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Da União das Igrejas Evangélicas

Congregacionais do Brasil

COMENTADA E COMPARADA

Segunda Edição

Neucir Valentim
SÍNTESE DOUTRINÁRIA
DA UNIÃO DAS IGREJAS EVANGÉLICAS
E CONGREGACIONAIS DO BRASIL
COMENTADA E COMPARADA

Valentim, Neucir

Síntese Doutrinária dos Dons Espirituais/


Neucir Valentim. - Rio de Janeiro: Artes
Digitais, 2010.
154 p.; 18cm.
neucir.valentim@globo.com

Diagramação: Julio Cesar M. Lima


jcmlima2004@gmail.com
Revisão: Wanelli Caldeira de Amorim

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Neucir Valentim

Sumário

Prefácio........................................................ 5
Introdução.................................................... 9
Trajetórias e Percursos.................................. 13
As Guinadas do Reavivamento..................... 15
Breve Histórico dos Congregacionais, dos
Movimentos de Renovação Espiritual até a
Síntese Doutrinária...................................... 19
1ª Apresentação da Síntese em 1995........... 27
Dons de Curar e Cura Divina....................... 31
Dom de Profecia......................................... 35
Dom de Variedade de Línguas...................... 39
Uma Reflexão sobre o Dom de Línguas......... 45
Quadro Comparativo 1............................... 55
Quadro Comparativo 2............................... 56
Quadro dos Dons Espirituais 1..................... 57
Quadro dos Dons Espirituais 2..................... 58
Quadro dos Dons Espirituais 3..................... 59
Visões ou Revelações................................... 61
Unção com Óleo........................................ 65
Quebra de Maldição .................................. 69

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S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Uma Breve Reflexão sobre Maldição


Hereditária................................................. 73
Sinais e Prodígios........................................ 83
Batismo com o (do) Espírito Santo................ 87
Cura Interior............................................... 93
Expulsão de Demônios ou Exorcismo............ 97
O Jejum................................................... 101
Uma Reflexão sobre o Jejum...................... 103
Com a Palavra o Movimento de Renovação
Carismática - RCC ................................... 109
Com a Palavra os Cessacionistas................ 139
Conclusão................................................ 149
Bibliografia e Obras Consultadas............... 151

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Neucir Valentim

Prefácio
A década de 1990 foi um marco na história do
protestantismo brasileiro. A igreja evangélica re-
gistrava um excepcional e vigoroso crescimento
numérico em sua membresia.

As Comunidades Evangélicas, com suas ênfases


e abordagens nas áreas do Louvor e da Adora-
ção, influenciaram profundamente a liturgia dos
cultos da maior parte das denominações, mes-
mo as históricas. Movimentos como “Batalha
Espiritual”, “Nova Era”, “Cura Interior”, “Dente
de Ouro” e outros, geraram polêmicas e produ-
ziram divisões nas congregações. Foi o período
dos testemunhos, onde artistas famosos (e ou-
tros nem tanto) circulavam pelas igrejas falando
de sua conversão.

Foi também a era “caiofabiana” da Igreja Brasi-


leira, onde o impacto do ministério do Rev. Caio
Fábio D’ Araújo Filho sobre os evangélicos com
sua pregação fortemente calcada nos princípios
do Pacto de Lausanne, que celebrava o Evange-
lho Integral, fez a igreja pensar pragmaticamen-
te no seu papel social.

A Fábrica da Esperança foi a expressão maior do


“caiofabianismo” na década de 90. Enfim, anos
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agitados! Eu mesmo sou fruto deles, pois minha


conversão ocorreu em tal contexto (1993), ou-
vindo justamente o testemunho de um “artista”.
O Hino que embalou meus primeiros passos na
fé foi “Consagração”, de Aline Barros, o hit gos-
pel mais importante daqueles anos.

Devido às transformações pelas quais as igre-


jas estavam passando urdiu a necessidade de
uma reflexão teológica sobre um dos fenômenos
mais característicos da época: a manifestação
dos dons espirituais nos contextos litúrgicos das
igrejas históricas. Muitas foram a igrejas tra-
dicionais que se viram “invadidas” pelos dons
do Espírito Santo e, assim, precisaram repensar
seus axiomas quanto a questão.

Foi assim que nós, Congregacionais, nos reuni-


mos em Águas de Lindóia (SP), em 1995 (centro
da década), para refletir sobre a situação e pro-
duzirmos o que hoje conhecemos com Síntese
Doutrinária.

O Rev. Neucir Valentim nos traz à memória as


nossas conclusões acerca daqueles anos difí-
ceis. Poucos poderiam fazer com tanto significa-
do como o Pr. Neucir, pois reúne as qualidades
que lhe garantem a análise. Afinal, pastoreia,

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Neucir Valentim

desde àquela década, uma das igrejas históricas


mais importantes do congregacionalismo brasi-
leiro: a Primeira Igreja Evangélica e Congrega-
cional de Niterói, fundada pelo Dr. Robert Raid
Kalley, no século XIX.

Com certeza, o Rev. Neucir precisou lidar com o


advento dos dons carismáticos e seus defenso-
res, assim como os seus críticos, e encontrar o
equilíbrio em sua tradicional grei.

Além disso, o autor milita na área da Educa-


ção Teológica há alguns anos, sendo, inclusive,
professor e diretor do Seminário Congregacio-
nal em Niterói e, se não bastasse, é um exegeta
do Novo Testamento. Portanto, a obra que você
tem em mãos é fruto da reflexão de uma mente
competente e envolvida que, de forma simples,
procura apresentar comparativamente o que
pensa alguns círculos cristãos, entre os tais, nós,
os Congregacionais.

Boa Leitura!!!
Rev. Idauro Campos
Presidente do Departamento de Educação Reli-
giosa e Publicações da União das Igrejas Evan-
gélicas Congregacionais do Brasil.

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Neucir Valentim

INTRODUÇÃO
A síntese Doutrinária sobre os dons espirituais,
ou pelo menos parte deles está aí. Um docu-
mento tão importante, forjado em meio a tantas
tensões não poderia ser esquecido. Creio que
todos nós deveríamos ter em nossa biblioteca e
ser objeto de estudo e análise!

Você tem até a liberdade de não concordar com


a Síntese Doutrinária daquela Histórica 43ª As-
sembléia Geral de 1995 em Águas de Lindóia,
SP, mas há de convir que é um documento im-
portantíssimo em nossa vida Denominacional,
aprovado pelo plenário, e que deve figurar
como um dos Diplomas de Pensamento Teoló-
gico definido pelos congregacionais filiados à
União das Igrejas Evangélicas Congregacionais
do Brasil(UIECB), sobre o assunto.

Alguns podem questionar o sistema da votação


ou a forma dos fóruns de debates, mas como
estivemos presentes, como Delegados, naquela
Assembléia que prometia promover mais uma
divisão em nossa histórica luta pela unidade, a
verdade é que depois de tudo falado em plená-
rio, a maioria daquele seleto conclave votou
pela presente síntese e o plenário acatou a deci-

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são da mesa, pelo voto e a definição da mesma


aqui analisada e comparada.

Não temos a pretensão de criar nada, apenas


de pegar o que está sistematizado e contribuir
com reflexões pessoais e textos comparativos.

Montamos também tabelas e usamos da lingua-


gem dos símbolos, pois através deles, você po-
derá identificar sobre o que está lendo.

Não nos detivemos apenas no que foi decidi-


do na Assembléia Geral, mas apresentamos o
pensamento resumido de outros grupos sobre o
mesmo assunto, até mesmo acrescentando ou-
tros dons, não listados na síntese.

Que ao ler o que tem às mãos você possa ter


uma visão geral da história do que antecedeu
ao longo das décadas sobre os dons espi-
rituais, para ter uma visão maior da impor-
tância da conjuntura da época, olhando pelo
prisma indispensável dos acontecimentos que
antecederam e alguns momentos difíceis so-
bre essa questão.

Passamos também a visão do que pensam os


tradicionais, os pentecostais, os carismáticos, os
tradicionais cessacionistas e até mesmo o movi-

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Neucir Valentim

mento carismático da Igreja Católica. Não ne-


cessariamente nessa ordem.
Lembre-se que esse material é de estudo e de re-
flexão, logo, sistemático, muito útil em estudos,
mas não tem o objetivo de tentar convencê-lo a
nada, até porque as decisões já foram tomadas
por cada grupo aqui mencionado.

Faça, portanto, bom proveito desse trabalho


que apresentamos, com o carinho necessário de
algo tão importante.

Entendemos que a Síntese é bem equilibrada, e


mais, se nós não ensinarmos ao nosso povo o
que pensamos, querendo ou não eles aprende-
rão, porque não há quem falte ensinando acer-
ca do assunto na mídia.

Com o advento do neo-pentecostalismo, talvez,


esse assunto já não cause tanto alvoroço pelo
que temos visto por aí. Mas lembre-se: Se você
não ensinar sobre o assunto outros o farão.
Que possamos atender o apelo veemente do
Apóstolo Paulo, quando nos adverte: “A respei-
to dos dons espirituais, não quero, irmãos,
que sejais ignorantes.” 1 Coríntios 12:1

Pastor Neucir Valentim

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TRAJETÓRIAS E
PERCURSOS

A primeira presença protestante no Brasil é data-


da de 1555, com a expedição de Villegaignon,
capitão francês, que pretendia fundar uma Fran-
ça Antártica e dar refúgio aos protestantes calvi-
nistas franceses (huguenotes), perseguidos pela
inquisição européia. Mais tarde (1630-1645),
registra-se a possibilidade de uma presença per-
manente do protestantismo, com as incursões
holandesas em Pernambuco.

Num outro momento, com a chegada da fa-


mília real portuguesa em 1808, houve uma
brecha oficial, que permitia a presença de ou-
tra religião que não fosse a católica. A funda-
ção, por protestantes suíços de Nova Friburgo
(RJ), trouxe a debate temas como casamento
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e registro de crianças não católicas, abrindo


uma fissura no monopólio católico previsto na
Constituição de 1824.

Na mesma época, o protestantismo tradicional,


no qual se incluem Igrejas reconhecidas histori-
camente, como luterana, calvinista, presbiteria-
na, anglicana, passava, internacionalmente, por
um processo interno de reavivamento. Devido
à Revolução Industrial que, entre outras coisas,
acelerou os processos de divulgação da escrita,
o protestantismo recebeu um forte impulso na
difusão da Bíblia, consequentemente, aumentou
o fervor missionário.

Mesmo com barreiras missionárias, impostas


pela Santa Sé, como proselitismo e construção
de templos, o protestantismo no Brasil contor-
nou os obstáculos contra sua expansão. Não
havendo barreira no comércio de bíblias, a sua
divulgação era permitida, portanto, o Evangelho
era anunciado. Na medida em que o protestan-
tismo avançava, foi-se cunhando o termo evan-
gélico que, no senso comum, era o mesmo que
dizer que seus membros liam o Evangelho.

Com a chegada do Reverendo Kalley (1855),


que fundaria a primeira Igreja protestante em
língua portuguesa (1858), abriu-se uma intensa

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Neucir Valentim

etapa missionária no Brasil, abrindo o caminho


à chegada de outras Igrejas como a presbiteria-
na (1859), a batista (1871), a protestante epis-
copal dos Estados Unidos, a anglicana (1889)…

Para termos uma idéia de qual foi o impacto na


cultura brasileira desse protestantismo de mis-
são, basta lembrar que a cidade de Americana
(SP) recebeu seu nome pelo fato de que nela se
organizou um núcleo de norte-americanos em
missão. De tal forma que, no final do século 19,
o protestantismo estaria implantado no Brasil,
marcado por forte presença norte-americana.
Assim, o protestantismo de migração e o de mis-
são foram-se legitimando.

AS GUINADAS DO REAVIVAMENTO

O século 20 começa com uma evolução no


protestantismo tradicional, emergindo de suas
Igrejas movimentos revivalistas (de reavivamento
espiritual), que se caracterizavam pelo seu fervor
missionário (proselitismo), alegria, entusiasmo e
uma série de manifestações fundamentalistas.
Ganhar o mundo para Cristo e viver segundo o
Espírito Santo, seriam as insígnias da incipiente
proposta pentecostalista.

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O fenômeno pentecostal teve suas raízes no mo-


vimento metodista dos holiness (santidade), que
enfatizava o ideal cristão na conversão (os nas-
cidos de novo) e na santificação, num clima de
fervor, entusiasmo e êxtase. O seu surgimento
localiza-se nos EUA, em 1905, caracterizando-
se pela glossolalia (falar em línguas), a influên-
cia de vida no Espírito Santo e a clássica con-
versão pelo batismo no Espírito, sendo os sinais
externos de santidade (roupas e costumes reca-
tados) fundamentais para diferenciar-se de ou-
tros grupos. Os estudiosos coincidem ao afirmar
que, nos Estados Unidos, o pentecostalismo teve
uma maciça adesão da população pobre e mar-
ginalizada da sociedade, o que não será muito
diferente no Brasil.

A expansão pentecostal no Brasil pode ser clas-


sificada em três grandes movimentos: o primeiro
(1910-1950), inicia-se em Belém do Pará, com
a vinda da Igreja Assembléia de Deus e a Con-
gregação Cristã do Brasil. O segundo (1950-
70), coincide com a urbanização e formação
da sociedade de massa; a Igreja Quadrangular,
Brasil para Cristo e Deus é Amor estarão entre
os mais importantes. O último data dos anos 70,
coincidindo com o período da ditadura militar e
o da modernização das comunicações, sendo
a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja

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Neucir Valentim

da Casa da Benção e a Igreja Internacional da


Graça seus maiores expoentes.

A década de 60 foi o auge da renovação es-


piritual das Igrejas protestantes históricas e, ao
mesmo tempo, o período de mais cisões inter-
nas. Mas o pentecostalismo não atingiu só as
Igrejas protestantes tradicionais. Também teve
seu espaço na Igreja católica, com a emergên-
cia do Movimento de Renovação Carismática
Católica (RCC), após o Concílio Vaticano II
(1967). Inspirada nas manifestações corporais
e na proposta teológica de vida no Espírito, a
RCC nasce nos EUA e se expande por todo o
mundo, chegando no Brasil no final da década
de 60, através de dois sacerdotes jesuítas, que
desde Campinas (SP) articularam a expansão
do movimento pelo Brasil afora.

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Breve
Histórico dos
Congregacionais,
dos Movimentos
de Renovação
Espiritual
até a Síntese
Doutrinária

A Década de 1990 foi marcada em seu início


por um vento forte que soava aos quatro cantos
do país com o estabelecimento efetivo dos dons
carismáticos na UIECB.

Aquele movimento que começou na década


de 1960, agora eclodira e estava dando es-
paço a um novo movimento forte que iria mis-
tificar a visão do Evangelho no Brasil: o neo-
pentecostalismo nas demais igrejas de todas
as denominações.

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Nós Congregacionais, filiados à União de


Igrejas Evangélicas Congregacionais do Bra-
sil tínhamos tido alguns fortes embates acerca
dos dons carismáticos, sobretudo o dom de
línguas e de interpretação de línguas. (hou-
ve discussão acerca do jejum, também, e sua
contemporaneidade).

O resultado não fora bom. Dois grupos surgiram


na década de 60 desses confrontos. O primeiro
deles foi em Niterói, movimento que começou
na Primeira Igreja Evangélica e Congregacional
de Niterói, quando o pastor da igreja, na época,
Reverendo Odilon de Oliveira convidou o pas-
tor Manoel de Melo, do Brasil para Cristo, para
fazer uma série de cruzadas onde haviam mani-
festações de dons de cura, de línguas e outros
mais. A cidade parou, e os jornais da época,
publicavam repúdio dos pastores da cidade a tal
tipo de atividade.

Depois da passagem de Manoel de Melo, a 1ª


Igreja Evangélica e Congregacional de Niterói,
chamada pelos mais antigos de Igreja da Praia,
não foi mais a mesma. Pouco menos da me-
tade da igreja respirava ares “de Renovação
Espiritual” e a outra metade (um pouco maior)
resistia firmemente.

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Neucir Valentim

Duas igrejas se formaram dentro da mesma!.

O Reverendo Nilson Pinto Corrêa, sucedendo o


Reverendo Júlio Inácio Cardoso, tentou a conci-
liação do inconciliável, não teve outra escolha
ao excluir o grupo da chamada “Renovação Es-
piritual” algo que aconteceu também na igreja
Presbiteriana de Niterói, pouco tempo depois.
Enfim, se alastrara na igreja brasileira, o ardor
das novas experiências encontradas pelos ir-
mãos tradicionais em contato mais estreito com
os pentecostais. Não havia retorno e as posi-
ções eram muito distintas e aferradas.

A primeira reunião dos Congregacionais Reno-


vados ocorreu aos 23 de setembro de 1967, na
I.E.C. na Tijuca, e a segunda aos 30 de setem-
bro do mesmo ano, na I.E.C. em Campinho,
culminando por marcar a terceira para a eleição
da primeira diretoria.

Nesse movimento de busca pelo poder e mover


do Espírito Santo, os irmãos foram denomina-
dos, naquela época, OS CONGREGACIONAIS
DO REAVIVAMENTO.

Nesta seleta data reuniram-se para estudar e


dar forma a uma organização que unificasse
e orientasse as igrejas que haviam sido des-

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S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

pertadas pelo Espírito Santo na obra do rea-


vivamento.
Nascia assim o primeiro grupo oriundo da ques-
tão doutrinária referente aos dons carismáticos.
Aparece a possibilidade, através de carta en-
viada pelo Pastor Raul Costa (presidente desta
primeira divisão) Á “União de Forças” entre a já
existente “Aliança das Igrejas Evangélicas Con-
gregacionais do Brasil”, do nordeste com a, até
então chamada de Igrejas Evangélicas Congre-
gacionais do Reavivamento.

Aqui no Rio de Janeiro, o Pastor Elmir Lemos


propõe um nome provisório para unificar as
“Igrejas Evangélicas Congregacionais do Sul”:
“Diretoria Administrativa da Aliança das Igrejas
Evangélicas Congregacionais Independentes da
Guanabara e Estado do Rio de Janeiro” e, me-
diante votação, é aprovado o nome.

O segundo grupo ocorreu na ALIANÇA das


Igrejas do Nordeste, que saíram da UNIÃO
pelo mesmo motivo foi organizada por um
grupo de Pastores (Jônatas Ferreira Catão, Raul
de Souza Costa, José Quaresma de Mendon-
ça, Isaías Correia dos Santos, João Barbosa de
Lucena, Moisés Francisco de Melo e Geraldo
Batista dos Santos) que foi excluído da União
de Igrejas Evangélicas Congregacionais do

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Neucir Valentim

Brasil por questões de natureza teológica (Ba-


tismo com o Espírito Santo considerado uma
segunda bênção e as manifestações carismáti-
cas dos dons espirituais).

Essas cicatrizes deixaram marcas profundas e


durante bastante tempo, a UIECB e as Igrejas
Renovadas ou que aceitavam os dons carismáti-
cos se isolaram.

Com a nova onda e os novos ventos da déca-


da de 1980, agora soprando sobre a década
de 1990 impunha à UIECB uma nova postura,
onde muitos pastores, agora, já estavam ade-
rindo aos dons carismáticos de forma comple-
tamente pública, uma vez que existiam aqueles
que o faziam de forma discreta.

A 42ª Assembléia de Águas de Lindóia, SP em


1993 exigiu que se criassem fóruns Regionais e
Nacionais para se discutir o assunto e levá-lo ao
Plenário da Próxima Assembléia Geral.

Ali, na solicitação do fórum já se via que à incli-


nação dos Congregacionais da UIECB era pela
aceitação da Contemporaneidade dos dons ca-
rismáticos, excetuando-se o Batismo com o Espí-
rito Santo com evidências em línguas estranhas.

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S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Os anos de 1993 e 1994 foram de coopta-


ção para as decisões que ocorreriam na próxi-
ma Assembléia Geral em 1995. Os chamados
tradicionais tentavam resistir firmes, mas a he-
gemonia dos carismáticos era visível aos olhos,
bem como o proselitismo. Talvez estivessem res-
pondendo aos anos de chumbo que qualquer
que dissesse um “aleluia” ou um “glória a Deus”
mais alto era objeto de repressão.

Assim sendo a comissão Instituída para cuidar


da síntese dos fóruns apresentou seu relatório
com o seguinte preâmbulo: Dando cumprimen-
to à determinação da 43ª Assembléia Geral
realizada de 6 a 11 de fevereiro de 1995, em
Águas de Lindóia-SP, temos o prazer de apre-
sentar às igrejas da União das Igrejas Congre-
gacionais do Brasil (...) a síntese das resoluções
e posições ali manifestadas, acrescida das reco-
mendações práticas e posturas éticas, coloca-
das como conclusão.

Para lembrar esclarecemos quanto a este processo


de definição doutrinária da UIECB, em andamen-
to desde 1993, incluíram, sob o título de anexos,
a proposição para definição doutrinária seguido
de respostas das igrejas ao formulário para De-
finição Doutrinária e a resolução da 43ª Assem-
bléia Geral, que motivou o presente trabalho.

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Neucir Valentim

Comissão:
Rev. José Remígio Ferdandes Braga
Rev. Álvaro José Cortes da Trindade
Rev. Eliazi de Souza Xavier
Rev. Manoel Bernardino de Santana Filho
Rev. Vanderli Lima Carreiro

Houve certo atropelo nas votações, mas a am-


pla maioria queria mesmo uma abertura para
a aceitação dos dons carismáticos e do jejum.
Dessa forma temos a síntese, do elaborado tra-
balho dos fóruns de debate, Regionais e Nacio-
nais, bem como sua aprovação pela Assembléia
Geral de Águas de Lindóia, SP, em 1995.

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Neucir Valentim

1ª apresentação de 1995

Este trabalho que os irmãos têm ago-


ra em mãos é em obediência ás deter-
minações de nossa última Assembléia
Geral. Naquele conclave muitas deci-
sões, importantes para os destinos de
nossa denominação, foram tomadas.

Uma delas, talvez a de maior resso-


nância, foi a resposta das igrejas ás
questões levantadas pelo Forum, rea-
lizado no ano anterior. Estabelecido
o desejo da maioria de nossas igre-
jas, nomeou-se uma Comissão que tra-
balhou, com afinco, visando esclare-
cer, aos que tivessem dúvidas, aquilo
que a Assembléia determinou.

Este trabalho é fruto do trabalho da


Comissão. Queremos agradecer ao Se-
nhor pela disposição e pela dispo-
nibilidade de cada um dos seus inte-
grantes, que deu do seu tempo e do seu
dom, para que a tarefa pudesse ser
alcançada.

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S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Cremos que um novo tempo se abre para


nossa denominação. Um tempo em que
seremos enriquecidos pela comunhão
dos que pensam diferente, sem que as
doutrinas, as sãs doutrinas, norma-
tizadas pelos 28 Artigos, que também
fazem parte desta Síntese, sejam ar-
ranhadas. Como congregacionais, valo-
rizemos a cooperação no trabalho do
Senhor, nesta obra que nos é comum.
Em nosso ú ltimo encontro dos congre-
gacionais de todo o mundo, em outubro
de 1995, em Boston, EUA, um prega-
dor nos alertava quanto as diferen-
ças entre as atitudes de Paulo, quan-
do escreve no primeiro capítulo aos
Gálatas e quando escreve no primeiro
capitulo aos Filipenses. Aos Gálatas
ele fala de maldição, de anátemas. Aos
Filipenses, Paulo diz: "...que impor-
ta, se Cristo está sendo pregado".
Por que esta diferença? Aos Gálatas,
a questão era de doutrina, daí Paulo
ser duro, inflexível. Aos Filipenses,
o problema era de comportamento, daí
Paulo ser contemporizador. Nosso pro-
blema não é doutrinário, haja vista
o fato de que nenhum dos 28 Arti-
gos da Breve Exposição das Doutrínas
Fundamentais do Cristianismo ter sido
sequer arranhado. Nenhum deles, re-

28
Neucir Valentim

petimos. Se doutrinas não estão sen-


do molestadas, doutrinas que formam
o sustentáculo de nossa fé no Senhor
Jesus, nada impede que aprendamos com
quem pensa diferente de nós, naquilo
que podemos (e devemos) ser diferen-
tes. Basta uma dose, cristã, de to-
lerância e de ética, para que esta
convivência traga frutos para o mi-
nistério cada um de nós.

Sem abrir mão de uma base doutrinária


sólida, como a que temos hoje, ate
mesmo porque unidade é fruto da dou-
trina, queremos ser uma denominação
plural, no sentido de que, como igre-
jas diferentes, com realidades dife-
rentes, encravadas em locais diferen-
tes, temos que dar as razões de nossa
fé para diferentes aspectos sociais.
Não abrindo mão de nossos princípios
que nos foram legados pelos maiores
que vieram antes de nós, mas sabendo
que métodos mudam, deixemo-nos levar
pela verdade de que “a tolerância a
uma herança do congregacionalismo”.

Rev. Paulo Leite da Costa


Presidente da UIECB

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S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

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DONS DE
CURAR E
CURA DIVINA
“Cremos na contemporaneidade dos dons de
curar; tais dons são concedidos à Igreja hoje
pelo Espírito Santo, segundo a Sua Soberana
Vontade, sem limitação de tempo e definição
de circunstâncias, conf. 1 Coríntios 12:7-9”.

Nossa crença encontra os seguintes funda-


mentos:

– Argumentos a favor da contempo-


raneidade.

Não encontramos na Bíblia base para negar a


contemporaneidade dos dons de curar. Textos
considerados como apoio para afirmar a não
contemporaneidade de tais dons recebem outra
interpretação.

O fato de que Filipe também exerceu dons de


curar (At 8:4-7), sendo diácono e não fazen-
do parte do colégio apostólico, é prova de
que os dons foram dados por Deus não só

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S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

aos apóstolos, para credenciar ou autenticar


o ministério apostólico, enquanto se processa-
va a formação do cânon bíblico. Assim, não
encontramos em 1 Coríntios 13:8-13, apoio
para a negação da contemporaneidade dos
referidos dons ou de quaisquer outros dons
espirituais.

“o que é perfeito” (1 Co 13:10) não se refe-


re à conclusão do cânon bíblico, como alegam
aqueles que não acreditam na contemporanei-
dade dos dons, mas à Pessoa de Cristo e à Sua
volta, quando então Ele será visto “face a face”
(1 Co 13:12).

– Conceito dos dons de curar

Entendemos como dons de curar a capacitação


de caráter sobrenatural dada aos crentes em
Cristo, instrumentos de Deus, para, com auto-
ridade do Filho, e em nome dEle, ministrarem
a benção da cura de enfermos, como fizeram
servos de Deus no passado (2 Rs 5:1-14; 20:1-
11; At 3:1-10; 9:32-35).

– Orientações quanto ao exercício dos


dons de curar.

O exercício dos dons de curar deve obedecer

32
Neucir Valentim

às normas bíblicas e ao bom senso que deve


caracterizar os cristãos, conforme segue:

A origem das doenças deve ser levada em con-


ta. Podem ser oriundas: do pecado (Tg5:15); de
ação satânica (Mt 17:15, 18; Lc 11:14; 13:11-
13); de quebra de leis naturais (1 Tm 5:23); de
contaminação ambiental (Gn 3:17; Rm 8:22,
23); de intervenção divina, visando disciplinar
(1 Co 11:30) e de intervenção divina, visando
provação (Sl 119:71).

A afirmação de que toda doença tem origem


em um pecado determinado é falsa. O discer-
nimento acerca da origem da enfermidade é de
suma importância para aplicar o tratamento ao
enfermo. Se é pecado, o tratamento a aplicar
deve ser, antes de tudo, espiritual (por exemplo
– Miriam– Nm 12; os crentes de Corinto – 1 Co
11:30). Se a origem é quebra de leis naturais, o
tratamento deverá ser através de disciplina pes-
soal. Se é provação, deve-se estimular o enfer-
mo a permanecer firme na fé.

Não se aconselha a promoção de “cultos de


cura”, porque essa atividade não tem funda-
mento nem referência bíblica e tem servido,
muitas vezes, à prática do curandeirismo e co-
mércio da fé.

33
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

A Bíblia não traz definição quanto à liturgia ou


fórmula de atuação para o exercício dos dons
de curar. A atuação de Jesus e dos apóstolos é
diversificada quanto à forma, e deve ser con-
siderada nosso padrão (Mc 16:18; At 3:8; Mt
9:27-31; Jo 9:1-12; Tg 5:14, 15).

– Cura divina

Os congregacionais filiados à União das Igrejas


Evangélicas Congregacionais do Brasil creem
que Deus operou e ainda opera curas, sempre
mediante o Seu eterno propósito e soberana
vontade. Entretanto concordam, igualmente,
que Deus não instituiu um ministério específico
de cura divina para a Igreja. O Senhor cura em
resposta às orações a Ele dirigidas nesse sentido
(Tg 5:15-17). O serviço da Igreja é a pregação
do Evangelho. Ela deve deixar à mercê da so-
berana vontade do Pai a realização ou não de
curas, que podem acompanhar o ministério da
Palavra (Mc 16:15-20; At 4:29-31)

34
DOM DE
PROFECIA

“Cremos na contemporaneidade do dom de


profecia, que pode ser manifestado no senti-
do querigmático e preditivo.

Nossa crença encontra os seguintes fundamen-


tos:

– Conceito do dom de profecia.

Profetizar é a capacitação concedida pelo Es-


pírito Santo ao crente em Cristo para pregar a
Palavra de Deus (sentido querigmático), com o
propósito de edificar, confortar, exortar e condu-
zir ao arrependimento (1 Co 14:3, 4,21-25; At
15:32); e para predizer a respeito de entendi-
mentos futuros (Gn 49:1; Nm 24:14; At 11:27,
28 e 21:10, 11).

35
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

É impossível desassociar o aspecto preditivo do


termo profecia, quer no original hebraico (An-
tigoTestamento), quer no original grego (Novo
Testamento). Embora não haja o sentido em que
o termo é mais usado, não há como provar que
o dom, em um dos seus aspectos, cessou. Deve-
se, porém, observar que o maior uso do termo
profecia no Novo Testamento é com o signifi-
cado de proclamar a Palavra de Deus e não de
prognosticar.

O profeta, ao exercer do dom, deve estar de


plena posse de suas faculdades, sendo capaz
de se restringir (1Co 14:32-40). Isso implica em
que não há apoio bíblico para a ocorrência ne-
cessária de um estado de êxtase ou descontrole
emocional ao profetizar.

2.2 – A prática do dom da profecia.

A profecia, em seu conteúdo e seu método, não


pode contrariar os ensinamentos da Palavra de
Deus (1 Co 14:37, 38; Ef 2:20). Esse cuidado
evita os seguintes erros:

A aceitação de profecias que tem, pretensa-


mente, o objetivo de guiar homens e igrejas a
decisões, usurpando o lugar das Escrituras e le-
vando os crentes a abandonarem ou desvalori-

36
Neucir Valentim

zarem sua consciência cristã e sua capacidade


de raciocínio (Sl 32:9; Lc 12:57; 1 Co 14:59;
At 17:11).

A aceitação de profecias que tenham o objetivo


de ser fonte de “novas verdades” para a Igreja
e que podem ser introduzidas dissimuladamente
como doutrinas inovadoras (2 Pe 2:1-3; Gl 1:9;
Ap 22:18, 19).

– Julgamento da profecia e do profeta.

A Igreja neo-testamentária mostrou grande cuida-


do com o discernimento da profecia e julgamento
do profeta (1 Co 14:29). Há cinco testes, sugeri-
dos nas Escrituras, para se provar a profecia:

O caráter moral do profeta (Jr 23:14; Is 28:7;


Mt 7:17-20). O profeta procede de acordo com
a Palavra de Deus?

Natureza espiritual da profecia. A mensagem


desvia o povo de Deus? (Dt 12:1-3) A mensa-
gem tende a encobrir pecados? (Jr 28:8). Se es-
tas perguntas forem respondidas positivamente,
a profecia não passou no teste.

A autenticidade de sinais (Ex 7:9; 2 Rs 4:1-17).


Esses textos mostram que emissários de Satanás

37
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

também podem operar sinais e maravilhas;

Discernimento e julgamento do povo (1 Rs 22:7);

Cumprimento na história (Dt 18:21; 1 Rs 22:28).

38
DOM DE
VARIEDADE DE
LÍNGUAS

“Cremos na contemporaneidade do dom de


variedade de línguas, as quais podem ser de
natureza idiomática ou inteligível (estrangei-
ra) e ininteligível (estranha).

Nossa crença na contemporaneidade deste


dom tem o fundamento exposto abaixo e obe-
dece às orientações colocadas a seguir:

– Argumentos a favor da contemporanei-


dade.

Podem ser alinhados argumentos a favor da


contemporaneidade do dom de variedade de
línguas:

39
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Não é conclusiva a hermenêutica que se faz


de 1 Coríntios 13:8-13, declarando-se que o
dom, junto ao de “ciência” e ao de “profecia”
teriam natureza temporária; deixaram de ter
vigência em um determinado momento dentro
do período de atuação da Igreja. Se o propó-
sito primordial dos dons espirituais é o serviço
e a edificação da Igreja, enquanto esta cum-
pre seu ministério e necessita ser edificada, to-
dos os dons estão em vigência. No tempo que
convém, conforme apraza o Espírito, qualquer
dom pode ser concedido. A omissão do dom
de variedade de línguas nos versículos 9-13
pode ser entendida como um recurso estilísti-
co, igualmente usado por Paulo ao levantar as
hipóteses contidas nos versículos 1 a 3. Neles
Paulo omite vários dons, todos eles, porém, são
menos importantes que o amor.

Consequentemente, o verbo “pausontai” (1


Coríntios 13:8), traduzido por “cessarão” não
tem a alegada força para determinar que o
dom deixaria de ser concedido ainda dentro
do período apostólico. Leve-se em conta que
o propósito de Paulo, em 1Coríntios 13, não é
definir o tempo de vigência de qualquer dom
espiritual, e sim exaltar a dádiva do amor.

Os dons foram concedidos apenas para cor-

40
Neucir Valentim

roborar o ministério apostólico (mesmo os


chamados dons de sinais ou de efeito). Embo-
ra não apoiemos a ideia da continuidade do
ministério apostólico, que justifica a autorida-
de dos crentes de hoje para a realização de
sinais, não entendemos que os dons tenham
cessado com a morte dos apóstolos. Os sinais
que ocorrem hoje não podem ter o mesmo
caráter; isto é, não servem para confirmar a
Palavra revelada; contudo, o Senhor não está
impedido de os realizar, de acordo com Sua
Soberana vontade.

O encerramento do cânon bíblico também não


implica na cessação de qualquer dom. O que
é “perfeito” (1 Coríntios 13:10) pode ser enten-
dido como a volta de Jesus Cristo ou como o
estabelecimento do novo céu e da nova terra,
quando a Igreja terá concluído seu ministério,
não sendo necessária a manifestação de ne-
nhum dom.

- Conceito do dom de variedade de lín-


guas.

O dom de variedade de línguas é a capacitação


sobrenatural dada por Deus, mediante o Seu
Espírito, ao crente em Cristo, para falar em lín-
gua estrangeira não conhecida e anteriormen-

41
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

te não aprendida ou em uma língua estranha.


A narrativa de Atos 2 é o principal texto-base
para o dom de variedade de línguas de natureza
idiomática e o ensino de 1 Coríntios 12 a 14 a
principal base para a manifestação do dom em
línguas estranhas.

O dom de variedade de línguas, na condição


de dom, como os demais relacionados na Bí-
blia, é concedida pelo Espírito Santo, median-
te o Seu aprazimento e “segundo a graça que
nos foi dada” (1 Co 12:11; Rm12:6). Portan-
to, o referido dom não constitui sinal exclusivo
de um experiência marcante com o Espírito,
nem é exigido que todos os crentes em Cristo
o tenham. O apóstolo Paulo não indica, em
nenhum lugar, que a glossolalia é prova de
que o Espírito Santo foi recebido, tanto quanto
não afirma que os que exercem o dom possu-
am um nível mais elevado de vivência cristã.
Ao contrário, o apóstolo ensina que o referido
dom não é concedido a todos os crentes, nem
é um dos principais (1 Coríntios12:27-30).

– A prática do dom de variedade de lín-


guas

Em função dos exageros e desvios quanto a


este dom, precisam ser consideradas as orien-

42
Neucir Valentim

tações bíblicas para o seu exercício:

Não há sentido exercê-lo publicamente sem


que haja interpretação (1 Co14:13,28);

O número dos que exercem o dom no culto pú-


blico deve ser limitado a dois ou, quando muito
três (1 Co 14:27);

Os que falam em línguas devem fazê-lo suces-


sivamente; não há apoio bíblico para a fala si-
multânea em grupo (1 Co 14:27);

Deve-se considerar incoerente e sem apoio bí-


blico o procedimento de “aprender” a falar em
línguas, pois, se é dom, distribuído como apraz
ao Espírito Santo, não pode ser aprendido (1
Co 12:11);

A manifestação do dom não exige um estado


de êxtase. Quando são narradas as experiên-
cias de falar em línguas na Bíblia, não se de-
clara que ocorreram em estado de descontrole
mental ou emocional (At 2:10,19);

Admite-se que o dom sirva para edificação


pessoal, embora isso vá de encontro ao propó-
sito geral dos dons, que é edificar o Corpo – a
Igreja;

43
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Ao ser exercido o dom, a Igreja deve julgar o


conteúdo da fala, usando o dom de discerni-
mento (1 Co 14:29).

44
UMA
REFLEXÃO
SOBRE O DOM
DE LÍNGUAS
Durante muito tempo, o dom de línguas se tor-
nou alvo de muitas controvérsias, e por isso,
muitas igrejas se dividiram, muitos irmãos que
se amavam, ficaram em lados opostos e muita
rivalidade se estabeleceu na tentativa de pro-
var-se ou não a evidência do referido dom nas
Escrituras. Em nome disso, temos na história re-
cente de nossas igrejas, sobretudo na década
de 60, um grande número de igrejas divididas e
muitas sequelas abertas, que graças a Deus já
estão cicatrizando.

Se de um lado havia os conservadores que di-


ziam que o dom de línguas havia passado, e
usavam textos mal interpretados para apoiar tal
ideia, do outro lado existiam os que davam uma
ênfase incomensurada a um dom que Paulo lis-
tou como um dos menores I Co 14:5, e que
não deveria compor a liturgia do culto. Mesmo
havendo erros dos dois lados, poucos foram os
que abriram a carta aos Coríntios sem paixão,

45
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

para ver o que de fato a Bíblia falava sobre o


assunto. Vejamos, resumidamente, mas de for-
ma objetiva o que a carta fala: Em I Co 13:8,
10. Paulo diz: “O amor jamais acaba; mas,
havendo profecias, desaparecerão; ha-
vendo línguas, cessarão; havendo ciên-
cia, passará; Quando, porém, vier o que
é perfeito, então, o que é em parte será
aniquilado...” Estes versículos, usados pelos
que afirmavam que o dom de línguas havia pas-
sado, era usado com uma péssima exegese,
posto que a rigor Paulo estava falando que
os dons cessariam sim, mas por ocasião da vin-
da do que é Perfeito, isto é da manifestação do
Senhor Jesus em glória, e nesse caso, o dom
de línguas, o de profecias, bem como a ne-
cessidade da existência da ciência deixaria de
existir, o que é óbvio. Ocorre que, Jesus ainda
não voltou, e qualquer pessoa pode perceber
que nem a ciência (do grego gnósis gnwsiV -
conhecimento), teológica ou secular passaram,
como prova inconteste da contemporaneidade
destas três coisas. Cabe, todavia, colocar o re-
ferido dom em seu devido lugar, e termos a co-
ragem de falar da sua existência, não obstante
revelar os abusos e mau uso do referido carisma
(carismaV), dentro da visão bíblica.

Em primeiro lugar, o dom de línguas não é evi-

46
Neucir Valentim

dência do chamado “Batismo com o Espírito


Santo” como afirmam alguns, posto que, Pau-
lo afirma textualmente que todos os crentes são
batizados no Espírito Santo e ao mesmo tempo
nem todos os batizados falam em línguas, o
que claramente se vê em I Co 12,13: “Pois,
em um só Espírito, todos nós fomos ba-
tizados em um corpo, quer judeus, quer
gregos, quer escravos, quer livres. E a
todos nós foi dado beber de um só Es-
pírito.” 1 Co 12:30: “Têm todos dons de
curar? Falam todos em outras línguas?
Interpretam-nas todos? Ele está falando
àquela comunidade batizada no Espírito (veja o
contexto do capítulo 12).

Em segundo lugar, o dom de línguas não deve


ser usado publicamente, pois não acrescenta ou
edifica a ninguém senão aquele que o tem: I
Co 14:2: “Pois quem fala em outra língua não
fala a homens, senão a Deus, visto que
ninguém o entende, e em espírito fala
mistérios. Veja, portanto, o que Paulo diz: a)
Não fala a homens, fala somente a Deus;
b) ninguém o entende 3) Fala em mis-
térios. O vocábulo que Paulo usa para mistério
do grego mistéria (musthria) - significa tudo
aquilo que a inteligência humana é incapaz de
explicar ou compreender; enigma. Em I Co 14:4

47
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

o apóstolo volta a falar da inutilidade coletiva do


dom “O que fala em outra língua a si mesmo
se edifica, mas o que profetiza edifica a igre-
ja.” Isto é, quando se profetiza, declara-se os
desígnios de Deus, todos entendem, mas quan-
do se fala em línguas existe uma nulidade de
entendimento, e só edifica aquele que o fala,
através de sua experiência místico-pessoal. No
versículo seis do mesmo capítulo, Paulo dá mais
ênfase a inutilidade do falar em línguas publi-
camente: “Agora, porém, irmãos, se eu for ter
convosco falando em outras línguas, em que
vos aproveitarei, se vos não falar por meio
de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou
de doutrina?”

Ora, a didática de Paulo é clara:


1. Quando eu estiver numa coletividade, devo
trazer conhecimento revelado, a profecia,
que não necessariamente significa revela-
ção de coisas futuras, mas a declaração
dos desígnios de Deus (como Moisés o fez,
ao escrever as Leis, e foi chamado de pro-
feta Ex 34:10).
2. Devo trazer doutrina. Ora a doutrina é o
conjunto sistemático do ensino bíblico. Caso
não façamos estas, nada será proveitoso, é
o que Paulo fala. E depois de tecer comen-
tário acerca de instrumentos que não tocam

48
Neucir Valentim

notas certas, e não compõe uma música,


com melodia, harmonia e ritmo, ou mesmo
não produzindo um sonido claro, como era
o da trombeta para a batalha, I Co 14: 7 a
8, o apóstolo sentencia: ”Assim, vós, se,
com a língua, não disserdes palavra
compreensível?” (do grego eushmoV -
eusemos – algo bem entendido, claro e
definido, distinto), como se entenderá
o que dizeis? Porque estareis como
se falásseis ao ar.”ou seja, serão pala-
vras perdidas no vento! Logo a seguir Paulo
continua em sua orientação clara e linear
sobre o assunto: I Co 14:10 e 11” Há,
sem dúvida, muitos tipos de vozes no
mundo; nenhum deles, contudo, sem
sentido Se eu, pois, ignorar a signifi-
cação da voz, serei estrangeiro para
aquele que fala; e ele, estrangeiro
para mim.”

O que ele está dizendo, portanto é que nenhu-


ma fala deve ser incompreensível, pois seria inú-
til, como se, por exemplo, gastássemos um bom
tempo conversando com um chinês, ele, falan-
do mandarim e nós, em português, sem que
nenhum de nós conhecesse a língua do outro.
Seria uma grande tolice e uma perda incomen-
surável de tempo. (aqui a coisa se complicaria

49
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

ainda mais posto a característica de ininteligi-


bidade de línguas estranhas e não estrangeiras
(dialetos ou idiomas). No versículo 14 do mes-
mo capítulo, Paulo completa: “Porque, se eu
orar em outra língua, o meu espírito ora de fato,
mas a minha mente fica infrutífera” (do
grego akarpoV - akarpos - estéril, não produ-
zindo o que deve se produzir). Ele está dizendo
que essa experiência pode acrescentar algo ao
espírito, mas a própria mente de quem fala fica
completamente nula. Então Paulo conclui sua
idéia nos versículos seguintes: 1 Co 14:15 a 17:
“Que farei, pois? Orarei com o espírito,
mas também orarei com a mente; can-
tarei com o espírito, mas também can-
tarei com a mente. E, se tu bendisseres
apenas em espírito, como dirá o indouto
o amém depois da tua ação de graças?
Visto que não entende o que dizes; por-
que tu, de fato, dás bem as graças, mas
o outro não é edificado.” Nada mais claro.
Este dom não é público, e sim de caráter pesso-
al, íntimo, como se vê em Rm 8:26 “Do mesmo
modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza;
porque não sabemos o que havemos de pedir
como convém, mas o Espírito mesmo intercede
por nós com gemidos inexprimíveis.” (o
que não se pode dar a conhecer, revelar, mani-
festar, exprimir).”

50
Neucir Valentim

É desnecessário dizer também, que não é um


dom para publicidade, e é até prejudicial ao
culto público: I Co 14:23: “Se, pois, toda a igre-
ja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem
a falar em outras línguas, no caso de entrarem
indoutos ou incrédulos, não dirão, porven-
tura, que estais loucos?”

Paulo então conclui de forma enfática e bem


clara: 1 Co 14: 18 e 19: “Dou graças a Deus,
porque falo em outras línguas mais do que to-
dos vós.(o vocábulo usado por Paulo aqui para
línguas é glossa (glossa) e não dialektos (dia−
lektoV) conforme registrado em Atos 2:3 e 4
onde todos entendiam o que era falado). Em
Coríntios, diferente do fenômeno de Atos dos
Apóstolos, é língua extática posto a sua pecu-
liaridade de ser falada em mistério). “Contudo,
prefiro falar na igreja cinco palavras com o
meu entendimento, para instruir outros, a fa-
lar dez mil palavras em outra língua.”

Observe que apóstolo então nos diz clara-


mente: “prefiro falar cinco palavras com
meu entendimento...” poderíamos dizer, sem
errar, que um versículo bíblico falado num culto
público, ou mesmo a letra de um cântico inspi-
rado, que contenham cinco palavras inteligíveis,

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S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

são mais importantes na liturgia do culto do que


dez mil em outras línguas. É Paulo quem o diz!

Recapitulando: O dom de línguas é contempo-


râneo, isto é, não acabou. A Bíblia não dá mar-
gem para afirmação em contrário. O seu obje-
tivo é a edificação pessoal e puramente íntima,
não edifica a outros, quem fala em línguas, fala
somente a Deus e não a homens; posto que nin-
guém o entende. O que fala fica inclusive com
a mente nula. Portanto não se trata de língua
estrangeira, devido as suas características pecu-
liares pois se fala em mistério. Seu objetivo não
é a comunicação com a comunidade ou com
os homens, mas a transmissão de realidades es-
pirituais do espírito humano para o Espírito de
Deus e a comunhão espiritual pessoal: Rm 8:27
“E aquele que esquadrinha os corações
sabe qual é a intenção do Espírito: que
ele, segundo a vontade de Deus, inter-
cede pelos santos.”

Diante disso, entendemos como Paulo: “A res-


peito dos dons espirituais, não quero, ir-
mãos, que sejais ignorantes.” I Co 12:1,
mas exorto-vos a lidar com os dons de forma
sábia, compreendendo os seus valores e aplica-
ções e sobretudo, como disse o apóstolo, como
prefácio do belo capítulo 13 que fala o dom

52
Neucir Valentim

maior: “Entretanto, procurai, com zelo, os


melhores dons. E eu passo a mostrar-vos
ainda um caminho sobremodo excelen-
te... I Co 12:31 e 13:1 a 13.

Sejamos crentes maduros, menos emocionais,


menos parciais e sobretudo, mais humildes! O
dom é de Deus e Ele age como quer e o dar a
quem quer, para o perfeito funcionamento de
sua obra, dentro de suas próprias normas. Ele é
Deus! E nós, apenas servos!

Algumas pessoas perguntam: mas se a língua


que se fala é um mistério, porque Deus então
a dá? Primeiro, porque edifica individualmente,
segundo, porque Deus assim quis fazer em sua
soberania e não nos compete questionar os seus
métodos, como Paulo diz em Rm 11:34, 35.

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S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

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S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A
Pontos de Vista Evangélico Acerca das “Línguas”
CATEGORIA TRADICIONAL PENTECOSTAL CARISMÁTICO
As línguas de Atos são línguas huma- As línguas de Atos são línguas hu- As línguas de Atos são línguas hu-
Natureza das nas, ao passo que as línguas de 1 Corín- manas, ao passo que as línguas de 1 manas, ao passo que as línguas de 1
Línguas tios são celestiais ou angélicas, ou ex- Coríntios são celestiais ou angélicas. Coríntios são celestiais ou angélicas.
pressões de êxtase.
Glossolália é orar a Deus em uma língua As línguas podem ser orações a As línguas podem ser orações a
que não se estudou. Deus ou podem ser a maneira pela Deus ou podem ser a maneira pela
Alguns acreditam que os relatos do Novo qual Deus fala ao seu povo, sendo qual Deus fala ao seu povo, sendo
Conteúdo Testamento acerca de “línguas” referem-se a equivalente à profecia, caso seja in- equivalente à profecia, caso haja in-
uma língua conhecida que é dirigida a Deus terpretada. terpretação.

55
das Línguas
em louvor e ação de graças, nunca se preten-
de que as línguas sejam equivalentes à profe-
cia no sentido de serem dirigidas a pessoas.

Os dispensacionalistas creem que as lín- As línguas não somente significam Nem todos os cristãos falam em
guas tiveram um valor limitado na igreja a presença e o poder do Espírito, mas línguas, e o Espírito está presente
primitiva, para demonstrar como Deus fez também dão a capacidade de falar em todo cristão, mas o cristão rece-
Necessidade a transição de Israel para a igreja. A maior a Deus por meio do Espírito sobre be um poder especial pela liberação
das Línguas parte deles concorda que elas também questões que a mente não é capaz de do poder do Espírito através das lín-
eram usadas para edificar a igreja quando expressar. O dom de línguas também guas, que são concedidas a alguns
acompanhadas pelo dom de interpretação é concedido a alguns cristãos para cristãos para transmitir a vontade de
de línguas. Hoje elas não são necessárias. transmitir a vontade de Deus. Deus à igreja, para a sua edificação.
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A
Pontos de Vista Acerca das “Línguas” (continuação)

CATEGORIA TRADICIONAL PENTECOSTAL CARISMÁTICO


O propósito primordial das línguas foi As línguas são a evidência inicial e As línguas são um indício (mas não
demonstrar a transição da nação de Israel necessárias de que alguém recebeu o o único) de que alguém possui a ple-
para as nações de todo mundo. Elas não Espírito ou a capacitação do Espírito nitude do Espírito de Deus. Todos
são um indício normativo de que alguém por meio do batismo do Espírio San- os critãos têm o Espírito a partir da
recebeu o Espírito de Deus ou um segundo to. Além disso, elas são usadas pelo conversão, mas a plenitude ocorre
batismo do (ou no) Espírito. crente cheio do Espírito para orar quando se deixa que Deus assuma o
Propósito com mais eficácia. Os pentecostais controle da vida. Essa não é a segun-
das Línguas divergem quanto a se a pessoa rece- da bênção, mas o reconhecimento
be o Espírito de Deus no momento da do poder de Deus. As línguas ajudam

56
conversão ou somente com o batis- a pessoa a orar no Espírito.
mo do Espírito.

As línguas cessaram após a conclusão do As línguas têm persistido ao longo As línguas têm persistido ao longo
Novo Testamento. Hoje não existe nenhu- dos séculos, reaparecendo em vários dos séculos, reaparecendo em vários
ma evidência fidedigna do dom miraculoso períodos da história da igreja em que períodos da história da igreja em que
Duração das de falar línguas estranhas. tem ocorrido um desejo mais forte de tem ocorrido um desejo mais forte
Línguas espiritualidade. de espiritualidade.
Síntese dos Dons Espirituais
DOM DESCRIÇÃO RESULTADO EXEMPLO
Falar Entender Timóteo - 1
Profecia verdades mistérios Tm 4.14
profecia Rm diretamente
reveladas 1 Co 13.2 Filhas de
12.6 1 Co
por Deus. Filipe - At
14.29-32
21.8-9
Ajudar ou- Servir a Onesíforo 2
tros a fazer igreja e os Tm 1.16
Serviço,
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

a obra de
Socorro Deus. Dar necessitados
profecia assistência At 6.1
prática aos
Rm 12.7 membros da
igreja.
Comunicar Entender a Priscila e
Ensino as verdades Palavra de Áquila - At.
e aplicações
Ensino das Escritu- Deus 18.26
Rm 12.7 ras. At 18.26 Apolo - At
1 Co 12.28 18.27-28
Ef 4.11 Paulo - At
18.11
Instar Encoraja- Barnabé At
Exortação alguém a mento 4.36
(encorajamento) ter uma
conduta At 9.27
Exortação apropriada
Rm 12.8 ou consolar.

Dar dos Satisfazer Dorcas


bens e pos- necessidades At 9.36
Contribuição ses à obra
de Deus físicas
contribuição
com alegria At 9.36
Rm 12.8 e liberalida-
de.
Organizar e Ordem Tito
Liderança administrar Tt 1.5 Tt 1.5
Liderança a obra do
Rm 12.8 ministério.

57
Síntese dos Dons Espirituais (continuação)

DOM DESCRIÇÃO RESULTADO EXEMPLO

Exercer Prestar auxílio simpatia, Barnabé


Misericórdia imerecido a compaixão Atos
outros.
misericórdia aos que não 9.27
Rm 12.8 merecem
Ser testemunha Apresenta Paulo -
Apostolado ocular do Cristo os preceitos Gl 1.1
ressurreto e
profecia falar com autori- de Deus Pedro -
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

1 Co 12.28 dade sobre fé e para a igreja 1 Pe 1.1


Ef 4.11 prática. 1 Co 14.37

Apresentar o Entendi- Filipe


evangelho com mento do At 21.8
Evangelismo clareza, sentin-
Ensino do responsa- Evangelho
Ef. 4.11 bilidade pelos
não-salvos.

Pastor/Mestre Pastorear e ensi- Cuidado e Paulo


Exortação nar a igreja. instrução na 1 Ts 2.7-
Rm 12.7; piedade At 12
Ef 4.11 20.28-31
Discernir e apre- Capacidade João
sentar a verdade de apreen- 1 Jo
Palavra da de Deus.
Sabedoria Aplicar a Palavra der e aplicar 1.1-3
contribuição ou sabedoria de a revelação
Deus as situa- dada
1 Co 12.8 ções específicas.

Entender e A verdade Paulo


expor sabedo- entendida Cl 2.2-3
Palavra do ria da parte de
em seu
Conhecimento Deus
Revelação de sentido
Liderança Deus sobre pes- espiritual 1
1 Co 12.8 soas, circunstân-
cias ou verdades Co 2.6-12
bíblicas.

58
Síntese dos Dons Espirituais (continuação)

DOM DESCRIÇÃO RESULTADO EXEMPLO


Confiar Realização de Estêvão
em Deus grandes tarefas Atos 6.5
Fé implici-
fé tamente
1 Co 12.9 para reali-
zar feitos
incomuns.
Ser capaz Curas completas Pedro e
de curar
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

At 3.6-7 João - At
Cura enfermida-
des. 3.6-7
profecia
Pau-
1 Co 12.9
lo - At
20.9-12
Milagres Ser capaz As pessoas Paulo At
de realizar temem a Deus At 13.8-11
Ensino obras de
1 Co 12.10 poder. 5.9-11
Identificar Desmascarar os Crentes
Discernimento o poder falsos profetas 1 de
pelo qual
Exortação um mestre Jo 4.1 Corinto
1 Co 12.10 ou profeta 1 Co
fala. 14.29
Falar Louvor a Deus Os discí-
em uma entedido pelas pulos
língua não pessoas que
entendida
por aquele conhecem a língua
Línguas que fala. falada (At 2.1-12)
contribuição Ação de graças a
1 Co 12.10 Deus que pode ser
entendida se al-
guém interpretar
a língua falada (1
Co 14.5, 16,27-28)

Interpretação Tornar as Confirmação da


“línguas” língua estrangei-
Liderança inteligíveis.
1 Co 12.10 ra 1Co 14.27-28

59
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

60
Visões ou
Revelações

“Cremos que visões ou revelações ainda


ocorrem hoje”.

Nossa aceitação da ocorrência das visões ou


revelações na atualidade está baseada nos fun-
damentos abaixo expostos e seguem as orienta-
ções infra-relacionadas:

- Definições

Visão ou revelação é um modo de Deus se co-


municar com o homem, tendo como objetivo
propor uma orientação pessoal, imediata, es-
clarecer, mostrar ou descobrir a Sua vontade
(Gn 15:1; Nm 22:2; At 10: 9-16; 16:9,10).

61
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

— Visão ou revelação e Palavra de Deus.

Nenhuma visão ou revelação contemporânea


possui a mesma qualidade e valor da Revelação
expressa nas Sagradas Escrituras, insubstituível
e imutável (Ap 22:18,19). A devida importância
da visão não está em si mesma, nas circunstân-
cias que a envolvem ou no seu caráter fantás-
tico, mas na mensagem que ela transmite, que
sempre precisa encontrar coerência com a Pala-
vra escrita.

— Advertências quanto ao perigo e exa-


geros em relação a visões e revelações:

Se não houver conhecimento bíblico e discerni-


mento quanto ao valor prático da visão ou re-
velação no presente contexto histórico, corre-se
o risco de ocorrerem desvios, além de dissensão
na Igreja. Por este motivo, devem ser seguidas
as orientações abaixo:

Não é necessário que haja um estado de espí-


rito definido para ocorrerem visões. Elas podem
acontecer:

Em momentos despertos – Dn 10:7; At 9:7;

Durante o dia (At 10:3,9-16; Nm 24:4-16);

62
Neucir Valentim

Durante a noite (Gn 46:2);

Durante o sono (Nm 12:6; Dn 4:9).

As revelações ou visões devem estar sujeitas à


mesma disciplina da profecia, isto é, devem ser
julgadas, pois podem ser simplesmente fruto de
mente natural ou carnal (Jr 23:16; Cl 2:18,19).
Na questão do misticismo da fé o ruído que
pensamos vir do Senhor, não pode ter origem
nele (1 Rs 19).

Visões ou revelações nunca devem ser usa-


das como meio promocional ou de “auto-
afirmação”;

Visões ou revelações não podem ser entendidas


como a forma mais eficiente de Deus indicar a
Sua vontade e orientar o Seu povo. A Bíblia é
a fonte de descobertas da vontade do Senhor
e a bússola precisa dirigir os santos. Além des-
se instrumento útil (2 Tm 3:16,17), o povo de
Deus desfruta da ação do Espírito Santo em sua
vida, aclarando a Palavra ao espírito humano e
guiando-o a toda verdade (Jo 16:13)

63
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

64
Unção com óleo

“Cremos que a unção


com óleo sobre enfermos,
como símbolo do poder
curador de Deus, pode
também ser praticada na
presente época da Igreja”.

Nossa crença encontra os seguintes


fundamentos:

– Conceitos

A Bíblia menciona três tipos de unção:

Unção Espiritual, realizada pelo Espírito


Santo sobre Jesus e sobre os crentes, e que
substitui qualquer unção com óleo que re-
presente consagração (Lc 4:18, At 4:27;Hb
1:9; 1 Jo 2:20,27, 1 Co 1:21). Esta unção
é de caráter permanente.

Unção com óleo literal, que é a aplicação de


óleo ou unguento aromático com o objetivo de
65
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

conservar, limpar, curar, perfumar e embelezar


(Ez 16:9, 2 Sm 14:2, Rt 3:3; Is 1:6; Mt 6:17; Mc
6:13; Lc 7:38; 10:34; Mc 14:8; Ap 3:18).

A unção com óleo é simbólica, que é a aplicação


de óleo sobre pessoas, animais e objetos, com
o fim de consagrá-los (Ex 29:7; 40:15; 1 Sm
9:16; 10:1; 1 Rs 1:39; Ex29:36; 30:26; 40:9;
Lv 8:10; Nm 7:1). Esta unção, que também se
pode designar de cerimonial, não tem sentido
ser hoje praticada, porque era prescrição da Lei
Mosaica, e só se fazia com o “óleo da unção”
(cf Ex 30:22-33), não sendo, por isso, recomen-
dada em nenhuma parte do Novo Testamento.

A unção com óleo sobre enfermos é também


simbólica, mas não simboliza consagração, e
sim o poder curador de Deus. A prática desta
unção se encontra mencionada em dois textos
do Novo Testamento: Mc 6:13 e Tg 5:14, 15.

– Orientações para a prática

À luz das Escrituras e diante dos conceitos aci-


ma emitidos, deve-se seguir as seguintes orien-
tações na prática da unção sobre enfermos:

66
Neucir Valentim

O óleo não tem, em si mesmo, poder curador (o


poder é de Deus, que opera através da oração
da fé, conforme Tiago 5:14,15);

Não há obrigatoriedade de se ungir com óleo


todos os enfermos pelos quais se intercede;

O ato da unção com óleo sobre os enfermos


deve ser restrito a pastores e presbíteros, com
base em Tiago 5:14,15;

A unção simbólica sobre animais e objetos era


uma prática relativa à Lei Mosaica em seu cará-
ter cerimonial, não determinada pelo Novo Tes-
tamento, e que, por isso, não é recomendável
aos cristãos.

Não é procedente a expressão “óleo ungido”;

Deve-se cuidar para que o óleo não venha


a se tornar um elemento mediador da fé. A
crença não pode ter como objeto, o óleo e
sim, o Senhor.

67
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

68
Quebra de
maldição
“Cremos que o sacrifício de Cristo, realizado
na cruz do Calvário, é suficientemente eficaz
para livrar o homem que nEle crê de qual-
quer maldição que lhe tenha sido imposta por
Deus, em conseqüência da sua desobediência
e, portanto, é desnecessária qualquer palavra
ou ritual para quebrar maldições”.

Esta confissão tem os seguintes fundamentos:

– Conceito e origem da maldição

Maldição é uma conseqüência da quebra da Lei


de Deus. A maldição se originou no pecado (de-
sobediência e rebeldia contra Deus), enquanto
que a benção se origina da obediência ao Se-
nhor (Dt 11:26-32). Deus amaldiçoa o pecador,
tanto quanto abençoa o penitente. A maldição

69
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

divina não possui o sentido místico e supersticio-


so que os pagãos lhe atribuíam. Criam que mal-
dição era uma entidade espiritual em si mesma
que, uma vez proferida por um homem, aciona-
va o poder dos deuses ou forças ocultas para
executarem o mal desejado contra o próximo
(por exemplo, 1 Sm 17:43). Este conceito pre-
valece hoje nas religiões de magia. Os crentes
em Cristo crêem que a benção e maldição rela-
cionam-se aos conceitos de obediência e deso-
bediência ao Senhor (Dt 27 e 28; Ml 3:8-12) ou
aos conceitos de aceitar ou rejeitar o Evangelho
de Cristo (Gl 1:6-9; 3:10-13).

– A maldição já quebrada

Os crentes em Cristo não devem temer nem pre-


ocupar-se com maldições (Rm 8:1); porque to-
dos estamos libertos da maldição imposta pela
Lei (Gl 3:13); e a mais terrível das maldições, a
morte (Gn 2:17), perdeu o seu poder (Rm 8:33-
39; 1 Co 15:53-57).

– A maldição hereditária

A chamada “maldição hereditária”, que consis-


te em acreditar que os pecados, alianças e pa-
drões estabelecidos pelos antepassados podem
acarretar maldição sobre os descendentes até à

70
Neucir Valentim

terceira e quarta geração, com base em Êxodo


20:5,6 e Deuteronômio 5:9,10, deve ser doutri-
na rejeitada pelas seguintes razões:

Quem amaldiçoa é Deus, por desobediência a


Ele. Ele é quem age, visitando a maldade dos
pais nos filhos que continuam praticando os
mesmos pecados. Os crentes precisam e podem
crer que nenhum débito existe acumulado con-
tra eles, a partir do momento em que se apro-
priam da vitória de Cristo na cruz (Cl 2:14,15)

Ao acreditar que as maldições familiares se


transmitem automaticamente, ter-se-ia de con-
siderar que as bênçãos também sejama uto-
maticamente transmitidas (Ex 20:6). Afirmar-se
que uma aliança demoníaca dos pais “amar-
ra” os filhos, implicaria em acreditar-se que a
fé possuída pelos pais também salva os filhos
automaticamente. Em Exodo 20:5,6 se trata
apenas do desdobramento tanto do pecado da
desobediência quanto da obediência na vida
dos descendentes.

A responsabilidade humana é individual. Os


maus feitos dos pais não passam para os filhos,
nem a justiça daqueles repercute automatica-
mente nestes (Rm 14:12; Ez 18).

71
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

– A maldição de nomes

Não há fundamento para a crença de que no-


mes carregam em si maldições, e que, por isso,
nomes de pessoas e lugares precisam ser mu-
dados se estão relacionados ou têm origem em
nomes de santos e divindades do mal. As provas
da inconseqüência desta crença podem-se dar
mediante a consideração de nomes de persona-
gens bíblicos:

Daniel e seus amigos receberam nomes de deu-


ses pagãos, contudo continuaram fiéis ao Deus
verdadeiro (Dn 1:7).

A genealogia de Jesus inclui nomes outrora


comprometidos com pecados e com uma he-
rança estranha à relação entre Deus e Israel,
e isso não comprometeu a santidade do Filho
de Deus, nem lhe acarretou qualquer maldição
(Mt 1:3,5,6).

– Os ritos para a quebra de maldição

Os ritos para a quebra de maldição, realizados


pelos que adotam tal prática, são condenáveis
por duas razões:

Incluem súplica de perdão dos pecados dos an-

72
tepassados, o que se assemelha à oração em
favor dos mortos.

Contrariam o bom senso, pois não há como


lembrar os pecados dos antepassados todos,
por que as árvores genealógicas sobem em pro-
gressão geométrica.

– Benção ou maldição proferida por ho-


mens

Os homens que proferiram benção ou maldi-


ção, segundo a narração bíblica, o fizeram por
delegação específica de Deus, servindo apenas
como canais da benção ou maldição vinda dEle
(Gn 9:20-29;12:1-132). As maldições a que
se refere o Antigo Testamento estavam ligadas
àquela antiga aliança, e não devem ser aplica-
das à nova. Vê-se que no Novo Testamento os
crentes em Cristo recebem a recomendação de
não amaldiçoarem (Tg 3:1-12), porque a mal-
dição que não é imposta por Deus nasce da có-
lera e da amargura humana, com o objetivo de
humilhar, desprezar ou execrar a pessoa a quem
é dirigida e traz prejuízos àquele que a profere.
A preocupação do Senhor, mostrada nas Escri-
turas, não está no fato de a maldição proferida
por homens realizar-se ou não, mas na reação
carnal das pessoas que desencadearam a von-

73
tade de destruir, prejudicar e atingir com o mal
a outras pessoas.

74
UMA BREVE
REFLEXÃO SOBRE
MALDIÇÕES
HEREDITÁRIAS...

O que é maldição? Vejamos:

1) Dicionário Aurélio: “Ato ou efeito de


amaldiçoar ou maldizer”. Maldizer: “prague-
jar contra; amaldiçoar”. Maldito: “Diz-se da-
quele ou daquilo a que se lançou maldição”.
2) Dicionário Teológico: “Praga que se ar-
roga a alguém. Locuções previamente for-
madas encerrando desgraças e insucessos”.
3) Bíblia Online: “Chamamento de mal, sofri-
mento ou desgraça sobre alguém (Gn 27.12;
Rm 3.14). Os que quebram a Lei estão debaixo
de maldição. Cristo nos salvou dessa maldição,
fazendo-se maldição por nós (Gl 3.10-13)”.

Difícil é conciliar a “Teologia da Maldição Here-


ditária” com a Palavra.

75
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Os que defendem a existência de crentes amal-


diçoados por maldições provindas de antepas-
sados admitem que seja possível estarmos de
posse de uma herança maldita, por nós desco-
nhecida, e difícil de ser detectada no tempo e no
espaço. O remédio seria QUEBRAR, ANULAR,
AMARRAR, REPREENDER essa maldição. Feito
isso, o crente ou não crente estaria leve, liberto
e livre de todo peso. Nem ele nem os seus des-
cendentes sofreriam mais os danos desse mal.

A maldição hereditária – segundo os que a de-


fendem – surge em decorrência de um trabalho
de feitiçaria ou de qualquer outra ação malig-
na lançada contra outra pessoa (a vítima). Uma
pessoa em sofrimento pode ter sido consagra-
da, antes ou depois do seu nascimento, às en-
tidades demoníacas. Uma palavra má pode ter
sido lançada sobre a vida de uma família, que
nunca prosperará e será vítima de enfermida-
des e angústias.

As pessoas sem temor a Deus, sem vida em


Cristo, sem vida no altar, estão sujeitas a pro-
blemas muito maiores do que esses, pois estão
condenadas à morte eterna. Sem Cristo a mal-
dição nunca acaba. Vejamos quais as promes-
sas para os que aceitarem a salvação que há
em Cristo Jesus:

76
Neucir Valentim

“Portanto, agora nenhuma condenação há


para os que estão em Cristo Jesus, que não an-
dam segundo a carne, mas segundo o Espírito”
(Romanos 8.1). Poderia ocorrer o caso de os
salvos em Cristo carregarem, ainda, maldições
herdadas?

“Portanto, se alguém está em Cristo, nova cria-


tura é; as coisas velhas já passaram, tudo se fez
novo” (2 Coríntios 5.17). Ocorreria uma situ-
ação em que o NOVO carrega, ainda, coisas
velhas?

“Em verdade, em verdade vos digo que quem


ouve a minha palavra e crê naquele que me en-
viou, tem a vida eterna, e não entrará em con-
denação, mas passou da morte para a vida”
(João 5.24). Dar-se-ia o caso de alguém entrar
no céu, carregando maldições?

“Mas se andarmos na luz, como ele na luz está,


temos comunhão uns com os outros, e o sangue
de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo peca-
do” (1 João 1.7). A maldição lançada contra
os salvos seria mais eficaz do que o sangue de
Jesus? Mais poderoso não é Aquele que está
em nós?

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazen-

77
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

do-se maldição por nós” (Gálatas 3.13). Jesus


tomou sobre si nossas maldições, e carregou
nossos pecados.

“Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente


sereis livres” (João 8.36). Dar-se-ia o caso de o
crente ficar livre das correntes do pecado, mas
permanecer amarrado, ainda, às maldições re-
sultantes de pecados cometidos por seus ante-
passados?

“Ele mesmo levou em seu corpo os nossos peca-


dos sobre o madeiro, para que, mortos para os
pecados, pudéssemos viver para a justiça. Pelas
suas feridas fostes sarados” (1 Pedro 2.24). Mor-
remos para o mundo e para o pecado, mas não
teríamos morrido para possíveis maldições sobre
nós lançadas? A cruz nos salvou da maldição da
lei, mas o sangue de Jesus teria sido impotente
para nos livrar de maldições hereditárias?

Fica difícil de imaginar que uma pessoa bene-


ficiária de tantas bênçãos possa carregar sobre
si o fardo das maldições. A solução para livrar-
-se delas é aceitar a salvação que há em Cristo
Jesus. As maldições não alcançarão os justos,
porque os muros de nossa fortaleza espiritual es-
tão íntegros, sabendo-se que “a maldição sem
causa não virá” (Provérbios 26.2). Aos que se

78
Neucir Valentim

julga debaixo de maldição, Jesus faz um convite


e uma promessa: “Vinde a mim todos os que
estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei”
(Mateus 11.28).
Outro dia recebi em minha casa um membro
de uma comunidade evangélica que veio nos
visitar, pois fazia algum tempo que não nos en-
contravamos.

Em certo momento a nossa conversa tomou o


caminho das stão decantadas maldições heredi-
tárias. Com ênfase e convicção, esse enveredou
do como exemplo, que se o avô de sua espo-
sa tivesse, no passado, sido um homem iníquo,
certamente - sua esposa ou alguém de sua des-
cendência - filho, neto ou bisneto sofreriam as
conseqüências das iniqüidades cometidas por
ele. De pronto respondi a ele, formulando-lhe
algumas perguntas:

- Meu irmão, e a Cruz de Cristo onde fica em


toda essa sua história? E emendei ainda: Cris-
to porventura teria morrido em vão? Porventura
não fomos lavados pelo sangue do Cordeiro?
Quando nascemos de novo, pela fé na obra da
Cruz e na ressurreição de Cristo Jesus, não mor-
reu, na Cruz o nosso velho homem e a nossa
velha natureza? Ao nascermos de novo Deus
não nos fez um novo homem, nos deu um novo

79
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

coração e nos perdoou e se esqueceu de todos


os nossos pecados sem nunca mais lembrar-se
deles? Como então podemos ainda, pensar ou
até mesmo crer - o que é pior em maldições
hereditárias?

Não obtive respostas. Aquele indivíduo logo


quedou.
Argumentei que as maldições hereditárias de que
fala o livro de Deuteronômio se referem àqueles
que estão e continuam afastados de Deus pela
desobediência de Adão e que por também se-
rem idólatras, odeiam a Deus.
Vejamos: Deuteronômio 14:8-10 “Não farás
para ti imagem de escultura representando o
que quer que seja do que está em cima do céu,
ou embaixo na terra, ou nas águas debaixa da
terra. Não te prostrarás diante delas para ren-
der-lhes culto, porque eu, o Senhor; teu Deus,
sou um Deus zeloso, que castigo a iniquidade
dos pais nos filhos, até a terceira e a quarta ge-
ração daqueles que me odeiam, mas uso de mi-
sericórdia até a milésima geração com aqueles
que me amam e guardam os meus mandamen-
tos” (grifei).
A maldição do pecado herdado de Adão é a
verdaira maldição hereditária. Em Ezequie 18,
Deus pela boca do Profeta, nos fala claramente
e refuta esta história de maldições hereditárias

80
Neucir Valentim

que tem servido, apenas, para tentar engrossar,


pela coação e pelo medo do castigo, o número
de adeptos de certas igrejas e comunidades, in-
clusive os que se dizem evangélicos. Veja o que
diz o Profeta Ezequiel no Capítulo 18: 1 a 4-20,
21, 30, 31, 32.
Estas palavras de Deus, ditas a milhares de
anos pela boca do Profeta Ezequiel, em espe-
cial aquelas contidas nos versículos 30 ao 32,
poderiam ser: necessário vos é nascer de novo e
teriais o reino de Deus, tetratando o Novo Nas-
cimento preconizado, anos depois, por Cristo
Jesus à Nicodemos em João 3.3.
As palavras do Profeta Ezequiel devem soar para
nós, hoje, assim: creiamos, todos, que fomos
atraídos à cruz em Cristo (João 12:32), que fo-
mos crucificados com Ele e com Ele morremos;
(Romanos 6.6); com Ele morreu a nossa velha
natureza, o nosso velho hoem (Efésios 4-22),
pela fé e pela misericórdia de Deus, pois nada
merecemos. Cristo não morreu sozinho. Estáva-
mos, todos, incluídos em sua morte. Basta-nos
crer, apenas! Pela fé somos salvos!
Continuar cultuando, orando, escrevendo e je-
juando para quebrar heranças malditas de an-
tepassados, nada mais é do que desacreditar
ou esmo negar a vinda de Jesus; é desacreditar
ou mesmo negar o poder da Cruz e a grandio-
sa obra do Calvário, e desacreditar ou mesmo

81
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

negar que o sangue vertido por Jesus, redimiu


o mundo que todos nós fomos partícipes desta
maravilhosa obra, é desacreditar ou mesmo ne-
gar que o mesmo poder que ressuscitou Jesus,
nos deu vida juntamente com Ele: Efesios 2:5
“quando estávamos mortoso em conseqüência
de nossos pacados, deu-nos vida juntamente
com Cristo - é por graça que fostes salvos! - jun-
tamente com ele nos ressuscitou e nos fez assen-
tar nos céus, com Cristo Jesus.
Maldições hereditárias somente existem no cora-
ção daqueles que crêem e pregam outro evan-
gelho que não o Evangelho da Graça, retratado
na maravilhosa e bendita obra do Calvário e na
doce e sublime palavra da Cruz de Cristo Jesus.
Façamos nosso, o sentimento do Apóstolo Pau-
lo: “Que eu jamais me glorie, a não ser na cruz
de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Gálatas 6:14).

82
Sinais e
Prodígios

“Cremos que Deus, no exercício de Sua So-


berania, pode se manifestar, ainda hoje, por
meio de sinais e prodígios”.

Fundamentamos a declaração confessional aci-


ma conforme abaixo expomos:

– Conceito e objetivos dos sinais

Sinais e prodígios são feitos sobrenaturais, usa-


dos por Deus, para confirmar a Palavra prega-
da, manifestar o Seu poder e a Sua glória (Dt
6:22; Ne 9:9:10; Mc 16:15-20; At 4:29-31;
Hb 2:3,4).
83
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

No Novo Testamento os sinais relatados ocorre-


ram com os seguintes objetivos:

Marcar a inauguração do ministério terreno de


Jesus Cristo (Jo 2:11);

Servir como avisos escatológicos (Mt 24:3-14;


Mc 16:1-4; Lc 21:25-28);

Testemunhar da presença divina nos ministérios


de Jesus e dos apóstolos (Mc 16:17-20; Jo2:23;
3:2; 7:31; At 2:22; 2 Co 12:12; Hb 2:4).

Corroborar o ministério apostólico (At 4:16-30;


5:12; 6:8; 8:6,13; 14:3; 15:2).

Apontar para Cristo e Seu Evangelho (Jo


20:30,31; Rm 15:18,19).

Assessorar o ministério de propagação do


Evangelho, conforme indicado nas palavras
da oração da Igreja nascente, registradas em
Atos 4:30: “Enquanto estendes a mão para fa-
zer curas, sinais e prodígios, por intermédio do
nome do teu santo Servo Jesus”.

– Advertências quanto aos sinais e prodí-


gios

84
Neucir Valentim

Alguns cuidados precisam ser tomados pelos


crentes em Cristo quanto à ocorrência de sinais
e prodígios:

Todos os fenômenos ou acontecimentos tidos


como sinais devem ser submetidos à apre-
ciação da Igreja, que devem considerá-los á
luz das Escrituras e, se aprovados, podem ser
admitidos como tais, porque há sinais de en-
gano (Mt 24:24;Mc 13:22; 2 Ts 2:7-11; Ap
13:13,14;16:13,14; 19:20) e nem todos os si-
nais têm origem divina (At 8:9,10; 16:16).

Considerem-se os sinais como lampejos, no


presente, do Reino já inaugurado em Cristo, que
será estabelecido escatologicamente.

Não atribuir aos sinais lugar e valor além da-


queles que a Palavra lhes dá.

Notar que há grandes porções na Bíblia sem


menção de um sinal sequer. João Batista, por
exemplo, não realizou sinais (Jo 10:41). Con-
siderar também que o maior de todos os sinais
já foi dado com a vinda, vida e obra de Jesus
Cristo (Mt 12:38-40). Assim, não se deve ter a
manifestação de sinais como uma necessidade
imprescindível para a vida e serviço da Igreja.

85
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Fugir do perigo de basear a fé em sinais e pro-


dígios, pois o único objeto da fé é o Senhor (Lc
23:8; Jo 6:2). Embora incrédulos exijam sinais
(Mt 12:38,39) e alguns necessitem deles para
serem levados à fé em Deus (Jo 20:25), a Pala-
vra ensina que são bem-aventurados os que não
viram e creram (Jo 20:29); que o justo viverá
pela fé (Gl 3:8,11); e que andamos por fé e não
pelo que vemos (2 Co 5:7).

Não se deixar seduzir pela onda de sinais e


prodígios deste novo século e evitar que tomem
o lugar da pregação da Palavra, o instrumento
eficaz para despertar a fé em Deus (Rm 10:17)

86
Batismo com o (do)
Espírito Santo

“Cremos que o batismo com o Espírito Santo


é o ato mediante o qual o crente em Cristo é
identificado com o Seu Corpo, a Igreja, ou
incorporado na família de Deus”.

Baseamos nossa crença no seguinte:

– Batismo com o Espírito Santo é a benção


inicial da vida cristã.

Há expressões bíblicas que dão a entender que


o batismo com o Espírito Santo é a experiência
inicial da vida cristã:

Novo Nascimento (Jo 3:5,6) – É o Espírito que


age no homem, fazendo-o nascer na família de
Deus;
87
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Recebimento do dom do Espírito (At 2:38) –


Aquele que se arrepende e crê recebe a dádiva
(dom) do Espírito Santo;

Recebimento do selo do Espírito (Ef 1:13). O


que crê em Cristo tem a garantia da vida que há
nEle, mediante a ação do Espírito Santo;

Introdução no Corpo de Cristo (1 Co 12:13).


Por ação do Espírito todos os crentes são intro-
duzidos (batizados) no Corpo de Cristo;

Incorporação na família de Deus (Gl 4:4-


6). O Espírito é o agente desta incorpora-
ção.

– Todos os crentes em Cristo são batizados


com o Espírito Santo.

Esta afirmação está explícita em 1 Coríntios


12:13 – “Pois, em um só Espírito, todos nós fo-
mos batizados em um corpo, quer judeus, quer
gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós
foi dado beber de um só Espírito”

Textos em abundância podem ser relacionados


para provar que o batismo com o Espírito Santo
é um experiência já realizada em todos os ver-
dadeiros cristãos. Note-se que os tempos ver-

88
Neucir Valentim

bais das referências abaixo estão no presente ou


no pretérito:

Romanos 5:5 -“ Ora, a esperança não confun-


de, porque o amor de Deus é derramado em
nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi
outorgado”.

Romanos 8:9 – “Vós, porém, não estais na car-


ne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de
Deus habita em vós. E, se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dele”.

Romanos 8:11 – “Se habita em vós o Espíri-


to daquele que ressuscitou a Jesus dentre os
mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo
Jesus dentre os mortos vivificará também o vos-
so corpo mortal, por meio do seu Espírito, que
em vós habita”.

Romanos 8:16 – “O próprio Espírito testifica


com o nosso espírito que somos filhos de Deus.

Romanos 8:23 – “E não somente ela, mas


também nós, que temos as primícias do Es-
pírito, igualmente gememos em nosso íntimo,
aguardando a adoção de filhos, a redenção
do nosso corpo”.

89
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Confira ainda: 1 Coríntios 2:12, 3:16; 6:19; 2


Coríntios 1:22; 5:5; Gálatas 3:2; 4:6; Efésios
1:13,14; Efésios 4:30; Tessalonicenses 4:8; 2
Timóteo 1:14; 1 João 2:27; 3:24; 14:13.

– Batismo do Espírito e plenitude do Espí-


rito são experiências distintas

As razões que estabelecem a distinção são as-


seguintes:

Batismo é um ato único e plenitude um ato que


pode ser repetido ou um processo (At 4:31;
13:52; Ef 5:18). Os apóstolos, que tinham sido
batizados e cheios do Espírito no dia de Pen-
tecostes, nunca foram rebatizados, mas foram
cheios novamente depois (At 2:4; 4:31);

Batismo é um termo que está ligado à idéia de


iniciação, enquanto plenitude diz respeito a ser,
estar ou ficar cheio do Espírito, o que só ocor-
re naquele que já experimentou a regeneração
efetuada pelo mesmo Espírito;

Para ter a experiência do batismo com o Espírito


Santo a pessoa se apropria, pela fé, da salvação
oferecida por Cristo Jesus. O batismo é graça, é
dom. Para ter a experiência da plenitude o cren-
te é exortado a buscá-la (Ef 5:18). A plenitude é

90
Neucir Valentim

exigência feita ao cristão. Os verbos que expri-


mem o dever do crente para com o Espírito San-
to encontram-se no modo imperativo (Ef 4:30;
5:18; Gl 5:16,25 e 1 Ts 5:19).

Plenitude é, pois, uma experiência de enchimen-


to do Espírito (ato único ou processo) ou de con-
cessão da vida para ser guia ou dominada pelo
Espírito (Ef 5:18-21), ou ainda se pode entender
como um revestimento de poder para o exercí-
cio do ministério (cf. At 9:17).

– A expressão “segunda benção” é inade-


quada para definir a experiência do batis-
mo com o Espírito Santo.

Batismo com o Espírito Santo não é uma expe-


riência distinta da conversão e marcada pelo
dom de línguas, chamada “segunda benção”.
Conforme os itens anteriores, batismo do Espíri-
to Santo é uma experiência inicial na vida cristã.
Após esta benção, universal para a Igreja, ou-
tras bênçãos seguem, como resultado do viver
no Espírito (Gl 5:22-26) ou de ser por Ele cheio
(Ef 5:15-21), podendo, então, serem classifica-
das de segunda, terceira, quarta, etc.

O dom de variedade de línguas é um dos dons


concedidos pelo Espírito Santo, de acordo com o

91
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

que lhe apraz, isto é, a Seu tempo e a Seu modo


(1 Co 12:11). Não pode, portanto, se constituir
em sinal exclusivo do batismo com Espírito San-
to, nem se exige que todos os crentes o tenham.
A Bíblia não indica, em nenhum lugar, que falar
em línguas seja evidência de ser batizado com
o Espírito Santo, nem afirma que aqueles que
possuem o referido dom é que o foram.

92
Cura
Interior

“Cremos que todos os homens têm feridas


interiores, em maior ou menor escala, das
quais precisam ser curadas”.

Esta confissão baseia-se nas seguintes afirma-


ções, respaldadas por textos bíblicos:

– A origem das doenças da alma

As doenças da alma podem ter várias origens:

No meio ambiente – A opressão do mundo caí-


do promove conflitos de ordem econômica, po-
lítica, social e moral, causando ao homem cer-
tas doenças mentais e psicológicas;

Na família – A herança psíquica familiar, trans-


mitida pelas influências, imperfeições, ausência

93
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

de sabedoria e discernimento na educação por


parte dos pais;

Nos conflitos existenciais. O conflito íntimo es-


piritual provocado pela tendência natural para
o egocentrismo, em oposição à consciência do
justo (Rm 7);

Na esfera espiritual. As influências, sugestões e


agressões do mundo dos espíritos demoníacos
(Ef 6:12).

– A cura das doenças da alma

Enfermos de alma podem encontrar a cura do


seguinte modo:

O processo de cura interior de uma pessoa é


essencialmente precedido pela sua aceitação do
Evangelho Redentor de Cristo Jesus (Is 61:1,2;
Lc 4:18; Mt 11:28,29; Jo 10:10), pois a pessoa
deixa de estar debaixo do domínio de Satanás e
toma posse da graça de Deus.

Crentes em Cristo que ainda carregam dentro


de si tais enfermidades podem ser curados por
meio de tratamento que conste de aconselha-
mento pastoral, leitura da Palavra de Deus, ora-
ção e dependência do Espírito Santo, o Conso-

94
Neucir Valentim

lador; o que em suma representa o processo de


santificação na vida do crente (1 Ts 4:3-8; Fp
4:5-8; Cl 3:1-17).

Pode-se contar, nesse processo, com o auxílio


da ciência médica e psicoterapêutica com o cui-
dado de não se depender exclusivamente dela,
e nem deixar de aferir o caráter destas técnicas
científicas com os princípios bíblicos.

Evitem-se os rituais de cura interior, atualmente


em moda, pois a saúde da alma geralmente ne-
cessita de tratamento demorado.

– Recursos para a cura das almas

Seguem abaixo alguns princípios que poderão


ser utilizados num processo de aconselhamento
pastoral, visando a cura interior:

A recuperação dos relacionamentos interpesso-


ais, mediante a confissão de pecados e prática
do perdão (Mt 6:14; Ef 4:32; Tg 5:16);

A confiança plena em Deus para evitar o medo


e a ansiedade (Sl 112:7; 118:6; Pv 29:25: Mt
6:25-34; Jo 16:33: Rm 8:15; Fp 4:6; 1 Jo
4:18);

95
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

A consciência do valor e propósito da vida hu-


mana para Deus (Gn 1:26,27; Ef 2:10);

A sujeição completa a Deus, resistência a Sa-


tanás e apropriação da armadura de Deus
(Tg 4:7; 1 Pe 5:6,7; Ef 6:13-17), para eli-
minar toda influência, sugestão e agressão
demoníaca à alma.

A substituição das más lembranças por louvores


e pensamentos amáveis, construtivos e saudá-
veis (Fp 4:6,7).

A confiança no poder de Deus para restaurar a


alegria da salvação (Sl 51:10-12).

96
Expulsão de
Demônios ou
Exorcismo
“Cremos que os crentes em Cristo têm au-
toridade para expulsar demônios, em nome
dEle”.

Esta afirmação encontra base nas Escrituras,


conforme segue abaixo:

– Possessão Demoníaca

É a invasão da pessoa não redimida pelo san-


gue de Jesus por espíritos demoníacos, domi-
nando suas faculdades pessoais – a razão, a
volição e a emoção (cf Lc. 8:26-34).

97
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Somente os incrédulos estão sujeitos à posses-


são maligna, pois os que recebem a Jesus como
Senhor e Salvador ficam livres de serem atingi-
dos por esta invasão do inimigo, uma vez que
passam a ser santuário do Espírito Santo (1 Co
3:16; 6:19) e residência permanente do Pai e
do Filho (Jo 14:23); o Senhor lhes garante com-
pleta libertação (Jo 8:36; Cl 1:13) e proteção
(2 Ts 3:3; 1 Jo 4:4; 5:18).

Crentes em Cristo podem sofrer opressão demo-


níaca ou satânica, quando perdem o caminho
da santidade e deixam de se submeter á vontade
de Deus (1 Co 5:2-5; 1 Pe 5:6-9), quando não
resistem ao diabo (Tg 4:7), ou quando o Senhor,
dentro de Sua Soberania, para fins de prova-
ção da fé e de disciplina, o permite (Jó 1 e 2; 2
Co 12:7-10).

– Cuidados

Há alguns cuidados que à luz da Bíblia e do


bom senso, devem ser tomados por Igrejas e
obreiros, quanto à prática da expulsãode demô-
nios:

Não confundir possessão demoníaca com certas


enfermidades, tais como: epilepsia, esquizofre-
nia e outras; ainda que, em alguns casos, en-

98
Neucir Valentim

fermidades resultem de possessão demoníaca e


seja, muitas vezes, difícil de discernir a origem
(Mt 9:32-34; 17:14-18; Lc 13:10-13);

Entender que as obras da carne, embora sejam


usadas pelos demônios, não são personificação
de espíritos malignos e por isso, deve-se evitar
nomeá-los de “espíritos” (espírito de prostitui-
ção/espírito de avareza, etc.);

Compreender que a metodologia para a prá-


tica da expulsão de demônios não se apresen-
ta de forma específica nas Escrituras. Alguns
exemplos bíblicos contêm apenas uma or-
dem dada aos espíritos (Mt 8:16, Mc 1:25; At
16:18). Assim deduzimos que qualquer crente
em Cristo, cheio do Espírito Santo, pode orde-
nar, em nome de Jesus Cristo, que o demônio
se retire da pessoa por ele invadida, sem que
seja alterada a liturgia do culto com inserções
desnecessárias, tais como: passes místicos, en-
trevistas com demônios, etc.

Compreender que uma pessoa liberta de de-


mônios não está necessariamente convertida
ao Senhor e Salvador Jesus Cristo, podendo,
por conseguinte, voltar a ser invadida por eles
(Lc 11:24 a 26).

99
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

100
O Jejum

“Cremos que a pratica do jejum não é exclu-


siva dos tempos vétero e neotestamentários e
que, portanto, é lícito a Igreja utilizar-se dela
nos dias atuais”.

Esta confissão acima encontra respaldo nas se-


guintes afirmações e comprovações bíblicas:

– Propósito do Jejum

O jejum é instrumento de consagração ao Se-


nhor, de dedicação à oração e de humilhação
diante dEle (cf. Sl 35:13; Jn 3:5).

– Prática do Jejum

A prática do jejum deve seguir às orientações


bíblicas:

101
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Ser espontâneo, ocorrendo individual ou co-


letivamente (2 Sm 12:23; 2 Co 6:5; Ed 8:21;
Ne 9:1). O jejum ritual ou formal é censurado
pelas Escrituras (Is 58:3-6; Jr 14:12; Zc 7:5;
Lc 18:12);

Nunca tornar-se elemento de ostentação ou de


superioridade espiritual, como o próprio Jesus
orientou (Mt 6:16-18);

Não tornar-se rotineira ou mecânica, mas ser


usada com um fim específico (At 13:2,3).

– Ensino e exemplos bíblicos:

O jejum é recomendado pelo Senhor Jesus


(Mt6:16-18), tornando-se, assim, parte inte-
grante do Seu ensino à Igreja.

Alguns exemplos de prática de jejum nas


Escrituras:

O próprio Jesus (Mt 4:2)

O apóstolo Paulo (2 Co 6:5; 11:27)

A Igreja de Antioquia (At 13:2,3)

102
UMA
REFLEXÃO
SOBRE
O JEJUM

“Quando jejuardes, não vos mostreis contris-


tados como os hipócritas; porque eles des-
figuram os seus rostos, para que os homens
vejam que estão jejuando. Em verdade vos
digo que já receberam a sua recompensa. Tu,
porém, quando jejuares, unge a tua cabeça,
e lava o teu rosto, para não mostrar aos ho-
mens que estás jejuando, mas a teu Pai, que
está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto,
te recompensará.” Mt 16:17 e 18.

Este texto está inserido dentro de um contexto


claro e objetivo.

Não podemos descontextualizá-lo sobre o pe-


rigo de usarmos texto fora de contexto, por
pretexto.

Se desejamos fazer uma hermenêutica honesta,


precisamos perceber em que contexto se encon-
tra esta afirmação do Senhor. E assim encon-

103
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

tramo-la dentro do chamado sermão do mon-


te, que ocupa os capítulos 5 a 7 de Mateus, e
tratam de uma série de orientações do Senhor
Jesus sobre a nova ética do reino, nas quais os
filhos de Deus deveriam se portar a partir da
chegada do reino de Deus.

Neste contexto estão inseridos vários temas


importantíssimos: “O cristão deve ser
bem-aventurado”, (5:1 a 12); O compor-
tamento dos filhos de Deus no mundo
deve ser exemplar” (5:13 a 16); “ O cris-
tão deve entender a correta interpreta-
ção da Lei “ (Mt 5: 17 a 43); “A prática de
amar os inimigos dever ser cultivada (Mt
5:44 a 48); “ O procedimento de praticar
boas obras deve ser estimulado “ (Mt 6:1
a 5) “ A oração deve ser natural na vida
do cristão - O Pai Nosso e uma ilustra-
ção de procedimento” (Mt 6:6 a 15); “ O
cristão deve jejuar diferentemente dos
hipócritas e Deus há de recompensá-
-lo por esta prática” (Mt 6:16 a 18); “O
discípulo de Jesus deve sentir a neces-
sidade de ajuntar tesouro no céu e não
na terra” (Mt 6: 19 a 20); “ O cristão não
deve viver ansioso” (Mt 6:25 a 34); “O
filho de Deus não deve julgar para não
ser julgado” (Mt 7:1 a 7); “ O novo cami-

104
Neucir Valentim

nho prometido ao cristão é estreito” (Mt


7:13 e 14), etc.

No final do sermão do monte, que inclui todas


essas novas orientações sobre o comportamen-
to dos filhos de Deus, Jesus conclui dizendo:
“Todo aquele, pois, que ouve estas mi-
nhas palavras e as põe em prática, será
comparado a um homem prudente, que
edificou a casa sobre a rocha.” Mt 7:24

Observe que a pratica do jejum está incluída


ai, neste grande contexto, como sendo uma
prática, entre tantas, tão importantes, na vida
do cristão.

Em momento algum o Senhor Jesus disse que


ela haveria de caducar, ou perder a sua razão
de ser, caso assim fosse, não teria traçado orien-
tações especificas para algo sem valor ou efê-
mero, ou que já estava para perder o valor.

Muito pelo contrário, assim como a oração pre-


cisava ser feita dentro de um padrão correto, e
não como os gentios praticavam, assim também
deveria ser no tocante ao jejum, todavia, dife-
rente do padrão hipócrita dos fariseus.

Qualquer pessoa que faça um exame herme-

105
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

nêutico simples, percebe a intenção de Jesus,


que desemboca, inequivocamente para a ratifi-
cação da prática salutar do jejum, inserida den-
tro de outros temas importantes e inalienáveis.
Descontextualizar a pratica do jejum, do sermão
no monte, seria um crime hermenêutico contra
o ensino de Jesus.

Quais, pois seriam os resultados espirituais ad-


vindos do jejum?

O primeiro deles é explicitamente ensinado


pelo Senhor, logo após a orientação correta
sobre o jejum: “ teu Pai, que vê em secre-
to, te recompensará.” Mt 6:18b. Trata-se
de uma recompensa que não é advinda do
sacrifício do jejum, isto porque o jejum é emi-
nentemente um ato de fé, pois só se priva
de alimentos, voluntariamente, em devoção,
aquele que crê em algo que transcenda ao
alimento físico.

Portanto, a recompensa vem em decorrência da


devoção e pela separação espiritual de quem o
faz de forma secreta, baseando-se tão somente
na fé genuína de que há um Pai, que em secre-
to acolhe este ato como um aroma suave. Em
segundo lugar é nos dito no livro de Atos, que
o jejum, assim como a oração faziam parte da

106
Neucir Valentim

preparação para incumbências espirituais espe-


ciais. Atos 13:2 e 3.

Observe que logo após estas manifestações de


fé: Jejum e oração, o Espírito Santo, se mani-
festou de forma veemente. Preparando os discí-
pulos para uma árdua batalha que teriam pela
frente. At 13:9, 10 e 11.

Em terceiro lugar, pela qual devemos jejuar,


está explicita em Mt 19:15, onde o Senhor
diz que o noivo seria retirado, fazendo uma
alusão, ao seu retorno ao Pai, (e não ape-
nas aquele período de três dias de sua mor-
te como poucos interpretes entendem), e por
isso, surgiria a necessidade constante de uma
devoção mais profunda por parte dos seus
discípulos: “ Dias virão, porém, em que
lhes será tirado o noivo, e então hão
de jejuar.” Lc 5:35

Em quatro lugar, esta prática era comum na


igreja apostólica, e servia para fazê-la mais
sensível ao falar do Espírito Santo, na busca
do discernimento espiritual mais profundo.
Veja por exemplo em Atos 14:23, quando a
igreja desejava escolher os seus novos líde-
res: “ E, havendo-lhes feito eleger anci-
ãos em cada igreja e orado com jejuns,

107
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

os encomendaram ao Senhor em quem


haviam crido.”

Portanto, queridos irmãos, sendo fieis cumpri-


dores dos ensinamentos do Senhor, exercitem
a prática da devoção cristã, através da leitura
bíblica, do jejum e da oração. E lembre-se, que
Jesus estava cheio do Espírito Santo, em jejum
durante quarenta dias, pronto para enfrentar,
como homem, o tentador no deserto da Judéia.
E saiu de lá vitorioso! Aprendamos com os ensi-
namentos e práticas de Jesus.

108
Neucir Valentim

COM A PALAVRA
OS CATÓLICOS
CARISMÁTICOS
Dentro da comunhão romana, as correntes in-
ternas mais visíveis são as alas progressista, con-
servadora e carismática.

Progressistas. De mentalidade aberta, com ten-


dências políticas de esquerda, aceitam e acatam
as comunidades eclesiais de base, adotam no
todo ou em parte a teologia da libertação e de-
fendem uma mentalidade de justiça social.

Conservadores. Composto em sua maioria pe-


los tradicionalistas e conservadores, esse grupo
é apegado à doutrina do magistério da igreja.

Carismáticos. Experimentando contínuo cresci-


mento, acreditam na possibilidade de um gran-
de reavivamento bíblico e de fé. Conservam-se
fiéis e dentro da Igreja Católica, mas crêem na
contemporaneidade dos dons espirituais. São
os responsáveis pela “gospelização” da Igreja
Romana. Podem ser o fermento de uma nova
reforma na igreja e contam com a simpatia de
muitos protestantes e evangélicos. Sofrem resis-
109
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

tência dentro da Igreja Romana da Confedera-


ção Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da
Santa Sé e do Papa pela ênfase na mensagem
cristocêntrica e nos dons do Espírito Santo.

Síntese do Pensamento Católico Carismá-


tico acerca dos Dons Espirituais

Atualmente costuma-se separar, aqueles que são


e os que não são carismáticos. Entretanto, esta
separação não existe de fato, pois toda igreja é
carismática, visto que ela é originalmente desde
as suas origens, a começar pelo seu fundador,
Jesus Cristo. Portanto, a expressão “carismá-
tica”, tem dois sentidos: aqueles que usam os
dons carismáticos sobrenaturais e aqueles que
são, por lhes serem próprios, uma vez que a
igreja toda é carismática.

Neste contexto dividimos os dons em: ordiná-


rios e os extraordinários, os ordinários são os
de natureza comum, como por exemplo, o dom
musical, aquele que tem facilidade no relacio-
namento com a música; e os extraordinários são
aqueles citados em 1 Co 12.8-10 – (1) Pala-
vra da Sabedoria; (2) Palavra do Conhecimen-
to; (3) Fé; (4) Curas; (5) Operação de milagres;
(6) Profecia; (7) Discernimento de espíritos; (8)
Variedade de línguas; (9) interpretação de lín-

110
Neucir Valentim

guas, portanto sobrenatural, concedidos por


Deus através do Espírito Santo. Teologicamente,
definiremos dom partindo de sua origem que se
encontra no grego charisma, que significa “do-
nativo de caráter imaterial, dado de graça”, por-
tanto, os dons são capacidades sobrenaturais
concedidas pelo Espírito Santo com o propósito
de edificar a Igreja, visto que os dons são da-
dos à igreja para a sua própria edificação (1Co
14.12), levando-a a manter e a desenvolver sua
unidade no corpo de Cristo (Ef 4.4-6).

No Livro dos Atos dos Apóstolos e pelos escri-


tos biográficos e reflexivos de tantos Pais da
Igreja dos séculos I ao VII, vemos que os caris-
mas eram comuns no início da Igreja. Muitos
santos homens da igreja, a partir do século IV,
já acreditavam que os dons carismáticos so-
brenaturais foram necessários apenas para a
difusão no início da igreja e já não eram mais
necessários. Pode ser que era da vontade de
Deus que os dons carismáticos “se apagas-
sem” por um período da história (de maneira
comum), porém na virada do século XIX para
o XX, temos a certeza que o Senhor começa
a preparar novamente o coração da huma-
nidade para “uma nova brisa”, com a publi-
cação da carta encíclica Divinum Illud Munus
de Leão XIII. Começa a surgir uma renovação

111
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

e não uma inovação como muitos pensam.


O movimento de renovação carismática não
traz, portanto, a novidade dos carismas, mas
como seu próprio nome sugere, veio renovar
esta realidade carismática que se encontrava
“adormecida”, mas nunca apagada no seio
da Mãe Igreja.

Portanto, os Grupos de Oração ou qualquer ex-


pressão carismática têm a responsabilidade de
evangelizar carismaticamente, ou seja, com o
uso dos dons sobrenaturais de serviço para a
edificação da igreja de Cristo, uma vez que os
carismas devem nos conduzir sempre a Jesus,
centro e Senhor de nossas vidas. Dessa forma,
os carismas não giram em torno de si mesmos,
ou daqueles que o usam, mas sim esta sempre
a favor dos outros, para auxiliá-los no encontro
pessoal com Jesus.

São Paulo nos ensina acerca de nove carismas


na I Carta aos Coríntios nos Capítulos de 12 a
14. No entanto, a Igreja reconhece, hoje, mais
de trezentos outros carismas que, igualmente,
ordenam-se à edificação do Reino de Deus e
à missão evangelizadora no mundo. Aqui, va-
mos refletir acerca dos nove Dons Carismáticos
elencados pelo Apóstolo Paulo (cf. I Cor. 12,
7-11) e que são os mais utilizados nas deno-

112
Neucir Valentim

minações carismáticas. Para fins didáticos, po-


dem ser divididos em Dons de Revelação, de
Inspiração e de Poder.

Dom da Interpretação das Línguas

Não é uma tradução. Quando uma profecia é


proclamada em línguas, ou seja, com gemidos
inefáveis, ininteligíveis, faz-se necessária a uti-
lização do dom da Interpretação das Línguas,
em que uma ou mais pessoas, respeitando-se
a ordem, irá proclamar aquela mesma profe-
cia em vernáculo, isto é, em linguagem inteli-
gível, no idioma do grupo. É imprescindível que
haja quem interprete uma profecia proclamada
em línguas, sob pena de o povo não entender
a mensagem divina a ele dirigida. Veja o que
Paulo nos ensina acerca da Interpretação das
Línguas em I Cor. 14, 13. 27-28.

O que é a interpretação de Línguas?

Se a oração em línguas edifica a pessoa, a fala


em línguas deve receber interpretação, que é
dom do Espírito Santo. A expressão falar em lín-
guas sugere, então, uma mensagem que che-
ga para a comunidade ou para uma pessoa no
dom de línguas, e para que os ouvintes compre-
endam a mensagem, esta precisa ser interpre-

113
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

tada. Se na assembleia não tiver ninguém que


a interprete, então, o transmissor da mensagem
deve silenciar-se.

O dom da interpretação de línguas não é um dom


de tradução. Trata-se de uma moção, uma unção
do Espírito Santo para se tornar compreensível
aos membros da comunidade aquela mensagem
do Senhor que chega pelo dom de Línguas.

A interpretação como um dom permanente

Assim, orar em línguas é um dom permanente,


podendo-se dispor dele a qualquer momento
para a edificação pessoal; e o falar, emitir uma
mensagem do Senhor em línguas pode ser con-
siderado uma carisma transitório (temporário),
usado em determinados momentos; contudo,
são sempre dons de Deus e carismas diferentes.
Estes carismas podem se manifestar em qualquer
membro da comunidade, segundo a vontade de
Deus com a unção do Espírito Santo para que
suas mensagens sejam passadas ao seu povo.

Na fala em Línguas, Deus pode nos dar uma


Revelação, Profecia ou Palavra de Ciência, Dou-
trina, ou discurso em línguas. E nesses casos
deverá ter interpretação. Quando se FALA em
línguas, se pressupõe dom de línguas e o da

114
Neucir Valentim

interpretação, para que assim, se torne conheci-


do o pensamento do Senhor. Paulo diz: “Se não
houver intérprete, fiquem calados na reunião”
(v.28), por isso se indica que esse dom pode ser
considerado permanente.

Como a interpretação se manifesta

A interpretação consiste “numa inspiração es-


pecial do Espírito Santo pela qual o agraciado
é capacitado a dar sentido a uma mensagem
vaga; este dom diz respeito ao conteúdo espiri-
tual de uma mensagem; e quando uma mensa-
gem em línguas recebe uma interpretação”.

Este dom se manifesta na mente da pessoa que


recebe o significado da mensagem, e esta é mo-
vida a repassar com palavras inteligíveis a todos
os presentes a mensagem que vem do Senhor.
A mensagem em línguas pode ser curta ou lon-
ga, porém a interpretação dever ser concisa e
clara, para que todos entendam. O Senhor não
envia uma mensagem em partes, portanto, a in-
terpretação deve trazer a mensagem em sua to-
talidade e não dividida em partes. Mais de uma
pessoa pode receber a mesma interpretação de
uma mensagem, nesse caso o comportamento
deve ser o mesmo do utilizado nas profecias e
dizer: Eu confirmo.

115
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Há unção para a interpretação?

Sim, assim como há unção nas profecias e nas


mensagens em línguas, vemos também, que há
na interpretação. Podemos dizer que esta unção
é uma espécie de um impulso para a interpre-
tação, e quanto mais o intérprete se habitua
a essa unção, mais fácil ficará de identificar o
modo como o Senhor dita às palavras.

A interpretação deve ser correta e não contra-


dizer as Escrituras, o magistério da Igreja ou o
sensus fidei do povo de Deus. Caso contrário, a
interpretação deve ser interrompida. O intérpre-
te, ao proclamar uma mensagem, deve iniciar
da seguinte forma: Eis o que o Senhor diz! Pois
é em nome do Senhor que ele proclama a men-
sagem e não por si próprio.

Todo carisma, como o da interpretação, visa à


edificação da Igreja; para isso deve ser pedido
com humildade, abrindo-se sempre mais a ação
do Senhor.

Dom da Fé

"Esta é uma arma que vence o mundo: a nossa


fé" (1Jo 5,4)

116
Neucir Valentim

O terceiro carisma é a fé. Dom que o Espíri-


to Santo colocou à nossa disposição para que
possamos usufruir da própria onipotência de
Deus. A fé é a nossa "energia atômica", capaz
de aniquilar todas as forças infernais, é ela que
nos desperta para acreditarmos convictamente
em algo que não se vê, geralmente, de maneira
natural.

Hoje, infelizmente o naturalismo e o ceticismo


estão ganhando muito terreno. Hoje, submersos
no materialismo e orgulhosos pela própria auto-
suficiência os homens crêem que já não mais
precisam crer. Crêem somente em si mesmos,
nas próprias capacidades, nos seus talentos, no
dinheiro, nos seus próprios planos.

Não confiam nos chefes políticos e conseqüen-


temente nos chefes religiosos, e ainda nos ami-
gos e parentes, e logicamente menos ainda nas
coisas sobrenaturais.

Verdade é que na alma do povo ainda há um


resíduo de fé, mas trata-se de uma fé tradicio-
nal, vaga, confusa, subjetiva e superficial. Não
conhece o verdadeiro sentido dos dogmas e da
doutrina católica.

A fé um dom de Deus; um raio de luz que parte

117
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

de Deus para a alma humana, que para vingar


deve encontrar um terreno adequado, deve ser
aceita de coração e espírito aberto, pois o Es-
pírito Santo não invade corações trancados. "A
fé vem de pregação e a pregação é feita por
mandato de Cristo" (Rm 10,17).

A crise de fé se verifica no povo cristão e até


mesmo entre os seus líderes e pastores. Todas
as crises morais têm sua origem na crise da
fé. O movimento de renovação carismática
pretende ser, principalmente, um movimento
de renovação da fé, encarando-a como virtu-
de e como carisma.

A fé como virtude

Fé como virtude significa aderir às verdades re-


veladas por Deus, não pela credibilidade intrín-
seca dessas verdades, mas pela confiança que
depositamos naquele que no-las fez conhecer.

Cristo torna-se, pela fé, o centro de sua vida, a


alegria transbordante de cada respiro e o objeto
predileto dos seus incessantes louvores.

Em tempos que se caracterizam pela revolta e


pelo individualismo insubordinado, os carismá-
ticos reafirmaram sua fé na igreja e a submissão

118
Neucir Valentim

incondicional aos seus legítimos representantes.


Os carismáticos quase que instintivamente, en-
caram todos os acontecimentos, grandes e pe-
quenos, alegres e tristes, à luz de Deus, procu-
rando julgá-los sempre sobre o prisma da fé.
Seja qual for à circunstância, alegre ou doloro-
sa, as pessoas carismáticas só têm um comen-
tário a fazer e uma só exclamação a proferir:
"Deus seja louvado".

A virtude da fé encerra ainda um outro aspecto


que deve ser relevado. A fé não é só adesão às
promessas de Cristo. Em outros palavras, fé sig-
nifica entrega total a Deus e à sua providência.
Deus, ao criar-nos preparou um plano relativo a
cada um de nós. Como seres conscientes preci-
samos descobrir o plano, aceitá-lo e colaborar
com todas as nossas forças para que ele seja
levado a bom termo.

"O justo vive da fé", diz o Apóstolo (Rm 1,17).


O que vale dizer que a fé é o termômetro da
nossa santidade.

Aquele que tem fé é uma pessoa que vive con-


fiante na providência divina, não se deixa aba-
ter pelas dificuldades em meio as necessidades,
pois sabe que o Pai que está no céus tudo pro-
videnciará e este como o Apóstolo poderá dizer:

119
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

"sei em quem depositei minha confiança" (2Tm


1,12). E mesmo que tudo se manifeste contrá-
rio ao nosso ato de fé, continuamos a crer, sem
indagar-nos como, por quais caminhos e meios
o Senhor virá ao nosso encontro.

A fé como carisma

A virtude da fé, comum a todos os cristãos, di-


fere do dom da fé, mencionado por Paulo: "a
outro é dado o dom da fé" (1Cor 12,9). Este
é realmente um dom sobrenatural do Espírito
Santo, conferido em circunstancias especiais
para dar cumprimento às obras de Deus. É
Deus mesmo que, em determinada circuns-
tâncias, faz com que a pessoa aja da maneira
que ele quer. Há determinadas situações em
que certas pessoas são revestidas de um po-
der sobrenatural, tornando-as capazes de ver
claramente que Deus revelará o seu poder e
sua bondade através de um sinal extraordiná-
rio. Em outras palavras o homem de fé perce-
be em si mesmo e com absoluta certeza, que
o Senhor deseja realizar um milagre por meio
dele. Ora essa revelação interna leva-o a agir
com firmeza e a reagir contra as circunstâncias
contrárias, como se ele estivesse vendo agora
o que ainda irá acontecer depois.

120
Neucir Valentim

O homem de fé não crê simplesmente que Deus


pode fazer tal prodígio, mas que o fará de fato
ou, antes, que ele já o fez. Essa foi, aliás, a atitu-
de de profeta Elias ao fazer descer o fogo sobre
o Monte Carmelo. Essa foi também a atitude de
Pedro que, sem titubeios, disse ao coxo que se
encontrava à porta do templo: "Em nome de Je-
sus nazareno, levanta-te e anda" (At 3,6). Nou-
tra ocasião, o próprio Pedro ressuscitou o corpo
de Tabita dizendo simplesmente: "levanta-te" (At
9,36). Paulo também agiu da mesma maneira
quando, colocando-se sobre o corpo de Êutico,
o abraçou e gritou para a multidão: "Não vos
perturbeis, que ele está vivo".

Concluindo, podemos dizer que o dom da fé


é um carisma relacionado com os de mais. O
dom da fé serve de preparação para usar ou
outros, principalmente o dom das curas e o dom
dos milagres. Como os demais dons do Espírito,
trata-se de um carisma concedido gratuitamen-
te, embora nada nos impeça de pedi-lo, princi-
palmente se a glória de Deus e o bem do corpo
místico o exigirem.

Dom de operar Milagres

“Em verdade vos digo: se tiverdes fé como um


grão de mostarda, podereis dizer a este monte:

121
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

– muda-te daqui para ali, – e ele mudar-se-á. E


nada vos será impossível” (Mt 17,20”

O dom dos milagres está intimamente relacio-


nado com o dom das curas. Este se restringe
aos problemas da saúda do homem, ao pas-
so que o primeiro se estende também a even-
tos fora do homem e às leis da natureza. O
dom dos milagres é também um dom do Espí-
rito Santo. São Paulo também o inclui por ele
mencionados, embora não o considere como o
mais importante.

Hoje, será difícil encontrar alguém que creia


na atualidade dos milagres, quase todos temos
até medo dos milagres. Compreende-se que os
não-crentes tenham medo dos milagres, pois
esses são uma prova irrefutável da existência
do sobrenatural. Eles são como uma luz que
cega, um acontecimento revolucionário, uma
força irresistível que obriga o homem a colo-
car-se de joelhos.

Não se compreende, todavia, que também os


crentes tenham medo dos milagres. Teoricamen-
te os crentes admitem os milagres, mas na prá-
tica, eles os julgam algo grande de mais para
serem encarados pela mente humana, hoje tão
evoluída. Em geral, não há dificuldade em acei-

122
Neucir Valentim

tar os milagres do Evangelho ou da vida dos


crentes, mas quando se diz que aconteceu al-
gum milagre nos nossos dias, até mesmo bons
“carusmáticos” sentem-se embaraçadas.

Testemunho:

“Alguns anos atrás, em Nassau nas Bahamas,


ouvi uma conferência de Mel Tari, jovem indo-
nésio, sobre a atualidade dos milagres. Anterior-
mente eu já havia lido o seu livro: Like a mighty
Wind e, por isso, foi grande o meu interesse e
também a minha curiosidade em ouvir a confe-
rência. Mel Tari narrou com simplicidade evan-
gélica os milagres acontecidos na ilha de Timor,
no tempo em que ele e mais alguns companhei-
ros pregavam o Evangelho de aldeia em aldeia.
Contou o conferencista, com todos os detalhes,
como eles conseguiram atravessar a pé enxu-
to rios caudalosos, como multiplicaram o pão,
como converteram a água em vinho e como
ressuscitaram uma pessoa, morta há dois dias.
Quando perguntei qual havia sido o segredo de
tais prodígios, Tari me disse: as promessas de
Jesus. Vocês ocidentais acreditam que a Bíblia é
a história que narra as grandezas de Deus. Nós
que a recebemos há seis anos, acreditamos que
ela não é a história, mas que ela manifesta ainda
hoje as grandezas de Deus”.

123
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Os milagres são tão necessários hoje como ou-


trora. Se ao nível da vida natural o milagre pode
parecer um acontecimento excepcional, no pla-
no da salvação, de ordem sobrenatural, ele se
manifesta como elemento normal e essencial.
Na verdade, toda a história da salvação está
cheia de milagres: a libertação do povo hebreu
do Egito, a viagem pelo deserto, a conquista da
Palestina, são grandes eventos acompanhados
de milagres.

A vida de Cristo é repleta de milagres. Com o


milagre em Caná da Galiléia, “Jesus deu início
aos seus milagres e manifestou a sua glória e os
seus discípulos creram nele” (Jo 2,11).

As promessas de Jesus são simplesmente infalí-


veis. “Em verdade, em verdade vos digo: quem
crê em mim fará também ele as obras que eu
faço, antes, fará até maiores, porque eu vou para
o Pai” (Jo 14,12). “Nada vos será impossível” (Mt
17,20). “Tudo é possível a quem crê” (Mc 9,23).
“Tende fé em Deus. Em verdade vos digo: se al-
guém disser a esse monte: – sai e lança-te ao mar
– e não duvidar no seu coração, mas crer que
o que diz se cumprirá, ser-lhe-á concedido” (Mc
11,22-23). Jesus nos garantiu que tais promessas
são irreversíveis: “passarão o céu e a terra, mas
as minhas palavras não passarão” (Mt 24,35).

124
Neucir Valentim

Os cristãos aceitam facilmente os “grandes mi-


lagres”, como os chama santo Agostinho: a
criação do mundo, o milagre da vida, mas relu-
tam em admitir os “milagres menores”, isto é, os
acontecimentos que subvertem as leis da natu-
reza, graças à intervenção divina que se vale de
leis superiores por Deus mesmo, para o governo
do mundo.

O movimento renovação carismática quer re-


cordar aos que leem o Evangelho todos os dias
que as promessas de Jesus são muito mais do
que simples palavras. Todo cristão pode ter o
dom dos milagres, como também pode ser ob-
jeto de milagres. Todo cristão é capaz de mover
montanhas, não necessariamente de terra e pe-
dras, mas montanhas de obstáculos. Todo cris-
tão é capaz de transformar situações que para a
lógica humana podem até parecer impossíveis.

Todo batizado, participa do poder de Cristo e,


logicamente, poderá também fazer as mesmas
obras que Jesus fez. Todos os crentes podem
ter o dom dos milagres e não apenas alguns
privilegiados. O dom dos milagres é cada para
cada indivíduo , mas especialmente para a co-
munidade. O Espírito Santo prefere dá-lo mais à
comunidade do que a uma pessoa taumaturga.

125
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Dom da Palavra de Ciência

"A um é concedida por meio do Espírito, a lin-


guagem da ciência" (1Co 12.8).

O dom da palavra de ciência é a capacidade


sobrenatural que propicia uma visão além da
esfera material. É a penetração na ciência de
Deus (Ef 3.3). Mesmo que muitos confundam a
sabedoria e o conhecimento, há uma diferença
entre os dois: sabedoria é o conhecimento em
ação, o conhecimento é o entendimento em si.
Mas de acordo com a Bíblia a sabedoria e a
ciência devem andar juntas (Ef 1.17-19). Tam-
bém se difere do dom da profecia, pois este é
uma mensagem expressa em palavras na língua
vernáculo ou em línguas desconhecidas, já a
linguagem da ciência tem como característica
também uma mensagem, porém interior, inspi-
rada pelo Espírito Santo, revelando conhecimen-
to a respeito de pessoas, de circunstâncias ou
de verdades bíblicas. Não se identifica também
com o dom do discernimento dos espíritos, visto
que este se endereça a sujeitos determinados,
ou seja, aos espíritos, ao passo que a palavra de
ciência toma qualquer direção.

Este carisma não diz respeito à bagagem cultural


que adquirimos através do estudo e onde apli-

126
Neucir Valentim

camos a nossa inteligência e a nossa vontade.


Não se trata também do conhecimento de Deus
e das realidades divinas, adquirido mediante o
estudo da filosofia e da teologia. Este dom não
se adquire através de especulações intelectuais.
O que, porém, é verdadeiro, é que ele alcança
a inteligência, graças à revelação por parte do
Espírito Santo. São Paulo chama-o "linguagem"
ou "palavra da ciência". Em grego encontramos
o vocábulo "logos", que não significa necessa-
riamente emissão de som ou fenômeno vocal,
mas, antes, pensamento. Por linguagem da ci-
ência entendemos, portanto, um conhecimento
intelectual, mas não necessariamente expresso
por palavras. No nosso caso, este conhecimento
alcançou a nossa mente, não através das vias
normais do raciocínio ou da percepção, mas
mediante uma revelação. Podemos, pois definir
o dom da linguagem da ciência como uma re-
velação sobrenatural relativa a situações, fatos,
eventos passados, presentes, ou futuros, não
conhecidos por meios humanos. Podemos con-
siderar este dom como um fragmento da onisci-
ência de Deus, revelado à nossa inteligência e
concernente a um fato determinado.

Poderíamos, ainda, chamá-lo de diagnóstico


que Deus faz de um fato, de um problema, de
um estado de espírito, de uma situação e cujo

127
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

resultado é comunicado à nossa mente. Esse


dom torna-nos capaz de compreender o profun-
do significado da Sagrada Escritura, através de
uma iluminação sobrenatural sobre os pensa-
mentos de Deus, contidos nas palavras inspira-
das. Esse dom faz com que a nossa inteligência
penetre nas verdades divinas sem que empre-
guemos o esforço do raciocínio.

Podemos identificar esse dom, quando ao pro-


feta Natan foi revelado o pecado de Davi com
Betseba e ao profeta Eliseu foi mostrado, através
de uma visão, o lugar onde se encontravam os
inimigos, podendo assim salvar o povo de Deus.
Ananias também teve uma visão que lhe adian-
tou a conversão de Saulo.

Também Jesus exerceu esse dom. Revelou os pe-


cados do paralítico e a vida passada da mulher
samaritana. Viu Natanael debaixo da figueira, a
traição de Judas, a negação de Pedro e a fuga
dos apóstolos na hora da paixão.
Hoje, este dom está reaparecendo nos grupos
carismáticos. Podemos ter o testemunho pessoal
ao ver curas serem reveladas, ou mesmo acon-
tecimentos passados, presentes ou futuros.

128
Neucir Valentim

Dom da Palavra de Sabedoria

"A um é concedido por meio do Espírito, a lin-


guagem da sabedoria" (1Cor 12,8)

A palavra de sabedoria é a manifestação so-


brenatural da sabedoria de Deus. Não se trata
do resultado de qualquer esforço humano em
se conhecer a sabedoria divina (1Co 2.4,6),
nem tão pouco de nosso crescimento espiritual.
É um dom de Deus. É senão a aplicação prá-
tica e o reto uso do dom de ciência. O dom da
ciência apresenta-nos um panorama da situa-
ção e com o dom da sabedoria o Senhor nos
revela qual deve ser o nosso comportamento
em cada situação.

O dom da ciência é mera informação sobrena-


tural; o dom da sabedoria incentiva o desenvol-
vimento prático que se deve seguir. Com o dom
da ciência o Espírito Santo nos faz ver, com o
dom da sabedoria ele nos leva a agir.

É dom de Deus, não se trata, portanto da sabe-


doria humana, fruto da inteligência e da experi-
ência. É manifestação do Espírito; por isso não é
habilidade humana nem sagacidade, esperteza
ou diplomacia.

129
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Notemos que existe também uma diferença en-


tre o dom da linguagem da sabedoria e o dom
comum da sabedoria. Este último é o dom que
nos faz encarar e apreciar a Deus da maneira
mais objetiva possível, ou em outras palavras:
faz despertar em nós o gosto pelas coisas de
Deus. A linguagem da sabedoria por sua vez, é
um dom de Espírito que nos mostra o modo de
agir para mantermos em dia o plano de Deus,
conhecido mediante o dom da ciência.

É o dom que nos faz dar respostas acertadas em


caso de sermos levados aos tribunais. Em tais si-
tuações não devemos preocupar-nos com o que
haveremos de dizer por que o Espírito falará por
nós (Mt 10,19). É este o dom que devemos usar
quando temos decisões difíceis para tomar e
problemas árduos para resolver. O rei Salomão
foi agraciado com esse dom quando teve de jul-
gar qual das mulheres era a mãe da criança. É
o dom negado aos soberbos e reservado aos
humildes: "louvo-te e agradeço-te, ó Pai, Senhor
do céu e da terra, porque escondeste estas coi-
sas aos sábios e entendidos e as revelastes aos
simples" (Lc 10,21). "Arruinarei a sabedoria dos
sábios, e frustrareis a inteligência dos inteligen-
tes (1Cor 1,19). Os soberbos chefes do Sinédrio
"não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito
com que Estevão falava" (At 6,8)

130
Neucir Valentim

Os que receberam este dom não significa que


são mais sábios que os outros. Jesus prome-
teu aos seus discípulos: “boca e sabedoria a
que não poderão resistir, nem contradizer todos
quantos se vos opuserem” (Lc 21.15). Esse dom
vai além da sabedoria e preparo humano. Mas
é preciso salientar que a sabedoria se divide
em três tipos:

a) Sabedoria humana – Lc 14.28-33; 1Co 2.6


b) Sabedoria satânica – Tg 3.14-16
c) Sabedoria Divina – Tg 3.17; 1Co 2.7

Dom do Discernimento dos Espíritos


1 – O que é o Discernimento dos Espíritos?

O Discernimento é uma habilidade ou capaci-


dade dada por Deus de se reconhecer a iden-
tidade (e muitas vezes, a personalidade e a
condição) dos “espíritos” que estão por detrás
de diferentes manifestações ou atividades. Este
dom, essencial à Igreja, é geralmente concedido
aos pastores do rebanho de Deus e aos que es-
tão em posição de guardar e de guiar os Santos.

Como podemos ver na definição acima, esse


dom de Deus nos ajuda, portanto, a perceber
a origem de uma intuição, de um pensamen-
to, a causa de um comportamento – especial-

131
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

mente quando este se nos apresenta de forma


estranha. O Discernimento, assim, é um dom
“protetor da comunidade e protetor de todos
os outros dons”.

Como dom do Espírito, não procede das capa-


cidades simplesmente humanas, nem das dedu-
ções científicas que possamos ter adquirido. “O
discernimento é intuição pela qual sabemos o
que é, verdadeiramente, do Espírito Santo”.

O Discernimento, ainda pode ser visto como


uma espécie de visão ou sensibilidade; é uma
revelação espiritual da operação de diferentes
tipos de espíritos numa pessoa ou numa situ-
ação; é o meio pelo qual Deus faz os cristãos
tomarem consciência do que está acontecendo.
Após todas estas definições, podemos nos per-
guntar: Qual o benefício esse dom nos traz, ao
ser usado de forma adequada? Como usar esse
dom? Como foi usado por pessoas, quando vi-
veram em situações complexas em suas vidas?
Como proceder a partir da orientação certa, se-
gura que o Discernimento lhes deu?

2 – O uso do dom do Discernimento

O Carisma em estudo nos permite agir de for-


ma correta em um fato ou situação que temos

132
Neucir Valentim

em mãos, no momento. Permite-nos identificar


a causa dessa situação especial, podendo, as-
sim, nos levar à raiz, ao princípio que a move,
que a origina, encaminhando a situação acer-
tada e feliz.

O uso do dom nos ajuda, portanto, a conhecer


o espírito, isto é, o princípio animador (anima
= o que anima, move, movimenta etc). Com
ele (dom), podemos chegar, com facilidade, a
origem de uma inspiração e confirmar de onde
esta pode vir:

- se provém de Deus (ou de Deus por meio de


Seus anjos, os Seus mensageiros);
- se origina da mente humana (a qual pode es-
tar sã, doentia, desequilibrada ou alterada);
- se provém dos espíritos maus (do demônio ou
de influências espirituais maléficas).

Para que o uso do dom de Discernimento, seja


utilizado com cada vez mais eficiência e eficácia
e como é um dom do Espírito, deve ser usado
à luz da oração (especialmente a oração em
línguas, que facilita a nossa mente a perceber
a orientação de Deus), com sabedoria (dom,
como dissemos, que acompanha o uso de todos
os outros dons espirituais), com jejum e em co-
munhão constante com o Senhor.

133
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

O Discernimento ajuda-nos, ainda, a distinguir o


certo do errado, o verdadeiro do falso, e orienta
nossas vidas na fé e doutrina de Jesus Cristo.

3 – Jesus e o Discernimento

Jesus se deixou guiar pelo discernimento em


diversas situações de Sua vida pública e em
Seu ministério e ao passo que tais situações
aconteciam, ensinava aos Seus discípulos a
também se deixarem guiar pelo discernimen-
to. Veja alguns exemplos em que Jesus utiliza
do discernimento:

Quando Seus oponentes (os escribas) atribuíam


à Sua ação a presença de um espírito imundo,
afirmando que Ele agia por belzebu, expelindo
os demônios, Jesus não ia deixar essa afirmação
passar assim no barato, e não deixou mesmo!!!
E concluiu com um belo discernimento doutri-
nal, que eles mesmos não tinham percebido. Ele
diz: “Como pode Satanás expulsar a Satanás?
Pois, se um reino estiver dividido contra si mes-
mo, não pode durar” e acrescentou “Mas, se é
pelo Espírito de Deus que expulso os demônios,
então chegou para vós o reino de Deus”.

Na discussão sobre o cego de nascença, relata-


da em Jo 9:1ss, Jesus não culpa ninguém pela

134
Neucir Valentim

cegueira, mas discerne como ocasião da mani-


festação da glória de Deus e o cura.

Nas tentações do deserto, Jesus soube discernir


como poderia vencer o maligno, lançando mão
do discernimento doutrinal da Palavra de Deus.

É vendo esses exemplos na vida de Jesus – e


temos muitos outros -, que os apóstolos e nós
vamos aprendendo a usar o dom do discerni-
mento, que nos auxilia nas decisões práticas,
nas atitudes concretas que podemos seguir.

Tendo os Apóstolos, vivido ao lado de Jesus por


tantos momentos em que Ele usou de discerni-
mento e após o Pentecostes, também eles passa-
ram a utilizar frequentemente o dom. Esta é uma
atitude que devemos ter em todos os momentos
de nossas vidas, devemos pedir incessantemente
pelo dom do Discernimento, precisamos praticar
o dom do discernimento e assim veremos que
muitas situações de nossas vidas serão simples e
práticas de se resolver.

4 – A natureza do discernimento

Apontam-se diversas naturezas e tipos de


Discernimento que são identificados da se-
guinte forma:

135
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

- O discernimento comum ou bom-senso: este


tipo é uma fonte de verdade, por ele podemos
chegar a importantes conclusões, com base no
que a nossa natureza nos faz intuir. O senso co-
mum é uma fonte de informação de como de-
vem os nos comportar, pensar ou agir de forma
adequada. Exemplo: Quando vou a Igreja, sei o
modo de me vestir. Não necessito da luz espiri-
tual e interior para saber como me devo vestir e
portar num ambiente religioso.

- O discernimento científico: é aquele que pro-


vém das conclusões científicas e plenamente
certas. Quando estamos doentes, o médico
nos auxilia, pelo conhecimento científico que
já adquiriu, quer pela ciência que estudou e
testou, quer por sua experiência no campo de
sua atividade.

- O discernimento doutrinal: trata-se do discerni-


mento que a Palavra de Deus, o ensino da Igreja
já me oferecem. Por esse conhecimento e verda-
de, posso caminhar firme na fé, desviando-me
do que não é correto segundo Deus e a Igreja.

Por esse discernimento, somos levados a distin-


guir a voz de Deus de outras vozes que nos quei-
ram confundir.

136
Neucir Valentim

- O discernimento, como carisma do Espírito


Santo: esse carisma ajuda-nos a avaliar as coi-
sas de Deus e deixar de lado as que não provém
dEle. Auxiliados por esse dom, podemos emitir
juízo sobre a natureza de nossos pensamentos,
bem como as atitudes práticas, vendo se estas
estão em conformidade com a vontade de Deus.
Assim, posso discernir se algo é contrário a von-
tade de Deus e então evitar.

Até o zelo pelas coisas de Deus deve ser acom-


panhado pelo dom do discernimento, assim
como afirma São Paulo ao falar dos Judeus e
suplicar por sua salvação: “Eles têm um zelo
por Deus, mas um zelo sem discernimento” . Se
nosso zelo espiritual ou doutrinal com as coisas
de Deus, não forem acompanhados de discer-
nimento, muitas coisas poderá ser afirmada de
forma inadequada ou falsa.

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S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

138
Neucir Valentim

COM A
PALAVRA OS
CESSACIONISTAS
SÍNTESE DOS QUE ENSINAM QUE
OS DONS FORAM TEMPORÁRIOS E
CESSARAM

Os Cessacionistas acreditam historicamente que


alguns dons espirituais (e ofícios) pertenceram à
infância da igreja do Senhor. Esse foi um resul-
tado natural de posicionamento em relação a
Bíblia. Eles a asseguraram como "única regra de
fé e prática". Esta posição também foi defendida
por protestantes ortodoxos.

Por outro lado o Catolicismo (veja o capítulo ante-


rior) e a maioria dos cultos sempre reivindicaram
possuir dons milagrosos. Profetas inspirados, no-
vas revelações, curas milagrosas e sinais sempre
foram ostentados por estes grupos. Em tempos
recentes um movimento religioso chamado "reno-
vação carismática" tem reivindicado que os dons
milagrosos estão sendo restabelecidos em seu âm-
bito. Este movimento é agora interdenominacional
e tem experimentado um crescimento tremendo.
139
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

OS NOVE DONS TEMPORÁRIOS

Em I Coríntios 12:8-10, nós temos listados nove


dons que foram possuídos peculiarmente pelas
igrejas apostólicas. Estes dons (assim como o
oficio de apóstolo e profeta) foram temporário.
Nosso plano é definir primeiramente estes dons
e então provar que eles não foram dados por
Deus como um dom permanente.

A palavra de sabedoria

Esta era a habilidade sobrenatural de tomar


decisões ou não falar baseando-se em estudo
ou premeditação, mas pelo trabalho direto do
Espírito Santo na mente (Atos 6:8-10, Mateus
10:19-20). [Por que aqueles que reivindicam
possuir este presente contratam advogados
quando se envolvem em litígio?]

A palavra de conhecimento

Esta era a habilidade de saber fatos e com-


preender situações em virtude de uma revela-
ção direta pelo Espírito Santo (Atos 5:1-10,
II Reis 5:25-26).

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Neucir Valentim

O Dom da fé

Isto é o que nós chamaríamos de "fé milagrosa"


(I Coríntios 13:2, Atos 3:1-9). Esta fé não era
possuída por todos os crentes, mas era sobera-
namente dada por Deus segundo o Seu querer
(I Coríntios 12:11). Não deve ser confundida
com a fé salvadora, comum a todos os crentes.

Dons de cura

Esta era a habilidade de curar à vontade (Atos


9:32-35). A cura foi executada como um sinal
(João 10:38, Atos 4:29-30).

Operar os milagres

Esta era a habilidade de fazer milagres como um


sinal ou a confirmação de que a mensagem era
de Deus (Hebreus 2:3-4).

Profecia.

Esta era a habilidade de receber e comunicar


a outras pessoas mensagens ou doutrinas que
vinham da revelação direta de Deus. A Bíblia foi
escrita por profetas.

141
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

Discernir de espíritos

Esta era a habilidade de discernir se aqueles que


reivindicavam exercitar dons espirituais eram de
Deus ou de Satanás. As igrejas primitivas não ti-
nham um Novo Testamento completo para exa-
minar os ensinos dos profetas.

Línguas

Esta era a habilidade sobrenatural de falar em


idiomas que não haviam sido adquiridos através
de estudo (Atos 2:1-11). Isso aconteceu como
um sinal (I Coríntios 14:22).

Interpretação de línguas

Esta era a habilidade sobrenatural de in-


terpretar aqueles que falavam em línguas
(I Coríntios 14:27).

FATOS QUE PROVAM A NATUREZA TEM-


PORÁRIA DESTES DONS

Nesta texto desejamos provar a afirmação de


que alguns dons eram temporários. Dizendo
isto, precisa ser entendido que nós não estamos
tentando provar que Deus não cura, faz mila-
gres, ou conduz e ilumina o Seu povo.

142
Neucir Valentim

Todo crente regozija-se quando Deus ouve as


suas orações. Há uma diferença, porém, entre
Deus que cura em resposta a oração e em um
homem que tem o dom de cura como um sinal.

O que nós estamos afirmando é que esses dons


que tinham a finalidade de autenticação ou
revelação eram temporários. Deixe-nos olhar
agora a algumas das razões e o porquê esta
posição realmente é verdadeira.

A. As igrejas primitivas tinham necessidades es-


peciais.

As igrejas apostólicas tiveram algumas neces-


sidades que não são encontradas nas igrejas
hoje, muito obviamente.

1. Ela não tinha o Novo Testamento completo,


então teve a necessidade de várias revelações
divinas.

2. Ela precisava de sinais para autenticar as re-


velações recebidas (Hebreus 2:3-4).

Nenhuma das razões dadas pelos Pentecostais


modernos para nossa suposta necessidade de
dons milagrosos são Bíblicas. Eles afirmam que
estes dons farão da igreja mais espiritual, porém

143
S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

os dons necessariamente não tiveram este efeito


na igreja apostólica (Compare I Coríntios 1:7
com I Coríntios 3:1-3). Eles reivindicam que:
como as pessoas de Deus ainda adoecem, ain-
da precisamos de dons de cura. Isto revela a
falta de entender que os dons de cura agiam
como um sinal para os incrédulos. Deus ainda
cura de acordo com a Sua própria vontade mas
não como um sinal. Não há nenhuma razão Bí-
blica para que as igrejas com um completo e to-
talmente autêntico Novo Testamento necessitem
destes nove dons milagrosos.

B. O testemunho da história da igreja.

A história da igreja confirma o ensino de que


estes dons milagrosos foram limitados a tempos
apostólicos (Hebreus 2:3-4). João Chrysostom
(345-407 A.D.) o famoso pregador de Antioquia
dizia em relação a I Coríntios capítulo 12. Este
trecho todo é muito obscuro: mas a obscuridade
é produzida por nossa ignorância sobre os fatos
referidos e por sua cessação, sendo que os que
aconteciam já não mais acontecem.

Os Pentecostais reivindicam que a carnalidade


e a falta de fé são os responsáveis para que
os dons deixem de existir. Isto porém contradiz
vários fatos:

144
Neucir Valentim

1. A igreja em Corinto era carnal (I Coríntios


3:1-3) contudo tive abundância de dons .
2. Os dons são soberanamente dados por Deus
(I Coríntios 12:11). Se eles cessaram tratou-se
da vontade de Deus que eles cessassem e não
porque faltou fé nos crentes.
3. Cristo sempre teve igrejas sãs e elas teriam
recebido estes dons se elas fossem disponíveis
(Mateus 16:18).

C. O testemunho do Apóstolo Paulo.


Em I Coríntios 13:1-13, Paulo está revelando a
importância do amor e a sua superioridade so-
bre outros dons. Provando a superioridade do
amor ele declara algumas verdades interessan-
tes relativas à natureza temporária dos dons mi-
lagrosos. Vejamos alguns destes fatos.

1. Em I Coríntios 13:10, é anunciado um prin-


cípio básico. Somos ensinados que o incom-
pleto será substituído com a vinda daquilo que
é perfeito. A revelação incompleta do vs. 10
será obviamente os dons milagrosos (vs. 9), e
nós acreditamos que a Bíblia é perfeita. Sendo
assim o vs. 10 ensina obviamente que o cânon
completo do Novo Testamento seria superior e
traria o fim dos dons milagrosos. Alguns tenta-
ram evitar esta lógica dizendo "o que é perfeito"
referindo-se à vinda de Cristo. Esta interpreta-

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S Í N T E S E D O U T R I N Á R I A C O M PA R A D A E C O M E N TA D A

ção será rejeitada pelas seguintes razões:

a. "Perfeito" é aplicado a um objeto neutro. É


difícil acreditar que Paulo referira-se a Cristo
como um "o que".
b. O contexto não está tratando do retorno de
Cristo mas diferentes graus para se completar a
revelação:
(1) Revelação parcial dos dons espirituais (vs. 9)
(2) Revelação completa da palavra de Deus
(3) A escritura deve ser interpretada de acordo
com seu contexto.
c. Em Tiago 1:25 a Bíblia é tida como "perfeita".

2. Em I Coríntios 13:11, temos a insinuação de


que os dons milagrosos foram para os tempos
da infância da igreja.

3. Em I Coríntios 13:8-13, Paulo parece com-


parar a permanência relativa da fé, esperança e
amor com os dons milagrosos.

a. O amor nunca falha (vs. 8). Esta é uma graça


que nós desfrutaremos até mesmo no Céu para
sempre.
b. A fé e a esperança continuam, quando
comparadas aos dons milagrosos (vs. 13,
8-10). Lembremo-nos porém que o amor ain-
da é superior a fé e a esperança, pois elas

146
Neucir Valentim

serão desnecessárias após o retorno de Cristo


(Romanos 8:24).
c. Os dons milagrosos foram temporários (vs.
8). Eles não serão eternos como o amor e não
continuarão até o retorno de Cristo como a fé e
a esperança.

Uma vez entendido o real propósito dos dons


milagrosos um cristão não deveria ter mais
problemas para entender a natureza temporá-
ria dos dons temporários. Hoje em dia não há
nas igrejas dons que envolvam uma revelação
direta de Deus. Igualmente os dons de sinais
que serviam para a confirmação de novas re-
velações têm cessado. Aqueles que acreditam
que estes dons ainda estão em operação não
podem dizer: "A Bíblia é exclusivamente nossa
regra de fé e prática". Para eles a Bíblia é uma
revelação em aberto. As igrejas Bíblicas acre-
ditam por outro lado que a Bíblia é a completa
revelação de Deus.

147
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148
Neucir Valentim

Conclusão:

Você leu sobre vários pontos de vista e sínteses


“in totum” de vários seguimentos.

Cremos que de todas, a visão cessacionista


põe cadeado no agir de Deus. Achamos que
isso limita a ação de Deus na história. Afinal
Deus é Deus!

Espero que faça desse livro um material de estu-


do comparativo, e mais que possa tirar dele edi-
ficação pessoal, buscando de maneira diligente
entender melhor e ensinar as verdades bíblicas,
pois elas não saem de moda, e como Paulo nos
ensina em sua carta Aos Coríntios, que devemos
buscar com zelos os melhores dons, e por con-
seguinte, o Senhor nos mostrará um caminho
mais excelente.

Comunique, compartilhe, debata, mas não dei-


xe aquilo que Deus proporcionou à igreja seja
esquecido ou empanado pela poeira do tempo.
O bom senso nos mostra que o melhor ca-
minho é o do equilíbrio.

149
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Que Deus o abençôe e ajude-o a refletir que na


importância dos assuntos aqui tratado, para a
vida pessoal de cada crente e da vida da Igreja
de Cristo.

150
Neucir Valentim

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(Nordeste)
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19 de novembro de 2009

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Você provavelmente é um cessacionista, também
Phillip Johnson
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30 de novembro de 2009

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