a
cidade de B ethsaida, patria de S. Pedro, Magdala,
patria de Santa Maria Magdalena; a pequena ,ci­
dade- ele Nazareth, onde Tesus se conservou -:i.té ao
inicio de sua missã·.J ap0stolica, e Can3, onde rea­
lizou o seu primeiro milagre.
A Sam.a ria era. a pr:wincia em que havia me­
n o s judeus, sendo seus habitantes p r i n c i pa l m en te
sam;:iritanos (indigenas) e pagãos.
Professavam os samaritanos a religião de Is­
rael, mas os judeus emig r ;:id ri s não os quiz era m
reconhecer corn�l fazendo parle elo puvo de De u s,
e <:xcluiram a Samaria da Terra Santa.

A Judéa tinha esse 1n me p�jr ser formada


pelo antigo reino de J udá Os seus habitantes cha­
.

mavam-se judeus, designação que, mais tarde, se


estendeu a todos os filhos de Israel. Entre as ci­
dades e aldeias principaes estãio: Belém_, onde
nasceu Tesus ; H ebron, onde estão os tumulos elos
patriarchas; B ethania e 83thphagé, celebradas pc·
lo s evangelistas.
A Peréa fica além cb Jmdà-0, que é a t r a ­
ducção da pal av r a Peréa. As cidades mais cele­
bres, na Vida de Jesus, sãD:
Nazareth. Era uma pequena cidade da Gali­
léa, onde nasceram a Virgem Maria e S. Tosé.
Ahi passou Jesus até aos trinta <innos, começo de
sua prégaçãJ. Actualmente, con ta uns trinta mil
h abitantes, quasi t:::id;::is catholicos. O cDnvento do:-;
Franciscanos, n o interior do qual está a Egre_ia
da Annunciação, é o melhor monumento da cidade.
Esta Egreja foi construida no. local onde esta\ - a

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A PAIXAO DE J ESUS CHRISTO 23
edificada a casa da Virgem ·Maria. Sob o côro, no
logar exacto dessa casa, existe uma capella sub­
terranea, na qual está um altar continuamente
al umiado por muitas lampadas. Sobre o marrnore
branco de que é feito, lê-se : H ic verbum caro
factum est. Foi aqui que o Verbo se fez carne.
Foi, com effeito, ahi, segundo uma antiga tradi­
ção, que o Anjo Gabriel appareceu á Santissima
Virgem. Perto dessa Egreja fica uma fonte pu­
blica, a que chamam: «Fonte de Maria», p or que,
segundo a tradição, a Virgem i a ou mandava seu
divinn ·Filho buscar agua a essa fonte.
Belém. Era uma da·s menores ci d ad es da J u ­
déa. Hoje conta u ns nove mil habitantes, lnetacle
cathol icos.
Foinessa c idad e, numa gruta, que na�;ccu J:c­
SU'>Christo. Sobre essa gruta mandou Santa H e­
lena c on st ru ir a basilica da Natividade, uma das
mais bellas do O riente.
De cada lado do altar�mór parte uma escada,
que· conduz á gruta do nascimento. Esta gruta mede
cerca de 1 zm de comprimento, por 4111 de largura
e 3m de altura. E' neste Jogar que est á o altar
da Natividade.
·O Jogar onde nasceu o Redemptor é ind ic a dü
p or uma placa com a seguinte inscripçào: H ic de
Virgine Maria Jesus C_hristus natus est. «Foi aqui
que J esus Christo nasceu da Virgem Maria» .
Belém de Judá foi a patria de D av id, onde
em pequeno guardou C!S rebanhos de seu pae. F. o i
ahi que Samuel, enviado por Deus, veiu Lierramar
o oleo santo na cabeça de Saul, s�grando-o rei
de Israel. Ahi nasceram !saias, Jessé, Booz, l\fa­
than e Jacab, seu filho, pae do glorioso S . José,
e !\í ath ias, o apostolo. E ahi, no campo de Booz,
no fundo da cidade, é que se passou a encan­
tadora historia da formosa Ruth. Foi predicta pelo
propheta Micheas para berço do Redemptor.
S. Paulo assini saudou Belém : «E'u t e saudo,,

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO

Belém. casa cb pão,


-
onde nasceu o pão que desceu -

elos céus».
Capharnaúm. u ma cidade m uito impor­
Era
tante no tempo de Christo, que niuitas v e ze s ahi
prégou, tanto na synagoga. como fóra della, e
fez muitos milagres. e nclla se inscreveu, fazendo
della seu dom ic i l io . De sua existencia só restam
hoje vestigios.
Tiberiades. Era muito celebre 110 t em p o de
Jesus Christo. De todos estes Jogares não . restam
sinão ruinas.
Foi na Pa lest i n a {t vista d o Jordão e el o Mar
,

M o rt o tendo em frente as montanhas agrestes da


,

Judéa, que Tlnmaz Ribeiro compôz a Judia, em


que diz:

Fui e visitei o m a pp a immenso


Das montanhas ela J ucléa,
Ai, patria da raça h e b réa ,

Ai, desditosa Sião!

Que extensos montes sem relva,


Que paragens sem oonforto,
Onde se estcnd_e o Mar Morto
E onde serpeia o Jo rdão !
Jerusalém. E' co
ns ide r ada pelos _tudeus como
a cidade s a nt a e tambern pelos christãos, p or q ue
, .

junto ele seus muros, foi crucificado Jesus.


A palavra Jerusalém vem do hebraico, e quer
dizer: cidade ela paz.
Está situada na Palestir). a, a 1 90 metros de al­
t itude , e assenta S)bre um planalto cortado p elos
valle� do Cedron e do Hermon.
O Monte Moriah, sobre o qúal se e rgui a o
Templo, f i c a a lé st e da cidade ; os m on t e s Acra
e Sião, a oéste. A antiga cidade estava assente
sobre· estes tres montes, r o dea d a ele p o cl e r o s ::_i s mu­
ros. Ao n o rt e do monte Moriah, sob re um rochedo
ele 24 metros de altura, e lev a v a s e a fortaleza Antonia.
-

o nde residia a guarnição romana. A cidade a n t ig a


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A PAIXÃO DE JESUS C H RISTO 25

não media mais do que um kilometro na sua maior


largura, e poderia ter uns 200.000 habitantes, no
tempo de Jesus. Nas primeiras festas do anuo, o
numero dos habitantes augmentava consideravel­
mente, por causa da concorrencia dos forasteiros
judeus, \'inclos não só da Palestina, mas tambem
de paizes longinquos, para a sua celebraçã.o .
Tem Jerusalém varios monumentos religiosos,
que são sempre visitados pelos peregrinos devotos.
O principal é o Santo Sepulcro . A actual Basilica
do Santo Sepulcro é do tempo das Cru.zadas. A
primitiva , mandada construir por Santa Helena, ti­
nha sido d estruida. Abrange �sta Basilica o Se­
pulcro, onde Jesus foi sepultado, e o Cal vario, onde
foi crucificado ; sendo, portanto, pequena a distan­
cia do Calvaria ao Sepulcro, e insignifican te a dif­
ferença elo nin�l .
.\ torrente de Cedron atravessa o \·alie do
mesmo nome. Este vallc que, mais adiante, toma
o nome de valle de Josaphat, é designado pela tra,­
diçã.o popular christã como sendo o logar do juizo
final. Quem desce de Jerusalém e atravessa a tor­
rente de Cedron, avista, na sua frente, uma mon­
tanha que domina a cidade : é o · Monte das Oli­
veiras (8 1 8 metre>s). Q monte das Oliveiras, o
mais alto dos que circumdam Jerusalém, apresenta
trcs collinas, send:J na do meio; que é a mais
alta, que Jesus Christo operou sua gloriosa Ascen­
são e deix:::> u imp ressos na rocha e>s vestigiios de
seus pés, como attestam S. Jeronymo, que os
contemplou, e outros _Santos Padres. Já não existe
sinãü o pé esquerdo, porque os turcos tiraram o
outro, no meiado do secul.o XV I 1 .
O sagrado vestigio que subsiste tem o calca­
nhar , · oltado para o Sul e os dedos para o N arte' .
o que denota que Jesus Christo,. subindo ao céu,
tinha, como na Cruz, o rosto voltado para R oma,
segundo observa Andrichoncio, na sua Geographia
santa. Está hoje o sagrado v estigio cercado por
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26 A PAIXÃO OE JESUS CHR I STO

um mtir< > . A ::J sopé deste monte, cm frente dos m u ­


ros , fica o Jardim de Gethsemani, c om a gr u ta
onde Jesus soffreu a agonia. Do alto do M onte
elas Ol iveira s, descortina o peregrino um l i n do pa­
n o r a m a de Jerusalém ; ao l ado fron te i ro, e s t á o
«Dom i n u s F l ev i t » , nome do sitio em que _je s u s cho ­
r o u , sobre Ter u sal é m . Mais acima, vê-se o local
da Ascensão_ Era fóra dos muros de Jerusalém
que os j u d eu s lançavam as i rnmund i c ies da cidade.
Para as destruir, alimentavam, num vallc, perto da
cidade, u ma fogueira, accesa dia e noite ; a esse
vallc chamavam «Gehe n n a» e tambem ao fogo que
ncllc ardia. J es u s Christo, que falav a para ser com­
p rehend i do por todos, varias vezes empregou este
termo, com para nd o aquella fogueira com o i nfe rno .

Com S . Bernardo digamos : «Eu te saudo, Ci­


clé1 clc san ta, tabernaculo que o Altíssimo san t i fi c ou
para salvar em ti e por ti o genero h uman o ! Sau­
clo-te, Cidade do grande Rei, na qual, desde a or i ­
g e m d o mundo e quasi sem interrupção, resplande­
c e r a m innumeros milagres 1 Saudo-te, M estra das
nações, Rainha das províncias, possessão el os pa­
tri; uchas, Mãe dos prophetas, instituidora da fé,
gloria do povo christão ! S au do te, terra promcttida,
-

que não fazias manar outr'ora rios de lei te e de


mel sinão para teus habitantes, e que agora dás a
t od o o universo os remedios da salvação, o id i ­
men t o da vida ! Terra bôa, excellente, q u e rec e ­
beste em teu seio fecundo a semen te celeste,
n cl l e de po s i tad a pelo coração de D eus, e q u e pro­
duziste t ão rica seara de martyres - rnarty rcs que
m ult i p li c aste ao centuplo por toda a terra, d e t i
fo r a m ditas coisas maravilhosas 1»

RETRATO DE N O SSO SEN H O R


JESUS C H R I STO

Carta que se diz ter o Prnconsul Lentulus, Pre­


sidente em Jerusalém , dirigido ao Senado de Ro-
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A PAI XÃO DE J ESUS CH RISTO 27

ma, a respeito ele N osso Senhor Jesus Christo, ex­


trahida dos «Annaes dos Romanos'\ escr·i ptos por
Eutrop io, no 4° send o : (Est. I )

Retrato de Jesus
(Est. 1 )

<<A ppareceu ne st es tempos e existe ainda um


;Íiomem (si se p ó de chamar homem) de grande vir­
tude, chamado Jesus Christo, que faz ob ras ma­
rav ilhosas.
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28 A PAI X ÃO DE J ESUS CH RISTO

Os póvos dizem que elle é o Propheta da ver­


dade, e os seus discipulos lhe chamam Filho de
D eus.
Elle resuscita .os mortos e sára toda cspecie
ele molestias, com as suas palavras e com o seu .
contacto.
E ' um homem de bello e esplendido porte, sem
ser muito mais alto do que o commum ; seu rosto
é tão veneravel que aquelles que o fitam s ão lel­
vados a amai-o e temei-o ; seus cabellos são da cô:r.
ele uma avelã bem madura : são empastados até
ás orelhas, mas, desde as .orelhas até á extremi­
dade, · são annelados e crespos ; assemelham-se u ri1
pouco á côr da cera e são muito luzidios ; fluctuam
com muita graça sobre as espaduas, e são divi­
didos ao meio da cabeça, segundo o uso dos Naza­
renos ; tem a fronte unida e muito serena ; sua face
é sem ruga nem mancha e duma vermelh idão que
o em belleza extremamente. Tem nariz e b occa muito
bem feitos ; sua barba é espessa e forte e nunqa:
foi cortada ; ella é da côr dos seus cabellos, nã!o
muito comprida e dividida ao meio, em fórm a de
forcado ; seu olhar é singelo e grave, seus olhos
apr.oximam-se do verde e sã·�> brilh à ntes e claros ;
é terrivel em suas reprehensões, doce e arnavel
cm seus conselhos ; é agradavel, e conserva sem­
pre a gravidade ; n unca foi ,·isto rir, mas mu itas
,·ezes chrnrar. E ' , quanto á disposição do seu cor­
po, direito e bem composto, tendo a s m ãos e os
bra ços e toda a sua pessôa muito agradaveis á
vista ; é grave em sua conversação, mas fala rara ­
men te e com modestia. Emfim, é um homem que,

por sua bel eza e perfeição. excede os outros ho­
mens.»
V E STIMEN TA DE J E S U S O Salvador es­
---

tava vestido e.orno os Galileus.


A s vestimentas de N ;:>sso Senhor constavam
das seguintes peças : véu sobre a cabeça (kouffich),
que era de uso invariavel entre os seus cornpatrio-

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A P AIXÃO DE JESUS CHRISTO 29
·
tas e que o clima tornava indispensavel, sobretudo
em viagem, para resguardar a cabeça e o pescoÇloi.
O véu era pres::> na frente por co.r dões. Este or­
.
nato ainda se usa n o Oriente .
Calção, que o s judeus traziam e m torno dos rins.
Tunica sem costuras, de côr parda avermelha ­
da, feita de lã de cameJ.o, e que era usada ju nt o
ao corpo, como si fosse camisa, descendo até aios
tornozelos, e assemelhando-se á blusa moderna, pelas
mangas éurtas, até ao meio dos br:;iços. Sem c o s,
tura, ou com malhas ( intervallo entre os fios), si­
gnifica indifferentemente tunica ou roupa de ba i ­
xo, isto é, camisa. O termo chiton, de S . João, deve
ser precisado pelo contexto . O ra, este, especificando
que se tratava de uma veste de malha, coll o c a o, -

por esse mesmo facto, na ca tegoria das ,-estes sub ­


trah idas ás vistas .
Vestimenta exterior sobreposta á t u n ica . Es�a
vestimenta a ssemelha-se á batina que h:Jjc os sa­
cerdotes usam.
Cinta, larga, passada muitas vezes em torno
· da c intura, e que servia para guardar certos objectos.
Manto, que os judeus, e, em particular, ·OS que
eram consagrados de um modo especial ao culto de
Deus, tinham o habito de usar. Era um amp l o
panno quadrado, composto de quatro peças. A c i n ­

tura sen·ia tambem para l c,·antar e apertar cm


torno dos rins esse man to, quando se quena ca­
minhar.
O manto servia para p resen·ar o corpo das
intemperies e cnvolvel-o durante o somno.
Em cada canto dessa vestimenta esta,-a cos ido
um pedaço de seda azul, que devia l embrar aos
jude u s a estada no Egypto, e, al ém disso. uma
borla, composta de - nós, que pelo n um er o repre­
sentam as quatr.o letras do nDm e de Jahve, sc­
g}'l ndo sua p � onuncia ''Crdadeira : Es ;a s quatro le­
' . r

yas eram o 1va, o he, o Yan e o he. (Deut. X X .


n . 1 2) .

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30 A PAlXÃO DE J ESUS C H R ISTO
Sandalias e . Cajado.
E ' provavel que N osso Senhor usasse, em
certos actos, a «capa de propheta», em vez de
ma nto, como se vê , na Est. 1 .
E ssa c ap a era formada por um largo panno,
c a l i ido sobre as costas, e preso n o pescoço por
um colchete.
O traje de Christo não i m p or t a v a m en os ;í
ch rista ndade das idades futuras elo que aos ccm­
t e m p o r a n e os, pela lembrança de sua pessôa, desti­
na d a a perpetuar-se pela imagem . Ora, em falta
ele semel hança averiguada nos traços, era preciso
que, ao menos, tivessemos o desenho elas vestes
d o Salvador.
- Durante a Paixão, Jesus esteve vestido co rn o
acim a (menos o véu sobre a cabeça), desde que
foi preso até que foi apresentado a Pilatos ( exceptn
no t empo em que esteve n a prisão, n o t r ibu n a l
de Caiphás, onde ficou só com a turiica).
D epois da apresentação a P.ilatos até sua con­
demnação, esteve vestido com a tunica . De He­
rodes para Pilatos, sobrepuzeram á tunica u m
sacco branco, por escarneo ; depois da flagellação,
o manto escarlate (chlamyde) e a corôa de es­
pinhos.
Em seguida á condemnação, foram repostas a s
suas vestes, que conservou até ao crucificamento,
sendo então retiradas e ficando provavelmente o
calção até a descida da Cruz.
COR DAS VESTI MENTAS - Os pnme1ros
pintores representavam Jesus com a tunica incon­
sutil, a qual tinha a côr parda avermelhada.
Dahi concluiram alguns, sem razão, que Jesus
usasse, ordinariamente, uma veste vermelha ; e, co­
mo sabiam que havia azul em suas vestes (nos
cantos do manto), ajuntaram á veste vermelha de
Christo o manto azul.
Isso é, entretanto, inexacto. Jesus vestia-se de
b ran co , symbolo da innocencia e da luz, e não de

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A PAI XÃO DE J ESUS CH RISTO 31
vermel ho, que era considerado entre os judeus co­
mo o symbolo do peccado .
!saias pergunta : Por que estão assim verme­
lhas as tuas vestes ? E o Senhor lhe responde :
Aspergiram sobre mim o sangue dos homens. Eis
por que estão vermelhas as minhas vestes.
No seio do eterno Pae, nos esplendores dos
Santos, Jesus t inha por vestimenta a claridade d e
s u a gloria divina. «Amictus lumine sicut vestimenta)) .
No alto do Thabor, Jesus s uspende, por instantes,
o véu que oc"c ultava sua divindade e deixa-se vêr,
resplandecente como o sol, com as vestes da al ­
vura deslumbrante da neve. «Vestimenta. ej us facta
sunt alba sicut nix».
Entre os Judeus, Typhon, symbolo do mal,
tinha a côr vermelha. Em toda a historia judaica,
vê-se esta côr considerada como emblema do pec­
cado.
Na ceremonia do bóde emissario, para a e x ­
piação solemne das faltas do povo, o grande sa­
cerdote amarrava no pescoço do bóde uma longa
faixa vermelha.
Refere-se que, sob o pontificado de Simão, o
Justo, essa faixa vermelha apparecia sempre branca,
o que era, segundo pensavam, um favor assignalado
do céu ; porque ella significava, pela côr branca,
que Deus concedia ao povo a remissão de suas
faltas ; emquanto, com .os outros grandes sacrifica­
dores, a faixa apparecia, ora branca, or.a ' ermelha.
Lembravam-se então do que dissera !saias, fazen­
do allusão á significação symbolica do vermelho :
«Quando vossos peccados ·fossem como o escarlate,
seriam embranquecidos como a n eve, quando fossem
vermelhos como a purpura, tornar-se-iam como a lã».

A H U MAN I D ADE E D I VINDADE


D� JESUS CHRISTO
Devemos contemplar o mysterio da Paixão e
das dôres de Jesus com os olhos da fé e do amor .

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32 A PAIXÃO · DE JESUS CHRISTO
_
Si julgassemos só p elo exterior e pelo que nos
mostram os sentidos, poderia parecer que alguns
marty res soffreram tanto como Jesus Christo. Mas,
quando se começam a comprehender as profunde­
zas verdadeiramente insondaveis do mysterio da
Rcdempção, tudo muda de aspecto, e as dôres d e
Christo tomam proporções literalmente tão vastas
como o mundo.
Com effeito, Jesus é não sómente o Deus crea­
dor e Senhor supremo, rrias fambem, pela uniãi<>
ind.ivisivel da natureza divina e · da natureza humana
em sua pessôa adoravel, o centro de toda a creaçãP
e, em parlicular, da humanidade. Assim como ell e
é o Santo dos Santos, assim tambem é o homem
dos homens. E, desde que o homem se tornou pec­
cador, e, como tal, escravo do demonio, submettido
ao soffrimento , (t e x p i aç ã o e ;í. morte, J esus, .o
Hom em - Deus, H. e d e m ptor de todos os homens,
torn o u -se, como o p ec cad o r u n iv er s al , o màldito
dos m alditos, de t a l modo que S. P a u l o não teme
dizer que elle se fez por nós peccado e maldição,
Nosso Redemptor apresentava-se, pois, a Deus,
seu Pae, como s i estivesse carregado de todos o s
peccaclos, que tod os os homens commettcram descle
a origem do m u n do , e cotnmetterão até ;i c o n sum­
mação elos tempos.
E , c om o D e u s é a j u st i ç a ex a ct a e perfeita,
p u n i n do todas as n o ssas fal t a s , cada uma se g undo
sna g rav idade, deYcmos vêr, pela fé, n osso a d ora >
vel Salvad or esmagado sob o peso i n comprchcn sivel
a i n d a de todos os p e cc a d o s elo m u ndo. e sob o p eSú
mais incomprehensivel ai n d a ele todos os s o f fr i ­
men tos t e mp o ra e s e e t erno s , que s ão o castigo
neccssario d os m esmos .
Q u em reflecte, um i n s t an t e, nessa m e d i d a . q u e
p a r e c � u l t rapassar t od a med i d a , cornprchendc que
f o i p r e c i s o a Jes u s todo o poder divino para v i ve r
um só i n s tant e nesse estado de v i c t i rn a u n iversal.
I sso e x p l i c a , o qu� é confirmado por u m a t rad içã;o.

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A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO '33

christã, que nunca foi visto Jesus Christo rir. Sua


pa1xao, de facto, começou com sua vida, e o Cal­
varia não foi sinão a consummação dessa obra
de expiação infinita.
O Christo era Filho de Deus, eternamente g<e­
rado por seu Pae, mas era homem tambem, e, como
tal, Filho da Santissima Virgem Maria .
.. '
A I ncarnação é a união da natureza hllmana
com a natureza divina em uma só pessôa, Nosso
S enhor Jesus Christo. O · Verbo teria podido tomar
outra natureza, angelica, por exemplo ; não o fez,
porque era mais racional que o homem, tendo pec­
cado, fosse resgatado pelos soffrimentos de um
Homem-Deus. Jesus tinha realmente um corpo h u ­
ma no : as circumstancias d e s ua vida e seus soffri ­
mentos o provam. Seu corpo era de carne, como
o nosso ; portanto, sensivel e mortal, e mais sen. ­
sivel que qual quer outro, por ser a p erfeição do
homem .
Nosso Senhor tinha a n atureza humaria com­
pleta, mas não tinha a personalidade . humana. Ejssa
está substituida pelo Verbo, que tomou uma na­
;-eza humana bem real e hem individual . Em Jesus
Christo ha duas naturezas : a divina e a humana,
formando uma só pessôa, a do Verbo, o que per­
mittc dizer, com toda a verdade, que Maria é a
Mãe de Deus, do Deu s feito homem.
Elle tomou a carne no seio da Virgem Mar ia1.
Em virtude da união intima do Verbo divino com
a natureza humana do Christo, deve-se, pois,' dizer,
com toda a verdade, que M aria é Mãe de D eu�.
Que confiança . nos deve, pois, inspirar esta
·

qua lidade de Mãe de D eus ! . . .


Os M agos, offerecendo myrrha ao Menino J e­
sus, reconheceram sua humanidade, e, offerecendo
ouro, sua divindade.

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34 · A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO

MODO DE MED ITAR PELO CRUC I F IXO


SEGUNDO SANTA TERES A

«Primeiramente faça exame d e consciencia, a


começar da ultima confissão, e, depois, um acto
de contrição, para se purificar das faltas coinmet­
tidas ; offereça-se a Deus em perpetuo sacrificio
de holocausto ; ponha diante dos olhos do enten­
dimento, ou do corpo, a Jesus Christo crucificado,
e n'Ellc considere e reconsidere com repouso. e af­
fecto da alma.
Em primeiro logar, considere a natureza di­
vina do Verbo Eterno do Pae, unida á natureza
humana, que por si não teria existencia, si Deus
não lh'a désse;
Considere o ineffavel amor e profunda humil­
dade com que Deus se rebaixou tanto, fazendo aio
H omem Deus, fazendo-se D eus Homem ; e aquella
magniticencia e largueza com que Deus usou do.-­
seu poder, manifestando-se aos homens, fazendo-��
lhes participantes da sua gloria, do seu poder e
grandeza. E si isto causar admiração, como é oos­
tume, demore aqui um pouco ; deye, depois, con­
siderar uma altura tão baixa e uma baixeza tão
alta. Olhe para a cabeça coroada de espinhos, 1e
·considere a rudeza e cegueira do nosso entendi­
mento.
Pedir a Nosso Senhor que nos abra os olhos
da alma e nos illumine o entendimento com a luz
da fé, para que com humildade entendamos quem
é Deus, e quem somos nós ; e, com este humilde
conhecimento, possamos guardar os seus manda­
mentos e conselhos, fazendo em tudo a sua D ivina
vontade.
Olhe para as mãos cravadas, considerando a
largueza dellas, seus beneficias, e a estreiteza d_as
nossas.
Olhe para os pés cravados, considerando :a
diligencia com que vêm ao nosso encontro, e.. a
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A PAiXÃO DE JESUS CH RISTO 35

lentidão com que o procuramos. Olhe para o lado


aberto, mostrando o seu coração e entranhavel
amor com que nos amou, querendo que ali seja
o nosso ninho e refugio, e por aquella porta en­
tremos para a Arca, no tempo do diluvio das nossas
tentações e tribulações.
Çomo Elle quiz . que seu lado fosse aberto, pe­
ça-lh e, em testemunho do amot que nos tinha, dê
ordem para que se abra o nosso, e descubramos
o nosso coração, e lhe manifestemos as nossas ne ­
cessidades, e aproveitemos para lhe pedir remedio
e medicina para ellas.»
(Santa Teresa, Carta Se., n ° 6-7-8) .
A respeito desta meditação, escreve D . João
de Palafox, Bispo de Osma, o seguinte : «Dê-me
licença o Santo Frei Pedro de Alcantara, e o seu
altíssimo espírito ; dê-me licença a eloquencia christã
do Veneravel Frei Luiz de Granada, admiração
dos seculos, que, em nenhuma de suas obras, en­
contro coisa alguma que, . n a fórma e !.:ubstancia,
leve vantagem a este pedacinho do estylo de Santa
Teresa.»

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VIA DOLOROSA

VIA DO CAPTIVEIRO

Jesus, depois de ter instituido a Eucharistia


no Cenaculo, sahiu, acompanhado de onze disci­
pulos, em direcção ao Jardim de Gethsemani, dis­
tante dali tres kilometros. Desceu a vertente de
Sion, sahiu da cidade pela porta Ophel, contornou
o monte Moriah, passando perto da fonte de Si­
loé, desceu a vertente, margeou a torrente de Ce­
dron, que atravessou por uma ponte, e entrou por
uma porta ao Sul. Ahi soffreu a Agonia, vendo
os soffrimen,.tos pelos quaes tinha de passar, os
peccados que ia tomar sobre si de todos os ho­
mens, desde Adão até ao ultimo, e a ingratidão
dos que, apesar de tudo, iam perder-se. Após a
Agonia de Jesus, entrou Judas no Jardim e, seguido
de grande multidão, deu um beijo em seu Mestre
para fazei-o conhecer dos que o acompanhavam,
para que o prendessem. Jesus, carregado tle ca­
deias, foi levado ao Tribunal de Annás ; sahiu do
Jardim pela porta por onde entrára, atravessou a
ponte de Cedron, sendo atirado abaixo della. Se­
guiram por caminho differente daquelle pelo qual
tinha vindo, com receio do povo, que ficára so.b re­
saltado com tal movimento a essas horas, entrando
na cidade pela Porta Esterquilina, e dahi, por es­
treitas ruas, até á casa de Annás, aproximada­
mente, desde o Cenaculo até a casa de Annás,
aproximadamente, seis kilometros. I nterrogado por
Annás e dahi levado ao Tribunal de Caiphás, se-
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·VI.A DOLoR·osA
VIA DO CA PTIVEIRO Herodes, cujo Palacio era proximo. (9) Herodes, nfto obtendo ne­
nhuma resposta de Jesus, mandqu-o de novo a Pilabs, como si
Jesus, depois de te.r instituído a Eucharist.i1t n:i Cenaculo, fosse um visionario e louco. ,Jesus foi flal{ellada (10) e coroado
sahiu acompanhado de onze discípulos em direcção ao Jardim de espin h os (11) Ba r ra bás prefmao a Jesus. (12) Pilatús apresenta
de Gethsemani. distante dali tres kihmetros. Desceu a vertente Jesus E- ·ce hom(I (14) - no estado em que estava, para com­
de Sion, sahiu da cidade pela porta Ophel, contornou o monte mover os judeus, mas esses gritaram: Crucificae·o, crucificae-o.
Moriah, passando perto da fonte de Siloé, desceu a vertente,
margeou a torrente de Cedron, que atravessou por uma ponte, e VIA DA CRUZ
entrou. por uma porta, ao Sul. Ahi soffreu a Âf!Onia, (1) vendo
os soffrimentos pelos qnaes tinha de passar, os peccados que i a Jesu� foi condemnado por Pilatos (T) e, depois de lhe te­
tomar sobre s i d e todos o s homens, desde Adão a t é a o nlt.imo, e rem posto a Cruz sohre os hombros, (Il) o sinistro cottejo desceu
a ingratidão dos que, apesar de tudo, iam perrler se. Após a a collina do T.implo por uma rua estreita na direcção de Oeste,
Agonia de Jesus, entrou Judas no Jardim e. si,guido de grande até o enct..ntro, a cento e vinte metros, com ·uma rua mais larga
multidão, deu um beijo em seu Mestre pnra fazei o conhecer dos de Ephraim, quA parte da Pcrta de Damasco, para o Sul.
que o acompanhavam, para que o pre11dess1m. (2) Jesus, carregado Antes de chegar á juncção dPsRns duas ruas, Jesus c ah i11 pela
de cadeias, foi /ePado ao Tribtl!lnl de Annás; sahindo do Jardim primeira vez. (III) Tendo apenas percorrido a extensão de trinta
pela porta por onde tinha entrado, atravessou a ponte de Ce· metros nessa grande rua de Ephraim, Jesus encontrou sua Mãe. (TV)

O TITULO DA CRUZ

'f"""


� "
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a

dron, sendo atirado abaixo delta. (3) Seguiram por caminho diffo­ Doze metros mais longe, deixou a rua de Ephraim para tomar
rente daquelle por que tinham vindo, com receio do povo, que a que vae directamente ao Gulgotha.
tinha ficado svbresaltado eom tal movimento a essas horas. En­ Aos primeiros passos nessa rua, Jesus não pôde continuar
traram na cidade pela Porta Esterquelina e dahi proseguiram, e o Centurião obtigou a Simão, o Cyreaeu, a ajudar jesus a levar a
por estreitas ruas, nté a casa de Annás, (4) percorrendo assim, Cruz. (V) Percorridos cento e vinte metros nessa rua espaçosa,
desde o Cenaculo até a casa de Annás, aproximadamente, seis ladeada de bellas casas, Veronica aproximou-se de J.isus e lim­
kilometros. Foi interrogado por Annás e dahi levado ao Tribu­ pou-/llf' o ro.•to. (VI)
nal de Caiphás, (5) separado do Tribunal de Annás por um pa­ Faltavam uns sessenta metros para chPgar á Porta Judi­
ten ; foi julgado e condemnado pelo Sanhedrin. Por ter sido feito ciaria, quando Jesus ca h iu ptla segunda vez. (Vil) Atravessou a
t'ste julgamento á noite, o que não era legal, foi adiado o mes­ Porta Judiciaria, leu o Titulo, preso a uma ha,te, indicando os
mo para a madrugada, ficando jesas preso \6) em um calabouço, rpotivos de sua condemnação. Um grupo de mulheres. vendo seu
nos baixos do Tribunal. Durante a estadia de Jesus em casa estado, o lastimavam em altas vozes (VIII) e Jesus parou e lhes
de Annás e Caiphás, S. Pedro •11gou seu Mestre, arrependendo-se disse que chorassem por ellas e por Jerusalém. Em seguida,
e m sef!Ur"da. (71 Do Tribunal- de Caiphás foi levado ao Pretoria . (8) cahiu /esus pela terceira vez (IX 1 e já não pôde levar a Cruz.
Tribunal de Pilatos, atravessando a cidade, passando por perto Chegado ao Calvario, foi despido de suas vestes, (X) posto em uma
do Calvario, descendo e subindo parte do caminho que havia de cisterna, emquanto preparavam o supplicio: crava do na Cruz ,·XI)
percorrer carregando a Cruz, gastando, nesse percurso, uns vin­ na qual mo rr e u . (XII) Foi tirado da Cruz (XIII) e sepultado \XIV )
te minutos. Pilatos, depois de interrogar a Jesus, mandou-o e no terceiro dia resuscitou como disse.
A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTD 37

parado do · Tribunal de Annás por um pateo, foi


julgado e condemnado pelo Sanhedrim . Por ter
sido feito este j ulgamento á noite, o que não era
legal, foi · adiado o mesmo para a madrugada, f i­
cando Jesus preso em um calabouço, nos baix.os
do Tr i b unal . D urante a estadia de Jesus em casa
de Annás e de C a iphás. S. Pedro n egou seu M estre,
arrependendo-se em seguida. D o Tribunal d·e Cai­
phás , foi levado ao Pretorio, Tribunal de Pilatos,
atravessan do a cidade, passando por perto do Cal ­
varia, descendo e subindo parte elo caminho que
havia de trilhar carregando a Cruz, gastando nesse
percurso uns vinte minutos. Pilatos, depois de in­
terrogar a Jesus, mandou-o a Herodes, cujo Pa­
lacio era proximo . Herodes, não obtendo nenhuma
resposta de Jesus, mandou-o de novo a Pilatos,
como si fosse um visionario e louco. Tes us foi fla­
gellado e coroado de espinhos. Barrabás preferido
a jesus. Pilatos apresenta Jesus - Ecce homo -­

no estado em que estava, para commover os ju­


deus, mas esses gritaram : C r ucificae -o , cruci ficae -.0.

VIA DA CRUZ

Jesus foi condemnado por Pilatos e, depois


de lhe terem posto a Cruz sobre os hombros, o
sinistro c ortejo desceu a collina do Templo por
uma rua estreita, n a d irecção de Oéste, até ac
encontro, a cento e vinte metros, com uma rua
· mais larga - de Ephraim, que parte da Porta de
D amasco p ara o Sul. Antes de chegar á juncção
dessas ruas, Jesus cahiu pela primeil'a vez. Tende
apenac; percorrido a extensãJo. de trinta metros nessa
grande rua de Ephraim, Jesus encontrou sua Mã.e
D.aze metros mais - longe, deixou a rua Ephrairr
par a seguir . a que vae directamente ao Golgotha
Aos p ri meiros passos, nessa rua, Jesus nãc
pôde contin uar, e o Centurião obrigou Simão, <
Cyreneu, a ajudar Jesus a levar a C ruz. Percorrido�

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38 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
cento e vinte metros, nessa rua espaçosa, ladeada
de bellas casas, Veronica aproximou-se de Jesus
e limpou-lhe o rosto.
Faltavam uns sessenta metros para chegar á
Porta Judiciaria, quando Jesus cahiu pela segunda
vez. Atravessou a Porta Judiciaria, leu o Titulo
preso a uma haste, indicando os motivos de sua
condemnação. Um grupo de mulheres, 'vendo seu
estado, o lastimavam em altas v.ozes e Jesus parou
e lhes disse que chorassem por · ellas e por J erusa­
lém. Em seguida, cahiu pela terceira vez e já não
pôde levar a Cruz. Chegado ao Calvaria, foi des­
pido de ·suas vestes ; posto em uma cisterna, em­
quanto preparavam o supplicio ; cravado na Cruz,
na qual morreu. Foi tirado da . Cruz e sepultado . . •

e no terceiro dia resuscitou, como disse.

VIA DOLOROSA - Chama-se commummente


V ia dolorosa o caminho seguido por Jesus levandp
a Cruz, a partir do Pretorio Romano, contiguo á
Fortaleza Antonia, até ao Calvario, que demora
fóra da Porta Judiciaria ; mas, com muita razão,
póde-se chamar tambem Via dolorosa a que seguiu
o Salvador, desde Gethsemani até ao «Ecce Homo».

- A . hora da Paixão é a hora por excellencia


de Jesus ; foi para essa hora que veiu, como elle
proprio o declara.
Fala della sem cessar, espera e deseja ardente­
mente que chegue a que deve ser o signal da sal­
vação dos homens.
Cada minucia tem immenso valor, sendo uma
parte do preço da redempção humana, e, por isso,
citaremos aqui o que as prophecias (ensinamentos
do Espirita Santo) e os Evangelhos nos fornecem
e o que nos trouxeram a tradição e as revelações,,
e, para melhor marcar a successão dos aconteci­
mentos, tambem as horas.
Origem da via dolorosa. Emquanto accusa­
vam Jesus perante Pilatos, sua Santíssima M ãe,

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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 39

S . João e Santa Magdalena estavam em um angulo


do Forum (Est. 2), donde tudo presenciavam, ou-

O FORUM
(Est. 2)

vindo as calumnias e insultos que assa.Cavam con­


tra Jesus.
Quando Jesus foi conduzido a Herodes, S .
João as levou a percorrer o caminho trilhado por­
Jesus, desde sua prisão no J ardim de Gethsemani.
M uitas vezes p araram, derramando abundantes
lagrimas, cheias de compaixão pelos soffrimentos
de Jesus.
A Santa Virgem beijava o chão, tinto ainda de
sangue, e . Santa Magdalena e S . JOO.o davam ex­
pansão á sua dôr.
Tal foi a origem da Via dolorosa, tal o e.o.­
meço dessa piedosa contemplação, dessas honras
pres tadas á Paixão do S enhor, antes mesmo que
estivesse t e rm inad a. Foi na mais santa flôr da hu­
manidade, n a Mãe virginal do Filho do homem,

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40 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
que começou a devoção da Egreja pelos soffrimen­
tos do seu Redemptor.
A Santa Virgem,
·
segundo foi revelado a Santa
Erigida, fazia, depois da Ascensão de Jesus, a Via
Sacra, e era seu con solo p·ercorrer os 1 36 1 passos
ele que se compõe, segundo Andromarc, aquelle
caminho, regado com o sangue precioso de seu
Filho. Os christãos, segundo attesta S. Jeronymo,
a imitaram .

PROPH E C I AS

As principaes circumstancias da Paixão de Je­


sus Christo foram todas prophetizadas - A paixão
de Jesus Christo, que é o escandalo dos judeus e
d o s incredulos, é, entretanto, o que mais cfevia
obrig<ll ·os a crêr nelle, porque; en tre todos os suc­
cessos da vida do Messias, nenhum ha nem mais
claro nem mais repetidamente annunciado.
Mas, como este assumpto é muito extenso, li­
mitar-nos- emos �presentar os sagrados oraculos,
onde vêm annunciad.as as principaes circumstancias
que vemos realizad.as na Paixão dé Jesus Christo,
e, particularmente, o cap . L I I I de I saías, que é
tão formal neste ponto, quanto cabe em uma pro;·
µhecia, podendo ser considerado como um quinto
Evangelho .
Em primeiro logar, eis as principaes circum­
stancia� da Paixão annunciadas no Antigo Testa­
mento :
1 "'
- A traição de um dos seus d iscipu_oos;
(Ps. LIV, 1 3, e seg.) : E si aquelle, que me tinha
adio, fal asse de mim com despreso e altivez, póde
ser que eu me escondesse delle.
Tu, porém, que tens commig10 um só coração,
tu, que eras o meu conductOiT e o meu confidente ;
Tu, que tomavas commiglo o alimento ; e an.­
clavamos na Casa do Senhor com perfeita uniãJo ;

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-
•.4
A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO 1
-

2n - O preço da traição e a restituição- d()


dinheiro recebido (Zach., X I , 1 2, 1 3 ) . E eu lhes
disse : Si julgaes que é j usto pagar-me, dae-me a
recompensa que me é devida, sinão n.ão o façaes�
Pagaram então trinta «Peças de P rata», como
minha recompensa. E o Senhor me disse : Pódes
lançar ao oleiro esta prata, esta bella s om ma com
que te hão recompensado. Eu fui leval-a � casa
do oleiro .
3a- A funesta morte de judas (Ps. CVI I I, 9 ) .
Os seus filhos fiquem orphãos ; e a sua m u ·
-

lher, viuva.
4,,,
- A fuga dos seus discipulos (Zach.,_ X I I I , 7 ) .
O' espada, desperta, vem contra Af meu Pasto1·,
con tra o h-0mem, que sempre está unido a m i m ,
diz o Senhor dos exercitas.
Sa- A queda na torrente de Celdron : No ca­
m i n h o beberá da torrente, e por isso exaltarc't a
,

cabeça (Ps. C I X, 7).


6(J.
- A s falsas testemunhas con tra elle s e le­
vantam , contradizendo-se (Ps. X X V I , 1 2 ) . ( P s .
X X X IV , 1 r ) . N ão me entregues ás almas dos que
me atribulam, porque se têm levantado c o n t ra m i m
!estcrnunhas falsas ; mas a iniquidade m en t i u c m
· seu c1 amno. Levantando-se testemunhos i n i q u o s , c o i ­
sas que não sabia me pergun tavam .
7a- Os pesados escarneos com que o in sul­
tam (Ps. XXI, 8 ) . Todos os que me \'iam , es­
carneciam de mim, falavam com os labios e m e ­
neavam a cabeça.
8:.- Os indignos tratos que o fizeram soffrer
( ! saias, L, 6). Entreguei o meu corpo aos que me
f criam, e as minhas faces a o s que me a r r a n c avam
as barbas.
9a - Sua cruel flagellação (Ps . XXI, 1 8 ) . Con­
taram torlos os meus ossos ( I s . C ap 1, 6). Desd e
.

a planta do p é até ao alto d a cabeça, n.a·da h a


nelle são, tudo é uma ferida, e u m a contu são, e

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42 A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO
uma c h aga inflam m ad a , que não est;Í l igada, nem
se lhe applicou remedio, nem com oleo foi suavizada.
1 On - A repartição de suas vestes e a sorte
lançada sobre sua tunica (Ps. XXI , 1 8, 1 9) . Elles
me contemplaram e me viram de perto ; d i v i d iram
entre si as minhas vestes, e sobre a m i n h a tunica
lançaram sorte.
1 1 ª - O fel e vinagre que lhe deram a beber
(Ps. LXVI I I, 22). E offereceram-me fel para meu
alimento ; e na minha sêde me deram vinagre.
1 2a - Sua crucificação e os cravos com que
a executaram (Ps. XX I , 1 7) . Tra spa s s a ram - m c as
mãos e os pés (Zach., XI I I, 6). Que chagas s;ãio
estas no .meio de tuas mãos ? E l l e d i rá : Fui cha;­
gado na casa daq uelles que me amavam .
1 3(). - Sua morte violenta (Dan., IX, 26) . De­
pois de sessenta e d ua s sem anas, scr<Í. m orto o
Ch risto.
1 4" - A lançada do lado (Zach ., X I I , I O ) .
�ão seus olhos em mim, a q uem traspassaram:.
1 Sa - As trevas e a escuridão do sol em sua
morte (Amós., V I I I , 9). N esse dia es c ure ce rá cm
pl eno meio dia, e as trevas invadirão. o rmm�lo cm
meio da mais v iva luz.
1 6e. - A gloria de seu sepulcro ( ! saias, X I , IO ) .
Seu sepulcro será glorioso, ou, segundo o hebreu,
seu descanso será gloria.
Todas as p rophecias que acabamos de citar,
os antigos rabbinos applicaram ao Messias ; pode­
riamos accrcscentar muitas outras, mas, por não
parecerem tão forrnaes e convincentes e poderem
applicar-se a outras pessôas, abstemo-nos <le apre­
sentai-as, p assando ao que contém o capitulo LI I I
de !saias.
Neste capitulo vemos :
1 0 - A oblação voluntaria de Jesus Christo
(v. 7). Elle se offereceu, porque elle mesmo o quiz
e não abriu sua hocca.

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A PAI XÃO DE JESUS CH RISTO 43
2° Sua innocencia pessoal (v. 9). Não pra­
--

ticou maldade nem houve malicia em sua bocca.


3° - Seu sacrificio por no.ssos peccados, que
tomou sobre si (v. 5 ) . Foi chagado por nossas
iniquidades, ha sido enfraquecido por nossos cri­
mes ; o castigJO que nos devia trazer a paz cahíu
sobre Elle, e pelas suas pisaduras fomos .sarados.
4° -Nossa salvação, fructo. de sua paixã.o (v.
6). Todos nós andámos desgarrados, como ovelhas
errantes ; cada um se havia desviado para seguir
o seu proprio caminho ; e Deus carregou sobre
clle a maldade de todos nós.
Sº - Seus padecimentos, chagas e humilha­
ções (v. 2, 3, 4) . Elle não tem belleza nem f'or­
mosura, e v imol-o, e nada tinha que attrahisse os
olhos, e po.r isso nós o desconhecemos. Elle nos
pareceu um objecto de despreso., o ultimo dos ho,­
mens, um varão de dôres, que sabe que coisa é
soffrer. Estava o seu rosto como escondido. e pa­
recia despresivel, por onde nenhum caso fizemos
delle. Tomou verdadeiramente sobre si as nossas
enfermidades, e elle mesmo carregou com as nossas
dôres ; e nós o considerámos como a um leproso ;
como a um homem ferido por Deus e humilhado.
6<1 - O ter sido equiparado a Barrabás ( v. 1 2 ) .'
Foi posto n o numero dos malfeitores .
r - S:ua inalteravel mansidã.o ( v . 7). Como
ovelha, será levado ao matadouro, e, como cor­
deiro, diante dos que o tosquiam, emmudecerá e
não él brirá a b occa.
8° - S'ua oração pelos verdugos (v. 1 2) : e
rogou pelos transgressores da lei.
9° - S'ua gloria e seu poder, fructos de sua
paixão (v. 1 0, 1 1 e 1 2) . O Senhor, porém, o <1uiz
atten uar em sua enfermidade. Si entregar a sua
alma pelo peccado0, verá, durante muito tempo, a
sua geração, e por sua conducta executará feliz­
mente a vontade de D eus. Verá o fructo do que

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44 A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO
sua alma houver soffrido, e será saciado. Como é
j ust·O o meu servo, justificará pela sua doutrina
um grande numero de homens e sobre si levará
as suas maldades. Por isso lhe darei por sorte uma
multidão de pessôas, e elle distribuirá os despojos
dos fortes .
-· · E ' possível reunir mais pontos de semelhança
entre uma prophecia e o seu cumprimento ?
Ainda mesmo que !saias houvesse escripto de.­
pois da morte de Jesus Christo, teria podido ex­
primir com mais minudencia suas causas e cir­
cumstancias ? Não teve muita razão S ão Jeronymo
para consideral�o antes como um evangelista do
que como um propheta de Jesus Christo ? Uma
concl usão tão assombrosa não deveria abrir o s
olhos aos judeus e aos incredulos ?
Não é preciso tel-os voluntariamente fechados
para não vêr que uma conformidade tão exacta
en t re tantas particularidades, tão varias, tão con­
trarias a todas as idéas dos homens, depende ele
uma causa superior, e que o conhecimento anteci­
p a d o de todos estes pormenores só p óde caber na
presciencia de D eus ?
E nem se póde suppôr, repetiremos, que estas
predicções pudessem ser alteradas ou corrompidas .

.Quas palavras bastam p ar a nos persuadir ele sua


i m p ossibilidade. Teria sido i mpossí vel an tes da v i n da
ele Jesus Christo, e, depois della, seria um absurdo
suppôl -o . Antes de sua vinda, como se poderia,
ad i\' i n h ar seu advento, ou descobril-o de um modo
tào parecido, apesar de seus muitos e singulares
acciden tes ?
:Mas, depois de sua vinda, os judeus, que j á
o tinham rejeitado e crucificado, teriam evitado
a concordancia de um modo tão manifesto nas pro ­
phecias que t ivessem sido inventadas depois . da
Paixão.

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\Jia do Captiveiro

1 � Esl. Agonia de Jesus em


Gelhsemani C 11 horas p. m.
de quinla·feira).
2� Est. Prisão de Jesus ( 12 ho­
ras. idem).
3� Est. Queda de Jesus no Ce·
dron ( 12 horas e 15 .minu­
tos a. m. de sexta-feira).
4� Es !. jJe su s perante An11ás (1
h <fra. idem).
5� Esl. Jesus pera n te Cõiphás (2
horas, idem).
6� Est. Jesus na prisão (3 .ls 5
horas. idem).
7� Est. Apostasia e convl"rsão de
S. Pedro (3 horas, idem).
8ª Esl. Jesus perante Pilato$ (6
horas. ide m) .
98 Est. Jesus perante Herodes (8
horas, idem).
1 o" Est. Barrabás preferido a Je­
sus (8 hs. e 30 minutos. idt m).
11 � Est. A flagellação (9 hs. idem).
12� Est. A coroaçiio de espinhos
(9 horas e 30 minutos, idt'm)

13� Esl. A Esceda Santa (. ....)


14� Est. Ecce Homo (9 horas e 45
m i m ilos , idem).

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A PAIXÃO DE JESUS
VIA D O L O .R O S A.

J .E R U SAL E M
Schema da e 1 dadG no tempo deJfSUS CHRISTO

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Uia da Cruz
Est. Jesus condemnado ã m or­
le ( 10 horas e 30 minutos a .
m . de sexta-feira).
II Est. Jesus carrega a Cruz ( 1 O
horas e 45 minutos , idem ) .
Ili Esl. Jesus cãe pela 1 � v ez
( 1 O horas e 50 mi nu los, idem).
IV Esl. Jesus encontra sua Mãe
1 1 horas, idem).
V Esl. O Cyreneu auxilia Jesus
( 1 1 horas e 5 minutos. idem).
VI Esl. A Veronica enxuga o
rosto de Jesus, ( 1 1 horas e
15 minutos, idem).
VII Esl. Jesus cãe pela 2� vez ,

( 1 1 horas e 20 minutos. idem)


VIII Esl. Jesus consola a s filhas
d e hra!'l ( 1 1 horas e 22 mi­
nutos. idem ) .
I X Es!. Jesus cãe p f' la 3ª v e z
( 1 1 horas e 2 5 minutos, idem)
X Esl. Jesus d esp0jado de seus
vesluarios ( 1 1 horas e 30
minutos , idem).
XI E�t. Jrsus cravado na Cruz
(Meio dia de sexta feira ) .
XII Esl. Jesus morre na Cruz (3
horas p. m . . idem).
XIII Esl . J�sus d escido da Cruz
14 hor11s. id em)
XIV E s l . Jesus sepu ltado (5 ho­
ras. ídem.

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VIA D O CAPTIVEIRO

1 a estação - Agonia de Jesus.


2" estação - Prisão de Jesus.
3" estação - Queda de Jesus no C edron .
4" estação - Jesus no tribuna,! de Annás.
5" estação - Jesus no tribunal de Caiphás.
6a. estação - Jesus na prisão.
7" estação - Apostasia e conversão de S . Pedro .
8a estação ·- Jesus no tribunal de P ilatos.
9ª estação - Jesus perante H erodes.
1 Oª estação - Barrabás preferido a Jesus.
1 1 a estação -· A flagellação.
I 2ª estação - Coroação de espinhos.
1 3" estação - A Escada Santa.
1 4ª. estação - Ecce Homo.

1 " ESTAÇÃO


Agonia de Jesus
( 1 1 horas p. m. de quinta-feira)

PROPHECIAS - Andavamos como ovelhas


desgarradas, cada um seg Ú ia o caminho que lhe
parecia, ,e o Senhor pôz nos hombros do seu
Ch risto . a impiedade de todos nós ( !saias, L I I I, 6) .
Dae o uvido ás_ minhas humildes preces, pois
tenho a alma repleta de e nfermidades e a minha1
vida mu ito perto da morte. A vossa colera, ó meu
D eus, ateo u-se contra mim, e, sob re a minha ca­
beça, fizestes passar as ondas de vossa ira. (Ps.
LXXXV I I , 3, 4, 8).
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46 A PAI XÃO DE J ESUS CH RISTO

Esperei que alguem tomasse parte nas minhas


tristezas, e ninguem o fez. Procurei um consola­
dor, e não o encontrei (Ps. LXVI I I , 2 1 ) .
Eu tenho de s�r baptizado com um baptismo
e quão grande não é minha angustia até que elite
se cumpra 1 (N. S . Jesus Christo) .
EVANGELHOS D epois destas palavras
(Oração por todos os fiéis), e tendo recitado o
hymno de acção de graças, sahiu Jesus com . os
seus discipulos para além da torrente do Cedron.
Dirigindo-se para o monte das Oliveiras, seus disci ­
pulos o seguiam, e Jesus lhes disse :
«Esta noite mesmo eu serei vosso escandalo, e
todos vós succumbireis, porque está escripto : «Eu
ferirei o Pastor, e as ovelhas do rebanho serão disr
persas». Mas depois que eu fôr resuscitado, vos
precederei na Galiléa».
Pedro exclamou :
«Quando todos se escandalizarem a vosso res­
peito, eu jámais me escandalizarei !»
«Esta noite mesmo, replicou Jesus, antes do
segundo canto do gallo, t u me terás renegado tres
vezes. Em verdade, eu fo declaro.»
E Pedro p rotesta com dupla energia :
«Quando me fosse p reciso morrer comvoscq,
eu não vos renegaria !»
Todos os outros usaram a mesma linguagem.
\
Ao pé do monte das Oliveiras, achava-se um
Jardim, denominàdo Gethsemani, onde Jesus en­
trou com seus discipulos. Como elle vinha muitas
vezes ahi orar com elles, esse logar era conhecido
de Judas, que o trahia. Então Jesus disse a s�us
discipulos :
«Sentae-vos aqui, emquanto vou ali fazer ora­
ção. Orae tambem, para que não entreis em ten.­
tação». D epois, tomando comsig10 a Pedro e aos
dois filhos de Zebedeu, Thiago e João, começou
a sentir · pavor e angustia, e cahiu em tristeza e
abatimento.

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO . 47
«Minha alma está triste até á morte, lhes disse
elle. Ficae aqui e velae commigo.»
Adiantando-se um pouco, afastou-se delles, á
·

distancia de um tiro de pedra, prostrou-se com a


face no chão, e começou a orar, para que, s i
fosse possivel, se afastasse delle aquella hora.
«Meu Pae, meu Pae, dizia elle, si é possível,
afastae de mim este calice ; todavia, faça-se é:!. vossa
vontade e não a minha 1»
Interrompeu sua oração, para ir a seus discí­
pulos ; achou-os dormindo, acabrunhados pela tris­
teza.
«Simão, tu dormes», disse elle a Pedro .
Depois, dirigindo-se aos dois outros :
«Assim, não pudestes velar uma hora commi­
go .. Vigiae e orae, para não entrardes em ten­
.

tação, porque o espirito está prompto, mas a carne


é fraca.»
Afastou-se de -novo, e orou pela segunda vez,
dizendo :
«Meu Pae, si não póde passar este calice, sem
que eu o b eba, faça-se a vossa vontade !»
Voltou ainda, e encontrou-os outra vez dor­
mindo, porque tinham os olhos pesados e não sa­
biam o que lhes responder.
Tendo-os deixado, foi de novo, e orou pela
terceira vez, repetindo as mesmas · palavras :
«Meu Pae, si fôr da vossa vontade, afastae
de mim este calice 1 comtudo, não a minha, vontade,
·

mas a vossa se cumpra !»


E, tendo cabido em agonia, multiplicára as
or�ções.
Sobreveiu-lhe, então, um suo r como de gotas
de sangue, que corriam até ao chão. Então um
Anjo, vindo do céu, appareceu e o confortou.
Uma terceira vez voltou para seus discípulos :
«Dormi agora e descansae 1 . . Mas basta ! . .
. .

chegou a hora ! . . . Eis que o Filho do homem vae


ser entregue nas mãos dos peccadores. Levantae-
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-18 A PAIXÃO DE J ESUS C H RISTO
vos 1 . . . Vamos ! . . . Está proximo aq uelle que me
ha de entregar ! (S. M atheus, XXVI , 30-46 ; S.
Marc., X IV, 26-42 ; S . João, XV I I I , 1 ) .

D epois de ter instituido, no C enaculo, a Eu­


charistia; a maravilha que lhe permittia ficar no
meio de nós e, simultaneamente, em muitos lagares,
Jesus sahiu com seus onze discipulos, em direcção
ao jardim de Gethsemani. (Est. 3 ) .

Jardim d e Gethsemani
(Est. 3)

E ram 1 0 horas da noite de quinta-feira. r ) Os


.Apostolos seguiam-n'o silenciosos, dominados por
. 1) A designação cio te m po para os aconteci mentos doloro­
sos da Paixão de Jeeue é aproxi m ativa

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A PAI XÃO DE JESUS CHRISTO 49
pensamentos os mais desencontrados. Os passos de
Christo eram calmos, firmes, as suas feições re­
flectiam a ternura do pae, que voluntariamente ca­
minha para a m:)rte, pela salvação de seus filhos.
E Jesus lhes fazia suas ultimas recommendações.
D esceram a vertente de Sion, passaram pela porta
de Ophel, contornaram o monte M-o riah, e desce,­
ram .o valle. No fundo, á s ombra, está o leüo da
torrente de Cedron ( torrente negra), com pouca
agua, nessa época, e essa mesma, suja e escura.
Jesus par.ou á sua margem e voltou-se, segun­
do o costume dos judeus, para saudar· o templo,
cujos porticos, tectos e flechas a lua cheia illumi­
nava. Era um adeus . O Verbo feito homem é ó
sacerdote e a victima, cuja immolaçã:o voluntaria
ia tornar inuteis o sacerdocio, o santuario e os
sac.r ificios da lei antiga. Jesus atravessou o Cedron
por uma ponte e, á esquerda, parou ao Norte, á1
d istancia ele cerca ele cem metros, e entrou no. jar­
dim charnad.::; de Gethsemani 2) (lagar de azeito­
nas), formado por um recinto fechado, reservado
á cultura , de arvores fructiferas e, principalmente,
oliveiras, no centro elo qual está o lagar.
Existem hoje :)it.o vetustas Oliveiras, que se
pensa terem sido testemunhas da aionia de Jesus.
Seus troncos, nodosos e retorcidos, medindo o
maior oito metros de circumferencia, estão toma­
dos dt: argamassa, para maior ·r esistencia, e c oroad os
dos de rara folhagem ..
«A Oliveira é, por assim dizer, immortal, disse
Chateaubriand, porque ella renasce de sua soqueira.))
Ah, ! meu Jesus, sois vós a oliveira · po,r excel­
lencia ; oliveira, agradavel symbolo da paz que tra­
zeis ao mundo, que une e incorpora a si as olivei­
ras silvestres, nossa� almas ; oliva que vae princi­
p iar a ser espremida no lagar ele G ethsemani, para
2) O ja·rdim de Gethsema:n.i está hoje cercado por
um muro. Tem 70 passos de perímetro em uma avenida
entre o muro e as grades que protegem as oito vetustas.
oHveiras. Pertence aos Padres da Terra Santa.

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50 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
acabar no lagar da Cruz ; oliva, cujo oleo n os com­
municará a misericordia, a força e a victoria so­
bre o inferno ; oliva, emfim, que é moida no Horto,
ao pé do Monte de onde subistes para o céu, p ara
significar que devemos, como vós, ser triturados
pelos soffrimentos, para entrar no Jardim celeste,
na vossa -vida eterna !
Está situado esse j ardim (Est. 4) na parte b a i -

Monte das Oliveiras


( Est. 4)

xa do valle, no logar onde começa o declive do


Monte das Oliveiras. 3) Quantas . recordações his­
toricas do povo de I srael nesse valle 1 Dois mil
3) O Monte das Oliivei.ras, o m a:s alto dos que �
cumdam jerusalém, apresenta tres ·coll:nas, sendo na do
meio, que é a mais alta, qu·e jesus Christo operou sua.
gloriosa Ascensão, e deixou impressos na rocha os v�
tigios de seus pés, como o attestam S. jeronymo, que os

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A PAI XÃO DE J ESUS CHRISTO 51

annos antes, Abrahão o atravessára, carregado dos


despojos dos reis vencidos, e Melchisedech, sacer­
dote do Altissimo, rei de Salém ou de .J erusalé:m ,
representando, por esse duplo titulo, o sacerdocio
e a realeza do Salvador, vem ao seu encontro, aben­
çôa o Patriarcha, pae de I srael, e, para agradecer
ao Deus das victorias, offerece em sacrifício . pão e
vinho. Mil annos mais tarde, outro rei de Jerusalém�
tambem figura de Christo, ali descia por sua v ez,
mas na humilhação da derrota, com os pés nús e
a cabeça coberta, em signal de luto. Era David, o
avô do Homem-Deus, que fugia diante da revolta
de seu filho Absalão.
Jesus conhecia bem esse lagar, no qual, muitas
vezes, repousava e orava. Julga-se que pertencesse
a um dos discipulos do Salvador, e é até verosímil
que ahi estivessem os tumulos · de S . Joaquim, SantaJ
Anna, S. José, e o tumulo vasio da Virgem Maria,
sendo que, com relação ao tumulo da Virgem Maria,
pensem alguns que esteja em Epheso.
Para não sujeitar seus Apostolos a uma prova
superior ás suas forças, mandou que o esperassem
logo á entrada, e fez-se acompanhar sómente de
Pedro, Thiago e João, que tinham s ido testemu­
nhas de sua transfiguração n o Thabo.r, penetrando
com elles na parte mais escura do jard im das Oli­
veiras. Apenas só com elles, cahiu c m profundo
abatimento. Suspendendo a D ivindade sua influen­
cia, o homem achou-se em p resença de tudo o que
ia soffrer. lJ ma estranha mudança se produziu em
sua pessôa. Suas feições contrahiram- se, uma pal-
contemplou, e outros Santos Padres. Já não existe sinão
o do pé esquerdo, porque os Turcos tiraram o outro, quasi·
no mefa.do do secul-0 XVI 1.
O sagr ado vestigfo que subsiste tem o calcanhar vol­
tado para o Sul e os dedos para o Norte, o que denota
que Je!'us Christ-0, subindo ao céu, t:nha, como na Cruz,
o rosto voltado p ara a Europa, · e, s-0bretudo, para o l ado
de Romé\. segundo observa Andrichomio, n a sua Geogra­
phia santa.
Está hoje o sagrado vestigio cercado dé um muro.
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52 A PAIX ÃO DE J ESUS CHR ISTO
lidez de morte espalhou-se no rosto, os olhos en­
cheram-se de perturbação e de espanto e movi­
mentos convulsivos agitaram- lhe os labios. Elle,
sempre tão calmo, tão senhor de si, elle que, com
uma palavra, domina o furor das ondas e a raiv.a:
dos demonios, tremia, tinha m edo.
Era tal a tristeza de que ficou possuido, que
deu um grito de angustia : «Minha alma está triste
até á morte)). (Est. 5 ) .

Minha alma está triste até á morte


( Est. 5)
Os tres discipulos, commovidos e at�rradosy
olhavam para elle, com ternura, sem ousar pro-

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A PAI XÃO DE JESUS CH RJSTO 53
nunciar uma palavra. Elle lhes disse : «Ficae aqui
e velae, emquanto eu vou orar». 4) Retirou-se á
distancia de um lance de pedra, isto é, cincoenta
passos, mais ou menos, . até á gruta chamada ainda
hoje da Agonia, 5 ) a qual está conservada, como
no tempo do Salvador.

Eia, pois, Senhor Jesus, visto que vós mesmo


o desejaes ardentemente para nos servir, descei a
essa .Gruta, e permitti que entremos ahi comvosco,
para assistir aos tormentos da . vossa agonia, cho­
rar nossas culpas, agradecer-vos vossa infinita bon­
dade.
Apenas chegado, viu passar, ante os seus olhos,
os instrumentos da sua paixao : cordas, pregos, es­
pinhos, azorragues e os algozes ; o povo, em d e ­
lírio, que o cobria de insultos e máus tratos. Um
instante r e c u o u ; mas, ernfim, cahiu ele joel hos,
como o rosto em terra, e exclamou : «lVIeu Pae,
si é possivel, afaste-se de mim este c alice ; entre­
tanto, faça-se a vossa vontade e não a minha>, .
· Ergueu-se _ a custo e foi para . junto dos tres
Apostolos, procurar, perto delles, alguma consola­
ção : mas a tristeza os tinha abatido por tal fórma
que estavam em uma especie de lethargü.
·
4) Perto das Ol1iveiras, ergue-se um rochedo chato,
cm que seis ou oito pessôas pódem facilmente assentar-se
ou deitar-se. I ndependente da tradição, tudo induz a con­
cluir que foi ahi que jesus Christo disse a seus Aposto­
los : «Sentae-vos aqui, emqu anto eu vou orar>J.
5 ) A gruta da Agonia, á qu al se desce por uma e s ­
cada de 3 degráus, tem t 7m de comprhnent-0, por 9m. de
l argura, e 3,m50 de alto, e é div·idida em duas partes por
uma especie de portico subterrnneo. Recebe a luz do alto
por uma abertura no r o c hedo. Acredita-se que por a M eram
as azeitonas aüradas na gruta, onde se achavam os lagares .

A gruta d a Agonia está conservada como no tempo


de jesus Christo. Estão e scriptas erri baixo do altar, em
urna pedra de marmore, estas palavras, tiradas do Evan­
ge l ho : «Hic /actus est sudor eius, sicut gutta: sanguinis
decurrentis in terra1m. «Aqu i lhe veiu u m . suor, como de
got as de sangue, que corria sobre a terra».
Segundo Anna Emmerkh, Adão e Eva, expu l s os do
paraíso, choravam frequentemente sua culpa nessa gruta.

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54 A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO
Elle se lastimou desse abandono e, dirigindo­
se mais especialmente a Pedro, que tantas pro ­
messas tinha feito : «Tu dormes, Simão ? lhe disse
elle. Como, não pudeste velar uma hora commigo ? !
Ah 1 velae e orae, afim de não succumbirdes no
momento da prova .O espírito está prompto, mas
.

a carne é fraca». E, sem esperar resposta. volta


segunda vez á «gruta».
A visão reapparece mais horrivel ainda. Elle,
o Santo dos Santos, se vê coberto de um montão
de peccados, de todas as p revaricações e crimes,
desde Adão até ao ultimo dos homens, como si
fosse culpado de todos ! Prostrado no- chão, com
o coração espedaçado, cheio de dôr á vista do pec­
cado, teve, entretanto, forças para tornar a dizer :
«Meu Pae, si é preciso que eu beba esse calice,
seja feita a vossa vontade».
Aqui, como em todo o Evangelho, para com­
prehendermos o mysterio do Christo, não nos de­
vemos esquecer de ·que, sendo D eus, o Christo é
verdadeira e perfeitamente homem, dotado de to­
das as faculdades de nossa natureza humana, e «em
tudo serpelhante a seus irmãos, excepto o peccado», .
como diz S. Paulo.
E' preciso, além disso, lembrarmo-nos de que
esse Homem-Deus é o homem da dôr, porque elle
é o martyr e a grande victima de nossos peccados,
que causaram sua Paixão, e os judeus deicidas não
foram sinão o instrumento exterior desse crime in­
finito.
O Filho de D eus, eterno, adoravel, soffria as­
sim em sua humanidade, e dava ás suas lagrimas
e á sua morte um preço absolutamente divino.
Tendo dito aquellas palavras, voltou para junto
de seus Apostolas, esperando achar em sua com­
panhia algum lenitivo para a sua alma aniquilada,
mas seus olhos estavam pesados e todos elles de
tal modo abatidos por acabrunhante tristeza, que
não tiveram uma palavra para · lhe dizer.

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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 55
Pela terceira vez entrou na gruta, para soffrer
então mortal agonia.
Além do que ia soffrer, dos peccados de todo
o mund'o, viu os milhares de peccadores que, res­
gatados por elle, o perseguiriam, entretanto, com
o seu odio, contrariando a Egreja, pisando, sob
os pés, a Hostia Santa e sua Santa Cruz, blasphe­
mando, · escandalizando tantos outros de seus ·filhos.

O suor de sangue
(Est. 6)

A' vista desta monstruosa ingratidão, cahiu como


que aniquilado ! Seu corpo cobriu-se de um suor
sangrento. 6) Gotas de sangue, que sahiam de to­
dos os póros, avermelhavam suas faces e cahiam
no pó ! A morte ia �eguir-se inevitavelmente a esta
inexprimível angustia, quando um Anjo desceu ·do
Céu para o consolar e fortificar. (Est: 6).
6) Muitos factos demonstram até á evidencia que o
corpo humano, sob o impedo de uma violenta commoção,

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56 A PAIXÃO OE JESUS CHR ISTO
No mesmo instante voltou sua calma e sere ­
nidade, e, aproximando-se de seus Apostolas, lhes
disse, com sua indulgencia habitual : «Agora dor-.
mi e repousae, nã-0 tendes mais necessidade de velar
commig-0».
Tal foi a pungente scena do jardim de Gethse­
mani . O Salvador p ercorreu, uns após outros, os
tres abysmos da malvadez humana : os máus tra­
tos que tinha de soffrer, com a mais requintada
crueldade e ingratidão daquelles mesmos que veiu
salvar ; todas as iniquidades, crimes e peccados,
praticados desde o principio do mundo . e que ia
tomar sobre si ; e, depois, sua Cruz insultada, sua
doutrina esquecida, sua Egreja e seus sacerdotes
perseg uidos, seu Corpo eucharistico calcado aos pés,
esquecido e abandonado : o presente, o passado e
o futuro.
Em face de tanta cegueira e perversidade tão
negra. seu coração revoltou-se, todo elle estreme­
ceu attonito, e cahiu sob o peso do sacrifici o .
Mas, por fim, o amor venceu, e Jesus offe­
receu-sc como victima pelos mesmos que lhe iam
dar a morte, · p elos mesmos que até ao !im dos se­
cul-os o haviam de crucifica'r. «Vossa dôr, exclama
maiis de uma vez se tem coberto de um suor sangrento.
Aristoteles, Theophrastes, Marcel, Duuots, Wedal, Bartho­
lin e Thon ditaram, em suas obras, exemplos desse pheno­
meno, que póde ser causado, em particular, por u m terror
violento. Os medicas dão a esse phenomeno o nome de
Diapedesis. S. Lucas, em sua qualidade de medico, não
podia deixar de rel atar esse phenomeno.
- O Pe. Chicarne, na V.ida do Pe. Lacordaire, refore
o seguinte facto : «Em 1 860, em Soreze, um religioso, j á
doente h a tempos, acabava de lêr u m a carta que l h e tinha
feito muita i mpress ã o , affectamdo suas ma1s Iegrnmas su­
sceptibilidades. Seus cabellos eriçaram- se na. cabeça, que
parecia em fogo. Um suor avermelhado 'inundou sua testa·.
Enxugando-a, ficou surpreso de vêr seu lenço ensanguen ·
·

lado.
O facto me foi referido pelo Padre Dominicano que
estava com elle nessa occas1i ão». E', sobretudo, nas naturezas
delicadas e sensiveis que esta acção do mornl sobre o
physico se mandfesta mais vivamente.
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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 57
Bourdaloue, é como um vasto mar, do qual não
se póde sondar o fundo, nem medir a immensidade !
Foi para encher esse mar que todos os peccados
dos homens entraram como outros tantos rios na
alma do Filho de D eus ! . »
. .

- O ' meu adoravel Salvador, vergado sob o


peso das nossas iniquidades, não permitt'1-e's que
eu venha a ser do numero · dos que vos fizeram
suar sangue. Inspirae-me um profundo horror por
todas as minhas faltas, cuja consideração bastou
para vos afogar a alma num oceano de tristeza.
Fazei que d 'ora em diante, pela pureza de minha
vida e pela dedicação de minha alma, eu vos con­
sole, como o Anjo · do Céu, das ingratidões e blas­
phemias de vossos filhos rebeldes. Assim seja.

-- «D» --

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VIA D O CAPTIVE IRO

2ª ESTAÇÃO

Prisão de Jesus
(Quinta-feira á mei � noite)

PROPHECIAS - Desviastes de mim todos os


meus parentes ; todos os meus amigos, por causa
da minha desgraça, me abandonaram e me aca­
brunh aram (Ps. LXXXV I I , 1 9) .
Levanta-te, gladio, contra o meu Pastor, con­
tra o homem · que sempre se dedicou a mim, diz
o Senhor. Fére o P.astor, e serão dispersas ·as ove­
lhas (Zach., XI I I, 7 ) .
o homem com quem eu vivia em paz, a
quem déra toda a minha confiança e que comia
o meu pão, engrandeceu a sua trah ição contra
mim (Ps. XL, r n) .
Avaliaram-me e m trinta dinheiros - (Zach.,
XI, 1 2, 1 3).
Fui trahido e não escapei das mãos dos meus
inimigos (Ps. LXXXV I I , 9) .
Eis ahi vem, e já é chegada a hora, em que
sejaes dispersos cada um para seu lado, e me dei­
xeis só ; mas eu não estou só, porque o Pae está
com migo (N . S. Jesus Christo ) .

EVANGELHOS - Falava ainda Jesus, quan­


do chegou Judas I scariotes, um dos doze, acompa­
nhad.o de uma cohorte. Além delle, os Pontífices,
os Phariseus, os Escribas e os Antigos do p ovo
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A PAI XÃO DE J ESUS CHRISTO 59

tinham mandado seus criados com lanternas, to­


chas e armas. Em torno de Jesus, agitava-se uma
muJtidão numerosa, munida de espadas e de bas­
tões.
Ora, o traidor lhes tinha dado este signal :
«Aquelle a quem eu beijar é aquelle a quem
procuraes. Prendei-o e levae-o com p recaução.»
Judas avançou á frente da cohorte, apr.oximou-se
rapidamente de Jesus, dizendo :
«Mestre, eu te saudo I»
E deu-lhe um osculo.
«Amigo, lhe disse Jesus, a que vieste ? . . . Ju­
das 1 . Tu trahes o Filho do homem com um
• •

osculo 1 » • . .

Jesus, sabendo tudo o que ia acontecer, apre-


sentou-se diante dos satellites e lhes disse :
«A quem procuraes ?»
«A Jesus de N azareth», responderam elles.
«Sou eu», disse Jesus.
No meio delles estava Judas, que o trahia.
Desde que Jesus lhes disse : «Sou eu», recua-
ram e cahiram para traz.
De novo Jesus lhes perguntou :
«A quem procuraes ?»
«A Jesus de N azareth», repetiram elles.
«Já vos disse que s::>u eu ! replicou Jesus. Mas
s1 é a mim que procuraes, deixae ir estes».
Assim se cumpriu o que tinha dito : «Não
perdi nenhum daquelles que me déstes.»
Os homens da cohorte aproximaram-se logo,
lançaram-lhe as mãos e o prenderam.
Os que o cercaram, vendo o que ia acontecer,
disseram-lhe :
«Senhor ! si n-ós os ferissemos com a espada ?»
E, sem esperar a resposta, Simão Pedro, que
trazia uma espada, tirou-a da bainha e, ferindo
um servo do Summo Pontífice, chamado Malcho,
cortou-lhe a orelha direita.

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60 A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO
Mas Jesus, t:omando a pal� v ra disse :
,

«Deixae este homem vir até aqui».


E tocou em sua orelha e o sarou.
D i ri gindo - se então a Pedro, disse :
«Põe tua espad a na ba i nha , porque todos aqu e l­
les q u e se servirem da esp ada, morrerão p ela es­
pada . . NãD é p r eciso que eu beba o ca lic e que
.

meu Pae me deu ? . . . Pensas, po r ventura, que


iüfo posso rog a r a meu Pae, e que elle não me
enviará immediatamente mais de doz e legiões de
anjos ? . . Como e n t ão se hão de c ump rir as Es­
.

cripturas, que annunciam que assim deve ser ? . . . >'

D i rigindo - se em segu i da , para a multidão, no


,

meio da qual se achavam Principes dos sacerdo­


tes, Guardas do · Templo e A nciãos :

«Para me prender, lhes disse el le viestes co m


.

espadas e bastões, como si eu fosse um ladrão.


Ent re ta n to , todos os dias, eu esta,·a assentado no
meio de vós, para ensinar no Templo, e vós não
me lançastes a s mãlos . Mas esta é a vossa hora,
é a hora do poder das trevas.»
«Ora, tudo isto acontece para que se cumpra
o que está escripto nos Prnphetas.»
Então, os homens da cohorte, seu coniman­
dante, e os satellites dos judeus, atiraram-se sobre
Jesus, e o amarraram. Nesse mom e n t o todos seus ,

d is c ip u los o abandonaram e f ug iram . Um jov em


que aJ.i estava, coberto sómente com um lençol,
quiz seguir Jesus ; os satellites o pre nde ram ; mas,
d e ix ando o lençol en t re suas mãos, escapou tam­
bem.
(S. Math., XXV I, 47- 56 ; S. Marc., XI V, 43- 5 2 ;
S. João. XVI I I, 3- 1 2) .

Q u an d o se ap rox nn aram os que vinham pren­


der Jesus, elle s ah i u da gruta, dirigiu-se a o s tres

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 61
Apostolos e lhes disse : «Levantae-vos, vamos, aquel­
lc que deve entregar-me, já está perto.» (Est. 7)

jesus desperta os Apostolos


(Est. 7)

E com elles encaminhou-se para os outros Aposto­


las, no mesmo momento cm que Judas entrava
com seu sequit-Q, composto de parte da cohorte
roma'na, 1 ) e da guarda do Templo, levitas, cria­
dos, sacerdotes, funccionarios e outr.os, munidos
de archotes e laternas, páus e espadas. Traziam
archotes e lanternas, posto que a lua fosse cheia,
porque conheciam a obscuridade dos lagares em
que Jesus se achava.
Como os soldados não conheciam Jesus, rece­
beram ordem de parar á por.t a do jardim de Geth-

1 ) A cohorte romana era a decima p:i:rte da legião ;


esta compunha�se de 6.000 soldados .
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62 A PAI XÃO DE JESUS CHRISTO
semani, aguardando que Judas lhes indicasse quem
era seu · Mestre. «Aquelle que eu beijar, disse o
trahidor, é elle.» Prendam-no e levem-n-0 com todas
as precauções, porque nos p oderá escapar», pois os
judeus· viam em Jesus um ser invisível, inaccessi­
vel, em certas occasiões. Dado o signal, Judas mis­
turar-se-ia com os outros Apostolos, c omo si nada
tivesse com o crime que se ia commetter. Evitava
assim o despreso em que seria tido, por ter trahido
seu Mestre, e os Principes dos sacerdotes não in ­
correriam n a vergonha de ter recorrido a um vil
expediénte para satisfazer sua vingança. Depois do
ultimo i ncidente no Cenaculo, Judas não teria a
coragem de beijar seu Mestre, como .antes. O des­
graçado, accrescentando ao crime uma impudencia
inaudita, apresentou-se, não como um amigo, mas
como um arrependido. Simulando ped ir uma graça,
era razão natural o abraço e o beijo. Segundo S .
Lucas, o traid or precedia o p elo t ã o e , talvez, mes­
mo bastante longe, para que não parecesse . fazer
causa commum com elle . . Si, com effeito, elle se
apresentasse como chefe do pelotão, a demonstra­
ção affectuosa que ellc qu�ria manifestar, não ti­
nha explicação. A categoria de chefe de uma malta
visivelmente hostil e a manifestação affectuosa eram
i nc om p a t i v c i s . Os h omens armados, pois, ficaram
á dis ta n c i a , talvez µor traz do muro q u e cercava
o j ard i m , espreitando o que se ia passar. Mas não
tinham elles contado com a sabed oria e poder de
D eus. Era meia n o i t e , q uan do chegaram perto <lo
jardim . Judas avançou só, e, tomando as mãos de
Jesus, conforme o u so , o beijou, dizendo : «Mestre,
eu te s a u d o » . Sua v o z tremia : «M estre, Mestre:>.
N ão podendo sahir d o embaraço, Jesus lhe retor­
quiu : «Meu amigo, o que vindes fazer aq u i ? (Est. 8 ) .
Judas, t rahes o F i l h o do homem com !.1 m beijo ?;>
Judas, em vez de cahir de joelhos an te tanta rn 1 -
s eri co r dia, voltou para juTht:o dos seus.
-
P rovavelmente, n a esc ii.r idão e confusão que·

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
reinavam, o signal dado pelo trahidor não foi suff i­
cientemente percebido. Para que ficasse bem claro
que Jesus era preso porque queria, elle não esperou
que o prendessem, e, avançando, perguntou - lhes :

O beijo de J udas
(Est. 8)

«A quem procuraes ?» «A Jesus de N azareth», res­


ponderam. - «Sou eu», disse J esus. E logo, cheios
de tremor, e como que impellidos por força supe­
rior, recuaram e caíram para traz. (Est. 9). O Sal­
vador quiz mostrar que, em conformidade com a
prnphecia de Isaías _ ( LI I I, 7), se entregava mui
livremente, porque t inha meios e força para livrar-
·

se elas mãos de seus inimigos.


Quando se levantaram, Jesus torn ou a pergun­
tar-lhes : «A quem procuraes ?» «A Jesus de N aza­
reth», retorquiram elles, todos tremulas . «Eu sou

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64 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
Jesus de N azareth ; si é a mim que procuraes, dei­
xae ir estes que estão commigo». Então, atiraram­
se . sobre Jesus, para prendel-:,o , ao que os Aposto­
los quizeram se oppôr, puxando Pedro pela es­
pada 2) e ferind·::i a orelha de um criado chamado

Queda dos que prendiam jesus


( Es t . 9)

Malcho. Jesus interveiu e, tocando a orelha ferida,


sa rou-a. Em seguida, disse Jesus : «Pedro, põe a
espada na bainha, pois quem com ferro fere, com
o ferro será ferido. E não devo eu por acaso beber
o calice que meu Pae me apresenta ? Pensas que
si eu quizesse pedir a meu Pae que me defendesse,
ellc n ãn me mandaria, n um instante, mais ele doze
2 ) Os jud·eus tra�iam commummentc 'lrm as, e por
isso não é de a<:lmiirar que S. Pedro tivesse uma espada.

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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO . 6'.5

legiões de Anjos ? 3) Não, não., o que se faz agora,


foi predicto ; é preciso que as Escripturas se cum­
pram». Realizou assim o que tinha dito : «Soffro,
porque quero». Voltando-se para os que vieram
prendei-o, disse : «Viestes com espada s e páus, co­
mo si tivesseis que prender um ladrão)), :mas sabei
que as armas nada pódem contra mim. Todos os
dias eu estava assentado no templo no meio de
vós, ensinando minha doutrina, por que me não
pudestes prender ? E ' porque o momento, fixad o
por meu Pae, ainda não chegára. Agora é a vossa
hora, é a hora das potencias infernaes, de quem
sois os intrumentos. Ainda uma vez é preciso que
as predicções se cumpram.»
O odio cegava e endurecia os corações desses
homens : qu<�mto mais Jesus m anifestava sua divin­
dade, tanto mais sua raiva crescia. Atiraram-se so­
bre Jesus que estendeu as mãos para que as amar-
rassem, o que os archeiros fizeram do modo mais
cruel, com cordas novas e muito duras. Ligaram
o punho da mão direita abaixo do cotovello do
braço esquerdo e o punho da mão esquerda abaixo
do braço direito. Puzeram-lhe em torno do pes­
coço uma ·colleira, donde partiam duas correias,
em cruz, sobre o peito., como uma estola, ligadas
ao cinturão. Nesse cintur.ão amarràram quatro lon­
gas cordas, por meio das quaes esses malvados
puxavam o �enhor em todos os sentidos.
Os Apostolos, vendo seu Mestre preso, 4) sem
3) Quan do Nosso Senhor falou nas doze legüõcs de
Anjos, referi a-se evidentemente aos d oze Apostolos, com­
parnndo a fraqueza e impotenci.a del les com a mu l t i d ão dos
celestes espi rifos de que dispõe.
4) A prisão de Jesus effectuou-se a dez ou doze
passos do rochedo em que se achavam os doze Aposto�
l os ; esse l o g ar está a quJ111 ze m et ro s da p o rta actual do
-

Horto e e n cerr ado entre mu ros.


Foi nesse logar que o misera\·el j udas deu o osculo
trahidor ; ahi os qu.e o arnmpanhav am cahiram fulminados ;
ahi Pedro feriu a orelha de Ma l cho servo do Summo
,

Pontífice, a que m jesu s curou mil agrosamente ; ahi o Sal­


vador se entregou J :vremente á prisão.
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66 A PAI XÃO DE J ESUS CHRISTO
romper as cadeias' que nelle puzeram, que os sol­
dados o ultrajavam, que os sacerdotes e levitas
blasphemavam e que os demais começavam a vo­
ciferar e ameaçai-os, esqueceram-se de todos os
protestos feitos e cada um fugiu para um lado,
procurando todos o s.ombrio valle da Gehenna, em
cujas cavernas abertas nos rochedos se refugiaram
até o dia seguinte. Uma dessas grutas é ain da
chamada Retiro dos Apostolos, porque, segundo a
tradição, o ito dos Apostolos ahi se abrigaram de­
pois da Paixão do Salvador. Só um joven disci­
pulo, refere S. Marcos, correu precipitadamente ao
rumor que faziam os soldados, parecendo ter sido
despertado, pois estava envolto em um lençol, 5)
e quiz seguir seu Mestre. Os soldados receberam
ordem de prendei-o e já o tinham nas mãos, quan­
do elle, deixando o lençol, fugiu. As tradições não
estão accordes quanto a esse joven, pensando al­
guns ter sido São Marcos, por ser o unico Evan­
gelista que refere o facto.
Assim Jesus fio)U só n0 meio dos seus ini­
mig·.:> s.
O ·. tremendo cortejo, illuminado por um gran­
de numero de archotes accesos, pôz-se então em
marcha. Na frente, caminhavam os soldados, em
seguida, o s archeiros, que puxavam Jesus pelas
cordas , depois os phariseus, que não cessavam de
insultal-o ; a turba fechava a marcha .
- O ' meu Jesus preso, deixae-rrie beijar com
terna veneração, e banhar de lagrimas esses laços
de ignorninia, essas cadeias com que vos prendem .
Ah ! corno o aspecto de vossos membros, pisados
pelos apertados nós dessas cordas, me inspi ra a
coragem de partir, de vez, as cadeias malditas que
me ligam ao peccado, e de me unir para sempre,
pela aurea cadeia duma generosa caridade, á p er­
feita observação de vossa santa lei !
A ssim seja.
- -5) Este lençol, sindone, e r a tambem uma veste de
linho, que se podia vesfa e despir fac!lmente.
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VIA D O CAPT I VEIRO

3ª ESTAÇÃO

Queda de Jesus no Cedron

( 1 2 horas e qu.inze minutos a. m . de Sexta-feira)

PROPHECIA - Ao longo do c amínho, be­


berá agua da torrente, e por isso levantará a ca­
b eça (Ps. CIX, 7).

O cortejo caminhava a passos precipitados.


D epois de ter deixado a estrada que separava o
Monte das Oliveiras do Jardim de Gethseman i ,

dirigiu-se para Leste· e chegou logo a uma ponte


sobre a torrente do Cedron.
Essa ponte era muito longa e estendia-s e além
do leito do rio, por causa da desi g ualdade do ter­
reno. Antes de chegar ao meio, já Jesus tinha
sido · lançado duas vezes ao c h ão pelos puxões
que davam os archeiros.
Uma tradição antiga e revelações . dizem que,
chegados ao meio da ponte, precipitaram J ésus
na torr ente, para que matasse a sêde, segundo
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68 A PAIXÃO DE JESUS CHR.ISTO
diziam. (Est. IO ) Elle cahiu sobre os joelhos, depois
sobre o rosto, que se teria partido sobre as pedras,
pouco cobertas d'agua, si não o tivessem impedido

Queda de Jesus no Cedron


(Est. 1 0)

suas mãos . Os vestigios de seus pés e mãos fi­


caram impressos, por muito tempo, nas pedras .
Jesus, que ainda não saciár<1: a sêde cruel que
a agonia no Jardim das Oliveiras lhe causára, be­
beu da agua do Cedron.
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A. PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 69

Mal se póde adivinhar as intenções dos ju­


deus com essa crueldade, a não ser que o qui­
zessem matar, emquanto estava em suas mãos, re­
ceiosos que estavam do resultado final . Vê-se, ain­
da hoje, perto da ponte do Cedron, uma pedra
grande, onde existiam esses vestigios, mostrando
assim o Senhor que até as pedras são menos duras
do que o coração de muitos homens . A Egreja
concede indulgencia aos peregrinos que se a1oe­
lharem nessa pedra, sendo, por isso, a terceira es­
tação da V �a do C aptiveiro.
Os archeiros, tendo ficado sobre a ponte, se­
guravam o s extremos das c ordas com que Jesus
estava preso, e o puxavam para cima, no meio
de insultos, imprecações e pancadas. Suas vestes,
embebidas d'agua lodosa e colladas ao corpo, em­
bargavam-lhe o passo, e, ao sahir da ponte, cahiu
por · terra . . Pouco depois da meia noite, Jesus aca­
bava de atravessar a ponte.
Os archeiro s atormentavam Jesus com requinte
de crueldade ; o que faziam, sobretudo, para agra­
dar aos phariseus, cheios de odio e de fel contra
o Senhor. Elles o levaram por caminhos differen­
tes daquelles por o nde tinham vindo, com receio
do povo, que ficára sobresaltado por vêr tanta
gei1te a essa hora. Os caminhos eram pedregosos
e ch eios de lama, e os algozes puxavam as cor­
das com violencia.
Com o utras cordas que empunhavam, batiam
em Jesus, como o carniceiro b ate no animal que
leva para o matadouro ; ao mesmo tempo o affli­
giam com insultos, sarcasmos e palavras taes, que
se não poderiam repetir.
Innumeras pessôas souberam do o ccorrido, e,
apesar da volta por outro caminho, c;:>rreram a
vêl-o, e lastimavam os máus tratos que Jesus sof­
·

fria, pois, entre ellas, muitas tinham s ido saradas


ou soccorridas por elle. ReceioS1os de que soltas­
sem Jesus, requisitaram os algozes reforços de sol-

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70 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
dados, sendo-lhes enviado um pelotão de sessenta
homens. 1 )
- Que triumpho para os inimigos de Jesus,
que blasphemias ao verem-n'o cahir 1 . . . E eu . . .
quantas vezes nãD tenho deshonrado a religião e a
piedade, alegrado o inferno e os seus filhos com
minhas quedas e com os meus escandalos 1 . . . For­
tificae os meus passos, Jesus, na senda dos vossos
mandamentos. Que .os meritos desta queda me li­
vrem de cahir em peccado mortal. Fazei que eu
jámais vos offenda e que vos ame cada vez mais.
Amen.

1 ) A estampa n° 1 O apresenta judas escondido sob


a arcada da ponte, quando jesus foi atirado abaixo del l a.
Indica assiim o remorso que Jud as começava a ter pelo
acto praticado, cujas consequencias estava presenciando, pois
é de crêr que judas não acreditasse que Jesus se deixasse
prender, tendo-o visto tornar-se invisivel e passar pelo meio
da multidão que o queda acclamar rei.
Agora, porém, que o vda entregar-se á prisão e oo­
meçar a soffrer os m áus tratos de seus inimigos, o re­
mnrso mordia-lhe a alma.
Acho que vem aqui a l a•nço relatar aquella tragedia
de que, por sua culpa, foa vktima o desgraçado apostolo :
Por occasião do festiim que Simão, o leproso, u m
dos que jesus t:•n ha sarado, pae de Lazarn, Marth a e M a­
ria, offerecera a jesus, e m s u a casa, n a Bethania, na tarde
de sex ta-fe:i ra, começo do sexto dia antes d a Paschoa ju­
daka, Maria derramou nos pés de Jesus custosos pe rfum es,
no valor de 300 denados (350.BOOO, ao c ambio par, cm
nossa m oe da) , e nxu gand o -os com os seus cabel los.
As mulheres escravas l avavam os pés de seus senho­
res e os enxugavam com seus cabellos.
Os discipuJ.os, e em primeiro J ogar judas, murmura­
ram contra o que julgavam um de sperdi do . jesus lhes ex'­
plicou o pe n samento de M ari a, que tinha pres e n tido seu
íim, já tres vezes predicto por el le, e, te111end0 que seu
corpo ficasse sem honras, depois - de sua morte, ella o
emb a lsa m ava com antecedencia. Emquanto, porém, elle lou­
vava sua gene ro s i dade e decl ara va que, onde fosse pré­
gado o Ev aingelho , se referiria, em seu lou \'or, o que
acabava de fazer, o avare'nto judas sahiu, e foi vender
o seu Mestre, sendo um dos m otivos ·i ndem nizar-se do
que não tinha entrado para sua bolsa. Esta circu mstan­
cia, com effeito, p a rece ter destruído por completo a sua
fidd idade, já m u :to abalada. Elle exaltou-se, falou de
economia ne cess aria, de despesas extra\'agantes e, apparen-

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 71
tando tomar o interesse dos pobres, patenteou, mais uma
vez, como nota S. j oão, sua avareza e· sua infidelldad·e
notaria. Tendo-o censurado jesus, em presença de todos,
approvando bem alto o acto de Maria, o desgraçado, fe­
rJdo em seu amor propriio, e j á tra:dor em seu coração .
levantou-se da mesa e sah.: u para executar seu des·ignio.
O habito da avaireza arrastou judas a vender seu
Mestre por um pouco de dinheiro : 30 peças de prata
(1 O .'500 em nossa moeda), preço de um escravo !. 'Entre­
tanto, judas esperava, conhecendo o poder de jesus, que
elle não se deixasse prender, como j á tinha feito, quando
o quizeram lapidar.
Assim, grande f0ii o seu espanto ao ouvir a sentença
dos juizes iniquos, e vêr que jesus ficava prisioneiro �
soffria toda sorte de ultrajes, comprehendendo então a
enormidade de seu crime.
!
Então seu pesar se tornou m ais amargo . A respo a­
bi!.idade do seu acto esmagava-o. Teve o pensamento de
·

tirai-a de si p ara pôl-a nos que o tinham encorajado


crime. Arrependeu-se, mas não com o devia, pois o se
arrependimento era acompanhado de desespero. Aquelle m al­
fadado dinheiro, que elle tanto cubiçára, era agora para
elle um peso insupportavel, um remorso horrivel !
judas, cheio de remorsos, tornou a levar as trinta
moedas de prata aos Principes dos Sacerdotes e Anciãos,
dizendo : «Pequei, entregando o sangue innocente». Mas elles
l he responderam : «A nós, que se n os dá ? Visses tu lá
o que fazias». N ã o sendo attendido, o traidor lançou .as
moedas no Templo, i ndo enforcar-se em uma arvore, fóra
da cidade. Seu corpo arrebentou pelo meio e suas entra­
nhas se derram aram.
Não confiou n a mriserricordia de jesus (o que consti­
tuau rna.�or crime do que o de tel-o trahido ), a.o envez
de S. Pedro, que, tendo negado tres vezes seu Mestre,
confiou na misericordfa divina e foi perdoado. Os Prin­
cipes dos Sacerdotes, tomando o dinheiro, disseram : «Não
é licito deitai-o no cofre Carbona (thesouro s acro, ou cofre
das esmolas), porque é o preço do sangue». Tendo, pois,
deliberado, compraram com elle o campo de um oleiro,
e por essa razão se ficou chamando aquel l e campo, até
o dia de hoje, Haceldama, isto é, campo do s angue. Então
se cumpriu o que fôra annunciado pelo p ropheta jeremias,
que disse : «E tomaram as trinta moedas de prata, preço.
do que foi apreçado dentre os filhos de Israel, e deram-n'as
pelo · campo de um oleiro, assim com o me ordenou o Se­
nhor>>.
Esse campo está Slituado n a vertente meridional do
valle de Hinnon, ao suéste d e jerusalém. O facto de ter
acceito uma recompensa tão miseravel por um crime tão
grande, deixa-nos entrevêr tudo o que havia de baixo n a
a l m a d o traidor.
A mod-i cidade desta somma levou certos exegetas a

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72 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
reeorrerem a interpretações de todo genero, para explicar
como judas a · acceitou. Os trinta sidos, dizem alguns0
eram arrhas. Judas, dizem outros, esperava obter mais,
logo que sua trahição fosse consummada. De facto, a
somma era mesquinha ; mas, além da cupidez, uma vez
satisfeita, se contentar de pouco, deve-se vêr nessa cir­
cumstancia u m facto providencial. Deus permittiu que fos­
sem offerecidos, precisamente, trinta iclos a Judas, para
realizar-se o oraculo prophetico de Zacha:r'
· «Avaliaram-me
em trinta dinheiros». ( Zach. XI, 12, 13.)
E' provavel que o oleiro tivesse retirado a m aior
parte da argilla cointida no campo ; o que desvalorizou o
terreno, tomado sem applicação util, razão por que foi
\'endido por preço tão vil.
Segundo S. Matheus, o sangue em questão é o de
jesus, emqua·nto, segundo S. Pedro, seria o de Judas, por­
que foi no campo do oleiro que se effectuou o sudcid�
do traidor e a horrível effusão de seu sangue ; mas nada
impede que as duas circumstancias reunidas tenham con­
tribuido para a formação da palavra haceldama. O Evan­
gelista, depo�s de ter mencionado a compra desse campo,
faz notaii· que esta circu mstancia assim como a das trinta
peças de prata tinham sido annunciadas pelos propheta.s.
«Então foi realizado o que tinha sido predito pelo p.ro,.
pheta Jeremias, quando disse : Elles receberam trinta ,pe-­
ças de prata, preço d' Aquelle que puzeram em preço, que
elles compraram aos filhos de Israel ; e elles as deram
pelo campo do oleiro, assim como o Senhor me orde­
nou». (S. Math. XXV I I , 9, 1 O).
Por muito tempo julgou-se que a terra desse campo
tinha a propl"iedade de consumir rapidamente o s corpos.
Por ordem da I mperatriz Helena, muitos navios levairam
dessa terra para o Campo Santo, em Roma. O mesmo
fizeram outras cidades, como a de Piza.

--«D»--

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VIA D O CAPT IVEIRO

4ª ESTAÇÃO

Jesus em casa de Annás

( 1 hora a. m. de Sexta-feita)

PROPHECIA - Falaram contra mim com


linguas mentirosas, por toda a parte me atacaram
com seus discursos cheios de o dio e me fizeram
guerra (Ps. CVIII, 3).

EVANGELH O S - Elles conduziram Jesus,


primeiro á casa de Annás, por ser sogro de Cai ­
phás, que era o Pontifice daquelle anno.
Simão Pedro tinha seguido Jesus de longe,
assim como outro discipulo. Este outro discipulo,
que era oonhecido do. Pontifice, tinha entrado com
Jesus no vestibulo do palacio. Pedro tinha ficad.o
fóra, em pé, perto da porta. O d iscipulo conhecido
do Pontifice sahiu então, falou á porteira e o fez
entrar.
O Pontifice interrogou Jesus sobre seus disci­
p ulos e sua doutrina.
«Eu falei publicamente a todo o mundo, sem­
pre ensinei na synagoga e no Templo, onde se
reunem todos os judeus e nada disse em segredo.
Por que me interrogas ? I nterroga aquelles que
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74 A PAI XÃO DE JESUS CHRISTO
ouviram o que eu lhes disse ; elles sabem o que
ensinei».
Tendo dito isto, um dos criados que estava
de serviço, deu uma bofetada em Jesus.
«E' assim, gritou_eu� que falas ao Pontífice ?)>
«Si falei mal, mostra em que errei, disse Jesus,
mas si falei bem, por que me bates ?»
Annás ordenou que Jesus fosse conduzido, com
suas cadeias, ao Pontífice Caiphás, que tinha dado
esse conselho aos judeus : «Que era de vantagem
que um só · homem morresse pelo povo».
(S. Math. , XXVI , 5 7.58 ; S. M ar., X I V , 5 3 -5 4 ;
S . Luc., XXI I, 5 4 ; S . João, XVI I I , 1 3- 1 6, 1 9-24) .

D epois desta queda, o prisioneiro, arrastado


pelos soldados, subiu a collina, costeando a ver­
tente ingreme e extensa, que vae á Gehenna, en­
trou pela porta Esterquilina, sempre atormentado
ou injuriado, e, pouco depois, chegou ao palacio
de Annás, esgotado de cansaço e de máus tratos.
Ahi fizeram a primeira parada. 1 ) (Est. r 1 ) .
Os palacios de Annás e de Caiphás eram si­
tuados sobre o monte Sião, ao S . O. da cidade,
communicando por um pateo central (atrium), de
1 50 m.
Já passava da meia noite. Annás ioi a alma
de toda a conspiração movida secretamente con­
tra Jesus, a quem odiava, desde que impediu a
trati cancia no Templo, da qual era o chefe. Esse
acto · de Jesus foi, aliás, muito applaudid0 pelo
povo. E ra sogro do Summo Sacerdote C aiphás,
presidia ao tribunal encarregado de velar pela pu-
1 ) S. · João é o u nico dos Evangel istas que fez men­
ção do incidente da parada em casa de Annás ; os outros
só falam do tribunal de Caiphás. A:nda que Annás fosse
mais importante que Calphás, o julgamento devia s er feitio
por este, em vista de ser o Pontifke em exercício e a;
legal·idade exigir que a causa lhe fosse affecta.

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 75
_,

reza da doutrina e de encaminhar os culpados ao


Summo Sacerdote .

Tribunal de Annás
( Est. 1 1 )

E s p er av a Jesus assentado em u m alto estrado,


cercado de 28 conselheiros.
Pre parár a adrede o in te rrogatorio , embora não
lhe assistisse .'.) direito de fazel-o, de modo que
corn promettesse a Jesus, como chefe de alguma
s ocie d a de s e.er et a , da qual se servisse para sua po­
pularidade com fins pol i c ito s, mas nada conse­
guiu, pois Jesus, com toda a calma e ser e ni dade,
lhe d isse : «Ensinei _nas synagogas . e no Templo,
diante elo povo reunido, n a d a disse em· segredo.
Por que me interrogaes com relação á minha dou­
trina ? In terrogae os que me ou v i ra m ; elles sabem
o que ensinei, e darão testemunho da verdade».
Um dos criados de Annás deu-lhe uma bofe-

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7(> A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
ta<la, dizendo : E' assim que falas ao Pontifice ? 2)
Jesus foi lançado ao chão, sahindo sali.gue de seu
rosto. O' Jesus, a vossa paciencia, nesse momen to,
é µiais admiravel do que a vossa Omnipotencia n a · ·

creação do universo 1
·

O' meu D eus 1 exclama Santo Ephrem, como


se não sep em trevas o universo inteiro ao vêr-
vos receber um ltraje ?
O C reador, que ti · o homem de um poua>
·
de pó, é esbofeteado p el a sua propria creatura !
Servo infame, ignobil, ·romposto de perversidade,
sê maldito ! Tu enches os · céus de terror, tu serás
a vergonha do proprio inferno . . . E Caim, o fra­
tricida, e Judas, o trahidor, j ulgar-se-iam macula­
do s , ao apertarem entre as suas mãos a tua m ão
sacrilega 1 . . .
Levantando-se, Jesus lhe disse, sem mani festar
nenh um resentimento : «Si falei mal, mostra-me em
que, mas si falei bem, por que me bateste ?» 3)
O indigno criado, assim como seli amo, nada
responderam.
Confuso e humilhado, Annás levantou subita­
-
-- 2) Quem deu a bofetada em Nosso Senhor, no Trd­
bunal de Annás, segundo a tradlção dos Santos Padres,
foi o mesmo Malcho, a quem o Sen hor, no jard·i m das
Oliveiras, havia sarado a orelha ferida por S. Pedro.
Malcho não se rendera então a esse milagre da omni,..
potencia divin a ; converteu-se, porém, com o milagre da
paciencia de jesus. ,
Santo Thomaz diz que assim devia ser, pois Nosso
Senhor nada faz pel a m etade e, quando lhe curou o cor­
po, já pensava em sua alma.
3) jesus não offer�ce a outra face ao insultador, e
até lhe pede a razão do insult0, para nos ensinar que os
conselhos evangdicos não são tão absolutos como os pre­
ceitos, porque estes obdgam sempre, salvo caso de colli­
são com preceito m aior, ao passo que a observancia dos
conselhos é subord:nada ás circumstancias.
Diz uma tradição que, por muito tempo, os pere­
grinos que visitavam a Egrej a sita no Jogar onde fôra
o pal ac!o de Annás, pareciam ouvir mysteriüso estalido de
uma bofetada.
No meio das ruinas da casa de Annás, em um .par
teo, existe ainda uma velha oliveira nodosa e esburacada,
erri cujo tronco, diz a tradição, Jesus estivera amanado

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\A PAI XÃO DE JESUS CH RISTO 77
mente a 1 sessão, para não se expôr a novas hu­
milhações,\ ou por ter, talvez, sido avisado de que o
Sanh edri m\ estava formado. Mandou buscar um per­
gaminho, no qual esc reveu com um estylete a enu­
meração das accusações dirigidas contra J esus.
D epois de ter enrolado o pergaminho, collo­
cou-o em um canudo, que fechou e fixou, eIJl se­
guida, numa das extremidades de uma vara� Man - .
dou entregai-a a Jesus e, ironicamente, lhe d isse :
«Eis o sceptro de teu reino, elle contém todos os
seus títulos, dignidades e direitos.
«Leva-os ao Summo Sacerdote, afim de que
reconheça a tua missão e a tua realeza, e te trate
segundo tua dignidade suprema. Sejam ligadas as
mãos desse rei e seja levado á presença do Pon­
tífice>>.
As mãos de Jesus, que tinham sido desl igadas,
foram amarradas de novo, com o sceptro irris.o rio
de permeio.
Conduziram-n'o ao tribunal de Caiphás, onde
os membros do Sanhedrim se achavam reunidos.
o · juiz insensato e miseravel, vós que sois in­
struído pelos oraculos da Lei e dos Prophetas, não
vêdes que tendes diante de vós vosso Deus, · que
deveis adorar 1
Mas não sou eu que vos posso increpar, pois
muitas vezes tenho · . transgredido a lei, despresado
as graças recebidas e preferido minhas culposas
inclinações.
Perdão, Senhor, perdão 1
Pelo que soffrestes no começo de vossa Pai­
xão, esquecei minhas ingratidões passadas. Pro­
metto sinceramente não recahir nellas. Seja sem­
pre bemdito o vosso santo nome. Assim seja.
por :1lguns instantes. Uma tampada está sempre accesa no
logar em que se pensa ter o criado do S11111 1110 Sacerdote
dado a bofetad a em Jesus.
A lei comminava multa de duzentos dinheiros co n tr a
quem esbofeteasse seu prox:mo, sendD a pena em dobro,
quando a injuria era infligida com as costas da mão.
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VIA D O CAPTI VEIRO

Sª ESTAÇÃO

Jesus em casa de Caiphás

(Duas horas a. m . de Sexta-feira)

PROPHECIAS - Levantaram contra mim tes­


temunhos iníquos ; mas a iniqúidade men iu a si
mesma (Ps. XXVI, 1 2) .
Aguçaram a lingua como dardos para f rirem
o justo na obscuridade, espreitaram cuidadosa
a sua vida.
Todos os seus esforços foram estereis.
As chagas que lhe fizeram, parecem picadas
produzidas por flechas de meninos ; as suas lin­
guas cansaram-se e revoltaram-se depois contra
elles mesmos (Ps. LXI I I , 4, 5, 7, 8 e 9).
Abandonarei o meu corpo a quem me feriu,
e meu rosto a quem me arrancou a barba. N ão
desviei o rosto dos insultos, nem dos escarros
( ! saias, L, 6).

EVANGELHOS - Todos os Sacerdotes, os


Antigos do povo, tinham-se reunido em casa de
Caiphás.
Ora, os Summos Sacerdotes e todo o Conse­
lho procuravam um falso testemunho contra Jesus,
para fazei-o morrer, e não podiam encontrai-o, por-
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PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 79
que mui depunham falsamente contra elle, mas
não conb avam os seus depoimentos.
Por imo, vieram duas testemunhas, que de-
clararam : \
«Nós lhe ouvimos dizer : «Eu posso destruir
este Templo e reedjfical-o em tres dias. Destruirei
este templo feito pela mão dos homens, e em tres
dias edificarei outro, que não seja feito pela ·mão
dos homens».
Mas, tambem este testemunho não era con­
corde.
Então, o Summo Pontífice, levantando-se no
meio da Assembléa, quiz elle mesmo interrogar
Jesus.
«Não respondes coisa alguma, lhe perguntou
elle, ao que estes depõem contra ti ?»
Jesus guardou silencio e não deu nenhuma
resposta.
De novo o interrogou o Summo Sacerdote, e
lhe disse :
«Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas
s1 tu és o Christo, Filho de Deus bemdito».
Respondeu-lhe Jesus :
«Tu o disseste, eu o sou . Todavia; vos digo
que um dia vereis o Filho do homem assentado á
direita da majestade de D eus, vindo sobre · as nu­
vens do céu».
Então o Summo Sacerdote rasgou as vestes,
dizendo :
«Blasphemou ; que necessidade temos mais d e
testemunhas ? . . .
Acabaes de ouvir a blasphemia ; que vos pa-
rece ?))
E todos responderam :
«Merece a morte>>.
( S . Math., XXV I , 59-66 ; S . Marc., X IV, 5 3-64) .

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80 A PAI X ÃO DE JESUS CHRISTO
A ·casa de Caiphás, como
á de Annás, seu sogro .

Tribunal de Caiphás
( Est. 1 2)

Ahi, em uma vasta sala, repleta de povo, Je­


sus Christo compareceu, como um vil criminoso,
perante o Sanhedrim. 1 ) (Est . 1 2) O Sanhedrim
1 ) Sanhedrlm, ou Grande Conselho , era o Supremo
Tribunal da nação.
Compunha-se de 72 membros, inclusive o Presidente,
que tinha o titulo de Príncipe. Era formado de 3 classes :
t a classe : «ÜS Príncipes dos Sa::erdotes», á qual pertencia
Caiphás, na época da Pa•i xão de Nosso Senhor. ,
2" classe : «Üs Escrlbas ou Doutores da lei», composta
dos judeus instruídos, que t:nham por funcção explicar e
i>0terpretar a lei.
J:i. classe : «Üs Anc:ãos, Princ!pes do povo», constih.t ida
pelos chefes das tribus.
«Ü Templo» · que ex!stia no tempo de jesus Christo
não era o de Salomão, o qual t!nha sido destrnido por

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A PAI XÃO DE JESUS CHRISTO 81
era pres1 ido por Gamalliel, 2) o qual foi afastado,
por ser c nhecida a sua seriedade e não se prestar
á condem iação de um innocente. Demais, não era
raro que Pontifices chamassem a si essa funcção,
quando se tratava do culto de Jahve.
Nãio era um julgamento o que se ia effectuar
e sim uma condemnação já resolvida. Caiphás já
tinha declarado que o triumpho de Jesus acarretaria
a destrüição da nação, e que, portanto, era ne­
cessaria a morte de um homem pelo bem publico.
Uma balaustrada de pedra impedia de ser in­
vadick1 o Tribunal . Caiphás occupava, como pre-
Nabuchod-0nosor. Era construido sobre o monte Moriah,
em frente ao monte das Oliveiras.
«Os funccionarios do Templo» pertenciam todos á or­
dem sacerdotal ou á raça dos Levitas.
«0 Summo Sacerdote» devia ser da raça de Aarão, e
era chefe supremo de tudo quanto dizia respeito ao culto
do Senhor .. No tempo de jesus Christo era Caiphás e, an­
tes delle, Annás, que ainda tinha muita influencia.
«Os Sacerdotes» pertenciam á familia de Aarão� e exer­
ciam a funcção de sacrificadores nos templos de jerusa­
lém, unic-0 togar onde era permittido offerecer victimas.
Quainto á materia offerecida para os sacrifícios, umas
eram cruentas e outras incruentas.
«Synagogas (isto é, assembléas) era o nome que da­
vam os judeus a certas reuniões religiosas e aos edificios
onde se faziam essas reuniões.
«Os phariseus» formavam uma seita muito influente,
que constituia a casta douta e orthodoxa do judaismo.
Elles se consideravam oomo os melho·res de todos os ho­
mens ; eram orgulhosos, cheiios de honras e de apparatos.
Os sadduceus formavam uma seita judaica opposta,
tanto na theoria como na pratica, á dos phariseus. Nega..
varn a vida futura, e dahi procurarem todos os gozos e
prazeres, sem escrupulos. Adm.ittiam Deus, mas não a Pro­
videncia. A origem e etymologia do nome são incer tas .
Uns derivam-n'o de Zadoc, summo sacerdote do tempo de
David ; outros de Ladoc, discípulo de Antigano de Sacho:;
·
outros, emfim, da palavra hebraica - just:ça.
Organizaram-se, pela primeira vez, sob Aristobulo 1 °,
um seculo antes de jesus Chriisto, e desappareceram de
vez no anno 70, com a ru.ina de Juresalém e do Templo.
Os Samaritanos, povo da Samaria, meio pagãos, pre­
tendiam, entretanto, descender de Jacob. Eram · odiados pelos
judeus, e Nosso Senhor sempre foi compl acente com clles.
Haviia na Palestina uma organização religiosa, conhe­
cida pelo nome de Essenios. Formavam elles uma aggre-

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82 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
sidente, a poltrona do centro, e o hemi yclo era
occupado pelos outros juízes, escolhidos entre os
inimigos de Jesus. Em frente á séde pr sidenc ial,
na entrada indicada por duas colum s, estava
Jesus, coberto de cadeias, com as mãos amarradas
com as cordas que os guardas seguravam.
Foi tirado do sceptro irrisorio de Jesus o ca­
nudo que continha o acto de accusação de Annás .
Depois da leitura dessa peça, Caiphás, dirigindo ­
se a Jesus, interrogava-o e InJUTÜ!.Va-o, emquanto
os arch eiros batiam nelle e o fisgavam com páu s
miação · que muito se assemelhava a uma ordem religiosa ;
viviam em commum e n a continencia. Habitavam uma .re­
gião de 4R leguas de comprido por 38 de largo, tendo
antes residido no monte Horeb, e, ao norte, no Carmelo,
onde Elias tinha habitado.
Isa.ias foi um de seus chefes, Jeremias teve rela'Ções
com elles, e os homens chamados «fil hos dos prophetas»
faziam parte de sua associação. Sua pureza e piedade eram
insi:� m:s. Para entrar para a ordem, era preciso fazer no­
viciado de dois annos. Não ·recebiam d:nhefro e limitavam-se
a trocar os productos de seus campos pelos objectos que
l hes eram necessatr.os. Tres vezes por anno, iam ao Templo
de Jerusalém, preparando-se antes pela oração, jejuns e
·penitencias.
De todos os escdptores antigos Josepho é o que ma:is­
se occupou com . elles, e, apesar de phariseu, presta hoi.
menagem ás suas virtudes. Levavam vida a mais regular
e santa.
Além dos essenios regu i ares, havia outros que, de­
pois de terem viv:do algum tempo com clles, se casavam,
permanecendo, entretanto, em certa dependencia dos supe­
rfores, a quem consultavam. As mais piedosas famil ias ju­
daicas faziam parte dos essenios.
Houve, ma,:s tarde, uma terL-eira classe de �ssenios,
que exaggeraram as praticas de abstinenc:a e mortificação.
Os primeiros não os adm:ttiam em seu seio. Muitos his­
toriadores an1i�os confund:am esses fanaticos com aquelles
d os qua;:. s tinham usurpado o nome.
2 ) Conta a tra<l:ção que Nicodemos e José de Ari­
m athéa, membros do Sanhedr-im, defenderam Jesus, mas vi1-
ram logo que n ada poderiam fazer.
Os Evangelhos todos falain de Nicodemos, a quem
sempr� attribuem a maior dedicação a J esus. Dizem, po.r
ex. (S. João V I I , 5 t ) , que em certa occasião, em que os
phar:srns tentaram prender o R�demptor, elle l hes per­
guntou ; «Por acaso condemna nossa lei alguem antes de
ouvil-o e informar-se de suas acções ?»
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\
� A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
ferrados, dizendo : Responde, pois, abre a bocca,
não sabe fal a� ? Depois dos falsos testemunhos
83

apresenta s, aos qu aes Jesus não respo ndera, Cai"


phás, leva tando-se, disse a Jesus : «Eu te con­
juro, pelo Deus vivo, que digas si és o Christo,
Filho de Deus». Caip hás não se enganára . A esta
inte rpella ção do Pont ífice sobre a sua pe rs9nali ­
dade divina e sobre a sua qualidade de Messias,
Jesus rompeu o s ile nc io que tinha guardado desde
o principio da sessão. Sabendo bem que os j u izes
não esperavam sinão uma affirmativa de SUé.). bocca
para decretar sua morte, respondeu ao Summo Sa­
cerdote, com soberana dignidade : «Tu o disseste ;
toda v i a, eu vos declaro : mais tarde vereis o Filho
do Homem assentado á direita do poder de Deus,
e vindo e n t r e as nuvens do Céu». (S. M ath . , XXVI,
64 ) .
Apenas tinha elle formulado esta declaração�
Caiph ás exclamou : «Elle b l a s p he mo u, acabaes d e
ouvir. E' inutil interrogar novas t estem unh as » . E
rompeu suas vestes 3) com indignação, para pro-.
3) O rompimento das vestes era um signal usado e.
mesmo prescripto, destinado a manifestar o golpe que a
alma soffria, a dôr intoleravel iinfügida á alma de um
justo pela audição de uma blasphemia. O Orie-nte era fertil
nessas demonstrações espectaculosas, ás vezes sinceras, ou­
tras vezes de simples apparencias, para produzir effeito.
Assim é que, nas synagogas de jerusalém, os judeus, com
o rosto para a parede, cantavam psalmos nas pontas dos
pés, para indicar a elevação da alma para Deus ; cantavam
o psalmo De Profundis, para melhor significar o sentidos
das pal avras - Do profundo abysmo, Senhor, eu damo
a vós -- estando o cantor dentro de um buraco, no s ólo.
Era, pois, prescripto, ao ouvir u m a blasphemia, rasgar as
vestes, e os Rabbinos, amigos de minucias puerís, t:nham
feito para esse acto uma completa jurisprudencia.
Deviam servir-se de uma pequena faca, que traziam
á cintura. Um córte, de algumas pol legadas, devia ser feitO:
anteriormente no manto, e recosido ligeiramente, para mais
facilitar essa operação. Era preciso fazer o córte de pé,
na parte da frente da veste, a p artir do pescoço, e não
começando das franjas. O cór.te devia ser de um palmo, e
em todas as peças das vestimentas, excepto na roupa branca
do rorpo e na mantilha.

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84 A PAI X ÃO DE J ESUS CHRISTO I

testa r .. como determinava a lei, contra /a injuria
feita a Deus ; cessando, desde esse mo ento, se­
· gundo os Santos Padres, o sacerdocio de Aarão,
para dar logar aos Sacerdotes de J e � us Christo
Nosso Senho.r, segundo a Ordem de Mlelchisedech ..

(Est. 1 3) .

Caiphás rompe as vestes


( Est. 1 3)

Terminado assim o interrogatorio, a palavra


final contra Jesus - «Elle é digno de morte» -
circulou por todo o Tribunal. Era ainda noite. Foi
urna scena horrivel, um sem numero de ultrajes :
cuspiam nelle, cobriam-lhe o rosto e o esbofetea­
vam, dizendo : Christo, adivinha agora quem te
bateu . Esses miseraveis satellites de Caiphás infli­
giram a Jesus os mais brutos tratamentos · e lhe
di rigiram insultos e blasphemias de toda a sorte.
Jesus, captivo, preso, e já condemnado á mor­
te, devia ser poupado, mas delle não tinham pie­
dade. O odio que lhe votavam as autoridades, i nsti­
gava esses miseraveis. Jesus ouvia calmo e impas-

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\ A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 85
\
sivel ess� juizo monstruoso. Elle via, com piedade,
esses scelerados que, friamente e sem exame, con­
demnavam á morte o Filho de Deus, tendo pre­
sente o dia em que desceria do Céu para castigal­
os como mereciam.
-· Sim, ó Pae amantíssimo, o mais extremoso
de todos os paes 1 E ' preciso que vos seja dada
'
a morte, para podermos viver ; é preciso que o
vosso sangue corra sobre as nossas almas, para
purificai-as de toda mancha. M as, antes de- con­
summardes o sacrificio, haveis de conhecer os ex ­
tremos da ingratidão e do odio de vossos filhos ;
haveis de beber, a grandes tragos, o calice dos
opprobrios ; haveis de descer até ao fundo do abys ­
mo da nossa maldade 1
Juiz hypocrita ; quando Jesus vos declara ser
o Ch risto, Filho de Deus, em vez de adorai-o, ras­
gaes as vestes, como si elle blasphemasse. Ouvis­
tes, porém, vossa sentença, quando vos declarou
que o havíeis de vêr á direita da Majestade de
D eus, vindo sobre as n uvens do céu.
Pensaveis condemnal-o, e vós é que ereis con­
demnado.
O ' meu Jesus, esclarecei meu espírito, uni-me
interamente a vós, p ara que não mais vos deixe.
Que antes de rriorrer seja todo vosso, para que
quando vierdes julgar os homens, encontre em vós
um juiz · cheio de misericordia . Assim seja.

--«D»--

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VIA DO CAPT IVE I RO

6a ESTAÇÃO

Prisão de Jesus

(Das tres ás cmco horas á. m. de Sexta-f�ira)

PROP HECIA Porquanto me rodearam mui­


-

tos cães ; uma turma de malignos me sitiou (Ps.


XXI, 1 7 ) .

EVANGELHOS - E Jesus foi conduzido ã


prisã.o dos condemnados.
Então os que eram encarregados de o guardar,
o insultavam e batiam. Cuspiam-lhe no rosto, ven­
·
dando-lhe os olhos, e o esbofeteavam, dizendo :
«Christo, adivinha quem foi ,que te bateu ?»
Fizeram-lhe soffrer toda sorte de ultrajes, blas­
phemando contra elle.
An nascer do dia, todos os membros 'do Con­
selho : Summos Sacerdotes, Escribas, Anciãos do
povo, reuniram-se apressadamente, e fizeram com­
parecer Jesus ao seu c.o nselho, p ara o fazer morrer.
Elles lhe disseram :
«Diz-nos si tu és o Christo !»
«Si eu vol-o dissér, não me dareis credito. S i
tambem vos interrogar, não me respondereis, nem
me dareis a liberdade. Mas, d'ora em diante, o
Filho do homem estará sentado á direita do poder
de Deus».
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A PAI XÃO DE J ESUS CHRISTO 87
Então disseram todos :
«Tu és, pois, o Filho de D eus ?»
«Vós o dizeis, eu o sou I » respondeu Jesus.
«Que mais testemunho nos é necessario ? di s -
seram elles ; pois nós mesmos o ouvimos da sua
bocca».
(�. Math ., XXVI, 67 -68 ; S. Marc., XIV, . 65 ;
S . Luc . , XXI I , 63 -7 1 ) .

D epois d e terem condemnado Jesus á pena de


morte, os membros do grande Conselho se separa­
ram ; mas, constituindo esse j ulgamento nocturno
lima illegalidade, resolveram reunir-se de novo ás
cinco hor::i.s, afim de dar á sentença o cunho legal.
Das tres ás cinco horas de sexta-feira, Jesus foi fe­
chado pelos guardas em um sobrio reducto, que
servia de prisão temporaria aos condemnados, e do
qual uma p arte existe ainda ; suas mãos foram de
novo amarradas. (Est. 1 4) .
Os carrascos não lhe - deixaram u m momento
de repouso. Ataram-n'o a uni pilar, 1 ) no meio
da prisão, de tal modo, que elle se não podia

1 ) Jesus foi preso a uma columna curta, suppondo-se,


por certos indicios, que essa col umn a é a que se conserva
em Roma, na Egrej a de Santa Praxedes ; outros pensam
que a column a que está em Santa Praxedes é a metade dai
colnmna da flagellação, tendo ficado a outra metade no
Santo Sepulcro.
Cada Tribunal tinha, para os castigos, u m a co lum na,
que variava de fórma.
São Jeronymo diz ter visto, em S:ão, uma Egreja, no
portico da qual se achava a columna da flagellação ; partes
dessa columna são veneradas n a Egreja do Santo Sepul­
cro, em Jerusalém, e outras em diversos santuarios da Eu­
ropa, como em Madrid e - Veneza. A co l umna que se acha
em Roma, foi p ara ali levada se:scentos annos depois de
S. Jeronymo, no decimo seculo. Esta niinudencia é digna
de consideração, quando se trata da anthenticidade dessas
reliquias. Pensamos que Jesu s foi l igado a tres columnas
differentes : á do tribunal de ca:phás ; á da fl age llação
e á da coroação de espinhos. J á v i mos onde se acham as:

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88

Prisão de Jesus
( Est. 1 4)

ap01ar, e era obrigado a ficar em pé, mal fir­


mado sobre os pés fatigados, inchados e feridos.
duas primeiras ; a terceira está no Santo Sepulcro, em Je­
rusalém.
No logar em que jesus esteve preso ha actualmente
uma capellinha, que encerra uma parte da pedra que fechou
o Santo Sepulcro e ..que o Anjo removeu. Este santuario.
pertence aos armenios schism_ati<:os ; pôde-se, pocém, vi­
sital-o e, cada anno, na segunda feiTa de Pentecostes, têm
os Franciscanos o direito de ahi celebrar solemrnemente,
d�rantc 24 horas, os officios divinos.
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A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO 89

U ma chusma de soldados e criados ahi fica­


ram durante todo o tempo, maltratando-o com pan ­
cadas e insultos de toda a ordem, e chegaram á
crueldade de lhe cusp ir no rosto, o que para os
j udeus era o maior dos ultrajes. Cobriam o rosto
de Jesus, e, batendo, diziam : «Adivinha quem foi»,
como já tinham feito.
E' impossivel descrever todas as maldades que
esses miseraveis fizeram soffrer ao Santo dos San ­
tos. Quanto maior não deve ser nossa tristeza, lem ­
b rando-nos de que fomos causa tambem desses
soffrimentos, por nossos peccados ! No dia de juizo,
no qual tudo será desvendado, veremos a parte
que: tivemos no supplicio de Jesus. Senhor, permitti
que eu morra antes de vos offender mais.
Seus olhos ensanguentados fixavam-se nos car­
rascos, sem exprimir nenhum sentimento de indi­
gnação, e de seus labios p isados não sahiram nem
queixas, nem murmurações. Elle esperava com sua
alma divina, a hora em que fosse aberta esta ca­
verna de animaes ferozes. Ao alvorecer, levantou
os olhos para a luz na_s cente e dirigiu a seu Pae
celeste uma tocante oração, agradecendo-lhe o ter
feito, emfim, apparecer esse dia, . que os Patriar­
chas tinham outr'ora tanto d esejado, e pelo qual
elle proprio suspirára desde sua vinda ao mundo.
Ah 1 quanto era enternecedor ouvir o Senhor dando
graças · a D eus pela chegada do dia em que de­
veria consummar o fim de sua vida, a salvação_
do genero humano, dar aos homens a fonte das
bençãos e cumprir toda a vontade do Pae Eterno.
A's 5 horas da manhã, vieram advertir que
os juizes 2) esperavam de novo a victima. Jesus,
2) Tanto Caiphás comü Annás, conforme a tradição, -
soffreram mortes. desastradas. Cai: phás, deposto do seu cargo
no anno 36, por Vitell ius, legado da Syria, tendo o povo
exigido sua demissão, viu sua casa demoJ.! da até ás ultimas
pedras, e os cadaveres de seus filhos rurrastados, na rua,
por uma multidão furiosa, suicidando-se em seguida.
Annás foi deposto e suicidou-se. Si vivesse mais tem­
po, teria visto um de seus filhos, que tinha seu nome ·e

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90 A PAI XÃO DE JESUS CHR ISTO
com os cabellos em . desordem, a face coberta
.de sangue e de escarros, as mãos carregadas de
cadeias, foi reconduzido ao Tribunal. (Est. 1 5 ) .

Tribunal d e Caiphás
(20 julgamento)
( Est. 1 5)

Quando appareceu di �nte da assembléa, que se ré­


umra apenas para confirmar a sentença de morte
já p ronunciada, o presidente lhe disse : «Si tu és
Chri sto, ousa affirmal-o aqui». Jesus respondeu :
«Por que me interrogaes ? Si dissér que sou Christo,
que excedera seus irmãos em rapinas e viof.encias, depo5to·
por amotinados. Co.i sa ·estranha ! a revolta popular deu-lhe
por companhe·i rn de supplk:o outro summo sacerdote,
chamado jesus. Os home·ns arrastaram seus cadaveres, que
ficaram sem sepultura, s e nd o pasto de cães.

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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO .91

não me acreditareis. Q uando me tiverdes morto,


sabei que o F ilho do Homem irá assentar-se á
direita de Deus todo poderoso». Era uma segunda
edição do interrogatorio precedente, mas era o
sufficiente. A assembléa alcançára o seu' fim : ou­
vira da propria bocca do Christo a co nfissão de
que era o F ilho de Deus, o que constituía p�ra
elles delicto de pena capital.
Todas as cabeças se ergueram a essa palavra.
«Uma simples c reatura não se assenta á direita de
D eus todo poderoso. Tu és, pois, o Filho de Deus»,
lhe gritaram de todos os lados. «Vós bem dissestes,
eu sou o Filho de Deus !» Esperavam sómente essa
affirmação para dar expansão . a seus furores.
Ouvida que foi, gritaram a uma voz : «Elle
acaba de accusar a si mes:mo, não temos necessi­
dade de outra testemunha ; merece a morte». Elles
o conclemnaram ao ul timo supplicio, como culpado
de lesa nação, por ter usurpado o titulo de Messias
e de lesa majestade divina, por ter ousado dizer
que era o Filho de D eus. Logo acharam_ que de­
viam levar o c ondemnado ao pretorio do Gover­
nadõr romano, afim . de que sua sentença pudesse
ser ra tificada e executada nesse mesmo dia, cum­
prindo-se assim a prophecia, que disse que elle
morreria crucificado, p ois os judeus condem 1 1 av am
á lapi dação e não crucificavam .
- Prostro-me a vo.ssos pés, .ó pod ero so Filho de
D eu., esbofeteado, escarnecido, cuspido, e sp a n c ado
por vossas indignas creaturas. Ado ro-v o s, q u ando
soffre i s em silencio os indizíveis ultrages de que
vos cobrem. Ah ! o vosso m art y r io, ó santa victima,
prolonga - se através dos tempos ; e as gerações pas­
sam umas após outras0 deante de v ós, lançando
em vossas faces sag r ad a s os escarneos d a i nd iffe ­
rença, as zombarias do despreso, as provoca çõ es
da bl a s p h e m i a . E v ós continuaes silencioso, ó D eus
p a c i e n te , e o s í m pio s d izem que estaes morto ! Mas,
avizinh a-se o d.ia em que o Filho dó Homem virá
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92 • A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
sobre as nuvens, cercado de poder, de terror e de
majestade. Então, respondereis á insolente pergun­
ta de vossos algozes : adivinha qum te b a teu. Não
haverá noite tão escura, nem véo tão expesso, que
os oc c ulte á fulminante luz de vossos olhos.
Doce Jesus, feri-me tambem, mas feri-me com
a vossa misericordia para não terdes de ferir-me
no ultimo dia com o rigor da vossa justiça infinita 1
Assim seja.

---«O» -

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VIA DO CAPTIVE IRO

7ª ESTAÇÃO

Negação e conversão de S. Pedro

(Tres horas a. m .de Sexta-feira)

PRO P H E C I A - Si o meu m1m1go me tivesse


coberto de maldições, por certo o teria supportad-0.
E si quem me aborrece houvesse falado ele mim
com despreso, talvez não me tivesse d efendido.
Mas foste tu 1 . . que constituías commigo uma só
.

alma � . . tu, o chefe que eu escolhera 1 . tu, o


• .

meu intimo confidente, que achavas tanta doçura


em te sentares á minha mesa e que me acompa­
nhavas, com uma união tão perfeita, na casa de
Deus (Ps. LIV, r 3 , r 4 e r 5 ) .

E V A N GE L H O S Estavam os servos e os
---·

soldados junto a um fogo, que fôra acces.o no


meio do pateo, e se aqueciam, porque fazia frio.
Ora, Pedro estava tambem com elles, aquecendo­
se e esperando o desenlace do processo.
Chegou então uma das criadas do Summo Pon­
tifice, a porteira, e) vendo
- P·e dro , que se <lquc-
cia, disse :
«Eis um que estava com o N azareno» .
Depois, olhando attentamente :
«S im, tu estavas com Jesus da Galiléa ! »
Pedro o negou perante todos :
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94 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
«Mulher, não o conheço, nem sei o que tu
dizes».
E sahiu para o vestibulo.
Sahindo e ll e á porta, viu-o uma outra criada
e disse aos que ahi estavam :
«Este tambem estava com Jesus Nazareno».
Um instante depois, um criado o encontra :
«E tu tambem, tu és da sua gente ?»
N esse momento o gallo cantou.
Pedro voltou para junto do fogo e, em pé, es­
tava aquecendo-se.
«Não eras tu dos seus discipulos ?ll lhe pergun­
taram os servos.
Uma segunda vez elle o nega com juramento :
«Não, vos digo, não ! não conheço de modo
algum esse homem. ll
Aproximadamente uma hora depois, os que ali
estavam l h e d isse ra m :
«Com certeza, tu és do seu seq u i t o, porque
t u és galileu ; tua linguagem te trahiu».
Um dos servos do Pontifice, parente daq uell e
a quem Pedro tinha cortado a orelha, o accusou
por su a ve z :
«Não t e vi eu no jardim com elle ?»
Pedro o n ego u ainda, e fez i mp recações, e r e ­

pet i u os j urame n tos e protestos :


« N ão ! repetiu elle, eu não ronh eço esse homem ;
eu não sei o que queres dizer !»
E o gallo can t o u p ela segunda vez.
J es u s passava nesse m_omento. Voltou-se para
Pedro e fixou nelle seu olhar.
Então, Pedro lembrou-se ela p al av ra q u e o
Senhor lhe tinha dito : «Antes que o gallo cante
duas vezes, tu me negarás tres vezes)) .
E, sahindo para fóra, chorou amargamente.
(S. Math . , XXV I , 58,69 - 7 5 ; S. M arc . , X I V ,
5 4, 66-7 2 ; S. Luc . , XXII, 5 5 -62 ; S. João, XVI I I,
I 7 · I 8 , 2 5-27).

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A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO 95

Emquanto os soldados arrastavam o Salvador


ao palacio dos Pontifices, seus Apost.olos, como
elle tinha predito, se escandalizaram, ainda que
uns mais do que outros, vendo que elle se deixava
prender por seus inimigos. D epois de terem pro­
testado que jámais abandonariam seu Mestre, ne­
nhum teve a coragem de o acompanhar a J er,usa­
lém. Do jardim de Gethsemani, donde tinham fu­
gido, protegidos pelas trevas, dirigiram-se para o
sombrio valle da Gehenna, e esconderam-se nas
cavernas cavadas no flanco dos rochedos, até ao
dia seguinte.
· Entretao.to, passado o primeiro momento de
terror, dois dentre elles, Pedro e João, decidiram-se
a seguir, de · longe, a cohorte que levava Jesus.
Elles queriam saber o que fariam de seu Mestre,
sem, comtudo, se expôr a ser tratados como elle.
Quando chegaram ao palacio de Annás, S .
João, menos compromettido que P edro e mais co­
nhecido no palacio dos Pontifices, entrou primeiro,
emquanto seu companheiro ficára, prudentemente,
á porta.
S. João conseguiu da porteira não só a sua
entrada, como a de S. Pedro, a quem veiu busca:r.
D irigiu-se S. João para a sala onde estava
reunido o Trib unal, mas S. Pedro deixou-se ficar
no pateo. 1 )
Nesse recinto, diversos soldados aqueciam-se
ao fogo, por estar fria a noite, o que é commum
na Palestina, depois de certas horas, mesmo no
mez de Abril.
S. Pedro aproximou-se do fogo e aquecia-se,
esperando o desenlace d-0 processo (Est. 1 6)
A porteira, que tinha deixado entrar S. Pedro
sob a pala�ra de S. João, estava receiosa de ter
commettido um abuso, do qual podia ser punida e,
vindo ao · pateo vêr o que S. Pedro estava fazendio,
1 ) Nas casas orientaes havia um pateo (atrium ) i-nte­
rior, descoberto, em redor do qual ficava o edificio.
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96 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
encon trou-o triste e taciturno e muito desconfiado1
entre os que se aqueciam perto do fogo. Disse, en-
tão, aos que o cercavam : «Eis um que estava com
o Na zareno». Depois, olhando attentamen te : «Sim,
tu estavas com Jesus da Galiléa».

Negação de S. Pedro
( Est. 1 6)
A esta interpellação inesperada, S. Pedro jul ­
gou-se perdido e, at errado, disse : «Mulher, não o
conheço, nem sei o que tu dizes». Esta negação
formal fez calar a porteira.
E ram ainda duas horas ; o gallo cantou, mas
o apostolo, fóra de si, não se lembrou, neste mor
mento, da predicção de Jesus. 2)
Pouco depois, um criado lhe diz : «E tu tam­
bem, tu és da sua gente». Elle ia sahindo. pela
porta que dava do pateo para o vestibulo, quando
2) Na Syrfa, o primeiro canto do gallo se faz ouvir
entre uma· e duas horas, com a pontual-idade de um re­
logio, e o segundo, cerca das tres horas da manhã.
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A PAIXÃO . DE JESUS CHRISTO
outra 'criada disse ás · outras pessôas re1,m.i d as n o·
vestibulo : «Este tambem estava com J e su s Naza­
reno». S. Pedro negou de novo, e, disfarçando, vol­
tou para o meio dos soldados e criados, donde ti­
nha s a b ido . Immediatamente foi cercado de curio­
sos, que o apostropharam de todos os lados, com
grande animação : «Não eras tu dos seus disci­
p ul o s ?>1 Desta vez. ·o Apostolo, aterrado, não só
negava, mas jurava -que não conhecia J e s u s e . ríão
fazia. de nenhum m od o , parte de seus d is c i p ulos .
Nessa occasião, Jesus era conduzido · pelo pa­
teo central, da casa de Anná�ara a de C a i phás ,
e, por estarem as attenções voltadas para o que
se passava, deixaram S. Pedro tranquillo.
S. Pedro acompanhou Jesus á c asa de Caiphás.
Como indagasse do que se passava, um d aquel e
les com: quem falava, notando a sua. p ronuncia,
lhe d isse, com firmeza : «Com certeza, tu és do
s e u sequito, tua l i nguag e m te trahiu». 3 )

G m dos assistentes, parente de Malcho, a quem


S. Pedro tinha cortado a orelha, lhe d i s s e : «N ã o
.
t e vi eu no j a rd im com elle ?»
Pedro, cada vez mais ater·rado, começou a fa­
zer juras e imprecações ; não conhecia o homem
de quem falava e nunca tinha sido seu discipulo.
Eram quasi tres horas. Apenas tinha elle cessado
·

ele fa l a r o gallo cantou a segunda vez. Logo o


,

:\ postolo se recordou da palavra do Mestre : «An­


tes q u e o gallo tenha cantado duas vezes, tu. me
terás negado tres vezes». Commovido até ao inti­
m o ela al m a elle comprehendeu toda a g r a v i d ad e
,

de sua falta. Do fu n d o do seu coração, magoado


pelo remorso, sahiu um grito ele angustia : «Sen hor,
tende piedade de mim, pobre pe c cador . Como a n -
»

3 ) O s Oalileus tinham uma pronuricia caracterisfü:a :


carregav am nas guturacs, usavam certas locuções especiaes
e omittiam syll abas i n teiras.
Era-l hes prohi bido lêr pu b l icamente os l ivros s agra­
dos n as syn agogas. Vê-se, pois, gue S. Ped ro não podia
occu ltar s u a origem de Galileu.

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IJ8 A .PAIXÃO DE JESU� CHRiSTO -
tes, sobre as ondas, Pedro sentia-se afundar e pe­
diá soccorro.
- Que - horrivel queda 1 exclama S. Jeronymo.
Que distancia enorme elle transpõe em poucas ho­
·ras ! . . . Primeirn, despresa a vigilia e a oração,
apesar de lh'as haver recommendado o divino Mes-·
tre. Sem preparação alguma, expõe-se por si mes­
mo, temerariamente, ao perigo a que Jesus o pre­
ven i rn de que havia de succumbir !_ A' primeira
pergunta que lhe fazem, responde com uma men­
tira. D a mentira assa ao perjurio, do perjurio ás
pragas, das praga anathemas e dos anathemas
chega á blasphemia.
De prec1p1�10 em precipicio, de abysmo em
abysmo, cáe ao fundo do abysmo da infidelidade ! . . .
Tal é a historia d o coração humano, a his­
toria de toda alma que· se estréa na ca14·eira do
mal .
As pequenas faltas despresadas s ão cam i n h os
abertos a outras mais graves. E ' tão rap ido e es­
corregad io o declive que, muitas vezes, basta se
collocar o pé no precipicio, para que a gente se
pr ec i p i t E· no abysm9 da corrupção e do endure­
cimento !
Pela s tres horas da manhã, Jesus, a o ser con­
cl u ziclo á prisão, onde devia permanecer o resto ela
noit<�, passou perto de Pedro. Jorravam lagrimas
dos o l h o s el o A postolo arrcpcncl i cl o . e seu cora ç â o
pedia pcrcl ã;) . J esus teve piedade. Em v e z de des­
\'Ül r a cabeça, pousou seu o l h a r no i\ postolo in­
f i cl , ma s com tanta bondade, com ta n to amor, com
t ã o doce censura, que Pedro rompeu em sol uços.
A essa manifestação de dô r , a multidfio ficou es­
tatica . e Pedro sahiu precipitadamente, para es·
c o nde r seus prantos, refugiando-se em uma grnta,
d i sta n tt· dahi s.o o metros, onde deu expan são á s
suas lagrimas, 4) chorando seu pec c ad o e mecli-
-1) AJi.i existiu outr'ora u m a egreja, s o b a i n vocação
de S. Pedro do Canto do Oallo, constru i d a sobre as ru i,.
n a s da casa de C aJiphás.

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 99

tando na palavra de Jesus, que sua presumpção


o tinha impedido de comprehender, mas que uma
dolorosa experiencia lhe mostrára agora sua divina
sabedoria : «Velae e orae, para não cahir em ten­
tação ; o espirito está prompto, mas a carne é
fraca)). Salvou-o a confiança na misericordia de
Jesus. Uma tradição tocante refere que elle - ia
buscar coragem e consolação j unto á Santa Vir­
gem e ao Apostolo S. João, -0, qual, durante a
Paixão, nunca abandonou a Mãe de Jesus.
-· Oh ! que eloquencia neste olhar ele Jesus 1 .
. .

Desce como um dardo fulgurante de luz e de


amor até ao fundo da alma do renegado. Faz-lhe
sentir o horror e a tibieza de seu procedimento ;
más, disse Santo Agostinho - é para lhe fazer
compreherider a immensa miserirnrdia daquelle a
quem Pedro offendeu . . . H umilha-o, mas é para
o enternecer . . . Rasga-lhe o coração, mas é para
que esse coração o ame com mais ardor . . . Fal-.o
derramar lagrimas, mas é para o consolar . . . Fere-o,
mas é para lhe dar cura.
O' meu Jesus, Deus de ternura e de perdão 1
Coricedei-me, concedei aos pob res peccadores um
desses olhares que convulsionam as almas, que as
prostram a VOSSOS pés, palpitando de dôr e de ar­
repencl imento, e que as convertem para sem pré 1 . . .

dae a nossos olhos algumas lagrimas de amargura


e gratidão, que vos traduzam a inconsolavel dôr
que experimentamos pelo facto de havermos podido,
tantas vezes, renegar o mais terno e . amoroso dos
paes ! O vosso Apostolo chorou, todo O· resto de
sua vida, algumas horas de fatal desatino ; fazei­
nos a mercê, ó Jesus, de chorarmos, ao menos
algumas horas, uma vida inteira de infidelidade e
de ingratidão. Assim seja.

--«D»--

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V IA D O CAPTIVE I RO

8a E STAÇÃO

Jesus perante Pilatos


(Seis horas a. m . de Sexta-feira)

PRO P H E C I A S - Fui constituido por D e u s


Rei de S ião, s u a santa montanha; para annunciar
..os tres preceitos. O S enhor disse-me : Sois meu
Filho ; gerei-vos hoje. Pedi-me e eu vos darei as
n a ções por herança, e estenderei o vosso dominio
a té aos confins da terra ( P s . I I , 6, 8). 7,
E i s que vamos para Jerusalém. Lá, o Filho
do Homem será entregue aos p rincipes dos sacer­
dotes e aos escribas, que o conclemnarão á morte .
D epois, e n t regal-o-ão aos p agãos, para q u e 't,orn­
bem delle, o flagellem e o ponham na Cruz. Mas
e
resusc itará no terceiro dia ( N . S. J su s C h r i s t o ) .

E V J\ N G E L H O S - D esde que jesus declarou


que era Filho de Deus, todos os membros do Con­
�ellr n · se e r g u e ram , e , d e p o i s de o tereni. am ar ra tlo ,
o levar:-i m para o ent rega r ao Governador Poncio
P i l a tos.
E r a a i nda pela manhã. O s j u d e u s não entraram
no p retoria, com receio de contrah ir alguma man­
cha legal e ele não poder comer a p aschoa.
P i l a tos então sah iu fóra para om'il- os, e disse :
«Q u e accusação apr é sen taes contra este h o ­
mem ?»
Elles responderam :
«S i não fosse um malfeitor, n ão o cn tregarfa­
mos a ti».
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A PAIXAO DE JESUS CHRISTO 1 01
«Tomae-o, então, vós mesmos, disse Pilatos, e
julga e-o segundo vossa Lei».
«Não nos é permittido dar a morte a n inguem»,
replicaram os judeus.
Era preciso, com effeito, que se realizasse a
palavra ele Jesus, quando communicou de que mor­
te devia morrer.
E os judeus começaram a formular · suas ac­
cusações .
«Encontramos a este homem sublevando a
nossa nação, impedindo que se pagasse o trih nto
a Cesai·, e dizendo-se Christo, rei».
Pilatos entrou no· pretoria e fez vir Jesus á
sua presença, e lhe perguntou :
«E ' s tu o rei dos judeus ?� ·
R espondeu-lhe Jesus :
«D izes isto de ti mesmo, ou foram outros que
t'o disseram de mim ?»
«Por ventura, replicou Pilatos, sou eu judeu ?
r\ tua nação e os teus pontífices te entregaram a
mim. Que é que fizeste ?>l
«Meu reino, respondeu Jesus, n ão é deste mun­
do. Si meu reino fosse deste mundo, os meus mi­
nistros esforçar-se-iam para que eu não fosse en­
tregue aos j udeus . N ão, na h ora presente, meu
reino não é daqui».
«Tu és, pois, Rei ?» disse Pilatos.
«Tu o dizes, eu- sou Rei ! . . . Eu nasc i, e vim
ao mL1nclo, para dar testemunho da verdade, e
todo aquelle que é da verdade escuta a minha voz�.
«Que coisa é a verdade ?» disse o Governador.
E, tendo dito estas palavras, foi ele novo para
os judeus, e lhes disse :
«Não encontro nelle culpa alguma» .
Então, os P ríncipes dos Sacerdotes e os Anti­
gos multiplicaram suas accusações. Jesus guarclára
sil encio.
«Não ou ves as accusações qúc te fazem ? �ada
tens que responder ?»
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1 02 A PAI XÃO DE JESUS CHRISTO
Jesus, porém, nã'o respondeu uma só palavra,
o que causou muita admiração ao Governador.
• (S. Math., XXV I I , 2, 1 1 - 1 4 ; S. Marc., XV,
1 - 5 ; S. Luc., XX I I I , 1 -4 ; S. João, X V I I I , 28-38).

O palacio de Pilatos estava na vizinhança e


a Nordéste do vasto recinto exterior . do Templo,
contiguo á Fortaleza Antonia. O Pretorio, ou sala
de audiencia, em que eram pronunciadas as sen­
tenças, achava-se na parte oriental do grande edi­
· ficio, · e chamava-se Lithostrotos (pavimento de pe­
dra), e, em hebreu, Gabbatha (logar alto). Para ir
da casa de Caiphás, no Monte Sião, até ao pa­
lacio de Pilatos, Jesus teve que atravessar a parte
mais pop ulosa dâ cidade, e passar proximo do
Calvario, gastando, mais ou menos, vinte minutos
n:O percurso. As ruas estavam repletas de gente,
vinda para celebrar a Paschoa. Na sexta-feira,
cedo, o Salvador foi tirado da prisão e conduzido
a · Pilatos. Caiphás, Annás e os membros do Sa­
nhedrim abriam a marcha. Depois, vinham as tes­
temunhas, os escribas, os phariseus e, afin a l , Jesus,
ligado e arrastado com cordas, pelos arch ei ros, e
rodeado por um bando de soldados.
Que espectaculo ! .
A autoridade suprema em Jeru sa lém 1 1 ão p e r ­
te n c i a mais ao Sanhedrim, e sim ao G o v e rn ador
romano, e, por isso, a pena capital t i n h a qu e ser
imposta ou ratificada pelo represen tante de R o-
ma. r ) ,
Chegados ao Pretorio, Annás, C a i p l 1 r1s e os
me1i1bros do Sanhedrim pararam, sem en trar, para
não se contaminarem, pois, na vespe ra, t i n h a m
c o m i d o o Cordeiro paschal e, a i n da d u ran te sete
1 ) Desde a deposição de Archelau, a judéa perdera
sua independencia, e, como a Samaria, fôra annexada por
Augusto á proviincia romana da Syria. Era directamente ad,.
ministrada por um procurador. A seu tribunal eram af­
fectas as causas prindpaes, e só elle tinha o direito da·
pena de morte.

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 1 03
dias, deviam tomar como alimento as vic l i m as
paschaes, e p ara isso era mistér oonservarem-se p u­
ros, sem oontacto oom gentio, tal como Pilato.s . Os
archeiros arrastaram Jesus para cima de uma escada
de 28 degráus, e empurraram -n'o para o i 1 1 terior,
tendo-o antes despojado das vestimen tas que tra­
zia ao sahir do Cenaculo. Suas vestimerHa.!i estavam
muito sujas e rasgadas, indicando os máus . fratos
soffridos por Jesus, e os jud eus receiavam que isso
fosse favoravel ao_ prisioneiro na opin ião de Pila­
tos. Ficou, pois, Jesus vestido sómente corn a tu­
nica. Foram-lhe restituídas, mais tarde, suas vestes,
no momento de carregar a Cruz (Est. 1 7)

Jesus perante Pilatos


_(Est. 1 7)

Eram sete horas da manhã aproximadamente.


P ilatos sahiu do P retorio, cedendo aos p reconceitos
dos j u deus de não entrarem para não se mancha-

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104 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
rem, e, no terraço · de seu palacio, em um throno
portalil, erguido sobre alguns degráus, recebeu os
judeus, . aos quaes acolheu com grande despreso.
Junto aos degráus, estava Jesus, com as mãos
atadas, o rosto entumecido e pisado pelas bofe­
tadas e máus tratos, a tunica rasgada e coberta de
lôdo. Apesar desta apparencia repellente, havia na
sua attitude uma grandeza tão · commovente, lia-se
no seu rosto tanté!, tristeza e soffrimento, e, · não
obstante isso, uma tranquillidade tão divina no
seu olhar, que Pilatos não pôde resistir a um sen­
timento de quasi respeitosa compaixão por tão
g1'. <mdc desgraça, e vivamente se interessou pela
causa de Jesus.
D i rigindo-se, pois, aos judeus, disse-lhes de
modo b rusco : «Que accusação apresentaes contra
este homem ?»
«Si não fosse malfeitor, responderam , não vol-o
teriamas trazido».
«Pois si é um malfeitor, replica Pilatos, toma.e
vós este encargo : julgae-o segundo a vossa lei».
N ã'.o convinha aos j udeus semelhante resolllção ,
porque s ó estavam na s u a alÇada · a s penas tem­
porarias. Pode riam, quando muito, condemnar ao
aped rejamento, mas elles queriam para Jesus o
supplicio mais doloroso e infamante : a morte de
cruz, reservada aos escravos e criminosos vis. E
assim s.e ia cumprir a palavra de Jesus, que pre­
dissera que seria crucificado pelas mãos dos gen­
tios. Os j udeus, mudando de tactica, procuraram
accusar Jesus de crime politico. A' vista dessa ac­
c usação, Pilatos entra no Pretorio e ordena que
o Salvador o siga, e lá o interroga sobre sua pre­
tendida realeza : «Tu és o rei dos j udeus ?» lhe diz
elle. H avia nessa pergunta uma ironia visivel . Je­
sus respondeu -lhe : «Dizes tu isso por ti mesmo,
ou outros t'o disseram a meu respeito ?» Para res­
ponder, com effeito, elle tinha necessidade de sa­
ber em que sentido Pilatos empregava a palavra

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A PAI XÃO DE J ESUS CHRISTO 1 05

rei ; falava elle e.orno judeu . ou como pagã.o ? N o


sentido theocratico Jesus devia dizer - sim ; n o
sentido poJitico. - não.
Pilatos, que não apanhou essa distincção, e
que tinha contado com uma resposta negativa,
disse, com máu humor : «Sou eu, por acaso, judeu ?
Teu povo e os principes dos sacerdotes te entre-
garam' a mim ; que fizeste ?»
·

Jesus, continuando sua idéa, proseguiu : «Meu


reino não é ' deste mundo. 2) Si �eu reino fosse
deste mundo, meus ministros esforçar - se-iam para
que eu não fosse entregue aos judeus».
«Tu és, pois, rei ?» replicou Pilatos, espantado.
Jesus respondeu : «Sim, t u o dizes, eu sou rei,
e vim ao mundo para dar testemunho da verdade,
e todo aquelle que é da verdade ouve a minh a
voz . » Jesus ia, sem duvida, concluir, accrescen­
. .

tando : «quem ouve a minha voz é meu subdito».


P.ilatos interrompeu, dizendo : «Que coisa é a ver­
dade ?» 3) E sahiU', para escapar ao ascendente
que Jesus tomava sobre elle.
Quantos repetem cada dia a pergunta de - Pi-
lat-0s á resposta do Salvado r ? !
Mais felizes os que · escutam a palavra do Mes ­
� re ; a elles a paz e o repouso na v erdade.
Satisfeito, Pilatos, ele verificar que não havia
nenhum crime politico, attestou, em presença elos
judeus, a iimocencia do accusado . O s judeus in-
2) Quando Jesus diz que seu reino é espiritual, não
diz que seu reino não está na terra, mas sim que ·111 ão·
vem do mundo, que não lhe fo.i conferrido pelos homens ;
o reino de Christo pertence ao tempo e á eternidade�
abrange a terra, o céu e até os -infernos, tem por fim pro­
mo\·er os inte resses e a felicidade temporal como espiritu al
dos partkul ares e d as n ações.
. 3) Pil atos pertencia, provavelmente, á seita dos sc�pticos,
doutrina philosophica dominante nesse tempo, e que con­
sistia em não adm ittir nenhuma verdade certa.
E' curioso o anagramma que se póde formar com
as pala\Tas ditas por P•i lat{)s : «Quid est veritas ?». Com
as mesmas letras, trocadas, fórm a-se o a nagramm a : «Est
vir qui adest». E' o varão · que está presente.
·

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1 06 A PAIXÃO . DE JESUS CHRISTO
sistem e renovam ·suas affirmações e accusações :
pretendem principalmente que Jesus agita o povo
desde a Galiléa até á Judéa. O silencio em que o
Salvador se conserva, quando Pilatos lhe ordena
que se defenda, confirma o governador romano na
persuasão de que o- accusado é innocente.
Mas, ante a insistencia dos j udeus, Pilatos p ro­
cura um expediente para se livrar do apuro e, s a ­
bendo que Jesus é subdito de Herodes, 4} apro­
vei ta o ensejo para mandai-o ao Tetrarcha da
Galil éa, procurando tambem, por P.sse acto de cl e fe­
rencia, reconciliar-se com H erod es, com quem es­
tava ele relações ceremoniosas. 5 )
Demais, parecia-lhe tão justa a causa d e Jesus,
qtH.� n em por sombras duvidára que H e r o d e s d e i ­
xasse ele lhe dar a liberdade.
- O ' Deus da verdade, victima do odio dos
i rn p i os e da revoltante compaixão dos indifferen tcs,
fazei que os vossos discipulos jámais atra içôem à
sua missão ele gloria e cruz 1 Proclamem e l l es muito
alto a vossa verdade, pela innocencia ele sua vida,
pela doçura de sua caridade, pela coragem e san ta
ousad i a de sua palavra ! . . . E si o mundo, com

4) Era Herodes Antipas filho de Herodes, o grande,


o assassino dos innocentes, de sua esposa e de d0tis de
seus filhos, odfado pelo povo e pelos Pontífices.
O proprio Jesus Christo, todo candura e mansid'ão,
deu-lhe um epitheto espantoso, que bem revela a hediion­
dez "de seu caracter. Vieram dizer-lhe um dia que tivesse
conta em si, porque Herodes o buscava para matai-o. Era·
uma cilada maligna á perspicacia do propheta. Sorrindo
do zelo hypocrita dos refalsados ami.gos, respondeu-lhes
Jesus : «Ide dizer a esse raposo que eu tenho ainda d ois
dias para agir livtemente, e que ao terceiro dia consummai­
rei a minha obra ; mas não aqui, porque um propheta só
deve morrer em Jerusalém».
5) A causa da inimizade entre Herodes e Pilatos foi
porque Herodes escreveu ao Imperador, rogando-lhe que
mandasse Hrar do Templo uns escudos dourados, que Pi­
latos ahi puzera. O Imperador mandou tirai-os e removei-os
para Cesaréa, e collocal-os no templo que elle deddcá.ra
a Octavfano Augusto. Pilatos ficou muito contrariado e
·

inimigo de Herodes.

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 1 07
suas zombarias ineptas ou com a sua desdenhosa
piedade, lhes fechar a bocca : si o testemunh o,
por elles prestado á verdade, contra elles desenca­
dear os furores do odio e da perseguição, fazei,
então, 6 Jesus, que imitem o vosso d ivino silencio
e que, com o coração tranquillo, gosem a alegria
de soffrer como vós, por vós e comvosco. A ss i m seja.

--- «D»--

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V I A DO CAPT IVE IRO

9ª E S T A ÇÃO

Jesus p erante H erodes


( Oi to horas a. m. de Sexta-feira)

P R O P H E C I A S - Por que razão se cnfurc­


c e ran:: ·as nações e os povo s urdiram vãos co n l ufos ?
H. euniram-se os Reis d a terra e alliaram-sc
os p rí n c i p e s contra o Senhor e contra o seu C hristo
(Ps. I I , 1, 2 ) .
Os insensatos escarneciam-me, . e, quando os
deixei, as s uas línguas despedaçaram-me (Job.
XIX, 1 8) .
O s q u e d es eja ram perder-me, d iziam fu til ida­
des e mentiras, procuran do sómente fazer- m e cah i r
nos seu� laços.
M as eu parecia surdo e nada o u v i r e g u ar­
e.lava s i l e n c io como um m u do .
Era com o um homem que n�io ou v e n e n 1 tem
repl ica a lg u m a em sua bocca (Ps. XXXV I I , 1 3,
1 4, 1 5 ) .

�-:V A N GELH O S - E n t re tan t o, os j u d eus in­


s i s t iam com vehemencia e gr i t av am :
«El lc sublev a o povo com as doutrinas · que
sem eia desde a Gal i léa, onde começou , até toda
a J ud éa, e mesmo aq u i » .
Pil a tos, ouvindo falar de Galiléa, perg u n tou si
esse h omem era gal i l e u . E l ogo que soube que
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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO. t�

· era da jurisdicção de Herodes, remetteu-o a .esse


príncipe, . que estava então em Jetusalém.
H erodes, vendo Jesus, sentiu uma viva satis­
fação. Desde muito tempo desejava conheccl-o, por
tudo que se referia delle, e porque esperava . v êl-o.
opera r algum prodígio.
Fez-lhe, pois, muitas perguntas, mas Jesus n ada
respondeu.
Est avam presentes os príncipes dos sacerd,o les .
e os escribas, que o accusavam constantemente ;
ma s l I erodes, com seus soldados, o despresou, man- _

dou v estil-o, por escarneo, com uma tunica bran­


ca, e o enviou a Pilatos.
E, nesse dia, tornaram-se amigos H erodes e
P i l a tos, pois antes eram inimigos um do outro.
(S. Luc., XXI I I, 5'- 1 2) .

O palacio d e H erodes estava ao Norte do


Forum, sobre a collina Acra, a pequena distancia
do palacio de P ilatos, a uns cem passos. A's · oito
horas, um arauto de Pilatos chegava á casa de
H erodes, prevenindo-o de que Pilatos, por defe­
re1.1 cia, mandava a seu tribunal Jesus de Nazareth,
accusado de diversos crimes. H erodes ficou lison­
geado e satisfeito, por estar em desavença c o m o
G overnador, e, ainda mais, por vêr o propheta, que
tanta curiosidade lhe causava.
Jesus, sempre carregado de cadeias, escoltado
po r uma populaça infrene, foi levado pelos chefes ·
do Sanhedrim. Assentado em seu throno, cercado
de cortezãos, contava Herodes distrahir-se á custa
de Jesus. D urante toda a sessão, entretanto, p or
m a i s que H erodes quizesse faze.r falar a Jesus, elle
se conservou calado. Não respondeu siquer uma
palavra ao rei, apesar _de mil perguntas astuciosas.
Como d.iz S . Vicente Ferrer, H ewdes mandou bus­
car uma vasilha com agua, p ara que, como nas
bodas de Caná, Jesus mudasse a agua em vinho,
Parece que Jesus assim se houve com elle, por:-
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1 1 (J., A PAIXÃO · DE JESUS CHRISTO
,.

caUS4 de seu procedimento criminoso com H ero­


dias e do assassínio de S. João Baptista.
H erodes, despeitadissimo, esteve por mais de
uma vez dis p osto a ceder aos furores sectarios
des�es loucos ; mas nãJo ousava afrontar as secre­
tas torturas e os medonhos remorsos que lhe ti­
nha causado o assassinio de S. João Bapti sta. E,
demais, este olhar e stranho, fixo, penetrante, que
ent rava n o mais recondit-0 de sua consciencia, per­
turbava-o, fascinava-o. Um terror inquieto invad ia,
pouco a pouco, todo o seu ser. Quanto m ais es­
tudava esse homem · extraordinario, cuja sorte es­
tava nas suas mãos, tanto mais reconhecia que al i
não h avia unicamente um homem ; e, inslinctiva­
mente, receiava ligar o seu nome a uma causa que
lhe parecia cheia · das mais graves e m ysteriosas
oonsequencias. Não queria, de modo algum; assu­
mir uma responsabilidade que o p ro prio Govern a­
dor romano, mui prudentemente, havia cledin;:i d o .
Por outro lado, não queria deixar impune o
ul t raj e feito á sua autoridade pelo desdenhoso si­
lencio do réu. Além disso, para n ão perder as gra­
ças da synagoga, era preciso attendel-a de alguma
fórma . Abafando os seus resentimentos e os seus
receios_, tomou o partido de tratar Nosso Senhor
como um insensato, um visionaria ; mandou vestil-o
com uma especie de sacco b ranco, I ) no qual fi-
1 ) A vestimenta branca (candidus) era, entre os Ro­
man os, urna das ins,ignias da dignidade suprema. As pes­
sôas de elevada hierarchia, nas grandes �lernnid ades, os
generaes, nos dias de batalha, traziam u rn a veste dessa c&-.
Os reis do Or,i1ente cobriam-se com m antos brancos e so­
bre os hombros de seus deuses os Persas e os Egypcios
punham vestes brancas.
Os i nsensaitos tarnbern usavam vestes brancas,
Assim, H erodes, sem o perceber, involu ntariamente tes­
temunhava que o accusado era Deus e Reii, e seu escarneo
transformou-se na consagração officia.t, posto que incon­
sciente - de que o Messias era verdadeiramente Deus,
verdadeiro Rei, e, mesmo, sublime Insensato.
Os que solicitavam togares honorificas, tinham tam­
bern vestimentas brancas (vestes candidas ), donde deriva
o nome de candidato.

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A PAI XÃO DE J ESUS CHRISTO 111
zeram buracos para passar a cabeça e os braços,
e ordenou que conduzissem o réu ao Governador
como um pobre louco, que não devia causar · tan­
tas inquietações (Est. I 8). Herodes, tratando as-

Jesus perante H erodes


( Est. 1 8)

sim N osso Senhor, como uin rei de theatro, quena


ridicularizar sua dignidade real. 2 )
2 ) Herodes Antiipas, que habitava, por occasião das
festas em Jerusalém, o palacio dos Asmonenos, situado á
esquerda do Templo, ao pé do monote Siã�, era tetrarcha,

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J 1 2. A PA I XÃO DE J ESUS CHR ISTO

O ' Jesus, Verbo do Altissimo, Sabedoria


infin ita do Pae, Mestre e doutor dos Anjos e dos
homens, verdadeira Luz que illumina todas as al­
mas que vêm a este mundo, adoro-vos debaixo
,desses trajes ele ignominia com que vos vestiu o
mais barbam, o mais insensato e o mais abjecto
dos tyrannos .! Foi para humilhardes o insuppor­
tavel of'gulho dos nossos pensamentos, foi para
solemnemente confundirdes a pretensa 'sabedoria
da nossa razão que quizestes descer a esta grande
e inaudita humilhação e opprobrio ! . . Permitti, .

Senhor, que minha alma apre'n da bem esta grande


e serena lição !
b issipae, ó radiante Sol da verdade, os mo­
mentos de revolta em que o principe das trevas
tenta, ás vezes, obscurecer o meu espirita . . . e fa­
zei - me comprehender bem que a verdadeira e in­
falllivel sabedoria é a que se haure da vossa Cruz.
Assim seja.
.---«O»--

·ou pri n cipe da Oal i l é a,


vol uptu oso e cruel, chefe de u m a
seita philosophica entre
. o s j udeus. .

Levado pe l a ambição se mpre crescente d e sua m u­


l her, foi e l l e mesmo a Rom a, procurar s u a desgraça. Q u er·i a
o t i tulo de rei, e Calígu l a deu- l h e o exi l i o pe rpetu o . Foi
n a O a l l i a, em Lyon, ou .em u m a pequena ddade perto doQs
Pyri ne:u s que e l le acabou miserave l m e n te .,ua vida.
Com Herodes foi p u nido o u l ti !TI O d o s a l gozes de J e!­
sus. Es ses e 1'am os chefes, mas o verda de.iro cu l p ado era
todo o povo de Israe l . Quarenta annos depo.is do exe­
crando deicidio, e m igual d i a, Deus pennittiu aos s o l dados
de Tito entrarem na cidade s anta e i n cendiarem o Temp l o,
que n ã o mai.s seria reedificado. Em torno das 111 urnlh as1
e no l ogar o n de t i n h am crucificado J �sus, foram esses
mesmos judeus crucificados pelos r onrnn os. A furia dos
ve n cedores foi tal que só . suspenderam suas barbaras exe­
cuções pür falta de arvores para fazer cruzes e d e l oga:r
para as c o l l ocar, como diz o historiador j udeu J osep h o ,
Dir-se-ia que a morte do j u sto e r a vingada p e l a immola�
ção de m i l h ares de cu l p ados. O resto dos h aibüantes foi
pass ad·o a espada. A histoda n ã o refere catas trop h e se­
Jne l hante a esta.

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VIA D O CAPTIVE I R O

I Oª ESTAÇÃO

Jesus perante Pilatos - Barrabás


preferido a Jesus
(Oito horas e 30 minutos a. m. de ·Sexta-feira)

PROPHECIAS A quem me assemelhas-


tes ? . . . a quem me comparastes ? . . . a quem me
igualastes vós ? . . . Ora, reoordae-vos de quem eu
sou e ficareis inteiramente confundidos !
· O ' vós que me ultrajastes, ponde as mãos em
vossa consciencia, e reconhecereis que sou eu e que
que não ha .outm além de mim ( !saias, XLV I, 5 , 8, 9).
Os sacerdotes não disseram :
Onde está o Senhor ? Os depositarias da lei
não me conheceram e os pastores do meu povo
insurgiram-se con tra mim ! . . . O meu povo com­
metteu dois crimes : rejeitou-me a m im, fonte d' agua
viva, e abriu cisternas fendidas por todos os lados
e i ncapazes de conservai-em as suas aguas. (Jer.,
I I , 8, 13 ) .

EVA N GELHOS -Pilatos fez aproxunar os


P rincipes dos Sacerdotes, os m agistrados e o pov.o ,
e lhe dirigiu estas palavras :
«Vós me apresentastes este homem como um
amotinador elo povo, e eis que, interrogando-o em
vossa presença, n ão encontro nelle delicto algum
dos que lhe attribuís. Herofd es, a . quem eu vos en­
v iei, nada encontrou tambem. Nada se provou con-
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114 A PAI XÃO DE jESUS C H R ISTO

tra ellc que seja digno de morte. Portanto, depois


de o ter castigado, dar-lhe-ei liberdade\).
O ra, segundo o uso, Pilatos era obrigado a
entregar ao povo, no dia da festa, um prisioneiro,
designado por elles . Um malfeitor celebre, cha­
mado Barrabás, estava preso. Tinha sido condemna­
do com os sediciosos, por ter morto um homem
em uma revolta.
Nesse momento o povo apresentou-se diante do
pretoria e reclamou a graça que o Governador con-
·

cedia sempre.
Tendo feito aproximar-se a multicl<1.o, Pilatos
tomou a palavra, e disse :
«E ' costúme que eu solte um prisionei ro, pela
festa da Paschoa. Quereis, portanto, qtie eu vos
solte ó Rei dos Judeus ? . . . . Qual clelles quereis
que eu solte -- Barrabás ou Jesus, que é chamado
Christo ?»
Pois elle bem sabia que os P ríncipes dos Sa­
cerdotes o tinham entregado por inveja:
Entretanto, sua mulher lhe mandou dizer, em­
quanto elle estava assentado no Tribunal : «Nada
h aja entre ti e este justo, porque muito soffri hoje,
em meus sonhos, por causa delle)).
Mas os Príncipes dos Sacerdotes e os Anciã:os
persuadiram ao povo a pedir Barrabás e fazer
morrer a Jesus.
Assim, quando o Governador rep� tiu a per-
gunta :
«Qual dos dois quereis que vos solte ?))
Todo o povo clamou, ao mesmo tempo :
«Barrabás, não este, e sim Barrabás ! ))
«Mas que farei eu de Jesus, desse Rei dos Ju-
deus, chamado o Christo ?)) replicou Pilatos.
Todos gritaram, dizendo :
«Que seja crucificado !))
«Mas que mal fez este homem ?)) ' insistiu o
Governador.

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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 115

Os judeus gritaram, cada vez mais alt-0 :


«Que seja crucificado !»
Pilat-0s estava decidido a livrar Jesus. Falou­
lhes de nov o. Mas o clamores creséiarri cada vez
mais : ·
«Crucificae-o, crucificae-o !»
U ma terceira vez elle lhes disse :
«Pois que mal fez este homem ? Não encontro
causa alguma de morte ; castigal-o-ei, portanto, e
o soltaréi».
Mas elles insistiram com grandes gritos, pe­
dindo que Jesus fosse crucificado, e seus clamores
cresciam cada vez mais.
Então Pilatos, querendo dar satisfação aó p ovo,
mandou soltar Barrabás, o p risioneiro rebelde e
assassino; que elles reclamaram, e abandonou J e­
sus á vontade dos seus inimigos.
(S. Math., XXV I I, 1 5 - 23, 26 ; S . Marc., XV,
6- 1 5 ; S . Luc . , XXI I I , 1 3-25 ; S . João, XV I I I, 39-40) .

A manhã corna veloz para o s m1m1gos de


Jesus. A hora dos sacrificios não devia tardar a
cham a i -os ao T e m pl o . Cornprehendiam bem que, si
a causa da Victima fosse adiada par.a depois da festa
da Paschoa, já não poderiam con tar com a effer­
vescen cia das paixões, nem com o resultado das
suas calumnias, que por si mesmas seriam desfeitas.
A ' medida do recrudecimento de seu furor, mais
faziam soffrer a victima. A's nO\'e h oras, os chefes
do Sanhedrim, seguidos de uma multidão cada vez
mais numerosa, reappareceram diante. do Palacio ·
de Pi l a tos , p ed in d o, em grandes gritos, a morte
de Jesus. Pilatos . viu falhos seus pla no s . O seu as­
tucioso rival adivinhára-lhe o s embaraços e, c omo
homem habil, evitára o laço que o Governador
lhe armára.
Reconhecendo, embora, a innocencia de Jesus,

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116 A PAI XÃO DE J ES US CHR ISTO
não tinha coragem de proclamai-a, e parlamehtava
com s eu s · accusadores : A i n da mais, uma serva de
C l audia P ro cula, 1 ) sua mu l h er, t inha v i n do pre­
venil-o de que não s e tornasse res p on sa v el da morte
desse j u sto, c u j a prisão soubera n a v e spera,· pois
passár a toda a no i t e inquieta, com v isões e presen­
timentos terrorificos. 2) Era um aviso de D eus, 3 )
e c ontri b ul. u para P on c i o P ilatos empenhar-se m a i s
na lib ertação de J esus .
A serva apres en t o u o an nel de sua senhora, co­
mo s i g n al da authenticidade da mensagem. ( E s t . 1 9)
O t eo r dessa mensagem, escripta sobre tab o inhas,
tão nob re, tão commoven te, mostra em C l au cl i a
Proculà urna alm a d ig n a de tornar-se christã ; e
não é. difficil acceitar a tradiçãü, que d iz que, ele
fac t o , ella s e c onv er t e ra. O men olo g i o grego vae
mesmo até a c oll o cal-a na l ista elas Santas, e
certas n arrações accresccn tam que desde que Pi­
lat.os fal lou a o s e u c o m p romi sso el e não condemn ar
a Jesu s , ella sah i u do palacio e f o i reunir-se aos
c h r i s tão s , a c ompanhan d o, d ep oi s, S . Paulo.
-Era antigo costume e n tre o s j udeus soltar um
preso, p or occasião elas festas da Paschoa, cos­
R oma n o s n ão ab oliram,
t u m e q u e os depois de se­
nhores ela J udéa. Esta.v a na p risão um fas c i n a r a ,
chamado B arrabás, um b andido, que tinha assolado
a P a l e st i n a , t ornando-se famoso por seus c rimes .

. 1 ) A tradóção nos ensina que Claudia Procula era


uma mu lher piedosa. Era uma das proseHtas da porta, de1-
nominação dada aos pagãos que renunoiavam os idolos
e que observavam o que os talmudistas chamavam os sete
preceitos de Noé, i1nterdizendo o sacrilegio, o incesto, o
assassinio, etc., etc.
2) N ão é raro que as impressões da vespera se re­
flictam em nossas almas, annunciando algumas yezes acon­
tecimentos do dfo seguinte. Calpumia; mulher de Cesar',
tendo tido um mystedoso . pr·esentimento do assassinio prol­
ximo de seu esposo, procurou impedil-o de comparecer ao
senado no dia em que foi assassinado.
3) O so1n ho da mulher de Pilatos, Cl audia Procu la,
fora-lhe enviado por Deus, dizem Origenes, S. João Chry­
sostomo, Santo Agostinho e outros.

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A PAI X ÃO DE J ESUS C H R I STO 11 7
Pilatos propôz aos j ucleus a escolha, entre Jesus
e ·Barrabás, certo de que não soltariam Barrabás.
Pilatos perguntou : «Qual dos dóis quereis que sol- ·

te : Barrabás ou Jesus, vosso Rei ?))


A esse nom e ele Barrabás, houve na irpmensa
multidão um momento de estupôr e de he�itaçfw ;

M e i:i sagem da m u l her de Pilatos


( Est. 19)

mas o s chefes el o Sat1.hedrim, comprehendendo o


perigo, intrometterarn-se por entre o . povo e o con­
venceram da preferencia a B arrabás, le m bran d o .

que tinha sido elle o - chefe de urna . revolta contra


a autoridade romana, o que t anto era do agrado
dos judeus. ,J

Assim, quando Pilatos renovou a pergunta,


um grito feroz, dominando to do o Forum, reper-

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118 A PAI XÃO DE J ESUS CH RISTO
-cutiu em seus ouvidos : «Barrabás, Barrabás, que­
remos Barrabás, entregae-nos B arrabás !» 4) (Est. 20

Barrabás preferido a jesus


( Est. 20)
I n dign ado com tanto cynisni.o, P ilatos pergun­
tou : «Que quereis, p o i s, que faça de Jesus, rei dos
j u deu s ?»
4) Jesus, Filho de Deus e Filho da Vi1rgem, salva, as­
sim, da morte aquelle homem, cujo nome significa <Jilho
do pae», descendente de Adão.
Barrabás representava, nesse dia sangrento da Pai..
xão, todo o genero humano : o filho culpado_ de .Adão
resgatado por Jesus, o homem novo, Deus de Adão, nosso
Deus e nosso irmão.
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A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO 119

O povo, a uma voz :


«Levae-o, levae-o ! 5 ) Crucificae-o, crucificae-o ! »
·- Essa horrorosa preferencia nos enche de in-
. dignação ; entretanto, nós somos ainda mais ingra­
tos, quando, pelo peccado, preferimos em nosso
coração o reino do demonio ao de J es�s Christo.
O' meu jesus, os vossos ·labios estavan:i silen­ ·

ciosos, emquanto o povo reclamava, tumultuosa­


mente, a vossa morte ; mas do vosso coração subia
ao Céu um grito mais l)oderoso do _que a voz_ dos
vossos inimigos.
«Sim, meu Pae - d iZieis - seja crucificado
o vosso Filho ! Perdoae á humanidade peccadora,
fazei que se quebrem os laços que a sujeitam ao
inferno ; salvae-a da morte eterna ! . . . Libertae a
Barrabás 1 . . o rebelde contra vossa lei, o rouba­
.

dor da vossa gloria, o assassino da sua alma . . . e


deixae-me morrer, afim de que o criminoso, rege­
nerado no meu sangue, recupere com a vida di­
vina, a liberdade da innocencia, a belleza de vossa
graça e os seus primitivos títulos á celeste herança
a vossos filhos promettida. - Assim seja.

-- « D » --

5) O verbo latino tollere significa levar e fazer morrer.

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VIA DO CAPTIVEIRO

I Iª ESTAÇÃO

. A Flagellação
(Nove horas a. m. de Sexta-feira)

PROPHEC IAS - Estou prestes a ser flagel­


lado e tenh o incessantemente diante dos olhos o
meu supplicio (Ps. XXXV I I , 1 8) .
Os peccadores ba.t eram em meus hombros co­
mo numa forja ; tornaram maior a sua iniquidade
( Ps. CXX V I I I, 3 ) .
Regosijaram-se c o m a s minhas · desgraças e so­
bre mim cal)iram os seus g.o lpes (Ps. XXX I V, r 5 ) . ·

Perseguiram, ó meu Deus, a ltt1 ell e a quem vós


feristes, e juntaram nov'as dôres ás clôres elas m1-
n h as chagas (Ps. LXVI I I, 27 ) .
Desde as plantas dos pés até o cimo el a c a ­
beça n ão tem parte alguma sã ; n ã o h a em ne­
n h m n el o s seus membros s i n ã o feridas, con tusões
e c h agas vivas, que ninguem quiz ligar e 11 inguem
suavi zou com oleo ( I saías, 1, 6).
,

EVANGELHOS - Pilatos, p.o is, 't omou en.t ão


a J esus e o mandou açoitar (S. João, X I X, r ; S .
Marc., XV, r 5 ; S . Math., XXI I, 26) .

Pilatos era ainda vencido. Com medo elo povo


.em delírio, não se animava a absolver �l Jesus.
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A PAIXÃO DE. J ESUS CHR_ISTO 1 21

Lembrou- se de que poderia talvez satisfazer esses


sedentos de sangue, mandando flagella:í- Jesus, e,
com inaudita deshumanidade, deu or<lens nesse ' sen­
tido, entregando Jesus, n ão aos judeus, mas aos
soldados romanos.
Havia naquelle tempo muitos modos de fla­
gellação . Segundo o que usavam os j udeus, o pac
ciente era ligado a uma columna 1 ) b astan.té alta,
pa ra que ficasse quasi suspenso pelas mãos, ele­
vadas acima da cabeça e presas a uma argolla
de ferro, chumbada na parte alta da columnà ;
seus pés eram tambem ligados em baixo da co­
lumna, afim de immobilizar o corpo.
O s carrascos davam então com todas as suas
forças treze vergastadas sobre cada uma das es­
paduas e sobre os rins, ao todo trinta e n ove gol­
pes.
A L egislação dos Romanos _ era muito m a is
terrivel. Diziam correntemen te entre os judeus,
com allusão a uma parabola do rei Roboam : «Si .
os judeus açoitam com vergas, os Romanos o fa­
zem com escorp1oes». Com effeito, em logar de
vergas, elles serviam-se de cordas, em cujas ex-

1 ) A columna da fl agellação é, provavelmente, a


de que fala S. Jeronymo, e que serve df_ p ortico de - u m a
Egreja d e Sião, para onde fôra levada por_ Santa Helen a.
Cada tr.i bunal tinha uma columna de flage llação ; aquella
de · que nos occupamos devia estar no Forum ou Praça . Pu..
blica, diante do PretorilQ. Devia estar tambem, m as acci ...
dentalmente, no- pateo do corpo d a guarda, outra columna
b aixa, junto á qual jesus foi coroado de espinhos, char
mada a columna dos opprobrfos e venerada na egreja do
Santo Sepulcro. A que se acha em Roma, em Santa Pra,.
xedes, é provavelmente a columna do Tribu nal de Ca·i phás .•

á qual Jesus foi preso na n!)He de quinta para. sexta. No


fundo do Forum, estavam as lojas fechadas por causa do
accumulo de povo. Suppõe-se que S. João, acompanhando
a Santa Virgem, tivesse podido achar logar em uma del las,
assisHndo dahi ao supplicio do Divino Mestre, conforme·
indicam algumas tradições. Dahi, qu ando jesus tomou a
a cruz para ir ao Calvado, sua Santa Mãe pôde segu,ir. ,
o cortejo, e, cortando o caminho, guiada por S. joão, en,- -

contrar seu Filho, um pouco mais longe, n a via doloro.sa.

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1 22 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
tremidades ligavam pedacinhos de ossos ou boli­
nhas de met al . Era tal a crueldade com que os
Romanos infligiam esses supplicios, que, muitas
vezes, os pacientes expiravam sob os seus golpes,
duvidoso saber qual dos supplicios soffreu
E'
Jesus. 2) I nclinamo-nos a que Jesus fosse tratado
como escravo, segundo o uso judeu ; outros pen­
sam que Jesus foi flagellado com chicotes, forma­
dos de quatro pernas de couro, tendo nas extre­
midades pequenos -ossos.
Segundo a primeira interpretação, Jesus não
teria soffrido menos, por se tratar de excitar a
compaixão do povo, tendo os algozes recebido
ordens de não pouparem a victima. O inn,ocente
Cordeiro foi arrastado á praça do Pretorio, ao lado
do Tribunal de Pilatos. Dois algozes lhe arranca­
ram o irrisorio manto branco, que os soldados de
H erodes lhe tinham posto aos hombros, e a tunica
incon sutil, trabalho da Virgem Maria ; ataram suas
mãos, já presas uma á o utra, ao annel de ferro
chumbado na parte superior de uma columria ahi
existente, dando as costas para a columna . .Esten­
deram de tal modo seus braços para o alto, que
seus pés, presos_ na parte i�erior, mal tocavam
tio chão. Depois, dois carrascos, recrutas da Syria
ou da Iduméa , ao serviço do Governador, o fia -

2) Os romanos flagellavam antes da crucificação� mas


Pil atos, ma•n dando fl agellar Jesus, n ão o fez em cumpr·i1.
mento dessa dispos1ição do codigo criminal, sinão para vêr!
si l ivrava Jesus de ser crucificado, pois, antes de o fazer,
disse aos judeus : «Nenhum crime descubro nelle que me­
reça a morte, por conseguinte, vou mandar castigai-o e
soltai-o em seguida».
As leis judakas prescreviam que jámais se ultrapas­
sasse o numero de quarenta açoites, e quem o fizesse era;
logo submettido á mesma pena. Esta é a razão por que
só davam 39 açoites, afim de não se exporem a exceder
os limites prescriptos. Eis por que o Apostolo S. Paulo
nos descreve como, por vezes, tinha sido acoitado, fazendo
notar que recebeu de cada vez quarenta m enos um aço1i­
tes. A lei romana não marca J.imites nem moderação.

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A PAI XÃO DE JESUS CH RISTO 1 23
gellaram com v iolencia verdadeiramente infernal .
(Est. 2 1 ).

Flagellação de Jesus
(Est. 21 )

O Filho de Deus agitava-se e extorcia-se, como


um verme, sob as pancadas desses miseraveis . . .
P.or vezes, a violencia da dôr arrancava-lhe fracos
gemidos : dir-se-iam lament osas preces solicitando
um pouco de compaixão.
D esamarraram o Salvador da columna e o

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1 24 A PAI XAO DE JESUS CH RISTO
prenderam de novo com a face para a mesma.
(Est. 22) . Cada golpe fazia Jorrar .o sangue, ar-

Flagellação de jesus
( Est. 22)

rancan do a pelle, depois pedaços de carne, pondo


seus ossos a nú e as suas costellas a poderem-se
contar : todo o corpo era uma chaga . Seus mus­
culos foram rasgados, abertas as veias . . . Das plan­
tas elos pés á cabeça, o corpo do Cordei ro Sal·
vador não era mais que uma massa inform.e de
carnes ensanguen tadas, trituradas, cheias de ras-

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A PAI X ÃO DE J ESUS C H RISTO 1 25

gões. Acredita-se que o supplicio t ivesse durado


um quarto de hora.
D esligaram o Salvador, que cahiu por terra,
quasi inanimado, em um charco de sangue. 3 )
N osso Senhor Jesus Christo ficou assim algum
tempo, estendido, até que os soldados o obrigaram
a levantar-se, dando-lhe pontapés.
Recuperando as fracas forças que lhe restavam,
arrastou-se até j unto de suas vestes, cobrindo-se
como ' pôcle, em meio ele indiziveis soff rimentos.
N inguern se aproximou para o ajudar, tanto era
o cl e spreso e a crueldade para com Aquelle que
nos amou até este excesso de dôres ! . . .
A Santa Virgem, nas suas revelações a Santa
E rigida, lhe narrou o triste drama nestes termos :
«Depois que se apartou ele mim n o Cenaculo, só
o tornei a \'êr quando o l evaram para os açoites,
e eu pude, sem morrer, presenciar a scena tre­
menda, em . que meu Filho era a immaculacla victi­
ma. Ali estava elle rodeado de algozes enfurecidos,
sem um só rosto amigo, em que pudéssc pôr os
olhos em sua afflicção, e confortar-se com alheia
sympathia.
. Eil-o, attonito com os alaridos com que atroam
os ares, e forçado a despir as vcs1es, começando
o seu tormento por se vêr desnudado aos olh os
dos homens ; depois, abraçou-se voluntariamen te á
columna a que o ataram . . . e eu vivia ainda ? Trou­
xeram varas e azorragues · ponteagudos ; descarre­
garam -lhe os primeiros golpes com esses instru­
mentos de infamia e de dôr, send o . aquell es gol­
pes vibrados na carne de minha carne, n o sangue
elo m eu sangue ; quasi cahi desfallecida.
·

A ugmentava o terror elos meus sentidos en­


torpecidos o en tre-ouvir pancadas rep e tidas, sem
n en h u m g e m i d o Quando vol tei a m i m , o que vi
.

3 ) O Jogar ·i nundado pel o s angue de jesus Chri:sto1


foi sempre d'e gra,nde ,·eneração entre os christãos. Existe
ahi uma pequen a egreja, pertencente aos Padres Francis­
canos, onde é celebrado o Santo Sacrifkio.

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1 26 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
eu ? Um corpo já quasi informe, retalhado e cha­
gado por tal fórma, que as carnes tinham desap­
parecido, pregadas aos ferros dos azor.ragues e os
ossos estavam á vista. Meu Filho, meu Divino Fi­
lho esvaia-se em sangue, e já n o seu corpo não
havia logar para novas feridas : era nas chagas
que ·bs barbaras abriam. novas .chagas.
A final, disse um dos algozes : «Cuidad o ! que
a sen tença do Governador só manda que o açoi­
temos, e com poucos golpes mais, estará· morto !»
Esse mesmo soldado chegou á columna e cor­
tou as cordas. M eu Filho teve que vestir-se, . e tão
pouco tempo lhe deram, que se viu obrigado a
vestir-se andando. Onde punha as plantas, ficava.
o chão impregnado de sangue, e por elle podiam
ser reconhecidas as suas p isadas.»
Sangue p recioso, que tinges a columna e
corres sobre as lages da praça ela execução, tu
clamas por Deus com muito mais força do que o
sangue de Abel ! Mas, o que a tua voz reclama,
não é a vingança, o que ella pede para todos os
corações culpados, é a graça do arrependimento e
do perdão 1 . . .
Sangue divino ! . . . fragmentos sagrados do Cor­
po de meu Salvador, calcados aos pés dos barba­
ras sac r i l egos ! . . . eu vos recolho com triste e filial
veneração ; eu v.os offereço, j untamente com as mi­
nhas l agrimas, á infinita justiça, em reparação das ·
ingratidões e infidelidades dos _ homens.
O' meu Senhor e · Pae, acceitae esta offerenda
em compensação das minhas fraquezas, da minha
tibieza e das minhas negligencias no cumprimento
das leis que o vosso amor me impõe. Fazei, ó meu
Deus, coberto de açoites, que a memoria do cruel
my sterio de vossa flagellação reanime o fervor da
minha piedade todas as vezes que eu contemple
ou receba a Hostia· Santa, de que v(>s dissestes :
«Isto é meu corpo, que por vós será despedaçado».
A-ssim seja .
,
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VIA D O CAPTIVEIRO

1 2a ESTAÇÃO

Coroação de espinhos

(Nove horas e 30 minutos a. m. de Sexta-feira)

PROPHECIAS - Foi para gloria vossa, Se­


n h or que s offr i tantos opprobrios e que meu rosto
,

se cobriu de c o n fus ão · (Ps. LXVI I I , 8 ) .


Abriram a bocca contra mim, cobrindo-me d e
ultrages. Bateram-me no rosto e cevaram-se nos
meus soffrimentos. Deus conservou-me sob o p.o­
der da injustiça, entregou-me ás mãos dos impios.
Eu, outr',ora tão glorioso e tão forte, fui mo.i do de
pancadas.
O Senhor fez-me dobrar a cabeça, dilacerou-me,
rasgou-me, fez-me chagas sobre chagas. O meu
rosto entumeceu-se á força de chorar, e as minhas
palpebras velaram-se de trevas. Soffri tudo isto, sem
que as minhas mãos manobrassem a iniquidade,
offerecendo a Deus santas preces. «0 ' terra, não
bebas o meu sangue, nem se sumam em tuas en­
tranhas os meus clamores» (Job., XVI, 1 1 , 1 2, 1 3 ,
i 5, 1 7, 1: 8, 1 9) .

EVANGELHOS - Em s eg u i da , o s soldados
o arrastaram para o pateo do pretori.o, reun!ndo-se
em torno delle toda a cohorte. Tendo-,o, despojado
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1 28 A PAI XÃO DE J ESUS CHRISTO
de suas vestes, cob.r iram-n'o com um manto de côr
escarlate. Depois, teceram uma corôa com espinhos
e lh 'a puzeram sobre a cabeça. Em sua mão di­
reita puzeram um caniço. Depois do que, ajoe­
lhando-se diante delle, o escarneciam, dizendo :
«Deus te salve, rei dos j udeus».
Deram-lhe bofetadas, cuspiam no rosto, e, to­
mando o caniço, batiam na cabeça.
(S . . Math . , XXV I I , 26-30 ; S. M art., XV, 1 6- 1 9 ;
S . Joãio, XIX, 2, 3 ) .

Seguiu-se uma scena d e escarneo sacrilego,


mais revoltante ainda que a flagellação. Os solda­
dos romanos detestavam o povo judeu, bem como
tinham soberano despreso pela instituição da rea­
leza. Ora, Jesus era accusado de se dizer rei e P i -
· latos o apresentava como rei dos judeus. Era uma
bôa occasião de mostrarem suas antipathias na­
cionaes e tradicionaes.
Convidaram então toda a cohorte, cujo effecti­
vo se elevava a seiscentos homens, isto é, todos O'S
soldados que tinham vindo com o Governador, e
que estav�m aquartelados no Pretoria, I ) para se
enfileirarem em volta da adoravel Victima, que os
contemplava com o seu olhar moribundo, com urna
expressão de dôr e de supplica capaz de enterne­
cer corações de tigres:
Jesus não pôde dar um passo. Tomaram-n'o
alguns pelos braços, empurraram-n'o outros pór de­
trás, e assim o foram ;;i.rrastando para o theatro
l ) H a, em Jerusalém, uma Capella, chamada a Co­
lumna dos opprobrfos ou das injurias. No altar, ha um pe­
daço da columna de marmore cinzenfo, sobre a qual Je'�
sus, no Pretorio, estava sentado� quando foi coroado de
espinhos e coberto de opprobrios pelos soldados de Pila­
tos. Este saintu ar-io pertence aos gregos.

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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 1 29
do novo supplicio, no terreiro dos guardas, junto
d<J Pretorio de Pilatos. (Est. 23).

Coroação de espinhos
(Est. 23)

Como fosse preciso cobrir de qualquer mod o


esse corpo despedaçado e ensanguentado, os sol­
dados imaginaram uma vestimenta como de um rei
de theatro .p ara esse Jesus, que era accusado de
aspirar ;í realeza. Fizeram-n'o assen tar no fuste
duma columna quebrada, de cin cocnta centimetros
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1 30 A PAI X ÃO DE J ESUS CH R ISTO

de altura, que ali estava, por acaso, como em um


t h ron o,sobre o qual p uzeram pequenos cacos, para
mais omartyrizar ; passaram-lhe sobre as espaduas
u m a n d r aj o de côr escarlate, z) á i m i ta ção de um
manto real, e, como sceptro, 3) lhe puzeram um
caniço entre as mãos. Faltava a corôa ; teceram
en tão uma corôa de es pi n hos -4) e a p uzeram so-
2 ) O m an to com o qual foi coberto Jesus, era, c om o
o seu nome indica, .uma «chlamy de» ou m anto curto de'
soldado, de lã abert a, passan do na axila direita, p�ra dei­
xar o braço livre : era a ve ste mrntar do soldado romano.
Os generaes e i mperadores usavam-n'o côr de purpura.
Era feito de uma peça de fazenda, cortada em , cu.rva e ·

ligada ·no ho m bro esquerdo ou no p escoço p o r um colchete.


Devia ter pertencido a algum s o l dado qu e o abandonára
p or i mprestavel.
Entre · os j u deu s essa côr symbolizava o p eccado, co­
mo fizemos vêr, e Jesus, com o m anto vermelho sobre os
h o mbro s, estava, po is , assign al a do como a victima do mundo,
pelos peccado s de todo s .
3) O caniço que puzeram entre as mãos de jesus
era a canna marinha, arando donax, dos botankos, qu e
possue -a dureza da m adeira.
4) A corôa de espinho s era formada de um e ntre­
l açado de junco m arinho (juncüs balticus ) , no qual mis­
turaram ramos com espinhos. O conjunto devia, pois, apre..
sentar antes . o aspe c to de u m a corôa fechada, especie de
capacete, e n ão um s i mp les circulo circumdando a fronte
e deixando a cabeça descoberta, co m o é, em geral, repre­
sentado. O que tende ainda a côn fi rm ar o que fica dito
é que, segundo os Evangelistas, os soldados batiam com
o caniço · na cabeça de J esus, para fincar a corôa, o que
p a re ce indicar bem que o alto da cabeça estava coberto .e
que os ramos de espinhos >i am, portanto, de urna extremi­
dad e a outra do entrel açado de junco. Tanto o j unco co­
mo os espin hos es t avam á mão : o junco servia para amar­
rar os fardos de forragem para os a.nimaes e os espin;hos
eram trazidos p ara alimentar o fogo.
O circu lo de junco da santa corôa est<í em Notre
Dame . de Pairis, com alguns espinhos. Com os fragmentos
Lias ramos, conservados em ourtros santuarios, pôde...se bem
reconstituir o c onj u nto.
Os espi·nhos eram do «rhamus-paloi nurus», nome gene­
rko dé. tres pl antas espinhosas. Esse «rhamus» era com­
mummente cham ado «Zizyphus-spim�-ch risfo, vegetal pouco
flexíve l , pelo que entre l a ç aram com o juncus balticus, que
era co m o o cipó.
O ramo de Zizyphus de Pisa tem 80 m i l l i me tro s . J�u­
tr'ora existiam seis e spin ho s, dos quaes tres sómente estão

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A PAIXÃO DE JES US C H RISTO Í Jt

bre a cabeça. Esta columna é chamada a column.a


do ultraje.
- O ' Senhor, vossa sagrada cabeça foi pou­
pada na flagellação, e eis que os algozes acharam
o meio de atormentai-a e de um modo ainda mais
cruel.
Ajoelhando-se então em frente delle, uns de­
pois dos outros, diziam- com escarnoo : «SéJ,lve, rei
elos judeus». 5) L evantando-se, em vez de o beija­
rem na testa, como era costume no Oriente faze­
rem os cortezãos e amigos do rei, em sua coroa­
ção, os soldados aproximaram os labios da fronte
i·n tactos. O principal tem mais de 20 millimetros de com­
prido. O da egreja de S. Sern in, em Tou louse, é de 4
m illimetros.
Os dois que possue o Grande Semi111 cu"io de Antun, têm
um 38 miHimetros e outro 34.
A cathedral de Tréves tem um galho de Zizyphus d e
1 O centímetros, com um espinho m aior e muitos pequenos .
O apologo de joatham (Juízes, I X, 7 a 1 5 ), parece
referir-se aos espiinhos da corôa de jesus.
«Ajuntaram-se as arvores em certo dia, para elegerem
Rei que as governasse. Depois da recusa da oliveira, d a
v ide1ra, da figueira, todas as arvores appellaram .para !O
«Rhamus» espin hosq, offerecendo-Ihe a realeza.
E elle lhes disse logo : Si, •n a verdade, me cons.füu�s
por vosso Rei, vfode, e descansae á minha sombra, e si
assim não querei.s, sáia do m esmo espinheiro um vehe­
mente fogo que devore os Cedros do Monte LibanO?>.
Por uma cruel ironia, os espinheiros floresciam nra­
quclla época, e brancas flôres se ostentavam em suas h as...
tes, s i m ul and o perolas, ás quaes se misturaram os rubiis
formados do s angue que os espinhos faziam derram ar.
5 ) Os soldados romanos trataram a Christo á seme­
l hança do que fizeram, m ais tarde, os moradores de Ale­
xandria, que, para fazerem escarneo a Agrippa, declarado
novo rei dos j udeus, revestiram um homem dos m ais vis
do povo, com adornos semelha·ntes aos reis : cingiram-lhe
a c ab eç a, á gu.isa de diad em a, com uma corôa de junco ;
puzcram-Ihe n a m ão, em Jogar do sceptro, um caniço e
po·r manto real lhe vesti-r am um ridículo tapete. Desta sol'te
trataram os soldados romanos a Christo, por dizer-se rei,
com a differença de que, em vez do ju nco, l he puzeraan
sobre sua sacrosanta cabeça uma corôa de duros espinhos,
penetrando-a com -0s mesmos e spinhos á for ç a de golpes,
que lhe deram com o caniço, causandó-lhe horriveis sof­
frirnentos.

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1 32 A PAI XÃO DE J ESUS C H RISTO

do Homem Deus, e, em vez de beijar, cuspiam,


esbofeteavam e injuriavam. I nclinando-se, recuavani,
diziam : «Salve, rei dos judeus !» Com a violencia
das -bofetadas, a corôa de espinhos o"s cilla, inclina­
se. Logo, um soldado a compõe e, para melhor
a segurar, arranca das m ãos do S alv a d o r o ca­
niço, e com elle bate em sua cabeça. G ritos e bra ­
vos repetidos enthusiasmam o algoz, e o diverti­
mento cruel só acaba quando o caniço tem passado
por muitas mãos.
A cada novo golpe, a cabeça, do D ivino Sal­
vador abaixa-se dolorosamente. As ponta s aguça­
das dos espinhos atravessam a pelle, fincam-se n o
c ra n eo, ferem e cortam os musculos e os nervos.
O sangue corre, cobre-lhe os olhos e as orelhas,
entra-lhe na bocca e espalha-se pela barba, já
manchada de escarros. A cabeça, como o corpo,
é uma massa coberta de chagas, gotejando sangue.
Com o na flagellação, Jesus soffreu essas h u ­
rnilha ções e horríveis dôres sem se queixar. E '
aqu i , sobretudo, que podemos applicar a o Salva­
doi', victima de nossos peccados, as palavras de
! saias : «Dos pés á cabeça, não ha nelle um só
ponto são ; por toda parte feridas, contusões, cha- ·
gas vivas>l. Jesus nada dizia .
Veria, seu olhar, no futu r::>, esse exercito de sol ­
dados fiéis, qu e o recon hecer iam por -unico rei,
mesmo sob sua corôa de espinhos, como M o.ysés
tinha reconhecido Deus na sarça ardente, esses
martyres que, dando seu sangue por sua gloria,
em todos os tempos, se sentiriam ufanos de prestar
s_eu s testemunhos corajosos ao manto ele purpura
de sua. indefectivel realeza ? Veria elle seu sceptro
de caniço quebrando os thronos dos reis da terra
e, prodigio inaudito, permanecendo ele pé, em sua
p ml e rosa fraqueza, quando todas as outras monar­
chias t ivessem desapparec ido ao sopro das revolu­
ções ? Pensaria que, unico no mundo, teria sub ­
clitos que o amariam como a um pae, o serviriam

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 1 33

c omo a um rei, adorando-o como um Deus, sem


<1ue nada pudesse mudar, nem desencorajar, essa
côrte de honras, através das gerações Íl;lturas ?
Ou, antes, dirigindo seu olhar para o céu, se
offereceri a ao P a c como o Cordeim envolto nos
espinhos, e destinado a substituir Isaac em seu sa­
crificio ; como o nosso Adão, colhendo os espinhos
nascidos em uma terra maldita ; emfim, como o
Messias coroado elos espinheiros que Israel, a vi­
nha in fecunda, offerece a seu Senhor, á guisa de
fructos ?
Tudo isto é possivel.
O que ha de seguro é que, v1ctuna exp iatoria
e rei do futuro, elle offerece sua augusta cabeça,
ornada de sangrenta corôa, á adoração dos homens,
que saudam, todos os dias, o amor e a majestade
d e um Deus.
- Que scena, qu e espectaculo ! O Salvador
está a ssentado e curvado completamente para a
frente : é a personificação da dôr. - Sobre ·sua
fronte pesa o infame diadema de espinhos, que lhe
envolve a cabeça ; seus cabellos passam por entre
as h astes nodosas da corôa. D ebaixo dos espinhos,
seu rosto quasi desapparece. O sangue desce pela
testa e pelo pescoço, vendando-lhe os olhos, cahindo
:;.obre as espaduas, já cm carne viva ; as méchas
de seus cabellos estão empastadas de sangue. O s
espinhos entram na sua fronte, e , segundo reve­
lações, em numero de setenta e dois, e ao menor
abalo, mais penetram, produzindo as mais crucian­
tes clôres.
Que supplicio e que ignominia l
Uma sêde abrasadora devorava o seu peito,
tremia ele febre e de fraqueza. Nos raros instantes
de descanso que lhe deixavam, sua alma entreti-
11 ha-se com o seu Pae, e dizia-lhe :

Pae ! será bastante ? ! ! ! Estarão já salvos os


h omens ?
E o divino Suppliciaclo repetia en tão corno em

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1 34 A PAIXÃO DE J ESUS C H RISTO

Gethsemani : «Faça-se, Pae, a vossa vontade e nãe>


a minha». 6)
- O ' Monarcha supremo da terra e dos céus,
eu me prostro a vossos pés, com a alma cheia de
dôr e os olhos cheios de lagrimas. Proclamo-vos e
saudo-vos, · não sómente como Rei dos judeus in­
gratos, que não corresponderam ao excesso de vosso
amor sinão pelo odio ; rtão sómente como H e i destes
soldados ferozes, que vos fizeram tragar as mais
amargas vergonhas e soffrimen tos ; mas adoro-vos
tarnbem como unico Rei da minha alma.
Consagro-vos, inteiramente, meu cora ção, que
fonn a s"t es com essas sagradas mãos ; consagro-v.os
meu espirito, que illuminastes com os sublimes en­
sinamentos da vossa Paixão ; consagro-vos a mi­
nha von tade, que dirigistes e firmastes com os d o ­
lorosos exemplos de vossa d ivina verdade ; consa­
gro-vos o meu corpo, que purificastes e santificas­
tes com. o sangue de todas as vossas chagas ; con­
sagro-vos a 1ninha vida, que conquistastes pelas
vossas supplicas e pela vossa morte ! O ' Jesus, si
um dia a minha alma fôr tentada a fugir de vossas
mãos, para se aviltar ainda mais, cingi-a com os es­
pinhos de vossa corôa, até que ella se desfaça em
lag r i m as de pesar e de . fidelidade. Assim seja.

-- «D» --

6) O loga1r da coroação de espinhos está agOJ;a 1< 8

interior do Quartel h1rco, em urna pequena mesquita ; nu


meio está o tumulo de um deir viche.

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VIA D O CAPTIVE I R O

1 3"- ESTAÇÃO

A Escada Santa

- Para ir ao lagar da coroação de espinhos,


J esus teve de subir, depois da flagellação, a escada
que conduzia aJO Pret;orio, inundando-a com seu di­
vino ··sangue. Jesus passou pela Escada Santa I )
seis vezes : 1 a quando foi introduzido no Palacio
ele Pllatos ; za. quando foi mandado a H erodes ;
3ª quando voltou a Pila.tos ; 4ª quando foi. levado
ao lagar da flagellação ; 5ª quando foi reoondu -
1 ) Esta escada, de m armore branco da Syria, com
veios cinzentos, está em Roma, em u m a parte dd antigo
palacio Lateranense, que ainda está de pé, e que se en­
contra . proximo á Basilica de S. João de Latrão, para onde
foi levada po.r Santa Helena, em 3 26, estando determi­
nado em Jerusalém o l ogar onde ella existiu. Elia estava
no Pretorio romano, e n ão h a logar onde mel hor possa '°'
peregri•n o venerar os passos do Di-vino Mestre. Mesmo n a
v i a dokirosa s e está menos pe rt o dos logares onde corre\.1-·
o sangue divino, porque elles foram alterados e, nos san­
tuarkis, os revestimentos de ma.rmore guardam os fiéis á
distancia. Aqui, o contacto é quasi immediato, e é por isso
que nesta escada, na . qual Jesus subiu e desceu seis vezes
e rolou, todo ensanguentado, não se sóbe sinão de joel hos.

_ Esta reliquia tem � hoje os degráus cobertos com ta­


boas, p ara evifar a continuação do gasto feito nos mes..
mos pelos peregrinos, que por e lles sóbem de j oelhos,
e essas mesmas taboas têm sido renovadas muitas vezes.
desde 1 723. Em varios degráus, encontram-se vidros re�
dondos, através dos quaes se entrevê uma certa mancha
num logar, qu·e dizem ter sido m arcado com o sangue
do Redemptor.
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.

1 36 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO


zido ao Palacio ; 6a quando foi atirad:J pela escada
abaixo, depois da condemnação. (Est. 24) .

A Escada Santa
( Est. . 24)

·--((i;))--

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VIA D O CAPT IVEIRO

1 4a ESTAÇÃO

Ecce homo
(Nove horas e q u ar en ta e c in c o minutos a. m. de
Sex ta-fei ra)

PR OPHEC I AS - O ra, e u sou um verme da


terra e não um h o mem ; o opprob rio do mundo
e o despreso do povo ( Ps . XXI, 7 ) .
L e v an t a r - se- á como um. f r ac o arbusto diante
do Senh or e como um p e q u e n o rebento :_i ue brota
em terreno aífdo. N ão tem b elleza nem b r ilho .
V i m o l - o , não tinha apparencia de coisa alguma
e não o conhecemos. P a rec i a o mais d e s p re si vel e
o u l t i mo dos h o men s , um h o m em votado ao soffri­
mento. N a ve rd ade , tomou s o b r e s i a s nossas m i­
serias, carregou com as nossas e n fe rmi d ades e
nós consideramol-o como um lep roso , como Um
homem humilhado e ferido pela justiça divina.
Mas foi por c aus a de nossas i n i qu i dad e s que o co­
briram de ch ag a s , foi p o r causa de nossos crimes
que elle foi ferido. Tomou sobre si o encargo da
e xpiação , que n:::>s devia t r az er a paz, e fomos sa­
nados com as suas feridas ( I s., L I I I , 2, 5 ) .
EVAN GELH O S � Quando o s soldados ro­
manos acabaram de divertir-se á custa de Jesus,
conduziram-n'.o ao pretorio.
Pilatos sahiu de novo e d i ss e a o p ov o :
«Ei s que vol-o -apresento ainda mais umà' vez,
para que saibaes que não en c ont ro nelle crime
algum».
E Jesus appareceu, trazendo a corôa de es­
pinhos, ooberto com o mant o escarlate .

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1 38 . A PA I X ÃO DE J ESU_S CH R ISTO

«E i s o h omenv, disse Pilatos.


Mas, logo q u e o v i ram , o s pontifices e 8 S sa­
tellites, começaram a clamar, dizendo :
«Crucifica-o, crucifica- o ! »
(S. João, X IX, 4-6) .

D epois do supplicio da flagellação e da c oroa­


ção de es p i nhos , J esus foi de novo l evado a Pila-

Jesus perante Pilatos


( Est. 25)

tos (Est. 2 5 ) ; que, vindo novamente ao t erraço, e


ven do o estado lamentavel a que o Salvador estava

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 1 39
reduzido, pensou que bastaria mostrai-o, para exci­
tar a pied ad e da mül ti dã.o, e s ati sfa zer o odio dos
accusadores.

Ecce homo
(Est. 26)

Levou-o, pois, á frente da escada, I ) e o mos­


t ro u ao povo, assim desfigurado, cobe!·to de san-

1 ) O Jogar donde Pil afos falou ao povo, a escada


do Pretorio, bem como o terraço contiguo, tinham a altull"a
dos 28 degráus da Escada Santa. O que se chama ho�e
o a-rco do Ecce homo, é proximo do Pretorio, isto é,
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t 40 A PAIXÃO DE J ESUS CHR ISTO

g u e, coroado de espinhos, t en do um sceptro irri­


s ario na m ão e um man t o avermelhado nos hom­
bros, e c la m o u al t o , aos j udeus :
«E cce H omo, eis o h omem ! (Est. 26) .
Esta v i s t a, porém, bem l o n ge de enternecer os
Po n tifices e o povo, fe l -o s g r i ta r mais al to :
Crucifige eum ! S ej a elle crucifi caclo !
Sim, e i s o H om em ! o H omem po r excellencia,
o H om e m - D e u s , o novo Adão, vindo á te rr a p ara
reparar a queda do p rimeiro, e para refazer o ho­
m e m , isto é, p a r a l h e rest i t u i r a v i ci a d i v ina q u e
elle tinha perdido !
Eis o H ornem ! centro de t od as as almas de
D e us, na o r d em da n at ureza, na ordem da graça,
na ordem el a g l o r i a ! Sem elle, o h omem não póde
ter a ccess o p e rante D eus, e é 1w conhec imento
do rn ysterio adoravel, pelo q u al D e u s se toi-nou
Homem, que está c o n t ido para toda a h uman idade
o s e g r ed o ela sua reh ab i l i tação, da sua vida e ela
sua fel icidad e .
--- S i m , e xclam a Boss u e t, e i l - o l. . . e i s este ho­
mem de dôres, que Pilatos, do al to do s e u Tri­
b u nal , vos ap resenta. Eis o ho m em 1 . . . Mas o que
é Elle ? um h omem, ou um verme ela t erra ? E' um
homem v i v o , o u um a victima estrangulada ? . . . Di­
zem- nos q u e é um lnmem : E c c c Homo ! V êclc o
o tr i s t e estad o a que o reduziu - a S y n agoga, o u ,
an tes, a q u e o red u z i r am nossos p eccaclos ; n oss o s
p rc p rios p eccaclos, que fizeram cahir sobre este
innocen t e todo este d i l uvio de mal e s .

do Jogar onde jesus foi exposto ; mas essas pedras foram


testemunhas da scena qu·e se passou perto dali, e nesse
arco estão embutidas duas pedras do Lithostrotos.
A multidão occupava então a praça, na qual jesus
foi flagel l ado ; a columna do supplicio estava no meio
della. A' esquerda, achava-se o corpo da guarda ; em face,
o Tribunal de Pilatos e a sacada ; á direita, o Gabbatha,
em - -grego, Lithostrotos, tribuna descoberta, calçada de fra­
gmentos de m armore amarellos e vermelhos, especie de
rastrum, onde eram dadas as sentenças.

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A PAI XÃO DE JESUS CH RISTO 14t

o· Jesus 1 quem poderia r econh e c er vos ? V i­


-

mol - o, diz o propheta, e não se po d ia reconhecer.


Lo n ge de parecer um Deus, tinha até mesmo per­
d i do a semelhança de homem, e, em presença
delle, nós ancl av am o s a p rocural-o . . . Será Elle ? . . .
Será Ellc ? Ser á esse Homem que nos foi promet­
.tido, esse Ho�nem da dextra de Deus e esse Filho
do homem em quem Deus está incarnado..?'. . . E '
Elle, n ão duvideis : eis o l-I.qmem . . . eis o H ome m
de que precisavamos, para expiação d as nossas im­
piedades. Precisavamos de um Homem desfigura­
do para reparar em nós a imagem de D eus, que
o s no ssos pe cc ado s tinham a p agado ; precisa vam o s
deste Homem todo coberto ele chagas para curar
as nossas.
O ' ch ag a s Gomo eu vos adoro ! nódoas sagra­
,

das, como eu vos b eijo ! O' sangue que manaes da


cabeça traspassada, dos olhos pi s ad o s, de todo .o
corpo dilacerado, como eu vos recolho ! . . . o sangue
de Jesus pertence-n os, é sobre as nossas almas que
Elle deve cahir-! Assim seja .

--- «O»--

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VIA DA CRUZ

I " estação - Jesus condemnaclo á m o r t e .


.2ª estaçãD - Jesus carrega a Cruz.
3:, estação - Jesus cáe p el a ia vez.
4ª estação - Jesus encontra sua Mãe.
Sª estação - Jesus é aux i li ado pelo C y rcneu .
6a estação \T cronica enxuga o rosto ele Jesus.
-

7ª estação - Jesus cáe p el a 2 ª vez.


S a estação - Jesus consola as filhas ele I srael .
9ª estação - Jesus cáe pela 3ª vez.
1 oa estação - Jesus desp ojado ele seus vcstuarios.
1 r a estação - Jesus cravado na Cr.uz.
1 2" estação - Jesus morre_ na Cruz.
1 3ª estação - Jesus descido da Cruz.
r 4ª estação - Jesus sepultado .

I ª ESTAÇÃO

Jesus é condemnado á morte

(Dez e meia a. m. de Sexta-feira)

P R O P H EC I AS
- Foi offerecido em sacrifi­
cio, porque quiz, e não abriu os lab ios para se de­
fender. Será levado á morte como uma ovelha e fi­
cará mudo como um cordeiro ante quem o tosqueia
( I s., L I I I , 7 ) .
Os meus inimigos abriram a bocca contra mim,
corn o leões enraivecidos, rugindo (Ps. XXI. · 1 4) .
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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 1 43
E' p r e c i so
que o Filho d o homem soffra n u ­
me rosos to rm e n t os , qu e s eja . escarnecido p e l o s A n ­
ciãos, pelos Prin ci pe s dos Sacerdote s e p e los E s ­
c ri b a s , que s e j a morto e q u e resuscite a o terceiro
d i a- ( N . S. J esus Christo) .

E V A N GE L H O S - Pilatos lhes d isse :


«Tomae-o vós mesmos e c r u c i fi c a e- o , p o i.s n à o
e n c on tro n e l le c r im e a l g u m» .
«Temos uma Lei, r ep l i c a r a m os j u de u s , e se­
g u n cl o a Lei, deve morrer, porque se fez F i l h o de
D e u s>1 .
O u v in d o e stas palavras, ainda mais s e in t i m i ­
dou P i l a t o s ; e, tornando a entrar n o Pre t o r i a , d i s s e
a J esus :
«Do n d e és tu ?»
Jesus não lhe resp on d eu .
E n tão lhe disse Pilatos :
<<T u não me falas ? Ignoras que t e n h o o p o d e r
d e c r u c ificar- te ou dar-te a lib e r d ade ?»
«N en h u rn poder terias sobrê mim ; respondeu
Jesus, si não te fosse dado do alto ; por isso, aquel ­
le q u e m e en tr e go u nas tuas mãos é réu d e m a i or
peccado».
Mais que n unca, Pilatos p rocurava livrar Je s u s .
Mas os J u d e u s redobraram seus clamores :
«Si lhe dás a liberdade, não és amigo ele C c ­
sa r , porque todo aq u el l e q u e s e faz rei , s e de­
clara contra Cesar».
Pilatos, ouvindo esses gritos, mandou trazer
Jesus para fóra, assentou-se no tribunal, no J ogar
chamado em grego Lithostrotos e em hebreu Gab­
b at h a .
Er<i então o dia da preparação da Paschoa,
quasi á ho r a sexta,- e disse Pilatos aos judeus :
«Eis_ o v osso Rei !»
«A' morte, á morte ! crucifica-o !» gritaram elles . .
«Como assim ? replicou Pilatos, crucificarei eu
o vosso Rei ?»

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1 44 A PA I X ÃO DE J ESUS C H RI STO

Os Pontifice.s responderam :
«Nós não temos outro rei sinão Cesar ! »
Pilatos, vendo que nada conseguia, e que o tu-
multo ia crescendo, mandou v i r agua e lavou as
m-ãos, á vista · do p ovo, d izendo :
«Eu sou innocente do sangue deste J u s to. Vós
respondereis por -el le».
E todo o povo, respondendo, disse :
«Ü seu sangue cáia sobre nós e sobre nossos
filhos)).
Então Pilatos ordenou que fosse fei to segundo
a vontade dos judeus, e lhes en tregou Jesus; para
ser crucificado.
( S . Math ., XXV I I , 24- 2 5 ; S . J oão, X I X, 1 2- 1 6) .

Então P ilatos, atemorizado, fez recolher Jesus


e, sujeitando-o a um segundo interrogatorio, volto u
a decla rar que Jesus era innocente. Os gTitos re­
petiam-se, entretanto, cada vez mais fortes - C ru­
cificae-o, crucificae-o !
Pilatos disse então : Tomae-o vós mesmos e
crucificae-o ; quanto a mim, nãio vejo motivo por
que mereça a morte. Os j udeus lhe responderam :
Temos uma lei, pel a qual Elle deve morrer, por­
que disse ser Filho de Deus .
Pilatos, apesar de scep tico como era, ouvindo
dizer que Jesus affirmavâ ser Filho de Deus, e
que, portanto, era passivei da pena de morte, fi­
cou amedrontado, pois, além el e innocente, c om o o
j ulgava, accrescia agora a hypoth ese de ser algu­
ma divindade, e, mandando levar Jesus para dentro
do Pretoria, lhe perguntou : «Donde és ?» como si
. perguntasse si Elle era da terra ou do céu, si era
um homem ou um D eus disfarçado, pois beth sa-
bia que era de N azareth . Jesus não respondeu .

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A PA I XÃO DE JESUS CHRISTO 1 45
Pilatos accrescentou : «Ignoras que te po s s o soltar
ou fazer crucificar ?» Jesus lhe disse : «Tu não te­
rias sobre mim nenh u m poder, si nã.o te fosse dado
do al to,, por iss.o aq u el l es que me entregaram a t i
conunetteram maior pec c ad o » .
A p arti r desse momento, fosse t emor s up e r s t i ·
c ioso, ou a m a i or certeza da i nnocen cia de J e s u s,
Pilatos redobrou ele e s forç o s para o salvar.
Claudia Procula, mulher de Pilatos, que s a b i a
ele sua hesitação, lhe mandou, de novo, uma men­
s age ira, para lembrar sua pr om ess a de não con­
clemnar esse j usto.
Pilatos voltou á sacada, e quiz ainda uma vez
soltar Jesus . Começou a falar, mas o phariseus,
adivinhando as suas disposições, gritavam : «Si o
soltaes, nã,o soi s amigo de Cesar. Sabeis q u e quem
se faz rei, se revol ta contra Cesar».
Por in st a n t es , .o Governador parecia J. fron t ar ,
r es ol u t o , todas as ameaças. Mandou buscar Jesus
-e, expondo-o á multidão de l ir a n t e , disse, com voz
fo r te , que dominava todos os clamores :
«Eis aqui o . vosso Re i ! »
H avia nesta phrase uma ironia �marga, pela
qual Pilatos se vingava do acto de fraqueza . que
lhe era arrancado, ou, talvez, uma ultima e so­
lemne hom enag em p rest a da ao accusaclo .
Os p h a r i se u s sobresaltaram-se com esta procla­
mação, que j ulga ram o cum ulo do in sulto. Já n ào
soltavam g r ito s , m as ui vos fu r io sos .
«Crucificae-o . . . Crucificae-o !»
Pilatos resistiu, e, com os l abios tremulas de
col e r a e de ironia, accrescen tou : . «Pois que ? ! Cru­
c i fica r eu o vosso Rei ?»
«Ü no s so Rei, co n te st a r a m elles, o n osso. Rei
é Cesar ! Não conhecemos ou t ro».
Então, Pilatos teve medo, e,. v endo que s e
co m p ro me ttia , sem esperança de resultado, e que
o tu m u l to ia c r es c e n do, perdeu a coragem. Não se
sentia com forças para afrontar um levantamento

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1 46 A.. PAI XÃO DE J ESUS CHR ISTO

nacional, para ex p ô r - s e ao perigo ele u m a denuncia


a Tiberio, arriscando a S l.l a cabeça por cum p rir
o dever, sabendo que nenhum tyranno foi mais
cioso de sua autoridade do que Tiberio, e que, si
soubesse que, em uma ele s u as provincias, algu e m
se dava o t i t u l o de rei, seria a desgraça .defin i t i va
do procurador.

O Gabbatha
( Est. 27)

Depois de ter sete vezes q u erido soltar Jesus,


tres vezes declarado, publicamente, que nenhuma
culpa achára nelle. mandou vir agua e, con­
forme o costume dos judeus, quando queriam
protestar contra o ataque á innocencia, lavou as
mãos, dizendo : «Eu sou innocente do sangue deste
J usto» (Est. 27), e preparou-se logo para pronun-

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 1 47
çiar a sentença de morte contra Nosso Senhor, com
toda a solemnidade costu �ada. 1 )
E todo o povo
G respondeu : «Que o
seu sangue recáia
sobre nós e nossos
filhosJ>. Entã.:9, Pila­
tos entregou-lhe Je­
sus, para que fosse
crucificado (Est. 2 8 ) .
Quanto á hora
em que foi pronun­
ciada a sentença de
morte, ha uma ap­
parente contradicçãio
entre S . Marcos e
S . João. - Este diz
que Jesus foi con­
demnado quasi á
sexta hora (S. João,
xqc, 1 4), S. M ar­
cos que elle foi cru­
cificado na terceira
( S . Marcos, XV, 2 5 ) .
D eve-se admit­
tir que o texto pri­
mitivo em S . J oão
seguisse o costume
romano, em seu rno-
Jesus depois de condemnado do de contar as ho-
(Est. 28) ras, e S. Marcos o
dos judeus ? Essas
suppos1çoes gratuitas têm o grave inconveniente
de restringir, as sc_enas da Paixão a limites muit::.>
1 ) A copia desta sentença, aliás apocrypha, existe no
acchivo da Real Academia de Historia de Hespanha. Em
1 850, appareceu outra copia, escripta em pergaminho, na
cidade de AquHa, na ltalia. Bis seu conteudo, fielmente
extrahido :
«No arnno X I X de Tiberfo Cesar, Imperador Romano

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1 48 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO

apertados. A s olução mais razoavel desta difficul­


clade é a que p ropuzeram Maldcinato e Jansen ius.
Elles fazem notar que os antig·os não contavam
as horas com a mesma p recisão que nós. Os j u ·
de todo o mundo, m o narc h a i nvencível, na O l i m pia d e CXX I
e n a E l i ade X X I V, na cr e ação do mundo, sé gLt n do o nu­
mero e co m p u t o d os H e bre us, quatro v e zes mil cento e
oitenta e s ete da pregen�e no romano I mperio no anno1
LXXI I I e da l i be rtação do c ap ti v ei ro d a B ab y l o n i a no
·

a n n o MCCVI I , sendo go ve rn ad o r da Judéa Quito Servo ; sob


o regimento e governo da cidade de Jerusalém : Pontio Pi­
l at o s, gerente da Baixa d a G a l i.léa, H e rodes Antip�s ; Pon­
tifice do Summo S ace rd oci o , Caiphás ; m agnos do tem­
plo, Alis Almad, Rohan , A c h a be l, Franchino Ce n tur ã o ; con­
sules roma•nos d a cidade de jerusalém, Qu i n to Cornelio
Sublime e Se xto Pompilio Rusto ; n o mez d e Março e dia
25 d o mesmo, eu, P.o n cio Pi·latos, aqui Presidente do I m ­
perio Rom aino, dentro do p al ado da archi-residencia, julgo,
c on de m n o e sentencio á morte J esus, cham ado pela p l e b e
Christo, N a zaren o e Galileu de n ação, homem sedicioso
contr:, a lei mos aica, contrario ao grande imperador Ti­
berio Cesar.
De te r m in o e ordeno por esta qLte se lhe dê a morte
na crnz, sendo0 pregado com cravos como os nO:us, porque,
co ngregan d o e ajuntando aqui m u i tos homens, ricos e po­
bres, não tem cessado de prnmove r tumultos, por toda a
J udéa, ameaçando com a ru i1n a de J eru s a lém e do s a cr o
·

temp l o , nega ndo o tributo a C e s a r, tendo ainda o atre�


vimento de entrar com ram os e em triumpho, com parte
da pl ébe, dentro da cidade d•e J e rtt sal é m ; que sej a ligado
e açoitado, vestido de purpura e coroado com alguns es­
pinhos, com a propria cruz aos h ombros, para que sirva
de exemplo a todos os malfe itores, e quero que, ju n tlai­
mente com el le, s e j a m condLtzidos do·is l adrões hom icidas ;
e s a h i rão pela porta sagra-da, hoj e An tonfan a ; que se con­
duza Jesus ao monte publico da Justiça, chamado Cal­
varia, onde, crucificado e morto, ficará seu corpo n a cru z
como espect acul o para to.dos os malvados, e que sobre a
cruz sej a posto este titulo, em tres línguas : hebraica, greg:a
e latiin a : Jesus N azairenus, Rex J u d re o ru m .
Mando tambem que ne n h u m a pessôa de qualquer es­
tado ou condição s·e atreva temerariame nte a impedir a
justiça por mim m andada, sendo administrada a execução
com todo o rigor, segundo os de cr etos e le1is roma.nas,
sob as pen as de rebenião oo n tra o imperio romano. Teste­
munhas de nossa sentença e pel as doze tr:i bus de I srael :
Rabbaim, Danie l Rabbaim, J o au nim , Borifo, Babasu, Lonel ..
Petueulan i. Pelos phariseus : Bubã, Simeão, Borrai, Rab­
bim, Mondoani, Bonmrrossi. Pelos hebreu s : Nitamberto. Pelo
i m per io e pel o presidente de Rom a : Lu do Pestilo, Amam ..
Chilo».

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 1 49
deus distinguiam especialmente a terceira, sexta e
nona, que, sendo consagradas pelas orações pu­
bl icas, dividiam o dia em quatro partes, analogas
ás quatro vigilias da noite. D esignavam, assim, por
«horas» os diversos tempos do dia, como se conta­
v a tn por «vigilias» os da noite.

A expressão de S . João indica, p ois, q�1e foi


para o fim das tr �? )ioras, comprehendidas sob ° .'

nome geral ele «t éPceira hora» (de 9 horas ao me1:0


dia), que . se realizou a condem:nação el e Jesus ; em­
quanto S . Marcos, r eferindo que Jesus foi posto
n a Cruz á <(terceira hora:», quer sim plesmente dizer
que o crucificamento se effectuou an tes elo meio
dia, antes que o laps,o de temp,o, designado sob o
nome de «terceira hora», fosse completamente pas­
sado.
Sómen te esta hypothese perrnitte a rea lização
elas diversas scenas da Paixão . Jesus foi levado
peran te Pilatos, dep ois do n ascer elo dia (6 horas
da manl1 ã) ; seu .. primeiro interrogatorio, seu com­
.pa rec i m e n to perante H erodes, as lutas de Pilatos
cont ra o Sanhedrim, occuparam mais ele tres ho­
ras ; a flagellação, a · coroação ele espinhos, as ulti­
mas resistencias de Pilatos prolongaram, sem d u ­
v ida, a Paixão por mais uma hora. Assim, se é
facilmente levado á conclu são de H engstenberg,
que o julgamento definitivo tivesse sido p ronuncia­
do entre os d-o is tempos marcados pelos e v an gel i s ­
tas, prox imo ás dez horas e meia.
Uma hora i) bastava para conduzir Jesus ao
Calvaria 3) e crucifical-o, de modo a estar na Cru•,
2) O Calvaria achava-se a pouco mais de meio kilo­
metro do Pretoria, a uns duzentos ou trezentos passos d a
Porta d a cidade. Tem accesso por dnco entradas ou cami­
nhos, com sign:ificação prophetica em relação á abertura
·

dos cinco caminhos da sal vação, nas cinco sagradas c ha­


gas do Salvador.
3 ) Foi no Calvairio que Abrahão, pelo sacrifício
de Isaac, prefigurou o sacrifido do Salvador do mun­
do. ( Est. 29. ).
Ha em Jerusalém a . Cape l l a de Adão. Acha-se em-
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1 50 A . PAI X � O DE J ESUS C H R I STO

quando, á sexta hora (meio dia), as trevas c o b r i ­

ram toda a terra. (S. Marcos, XV, 33).

O Calvario n o tempo d e Jesus Christo


( Est. 29)

Tambcm se pócl e conciliar essa cl iv ergencia


apparente, de horas, considerando que os homi­
cídios são prnticados não só com as m ãos, ma­
tando alguem, mas tambem por meio de conselho,
fraude, exhortação, etc.
baixo do Cal vario ; é um recinto estreito e escuro, em
fórma de abobada, que encerra os despojos de va.rios per­
sonagens illustres.
A' entrada, foram sepultados os dois primeiros reis
latin•os de jerusalém : Oodofredo de Bul hões, á direita,
e Balduin•o, á esquerda.
Um pouco mais no interior, está o tumulo de Melchi­
sedech, rei de Salérn ou de Jerusalém, e, no fundo da
capella, vê-se uma excavação fechada com grades e si­
tuada justamente em baixo da Cruz ; ahi, dizem, é o tu­
mulü de Adão. Si o primeiro homem 1J1ão foi sepultadü
nesse logar, desde o principio, ao menos reza a tradição�

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A PAI XÃO DE J ESUS C H R ISTO 1 51
Enganam-se os que julgam que sómente são
homicidas os que matam o homem com as mãos,
e n ão os que matam p·or meio de conselhos, frau­
de, exh.o rtação, etc.
Com effeito, os j udeus de nenhum modo ma­
taram o Senhor com as proprias mãos, como está
escrip to : A nós não nos é permittido matar a nin­
guem.
Entretanto, a morte do Senhor lhes é imputada,
porque os mesmos o mataram com a língua, quan­
do, gritando, disseram : Crucificae-o, crucificae-o ! .
Por isso, disse um Evangelista que o Senhor
fôra crucificado na hora terceira, e ou tro na sexta
hora ; porque os judeus crucificaram o Senhor n a
tercei ra hora com a lingua, e o s soldados na sexta
hora com as mãos.
Portanto, aquelle entregou o homem, este o
matou ; por isso diz o Senhor : O que m e entre­
g·ou a ti tem maior peccado, de accordo com o. que
diz no Ps. 5 6, 5 : Filhos dos homens, os dentes
clelles são armas e settas, e a sua lingua espada
agu çada.
-· Lava essas mãos, Pilatos, estão tintas ele.
sangue innocente 1 Concedeste, por, fraqueza, que o
crucificassem : não és menos culpado do que si o
tivesses feito por maldade. As gerações têm repe­
tido até hoje : «o Justo padeceu sob Poncio Pila­
tos_». O teu nome ficou n a historia p ara servir de
lição a todos os h omens publioos, a t.odos os j uízes
attestada por Origenes e muitos Santos Padres, qu e a hi
fora m de posdt ados por Noé ou por Mekhisedech seus ossos
e sua cavefra. Dahi vem a denominação de Calvado (ca­
veira) ou de Golgotha, craneo, togar do craneo.
E' em Iembrainça desse facto que os crucifiixos trazem,

em geral, uma caveiira e dois femures.


Tambem se póde - supp ôr que essa denominação seja
devida á c oin f<i.gu r aç ão do monte ou · por ser o Jogar d as
execuções.
A fenda, p rodt\.Zid a pelo ter re m oto, no momento d a
morte de Jesus Christo, atravessa perpen dkularmente a
excavação do tumuJ.o de Adão, de modo que o sangue
do lkdempto·r cahiu sobre os despojos de Adão.

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1 5 2- A PAI XÃO D E J ESUS CHRISTO

p u s i l l a n imes,
para lhes mostrar quão vergonhoso é
ceder contra as p r oprias conv icções. O cc upas no
Credo {un logar reservado aos principes ven cidos,
q ue seguiam o carno dos vencedores roman o s, su­
bindo o Capitolio para ir celebrar seu T r i u11 1 p h o .
Q u em sab e s i tu mesmo estavas s eg u r o na
tua cad ei ra ? ! Q u e importa ? O teu d e v e r fal ava
bem alt o .
E m semelh ante c a s o , era m elhor receber a mor­
te elo que dal-a. 4)
E tu, povo j udeu, r og a s t e u ma
p raga que cah iu
h orrivelmente sobre ti e sob re os teus filhos. F i­
caste arra s ado sob as m inas fumegantes d e J eru­
salém e do Templ.o, em n umero de mais de um
m ilhão e trezen tas mil v ic t i m a s, afora mulheres, ve­
lhos e cr iança s . D isp erso e f u gi t i vo por todo o mun-

4) O crime de Pilatos foi severamente punido. Ape­


nas passados tres annos, Pi l atos fôra obrigado a ir a
Sam aria, reprimir u m a sublevação provocada por um falso
Messias, ce rc ad o de p a rti dar ios armados e t ur bu l en tos . Do­
m i n ou a sublevação, m as foi feroz em seu triumpho. Os
Sam aritanos queix a r am -se a Vitell>ius , então procurador d a
Syria. Pil atos foi chamado a Roma, para j ustifücar-se. Ti­
berio morreu ·nessa occas-ião e Caligul a o substituiu (36
de J. C . ) . Os terro.r es, aos quaes tinha succumbid-0, s a­
crificando Jesus, tornaram-se realidade. C o n d em n ad o por
sua vez, de sp oj ado de s·eus bens, foi mandado para o exi.lio.
Vienna mostra ainda, n as m arge n s do Rh o d ano , um a
alta py ra mide, que passa por ser o tu mulo de Pi l a tos .
Segundo certas t r adi çõ e s , foi ahi, o u e m outro l o­
ga1, que, ralado pelos remorsos, o p ro scri p to terminou vio­
kntamente sua e�istencia. Euzebio, firmado n a Chroniccin
e em hi sto r i ado res roma,nos, assevera que Pilatos acabou
sukidando-se.
Outras legen d as , entretanto, l he fazem ter encontrado,
em seu �nfortuni-o, a graça de J e s u s , e a Egreja da Abys-r
sinia colloca mesmo na categoria dos santos esse coração
pusillanime, si bem qu e chr·istão, no dizer d e T e r tuli an o,
por sêus desejos ain da que imp-0tentes. Santo Agostinho
di z que Pilatos, a i·nstancias de sua mul he<r, se converteu
ao Christianismo, opinião essa do 5° seculo. ,
Diz Sainto Ago sti nh o : «Como os Magos, vindos d o
Oriente, admaram o berç-0 d e jesus, ass1im P i l aito s, vindo
do Occidente, o adQrou c ru cific a do» .
Terhtlian o diz que e l le j á era christão, q uando rela­
tou a Tiberio a m orte de jesus.

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-
A PAIXÃO DE J ESUS CHRJSTO - 153
do, aborrecido pelos homens e por D eus, sem al tar,
sem patria, nem_ sacrificio, b asta só o teu nome para
recordar, em toda a parte, o mais abominavel dos
dei ictos, a mais monstruosa das · i ngratidões, e, até
ao fim dos tempos, se ha de ler n a tua fronte,
escripta em letras de sangue e sem poder apagar-
se, esta palavra : «deicidio». ,

U m arauto proclamou a sen t e n ça dada por Pi­


latos :
«Jesus de N azareth, seductor elo povo, i ni m i go
de Cesar, falso Messias, seja levado pelas ruas da
cidade ao logar proprio para as execuções, e ahi,
despojad o de suas vestes, pregado em uma cruz,
nella fique suspenso até á morte».

! B I S AD CRUCEM, M I L ITES, 5). EXPED ITE


CRU CEM

Morrerá? na truz. Ide, soldados, preparae a cruz.


D iz uma tradição que, no momento de ser
lida esta sentença, chegava a Santa Virgem ao
Pretorio. Jesus foi agarrado pela soldadesca, que .o
o impelliu pela escada abaixo.
- Fostes condemnado, ó meu Jesus, mas quem
vos con demnou não foi Pilatos e sim nossos pec­
cados e iniquidades. Perdão, ó Jesus ! Perdf'w ! . . .
D 'ora em diante, não · vos offenderemos mais
e vos amaremos de todo o coração.
-- O ' meu Jesus condemnado, permitti que, sob
a fórrn a ele ardente e humilde supplica, eu repita
o voto sacrilego dos j udeus . Oh ! sim ! que o vosso
sangue cáia sobre nós ! . . . que se d errame sobre
5) Lictores eram os mi1n istros executores da justiça
romana ; iam adiiante dos principaes mag;istrados, com m a­
chadinhas, para degollar, e com um molho de varas, para
açoitar -os delinquentes . Eram chamad::is lictores, porque,
antes da execução, atavam os condem n ados ao supplido.
Os Pretores n ão eram acompanhados de lictores, e
por isso substituímos, nesta edição, Iktores por milites.
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"
1 54 . A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO

os nossos espiritos, para os illu m in ar, sobre os


nossos corações, para os purificar, sobre as n ossas
a l mas para lh e s dar forças, que se espal he sobre
,

os J U izes, para os santificar, e sobre · os peccad o ­


res, para o s converter ! . . . que se derrame sobre
a E g rej a para a amparar nas suas lutas, anim al a
, -

nas suas esperanças e conduzil-a, em seguimento


vosso, pelo c am i n ho do C a lv ar io g loria dos trium­
,

phos eternos ! Assim seja.

--«D»--

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VIA DA CRUZ

2'1 E STAÇÃO

Jesus carrega a Cruz

(Dez horas e tres quartos a. m. de Sexta-feira)

PRO P H EC I AS - Quem é aquelle que cami­


nha com as vestes tint as de vermelho ?
Sou eu, eu, cuja palavra é a palavra da jus­
tiça ; venho salvar-vos.
Por que estão vermelhos os vossos vestidos ?
Por que se assémelham elles a vestuari.os de quem
anda a pisar vinho nos lagares ?
Fui eu só que p isei o vinho, nãio tive com­
m i go homem algum dos povos do mundo. O san­
gue saltou sobre a minha tunica e os meus ves­
tidos tingiram-se com elle, po,rquc eu disse :
«Ü tempo do resgate é vindo>> ( I s . , L X I I I , 1 ,
.

2, 3 , 4) .
Foi-nos dado. o filho. Levará aos hombrns a
insignia da sua realeza e chamar-se-á o Admiravel,
o Conselheiro, o Deus, o Forte, o Pae do secu10i
futuro, o Principe da Paz ( Is., IX, 6 ) .

EVAN GEL H O � - E levando a sua Cruz 1 )


ás costas, sahiu para o logar que se chama Calva-

1 ) H avia muifas fórmas de cruzes. Primitivam ente, a


crucificação era feita n as arvores, em galhos em fórma de
forcado, depois, · em u m simples páu, n o qual era am air�
rado ou pregado o condemnado, tendo sido addicionado
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1 56 A PAIXÃO DE J ES U S CHRISTO

rio, em hebreu Golgotha, onde o crucificaram e


com elle .outros dois , um de um lado e outro d(>1
outro, e, no meio, Jesus ( S . João, X IX, 1 7 . 1 8) .

O s guardas, tendo-se apoderado do S alvador,


arrancaram-lhe os farrapos da chlamycle, collados
a seu corpo ensanguentado. O sangue corria. A
corôa de espinhos, presa á cabeça, foi tirada bru­
talmente, para passar a tunica inconsutil, . que só
podia entrar pela cabeça. Depois, fora m repostas
suas vestes, �sto é, aquellas que tornou por nossas
culpas : a veste branca, a cintura e o manto branco.
A corôa de espinhos foi de novo collocad;a
com indiziveis soffrimentos, o que foi feito para
provocar ainda mais os insultos e sarcasmos d a
populaça. U m a tradição diz q u e mãos piedosas
t inham lavado e concertado as vestes de Jesus
(Est. 30) .

a e l le, m ais tarde, um ramo tramsversal .


Segu ndo este ramo
era collocado de um modo ou de o utro, a cruz tomava
differentes nomes. Si a h aste tran sversal está a dois te rços
da haste vertical, é chamada «Cruz immissa» o u l atina.
Quando as d u as hastes se cõrtam em X, é ch am a da (<Cruz
decw:sata», ou de Santo A n d ré , e, por sua fórma, per­
mittia afastar as mãos e os pés do supplicbdo. Si a haste
transversal está no extremo superi•or da haste vertical, em
fórma de «taU», letra grega, a cruz tem o nome de «Cruz
commissa>) ou «patibula.rn.
E' discutiv·el si a Cruz de Jesus te\·e a fórma da ;<Cruz
immissa» ou d a «Cruz commissa», estando fóra de questão
a «Cruz decussafa». E l l a é hoj e universalmente represen�
tada com a fórma da «Cruz i m mi ssa», m as pensamos ter
.

sido a sua fórma primitiva a da <<Cruz commissa», a qual,


pela adaptação do titulo, pregado com um sarrafo na ex­
tremid a de superior da haste vertical, tomou a fórma da
«Cruz 0i mmissa».
N a Egreja romano-byzantüna, em Auvergne, fo·i adopta­
da, como em outras, a Cruz em fórma de T.
Um de se• n h o, em graphHe, do cmcifixo, ou, melhor,
uma caricatura, foita por um pagão, que pretendia ridicu la­
rizar um chr.istão por adorar u m Deus crucificado, t e m
a fórma de «Cruz commissa». Esse desenho foi descoberto

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A PAIXÃO DE JESUS · CHRISTO 1 57

Lançaram-lhe cordas á cinta e ao pescoço para


o c onduzirem á morte, como se conduz um ani­
mal ao matadourn.

A reposição das vestes de J esus


( Est 30)
.

Na mesma occasião, chegaram os algozes, tra­


zendo o pesado instrulI!ento do supplicio. Puzeram
em 1 856, no angu lo sudoéste do Pal atino, cm um quart-0
do palacio i m p·eri al que, segu ndo as i nscripções, servia de
sala de reunião (pcdagogium) aos pagens do i mpe r ado r .
Ach a-se hoje no Museu Kircher, em Roma, e tem s.ido
reproduzido muitas vezes.
M. de Rossi enco ntrou mui'1:as inscripções funerarias,

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1 58 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
a Cruz sobre o hombro de Jesus; de modo que fi­
casse um dos braços do travessãó do lado do peito.
Jesus tomou, com amba_s as mãos, a cruz, aper­
tando-a contra o coração, nella collando os labios
amortecidos e ensanguentados, · e beijando, num
longo osculo de ternura e de amor, esse symbolo
da redempção do mundo (Est. 3 1 ).

jesus toma a Cruz


( Est. 31 )

Pilatos, tendo sido vencido e muito fraco, para


defender sua autoridade contra uma multidão sub-
n as quaes a Cruz estava i-n tercalada no meio das letras de
u m nome, sob a fórma do «tau» grego, collocaéla em des­
taque :

L. Bréh.ier, e m seu trabalho «As origens do cn1cifixo»,


assim se exprime : O «tau» (Cruz commissa), em fórma de

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A PAIXÃO DE JESUS CHRIS TO 1 59
levada, procura occas1ao para vingar-se ; assim, or­
denou que fossem levados e conduzidos, para se­
rem crucificados, doiis ladrões, D imas e Gesta, ou
Dermas e Germas, segundo alguns, um de cada
lado de Jesus, para mostrar á nação judaica io
despreso cm que clle tinha sua realeza chimerica.
S. João insinua que a idéa de crucificar la­
drões ao lado ele Jesus vei u de Pilatos, e qde ell e
tinha p o r fim, do mesmo modo que com a in ­
scripção ela Crúz, humilhar os judeus.
Os dois ladrões foram carregados com as has­
tes t ran sversaes das suas· cruzes (os patíbulos) e
seus h raços estendidos e amarrados nos mesm�s .
Terminados esses preparativos, o s tres con ­
demnados, levados pelos algozes, ch egaram ao lo­
gar, o n d e o c:Jrtejo devia formar-se. Immensa frml­
tidão os acolheu com gritos de morte, mostrando
os pun h os cerracl:-is . . apontando com h orriveis h las -

patibulo, era considerado pelos christão_s com o o symbolo


de Cmz.
Tertulfano (Ad\0• Marcion 3,22) diz : lpsa est _ enim
littera grO!corum - Tau · - nostra T species crucis.
No M·i ssal, encontra-se o Crucifixo em uma de suas
paginas e foi elle foq- mado pel_os enfeites appostos á letra
T, c·om que o Ca-non começa «Te dgitur», até ser represen­
tado o crucifixo, o que faz parecer ter sido admitt-i da ;a
«Cruz comm.issa», como sendo a fórma d a Cru z de jesus.
No escapulaúo dos terceiros franciscanos, reproducção
d o desenho feito por S. Francisco d a benção gue déra ao
Irmão Leão, ach a-se rcpres�ntada, por tres \'ezes, a cruz
com a fórma de T. Santo Thoma.z, em seus «Üpusculos»,
no capitulo em que trata da «Educação dos Principes»,
refe.re-se a·o s que n ão traziam coms-igo o Tau, e ac­
crescenta : «Ü Tau é a imagem da Cruz. A Cruz, com
effeito, não tinha, a principio, s�n ão tres ramos, como a
letra T, sendo, em seguida, accresc�ntado outro ramo nQI
alto, para ser pre�ada a �nscripção».
Quando os Safltos Padres compararam a Cruz com o
YÔo dos passaros, o homem nadando ou orando com o s
braços abertos aos quatro pontos cardeaes, etc., referiram­
s e á «Cruz immissa''• o que, aliás, prova sóm ente que elles
tinham á vista essa Cruz, resultante da cruz commissa com
a adaptação do tituki.
A Cruz commissa tem o nome de Cruz de Santo An­
tonio, por ser süa imagem fixada na pémtla desse Santo.
Quin ze · seculos antes, já Dem; nos tinha dado a ima�

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1 60 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
phe rn ia s o rei . coroado de espinhos, o Messias cn trc
dois ladrões. A trombeta deu o sig n al da p a rt i da
e o exercito dos deicidas pôz-se a caminho. A'
frente, um apregoador proclamava, em todo o per­
c u r s o , os nomes e os crimes dos condcm nados.
Seguiam os soldados romanos, incumbidos de man­
ter a ordem e de garantir a livre passagem elo
cortejo, commandados p elo Centurião Cornel .io . V i ­
n h a depois uma multidão de homens e crianças,
l ev�rn do cordas, esc adas , pregos e rnartellos. D epois
destes, caminhavam os dois ladrões e, émfim, Jesus,
c om os pés descalços, coberto de sangue, c urvado

gem viva · da Cruz. Na luta entre os Israelitas e -0s Amale­


citas, após a passagem do Mar Vermelho, M oys é s perma­
necera no cimo de uma coUina, com os braç-0s est endid os ,
m a ntend o-s e ne ssa posição até á vktoria final dos Is­
r aelita s .
Israel é a figura do po vo dos eleitos, dos serv o s de
Deus ; Amalec representa o exercito de Satan. Moys és , nessa
posição, é o emblema de Christo pregado na Cruz e offe­
recendo por nós seu sangue, p ara que possamos combater
e vencer nossos i nim i go s.
As dimensões da Cruz d evi am ter sido de 4 m etros
e 80 para a haste vertica·I , e de 2 metros e 30 a 2
metros e 60, para a horizontal (p anbulo ).
As cruzes eram, em ge r al, baixas, ficando os pés do
crucificado um palmo acima do chão, para que os anim aes ·
lhes pudessem comer as e ntranhas, apressa·n do a morte
d os mesmos ; entretanto, para certos réus m ais notaveis, a
cruz era ma.is alta.
·

· A Cruz de Jesus não era baixa, mas tambem não


muito alta, pais Magdalena pôde abraçar seus p és e o
soldado, com o «hyssopo>i, chega·r a esponja aos labios
de Jesus.
E', aliás, possivel que a Cruz qu� Jesus l evou fosse
destinada a Banabás.
Quanto á m ade:i ra da Cruz de Je s u s, as op<in i ões s ã o
dive r gente s, sendo mais provavel que fosse o cedro, pi­
nho do Libano, até pelos exames scientificos de diversas
re-H quias. Os exames microscopkos, feitos por M. Decaime,
do Instituto, e por M. Pietro Sori, professor da Universidade
de P.i sa, num · fr agmen to da Cruz, constataram ser o pi­
nho, conifera encontrada na Judéa, a madeira de que fôra
foita a C ru z. Conserva-se, em alguns logares, .c omo no
centro do Bras1i l, a idéa de que o cedro não deve ser quei­
mado, por ter sido a madeira da Cruz de Jesus.
Nosso Senhor teve que levar elle mesmo a Cruz,
instrumento de seu supplicio, atravessando a Cidade de Je-

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. A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO til

sob o peso da Cruz, cambaleando a cada passo)


como um homem prestes a desmaiar.
Inundado de sUOlr, devorado de sêde, º' peito
arqu ejante, com uma das mãos sustentava a Cruz
sobr e o hombro, e com a outra segurava o l ong o
manto, que lhe difficultava os passos . Seus cabellos,
empastados de sangue, cahiam em desordem por
entre os esp inhos cravados cm sua testa ; sii"ás fa­
ce<; e suas barbas ensanguentadas o desfiguravam
a pon to de o tornar desconhecido.
O s algozes tinham-n'o p r eso por cordas, amar­
radas em sua cintura, e sentiam prazer em puxal-o
violentamente, ou açoital-o, para que apressasse o
pa sso.
J esus soff ria tudo sem deixar escapar uma
queixa, e, em sua physionomia, ainda que desfigu­
rada, podia-se contemplar a mais s ublime expres­
são de amor e resignação.
rusalém, desde o Pretorio a Lés te , até ao C a l v ar io , a
Oéste, fóra ·dos muros da · cidade, e, port an to , em um tra­
jecto de 500 a 600 metros.
Calcula-se que o peso da Cruz fosse de 1 00 kilo­
grammas, mas, sendo arrastada, resultava uma diminuição
de peso, que se pÇ)de avaliar de 25 a 30 kilogrammas.
Jesus ti n ha, pois, que carregar de 70 a 75 kilogrammas;
Esgo ta do pelos tormentos qu e tin h a soffrido, esse fardo
excedia suas forças ; foram obrigados a fazer que Simão,
o Cyreneu, qtíe pa ss av a n a occars ião, auxiliasse o Salvador
dos homens.
Ignoramos sJ o Cyreneu levou só a Cruz ou junt a­
men te com Noss-o Senhor, e, a·i n d a nesse caso, si carregou
a p arte mais pesada ou a menos pesada.
A maiio ri a dos Santos Padres pensa que Jesus foi
com_p leta men te des carre g ado de seu fardo, p o.i s já o rião
p odi a supportar ; outros, que o Cyreneu tomára a parte
mais pesada, deixando a Jesus a extremidade da haste ver,.
tical, o _que parece m ais co•nsentaneo com a tr ad i çã o das
duas quedas de jesus, mesmo depois do auxil io do Cyreneu.
Invenção da Santa Cruz. No an no 31 2, C o n s tan ti n o ,
· o Grande, tendo como ·estandarte o labarum, com o signal .
da Cruz, e, animado pela Cruz lum inosa que vira desenhada
no c é u e cercada das celebres palavras - ln hoc signo
vinces, -- entrou triumphante na cidade de Roma. As a,gui a·s
romanas cediam o l oga.r á Cru z ; o paganismo ao Christia­
nismo. A victoria de ConstantirJO f ôra · a victoria dos ch1,is­
tãos. No anno 3 26, Helena, m ã e de Constantino, cmpre-

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1 62 A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO ·

Em torno delle, comprimiam-se seus uumigos


e n carn i ç ados, Escribas, Pontifices e Sacerdotes ,
-esses phariseus, tantas vezes ob rigad.os a calar
pelo grande pr.opheta, felizes hoj e de fazer trans­
bordar sobre elle o odio que lhes enchia os cora­
ções . Ora uns, ora outms, se ap rox imavam de Je­
sus, o acabrunhavam de i n v ectivas , chasqueavam
de s uas predicções e de seus milagres.
U m destacamento de s.oldados, a cavallo, fe­
chava a marcha, e guardava, á distanc ia, J.ma mul­
tidão de escravos, de trabalhadores, de homens da
lia do povo, que, desde o alvorecer do dia, davam
gritos de · morte, e acompanhavam o cortejo, ávidos
de vêr correr o sangue.
P rocuraram i0 caminho m a i s curto, ainda que

hendeu, na avançada idade de 75 a nnos, a celebre pere­


gri nação a Jerusalém, que teve como resultado o desco­
bri m ento da Cruz em que expirou o Salvador.
As sagradas reHquias estavam enterradas no Calvaria,
ao l �do do Santo Sepulcro, por baiixo do templo, dedi­
cado a Venus, que os pagãos ahd m an daram construir.
O bispo S. MacaTio, que acompanhava Santa Helena,
por um signa l do céu, indicou o J ogar procurado.
Feitas as excavações, fOTam encontrados o Santo Se­
pulcro, as cruzes, o s cravos e o titulo. Para conhecer qual
dessas cruzes seria a de Nosso Senhor, a fé do bispo
Macario tirou todas as duvidas, fazendo aproxi·inar as tres
cruzes rle uma doente, que recuperou a saude ao ser tocada
pel a verdadeira Cruz.
. E n ão se repita, com os incredulos, que a m adeira,
enterrada durante tanto tempo, deveria estar corrompida.
Sem recorrer ao sobrenatural, temos, na historia, muitos
casos de m adeiras retiradas em bom estado, depois de
muitos seculos, por exemplo, as estacas do templo de
Diana, em Epheso, que h a un s cincoenta annos foram en­
contradas e m perfeito estado de conservação ; outras, en­
contradas n o Tamisa, n o porto de Carthago, etc.
Segundo autores ant.igos, a cruz era, em geral, er­
guida de antemão, e o condemnado era nel la am arrado
com cordas e depois pregado. Com re l aç ã o a Jesus, sup- ·
põe-se, commummente, que a Victirna Santa tivesse s ido
pregada na cruz, estendida por terra e am arrada na mes­
m a, para que, q uanêlo fosse e levada, o peso do corpo­
não r asgasse as mãos. O logar dos pregos era aberto
antes, e forçavam os pés e m ãos a serem p reg ados nes­
ses orifidos.

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 1 63
.

accidentado e pedregoso. Era, entretanto, costume,.


no dizer de Josepho, fazer passeiar os condemna­
dos á morte pelas ruas da cidade e exhibil-os em
.espectaculo á curiosidade publica, sempre sedenta
de emoções violentas. Mas os sanhedristas queriam
chegar ao fim o mais depressa possivel, receioso s
de um movimento offensivo por parte do povo, o u
de que a victima lhes escapasse das mãos pór um
dos prodígios a que já tinham assistido. O ca­
minho escolhid·o media, aproximadamente, 1 . 200
passos ( 5 00 a 600 metros) . D e Moriah elle tinha
que descer para a cidade baixa, depois subir em
declive bastante forte, para chegar á porta occi­
dental da cidade, por estreitas ruas, a não ser a
de Ephraim, mais larga.
A crucificação devia ser feita n'o Golgotha, fóra
dto recinto da cidade. O caminho para o Calvaria·
é chamado, com razãJO, «Via Dolorosa», porque J e­
sus podia dizer : «0' vós todos, que passaes p elo
caminho, vêde si ha dôr comparavel á minha dôr !»
- O ' meu Jesus, que tomastes com tanto amor
a Cruz, que meus peccados tornam tão pesada, fa­
zei-me a graça de conhecer a enormidade de mi­
nhas iniquidades e de as chorar todos os dias de
minha vida. ,..
Eis as consequencias do peccado ! Ah ! quern
póde dizer que não tornou mais pesada a Cruz
do Salvador ? ! Não, meu Jesus, não foram os car­
rascos que puzeram sobre vossos hombros o peso
da Cruz, foram meus peccados, que, com infinita
mi sericordia, quizestes redimir. Assim seja.

-- «D » --

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VIA DA CRUZ

3ª ESTAÇÃO

Jesus cáe pela pll"imeira vez 1 )

( 1 0 horas e 50 minutos a. m. de Sexta-feira)

Do Palacio de Pilatos, o sm1stro cortejo desceu


a collina do Templo, por uma rua estreita, na di­
recção do Oéste, até ao cruzamento, a duzentos
passos de distancia, com a rua de E ph r ai m, que
corre para o S ul , e . vem da Porta de Damasco.
Antes de chegar ao ponto de juncção dessas
duas ruas, Jesus, curvando-se s.ob o peso da Cruz,
cafüu pesadamente por terrã. Fizeram alto por um
pouco, para erguei-o, o que deu occasião aos al­
gozes de ainda mais o maltratarem e aos phariseus
de chasquearem desse singular thaumaturgo, que
fazia caminhar os paralyticos e nã:o tinha forças
para ficar em pé (Est. 32) .
Os que o acompanhavam nãio se commoviam,
antes o insultavam e o acabrunhavam de máus
tratos. Em torno, a multidão estava agitada e
curiosa, antes que h ostil. Ella era numerosa, diz
S. Lucas, e não admira . essa affluencia, porque,
além das festas da Paschoa, as execuções attrah iam

1 ) Os Evangelhos guardam silencio quanto ás ,quedas


de Nosso Senhor, em caminho do Calvario, mas uma ve­
neravel tradição, s anccionada pela Egreja, conserva sua
lembrança.
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A PAIXÃO DE . J ESUS CH RISTO 1 65
o povo, e todos se interessavam pela ca us a do Pro­
pheta, de quem tanto se falava.
Com auxilio dos soldados, Jesus tomou a Cruz ·

e con tinuou seu caminho.


- O' Jesus, eu vos contemplo, lançado por
terra, ultrajado, despresado, sem belleza, nem vi­
gor, sem elhante ao verme d� terra, que se cem.torce,
c al cad o aos pés pelo cam inhante ; eu vos contem -

Primeira quéda de Jesus


( Est. 32 )

plo, e o meu coração estremece de reconhecimento


e amor. Poderíeis, si quizesseis, levar a vossa Cruz
alt ivamen te, com alegria e coragem, c omo o athleta,
que põe a sua força e gloria em mostrar-se in­
se n sível aos g.olpes e ferimentos mais dolorosos.
N ão o quizestes. E por que, sinão para me en ­
sin ardes e servirdes de modelo, dando-me uma n e­
cessaria e consoladora lição ?

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1 66 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO

. Quando nos sentirmos abatidos pela adversi­


dade, olhemos para Jesus, prostrado debaixo da
Cruz. Elle nos ensinará que :o abatimento não é
d e s an imo, e que, ainda assim; póde haver um a pa­
ciencia doloro5a, uma resignação sem enthusiasmo ;
dar-vos-á, como elle p rop r io se quiz dar, nessa
hora da Paixão, o soccorro qu e vos pe r m i tt ir á _c a­
·
minhar após Elle, até ao cume do Calvaria, até
á m o r te Assim seja.
.

--«D»�-

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4ª ESTAÇÃO

J esus encontra sua SS. Mãe

( 1 1 horas a. m . de Sexta-feira)

Apenas tinha dado cinooenta passos nessa lar­


ga rua de Ephraim, · o mais commovedor especta­
culo veiu sensibilizar os oorações que ainda eram
susceptiveis de piedade. Uma mulher, a Mãe de
Jesus, e santas mulheres , es p erava m - n ' o em sua
passagem . Maria queria v êl -o... u ma ultima vez e
dizer-lhe um supremo adeus. Tinha passado a
noite e a manhã em mortaes angustias. A . todo
momento, S. João, o fiel discipulo, deixava a mul­
t idão, para oommunicar á pobre Mãe as 5cenas
que se succediam : o j ulgamento de Caiphás, as
interrogações de Pilatos e de H erodes, e, emfim,
a condemnação á morte. Elia correu logo, com
M agdalena e as santas mulheres, ao pateo do Pre­
torio . O uviu as vociferações da populaça, viu Pi­
latos, na sacada, apresentar ao povo seu Filho en­
sanguentado e coroado de espinhos, e, por fim,
condemnal-o á morte. Com o coração opprimido,
olhos rasos de lagtimas, tomou então a heroica
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1 68 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO

resolução de acomp anhar J esus ao Golgotha, <le


soffrer com elle ó h-0rrivel martyrio (Est. 33) .
..

Encontro de J esus com sua SS. M ãe


(Est. 33)

Quando o cortejo se pôz em movimento, Ma­


ria ?eguiu uma rua parallela e vem esperar seu
Filho na rua de Ephraim. 1 )
O encontro foi para ella de horrivel agonia.
D epois de terem passado os soldados e os au­
xiliares dos alg.o zes, levando os pregos, o martello,
ella viu J esus, entre os dois ladrões, carregando
a Cruz . . -

Contemplando esse rosto livido, todo manchado


ele san g ue, olhos injectados, labios descorados e
seccos, o primeiro movimento da potbre Mãe foi

1 ) A piedade dos fiéis ah·i constmiu uma egreja, de­


nominada, ainda hoje - Nossa Senhora do Espasmo.

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A PAIXÃO DE J ESUS C H R I STO 1 69

atirar- se para seu Filho, com os braços abertos,


m as os algozes a repelliram com violencia.
Jesus voltou a cabeça, seus olhos encontraram
os de Maria, um olhar cheio de ternura lhe fez
comprehender que elle sabia o que se passava em
seu coração e quanto ella tomava parte em seu
soffrirnento.
A perversidade desses miseraveis ch�gou a
pon tn de um dos que acompanhavam Jesus nce�
nar para Maria com os pregos . que levava para a
cruc ificação do R edemptor.
Seus olhos fecharam-se, mas ouviu os insul­
tos que dirigiam ao Filho e a Ella. Depois, o povo
que passava em massa pôz fim, com seus gri tos,
a esta scena commovente.
- O' Maria, que longo e cruel martyri-o vos
trouxe a dignidade de Mãe de Deus ! Vi0 sso cora­
ção foi atravessado por sete espadas de dôr : a
primeira, ao ouvirdes S imeão prophetizar a morte
,
de cruz . de vosso divino Filho ; a segunda, a fu­
gida para o Egypto ; a terceira, o desencon tro
com '° menino Jesus ; a quarta, a vista de J e_s us
carregando _a Cruz ; a quinta, e a que mais fez
sangrar vosso coração, o encontro com Jesus, des­
figurado, cambaleando, caminhando p ara o logar
do supplicio.
Quem poderá son4ar a ferid a aberta cm vosso
coração nesse momento doloroso ? ! Por tudo que
soffrestes por vosso Filho, l embrae-v0<s de que sois
tambem minha · Mãe, e, como medianeü:a, junto da
misericordia de Jesus, consegui que nunca mais .o
offenda. Assim seja.

--- «O» --

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5 " ESTAÇÃO

O Cyren eu ajuda jesus a levar a Cruz 1)

( Onze h o r a s e cinco minutos a. m . de Sexta-feira)

E V A N G E L H OS - E constran g eram u m ho­


mem que passava,, ch amado Simão Cyren e u . que
vinha de uma herdade, pae de Alexandre e de
Rufo, a que levasse a sua Cruz ( S . Math ., XXV I I ,
32 ; S . M arcos , XV, 2 1 ; S . Luc., XXI I I , 26).

Vinte passos mais l on ge , o cortejo deixou a


rua de Ephraim, para tomar a que ia ter d i recta-
mente ao Golgotha. .

A penas · J esus tinha dado alg u n s passos nesta


novà rua, muito escarpada, uma pallidez mortal
cobriu seu rosto ; seus joelhos dobraram-se e lhe
foi impossivel, apesar de seus esf.oirços, arrastar a
Cruz. Vendo que elle ia succumbir e prival-os as­
sim do prazer de contemplar sua agonia na Cruz,
os phariseus pediram ao Centurião romano que re-

1 ) Segundo uma legenda, no Jogar desta estação, er­


guia-se, á esquerda, a casa do «máu rico» e, á direita, a
do «pobre Lazaro».
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A PAIXÃO . D� JESUS CHRISTO 1 71

quisitasse um homem p ara auxiliar o condemnado


a levar o s e u fardo (Est. 34) .

Sim ão, o Cyreneu, auxilia Jesus a carregar a Cruz


(Est. 34)

Por i0rdem do official, os soldados prenderam


um hom em , que vinha dos campos, chamado Si­
mão, o Cyreneu· (por ser de Cyrene, na Africa), e
que, por seu vestuari.o, reconhec e r am. ser um es­
trangeiro, empregado em trab alhos servís, e o obri­
g-aram a ajudar Jesus a levar a Cruz.
Simão nãD oppôz resistencia, não sóm ente por­
que, recusando, se �xpunha a ser maltratado, mas
tambem porque a vista desse homem alquebrado,
sem mais forças, c ujo olhar moribundo parecia
impl ora r sua assistencia, excitou, em seu coração,
uma sincera piedade. Pensamos que elle tenha
Lomado o maior peso da Cruz, de modo que pe-

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1 72 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO

$asse o me nos p ossivel so b r e o hombro do Sal va­


d o r, a b e r to em chagas .
J esus n ã o e s queceu este acto ele caridade ;
fez do C y rcneu um d i s c ipu l o ferv oroso e de s e u s
dois filhos, Alexandre e R u fo , compar tici pan tes
da verdad e i ra fé . 2)
Jesus, acceitando o auxilio do Gyreneu, quiz,
por esse facto symb.ofü:o, nos patentear uma ver­
dade fundam e n t a l da v i da christã.
2 ) Esse Cyreneu era de Cyrene, proví ncia da Africa,
onde existia uma colonia d� j udeus, levados por Ptolomeu
Lagos, quando se apoderou da Palestina.
Parece que e l l e estava domiciliado em Jeru salém, por­
que o texto diz que vinha do campo e era pae de AI�
xan dre e de Rufo, co mo si tratasse de pessôas conhecidas.
De facto, Alexandre e Rufo converteram-se e foram dia.­
conos em Roma. O Martyrologio romano colloca Sim ão
Cyreneu no numero dos santos, como d issemos.
Outra questão, como já v.i mos, é saber si ellc levou
só a Cruz ou auxil iou Jesus a leval-a. O Evangelho pa­
rece .i ndicar a. primeira hypothese, mas póde tambem se
acommodar á segunda, que é a ma·is acceita até pelos pin­
tores.
Sim ão signifi.ca «obediente» e Cyreneu «herdeirn», o
que indica que esse auxiliar de Jesus foi herdeiro da su a
graça por ter sido obediente.
Eis por que no Cyreneu estão figuradas as nações
da gentilidade que, sahindo do paganismo e ;ibandonando
as supertições idol atras, deviam, pela obediencia aos en­
sinamentos do Evangelho, participar da Paixão da Cruz
de Jesus Christo, tornando-se herdeiros de sua gloria.
S.i mão, o Cyreneu, era judeu de nascimento, simples
proselyto ou mesmo gentio, negro, até, no sentir de va­
rias com mentadores.
Acredita-se que este filho da Lybia foi consagrado
h:spo por S._ Pedro, parecendo identificar-se com Simão;·
«O negro», de quem falam os Actos . dos Aposto los. V.jnh a
d e um campo ou d e um bosque, a que chamam pag;us ·-

-- onde celebravam os gentios ritos superstici-0so!), e dahi


procede a palavra - pagão.
Sim ão é um nome judaico, Alexandre . nome grego
e Rufus nome roman-0 . Deus preparava assim a diffusão
do . Evangelho, no universo inteiro, pela fusão dos povos
entre si, e, especialmente, dos tres povos judeu, grego e
romano, que tinham então a m aior influencia no mundo
civilizado, sob o ponto de vista religioso, intellectual e
politicQ.
Alexandre e Rufo m orreram m artyres, tendo sido Rufo
Bispo :de Tortosa. ·

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A PAIXAO - DE JESUS CHRISTO 1 73
A cruz é, nesta vida, a nossa companheira
mais fiel. Desde os nossos primeiros passos, cáe
sobre nossos hombros, aperta-nos nos seus_ dois
braços ; e si, ás vezes, se afasta e nos deixa um
pouco de repouso, a sua ausencia nunca é de lon­
ga duração.
As nossas cruzes são a Cruz do proprio Sal­
vador, constituem a participação na sua vida sof­
fredora, que elle determinou para nós desde t-0da
a eternidade, afim de podermos, um dia, e por
toda a eternidade, associar-nos á sua vida gloriosa
e bemaventurada. Assim seja.

--«D»--

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VIA DA CRUZ

6a ESTAÇÃO

Veron ica enxuga o rosto de j esus

(Onze horas e quin ze minutos a. m. de Sexta-feira.)

Apenas o cortejo tinha percorrido uns duzen­


tos passos nessa rua espaçooa, ladeada de grandes
e b ellas casas, cujos moradores viam, com indiffe­
rença ou despreso, os criminosos levados ao sup­
p1 icio, uma mulher, filha de Sirach, membro do
Conselho do Templo, por nome Beren rce, ou, se­
gündo outros, Seraphia, de aspecto cheio de digni­
d-ade, sahiu de uma das casas s ituadas á esquerda.
Sem se inquietar com os soldados, que. preten ­
diam embargar-lhe o passo, aproximou-se do Divi­
no Mestre, contemplou um instante o seu rosto
desfigurado, coberto de lama, de escarros, de cha­
_gas sangrentas, e apresentou-lhe, respeitosamente,
um panno, molhado em agua fresca, que levav a
para limpar o rosto de Jesus.
Com as suas mãos Jesus toma-o, applica-o ao
seu rosto, coberto de uma camada espessa de suor,
escarros, p@ e sangue, e devolve-lh'o, agradecendo
.com um olhar tão divino, que ena fica immovel,
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A PAI X ÃO DE J ESUS CHRISTO 1 75
fóra de si, estranha ao ruido e ao movimento em
torno de sua pessôa. I mmediatamente os algozes
a agarram e repellem com violencia para o meio
da multidão, ao mesmo tempo que fazem expiar
ao desgraçado condemnado esse allivio com insultos
e pancadas (Est. 3 5 ) .

Veron ica enxuga o rosto d e Jesus


( Est. 35)

Q ual não foi a alegria d esta mulher, quando7


t endo entrado de novo em sua casa, viu nesse ''éu

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176 A PAIXÃO DE J ESUS . CH RISTO
irnpressa a imagem do Senhror, essa imagem desfi­
gurada, verdadeira representação da dôr 1 (Est. 36).

Veron ica enxuga o rosto de Jesus


(Est. 36)

Em memoria desse facto, os discipulos de Jesus


immortalizarain oo m o nom e de Veronica (Vera­
icon = verdadeira imagem! esta heroina d a cari­
dade. 1 )
1 ) Veronka guardou esse panno piedosamente e, mais
tar.de, o entregou á Egreja, que o conserva em Roma. Em..

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A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO 1 77

Considera, minha'alma, como a p iedosa Ve­


ronica, vendo Jesus extenuado, com o rosto coberto
de suor, sangue, escarnas e pó, offerece-lhe um
panno, para que limpe seu rosto, e como, por
esse acto de amor e de coragem, é recompensada,
vendo impressa 'n elle a sagrada imagem !

tretanto, são veneradas outras duas santas faces,, que se


suppõe terem sülo calcadas na verdade·ka, ou, então, que
o panno estivesse dobrado em tres partes, recebendo iodais
a imagem do rosto de Jesus ; fa.�s são as que estão em
J aen (Hespanha) e em Jerusalé1:11 .
O pan no com que Veronica enxugou o rosto do Se­
nhor venera-se na Basilica de S. Pedro, e todos os annos
é exposto aos fiéis do alto da galeiria da Capella de Santa:
Helena, sob a cupula de S. Pedro.
Pela imagem -impressa no panno, é facil ver que o
rosto do Salvador traz os signaes dos máus tratos dos
judeus e dos soldados ; u m a das faces está comprimida,
a bocca entreaberta, os Iabios entumecidos e a barba ar­
rancada em certos Jogares.
Pensa-se que Veron·ica fosse a Hemorrhoissa, a quem
Jesus sarou de um fluxo de sangue, e que depôz, .peranite1
o Sanhedrim, a favor de Jesus, · relatando sua cura.
Mostra-se em Jerusalém a casa de Veronica, na via
Dolorosa, no <interior d a cidade velha, n ão longe do sitio
da Porta Judiciaria.
2) A lenda do Judeu errante: Jesus, percorrendo a
via dolorosa, parára em frente á ca�a de um sapateiro, e
quizera repousar um instante, sobre um banco de pedra,
diante da porta. Mas o sapateiro, chamado Asha.verus, o
repelliu brutalmente, ameaçando-o com seu m artello - Se­
gue, lhe disse elle, por que páras aqu i ? E o inculpou
como profan ador do Sabba<lo, um b lasphemador, um se­
ductor do povo. Então Jesus lhe respondeu : «Queria re­
pousar u m instante em tua casa, mas tu cam inharás sem
parar, até qu-e eu volte no ultimo dia».
lmmedtl·a tamente Asha.verus pôz no chão o filho que
trazia nos braços, começou a caminhar, acompanhou Jesus
ao Jogar do supplicio, e seguiu, pel o mundo afóra, sern
olhair para trás.
Como elle negou ao Redemptor um instante de re­
p ouso, é obri1gado a errar, p-e rpetuamente, pelo mundo.
Percorre o mundo inteiro, . caminhando sempre, sem nunca
parar, nem de dia, nem de noite.
O sentido profundo dessa lenda é o seguinte : A his­
toria do Judeu-errante n ão é a h istoria de um homem e
sim de uma n ação inteira. Sob o véu dessa ficção, ha
uma realidade. Esse homem phan tastico é a imagem do
povo deidda. Essa vida sem fim e sem felicidade, ess.a

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1 78 A PAIXÃO DE JESUS CH R ISTO
O ro s to de J esus, an tes tãio b ello, deixou de
ter a apparencia humana.
Ah ! quanto tambem era bella minh 'alma, pelas
graças obtidas no baptismo, e c om o o peccado
a desfiguro u ! Vós só, ó meu Redempto,r, podeis
restituir-lhe sua primitiva belleza ; fazei-o, eu vo.1-o
peço, por vossa santa Paixão. Assim seja.

-- «Dl> --

existencia ete rn amente agitada, esse destino estranho a todas


as consol ações da terra, é a condição desolada da raça
maldita de Israel.
Ashaverus é, n a poesia christã, o opposto de S. Christo­
phoro. S. Christophoro é o povo christão, tal como o fez
a esperança e a fé ; A.s havems é a imagem do povo judeu,
no estado a que fücou reduúdo pelo anathema e pelo des­
espero. ·

. - Christophoro, antes pagão, converteu-se ao Chris­


tianismo e, depois de ter ganho para Jesus uma multidão
de pagãos, foi martyrizado. E' repres�ntado como um ho­
mem muito forte, quasi um gigante, trazendo sobre os horn­
bros o Menino-Jesus e atravessando um rio com uma ar­
vore verdej ante n a m ão. A Cathedral de Toledo tem uma
imagem desse Santo com 14 metros de altura.
A historfa mistura-se aqui com o symbolo.
O symbolo é que S. Christophoro era de gigantesca
estatura e de porte majestoso, e caminhava, ordinariamente,
apoiado a um cajado florescente, atravessando rios com
Jesus sobre os hombros ; a historia é que elle tinha uma
alm a grande, generosa, invendvel ; caminhava, a passos d e
giga.nte, no caminho da virtude e da prégação do Evan­
gelho ; levou Jesus Christo aos pa'izes i1n fiéis ; atravessou
rios de afflicções e de soffrimentos, sem poder ser sub­
mergido ; e, . emfim, sua constancia e sua firmeza, repre­
sentadas pelo cajado, ficaram sempre florescentes e nunca
perderam seu vigor.

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V I A DA CRUZ

7ª ESTAÇÃO

Jesus cáe pela segunda vez


(Onze horas e vinte minuto!? a. m. de Sexta- feira)

Tendo o cortejo deixado a rua d e Ephraim,


em demanda do Calvario, -após uma centena de
passos, chegiou Jesus á pbrta Judiciaria, assim cha­
mad a, porque os condemnados á pena cap ital pas­
savam por esta porta, para ir aio Golgo tha. Nesse

Jesus cáe. pela segunda vez


(Est. 37)

caminho pedreg1oso, a subída tornava-se difficil, e,


apesar dos esforços do Cyreneu para o auxiliar,
J esus cahiu de novo sob o peso da Cruz (Est. 37).
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1 80 A PA IXÃO DE J ESUS CH RISTO

E rgueu-se -com muita difficuldade, e aprox1mou­


se da porta. Ahi, em um a columna de pedra,
chamada columna da infamia, estava affixado o
texto da eiondemnaçãJO. 1 ) O Salvador p ôde lêr que
ia morrer por ter sublevado. o povo contra C esar e
u su rp ar o ti tulo, de Mess ias. Os ph ariseus nãn dei­
xaram de lhe mostrar o ooiios.o escripto, que re­
lembrava suas accusações, con c eb ido, corno vimos,
nestes termos :
«Jesus de N azareth, seductor do porvo, inimigo
de C esar, falso Messias, seja levado pelas ruas
da cidade, ao I.ogar proip r io para as execuções, e
ahi, d e spoj ado de suas vestes, pregado em uma
cruz, nella fique suspenso até á m0irte».
- E' a segunda quedá de Jesus, cob erto de
chagas, coroado de espinhos, carregando a C ruz,
cercado de inimigos, que o férem com pancadas
e o mJuriam ; s u a s forças esgotam-se e c áe pela
segunda vez. Mas c áe p ara erguei-se até offere­
c er na Cruz a sua vida pelos hom en s .
O maior peso da Cruz era formado p elos pec­
cados dos homens, que Jesus ia - redimir.
Assim, ó Jesus, pelos mere.c imentos infinitos
de vossas quedas, obtende o perdão das que tenho
-
dado p e1o p e ccado, e fazei que, erguendo-me, con­
fiado em vossa misericordia, vo6 acompanhe, car­
regando tambem a minha.. cruz. Assim s ej a .

-- «0»
--

1 } A columna em que foi affixada a sentença, está


bem conservada, na capellinha (Santuario da columna)
- per-
tencente aos Pes. Franciscanos, em Jerusalém.

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VIA DA CRUZ

8a ESTAÇÃO

Jesus consola as mulheres de Jerusalém

(Onze horas e vinte e <lo,is rninut1os a. m.


de Sexta-feira)

EVAN GELHOS Uma multidão immensa


seguia-o, assim como · mulheres que, batendo nos
peitos, o choravam e lamentavam .
Mas Jesus, voltando-se para ellas, lhes disse :
«Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim,
mas chorae· sobre vós ·e sobre vossos filhos, por­
que tempo virá em que se ha de dizer :
Felizes as estéreis, as entranhas que_ não ge­
raram e os seios que não amamentaram. Então, co­
meçarão a dizer ás montanhas : - cahi sobre nós,
e aos outeiros : - cobri-nos. Poirque, si o lenho
verde . é assim tratado, que ha de ser do secco. ?»
( S . Luc., XXI I I , 27-3 1 ) .

D epoi s de ter atravessado a porta, Jesus se


achou ao pé cLoi Golgúrtha.
As santas mulheres acompanhavam-n'o de lon­
ge, porque os soldados não lhes permittiaffi apro­
ximar-se.
_ Apes�.u da prohibiçãJO de derramar lagrimas
·

nà passagem de um condemnado; um grupo de


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1 82 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
mulheres corajosas, 1 ) vendo-o naquelle estado,
não puderam conter seus prantos, nem deixar de

J esus consola as m ulheres de J erusalém


( Est. 28)

lamen tar-se em altas vozes. Muitas tinham os filhos


nos braços, e elles choravam, vendo . suas mães
--1 ) Em toda a Paixão de Jesus, nen huma mulher se
m anifestou contra Elle, e foram as un icas pes·sôas que
deram publico testemunho de sympathia e de piedade. .
A hem orrhoissa depôz n o processo de J esus, declaran­
do que ficára curada por ter tocado nas franjas de suas·
vestes.

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A PAIXÃO DE J ESUS CHRI STO 1 83
lamentar em-se. Cheio de piedade, ao pensar nas
calamidades que iam cahir sobre a ingrata J eru­
salém, Jesus lastimou essas mulheres desoladas :
«F ilhas de J erusalém, disse elle, não choreis sob r e
mim, m a s chorae sobre vós mesmas . e sobre vos ­
sos filhos ; porque virão dias e m que s e dirá : «Fe­
lizes as mulheres que não oonceberam, felizes os
peitos que n ão. amamentaram . Então se gritará
para as montanhas : C ahi sobre nós ! e á � cofü­
nas : Cobri-nos ! Porque, si assim é trataqo. o ma­
deiro verde, que se fará do madeiro secco ?» S i
assim é tratado o innocente, que será d o cul­
pado ? ( E s t . 3 8 ) .
- Assim fazeis vêr, ó m e u Jesus, que castigo
merecem nossos p eccados . Si Jesus teve t anto que
soffrer pelos peccad:)S que não eram seus, e que
quiz expiar, que castigo merecemos , nós, que os
commettemos ?
E ' preciso que façamos penitencia delles, em
união com a Paixão. de Jesus Christo, ·pois, só sua
inisericordia poderá aplacar a j ustiça de D eus, e
que façamos firme p roposito de :Ó.ão o offende r
mai s . Assim s eja.

--«D»--

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VIA D A CR UZ

9ª ESTAÇÃO

J esus cáe pela terceirà vez

( O nz e horas e 25 minutos a . m . de Sex ta-fe ira}

M uitos eram i0s caminho.s que oontornavam o


Cal v ario, mas os algoz es fizeram que Jesus seguisse
o mais c u r to, e, portanto, o mais es carp ad o Simão,.

o Cyreneu, auxiliava-10 .
O s ladrões s eg uiam n o , car regado s da parte
- '

s uper i or das suas cruzes ( «patibulum>í ) com a qual


,

os oon d emn ado s percorriam a cidade, antes ela exe ­


cução.
O s a u x il i ar es levavam tudo 'º q ue era prec i s o
para o supp lic io. O s chefes do povo, tendo ouvido
a p rophec ia de J es u s, deveriam ter tremicLOI de
medo ; mas, cegos e endurecidos como demon io s,
antes se irritaram com as ameaças prioferidas por
Ellc contra a cidade santa. O s algiozes, excitados
por elles, açoitavam-n'o com repetidos golpes, de
sorte que, tratado oo!ThO um animal de c arga, exte­
nuado de forças, cah iu, pela terceira vez, whre a s
p ed ra s do caminho, antes d e attingir ao cume da
collina, dando com seu rosto em terra e r eno-
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A PAI XÃO DE J ESUS CHRISTO 1 85

vando as feridas de seus joelhos e de suas sagra­


das mãos (Est. 39).

jesus cáe pela terceira vez


( Est. 39)

Eram onze horas e vínte e cinco minutos. E r ­


gueram-n 'o, quasi inanimado, e , á força d e o ar­
rastarem, de o puxarem de um para outro lado,
Elle chegou, emfim, a;0 Loga r do supplicio . Nesse
momento, a multidãn, correndo de todos os lados,
se agglomerava para saborear os ultimos soffrimen­
tos do çondemnado- e regosijar- se com sua mor t e .
A sexta hora d o d i a ia soar, o momento era 10
mais solemne entre todos : a grande tragedia, á
qual assistiam os Anjos, os homens e o s demonios,
a tragedia do H omem D eus, aproximava-se do
seu desenlace (Est. 40) .

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1 86 A P A IX ÃO DE JESUS CHRISTO

Jesus cáe pela terceira vez, e já não póde er­


guer-se,
- mas, arras tando� se, chega ao Calvario·.
- Sim, divino Jesus e Salvad0ir meu, chegas ­
tes ao th eat ro de vossa immolação ; n ão tereis mais
a Cruz em voss1os hombnos, e s im em vossos bra-

A chegada de jesus ao alto do Calvario


(Est. 40)

ços, c hei1os
de sangue. Apresentar-vos -eis perante a
justiça de vossio Pae, conw a hostia reparadora
dos ultrajes do m un do e do arrependimento dos
homens, oolllO o perdão vivo e eterno de nossas
in iquidades.
Que eu n ão cáia sinão para levantar-me ! Con­
cedei -me. Senhor, que, ainda que de rastos, possa
ch ega r ao Calvario d a vida ab r açado á vossa Cruz.
Assim seja.

----«D»--

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VIA DA CRUZ

1 oa ESTAÇÃO

Jesus é despojado de seus vestuarios

(Onze horas e 30 m inutos a. m. de Sexta-feira)

PROPHECIAS - Elles dividiram minhas ves­


tes entre si, e sobre minha tunica lançaram' sor­
te ( Ps . XXI , 1 9) .
E m e offereceram fel p ara m e u alimento1 e
na minha sêde me deram a beber vinagre (Ps.
LXV I I I, 22).

EVANGELHOS Chegaram ao Calvario ;


ahi lhe foi apresentado vinagre, m isturado com
myrrha e fel.

1 ) As cinco ultimas estações da Via da Cruz acham­


se enumeradas no recinto actual da Basii lica do Santo Se­
pulcro. Entremos nesse templo sagrado. Um a escada de
dezenove degráus conduz aio Calvario, cujo cimo é agora
um pavimento de cerca de 1 6 metros quadrados, divididos
em duas partes, ou c apellas, separadas por tres largos
pilares.
A Capella meridional chama-se Capella da Crucifica­
ção, e pertence aos latinos ; a parte septentrional, chamada
Cape/la da_ Plan tação da Cruz, depende dos Gregos não
unidos.
Na Capella meridional, a poucos passos da escada,
vê-se, no pavimento, uma grande rosa de m armore : é o
logar em que Jesus Christo foi despojado de seus ves­
tidos, oll a decima estação. O Salvador soffreu este novo
opprobrio para expiar os peccados contrarios á pureza.
Existe, em Jerusalém, u m a Capellinha obscura, denomi-
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1 88 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
Jesus tocou com os labios, mas não o qmz
b eber.
Depois de o terem crucificado, tomaram os
soldados PS seus vestidos, dividindo-os em quatro
partes, uma para cada soldadDI : Pi0rém, como a
tunica era inconsutil, de u m só tecid.JO, de alto a
baixo, disseram elles entre si : «N ão. a rasguemos,
mas deitemos sortes, para vêr a quem ha de tocar».
Então se realizára iQ que tinha dito a Es­
criptura : «Elles dividiram minhas vestes entre si
e lançaram sortes sobre a minha tunica».
·

Assim fizeram os soldados, e depois, assen­


tando-se, o guardaram.
( S . Math ., XXVI I, 34-36 ; S. João, X I X, 23 , 24) .

N essa hora oomeçou a sangrenta execução .


Quatro algiozes despojaram Jesus de seus vestua­
rios : 10 manto, a cintura, a veste e a tunica ; tira­
ram, antes, a corôa, e, por estar sua tunica col­
lada ao oorpio, pelas feridas da flagellação, arran­
caram-n' a com violencia, reabrindo todas as cha­
gas, apresentando-se o Salvador coberto de uma
purpura verdadeiramente real : a p urpura de seu
n ada Carcere do Senhor, que se acha no lagar em que
se acredita que Jesus foi detido, emquanto s·e faziam os
preparativos para a crucificação. Esta Cape l l a pertence
agora aos Gregos ; era antigamente uma cisterna abobad ada.
H a, em Jerusalém, a Capella da divisio das vestimentas .
J ogar onde os algozes dividiram entre si as vestes de Je­
sus. Essa Capella l iga-se, poir uma escada de 28 degráus,
á Cape l l a de Sa:nta Helena. Ahi estava em oração a S anta
I mperatriz, emqu anto S·e procurava a Cruz do Salvador.
Tem a fórma de um rectangulo de 25111,0 de comprido, so­
bre 1 3"',0 de l argo, e pertence hoje aos Gregos e Armenios.
Descendo mais u m a escada de 1 3 degráus, praticados no
roched o vivo, chega-se á gruta profunda, em que foram
e'llterrados, por tres seculos, os instru mentos da Paixão
de Jesll3 Christo. Esse logar tem o n ome de Capel la da
l nvenção da Santa Cruz, ·e pertence aos franciscanos. Era
a.ntigamente uma cisterna, com 7111 de comprido, e está
situada a 25m a oéste do I ogar da cru cificação.

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A PAI XÃO DE J ESUS CH R ISTO 1 89

sangue. Que dôr e confusãio para º' mais santo


d.os filhos dos homens ! Dôr, por se renovarem to­
das as feridas, a que se tinham collado as suas
vestes.. Confusão, pelo facto de o despirem pu­
blicamente. Jesus tudo soffreu em silencio e offe­
receu a seu eterno Pae, em expiação de tantos pec­
cados aontra as santas virtudes da modestia e da
castidade (Est. 41 ) .

Jesus é despojado de seus vestuarios


( Est. 41 )

Repartiram elles- essas v,e stes, mas, quanto á


tu nica, 2) sendo inconsutil, tiraram á svrte, para

2) A tradição d iz que a Tun ka de Jesus foi dada pel a


I mperatriz Irene a Carlos Ma1gno, e levada de Constanti..­
nopla para a França.

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1 90 A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO

vêr a quem· caberia. 3 ) Est. 42) . José de Arimathéa


fez immediatamente acquisição de tudo', sendo . por

Repartição das vestes


( Est. 42)

isso que os christãoos possuem esses preciosos des­


. poJOS .
O Imperador a depôz em Argenteuil, onde está. Tem
1 metro e 45 de alto e 1 metrn e 65 de l argo.
E' tecida, a começar do alto, em toda a extensão e
sem costura.
A Egrej a de Tréves possue tambem uma - Sa111 t a
Tunica, e não se sabe qual das duas foi tirada á sorte .
Na Tunica que está em Tréves, nota-se que de um
lado se acha poída, o que se attribue á Cruz, e nellia
distinguem-se, posto que confusamente, manchas de sangue.
3) Segundo a lei romana, as vestes do suppliciado
pertenciam aos lictores, ou aos soldados que os sttbstituiam.

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 1 91
U ma tradição grega e revelações dizem que
Jesus, durante OS preparatiVJOS para a execução: do
supplicio, foi levado a alg1ms passos, a Noroéste
da platafórma do Calvariio, até uma excavação
feita na rocha, semelhante a uma caverna, (Est tJ)
. ..

Jesus posto em uma cisterna


(Est. 43)

sendo esse facto referido por Anna de M,erick , em


suas visões.
Os archeiros atiraram-n'i0, b rutalmente, para
dentro d ella, cahindo elle sobre os joelhos, já em
chagas, p elas quedas .
. Os ladrões, sempre presos ás travessas de suas
cruzes (patibulos)' foram deitados por terra ; deste
modo a guarda dos condemnados era mais facil.
Terminados os preparativos, tiraram Jesus da
caverna para tornarem as medidas do corpo, de

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1 92 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
modo a ábrirein na cruz os buracos onde deviam
ser cravados os pés e as mãios, e depois o leva,­
ram á plataforma do - Golgotha. Durante os ulti�
mos passos que teve de dar para chegar ao logar

Dão a jesus vinho com myrrha


(Est. 44)

do supplicio, os archeiros continuaram a dar-lhe


pancadas e a dirigir-lhe ultrajes.
A populaça, vendo-o passar, insultava-o, em­
quanto os soldados romanos, frios e indifferentes, .
como de habito, se occupavam unicamente em man­
ter a ordem. Um soldado deu-lhe a beber vinho
com myrrha, . beberagem que, como dissemos, as
senhoras ricas costumavam preparar para os sup­
pliciados, de modo a atordoai-os e sentirem menos
a morte. Essa beberagem era denominada sopor.
O que neste calice se continha, havia sido pre:
parado pelas santas mulheres. Jesus provou a be-
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A PAIX ÃO DE JESUS CHR ISTO 1 93
bida, como que para manifestar sua gratidão, e,
depois de molhar os labios, afast'"lu-a. 4) (Est. 44) .
-- O ' Jesus, pelo merito das penas que sof­
frestes, ao vêr-v,os despojado de vossas vestes e
desnudado ante o publico, auxiliae-me, eu vos peço,
a despojar-me de toda affeição ás coisas do mundo.
Só a vós reconheço como unico thesouro. A vós
todas as minhas affeições A vós todo o meu co­
. .

ração. Destrui em mim todas as affeições fóra de


vós, para que não pense sinão em vós, e não sus­
pire sinão por vós.
Que eu morra a todas as minhas inclinações
e só deseje vosso amor ! E, não podendo dar-me
a vós como desejo, tomae-me vós mesmo e fazei
que vos ame com todas as minhas forças e por
toda a eternidade. Assim seja.

-- «D» --

4) A bebida que deram a Jesus era, como dissemos,


.

u1na mistura de vinho _com myrrha, ou incenso, ou outra


substancia amarga como fel . .

· Não parece que essa bebida fosse composta com fim


perverso, sendo antes uma poção gen .e rosa e na-r,c otica,
razão por que Jesus só molhou os labios, talvez em agra­
decimento aos que a tinham preparado, m as nãô a bebeu
para não ter lenitivo a seus soffrimen tos.

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VIA DA CR UZ

I Iª E STAÇÃO

Jesus é cravado n·a Cruz

( Meio dia de Sexta-fei ra)

PRO P H ECIAS - Traspassaram -me �s mãos


e os pés (Ps. XX I, 1 7) .
Que chagas são essas no meio d e tuas mãos ?
Elle res pondeu : Fui chag ado na c a s a daquelles
que me amavam (Zac ., XI I I , 6) .

EVA N GELHQS - Então elles o , c rucifica­


ram . . . Era a hora sexta.
Crucificaram com elle os dois ladrõ.:s, um á
sua direita, outro á sua esquerda e Jesus no meio.
A s sim se realizou a p alavra da Escriptura :
«Elle foi posto na ordem dos scelcrados>> .
O p ro p r io Pilatl(ls escrev era o t i t u lo , indicando
a causa d o suppl icio de J e s us e mandou collocal - o
n-0 alto d a cruz. Elle cont inha essas palav ras :
Jesus Nazareno, Rei dos judeus.
M uitos j udeus leram esta inscripçã.o, porque o
lagar em que foi crucificado Jesus, era perto da
cidade. Era redigida em tres l inguas : hebraico,
·

grego e latim.
Mas os Pontífices dos j u d e u s d i sseram a Pi­
laÚ>s :
N ão deveis escrever : Rei dos judeus -- mas
que : «Este homem pretende ser o Rei dos J udeus».
«Ü que escrevi, está escripto 1» replicou Pilatos .
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A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO 1 95
E J esus disse :
«Pae, perdoae-lhes, porque não sabem o que
fazem».
( S . Math. , XXV I I , 37 ; S. Marc., XV, 25 -28 ;
S . Luc . , XXI I I , 33-34 ; S . JofLo, X I X, 1 8" 2 2).
.

E r a chegado o momento dec i s i v o . Co111 es­


pan to geral, Jesus apr.o xim.ou-se da Cruz e nella
se estendeu . F ez-se então um profundo si lencio ;
com .os olhos fixos no paciente, cada ur n queria
ouvir seus gritos, saciar-se em suas dôres.
Jesus mesm o estendeu os b raços sobre a parte
tran sversal da C ruz. O primeiro Ad;1o perdera o
mund o, levando sua mão á arvore el o paraiso, e1n
um acto de clesobedi encia ; .a novo H om cp1 esten ­
dia as suas, em um acto de amor, sobre a a rvore
da redempção. Emquanto os algozes seguravam
seu corpo, um delles firmou sobre a m.ão um en or­
me prego. Foi dada a primeira m ar fol l ada ; o san­
gue jorr.ou em abundancia ; os nervos contrahi ram­
se ; Jesus, com os olhos cheios de lagrimas, deu
um suspiro ; a alguma distancia, ouviu-se u m dolo­
ros o · grito : era Maria, que ali estava com as San­
tas l\.f ulh eres, j unto do montículo, e que corria co­
m o para socc)rrer seu divino Filho (Est. 4 5 ).
D iz a tradição . que, transidas de clôr, ellas
força ram a passagem, a despeito das sentinell2i'S ;
Maria Virgem, Maria, m ulher de Cleophas e pa­
renta · d a Santa Virgem e mãE'._ de Thüigo; . o Me­
nor, e de José, Salomé e Maria Magdaleria,
Os discípulos v i am, de . lon ge, o que se pas- ·
.

s a v a . A pós o primeiro monforito, dé terror, 'sahi­


·
ram de seus refugios, no s tu mulo5 do vaÚe :: d a
·

Gehenna.
Subiram o · valle e, carninhanclo c oin p.1:eç au-'.
ção , junto aos muros, perto do p alacio de · ,Her:O·
eles. el l e s puderam vêr a m ultidão que cercava: -õ:

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1 96 A PAI XÃO DE JESUS CH RISTO
Golgotha. Aproximaram-se, passo a passo, e, de
uma elevação, a no roé s te da cidade al t a, puderam
assistir, de lon ge, ás peripecias do drama da Cruz. 1 )

J esus é cravado na Cruz


( Est. 45)

Depois que os verdugos c r av a ram a mão di­


reita do Salvador, conheceram que a esquerda
n ão ch eg a v a ao furo que t inham feito para ella ;

1 ) A cruz é o genero de morte mais demorado ie


mais cruel : morre-se de fome e de esgotamento. Jesus
só ficou na Cruz tres horas, por causa dos enormissimos
tormentos que tinha soffrido, mas houve criminosos que
nella permaneceram por tres dias. Reservado aos escravos,
nunca um homem livre, e menos ainda um cidadão ro­
mano, fôra condemnado a esse supplicio ignominioso.
As torturas a supportar eram ainda aggravadas pela
infamia. Morria-se aos poucos e sem esperança, no meio
das mais crueis angustias physicas e moraes. A dôr ma1is
viva do crucificado, que co'llsti.tuia, segundo a expressão de
TertuHano : «atrocidade propria do supplicio da cruz», era

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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 1 97
amarraram-lhe então uma corda ao- braço esquerdo
e o puxaram com todas as forças, até que _ a mão
chegasse ao Jog a r do buraco. Esta deslocação vio­
lenta elos braços causou-lhe dôres horriveis : er­
gueu-se-lhe o peito, os joelhos se contrah iram para
o corpo. Aj o e l h an d o - se sobre elle, amarrar·am-lhe o
b raço n a C ruz e pregaram o segundo c ra v o c1n sua
mão e s q u e r d a ; ouviram-se os lamentos do 'Salva­
dor, por entre o barulho das martelladas.
A s s im p r eg ado s os braços, os algozes ti veram
ele e m p r ega r todas as suas forças para estender
s ob re a Cruz o co rpo , h or r i vel me n t e d e slo ca d o , e
que t i n h a s ido attrahido para o alto da Cruz pela
v iolenta ten são de seus braços, e até os joel ho s
se lhe haviam enco l hido , corno se vê n a Estampa
4 5 - Os carrascos estenderam-n'os e amarraram-n·os
com cordas ; mas v i ram que os pés n ão ch egavam
a os buracos feitos.
Ama rraram cordas á p er n a direita e a esten­
deram violentamente, até que o pé ficou sobre o
b u raoo .
Tão violenta foi essa deslocação, que se ouviu
e st a l a r o peito de · Jesus. Cravaram o pé direito, e,
em seguida, o · esquerdo. Esta operação foi mais
dolorosa que tudo o mais, por causa da distensão
do corpo . 2)
a perfuração das m ãos e dos pés, que affectava os mem­
bros mais sensiveis e punha o condemnado na impossibili·
d ade de fazer o menor movimento, sem sentir as m ais
lancinantes e agudas dôres.
· Para impedir que o crucificado ficasse com as mãos
completamente rasgadas pe l o peso d o corpo, collocavam
na cruz uma especie de apoio, «sedil·e» (cavilha), ou, entã.o .•

um resalto, «supedaneo», no qual eram apoiados os pés,


para que pudesse se manter e não cahir por terra, o que
não dispensava qtie foss� o suppliciado amarrado.
I ndicamos o «supedaneo» çomo tendo feito parte da
Cruz· do Salvador, n ã o por ser historico_, mas por ser ge­
ralmente adoptado.
2) Divergem as opiniões quanto ao n umero dos pre­
gos : si tres ou quatro.
Pensamos que foram quatro. Em um poema, falsa­
mente attribuido a S. Oregorio Nazia0nze n o, a cruz é de-

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1 98 A PAIXAO DE JESUS CH RISTO
Os gcmido's que o extremo da dôr arran­
cára a Jesus, subiam a.o céu, de envolta com uma

Jesus é cravado na Cruz


( ESt. 46)

oração continua, cheia de passagens dos psalmoo


e dos p ropheté!-s, cujas predicções ellc estava c;um- ·

P!indo (Est. 46) .


nominad a - o madeiro a tres pregos - o que faz suppôr
que ·os dois pés tivessem sido collocados um sobre o outro
e atravessados . por um so prego, como se vê em nuRJe­
rosos crucifixos. Mas, segundo o sentimento mais com­
mummente admittido, cada pé foi fixado isoladamente com
·

um prego differente.
Sabe�se, . por autores antigos, que tl!-1 era o uso entre
·

os . Romanos.
S. Cypriano, que assistira, nil Africa, ao supplicio da
cruz, a-i nda em uso em seu tempo, fala dos pre �os que
atravessavam os pés de Nosso Senhor, o que suppoe dois :
«Clizvis pedes tenebram tibus>:. E uma passagem de Plautus
l he · dá razão.
Santa Helena, a inãe de Constantino, achou quatro

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 1 99

Prendera1m solidamente o tronco e os braços


com cordas, para que, com o abalo de firmar a
Cruz no chão, as mãos não se rasgassem por com­
pleto.
Um incidente bastante singular veiu, entre­
tan to, perturbar essa alegria criminosa. Elles vi­
ram, de repente, os soldados collocarem n9 ai to
da Cruz, um inscripção, 3) dictada pelo proprio
Pilatos, oom o· prop o sito de vingar-se das humi­
lhações por que os j udeus o tinham feito passar.
Essa inscripção : «Jesus Nazareno, rei dos Judeus»,
continha, em quatro palavras, uma tremenda inc
juria aos phariseus, e, para que todos a entendes­
sem, estava escripta em tres l inguas : hebraica,
comprehendida p elo povo, grega, familiar aos j u ­
deus da dispersão, e latina, lingua official .
pregos n a proximidade do Santo Sepulcro, segundo Theo­
phano. Santo Ambrosio, Rufino e Theodorato mencionam,
expressamente, os quatro pregos que foram empregados
p ara crucificar Nosso Senhor. S. Oregorio de Tours affio­
m�o d·e modo formal, o que prova que era a opinião
conente no sexto seculo. lnnocencio I I I, autoridade no
assumpto, não é menos explicito n este ponto.
E' facil, além disso, comprehen der a d iffic ul d ade de
fixar os pés de um condemnado com um só prego, por
falta de apoio sufficiente na carne molle do outro pé. Por
outro l ado, essa operação não po d eri a fazer-se sem que­
brar algum osso do corpo de Nosso Senhor, o que, si se
désse, iria de encontro ás prophecias. A posição dos pés,
um sobre o outro, ex.igiria o emprego de um p rego nmifo
c omp ri do
.

No Ocoidente, os m aiis antigos crucifixos conhecidos


representam Nosso Senhor com os pés pregados por dois
cravos. ·

Os eruditos, que se têm occupado dessa questão, pen­


saim que o uso de fazer cruc if ix os com os dois pés super�
po s tos e fi x aidos por um só prego foi introduzido n a
época da Renascenca das artes. Cimabué e Magaritone pa­
recem ter sido os prime iros que assim representaram o
Christo crucificaido.
Conserva-se, em Notre Dame de Paris, um prego da
Paixão, que tem 90 m i l lime tros de comprim ento ; não tem
c abeça ; a ponta, um pouco curva, está intacta.
Na Basilka de Santa Cruz de Jerusalém, em Roma,
vê-se outro prego, que tem 1 2 c e n tí m e tros de comprimento
e 8 mill imetros e meio de grossura, em sua m aior dimensão.
A Cathedral de Tréves conserva um prego de fórma

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.200 A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO

Achav a-se · assim a realeza do Senhor procla­


mada nos tres idiomas, falados então p ela hu­
manidade civilizada. Deus tinha permittido que um
pagão testemunhasse ao mundo q ue o rei dos ju­
deus era, ao mesrrw tempo, o rei de todas as gentes.
Os chefes do povo m andar am um m ens ag e i ro
fazer vêr a Pilatos .o ultr aj e que soffria a nação

semelhante, que se diz ter sido d ado por Santa -Helena ao


Bispo dessa cidade. A p<>nta que falta foi füada e· ceddda
á egrej a de Toue (Est. 47).

Vm dos pregos
( Est. 47)
A celebre corôa de ferro, que servia para a coroação
dos i m peradores, e que está e m M o n z<J, perto de Milão,
tira seu n o me d e u m prego d a Cruz, que foi reduzidq ai
l am i n a e l ig a d o á corôa principal, de ouro, ornada de pe ­
dras preciosas.
Essa reliquia foi multiplkada em n.umero de 28, fa­
zendo-se outros pregos, exactamente da fórma dos verda­
deiros, m as sen do fundida nelles alguma limalha tirad"a
dos mesmos. E' por isso que o prego de Rom a nã o tem
pon ta. .
3 ) Em geral, o suppliciado levava, preso ao pescoço,
um escripto, que fazia conhecer a causa · da sua condemna­
ção, ou era precedido pelo mesmo ; outras vezes, um Arauto
proclamava o nome do culpado, seu crime e castigo.
O escripto, que m encionava o n ome e qualidade do
Salvador, tinha sido preparado, antes que Elle tivesse s ahJdo
elo Pretoria, mas só foi visto qu ando pres<> á Cruz em
que Jesus ia ser crucificado. S. João foi o Evangel isfa
que: �de11 literalme11te as palavras desse Titu lo : <\jesus Na-

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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 201

e ped ir que substituisse os dizeres por este : «Jesus


Nazaren{), que se diz rei dos Judeus» ; mas Pila­
tos lhes respondeu brutalmente : «Ü que está es­
cripto, está escripto !»
zaren o, rei dos Judeus», escr-ipto e m tres linguas : hebraico,
grego e latim, como dissemos.
A Egrej a da Santa Cruz de Jerusalém, em Roma,
possue um fragmento do Titulo da Cruz.
E' uma pequen a tabo·a, cheia de buracos, feitos por
caruncho ou outro animal. A qualidade da madeira n ão se
pode determin ar.
Tem 220 millimetros de largo por 1 30 de alto. Vêem­
se distinctamente dois restos de i:nscripção, um em grego,
outro em l atim, e, no alto, a extrem idade de algumas l i­
nhas curva�J qu·e parecem ser a parte i nferior das letras
de uma inscripção hebraica. A inscripção do m eio diz :
Nazarenus e a de bailxo : Nazarenus Re.
As letras são pintadas em vermelho com fundo branco ;
têm uns 28 a 30 mill imetros e deviam ser bem visíveis á
altura cm q u e foram co l l ocadas. Particularidade notavel é
a de serem as palavras escriptas ás avessas, a modo orien­
tal, indo da direita para a esqu erda, de s o rte que as !e�
tras parecem viradas, como si f o s s e m vistas n u m espelho.
O titu l o d a Cruz, em sua i n tegri dade, devia ter, aprox1! ma­
damente, 1 5 centímetros por 20 ( Est. 48).

Ti tuto
( Est. 48)

O titulo foi encontrado por Santa Helena, quando achou


a Cruz.
A tradição nos indica que Nosso Senhor foi cruoi.ficado
com a corôa de espinhos. Assim pensam Tertu liano e Ori­
genes.

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202 A PAI XÃO DE J ESUS CH IUSTO
P rostre.mo- nos aos p é s dessa Cruz de Nosso
Salvador, e digamos do· fundo do coração : O' meu
amado J esus, é um espectact1lo horrivel a.o m eu
coração vêr-vos pregado nessa Cruz ; voss a s mão s
puras e innocentes, vossos p é s b emditos fixados
com duros p regos !
Ah ! meu Jesus, vós vos deixas tes pregar n a
C r u z por m e u am o r, para expiar meus peccados !
As dôres de vossas mãos offerecestes a vosso _ Pae,
por tantos pec�ados commettidos por 'Tiim pelo
tacto ; a dos vossos pés, pel o s máus p assos que
ten h o dado na vida. Ah ! sêde bem.dito f Abençoae­
me c om vossas mã.os atravessadas por meu amor ;
pregae a vossos pés meu coração ingrato, afim de
que me não afaste mais d e vosso coração sagrado.
Ave, Crux, spes unica !
O ' Maria, obtende a graça ele amar sempre
de todo o meu coração a Jesus, meu amor cru­
cificado, soffrendo com elle e por seu amor.
Assim seja.

- - «O;>--

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VIA DA CR UZ

1 2" ESTAÇÃO

Jesus morre n a Cruz

(Tres horas p. rh. de S e x ta -fei ra )

PRO P H ECIAS - N esse dia o s.ol se escure­


cerá em pleno meio-dia e as trevas invadirão o
mundo em meio da mais viva luz ( Amó s , VI I I, 9) .

EVAN GELHOS - Em torno estava urna gran­


de multidão, olhando para Jesus e .chasqueando
e os que passavam blasphemavam, sacud indo a
· cabeça, e diziam :
«0' tu que destróes o TempLo de Deus e o re­
edificas em tres dias, salva-te a ti mesmo ! Si és
o Filho de D eus, desce da cruz !»
Tambem os príncipes dos sacerdotes, os escri­
bas e os anciãos zombavam delle, dizendo :
«Salvou aos outros e não póde s al v a r - s e a s i
mesmo ! Si é· o rei de Israel, que desça a g.ora da
cruz, e nós acreditaremos nelle. Confiou em Deus ;
si, pois, D eus :o ama, que o livre agora, porqu e
e]Je disse : «Eu sou . o Filho de D eus».
Os proprios s0ldados não lhe pouparam seus
i n s u l to s : aproximav am-se da cruz e lhe offereciam
vinagre, dizendo :
«Salva-te, pois, si és o Rei de Israel !»
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204 A PAI XÃO DE JESUS CHRISTO

Até os ladrões, crucificados com elle, o co­


briam de sarc a smo.
Mas em pouco, emquanto um dos d o i s c o n ­
tinuava a blasphemar, dizendo : « S i t u és o C hris­
to, s al v a - t e e a nós tambem 1»
O outro o reprehendeu em voz al ta, dizendo :
«Não temes a Deus, tu que s<Jffres o mes­
� supplicio. ? Nós outros, sem duvida, s offremo s
com justiça, p0orque recebemos o ju sto cas tigo de
nossos crimes, mas este não {ez nenhum mal».
Depois, dirigindo-se a Jesus :
«Senhor, disse elle, lembra-te d e mim, quando
,
chegares no teu reino I»
Jesus lhe respondeu :
«Em verdade, te digo que . hoje estarás com-
·

migo no Paraiso».
De pé, j unto da cruz, e st avam a Mãe ele Je s u s ,.
Maria, parenta de sua Mãe, mulher de Cleophas,
e Ma ri a Magdalena.
Jesus olhou para sua M ãe, junto á qual es-
tava o discipul.o amado, e disse á sua Mãe :
«Mulher, eis ah i o teu filho»,
D ep o is, disse ao discípulo· :
<<Eis ahi a tua mãe».
E desde então o discípulo a considerou como
sua Mãe . .
Foi na s ex t a hora que Jesus foi crucificado, e
de sd e a sexta hora até á nona ( t res horas), as trei­
vas derramaram-se sobre o mundo inteiro. O sol
t inh a perdido toda sua luz, Pela nona hora cla­
mou Jesus, com grande brado :
«Eli ! Eli ! lamma sabacthani !»
O que significa :
«Meu Deus ! Meu Deus ! Por que me des­
amparaste ?»
Alguns dos que ali estavam, e tinham ouv ido,
d isseram :
«Elle chama por Elias»;

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 206

Vendo que os oraculos dos Prophetas se ti­


nham cumprido, Jesus realiwu o ultimo, dizendo :
i1T enho sêde !»
Havia ali um vaso cheio de vinagre. I mme­
dia tamente correu um dos soldados e tomou uma
esponja, embebeu-a em vinagre, e, collocando-a na
extremidade de um caniço, a levou até élJO S Jabios
de Jesus.
Os outros diziam :
«Deixa 1 Vejamos si Elias o vem livrar 1))
«Deixa, replicou o soldado, veremos então si
Elias virá descel-o da cruz)),
Jesus tomou o vinagre, e disse :
«Tudo está consummado !»
D epois, lançando de novo um grande grito,
disse ;
«Meu Pae, nas vossas mãos entrego o meu
espirito 1 »
Pronunciando estas palavras, inclinou a cabe�
ça e expirou,
Subitamente o véu do Templo se rasgou erri
duas partes, de alto a baixo, tremeu a terra e as
pedras se partiram. Abriram-se os tumulos, e mui­
to s corpos ·de santos, que estavam mortos, resusd­
taram, e, sahindo dos sepulcros; vieram á cidade
santa, e appareceram a um grande numero .
(S. Math. , XXV I I , 39-53 ; S . Marc., XV, 2 9-38 ;
S . Luc., XXI I I, 3 5 -46 ; S . João-, 25 -3 0 ) .

Pregado Jesus na Cruz, os algozes só tinham


que erguel-a.
Ern. preciso tomar as precauções que o caso -

exigia . O tempo urgia, tudo devia ser feito com


15romptidão, e sem accidente, porque, começando
o sabbado, ao pôr do sol, era n ecessario concluir
a crucificação antes dessa hora. Os madeiros ver-

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206 A PAIXÃO DE , J ESUS CHRISTO

ticaes, que serviam para o crucificamento d·os la­


drões, já tinham sido postos no lagar. Esses ulti­
mas, como já -o dissemos, não levavam com elles
essa parte da cruz, e sómente a travessa horiWil1-
tal (patíbulo) . A operação, com relação a elles, era
facil, p-0is bastava ligai-os com suas travessas aos
espeques.
Fincados -0s dois espeques, f o i collocada, n a s
extremidades dos mesmos, uma peça de madeira,

Elevação da Cruz
(Est. 49)

que auxiliava a puxar as cordas, amarradas nos


extremos horizontaes da C ruz de Jesus (Est. 49
e 50).
D esta sorte n ão era para temer o desequilibr.i o,
tanto mais que, além dos que puxavam as cordas,
outros seguravam a Cruz com páus, emquanto era
elevada, e ainda outros d irigi am , com alavancas,
C - pé da Cruz para o buraco, abert-0 na rocha.

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A PAIXÃO DE JESUS CH R I S TO 207

Uma vez a Cruz no logar, 1 ) era mistér se­


gurai-a, e para isso cravaram cunhas (em numero

Elevação da Cruz
( Est. 50)

de cinco, usualmente), com grande soffrimen t o da


victima. O sangue corria celeremente para as cxtre-
. 1 ) Na Cape li a sep_tentrional está o altar dos Gre­
gos não unidos, a quem pertence esta parte do Calva­
do. E)Tl baiixo do altar, uma abertura em fórma redonda
m arca o Jogar onde foi fincado o pé da Cruz do Salva­
dor. De cada lado desse altar e um pouco para traz, acham­
se o;; lagares das cruzes dos dois l adrões, que foram cru­
cificados com Jesus.

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2,6.8: A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
midades, s ah in d.o pelas feridas ab ertas ; os nervos
eram violentamente abalados, as ch ag a s da cabeça
reabriram-se pelo movimento dos espinhos dentro
da . pntpria carne;
Terminada a elevaçãü, t i rara m os apetrec hos :
a plataf6rma de madeira, as cordas, as e scadas, etc.

Crucificação de Jesus
( Est. 51 )

Foi .horrivd a oommoção em Jesus pela en­


trada da Cruz n a cavidade. O s musculos, os ner-

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 209
vos, todas as fibras do córpo se distenderam com
violen ci a , seus oss:J s se desconjuntaram, seus bra­
ços e pernas torceram-se sDb um peso que não
pód em su pportar ; as chagas alargam-se e rasgam­
·

se ; o p e i to ergue-se e dilata-se ; os labios entre­


abrem-se e afastam-se num rythmo convulsiv o e
seus olhos abrem-se desmedidamente, cheios de es­
pan to ; sua l ingua, r e sequ id a, oolla-se ao paladar.
A inflammação das chagas, sobretudo i1os pés
e mfros, a affluencia do sangue á cabeça, a o co­
ração, aos pulmões, a dilataçãio- das veias, o des­
arranjo d a circulação, uma febre intensa provo­
cam no corpo uma dôr intoleravel ; em sua alma
uma angustia inexprimível, que vae augmentando
sempr·e, durante as tres l on gas horas em que va,e
ficar ha C ruz.
Quando Elle appareceu, assim, entre o céu e
a terra, um clamor selvagem se elevou de todas
as partes : era o po vo que lançava maldições a o
c r u ci f i c ad o . Os dois ladrões, igualmente crucifica ­
dos, est :;i.vam á direita e á esquerda d o Salvador.
Jesus dava as costas para Jerusalém, que elle n ão
queria mais vêr ; tinha os braços es t endid os para
o Occidente, on de seu Dlhar, moribundo, fixava, a o
-

longe, _ nos espaços e ho tempo, os povos novos


que o. · e sperav am ( Es t 5 1 )
_
. .

Em meio. po ré m de todos esses atrocíssimos


,

soffrimentos, Jesus, falando pela primeira vez, des­


de que chegára ao Calvaria, disse :
«Meu Pae, perdoac-lhes, porque não sabei:n o
que fazem». 2)
·

I n su ltado pelos ladrões, . que diziam a Jesus : ·

«Si tu és Christo, salva a ti e a nós», um delles ( D i ­


mas ), arrepende-se e censura o outro (Gesmas),
mo�trando que elles - soffriam por seus crimes, mas
que Jesus não tinha falta alguma, e, voltando-se
pâra Jesus, lhe disse : <cSenhor, lembrae-vos de
2) São palavras que David denominou a replica da
doçura e da mansidão (Ps. CXL) .
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210 A PA I X ÃO DE JESUS CHRISTO

O sol escurece e a terra treme


( Est 52)
.

mim, quando entrardes em vosso reino». E ouvm


logo esta resposta_, de infinita misericordia : «Hoje
mesmo estarás commigo no Paraiso>> ; 3) o que

3) A palavra - paraiso - quando Nosso Senho.r


disse ao bom ladrão : «Hoje mesmo estarás com migo no.
pnraiso», refere-se ao Seio de A brahào, que é o oppooto
á Oehenna, o abysmo.
E' opinião de S. Bernardo que o Bom Ladrão foi
convertido por Nossa Senhora.

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A PAIXÃO DE JESUS C H RISTO 21 1
mostra até onde vae a misericordia divina, pro­
vocada pelo arrependimento. Em um instante, o
ladrão torna-se justo, ainda que ladrão até ao fim ,
segundo a bella phrase de Santo Agostinho, sa­
bendo r.o ubar até :) céu .
Emquanto os principes dos sacerdotes, os dou­
tores, os soldados e a populaça escarneciam da
-
realeza de Jesus, e se saciavam de suas dôr és, um
espec taculo novo veiu enchel-os de temor. Ao meio.
dia, quando o s o l resplandecia com todo o seu
brilho, o céu começou a tornar-se sombrio. Nuvens
cada vez mais espessas cobriam o disco do sol e,
pouco a pouco, as trevas se derramaram sobre o
�lgotha, s o bre a cidade de Jerusalém e sobre
toda a terra (Est. 5 2 ) .
O s h lasphemadores calaram-se, gelados d e me­
do ; um silencio de morte reinou sobre o Calvaria .
A multidão, aterrada, fugiu. Só ficaram n a mon ­
tanha os soldados romanos com" o Centurião e al-
guns grupos isolados, deplorando o crime com-
mettido pela nação (Est. 5 3 ) .
Até ahi as santas mulheres s e tinham con­
servado afastadas,. mas então se aproximaram da
Cruz.
Com a luz pallida do céu, percebia-se o cor­
po livido de Jesus e seu rnsto contrahido pelo sof­
fri mento . Seus olhos estavam voltad o s para o céu
e seus lab ios, entre-abertos, m urmuraavm uma pre­
ce. Com Maria, 4) Mãe de Jesus, estavam J oiã o,
o Apostolo bem amado, e as santas mulheres. J e ­
sus baixou o olhar divino para esses privilegiados
. de seu coração. Seus olhos encontraram os de s u a
Mãe, que o não deixava um instante ' (Est. 54).
Viu seu martyrio in terior, e que a espada,
prophetizada por Simeão, atravessava seu coração,
e assim como ella tinh a c ooperado no myster i o

4) Entre o altar d a Plantação da Cruz e o altar d a


Cl"Ucificação, existe u m altarzinho dedicado a Nossa Se­
n-hora das Dôres ou ao «Stabat Mater».

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21 2 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
da Incarnação, assim tambem qu i z que cooperasse
no acto da Redempção, e_, não contente de se
dar a st mesmo, levou sua bondade até nos dar
sua Mãe.

Jesus morre na Cruz


( Est. 53)
D irigindo-se a ella e a J oãio, disse !t V irgem
Maria : Mulher, 5 ) eis o teu Fi l hoii e a João : «D isei­
p ulo, eis a tua Mãe».
5) No Oriente, chamar á mãe de mulher era dar­
l he um titulo solemne e honroso. Assim, quando Noss.o
Senhor dá á sua Mãe esse titulo, longe de ser pouco
·

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A PAI XÃO DE JESUS CHRISTO 213
Desde esse dia, todos os qu e Jesus i llumina
com suá graça, comprehenclem que, para se r ver-

Maria ao pé da Cruz
( Est. 54)

dadeiramente ele Jesus c r ucific ado, é preciso n ascer


dessa Mãe espiritual,- medianeira de todas as g raças.

respeitoso, reveste certo caracter de solemnidade, que de­


nota algum mysterio occulto em suas palavras.
De facto, a tradição christã viu, nesta especie de dis­
posição testamentaria de Jesus, não só um acto de piedade

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21 4 A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO
Depois dess� dom supremo de seu amor, Je­
sus pa receu isolar-se da terra, em torno delle, fez­
se um silencio aterrnrizador, que durou µerto d e
tres horas. O s guardas, assustados, iam e v inham,
em meio das trevas, sem dizer palavra. I mm ov c l ,
diante da Cruz, o Centuriã.o parecia querer penetrar
até ao fundo da alma desse estranho su p pliciado. -
Jesus, com os olhos voltados para o céu, ·o rava
a seu Pae, offerecendo . pelos homens os seus ind izi­
veis soffrimentos, as ignomínias sem nome, o sangue
que corria de suas íeridas, e a mor t e que i a soffrcr.
Por um momento, vendo as condições em que
estava seu croaçfw, esmoreceu e disse : <'Meu D eus,
meu Deus, por que me desampara:stes ?» 6) «Eli,
Eli, l amma. sabacthani». Essas palavras exp r i mem
a extensão e a profundeza dos soffrimentos de J e­
sus na C ru z : ellas nos mostram que a d i v i ndade
retirou de sua h umanidade s-offrcclora seu so c c o r -

fi li al, mas um acto d� autoridade, pel o qual o Senhor su­


premo e futuro Juiz dos homens investia a Maria n o
glorioso e ncargo d e Mãe d o s homens e d e med.i adora de
misericordia entre os peccadores e e l k, assim como elle
é o mediador d a justiça entre os mesmos e Deus.
O facto de Jesus entregar s u a Mãe a S. João., seu
d iscipulo; é mais uma prova de que Jesus n ão tinha ii:­
mãos, pois, si os tivesse, a elles fi�aria n aturalmente en-
·

tregue.
6) São as primeiras palavras do Ps. XXI, donde in­
fere S. Jeronymo que o Senhor pronunciou este versiculo,
em voz bastante alta, para chamar a attenção dos circum­
stantes, continuando a recita,r o · psalmo todo inteiro até
ao fim.
«Meu Deus, meu Deus, por que me desamparastes ?
Não sou mais um homem, mas um verme que se calca
sob os pés ; tornei-me o opprobrio dos homens e objecto
de escarneo do povo. Todos os que me viam escarneae­
ram de mim : menearam a cabeça e vociferaram blasphe­
mias! Esperou '11 0 Senhor, l ivre-o ; salve-o, si é que o
ama; Meu sangue correu como agu a ; minhas forças �xte­
nuaram-se e minha lingua ligou-se ao paladar. Atravessa­
ram meus pés e m inhas mãos, contaram todos os meus_
ossos ; dividiram minh as yestes e l ançaram a sorte sobre
·

minh à tunica».
Si David tivesse sido testemunha dos s offrimentos d.o
Homem-Deus n a Cruz, n ão os ter i a descripto com m ais
exactidão.

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A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO 21 5
ro e consolação. Na realidade, a segunçla Pessôa
da Trindade nunca se separou da humanidade san­
ta, mas . na visão intuitiva a humanidade santa do
Salvador não sente mais desta unif\10 os c f fc i t os de
protecção e de c on solo.
E' o abandono interior.
Exteri-0rmen tc, tud.o lhe fal t a . Da terr<i , 1 1 ào
t e m sirião dôres. Até d e s e u corpo a pro tec �)\o d i ­
vina se retirou. Está estendido em um madeiro,
no leito cruel da Cruz. Do alto d a c;1bcça ás
plantas dos pés, é uma ch ag a v iva ; as espad u a s
e QS hombros estão abertos e m fer i d a s . E s t á sus­
penso na . cruz por chagas vivas, o s p regos atra­
vessam seus pés e suas mãos e queimam como fer­
ro em brasa ; inn.umeraveis espinhos, como outras
tantas pontas de fogo, atrav essam s u a t es l a e s u a
ca.b eça. Seu corpo não estâ em p o s i ç ão n at u ral ;
seus b raços e pernas foram v iolen tamente disten­
didos ; os membros paralyzam-se, po u c o ; 1 po uco ;
a vida pára no peito opprimido ; os p u lmões, en­
gorgitados de sangue, respiram com difficuldade ;
o coração pulsa com fraqueza e vae extinguindo-­
se ; é uma angustia mortal, s.offrime1 1 L o s supremos .
. O sangue, que não póde mais descer da cabeça
pela::. veias entumecidas, produz n a testa ê no pes­
coço dôres lancinantes ; a testa arde em febre, as
numerosas chagas, expostas a{> a r, i n fl am m am-se
e causam excessivo soffrimento. O Salvador não
é sinão dôres e soffrimentos ; falta-lhe tudo : a terra
e o céu.
Jesus pronilll ciou estas palavras em aramico,
para ser entendido do povo.
E alguns dos que ali estavam, ouvindo; diziam :
Elle chama por Elias. E ' uma interpretação, mali­
ciosa e irr�soria das palavras de Christo. Elias era
para elles o precursor do Messias, no seu primeiro
advento, e tido como protectoir dos afflictos ; por isso
zombam de Jesus, dizendo que está chamando por
Elias. Jesus sente a sêde horrível, que é um do.s

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21 6 A PAI XÃO DE JESUS C H RISTO
maiores soffrimentr0s dos crucificados . Suas entra­
nhas estavam resequ idas, sua l ingua collada ao pa­
ladar. Em seguida, sua voz se fez ouvir de novo :
«Tenho sêde», disse elle, dand.o um p rof u n do sus­
piro. Havia perto da Cruz um vaso chei.o de vi­
nagre, ou vinho azed:J , que os soldados bebiam,
misturando com agua, e que denominavam «posca >1 .
U m dos s.oldad.os, aproveitando a occasião para
zombar de Christo e insultal-i0, ou, talvez, por c om­
paixão, mergulhou nellc uma esponja, 7) e com
uma vara (hyssopo), 8) que ali estava: por acaso, fez
chegar a os labios de Jesus, que ti01nou algumas
gotas. Os outr.os soldados, e o propriü soldado, di­
ziam aos que o queriam impedir de dar de beber
a Jesus : Deixa, isto é, prolonguemos sua vida, para
vêr si realmente Elias o vem libertar. E ' a conti­
nuação da mesma zomb aria .
T in h a bebido, até ali, o calice das dôres, cum­
prindo t o d a s as vontades de seu Pae, realizado
as prophecias, expi �do os peccados do genero hu"
mano. «Tudo está C:)nsummado», disse elle.
O corpo de Jesus tornou- se ainda mais livido,
sua cabeça, coroada de espinhos, pendeu pesada­
mente sobre o peito, tinha os labios descorados, os
olho.:: embaciados. I a exhalar o ultimo suspiro,
quando subitamente ergueu a cabeça, deú um
grito, com tal energia, que todos os assistentes fi­
caram gelados de temor.
Não era mais o gemido lastimoso do homem
moribundo, mas o grito triumph ante de um Deus
que diz á t er r a : Eu mono p:xque quero . Seus la­
b io s abenç.oad:='s abriram-se então pela ultima vez :
«Meu Pae, disse elle, ponho minh 'almá em vn s s a�s
7) A esponj a, empregada para levar o vinagre aos
Iabios de Jesus, pc-nsa-s� que fizesse parte das de . que se .
serviam os algozes para limpar as manchas de sangue, que
adquiriam pelo contacto com o suppliciado. Existe parte
da esponja em Santa Maria de Franf.erére, em Roma .
8) Hyssopo é uma planta da familia d as labiadas que
têm hastes longas.

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A PA.IXÃO. DE Jl;SU� CHRISTO 21 7
rp.ãos», . palavras tiradas do Ps. XXX, 6, e que
mostram o caracter voluntario e livre da morte de
Jesus. Tendo dit-0 estas. . palavras, inclinou a cabe­
ça, deu u m profundo suspiro e expirou.
Phenomenos extraordinarios 1 o) acompanha­
ram a morte de Jesus. N-o templo, o véu rompou­
se de alto a baixo, symboJizando, de um modo
dramatico, a abertura dia céu e 0: accesso p ó ssivel
dos homens perto de D eus, pelo facto da morte
de Christo.
Depois, a terra tremeu e os rochedos se fen­
deram, n o Calvari.o, 1 I ) e noutros pontos da c i-
9) jesus, quando morreu, sua cábeça · pendeu para a
frente, sendo o natural cahir para o lado.
1 0) Tertuliano, para convencer a incredulidade pagã do
seu tempo, dizia aos romanos : «Tendes nos vossos a.rchi­
vos publicas a narração da catastrophe que assignalou a
Paixão de jesus». (Apl., cap. XX).
S. Cyrillo de Jerusalém, um secttlo mais tarde, exda�
m ava : «Si querem n egar que um Deus morreu aqui, olhem
para os rochedos · despedaçados do Cal vario». (Catech. XVI I ).
N a olympiada 1 95a, diz o escriptor pagão Phlegon :
«Houve o maior «eclipse» do sol · de que ha memoria. As
trevas foram taes que foram vistas estrellas ao meio dia ;
o horror desta intensa obscuridade foi redobrado poir causa
de um «tremor de terra» (Hieroin , ln. chro. Euzebú) que fez
desabar muitas casas em N icéa e na Bithynia. Foi u m
eclipse total, scientificamente -inexplicavel, visto ser o 1 5
de Nisan ( 7 de Abril), dia de p le nilunio, n o qual a lua
está em opposição ao sol. O phenomeno foi attestado tam­
bem pelo historiador Tallus, embora o achasse i n explica­
vel, em vista da pqsição da lua.
No reinado de Tiberio, diz Plinio, o antigo, 11111 <iter­
remoto», tal que não ha memoria doutro semelhante, des­
truiu doze cidades do Oriente. (Hist. nat. LXXXIV).
Tacito, nos seus annaes, e Suetonio, na sua historia
de Tiberio, referem-se á mesma catastrophe. Testemunha
desse eclipse, que vem de encontro a todas as leis astro­
nomicas, Apol lophonio, que observára este phenomeno n o
Egypto, onde se encontrava então, disse : «São revoluções
sobrenaturaes e divinas ! . . . » ( Dyonisio Ep. VI I ad Palio).
Conheçe�se a pal avra ce l ebre, que teria sido pronun­
c i ad a por Dyon isio, o Aerop agita, no m o me n t o e m q ue
. se · produziram esses a conteci m en to s : ((Ou o Deus da 11<1tu-
1:.e za soffre, ou a m ac h i n a do mundo se dissolveJJ.
1 1 ) A mais importqnte das fendas acha-se e n tr e a cru z
do 111áu l adrão e a de J esus. Para m e l h o r e xa m i n a i - a, 11e­
ne tr a- se na gruta, chamada de Adão, na q u a l uma c re n ç a

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218 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
dade, com grande ruido, enchendo a todos do
maior terror.
Deus acabára d e morrer !
Mysterio inoomprehensivel de misericordia e de
amor ! Sim, Deus morreu em sua humanidade.
J esus morre, sua alma cessa de animar e de
vivificar seu corpo ; mas seu corpo, como sua al­
ma, permanecem unidos á divindade, e o Filho
de Deus não permitte á morte estender, além desta
desunião passageira, sua acção sobre sua huma­
nidade santa. Si vivermos e morrermos em Jesus
Christo, o mesmo acontecerá ; no momento em que
o clemon io, p rincipe da morte, puzer sobre nós sua
mão tremenda, nossa alma, unida á alma . santa do
Salvador, escapará com elle e por elle ao poder do
inimigo, e, no dia da Resurreição final, nosso pró­
prio corpo, passageiramente vencido, degradado · e
corrompido, retomará uma nova vida, imperecível,
pela virtude divina do corpo de seu Redemptor.
Assim, a vida de Jesus é nossa vida, sua mor­
. te é nossa morte, seu triumpho e sua gloria eter-
popular collocou o craneo do primeiro homem, ao mesmo
iempo que o tumulo de Melchisedech, e, aiinda hoje, se
_ vê, na Basílica do Santo Sepul cro, uma abertura . no ro­
chedo do Oolgotha. «Esta fenda, diz Sauley, é vertical .
Forma uma linha· ondulada em direcção do oriente para
o occide n te. A que se póde vêr tem um con1primento de
1 111 ,60».
Addison, geologo notavel, convertido ao Christianismo.
disse : .

«fiz um demorado estudo das leis physicas, e certifi­


quei-me de que as aberturas deste rochedo não foram pro­
duzidas por u m terremoto natural e commum . Um abalo
deste genero teria separado as diversas camadas de que
a massa é composta, e quebrado a sua ligação pelos pon­
tos mais frac.o s. Aqui o caso é inteiramente diverso :. o
rochedo foi partido transversalmente, a ruptura cruza-se
com os veios de um modo estranho e sobrenatural.
Para mim, está demonstrado ser o effeito de um m i­
lagre, que não podia ser produzido nem pela arte nem
pel a nah1reza. Dou graças a Deus por me ter conduzido
até aqui, para contemplar este monumento do seu mara­
vilhoso poder, este testemunho lapidar da divindade de
Jesus Christo».
(Addison, «De la rel ig. chr. tomo l i ).

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A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO 21 9

na são nosso triumpho e nossa gloria. Aleg;ra-te,


pois, ó terra, e canta todos os lou.v ores a Deus,
teu Creador. Elle apagou tua vergonha e te re­
vestiu de felicidade e te corôou de miserioordia e
de compaixão. N ão és mais maldita, desde que
correu s.o bre t i o sangue da victima divina ; os es­
pinhos e cardos se mudaram em rosas e lirios,
desde que recebeu esse doce .orvalho . Não és mais
csteril, desde que em ti a Cruz produziu seu fruct,o
precioso, mil vezes mais sahoro�o que o fructo do
Eden . E vós, filhos dos homens, esquecei vossos
quarenta seculos de trevas e de terror. Não vos
lembreis mais de vossa dura escravidão na igno ­
rancia e tyrannia do inferno, porque a hora da
libertação soou. Sois uma raça escolhida e res­
p e i t a d a , um sacerdocio real, um povo santo.

Vendo-vos, porém, ó b em amado Salvador,


pendente da Cruz, com o corpo inanimado, pode­
mos exultar ? Sim, podemol-o, porque aprouve á
vossa immensa bondade fazer sahir nossa felic i­
dade de vossos soffrimentos.
N ão percamos vossos merecimentos · e possa­
mos ser do numero. dos que, por vossa morte na
Cruz, foram resgatados e conquistados poir vós, p-0r
toda a eternidade. - · - --

Neste pavowso instante, o sol, que desde meio


dia começára a escurecer, de todo desappareceu,
e as trevas cobriram toda a face da terra ; o véu
do templo, por si mesmo, rasgiou-se ao meio, d e
alto a bai:x:o, significando a terminação da syna­
as sepulturas abriram-se e resurgiram muitos san­
tos, que appareceram na cidade. Medonho terre­
moto abalou todo o chão, em torno, partiram-se
os rochedos, e to<;la -a natureza pareceu desconjun­
tar-se, nas convulsões de uma revolução tremenda.
Ao grito de angustia extrema, a Mãe de J e­
sus correu, acompanhada de S . João e das santas
mulheres, para junto da Cruz, misturando suas la-

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220 A PAIXÃO DE JESUS C H RISTO
gnmao com o s an gue de Jes us , e exclamou, no au­
ge da desolação : « 0 ' C ruz ! · Cruz b e mdi ta, ba­
n h a da do sangue ele meu Filho, c u te ad oro ! . . .
Mas que f i z e s t e de meu b em amado ? Ah ! cu aca ­
riciava-o com tan t a ternura, quando repousava so­
bre o meu peito ! . . . e tu não pó d e s sustel-o sinão
por meio de kmgos c ra yo s ! . . . Eu tinha-lhe tecido
a t u n i c él com t a n to amor ! . . . e tu, sem piedade,
despojaste-,o della ! , . . Eu alimentei-.o com o m eu
lei te . . . e tu dás-lhe fel a b eb e r . . . Esses . olhos
tão bellos e tão d o ce s, extinguiste-os ! . . . Essas fa­
ces, qu e eu cob ri de tantos b eijos, encheste-as de
feridas e de no doas ! . . . Essas mãos, que sustinham
o céu, pregaste-as tu em teus braços : é n o s meus
que J esus deve soffrer l . . . Entrega-me, po is , o meu
be m amado ! . . . D e ix a-10 ex pira r no meu seio ! Tu
occupasté o meu l oga r , céde-me agora o teu. Ah !
Si é possível, sê tu Maria, e e u . . . serei a Cruz 1 • »
• •

(São B �rna rdo e ;>ão Boaventura) .

--«D»--

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VIA DA CRUZ

1 3" ESTAÇÃO

Jesus é tirado da Cruz


( 4 h0t'ras p . m. de Sexta-feira)

PROPHECIA - Sobre mim, a quem terãio


cravado, lançarão seus olhos e chorar�· com la­
grimas e sus1)iros, como se chora um filho unioo.
Nesse tempo haverá em Jerusalém uma grande
desolaçã-0.
· Todos h ão de estar immersos em lagrimas, á
parte uma familia, e á parte outra familia (Zac.,
X I I , 1 0, I I , 1 2 ) .

· EV AN GELHOS - O Centurião, que estava


em frente á Cruz, ouvindo o grito forte de Jesus,
no moment_o em que expirava, e vendo tudo o que
acontecia, glorificou a Deus, dizendo :
«Este homem era verdadeiramente o Filho de
Deus !))
Toda a multidão que assistia a este es­
pectaculo e presenciava estes successos, se reti­
rava, batendo nos peitos .
Estavam de longe, observando estas coisas,
todos os seus conhecidos, como tambem as mulhe­
res que o tinham seguido, desde a Galiléa, mi­
nistrando-lhe o necessario. Entre ellas achavam­
se Maria Magdalena, Maria, mãe de Thiagül Me­
nor e de José, Salomé, mãe dos filhos de Zebe­
deu e muitas outras, que com elle tinham vindo
,de Jerusalém.
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222 A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO
Era na vespera do sabbado. Para que os cor­
pos n ào permanecessem na cruz no dia seguinte,
que era sabbado, porque o dia de sabbado era
de grande solemnidade, os j udeus rogaram a Pi­
latos que se lhes quebrassem as p ernas e fossem
retirados dali.
Vieram, pois, os soldados, e .quebraram as per­
nas ao primeiro ladrão e ao segundo, que com
elle fôra crucificado. Chegando a Jesus, como o
viram já morto, não lh� quebraram as pernas, mas
um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança,
e, immediatamente, sahiu sangue e agua .
Aquelle que viu, attestou estas coisas, e seu
testem unho é verdadeir.o. Elle sabe que diz a ver­
dade, para que tambem vós acrediteis.
Assim se realizou esta palavra da Escriptura :
«Nã:o quebrareis nenhum de seus o ssosl>, e esta
outra : «V,olverão os olhos para aquelle a qu·em
traspassaram»-.
Como j á fosse tarde, pois era a parasceve,
que vem a ser a vigilia do sabbado, veiu um no­
bre e rico senador, homem bom e justo, chamad<>
Jo sé, que não t inha tomado parte nas delibera­
ções e actos dos judeus. Apreseritou-.se coraj osa ' ­

·
mente a Pilatos e - pedíu-lhe o corpo de Jesu5�­
Admirou-se Pilatos de que elle tivesse morri do
-
tão depressa, e, chamando o Centurião, p t;rgtm­
tou-lhe si já tinha morrido. E, tendo-se informado
do Centurião, ordenou que se entregasse o corpo
a José.
Nicodemos, aq ti elle que, _ desde o p r in c ip io, ti�
nha visitado Jesus durante a noite, veiu tamb'em,
trazendo cerca de cem libras de uma mistura de
my rrha e oleos. Tomaram ambos o corpo dê Je­
sus e o ligaram com faixas de linho, com _ >'e1:fu;-
j .
mes, segundo costumam os Judeus sepul tar. · '

(S.- João, XIX, 3 1 -40 ; S . Math ., XXVI I , 54-59 ;


S . Marc ., XV, 39-46 ; S ._ Luc., XXI I I, 47� 53 }.

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A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO 223

Depois da morte de Jesus, o Centurião com


os soldad.os romanos preparavam -se para retirar­
se , p oi s os romanos deixavam que as _ aves de ra­
pina comessem os cadaveres dos suppliciados, mas

O Centurião confessa a d ivindade de jesus


(Est. 55)

o C enturião, summamente impressionado por t udo


o que tinha visto, não pod ia desviar os olhos do
divino crucificado, e, antes de partir, dirigindo-se
aos presentes, disse em alta voz : «Era um justo,
era verdadeiramente o Filho de Deus)) (Est. 5 5 ) .

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:'.!24 A PAlXAO DE JESUS CHR ISTO
D escendo a montanha, encontraram-se c om ou­
tro pelotãio de soldados romanos, que Pilato.s e.n:­
v iá ra , a pedido dos pri n c i p e s d{)s Sa cer do t e s , pa.r.a
acabar com a vida dos suppliciad:oo, p rat i c aq. do . q
crucifragium, i s to é, quebrando-lhes os ossos, de
modo que p u d es sem en terral -os logo , pois sua l e i
não p erm i ttia que ficassem na C ruz depoii s do pôr
do sol. Os soldadios c om eç a ra m pelos ladrões, a

Os l'Oldados quebram as pernas dos ladrões


( Est 56)

quem quebraram as pernas, para que acabassem


de morrer, dando, finalmente, pancadas no esto­
rnago e talvez os lanceando.
Aproximando-se de J es u s , viram, pela pallidez
do msto, c ah i men to da c ab e ça e r i g idez dos mem-

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 PAIXÃO DE . ·')ESUS. CHRÍSTO . . . - 225

bros, que elle tinha, deixado de -viver. Julgaram,


pois, inutil quebrar-lhe às pernas, cumprindo-se, as­
sim, a prophecia, que àizia : «Não quebreis delle
osso algum», prescripção relativa ao cordeiro pas­
chal, e qúe figurára propheticarnente a integridade
do corpo de Christo (Est� 56) .
Entretanto, para maior segurança, um dos sol­
dados, chamado Longino, 1 ) lhe atravessou o )ado
direito 2) . com uma lançada, 3) que attingiu , o co­
ração, sahindo da ferida agua e sangue : duas fon­
te3 d a vida que jorraram do divino coração : a
agua baptismal, que regenera as almas, e o san­
gue eucharistico, que as vivifica (Est . 5 7 ) .
D i z a tradição que essa agua e sangue, ca­
hindo em um dos olhos de Longino, lhe ::-estituira

1 ) E' controverso ter havido um ou dois Santos Lon­


gino (e não Longinho, como erradamente se diz). Diz a
tradição que o Longino que lanceou Nosso Senhor era
cego de um olho, e que, no acto de o lancear, o sa.n gue
l he cahiu na vista e a sarou.
Existe, em Roma, em um dos grandes nichos da Egrej a
de S. Pedro, uma estatua colossal de Longino, atraz d a
qual se v ê u m a l ança, que passa por s·er a verdadeirn, tendo
sido encontrada por San ta Helena, juntamente com os ou­
tros instrumentos da Paixão.
2) Quanto ao lad{) em que Jesus foi ferido, os Eva1n­
gelhos nada d izem. A •trad�ção é favoravel a ter sido do
l ado direito. Santo Agostinho e S. Leão assim pensam.
As representações m ais antigas da crucificação, como a pin­
tura do anno 586, qu·e está em Florença, mostram o Cen­
turião Longino traspassando, com u m a lança, o lado di­
reito de jesus. S. Frandsco de Assis tem a ch aga do lado
direito. Santa Gertrudes, em sua visão, ainda mais vem
confirmar esta opinião.
3) A lança com que o Cen turjão abriu o lado de
jesus, tinha sido enterrada com a Santa Crnz ; depois cte
ter sido possuida por varias Egrej as, foi enviada de Con­
stantinopla para Roma, como dadiva de um sultão, ao
Papa 1 n nocencio VI l i , em uma riquissima caixa ; falta-lhe,
porém, a ponta, que o I mperador Baldu ino li Nnha entre­
gue á Republica de Veneza, como penhor de uma grande
somma que tomára emprestada.
O Rei S. Luiz, satisfazendo aos venezianos esta divida.
resgatou a dita Reliquia e fel-a transportar para Paris.

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226 A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO
a vista, pelo que se converteu (Est. 5 8 ). O gol­
pe de lança, que evitou que os ossos de Jesus fos�
sem queb rados, fez delle o verdadeiro cordeiro
paschal, nutrição da n o v a I srael ; o sangue e a

Longino atravessa o lado de Jesus com a lança


(Est. 57)

agua, sahindo de seu lado, symbolizavam o b�­


p fism:i e suas abluções vivificantes e o mysterio
divino da Eucharistia.

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A PA IXÃO DE J ESUS CH RI.3TO 227

A Virgem Maria, assistindo á lançada do lado


de Jesus, levou, nesse ponto, mais longe. seu sof­
frimento, que o de Jesus, qu� já estava mc:rto, e
oom razão é denominada : Rainha dos martyres.
Para terminar seu offiá:::> , os soldados iam ti­
rar os suppliciados das cruzes e enterrai-os, com
os instrumentos do supplicio, segundo o costume
dos judeus, quando dois homens se apreseutaram
reclamando o corpo de Jesus. Um deUes, José de

Conversã.o de Lo.n gino


( Est. 58)

Arimathéa, pertencia á nobreza, e era membro do


grande Conselho, onde defendera Jesus, por es­
pírito de justiça. No intima:, era discípulo de J e­
sus, mas o recóo dos j udeus impedia-o de declarar­
se. As grandes emoções do Calvariio dissiparam­
lhe os temores, e concebeu o desejo de dar a Jesus
uma melhor sepultura. Assim se animou a ir a
Pilatos e pedir o corpo de Jesus. Pilatos, cujo pro-

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228 A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO

cedimento não fôra de accordo com a sua co n ­


sciencia, teve s at i sf aç ão em servir, apressando-se
em fazel-o, mesmo por ser uso em Roma não re­
cusar esta consolação aos am ig o s dos condemna­
dos, desde que a morte fosse verificada. Chamou
o C enturião, incumbido da guarda dos supplicia­
_flos, e . sob a affirmação de que Jesus tinha m o r­
t ido, .ordenou-lhe que en tregasse ü c o r p o a José.
J osé foi acompanhado de N icodemos, esse dou­
tor da Lei que, desde sua conversação com Jesus,
o t i n h a defendido sempre. José levava pannos, fai­
xas, sudario 4 ) (lenç.ol branrn, de linho), p ara en­
volver o C)rpo, e Nicodemos, a r om as e uma com­
posição de myrrha e de aloes, em quantidade de
cem libras, 5) para o embalsamar.
Ahi, ao pé d a C ruz, encontraram S . Jo ão e
as s a n t a s mulheres, que 'choravam. contemplando

4) Um santo sudario é \'enerado em TLtrim, no Pie­


m onte, o que envolvia o co0rpo e a cabeça, e outro em
Cadoun i n, na Dordogna, o que envolvia só a cabeça. O
s anto Sudario de Tu r·i m é u m a peça de panno de 4 m e­
tros de comprimento, de linho, u m pouco am arell aélo pelo
tempo. Grandes m anchas, das qu aoes algum as indicam cer­
tc;mente o togar da cabeça, só pódem ser attribuidas , ao
·sangu·e divino.
O tempo fez no tecido pequenos buracos, dos qu;i.es
alguns foram reparados. O compri mento do Santo Suda­
rio de Cadounin é de 2 metros e 81 , sua l argura de 1
metro e 1 3. A côr é branca, mas amarc l l a d a pelo tem p o .
O SudariCJ de Ttwi m, ten do s i d o photograp hado, a p re­
sentou as l i nh as do corpo de Jesus, e os exames chimi­
cos, ultim amente feitos, revel aram o sangue de que foi
m anchad o.
5 ) Não p areçam mu ito cem libras ou 25 kilos, com
que Jesus foi embalsamado, pois n os sumptuosos funeraes
<le Herodes, o Grande, o numero de servos que conduziam
os perfumes, era de quin hentos.
O embalsamento dos judeus d ifferia do dos Egypcios. ·

Esses u ltimas submettiam o cadaver a l ongas preparações,


tirando-lhe as entranhas e os m io l os, mantendo-o, durante
setenta dias, em u m banho de «natron)). Os judeus n ã o
faziam nenhuma incisão no corpo ; lim itavam-se a l avai-o
e mergu l h al-o em oleos preciosos, envolvel-o em faixas
embebidas em perfu mes, o que n ão impedia a decomposi.
ção, poi s a vemos começar em Lazaro, dias depois de sua
m orte.

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A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO 229
o c-0rpo livido e inanimado de Jesus. Fizeram os
p reparativos e ooUocaram a escada na Cruz. José
subiu primeiro, como mais moço e N icodemos
depois. Maria, JoãJo e as santas mulheres ficaram
logo abaixo delles. José tomou a corôa de espi­
nhos, levantou-a da cabeça de J csus com a maior
precaução, desembaraçou-a dos cabellos que .a en­
trelaçavam e passou-a a N ic.odemos. Este a en­
tregou a Jo.ã,o, de quem Maria a recebeu, ele joe­
lhos, com devoção sem igual .
Cada espinho, tint.o de sangue, parecia dotado
de vida, e, penetrando no coração ela Mãe, tor­
nava-a cada vez mais participante da Redempção.
José despregáva .os cravos, de modo que não mu­
tilassem as inãos e os pés sagrados, e iri.· -os oas­
sando a Maria, que os beijava, manchados do pre­
cioso sa ngue.
J esus ainda estava amarrado com cordas. J o ­
s é e N icodemos passaram um lençol por baixo d e
seus braços e o apoiaram na parte transversal da
C ru z, e foram arreando aos poucos (Est. 59).
J oão estendeu as mãos e sustentou a adora­
vel cabeça ; Magdalena tomou os pés ; Maria, re­
ceb endo o pre'cioso fardo, sentou-se nas pedras,
com Jesus em seu oollo. Com a mais delicada e
m inuc iosa ternura, alisava-lhe os longos cabellos,
b eijava cada chaga, cada marca da flagellação,
cada ferida dos espinhos. José e Nicodemos t o ­
maram o corpo de Jesus do collo d e Maria, de­
puzeram -n ' o respeit.osamente no rochedo, depois de
terem estendido um p anno ou cobertura ; lavaram­
n ·o, cuidadosamente, com agua e essencias perfu­
madas, porque, dos pés á c ab eça, estava coberto
de chagas abertas, _ de poeira, suor e sangue. O
sa n gue tinha enchido seus .olhos, ouvidos, nariz e
bocca, e ainda escorria das feridas ; frio e coagu­
lado, cobria-lhe a barba, e estava empastado na
fron te, nas temporas e em toda a cabeça (Est.
60 , 6 1 e 62) .

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230- A PAI X AO DE J ESUS C H R I STO

Depois de ter ·sido as s i m lavado e purificado


o sant·O corpo, enrolaram-n'o por diversas vezes,
p rimeiro, em v o l t a do tronco, depois, dos braços

Descida de Jesus da Cruz


( Est. 5 9)

e das p e rn a s com lo n gas faixas de um tecido


,

muito fino e resi sten te, embebidas em perfumes.


Cobriram-lhe a cabeça com um sudari.o de
panno fino, p reso por uma ligadura, atada em
tonio do pescoço. D epois, o corpo inteiro foi en ·

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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 231
volvido em um lençol branco, comprado por Jo­
sé, 6) e embebido em substancias balsamicas .
Oh ! então M aria já não pôde conter as lagri­
mas, e com ella as santas mulheres . João, o discí­
pulo amado, tambem soluçava, e, com a cabeça

jesus transportado em um lençol


( Es t . 60)

6) Os Príncipes dos Sacerdotes, conservando o adio


contra jesus, sabedores do que José tinha praticado, pren­
deram-n'o, e só depois da resurreição foi solto por um
amigo.

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232 A PAIXÃO DE J ESUS CHR ISTO

inclinada, as rriãos juntas sobre o corpo d o seu


adoravel Mesfre, dizia :
O ' meu Senhor, meu Deus, por que nos dei­
xastes ? ! . . . M inha luz, minha alegria, minha vida,
que serei sem Vós ? ! . . . Por que não fui crucifi­
cado tambem ? ! . . .

j esus sobre a p edra da U n cção


( Est. 61 )

Maria, pela grande dôr de João, esquecendo­


se de si mesma, pousa sua mão ensanguentada
nas mãos erguidas do discipulo, e diz : Meu . Fi­
lho . E João, levantando os olhos, balbucia : «0 '
. .

sim ! minha M ãe ! . . . Vós sereis minha M ãe i ·. . . »


E as lagrimas corriam sempre, mas eram ago­
ra suaves e consoladoras. O pensar que aos co­
rações orphãos restava uma tal Mãe, transfigurava
a desol ação e começava a fazer luzir a esperança .

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A PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 233

Entre todas as provações, em que é tão fe­


cundo 'º mundo, 'nenhuma mais dolorosa que a
separação, pela morte, de parentes e amigos, aos
quaes nossos corações estejam ligados por todas
as suas fibras.
De todas as chagas, assim abertas pela mor­
te, a mais cruel para o coração de uma mãe é a
morte de um filho unico. Para taes dôres só ·o céu
tem cons.o lações. Por isso, a devoção ás DÔres da
SS. Virgem, a Nossa Senh ora das Dôres, a Nossa

J esus amortalhado
( Est. 6 2 )

Senhora da Piedade, foi sempre uma das mais po­


pulares na Egreja. -
Os grandes artistas christãos pediram inspira­
ção á sua piedade e ao seu genio, para gravar no
marmore ou fixar na tela esse modelo da maior
dôr na mais perfeita resignação. Ha poucas egre-

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234 A PAIXÃO. DE J ESUS CH R ISTO
Jas de cidades ou al d ei as , que n�Lo t e n ha m uma
estatua üu um q uadro , representando a Mãe das
dôres, com o corpo ensangu entado do F ilho so-·
bre os j oelh::::i s, e só D eus sabe
quantas p obres
mães têm enc::::in trado coragem e conso�ação, in ­
vocando a m a i s santa e afflicta elas mães, e ou­
v i n d o - a dizer-lhes, no fu n d o do coração : «Consi­
derate et videte si est dolor s icut dolor meus» ;
«olhae e vêde si ha dôr i gu al á m i n h a dôr». A
Egreja con s a gr o u pela l i t urgi a esta tradição e
e s t a devoção . G uardae de memor:a '.1S estroph e s
do h y m no das primeiras V esperas da f e sta d e
Nossa Senhora das Dôres, como uma r e co rda ç ão
da do lo ro sa Paixão do Salvador e dos . soffrimen­
tos, não menos dolorosos, de sua Santissima M�e :
«Oh ! em qüc o n d a s de lagriinas, em que aby?­
mos d e dô� mergulh::m, no dia de seu luto, a
Virgem M ã e , quand :::i viu seu F i l h o t i ra d o da
C r uz e posto em seus b raços !
«A face adorada, q terno peito, o lado bem­
dito, as mios e pés traspassados, vermelhos de
sangue, como ella os banha de l ag ri mas !

«Cem vezes, mil vezes, abraça-o, ap e : t a- o con­


tra seu peito ; ool l a os · labios em sm.s fe ri d as , e
ioda a alma se lhe esváe em seus ambrosos bei j o s .
« Ü ' M ãe, nós vos · supplicamos, pelas vossas la- .
grimas, pela triste morte de vosso filho, pelo san­
gue de suas chagas, dlgnae-vos ele impr !mir em
n..::; ssos c o r a çõ e s essa dôr d e vosso coraçio . »

Que doloroso espectaculo o de M aria, rece­


b en d o em s e u c o llo o corpo inanimado. de seu
Fil h o 1
Ah ! meu Filho, exclama ella, a que estado fi­
castes reduzido por amor dos homens 1 E que. mal
fizestes a elles, para que vos maltratassem deste
modo ? 1
Ereis minhas delicias, minha gloria . E agora,
ó meu Filho, como é grande a minha afflicção !

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A PA I X ÃO DE J ESUS CHRISTO 235
Ah ! olhae para mim e oonsolae-me: Mas n ão
me vêdes mais, não me respondeis, porque estaes
mort:> 1
O ' Maria ! terna e compassiva Mãe ! reoor- ·

dae tambem a todas as almas que tiveram a des­


ventura de perder a Jesus, que ao menos ainda vos
. procurem como Mãe 1 Com a rpão virginal e tinta
do sangue divino, abençoa.e estas pobres . almas
desoladas, que ch·J.ram e soffrem sem esperança,
no árido e tenebroso Calvario do peccado, e, imme­
diatamente, a lembrança do voss{) nome, tão doce
e cheio de misericordia, raiará diante dellas, como
estrella mensageira do grande dia da prnxima re­
surreição. Assim seja.

-- «D »--

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VIA DA CR UZ

1 4ª ESTAÇÃO

Jesus sepultado

(Cinco horas p. m. de Sexta-feira)

PROP H E C I AS O Senhor lhe dará os 1m­


-'--·

pios pela · sepultura, e o rico pela sua morte _;


porque elle nunca oommetteu a iniquidade e nunca
a men tira manchou os seus labios (Is., L I I I, 9).
Consideram-n'c como quem desce a um fosso,
com ::;. quem, tendo succumbido ás suas feridas,
dorme n:J sepulcro ; como um daquelles de quem
nunca vos lembraes e que expulsastes d·'.J· v.osso
·

lado.
Collocaram-me num profundo retiro no seio das
trevas e á . sombra da morte (Ps. LXXXV I L 6, 7 ) .

EVANGELHOS - - Perto d:::; Jogar e m que


Jesus tinha sido crucificad1::>, havia um jardim, e
neste j�rdim um sepulcro novo, pertencente a José,
cavado na rocha, onde ninguem fôra ainda sepul­
tado. Ahi, porque o sepulcro estava perto, e tam­
bem por causa da preparação dos judeus, sepul- .
taram a Jesus. · .
Emfim, taparam a entrada do sepulcro com
u m a grande 1edra qt.ic Dara ali revc>lverarn, e afas­
ta,.arn -se, quando iá as estrellas começavam a brilhar.
A ssen tadas rm frente do sepulcro, .Maria Ma­
gdalena, Maria. :n'l_e de José, assim como as mu-
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A PAI XÃO DE J ESUS C H RISTO 237

lh eres qúe tinham vindo da Galiléa com Jesus, ob­


servavam o tumuuo, e como o corpo fôra posto.
Ret iraram-se, em seguida, na intenção de pre­
parar aromas e perfumes ; mas, fiéis á Lei, fica­
ram em repouso durante todo o dia de sabbado.
No dia seguinte, dia de Sabbado1, os Principes
dos Sacerdotes e os Phariseus, havendo-se regnido,
foram ter com Pilatos.
«Senhor, dis'seram elles, lembramo-nos de que,
em vida, disse aquelle embusteiro : «Depois de tres
dias, resuscitarei». M anda, pois, que se guarde o
sepulcro a té ao terceiro dia, para que não acon­
teça que os seus discipulos venham furtal-o e, de­
pois, digam ao povo que elle resliscitou dos mor­
tos. Este novo erro será peior que o primeiro».
Respondeu-lhes Pilatüs :
«Vós ahi tendes guardas ; ide, e guardae-o
como entendeis».
E elles, retirando-se, guarneceram o sepulcro
com os guardas, sellando a p edra.
(S . Math., XXVI I , 60-66 ; S. Marc., XV, 47 ;
S. Luc., XX I I I, 53-5 6 ; S . João, XIX, 4 1 , 42):

Os homens terminaram sua piedosa m1ssao ; o


corp.o foi, como vimos, lavado, embalsamado, en­
volvidc em · faixas, a princip�o, e depois, num su­
dario, a modo dos judeus . Um ultimo sudario o.c ­
cultou a face querida de Jesus. Maria beijou-o an­
tes e rompeu em prantos, no que foi acompanhada
pelos discipulos e 'pelas mulheres, que misturavam
seus lamentos aios cantos funebres e á recitação
dos psalmos .
O Salvador foi -envolvido no taled religiüs.o e
symbolico . Tochas resinosas foram accesas para
penetrar n:) tumulo de José de Arimathéa, que
era prox1mo. O cortejo estava prompto a pôr-se
em marcha.
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238 A PAIXÃO DE J ES U S C H RISTO
Esta ceremonia tem tambem um sentido svm­ .
b ol i oo «Nós tambem, diz Euth rym in-o, quando t o ­
.

mamos no altar o oo rp o cL.'.), Senhor, devem JS un­


gil-o de perfumes suaves, isto é, das obras de v i r­
t u d e s e de trabalhos, unidos á c :mtemp l a çào>'"

Jesus levado para a sepultura


( Est. 63 )

O sepulcro novo, dado por Jo.s-� de Arima­


théa, achava-se muito perto, á distancia ele um
tiro de pedra, em relação ao togar onde se ef­
fectuou o embalsamamento de Jesus, sobre a pe­
dra da «uncção)) ; mas, por detrás desta pedra, o
terreno eleva-se abruptamente. Por outro lado, o

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A. PAIXÃO DE J ESUS CHRISTO 239
muro que fechava o j ardim, impedia que se pudesse
u em linha recta ao tumulo.
O cortejo fói obrigado a fazer uma volta, não
só por isso, mas tambem para evitar os logares
muito ingremes, que occasionariam abalos pouco
respeitosos ao Corpo Sagrado. O sol escondia-se,
eram 5 horas ; era preciso que se apressassem ; em
poüco o sabbado ia começar, e a ceremonia, deve­
ria enEio estar c::mcluida. E' o que explica terem
as santas mulheres voltado no doming.), para un- ·

gir melhor o C::ir po de Jesus.


O corpo d::> Mestre foi levado em unia espe­
cie de padiola, que a Virgem Maria, S. João, Jo­
sé de Arimathéa e o Centurião carregaram sobre
os hombros. Depois, seguiram as Santas JVIulhe­
res (Est. 63) . D eixando a pedra da l'ncçi::>, o cor­
tejo dirigiu-se para a cidade, contornou as minas
onde se achavam as cruzes e chegou ao jardim,
e, tendo feito quasi inteiramente a v :;i lta do Gol­
gotha, transpô? a e:i.trada d:) Sepulcro, no qual
penetrou, descendo alguns degráus (Est. 66).
O tumulo, cavado no rochedo, era precedid·ot
de uma camara, do mesmo modo talhada.
Foi em uma excavação, em fórma de , calha,
que depositaram o Corpo de Jesus. A abertura,
pela qual se penetrava na sepultura, era bastante
baixa. não se podendo . passar por ella sem se cur­
var. e, era d iante dessa abertur:i, na camar.a ou
vestibulo de que ac·abarnos de falar, q ue se achava
a grande pedra, destinada a fechar a entrada .
Essa pedra, grande e pesada , era o que preo,c ­
cupava as santas Mulheres, quando tivessem de ir
ao Sepulcro, ná manhã de domingo.
O precioso Corpo foi deposto no1 tumulo, co­
berto com plantas e preparações arnmaticas. Fei­
tos os ultimos adeuses, em silencio, todos passa­
ram, recuando, diante d ·.J C::> rp0, deposto �,_o «cubi­
culum», ou p equena camara, de que falámos. A
grande pedra foi collocada á entrada, e o Sepul-

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240 . A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO
cro fechado (Est. 64 e 65). Cada um se retirou
para sua casa, afim de começar a celebração da
festa da Paschoa, comendo o cordeiro paschal.

jesus sepultado
( Est. 66)

Era a ultima vez. A v1ct1ma que acabavam


de sepultar, era de um preço infinito ; a sua im­
molação não deixavà Jogar para nenhum outro. sa­
crificio. As suas almas estavam tristes, de uma tris­
teza profunda, alliviada, todavia, por presentimen­
tos que elles não podiam definir, mas que seme:
lhavam a raios de esperança.

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A PA I X ÃO DE J ESUS CHRISTO 241

A pedra vista de f óra


( Est. 64)

A pedra vista de dentro


( Est. 65 )

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242 A PAI X ÃO DE . J ESUS CHR ISTO

Maria, mulh�r de Cleophas; e M aria·. Magda>


lena ficaram sentadas em fren'te ao tumulo, sem .

poder despregar os olhos desse · logar . ado.rado.


As santás mulheres pensavam em voltar · do- -

mingo, para ultimar o embalsamamento do corpo.


de Jesus, que fôra feito ás pressas só por S. João
e José de Arimathéa. Para esse fim, antes que o
sol desapparecesse no horizonte, ·desceram a . fazer
larga provisão de p erfumes escolhidos e aromas
prec10sos.
D epois, quando do alto da montanha do tem­
plo, as trombetas de prata annunciaram a abertura
das solemnidades da Paschoa, seg uiram para o
-

Cenaculo, onde estava a Virgem Maria.


Ahi encontraram os Apostolos e os d iscipulos
que, tendo fugido, se reuniram de novo . . Talvez · S.
Pedr9 viesse confessar SlÚt falta, derramando la­
gnmas amargas.
Ahi se conservaram em repous'J , em atten­
ção á lei, du rant e todo o sabbaclo, com as alma s
cheias de tristeza, os olhos _rasos .de 1.a g rima s e os
corações opprimidos : o Salvador soffreu e m )rreu, e
ag or a jaz seu corpo em um tumulo, fóra da cidàde:
Eis a imagem do que nossa viela dcvúia ser : uma
continua lembrança d o s soffrimentos e da morte
do Salv a d o r , dep o i s · mesmo ele t an tos secuhs pas­
sados.
Quem os consola e an ima ? A Vi rgem Maria.
Apesar da desolação de seu proprio coração, ap e­
sar de sua dôr, ella é para todos a paz, a co ragem,
a consolação ; ella é já a Mãe da Egrej·a , sua vida,
sua doçura, sua esperança. Pela funcção que repre­
sentou a Virgem Maria, nesse dia, a Egrejà con­
sagra o sabbado de cada semana em . sua honra.
Nesse interim, os phariseus lembraram-se de
ter ouvido dizer que Jesus annunciára a sua re­
surreição para o terceiro dia depois de sua morte,
e, apesar de não ligarem a menor importancia,
receiaram que os discipulos retirassem o corpo,

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A PA I X ÃO DE J ESUS C H RISTO 243

para fazer crêr na sua resurreição, pelo que se di­


rigiram a Pilatos, para que fizesse guardar o tu­
mulo. Pilatos lhes respondeu : «Tomae guardas.
Ide, e vigiae o tumulo, como quizerdes». ·

A sepultura de Jesus guardada por soldados


( Est. 67)

Apenas sahidos do Pretorio, os delegados do


Sanhedrim dirigiram-se ao sepulcro, sellaram a
pedra com o sello official do Grande Conselho, e
nelle collocaram soldados, tirados da guarda do
Templo e dos Pontifices (Est. 67).
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244 A PAI X ÃO DE J ESUS C H RISTO

Ajoelho-me junto ao vosso sepulcro, ó Jesus


morto por mim, fazei que eu morra tambem a tudo
o que não se referir a vós . Si D '.) passado vos
offendi, peço-vos perdão, e espero não mais vos
offender. Não perrnittaes que m inha alma se perca
pelo peccado. Si perdi vossa graça, não perdestes
o poder de fn 'a restituir.
- O' Jesus ! Quero encerrar-me comvosco no
tumulo. Refugio-me em vossas divinas chagas ; nel­
las quero ficar para sempre ! . . . D esde hoje a vossa
morte será a minha vida, e a minha vida será a
expiação do . peccado, que foi a causa da vossa
morte. Assim seja.
No momento em que a alma de Jesus se se­
parou de seu corpo, elle foi ao Limbo (1 Petr., I I I,
1 9), ou S e i o de Abrahão, habitação dos just.o.s an­
tes da Redempção. Ahi, desde Adão e Eva, até
o Bom ladrão, todos o adoram em transportes de
alegria, o honram por ter posto fim á sua es­
pera ; adoram a alma de J ésus ; agradecem �er· elle
resgatado o mundo.
Como é bom esse Salvador, que vae a essas
santas almas"' para se manifesl#r a elLas, libertai-as,
consolal-as . por stia presença, e chamal-as ás ale­
grias da v'i são beatifica ! Ama-as, po.rque são mem­
bros de seu UJrpo mystico , e v ivem de sua vida
redemptora .
E ' provavel que Jesus permanecesse no: Lim­
b o até ao momento de sua ºresurreição.
Pela manhã, chegaram as santas mulheres ao
Sepukro, para o completo embalsamamento de J e­
sus, não as tendo acompanhado a Virgem Mãe,
porque bem sabia da resurreiç�Lo de seu Filho,
o que, entretanto, guardava em seu coração. En­
contraram-n'o vasio, tendo os soldados fugido, e,
attonitas, ouviram de um Anjo, resplandecente de
l uz, á entrada do tumulo, estas palavras de vida
e de esperança (Est. 68) :

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A PA I X ÃO DE JESUS C H R ISTO 245

A resurreição de j esus
(Est . 68)

«RESURREXIT, NON EST H I C:>


R E S U S C I T O U , NÃO E S T A ' AQ U I

Assim, n o Santo Sepulcro, a vida estava oc­


culta na morte, es!'ia apparente victoria de Satan
e do peccado foi quasi immediatamente seguida
da triumphante Resurreição de Jesus Christo.
Em lembrança dessa expiação tremenda que
Deus se dignou de tomar s3bre s1, batamos em
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246 A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO

nossos peitós, como o Centurião, n.o Calvario, e


nos convertamos ao Senhor.
Vamos buscar a resurreiçã,o no sacramento da
penitencia, 1onde J esus depôz para n:ós o thesouro
inexgotavel de seus meritos e o fructo dessa dolo­
rosa Paixão.
Resuscitemos para a vida da g-raça., . e imite­
mos, daqtii por diante, N o s so S enhor, que não
morre mais depois da resurreição. Não mo"rramos
mais, não pequemos mais, e, semelhantes .aos Apos­
tolas convertidos, semelhant·es aos pr im e ÍriO S chris­
i

tãos, perseveremos na oração, nas bôas obras, na


p enit en cia no amor de Deus · e de nossos irmãos,
,

perseveremos na «fracçâJo do pão», on de . ac bare­


mos Aquelle que é o i.mic,o necessar'io, e cujo
.
a mo r é a consolação verdadeira de todis as mi­
serias deste mundo, ao mesmo tempo que é o
p en h or de todas as beatitudes da Eternidade.
o· bôa e doce M ãe . do intimo do coração !e
pelo an1'0r que vos consagramos, nós vos p edi ­

mos, dep.ois de ter tomado parte em vossos sof­


frimentos, a graça de nos unir agora ás vossas -

alegrias, cantando, com a santa Egreja :


Regina cceli, lretare, alleluia .
. Rainha dos céus, alegrae-Vi()S, alleluia.
Quia quem meruisti p ortare, alleluia.
Porque aquelle que n�ereocstes trazer �m vç>sso
seio, alleluia.
Resurtexit, sicut dixit, alleluia.
Resuscitou, como disse, alleluia.
Ora p!ro nnhis Deum, alleluia.
Orae a Deus por rtós, alleluia.
Nós vol-o supplicamos p ela felicidade com que
a vossa alma foi inundada na primeira app.a rição
de vosso divino Filh-0 resuscitado. Alcançae-me que
seja um dia admittido oomvosc-0 e com elle ás
alegrias da vida eterna. Assim seja.
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CONCEITOS EMITTI DOS POR . ESCRI PTORES SECU­
LARES E PERIODICOS NACIONAES

Or. Lacerda de Almeida :

Assumpto eterno, eternamente n ovo, e ternamente to­


cante, este da Paixão de Christo, jám a.is esgotado e sem­
pre lido com avidez por amigos e inimigos da grande.
victim a, signal de contradicção entre adorações que vão
até ao rnairtyri o, e improperios que vão até ás mais tor�
pes blasphem.ias !
Descripta com a s4ngeleza e simplicidade das narra­
tivas verdade•iras, no Evangel ho, com o enthusiasmo d e
uma viderite, em A n n a Catharina Emmerich, com seccura
de historiador em varias, com agudeza de investigador e
archeologo em outros, a Paixão de Christo assume, n o
livro que ternos diante d o s o lhos, m arejados d e l agrimas,
em nmitos de seus fopicos.. u m a feição mixta de narra�
tiva simples, de investigação historica e de contemplação,
a que se n ão pôde esquivar um crente do quH ate de
quem o escreveu.
E' interessante no . conjunto e nos detalhes a obra
do · or. Pedreira. Ha nel l a uma parte - a primeira -­

que não tem sido, que eu safüa, eXJ>lorada antes que ·O


seu i l lustre aufor a puzesse em · fócoJ cor:n a verdade e
agudeza que faz : é o que elle cham a : Via do Captiveiro ..

a qual çomprehende as horas que vão do H orto de Geth- ·

semani, quando Jesus foi l evado preso á easa de Annás,


e , d ahi, á Q.e Caiphás e ao Pretoria de Pilatos, até á·
condemnação á morte, pelo Sanhedrim, confirm ada pelo
m agistrado romano.
A Via (ia Cruz, :isto é, aqu e l l a que percorreu Jésus
desde que foi confirm ada a condemn ação até á consum­
m ação da n ossa Redempção no Calvaria, é mais conhe­
cida, m ais bistori-ados os pungentes detalhes, mais com­
movente tudo ; é o m a1;s agudo do desenro l ar dessa: série
de scenas p atheticas, que tenn�nam com a convulsão . d a
propri a n atureza, espantada d o h orrendo crime.
As particuladdades em que entra. o illustre autor do
livro, são geralmente ignoradas, a começar pelo vestuario
do Divino Sal v ador, que o livro interessante do Dr. Pe­
dreira indica mui dffferente do. que a arte da esculptura
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248 A PAIXÃO DE J ESUS CH RISTO
-

e a da pintura têm espalhado, ornando a verdade de


todos os e nfeites · e embellezamentos da i m aginação.
Nem a tunica, nem o m anto, nem a côr da tunica
e do m anto traduzem a verdade historica, no entender do
n osso autor, nem Christo andava de cabeça descoberta,
mas ao uso dos hebreus, com uma especie de turbank\
que servia de abrigo contra os ardores do so l.
O desígnio de judas, depois do fatal beijo, de d�s­
apparecer e ntre a turba dos discipu los de j esus, no que
foi frustrado, a passagem pela p-onte do Cedron, do alto
da qual preoipitaram jesus, que cahiu entre as pedras da
torrente, deixando em uma dellas os vestigios de seus
pés e m ãos, são circu mstancias geral m ente não mencio­
nadas, m as que o douto l ivro escl ar ece.
Depois da condemn ação á m orte, os do grande con­
selho separaram-se, para se un.irem, no dia seguinte, , sexta­
feira, depois de nascido o sol, porque a sentença devia
ser renovada á luz do dia ; neste ponto concordava o -cH­
reito hebraico com o dos romanos, onde é sabido que
-- Sol occasus, s1tprema tcmpestas esta. - Teve de es­
perar Jesus no fundo de um a m asmorra, nos baixos da
casa de C aiphás, longa.s horas, preso a uma columna, até
que raiasse a aurora do dia, por Elle suspirado, de im­
mol ar-se por nós.
Uma bella estampa, talvez a m ais bella do livro,
mostra-nos o Didno Salvador na attitude de ornr, de pé,
com as m ãos atadas e os olhes levantados a.a Céu. A luz
que entra pelas grades de ferro de uma jan-ella, banha­
lhe a div.i na face, onde se lê Tesignação infinita e infi­
nito am or.
Os capitulas curtos, para poderem ser lidos sem fa­
diga, em meditação, vêm precedidos das pràphecias, e são
como q u e a demonstração, pelos factos, da verdade dellas.
Uma refleKão, talvez uma prec·e, fecha sempre os capi­
tu las, e a a l m a do ledor se delicia n ess·e acto de co.:n�
tc.mplação contrita.
Um a circumstanc.ia digna de attenção é a que se lê
nas ultimas linhas da pag. 1 04, onde se diz que· o sup­
plicio de jesus é prova cabal da verdade ·e applicação á
sua pessôa das prophecias, pois que, condem nado á morte,
foi cmci/icado, quando é sabido que o m odo de e-x ecutar
as sentenças de mo-r te, entr·e os hebr·eus, era a lapidação,
ou apedrejamento, e n ão a crucifixão.
li a u m trecho no l•i vro, onde conta a scena de , jesus
na presença de H erodes, o despeúto do Tetrarcha pelo
silencio e i n<lifferença do Salvador, o desejo secreto de
ceder ao furor da plebe, - e confürmar, por sua vez, a sen- -
tença do Sanhedrim, já que Pilatos lh'o havia outorgado,
ha um topico, digo, que não quero deixar de transcrever
n a integra, pois revela mu ita obserrnção psychologica :
«Herodes, despe·itadissimo, esteve por mais de
uma vez disposto a ceder aos furores sectarios destes
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A PAIXÃO DE JESUS C H H IST< ) '2 · 1 1 1

l oucos, m as não ousava affrontar as secre tas to rl m a s


e os medonhos remO'rsos que lhe tinha causado o
assassinio de S. João Baptista. E, de m aiis, esse olha.r
estranho, fixo, penetrante, que entrou no m a.is re­
condito de sua consciencia, perturbava-o, fascinava-o.
Um terror inquieto invadia, pouco a pouco, todo o
seu ser. Quanto m ais es'tudava esse homem exiraor­
dinario, cuj a sorte estava nas suas m ãos, tanto mais
reconhecia que ali n ão havia unicamente um homem,
e, instinctivamente, rec:eiava Hgar o seu nome 'ª u m a
causa que lhe parecia cheia das mais graves ·e myste- ·

riosas consequencias. Não queria de m odo algum as­


sumir uma responsabilidade que o proprio Governador
rom ano, mui prudentemente, havia declinado».
Mas, não querendo, por outro lado, deixar impune
ó ultraje feito á sua autoridade com o desdenhoso silencio
de jesus, tornou-o a enviar a Pilatos, com a veste branca
de um louco.
Seguiu-se a scena do pretoria. Pilatos forceja para
livrar jesus, em quem não acha culpa, contra as vocifera­
ções dos judeus, e o epitheto de rei� dado por Pilatos a
Jesus, para m ostrar o seu despreso por aquella multidão
e nfurecida, mais redobra-lhe o furor. O Governador ro­
m ano toma o expedieºn te de propôr, como de costume nessa
quadra de festas, a libertação de um condemnado, e apre­
senta jesus e Barrabás.
O povo escolhe Barrabás, o malfeitor conhecido, e
pede que seja crucificado Aquelle que l he tinha enchido
de benefücios, curando os doentes e até resuscitando os
mortos. .
A escol h a de Barrabás traz-me á lembrança a satira
pungente de O I ULIOTTI ao nosso seculo revolto, cor­
rupto e venal como aquella plébe. Nós tambem repudia­
mos a rnans·i dão de jesus, cerramos os punhos aos votos
de paz de Bento XV, trancam os-l he a porta de Haya e
preferimos a truculenoia de Versalhes e essa guerra in­
sidiosa e pertinaz como a febre maladia, que e:ontinúa n a
paz dos diplomatas a ensanguentar a Europa, que renega
o Papa.
Pilatos trans·igiu e, para soltar Jesus, contentando a
plebe e seus amotinadores, os phariseus, mandou flagella�
a victima. O autor do livro aproveita o ensejo para re­
ferir-se ao modo por que era praticado este supplicio en­
tre os rom anos. Foi Christo açoitado com varas ou açoites ?
E' _ mais provavel que çom varas.
Qual o numero de açoites ou pancadas ? A tradição,
a phantas:ia e a p.i edade dos fiéis são por um numero
exaggeradissimo, capaz cfe dar a morte more ma;orum.
como aconteceu, por vezes, em Rom a ; mas o numero de­
via ser o legal, e tanto m ais, quanto desejavam os judeus
levar a cabo o seu odio infligindo a jesus a ignominia1•
d a crucifixão, supplicio infame, reservado aos escravos e

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250 A PAIXÃO DE JESUS CH RISTO
aos scelerados famosos. A columna da flagellaçã-0, a do
Pretoria, era alta ; ataram _ Jesus, estendendo-lhe os bra­
ços, de modo que seus pés mal tocavam o chão, o que
concorri a para augmentar o soffrimento. H avia mais, além
desta, a co lumna da pr.i são, na casa de Caiphás, e a
do 9pprobrio, onde e steve Jesus, derois de con demn-ad10,
exposto á .i rrisão e mófa da soldadesca, que o disfarçou
em rei, l an_çando-lhe aos hombros um trapo de côr ver­
melha, clamyde usada talvez de algum s oldado,, e pondo­
lhe á cabeça a corôa de espin hos.
A corô a , entende o nosso autor, não é essa que fi­
g·uram os artistas, nas Imagens do Rede m ptor, graças ás
exige ncias da esthetica, m as uma c orôa fe c hada, á guisa
de barrete, formada de um entrelaçado de junco m arinho,
no qual misturam ramos com espinhos, de uma cspecie
cham ada Ziziphas-spine-christi, \·egetal flexive l, pe lo que o
puderam entrelaçar com o junco.
Foi nesse estado de horroros.o desfügu r am e n to e com
as insignias de uma realeza i rr i·s or i a , que Pilatos apresentou
Christo ao povo, que pedia, em altos brados, que foss·e
crucificado. E' a scena do Ecce Homo, que a arte, em
idealismo exaggerado, pinta sob o aspecto de u m homem
coroado de espinhos, m as de feição . sadia, forte, quasi ru­
bicunda. Devia estar horrivelmente desfeito em seus tra­
cos divinam ente bellos o nosso Salvador.
Pilatos larnu as mãos do sangue do Justo e auto­
·

rizou a execução d a sentenp, deu o amen da justiça ao


Cmci/ige eum da iniquidade.
Diz-nos o autor que os soldados precipitar a m Jesus
da escada do Pretorio (a «Scala santa>>, que vi em Roma,
perto de Latrão) ; dá-nos tambem noticia do fim proble­
matico de Pil atos, desgraçado, sem duvida, pois acabou
exilado, e n ão se sabe si convertido.
O caminho do Pretorio ao Calrnrio foi um rast o de
sangue. Obrigado a carregar a Craz, Jesus quasi desfal­
leceu sob o peso do madeiro. Que fórma teria esse in­
strumento de supplici.o ? Parece ocioso perguntar, tão ar­
raizada está a crença na fórm a da Cruz que todos conhe­
cemos e adoramos ; o autor, porém, aventa a hypothese
de que tivesse a figura de um táu gre go, ou t latino.,
isto é, faltando a haste á parte superior, que fica acima
do travessão (patibulum ) . Funda-se a hypothese do au�
tor em um a n tigo desenho encontrado em Roma, e nas
primeiras palavras do Canon da Miss a : Te igitur, o que..
em sua opinião, deu lag ar á estampa da crucifixão, origi-­
nada de enfeites, ou illuminuras, do T, primefra letra do
canon. A supposição, porém, é singular, e precisa ser con­
firm ada contra o testemunho 15c!ral, que lhe é contrario.
Muito restaria a dizer, além do nosso proposito, com
esta noticia, si acompanhassem-os o illustre autor em toda
a extensão que deu á sua narrativa, toda inclinada á critica
naturalistica, que até, com g.rande proveito para a ver-

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A PA I X AO DE J ESUS cti R I STO '.l !:> I

d ade, chegiou aos dom i nkls da arte, como se póde vêr do.s
qu adros de OEBH. FUO EL, repre�entando as qu atorze es­
t ações d a Via-sacra. M as, a par do lad o sobren atural e di­
vino d a tragedia do Calvario, h a o l ado hum ano, que con­
vém n ã o ande desfigurado com os embel lezamentos da es­
t hetica, ou com os exaggeros d a piedade, a l iás muito lou­
vavel.
Não termi n ariamos sem chamar a atfenção para os
detalhes, que a m[m e a mu.i tos eram desconhecidos. Je­
sus, antes de ser estendido na Cruz, e emquanto u l ti�
m avam os lugubres preparativos do supp licio, foi lançado
em uma cisterna, ou cavidade, praticada nos rochedos d o
C a l vario ; e m vez do fel e vin agre da lenda, a bebida
que ministraram a Jesus, antes d a crucifixão, foi uma m is­
tura de vinho com myrrha (a qual, com seu amargor,
occasionou a versão do fel ) , destin ada a em briagar os sup­
pliciados, minorando-lhes as dôres da agonia, agonia ter­
rh·el para os crucificados ; por esta razão Jesus recusou
beber.
J esus fo·i pregad o á Cruz e i evantado com o pati­
bulo, por m ei o de cordas e alavancas ; o seu d i v i n o corpo
fo.i atado com cordas ao madefro da Cruz, para evita.rem
que cedesse ao pes·o e se rasgassem as m ãos e pés, ca:
hindo no chão. E' o i l lustre autoir quem diz : outros sup­
põem que coll ocassem u m a especie de cavilha ou tra\'essa
pequena, subsolium, n a altura das nadegas, cadeka terrivel
para os crucificados, a que . accrescia o subpedaneo, p ara
col locação dos pés.
Seriam tres ou quah'o os cravos com que foi p re­
gado o n osso Sal vador ? Outro ponto duvidoso, que o
autor do livro exami n a, deixando por solver. As sete pa-
1 avras do Senhor, na Cruz, são referidas, e em nàtas
aquell as : «Meu Deus, m eu Deus, por que me des amparas­
tes ?», que são as prim eiras palavras do Psalmo X X I . Este
psalmo prophetico, que descreveu com minudencias notaveis
a Paixão de Christo, com a antecedencia de dois mille n.ios,
é possivel, d iz o autor, segu indo S. Jeronym o, que o mes m o
C hristo o recitasse, ao !'n enos aquel las primeiras palavras . . .
«Et inclinato capite, tradidit spiritutm>. Ao H omem
Deus cahiu-l h e a cabeça sobre o peHo ; tinha expirado,
d ando u m grande brado, ao qual respondeu a natureza, com
trevas, que escureceram o df a, com tremor desusado e in­
explicavel d a terra, e com varios prodígios, que fizeram
surgir de suas tumbas mil lenarias os justos, que esperav am
este ditoso i nstante . . . Rasgou-se o véu do templo, com
terror presago d o desapparecimento do antigo rito e do
·

saccrdocio antigo.
Ao ouvirem o clamor e o cataclysmo que o acompa­
nh ou, as s antas mulheres chegaram-se á Cruz bemdita..
l eito de m orte de Jesus, e deram expansão á dôr de q u·e
se achavam possuidas Maria, a Mãe de Jesus, e as outras,
com o Discípulo amado.

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252 A PAIXAO DE JESUS CH RISTO
A narrativa vae até ao sepultamento e á resurreição
gloriosa, ao terceiro dia.
Não ha escolher, nem füxa.r -se aqui de preferencia a
qualquer outro ponto, porque todos captivam pel o int�­
resse com que são tratados e pel a u ncção que levam ao
coração do leitor piedoso.
E' uma . descripção pathetica e u.m estud-0 conscien­
cioso ; interessa o lado historico, a parte de investigação,
o trabalho artistico, por assim dizer, acompanhado de finas
estampas illustrativas do texto.
E' o caso de dar parabens a quem emprehendeu e rea­
lizou tão util e piedosa obra.
Passou-me, na referencia que fü, de principio, aos
varias m odos de descrever a Pa<ixão de Christo, a m a"
neira rom antica, de que temos especimens no Martyr do
Oolg<Jtha, de ESCRICH, e em tres ou quatro obras da
Baroneza A. VON K RANE, O filh o do Homem, Magna
Peccatriz e Luz e Trevas ; esta ultima ainda n ão foi ver­
tida do allemão.
Cito tambem, do mesmo genero, as obras de MON­
LAUR, especialmente «Apres la neuvieme lteure».
Que encontre grande sahida a obra do Dr. Pedreira,
são os m eus \'Otos.

Conde de Affonso Celso :

Pelo methodo com que- foi elaborado, pelas eruditas


notas historicas, que explicam os sublimes textos evange­
licos, pel a clareza e elegancia de exposição, pela. fé vi\'a,
que anima todas as paginas, -O livro é digno de IOU\'Or, ap­
plaUSO e bençãos de todos os cathol icos.

Dr. Escragn olle Daria:

Distinguido com um exemplar da obra «A Pa1i xão de


jesus Christo», da l avra de V. Excia., venho agradecer
duplo favor, da offerta e da leitura, permWidas algumas
impressões, para corresponder ao bondoso de uma e ao
proveito de outra.
V. Excia. tomou por fundo do livro a fórma m ais
sublime dà vqda de jesus, o seu martyrio. Acompanhou-o,
affronta a affronta, golpe a golpe, lagrima a lagrima; pingo
a pingo de sangue, em pintura singela, que commove e a r­
rebata na grandeza de Deus, prostra e hum ilha na mal­
dade dos homens.
N ã o escreveu V. Excia. sem estar convencido. E' regra
infalli\· el para persuadir, com o para mover prantos é mis­
tér ter primeiro olhos rasos d'agua.
Com discreta erudição e fluencia de linguagem sabe
V. Excia. ,i mpedir que a leitura se possa inte rromper, tal
o interesse a que sobe a narrativa.

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. A PAIXÃO DE JESUS c1·11-wno � ., : 1

O esforço de V. Excia. não se llmltaa·á 11 ler cl ubo·


rado livro para uma só leitura, ella se repetir4, pela con..
suita frequente de quantos o tiverem apreciado e versem
o assumpto, dos maiores da Terra.
Felicito, pois, V. Excia., em cujo nome revive para
mim a saudade do· V·isconde do Bom Retiro, a q�em o
Brasil deve estatua, á qual nem falta o pedestal d a his­
toria, tão ausente de outras estatuas.

«A ESTRELLA DO MAR»

1

"A PAI XÃO DE JESUS CHRISTO


Obra recente, «de r·e al valor, opulenta de sã doutr1-
na e salutares ensinamentos para a vida das alrqas . ·. . . ,

vasto repertorfo de tudo o que ha de mais impqrtante


a respeito da sangrenta Paixão do Redemptor.
«Vasado em moldes didacticos, em linguagem escorreita
e ao alcance de todos, impõe-se este livro á leitura não
só das almas piedo,Sas, que queiram meditar n.as dôres ún­
. finitas do adoravel Jesus, mas tambem de quantos estu­·

diosos que desejem conhecer, nas suas mais palpitantes


minucias, todos os lances angustiosos da cruenta tragedia
do Calvario.
«A Paixão de Jesus Christo>> contém curiosas notas
de archeologia, escrupulosamente collridas em . innumeras
fontes autorizadas, tornando, assim, a sua leitura, a um
tempo, il'lstructiva, attrahente e amena. Consta de cerca de
d4zentas paginas, af.óra setenta gravuras preciosas e raras,
· nitidamente impressas, que illu.stram o teKto, contando-se,
entre . ellas, ·um mappa authentico, cuidadosamente recon­
struido, da cidade de Jerusalém do primeiro seculo, que
foi theatro do . pungente drama».

«CORREIO PAULISTANO»
A PAI XÃÓ DE JESUS CH RISTO
Não sabemos, nestes ultimos tempos, de obra mais
valiosa, no seu fiel contexto, de synthese mais admiravel,.
que o ultimo J.ivro publicado no Rio de Janeko, e que•
j á se encontra nas montras de S. Paulo : «A Paixão de JfS.
sus Christo», sob os auspicios da Adoração Continua a
Jesus Sacramentado, daquella airchidiocese, e da lavra do
notavel escriptor patrício, dr. João Pedreira do Cauto f'er­
·raz Junior.
Obra approvada em Janeiro do anno passado, com
o respectivo «lmprimatun> por commissão do sr. arcebispo
d. Sebastião Leme, . e com um bello prefacio do eminente
prelado, a «A Paixão» · constitue um trabalho primoroso,
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254 A _ PAI XÃO DE J ESUS CHR ISTO

de estylo . l ai vado numa fórma a ttica de lingu agem e ri­


quissim o de gravuras, muitas dellas pouco conhecidas atra­
vés de reproducções dos quadros celebres do Vaticano. O
livro abre com um m appa da Via-Dolorosa, elucidado nas
m argens por explicações da via do captiveiro e d a via-cruz.
I nicia com uma bel l a .descripção de J erusalém do tempo
de J esus, locando precisam ente os · divinos episodios d a
P aixão, sob o s mel hores detal hes d e commentarios.
Traz na integra a carta do proconsul Lentu lus, cm
Jerusalém, ao Senado romano, n arrando a figura do N a­
zareno, com todos o s seus aspectos divinos, extrahida dos
«Annaes dos Rom anos», escr·iptos por Eutropio, n o seculo
qu arto.
E' o retrato de Nosso Sen hor, a descr·ipção da su a
physi o nomia, d as suas vestes, d os seus o l hos, da côr dois
cabellos, da impressão profunda que produz a figura ce­
lestial do Filho de Deus.
O estudo e a n arrati\'a da Paixão tiveram no ilfos­
trado autor desssa obra um lente e profundo investigador,
sob o espirita e levado d a theol ogia -catho lica. Livro pre- ·
cioso, sob todos o s aspectos, quer pela sua feição gran,
dem ente i nstructiva, qu er pel o valor historico, quer pelo
bri l h o ! ite ra.rio da concepção, recommen d:unol-o aos lei­
tores como um m anancial de bell ezas divinas.

«0 LABA ROl>

Editado pela Associação d a adoração continua a Je­


sus Sacramentado, este excel lente trabalho tem extraordi­
n a.rio valor para a meditação sobre a Paixão de N. S. J esu s
Christo. E' i l lustrado com expressivas gravuras, represen­
tando os quadros da Vda Sacra, cada um . acompanhado de
exercidos proprios paira m editação.
E' um trabal ho que recommendamos aos le!tores, não
só pelos m otivos acima expostos, como pelo seu \'alor l i­
terario.

«ACÇÃO SOC IAL DO IMPARCI AL»

A Paixão de Jesus Christo - A Associação d a Ado­


ração Continua acaba de i. m primir u m l ivro sobre a P ai­
xão de Nosso Senhor Jesus C hri sto, em 200 paginas, com
·

63 estampas.
O texto da Pa�xão é accrescido de innumeras notas
historicas e archeologicas.
A fórma pela qual foi descripta a P aixão é inteira-
1uente original e muito didact.i ca, precdendo da compara­
ção d as prophecias com os Evangelhos rel ativos e ter­
minando por invocações muito sentünentaes.
Todas as horas da Paixão são determ in adas, bem co­
mo os Jogares e distancias percorridas na Via Dolorosa,.

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A PAi XÃO DE J ESUS C :l l H I STO 255

As estampas foram füadas em jerusalém, rcstahckl'i·


d as as scenas com o m aior realismo.
Contém t.rechos de u m a carta de S. Excia. o Sr. ar·
cebispo d. Sebastião Leme, recommendando sua leitura.

«AVE MARIA»

A Associação d a Adoração Continua a jesus Sacra­


mentado, fundada pelo dr. João Pedrefra do Couto, Ferraz
J u nior editou este opusculo, em que se trata, . como em
quadro vivo, a historia da Paixão de Nosso Senhor jesus
Christo, e por sua l eiitura ficarão os fiéis n ão só bem dn­
form ados, m as muito edificados e movidos aos màis 'pie­
dosos affectos de seu coração, ao nosso Redernptor. A
consideração da Paixão de jesus é summ amente meritoria
e muito efficaz para a emenda da vida e progredir na
virtude, pelo que muito se recommenda a todos os chris­
tãos.

«REVISTA SOCI AL»

O volume que acaba de i mprimir a Associação d ai


Adoração Continu a é, sem favor, uma no\'idade em nosso
meio e u m trabalho de grande interesse para os verda..
deiros cre ntes. Graças aos esforços do abnegado aposto lo
l eigo, que é o dr. joão Pedreira do Couto Ferraz, fun­
dador da · Associação e organ izador deste volume, temos em
portuguez um esludo historico e archeol ogico da Paixão,
ornado de innumeras notas e belHssimas estampas.
A fórm a pel a qu al são descr.iptas as scenas da Pai­
xão, é i nteiramente original e muito didactic.a, confrontando
o texto das prophecias com o dos Evangel hos correspon­
dentes. Determ inam-se cuidadosam ente as h oras, l ocaes e
distancias da Via Dol orosa. As estampas foram tiradas em
jerusalém e as scenas restabelecidas com todo o real ism o.
Contém o \'olume u m a carta de D. Sebastião Leme,
approvando-o e recom mendando-l h e a l·eitura.

\
«VO Es DE PET ROPOL IS»

A Associação não é desconhedda dos catholicos do


Rio de janeiro e d aquel les que, nos Estados, acompanham
o movimento religioso da capital da Republica. Tão pouco
se desconhece a ábnegação e a capacidade de trabal ho
desse homem extraordin_ariamente piedoso que é o dr. joão
Pedreira . do Couto Ferraz Junior, fundador da obra, es­
criptor infatigavel, prestantissiimo catholico.
O livro, que elle acaba de expôr á venda na . Livra­
ria Catholoica, lem uma carta-prefacio do Ex.1110 arcebispo­
coadjutor, que nella diz avultar e sobresahir a sua m issão
d elicada, porque esta_ leitura da Sagrada Paixão de Nosso

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256 A PAIXÃO DE JESUS CHRISTO
Senhor tem o condão mysterioso de consolar as almas
am argu radas. «Vae levar o balsamo di vino a muito cora­
ção ferid o». A obra, em 1 65 p aginas e pa p el caro, encerra,
ein gravuras, todas as 1 4 estações da V·i a do Captiveiro,
e todas as 1 4 estações da Via d a · Cruz. Um m appa de Je ..
rusalém, d aquelle tempo, il lustra as d u as vias. E agora
começa a descripção da cidade santa e o retrato de Jes u s
Christo, consoante a carta d o Pr-oconsul Lentulos ao Se­
n ado rom ano.
O autor ateve-se, com muito escrupulo, aos ' documen­
tos que restam, d e m odo a dar ao seu trabalho, ao mes­
mo tempo que a importancia d e devocionario, o valor his­
torico, que d e nenhum modo s e l he póde negar ou en­
cobrir.
A via d o captiveiro, porm e n o rizada e escrupulosa, ap­
p arece ahi suavemente descripta, com innumeras digres­
sões, que reforçam o encanto á leitura. Descreve e explica
ao m es m o tempo, em todas as minucias, d e . modo qu-e é.
um regalo, simultaneam ente para o espírito e p ara o co­
ração, i rem-se lendo estas p aginas de s offri m ento e de
morte.
Achei m u ito feliz a idéa de, em cada capitulo, por­
tanto, em cada estação, se p ô rem em confronfo prophe­
c i as com E\·angel hos, e , pel o cor1Jo de cada um, irem sur­
g i n d o pensam e ntos c o n s o l ad ores e supplicas de e n ternecer.
E' d e \· e r n osso aconsel h a r viYam ente aos catholicos a l e i­
tura deste l ivro 'de ouro, que, cheio de n otaveis cnsfo�­
m entos e lições, p repara a a l m a para os grandes senti­
m e n t o s purificad ores.-- S. d' A. -

«A C R U Z»

Um livro admiravel. A p e n n a preciosa do dr. João


Pedre i r a do Couto Ferraz Junior acaba de produzir u m
tra b a l h o d e grande estima para o mundo c hristão « A Pai­
xão de N . S. Jesus ChristO>l.
Todo esse l ivro, enfeixado em m ais d e 1 60 paginas,
é um trabalho historico, scientifico e archeologico.
E' deste livro de ouro que, na 1 a pagii.n a d�ste jor- -
nal, transcrevemos «Ü Retrato de N. S. J esus Christ0>l.
E' u m a obra que devemos possuir. O m u n d o precisa
m editar n a Paixão do H om e m Deus q u e par.a nos
salvar quiz m orrer no m efo de dois scele rados, no m ais
ignom inioso dos i n stru mentos p agãos.
Quem lê esse livro, sente n ecessid ade d e desab afar a
al m a, n aturalmente ch ristã, em l agrim as de i nfin:.ta . m agua.
Ah ! si os pseu do sabias deste mundo, m ais hem avi­
sados, se e n tregassem, um m omento, á leitura da «A Pa.i­
xão de N. S. Jesus Christo)) ! Com certeza seriam menos
injustos para com Aqu e l le, d e cujo amor nos deu prova
até á m o rte d a Cruz.
Compremos esse l i vro.

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A PAI X ÃO DE jI-:Sl JS C l !R ISTO 257
«0 NORDESTE», UE FO IHA l . L / A

E' u m a obra de solida piedade, destinada a fanw


summo bem ás almas sinceramente christãs . . . Os coraçôes
feridos encontr arão, assim, ne�ta obra salutar, um verda­
deiro «b alsamo divino».
Recom mendamos aos catholicos de nossa terra este
livro consol adpr, que tem encontrado o m ais franco apoio
da parte do episcopado n acional.

«A O RDEM»

O sr. dr. joão Pedreira do Couto Ferraz tem fir­


m ado, entre os cathol icos, u m a das m ais bellas reputações.
Homem de fé, como quem m ais o sej a, é um dos
m ai s incansaveis obreiros da caus a _ catholica no Brasil, á
qual tem dedicado todas as suas en ergias e o vigor d a
sua intelligencia. Entre o s grandes - serviços que lhe fi­
camos a dever, n ão será dos m en ores o precioso l ivro
A Paixão de Jesus Christo, que acaba de editar, em que
nos instrue sobre o m ysterioso drama que se consummou
no Cal vario, e em que, sobretudo, nos estimula a med·i­
tar sobre o s graves e nsânamentos que encerra a paixão
e m orte de Nosso Senhor jesus Christo.
Ha muifo que se notava, entre nós, a falta de um
livro em portuguez d o genero do que, sob os auspicias
d a «Associação da Adoração Continua a 'jesus Sacramen­
tado», o s r. dr. João Pedreâra do Couto Ferraz acaba de
publicar. Elle tem a grande virtude de reconduzir os chris­
tãos ao caminho da Cruz. Sua these é a do Padre M a­
gaud, é a these da Egreja : «é dos braços da Cruz que
descerão sobre as n ossas almas e sobre o m undo con­
temporaneo a luz, a força, a virtude, a caridade e a paz.
"{:: ' na sciencia de Jesus crucificado que e ncontraremos,
côtn a cura dos males que nos affligem, a sciencia da
salvação e d a vida».
Assim, n ã o h a- sinão acolhei-o com sympathia e o
recom mendar ás almas sinceramente piedosas.

«MENSAG E I RO DO CORAÇÃO DE JESUS», DE I TU'

Uma obra que ho l}ra qualquer nação cathol ica, e que


m ostra, sobretu do, com que estudo e trab al ho o autor se
famil iari zou com o grande _ drama d a Redempção. Não só
colheu todos os porm enores que encontrou e spal hados n a
tradição oral e escripta, m as incluiu n a obra todas as . pin ..
tu ras e qu adros que, de algu m m o_d o, pódem e lucidar o
· grande acto ele amor de j esus para com nosco.

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258 A PAI XÃO DE J ESUS CHR ISTO

«0 CALVARIO»

Sobre este assumpto tão piedoso e de maxima im­


portancia a ser conhecido, acaba de ser publicado, no Rio,
de J aneiro, m ais um esplendido livro, de 1 68 paginas, em
oitavo, com 63 lindas gravuras do Martyr dir ino, editado
pel a Associ ação da Adoração Conti n u a a Jesus Sacram en­
tado.
Parabens p e l a piedosa iniciati\'a, m u ito be m succe­
dida. Desejamos uma rapida propagação.

«MENSAG EI RO DO CARMELO))

A Paixão de Jesus Chrisio Bel l a obra, d e 1 65


---

paginas, editada pela Associação da Adoração Continua.


O autor descreve as 1 4 Estações da Via do Captiveiro
é as 1 4 Estações da Via Sacra. Historico e, ao m esmo tem­
po, diccion ario, o l ivro agrada sobrem odo pela descripção
escrupulosa da Vi a do Capti veiro. Acom panham os aiver­
sos capitulos H ndas gravuras das Estações, tanto da Via
do Captivefro, como d a Via d a Cru z, e um Mappa de Je­
ru sa l é m , mustran d o ambas. Acons elha-se a l eitura deste
l ivro a todos pelo alto v alor de seu conteudo.

«Ü M U N DO L I T ERA R I O>l
Este l ivro vem de colher um grande successo no
mundo cat hol ico. Obra de alevantado \"alar reJ.igioso e ac­
cumul o de factos, a Paixão de Christo revela a gran-
deza de observação de seu autor.
·

A Theologia e, sobretudo, a figura de Christo, tomam ..·

nessa obra, u m a au reola de belleza e de fé, de divindade


e de amor. Elle reve l a qu alquer coisa de m ais · que hu­
m anamente bel lo n a m aneira de escrever a Paixão do
Redemptor . . . é u m paHio 1ncomparavel de doçura e de
am o r de Deus . . .

«A UNI ÃO))
Li a primeira edição desta obra essencialmente rel i­
giosa, que se · esgotou rapidamente, foi o cartão · de vi­
sita, m enos elegan te, a segunda é o caval heiro em pessôa,
traj ado com · toda a distincção, e que póde apparecer ós
recepções de m ai or rigor.
O aL1 to r segll e, passo p o r passo, as p h a ses d a Sa­
grada Paixão, dando in numero s deta l h e s , i n di caçõ es da
h ora, d escri pções, distancias, etc., de perm e i o com p i e
­

do sas o r a çõ es, a exem p l o do celebre li \T o do . piedoso


Capu chi nho Martinho de Cochem. A abu n d a n cia de deta­
lhes lembra as visões da gr an de serrn de Deus Anna Ca­
th ari na Em merich, e offerecl! m ate ria m u ito grata aos p r é­
gadores, principalm ente da quaresma e de retiros espi ri­
tu aes (Frei Sinzig ).

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A PAI XÃO DE JESUS CHRISTO 259
<<A PALAVRA», DE PELOTAS
A Paixão de J esus Christo é um dos primeiros pas­
sos d a literatura religiosa brasileka, orientada pela bôa
tradição dos nossos cl assicos.
O autor reflecte com justa m edida e piedade compa­
tível com o nosso tempo. Apesar de tratar de ascese e
m ystica, no seu exercicio fundamental, que é a Pajxão
de Jesus Christo, n ão esquece de apoiar suas piedosas
considerações nos dados scientificos, fornecidos pe l as m ais
criteriosas conclusões, na exegese escripturistica. •

Viia dó Capti­
.

O l ivro está dividido em duas partes -

veiro e Via d a Cruz, e, com accento de commovida un­


cção religiosa, são acomp an hados os passos da sangti ino­
lenta Paixão do H om em-Deus.
A· srimp l icidade de sua l ingu agem castiça é um per­
feito vehicul o de sua sensibi lidade christã. E' um l ivro
que se lê com agrado, proveito e edificação (Pe . Sylvano
de Souza).
«A CRUZii
Já aqui d issemos, a devido tempo, dos mu itos m e­
reci mentos do livro d a Paixão de Jesus Christo, obra de
solida piedade e trabalho de grande interesse para OS'
n�rd adeiros crentes.
. Quem lê sente a n ecessidade de desabafar a alma, na-
turalmente chr·istã, em l agrimas de profunda m agua. A V i a
do Captiveiro d e Jesus Christo, pormenorizada e escrupu­
losamente descripta, apparece com innumeras digressões,
que reforçam o encanto á l eitura . . . E' um l ivro digno d e
louros e app l ausos de todos o s c atholicos, pelo m ethodo
com que foj e l aborado, pelas eruditas notas h istoricas, que
explicam os sublimes textos evangelicos, e pela clareza e
elegancia d a exposição.

A � :_
ce ser esta 2a diçã um l ivro de luxo.

DECLARAÇÃO NECESSARJA

São tantos e tão extraordinarios os elogios feitos a


este l ivro, cuja primeira edição se esgotou em dois . mezes
e a segttnda em poucos mezes seguintes, que, a bem d a
verdade, devo decl arar que, n a confecção do m esmo, con­
tribui quasi que exclusivamente com o methodo adaptado.
No m ais, o meu trabalho foi com o o ela abelha, que
escolhe as flôres, para dellas extrahfr 0 mel c:om qu e
enche o alveolo.
ô meu u nieo objeetivo é q1.1e jesus seja m ais co­
nhec:ido em sua Paixão e m ais am ado.

Setembro de 1 925.

/oão Pedreira do Couto Ferraz Junior.

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OBRAS DO MESMO AUTOR

A VIDA DE JESUS

J - A Infanci a de Jeeus -- (Publicada)


II - A Prégação de Jesus, e m q u a tr o vo­
lumes - Pub licados (! 111 e 2 '' vo­
lu m e s .

IH - A P ai x ão de Jesus - ( Publica d a ) .
IV - A ResurreiQão, A sc e n ção d e J e s u s e
Vin d a do E spirito S a nto.
V - Actos dos Apo stolas, em dois volu mes.

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I N DICE

Palavra,; de. uma carta de Sua Exc;_ia. o Sr. Arcebispo '


Dom Sebastião Leme -7
Uma circular d.!! D. Sebastião Leme . 8
Benção<; e pal avras de S. Em. o Sr. Cardeal, S.
Excias. os Srs. Arcebispos e Bispos 11
Descripção da · Palestina . 21
Retrato de Nosso Senhor Jesus Christo 26
Via dolorosa · . . 36
Via do captiveiro . 45
Via da Cruz # ". 1 55
Conceitos emittidos por escriptorcs se cu 1 ares e perio-
dicos nacionaes . . 247

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I N DI CE DAS G R AVU RAS

1. Ret r a to de jesus . . 27
2. O F oru m . . . . 39
3. Jardim de Gethsemani 48
4. Monte das O l iv ei r a s . . . . . . 50
5. M in h a a l m a está triste até á morte 32
6. O suoir de s angue . . . . 55
7. Jesus desperta os Apostolas . 61
8. O beijo de Judas . . . . 63
9. Queda dos que prendiam Jesus . 64
1 O. Que da de Jesus no Cedron 68
1 1 . Tribunal de Annás . 75
1 2. Tribun a l de Caiphás . . 80
1 3. Caiphás rompe as vestes 84

1 6. Negação

1 4. Prisão de J esu s . . . . . . .
1 5. Tribunal Caiphás ( 2° j ulga m ent o )
S. Pedro . . . . . 96
88
90

1 7. Jesus peran Pilatos . . . . . 1 03


1 8. Jesus perante Herodes . . . 111
1 9. Mensagem da mulher de Pilatos 117
20. Barrabás preferido a Jesus 118
21 . Flagellação de jesus 1 23
22. F l agel l ação de Jesus 1 24
23. Coroação de espinhos 1 29
24. A Escada Santa . . 1 36
25. Jesus perante Pil atos . 1 38
26. Ecce Homo . . 1 39
27. O G abbath a . . . . . 1 46
28. Jesu s depois de condemnado . . . 1 47
29. O C a l v aria no tempo de Jesus Christo 1 50
30. A reposição das vestes de j esus 1 57
31 . Jesus to m a a Cruz : . . 1 58
3 2. P rimeira queda de j esus· . . . . 1 65
33. Encontro de jesus com sua SS. M ãe . . . 1 68
34. Simão, o Cyre neu aju da Jesus a c arregar a Cruz
, 1 71
35. Veronica enxuga o ro�o de Jesus 1 75
36. Veronica enxuga o so�o de jesus 1 76
37. Jesus cáe pela segunda vez . . . . 1 79
38. j es u s consol a as mul heTes d e j eru s a l é m 1 82
39. Jesus cáe pela te rceir a vez . . . . 1 85
40. A chegada de jesus ao al t o do C a l v ar i a 1 86
41 . Jesus é d e s poj ad o de seus vestuarios 1 89
42. R ep art i ç ã o das v este s 1 90
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II INDICE DAS GRAVURAS

43. jesus posto em .u m a cisterna . . 1 91


44. Dão a jesus vinho com myr.rha 1 92
45. jesus é cravado na Cruz 1 96
46. jesus é crav ado na Cruz 1 98
47. Um d os p regos 200
48. Titulo . . . . 201
49. Elev ação d a Cruz 206
50. Elevação da Cruz 207
51 . Crucificação de j es u s . . . 208
52. O sol escu rece e a terra treme 21 O
53. j esus morre na Cruz . 21 2
54. Maria ao pé da Cruz . . . . . . . 21 3
55. O Centurião confessa a divindade de jesus 223
56. Os sol dados quebram as pernas dos ladrões . 224
57. Lo�i n o atravessa o lado de jesus com a l an ça 226
58. Conversã o de Longi n o . . 227
59. D es ci d a de. jesus da . Cruz . . . 230
60. j esus é . transportado em um lençol 231
61 . j esus sobre a pedra da U ncção . . • 232
62. j esus amortal hado . . . . 233
63. J esus l evado p ara a sepu ltura 238
64. A pedra vista de fóra 241
65. A pedra vista de den tro 241
66. J esu s sepu ltado . . . . . . . . . . 240
67. A sepu ltura d e j esu s gu a rd a d a por soldados 243
68. A resurreição de j e s u s 245

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