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BATALHA ESPIRITUAL

BATAL HA
ESPI RI TUAL
Au gu st u s N icode m u s Lope s

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BATALHA ESPIRITUAL

Í ndice
Quatro Princípios Bíblicos para se Entender a Batalha Espiritual................................... 4

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4

A Necessidade de Base Bíblica ...................................................................................... 7

Quatro princípios fundamentais ...................................................................................... 9


1. Deus é soberano absoluto do seu universo............................................................. 9
2. As coisas de Deus só podem ser conhecidas pelas Escrituras ............................. 14
3. O homem é um ser decaído e debaixo do justo juízo de Deus ............................. 19
4. Se alguém está em Cristo é uma nova criação ..................................................... 26

Conclusão ..................................................................................................................... 32

Notas............................................................................................................................. 34

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BATALHA ESPIRITUAL

Qu a t r o Pr in cípios Bíblicos pa r a se
En t e n de r a Ba t a lh a Espir it u a l
Au gu st u s N icode m u s Lope s

( Esse m at erial encont ra- se em fase de revisão e aparecerá em sua form a final
com o um dos capít ulos do livro " Neopent ecost alism o" da Com issão Perm anent e
de Dout rina da I grej a Presbit eriana do Brasil)

I nt r oduçã o

As igrej as hist óricas do m undo t odo t êm sido desafiadas nest as últ im as


t rês décadas a dar respost as às ênfases de um m ovim ent o dent ro das suas
fileiras que ficou conhecido com o " m ovim ent o de ‘bat alha espirit ual’" . O nom e
em si j á sugere do que se t rat a: é um m ovim ent o cuj a ênfase m aior é na lut a
da I grej a de Crist o cont ra Sat anás e seus dem ônios, conflit o est e de nat ureza
espirit ual, quant o aos m ét odos, arm as, est rat égias e obj et ivos.
Esse crescent e int eresse em círculos evangélicos por Sat anás, dem ônios,
espírit os m alignos, e o m ist erioso m undo dos anj os, corresponde ao surt o de
m ist icism o at ual, um int eresse crescent e no m undo nos dias de hoj e pelos
anj os m aus e bons, e pelo ocult o. Mas não som ent e no m undo, dent ro da
própria igrej a crist ã assist im os o crescim ent o vert iginoso da busca pelo
m iraculoso e sobrenat ural, na est eira do neopent ecost alism o. Por
neopent ecost alism o quero dizer aqueles m ovim ent os surgidos em décadas
recent es, que são desdobram ent os do pent ecost alism o clássico do início do
século, m as que abandonaram algum as de suas ênfases caract eríst icas e
adquiriram m arcas próprias, com o ênfase em revelações diret as, curas,
bat alha espirit ual, e part icularm ent e um a m aneira de encarar a realidade
espirit ual.
Esse m ovim ent o é caract erizado por um a leit ura das Escrit uras e da
realidade sem pre em t erm os da ação sobrenat ural de Deus. Deus é percebido
som ent e em t erm os de sua ação ext raordinária. Assim , para o neopent ecost al
t ípico, Deus o guia na vida diária at ravés de im pulsos, sonhos, visões, palavras
profét icas, e dá soluções aos seus problem as sem pre de form a m iraculosa,
com o libert ações, livram ent os, exorcism os e curas. A dout rina que caract eriza,
m ais que qualquer out ra, as igrej as evangélicas no Brasil hoj e, é a crença em
m ilagres. É claro que não est ou dizendo que crer em m ilagres sej a errado. O
que est ou dizendo é que, na hora em que a crença em m ilagres
cont em porâneos e diários passa a ser a caract eríst ica m aior da igrej a
evangélica, algo est á errado.
A herm enêut ica sobrenat uralist a do neopent ecost alism o represent a um
desafio para a um a das dout rinas t ípicas da t radição reform ada, que é a

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providência de Deus. Part indo das Escrit uras, os reform ados usam o t er m o
providência para se referir à ação de Deus, pelo seu Espírit o, agindo no m undo
at ravés de pessoas e circunst âncias da vida para at ingir seus propósit os. Esses
m eios não são int ervenções m iraculosas ou ext raordinárias de Deus na vida
hum ana, m as sim plesm ent e m eios nat urais secundários. Os calvinist as
reconhecem que Deus int ervém m iraculosam ent e nest e m undo, m as sem pre
em regim e de exceção. Norm alm ent e, ele age at ravés dos m eios nat urais.
O neopent ecost alism o, por enfat izar a ação sobrenat ural e m iraculosa de
Deus no m undo ( a qual não negam os, diga-se) , acaba por negligenciar a
im port ância da operação do Espírit o Sant o at ravés de m eios secundários e
nat urais. Essa negligência t orna- se m ais séria quando nos conscient izam os que
o Espírit o norm alm ent e t rabalha at ravés de m eios secundários e nat urais para
salvar os pecadores. Acredit o não ser difícil de provar que a esm agadora
m aioria dos crist ãos foram salvos at ravés de m eios nat urais – com o o
t est em unho de alguém , a leit ura da Bíblia, a pregação da Palavra – e não
at ravés de int ervenções m iraculosas e ext raordinárias, com o foi a conversão
de Paulo.
Com o result ado do sobrenat uralism o neopent ecost al, as igrej as
reform adas por ele afet adas t endem a considerar os m eios nat urais com o
sendo espirit ualm ent e inferiores. Um bom exem plo é a t endência de considerar
o t om ar rem édios com o falt a de fé por part e do crent e adoent ado. Um out ro
result ado é a dim inuição da pregação do Evangelho com o m eio de salvação
dos pecadores, e a ênfase na realização de com o m eio evangelíst ico. Assim , a
obra do Espírit o na I grej a e no m undo at ravés dos m eios nat urais secundários
é negligenciada, com graves e perniciosos efeit os nas vidas dos que abraçam a
cosm ovisão neopent ecost al.
As conseqüências dest a m aneira de ver a realidade espirit ual são sérias
para a área do conflit o da igrej a cont ra as host es das t revas, pois a concebe
apenas em t erm os do sobrenat ural, negligenciando o ensino bíblico de que
Sat anás procura at ingir a I grej a de Crist o at ravés da carne e do m undo –
m eios que n ão são necessariam ent e sobrenat urais.
Conquant o devam os dar as boas vindas a t odo e qualquer m ovim ent o na
I grej a que venha nos aj udar a m elhor nos preparar para enfrent ar os at aques
das host es m alignas cont ra a I grej a, est e m ovim ent o polêm ico t em t razido
algum as preocupações sérias a past ores, est udiosos e líderes evangélicos no
m undo t odo, não som ent e das igrej as evangélicas hist óricas, com o at é m esm o
de igrej as pent ecost ais clássicas.( 1) Mesm o organizações int ernacionais, com o
o Com it ê de Lausanne para Ev angelização Mundial, t êm expressado suas
preocupações com os ensinos dest e m ovim ent o, num a declaração do seu
Grupo de Trabalho feit a em 1993, em Londres.( 2)
Exist em várias razões para essa preocupação. Um a delas é que o
m ovim ent o, onde t em ganhado a adesão de past ores e com unidades, t em
produzido um t ipo de crist ianism o em que a at ividade sat ânica se t ornou o
cent ro e m esm o a razão de ser da exist ência dest es m inist érios e igrej as.
Nest es casos, em bora geralm ent e as dout rinas fundam ent ais da fé crist ã não
t enham sido negadas ( há exceções) , elas são, via de regra, relegadas a plano

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secundário, desaparecendo do ensino e da lit urgia. O que result a é um


crist ianism o dist orcido, deform ado, onde dout rinas com o a salvação pela fé
som ent e, m ediant e o sacrifício redent or, único e expiat ório de Crist o. A
dout rina da pessoa de Crist o, sua m ediação e ofícios, e dout rinas com o a da
queda, da depravação do hom em , da sant ificação progressiva m ediant e os
m eios de graça, são negligenciadas. Não é que est as igrej as e os proponent es
do m ovim ent o neguem necessariam ent e est es pont os; m as cert am ent e não
lhes dão a ênfase necessária e devidas, que recebem nas próprias Escrit uras.
O fat o é que o m ovim ent o de " bat alha espirit ual" t em produzido o
surgim ent o de novas igrej as ( e m esm o denom inações) cuj o m inist ério principal
é a expulsão de dem ônios e a " libert ação" de crent es e descrent es da opressão
dem oníaca a t odos os níveis ( espirit ual, m oral e física, bem com o geográfica,
est rut ural e social) . Mas não som ent e ist o — as idéias e prát icas difundidas
pelo m ovim ent o t em se infilt rado nas igrej as hist óricas, cat ivando m uit os dos
seus past ores, oficiais e m em bros.
O obj et ivo desse capít ulo é apresent ar alguns princípios bíblicos pelos
quais os evangélicos em geral, e presbit erianos em par t icular, poderão orient ar
sua com preensão acerca de t em a t ão at ual e polêm ico.( 3)

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A N e ce ssida de de Ba se Bíblica
A m elhor m aneira de abordarm os assunt os polêm icos é colocá- los dent ro
de seus cont ext os m aiores. Se t iverm os a visão do t odo, poderem os com m ais
exat idão ent ender suas part es. Por exem plo, um a pessoa que t ent a achar um
endereço num a cidade sim plesm ent e procurando as placas com o nom e das
ruas pode acabar desorient ada e perdida. Se ela porém t iver um m apa, que
lhe dá um a visão m ais am pla da área onde ela se encont ra, e m ost ra as
ligações ent re as ruas, poderá m ais facilm ent e encont rar seu dest ino. Da
m esm a form a, quando colocam os o t em a do confront o da I grej a com as host es
das t revas dent ro de um cont ext o m aior, e percebem os as ligações com out ras
áreas t eológicas, podem os m elhor ent endê- lo.
Em t erm os do conhecim ent o t eológico global, o assunt o não pert ence a
um a área som ent e. Quando falam os da polêm ica ent re salvação pela fé e/ ou
pelas obras, facilm ent e ident ificam os que o assunt o pert en ce à área de
sot eriologia, ou sej a, o est udo da salvação, um a área da enciclopédia
t eológica. Se t iverm os um a boa com preensão dos princípios e fundam ent os
que orient am a sot eriologia, poderem os m ais facilm ent e ent ender t udo o que
est á envolvido nessa polêm ica. Mas a lut a ent re a I grej a e Sat anás não se
enquadra em um a área som ent e, m uit o em bora a dem onologia bíblica, que por
sua vez é um depart am ent o da angelologia, ( o est udo dos anj os bons e m aus)
cert am ent e sej a a principal área afim . O fat o é que os ensinos e prát icas da
" bat alha espirit ual" levant am quest ões sérias relacionadas com diversas áreas
do nosso conhecim ent o de Deus.
Quando, por exem plo, alguns dos defensores do m ovim ent o falam de
Sat anás com o se fosse um poder independent e, aut ônom o e livre para fazer o
m al nest e m undo, est á indiret am ent e ent rando na área que t rat a dos decret os
de Deus e da sua m aneira de governar o m undo. Ainda, quando alguns
revelam possuir inform ações ext ra bíblicas sobre o m undo invisível dos anj os e
dem ônios – com o por exem plo, o nom e de det erm inados dem ônios e os locais
geográficos onde supost am ent e habit am – est á ent rando na epist em ologia, ou
t eoria do conhecim ent o. Essa área t rat a do m odo pelo qual conhecem os as
coisas ao nosso redor, inclusive o acesso hum ano ao conhecim ent o do m undo
espirit ual invisível, onde habit am e at uam os seres espirit uais com o anj os e
dem ônios. Sem elhant em ent e, quando t odo t ipo de m al que exist e no m undo,
quer m oral ou circunst ancial ( com o doença, dor, desem prego, et c.) é at ribuído
aos dem ônios, levant a- se a ant iga discussão acerca da origem dos m ales e
sofrim ent os nest e m undo present e. E quando é dit o que os crist ãos podem ser
possuídos por um espírit o m aligno ( ou ficar dem onizados, para usar um t erm o
m ais em voga) , est am os de volt a à sot eriologia – ou sej a, qual a sit uação dos
salvos diant e dos at aques de dem ônios – e ent ram os t am bém na crist ologia,
indagando qual a relação ent re a obra vit oriosa e consum ada de Crist o e a
at ividade sat ânica no present e.

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BATALHA ESPIRITUAL

Quando procuram os ent ender os conceit os da " bat alha espirit ual" a part ir
de princípios gerais que cont rolam as diversas áreas abrangidas pelo t em a,
poderem os t er alguns t rilhos sobre os quais poderem os conduzir o assunt o. No
que se segue, procuro analisar quat ro desses princípios que t êm im port ância
fundam ent al para ele: a soberania de Deus, a suficiência as Escrit uras, a
queda da raça hum ana e a suficiência da obra de Crist o. Acredit o que se forem
com preendidos adequadam ent e pelos leit ores, funcionarão com o balizadores
seguros pelos quais poderão prosseguir com m aior cert eza no conflit o diário
que enfrent am os cont ra as host es espirit uais da m aldade.

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Qu a t r o Pr in cípios Fu n da m e n t a is

1. Deus é soberano absolut o do seu universo

O t ít ulo acim a expressa um dos ensinam ent os m ais relevant es das


Escrit uras para o t em a desse ensaio. Um soberano é alguém que est á
revest ido da aut oridade suprem a, que governa com absolut o poderio, que
exerce um poder suprem o sem rest rição nem neut ralização. Quando dizem os
que Deus é soberano, significa que ele t em poder ilim it ado para fazer o que
quiser com o m undo e as criat uras que criou, e que nenhum a delas pode, ao
final, frust rar seus planos. Podem os fazer algum as afirm ações quant o a essa
dout rina.
A soberania absolut a de Deus sobre sua criação percebe- se claram ent e
nas Escrit uras. No Pent at euco Deus revela-se com o o Criador do m undo visível
e invisível, e da raça hum ana. Ele é o Libert ador dos seus e o Legislador que
soberanam ent e passa leis que reflet em sua sant idade e exigem obediência
plena de suas criat uras. Ele exerce t ot al cont role sobre a nat ureza que criou,
int ervindo em suas leis nat urais, suspendendo- as ( m ilagres) . Assim , em
cont rast e com os deuses das nações, ele é o suprem o soberano do universo,
acim a de t odos os deuses, que os j ulga e cast iga, bem com o aos que os
adoram . Nos livros Hist óricos, lem os com o Deus cum pre soberanam ent e suas
prom essas feit as a Abraão de dar um a t erra aos seus descendent es,
int roduzindo- os e est abelecendo- os em Canaã, e ali m ant endo-os at é que os
expulsasse por causa da desobediência deles. Os Salm os e os Profet as
celebram a soberania de Deus sobre sua criação e sobre seu povo. É ele quem
reina acim a das nações e de seus deuses falsos, quem cont rola o curso desse
m undo. Nele seu povo sem pre pode confiar e depender.
O m esm o reconhecim ent o encont ram os nas Escrit uras do Novo
Test am ent o. Na plenit ude dos t em pos Deus envia soberanam ent e seu filho, e
dá t est em unho dele at ravés de m ilagres poderosos, ressuscit ando- o de ent re
os m ort os. Esses event os, bem com o os que se seguiram na vida dos apóst olos
e da I grej a nascent e, ocorreram com o o cum prim ent o da vont ade de Deus.
Esse pont o vem os claram ent e nos Evangelhos e no livro de At os: a m ort e e a
ressurreição de Jesus ( At 2.23) , bem com o a oposição cont ra a I grej a ( At
4.27 -29) são sim plesm ent e o cum prim ent o da soberana vont ade divina,
acont ecendo com o cum prim ent o das Escrit uras. Para os apóst olos, " as
profecias feit as no Ant igo Test am ent o governavam o decurso da hist ória da
I grej a" ( 4) . Assim , o derram am ent o do Espírit o ( 2.17- 21) , a m issão aos gent ios
( 13.47) , a ent rada dos gent ios na I grej a ( 15.16 -18) , a rej eição de Crist o por
part e dos j udeus ( 28.25- 27) – t odos esses event os e out ros m ais são vist os
pelos aut ores do Novo Test am ent o com o at os redent ores de Deus na hist ória.
No livro de At os encont ram os claram ent e o conceit o de que a vida da I grej a foi

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dirigida por Deus. A cada et apa do progresso m issionários, Deus int ervém para
guiá- la, at ravés da at uação do Espírit o ( At 13.2; 15.28; 16.16) , anj os ( At
5.19 -20; 8.26; 27.23) , profet as ( At 11.28; 20.11-12) , e às vezes o próprio
Senhor ( At 18.9; 23.11) . A presença dos sinais e prodígios realizados em nom e
de Jesus at ravés dos apóst olos e de pessoas associadas aos apóst olos ( At
3.16; 14.3; 19.11) at est ava que era o próprio Deus que levava avant e a
hist ória da I grej a ( 15.4) .
A soberania de Deus é ensinada no conceit o de Reino de Deus. Mas, é o
conceit o bíblico do Reino de Deus que m elhor expressa a soberania de Deus
sobre o universo que form ou. Tal conceit o est á present e em t oda a Bíblia e
m esm o est udiosos renom ados t êm insist ido em que é o conceit o cent ral das
Escrit uras, do qual se derivam t odos os dem ais.( 5) Para colocá-lo de m aneira
sim ples e sucint a, significa o dom ínio suprem o de Deus sobre suas criat uras,
m esm o as que se encont ram em est ado de rebelião abert a cont ra ele; em bora
na época present e Deus perm it a que essa rebelião perm aneça, j á t em
det erm inado o dia em que será conquist ada e quando ent ão reinará t endo t udo
e t odos suj eit os debaixo do dom ínio de seu Filho ( 1 Co 15.23- 28) . O dom ínio
de Deus se est ende no present e sobre as ações e vidas de suas criat uras, sem
que isso represent e um a int rusão na liberdade delas em escolher e decidir
m oralm ent e. Ao final, porém , a vont ade do Rei prevalecerá sobre t odas elas,
sem que nenhu m a delas possa acusá-lo de det erm inist a.
A I grej a sem pre reconheceu o ensino bíblico sobre esse pont o. Os
aut ores da Confissão de Fé de West m inst er exprim iram o conceit o da
soberania de Deus de form a m uit o adequada. Eles escreveram que exist e
apenas um Deus vivo e verdadeiro, que é um espírit o puríssim o, infinit o em
seu ser e em seus at ribut os, invisível, im ut ável, am oroso, m isericordioso,
gracioso, pacient e, im enso, incom preensível, Todo- Poderoso, sant íssim o, livre
e t ot alm ent e absolut o, fazendo t odas as coisas de acordo com sua sant íssim a
vont ade e de acordo com o seu querer j ust o e im ut ável ( Capít ulo 2, § 1) . Eles
ainda acrescent aram que Deus possui em si m esm o t oda vida, glória, bem -
avent urança, e que é suficient e em si m esm o, e que não precisa de nenhum a
das criat uras que fez, que ele exerce o m ais soberano dom ínio sobre elas, para
at ravés delas, para elas e sobre elas, fazer o que lhe agradar. A ele é devido,
da part e de anj os e hom ens, ou qualquer out ra criat ura, a adoração, o serviço
e a obediência que ele assim requerer ( Capít ulo 2, § 2) . Um a das evidências
bíblicas que cit am é que foi do agrado desse Deus soberano escolher os que
quis para salvação, e dest inar os rebeldes para o cast igo et erno ( Capít ulo 3, §
7; cf. Mt 11.25,26; Rm 9.17,18,21,22; 2 Tm 2.19,20; Jd 4; 1 Pe 2.8) .
A t radição reform ada – seguindo o ensino de Agost inho – ent ende o
ensino bíblico sobre a soberania de Deus em t erm os absolut os. Agost inho
considerava que os planos de Deus não podiam ser oblit erados, nem sua
vont ade obst ruída ao final. Calvino, sim ilarm ent e, concebia a soberania de
Deus com o o poder det erm inant e do universo ( ao m esm o t em po em que
insist ia que a responsabilidade dos seres m orais não era aniquilada) . Vej a, por
exem plo, o que ele escreveu nas I nst it ut as, no capít ulo " O Resum o da Vida
Crist ã" :

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Nós não som os de nós m esm os, nós som os de Deus. Para ele, ent ão,
vivam os ou m orram os. Nós som os de Deus. Para ele, ent ão, dirij am os
cada part e de nossas vidas. Nós não som os de nós m esm os; ent ão, at é
onde possível, esqueçam o- nos de nós m esm os e das coisas que são
nossas. Nós som os de Deus; ent ão, vivam os e m orram os para ele ( Rm
14.8) e deixem os a sua sabedoria presidir t odas nossas ações.( 6)
Não quero com isso dizer que out ras linhas t eológicas não reconheçam o
ensino bíblico sobre a soberania de Deus. Na verdade, creio que t eólogos em
geral, de qualquer orient ação dout rinária, est ão pront os a reconhecer o ensino
bíblico sobre esse assunt o. Apenas dest aco que, na m inha opinião, foram os
reform adores e os purit anos que m ais coerent em ent e ent enderam e
enfat izaram a soberania de Deus sem com isso det rair da responsabilidade das
criat uras m oralm ent e responsáveis, com o os hom ens e os anj os, bons e m aus,
e Sat anás, ent re esses últ im os.
O próprio Sat anás est á debaixo da soberania divina. Em bora não est ej a
m uit o claro na Bíblia, a I grej a crist ã sem pre ent endeu que Sat anás foi
originalm ent e um dos anj os criados por Deus, t alvez um querubim de grande
beleza e poder, que desviou- se do seu est ado original de pureza e m ot ivado
pela vaidade e pela soberba, rebelou-se cont ra Deus, desej ando ele m esm o
ocupar o lugar da divindade ( I saías 14 e Ezequiel 28) . Punido por Deus com a
dest ruição et erna, o anj o rebelde t em ent ret ant o a perm issão divina para agir
por um t em po na hum anidade, a qual, at ravés de seu represent ant e Adão,
acabou por seguir o m esm o cam inho do querubim soberbo. Pela perm issão
divina, Sat anás e os dem ais anj os que aliciou dos exércit os celest iais,
cum prem nesse m undo propósit os m ist eriosos, que pert encem a Deus apenas.
Alguns deles t ransparecem das Escrit uras, que é o de servir com o t est e para
os filhos de Deus e agent e de punição cont ra os hom ens rebeldes.
O ensino bíblico é claro. Sat anás, m esm o sendo um ser m oral
responsável e ret endo ainda poderes inerent es aos anj os, nada m ais é que
um a das criat uras de Deus, e port ant o, infinit am ent e inferior a ele em glória,
poder e dom ínio. Mesm o que a Bíblia fale do reino de Sat anás e de seu
dom ínio nesse m undo ( Ef 6.12; Lc 4.6; Jo 14.30) e advirt a os crent es a que
est ej am alert as cont ra suas ciladas ( Ef 6.11; 1 Pe 5.8; Tg 4.7) , j am ais lhe
at ribui um poder independent e de Deus, ou liberdade plena para cum prir
planos próprios, ou capacidade para frust rar os desígnios do Senhor.
Assim , a Bíblia nos ensina que Sat anás não pode at acar os filhos de Deus
sem a perm issão dele. Foi som ent e assim que pode at acar o fiel Jó ( Jó 1.6- 12;
2.1- 7) , incit ar Davi a cont ar o núm ero dos israelit as ( 1 Cr 21.1 com 2 Sm
24.1) e peneirar Pedro e dem ais discípulos ( Lc 22.31- 32) . Os crent es t êm a
prom essa divina de que ele só perm it irá a t ent ação prosseguir at é o lim it e
individual de cada um ( 1 Co 10.13) , o que só faz sent ido se o Senhor t iver
pleno cont role sobre a at ividade sat ânica. Os aut ores bíblicos não viam esse
cont role do Deus sant o e puro sobre a at ividade sat ânica com o um a insinuação
pot encial de que Deus era o aut or do m al ou m esm o pact uasse com ele. Num

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BATALHA ESPIRITUAL

universo em est ado de rebelião cont ra o seu sant o e soberano criador, onde
habit avam seres m orais responsáveis, decaídos espirit ual e m oralm ent e, era
perfeit am ent e concebível que Deus, em seu plano de redenção, int eragisse
com hom ens e anj os decaídos, usando- os conform e seu querer soberano.
Em nossos dias, percebe- se claram ent e que a dout rina da soberania de
Deus, com o ent endida pelos reform ados, não é m uit o popular. Algum as
dificuldades t êm sido levant adas cont ra ela.
Hom ens e anj os podem frust rar os planos de Deus. Essa est ranha idéia
predom ina em alguns arraiais evangélicos. Um exem plo é o art igo escrit o por
Marrs, onde afirm a que as pessoas est ão sem pre arruinando o bom plano de
Deus, e que Deus sem pre est á pront o para com eçar out ra vez.( 7) Est ou bem
conscient e de que a dout rina de que há um Deus que reina suprem o não é
recebida favoravelm ent e ent re os incrédulos. O salm ist a m enciona que os
príncipes desse m undo se uniram para t om ar conselho cont ra Deus e seu
Ungido ( Sl 2.2- 3) . Niet zsche anunciou a m ort e de Deus, e os secularist as e
at eus resolveram ignorar Deus com o um a realidade. Essa resist ência est á
present e at é m esm o ent re crist ãos. Para alguns deles, Deus é um ser divino
afável, com o eles m esm os. Devem os reconhecer que at é m esm o os crent es
m ais fiéis lut am com o conceit o da plena soberania de Deus quando est ão
passando por sofrim ent os. Cont udo, o conceit o bíblico da soberania do Senhor
Deus perm anece claram ent e expressa nas Escrit uras.
Não há um a det erm inação últ im a de Deus quant o ao universo. Teólogos
fam osos com o Clark Pinnock t êm defendido em nossos dias um a com preensão
m ais " m oderada" da soberania de Deus do que a com preensão de Agost inho e
de Calvino. Pinnock afirm a que um cont role soberano da part e de Deus nega a
habilidade e a liberdade das pessoas em escolher obedecer a Deus ou volt ar -se
cont ra seu propósit o. Ele sugere que Deus criou o m undo com um a cert a
m edida de aut odet erm inação, e que governa um m undo livre e dinâm ico, onde
não há nada det erm inado de form a fixa ou definit iva. A soberania de Deus, ele
sugere, é algo abert o e flexível.( 8) Pinnock t em recebido m uit as crít icas de
t eólogos reform ados hoj e. Sua idéia de soberania de Deus não faz j ust iça ao
ensino da Bíblia acerca do reino de Deus nesse m undo.
A soberania de Deus o t orna aut or do pecado e do m al. Muit as pessoas
não conseguem ent ender com o Deus pode ser soberano e ao m esm o t em po
perm it ir que o m al im pere. Jam es Long, preocupado com essa quest ão,
escreveu:
Eu m e im port o com paradoxos. Deus reina. O m al t am bém parece reinar.
Eu quero ver com o as Escrit uras relacionam os dois. Quase 20% dos 6
bilhões de pessoas desse planet a vivem em absolut a pobreza e
sofrim ent o. A fé crist ã deve t er um a boa explicação para isso, se é que
vai fazer sent ido para eles.( 9)

Sem querer fazer de Deus o aut or do m al, e sem querer m enosprezar o


sofrim ent o desses m ilhões de pessoas, ouso dizer que a Bíblia t em , de fat o,
um a solução para esse problem a. Possivelm ent e, a m elhor m aneira de

12
BATALHA ESPIRITUAL

ent ender com o os aut ores bíblicos – em especial do Novo Test am ent o –
abordaram esse pont o, é t om arm os conhecim ent o do que eles ensinaram
acerca das duas eras.
Enquant o que os gregos t inha um a idéia da hist ória com o se m ovendo
em círcu los, um a repet ição sem fim dos event os — e port ant o, algo sem
sent ido, sem cont role, suj eit o ao acaso e ao capricho dos deuses — os Judeus
t inham um conceit o linear da hist ória. A hist ória, para eles, se dividia em duas
part es, o olam hazé, a era present e, em que I srael est ava sofrendo debaixo do
dom ínio de seus inim igos, e o olam habá, a era vindoura, o m undo por vir,
quando I srael seria libert ado pelo Messias de seus inim igos, se t ornaria o
cent ro do m undo, e Deus seria adorado e reconhecido por t odas as nações
pagãs. Est a nova era seria int roduzida pelo Messias, quando viesse em glória e
poder, para dest ruir os opressores do povo de Deus.
Segundo o Novo Test am ent o, vivem os hoj e no período em que as duas
eras se sobrepõem . A coexist ência das duas eras t raz t ensões que o Novo
Test am ent o expõe de form a clara: Crist o j á reina, m as ainda não liquidou
lit eralm ent e t odos os seus inim igos, com o Sat anás e a m ort e ( 1 Co 15.20- 28;
Hb 2.8) . O Reino de Deus j á est á ent re nós, m as ainda t em os de orar " venha o
Teu Reino" . Já est am os salvos da condenação do pecado, m as ainda não da
sua presença e da m ort e que ele acarret a. Já t em os as prim ícias do Espírit o, j á
experim ent am os os poderes do m undo vindouro, m as ainda não em sua
plenit ude ( 1 Co 13.9- 13) . Já est am os ressuscit ados com Crist o, m as ainda não
fisicam ent e. É à luz dest a t ensão que podem os ent ender que o diabo j á foi
vencido, despoj ado, lim it ado, e am arrado, m as ainda não aniquilado ( cf. 1 Co
15.24) .( 10)
Procurem os ent ender claram ent e est e pont o. Nos Evangelhos Sat anás é
represent ado com o sendo um inim igo vencido. Os dem ônios são expulsos
inexoravelm ent e. Eles se aproxim am de Jesus, não com o negociadores em pé
de igualdade, m as com o suplicant es ( Mc 1.23- 28; 5.1-20) . O Senhor Jesus
declara que Sat anás est á am arrado ( Mc 3.27; Mt 12.29; Lc 11.21- 22) . Por
out ro lado, a dest ruição final de Sat anás é vist a com o ainda no fut uro ( Mt
25.41) . Est a t ensão faz part e do ensino de Jesus acerca do Reino de Deus, que
j á é present e, m as ainda vindouro.( 11)
Tem os que m ant er os dois pont os dest a t ensão em perfeit o equilíbrio. O
problem a com m uit os defensores da " bat alha espirit ual" é que não dão ênfase
suficient e no aspect o j á realizado da obra de Crist o, da sua vit ória sobre
Sat anás. I gualm ent e perigosa é a falt a de ênfase no " ainda não" da t ensão.
O reconhecim ent o da soberania de Deus t em profundas im plicações na
vida do crist ão. Em m eio às dificuldades, provações, sofrim ent o e adversidades
da época present e, ele encont rará profundo confort o em confiar no Deus que
est á em perfeit o cont role da sit uação, e que a seu t em po e ao seu m odo
haverá de prover o que for necessário para o bem de seu filho. A Bíblia est á
replet a de exem plos de heróis e heroínas da fé que repet idam ent e afirm aram
sua confiança no poder de Deus para fazer t udo cert o. Segundo Jay Adam s, " a
soberania de Deus é a verdade últ im a e definit iva que sat isfaz as necessidades
hum anas" .

13
BATALHA ESPIRITUAL

Quando essa dout rina não é corret am ent e ent endida e aplicada, duas
conseqüências igualm ent e perniciosas se seguem . Um a é a frust ração em vez
de resignação hum ilde. Os que aplicam a dout rina da soberania de Deus
inconsist ent em ent e e de form a superficial acabam caindo no " louvar a Deus
apesar de t udo…" Em vez de um a subm issão volunt ária e pacient e à vont ade
do soberano e am oroso Senhor do universo desenvolvem um espírit o de
rebeldia e ingrat idão. E a out ra t endência é esquecer a responsabilidade
pessoal. Essa últ im a t endência at aca especialm ent e os calvinist as.( 12)
Mas o ent endim ent o corret o da soberania de Deus pode t razer ao aflit o e
deprim ido m uit a paz e esperança, pois lhe assegura que exist e ordem e
propósit o para t odas as coisas.( 13) Um bom exem plo disso é o fam oso bat ist a
calvinist a Charles Spurgeon. Ele padeceu durant e t oda sua vida no m inist ério
de got a e art rit e, e a profunda depressão causada por essas doenças. Segundo
John Piper, o segredo de sua perseverança foi ent ender a depressão com o
part e do plano de Deus para sua vida. Sua confiança inabalável na soberania
divina evit ou que ficasse am argurado com Deus, e habilit ou- o a perceber que
Deus est ava usando o sofrim ent o para derram ar ainda m ais abundant em ent e o
poder de Crist o at ravés de seu m inist ério, e prepará- lo para ser ainda m ais
frut ífero.( 14)
Quando as pessoas perdem a soberania de Deus de vist a, acabam por
exagerar os poderes de Sat an ás e a sua liberdade para fust igar e afligir os
crent es. Acabam por perder a paz, a alegria e a liberdade para servir ao
Senhor livrem ent e. Port ant o, reconhecer que Deus é soberano absolut o do
universo que criou, nos perm it e ent ender o ensino bíblico sobre a bat alha
espirit ual da perspect iva corret a.
2. As coisas de Deus só podem ser conhecidas pelas Escrit uras

Esse segundo pont o é de im port ância crucial para nosso ent endim ent o da
bat alha espirit ual. Ele t rat a da suficiência das Escrit uras quant o ao
conhecim ent o que precisam os t er acerca de Deus, da sua vont ade, suas
prom essas, e do m ist erioso m undo celest ial, onde invisivelm ent e se
m ovim ent am os anj os e os dem ônios. Há dois aspect os que precisam os
dest acar aqui.
A exclusividade da Escrit ura. A Bíblia é a única font e adequada e
aut orizada por Deus pela qual obt er inform ações acerca das coisas espirit uais e
que pert encem à salvação. Port ant o, ela exclui qualquer out ra font e. Muit o
em bora Deus se revele at ravés da sua im agem em nós ( consciência, Rm 2.14-
15) e das coisas criadas ( Rm 1.19- 20) , ent ret ant o é at ravés de sua revelação
especial nas Escrit uras que nos faz saber acerca do m undo invisível e espirit ual
que nos cerca. Assim , m uit o em bora possam os depreender algum a coisa
acerca de Deus pelo conhecim ent o de nós m esm os e do m undo criado, é
exclusivam ent e nas Escrit uras que encont rarem os a revelação clara e plena de
Deus para a hum anidade.
A suficiência da Escrit ura. A Bíblia t raz t odo o conhecim ent o que
precisam os t er nesse m undo, para servirm os a Deus de form a agradável a ele,
e para viverm os alegres e sat isfeit os no m undo present e. Mesm o não sendo

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BATALHA ESPIRITUAL

um a revelação exaust iva de Deus e do reino celest ial, a Escrit ura ent ret ant o é
suficient e naquilo que nos inform a a esse respeit o.
Aplicando ao t em a do nosso ensaio, isso im plica duas coisas:
1) A única font e aut orizada que t em os para conhecer o m ist erioso m undo
angélico onde se m ovem anj os e dem ônios é a Bíblia. Mesm o que exist am
m uit os conceit os e idéias acerca dos dem ônios, advindas da superst ição
popular, da crendice e de experiências pelas quais as pessoas passam , é
som ent e nas Escrit uras que encont ram os conhecim ent o seguro acerca de
Sat anás e de sua at ividade nesse m undo. Ela é singular e exclusiva.
2) A Bíblia cont ém t udo o que Deus desej ava que conhecêssem os a
respeit o de Sat anás. O ensino que ela nos oferece sobre os dem ônios e suas
at ividades é suficient e para que possam os est ar sem pre pront os para resist ir
às suas invest idas e para aj udar as pessoas que se encont ram cat ivas por eles.
Ou sej a, t udo que precisam os saber para t ravarm os um a guerra espirit ual
cont ra as host es espirit uais da m aldade est á revelado nas páginas da
Escrit ura, e isso inclui conhecim ent o das ciladas ast ut as do diabo e a m aneira
corret a de procederm os diant e delas. A Bíblia é nosso m anual de com bat e
espirit ual. Ela nos revela o carát er de nosso inim igo, suas int enções e
art im anhas, e de que m odo podem os ficar firm es cont ra suas ciladas.
Assim , os est udiosos cost um avam escrever " dem onologias bíblicas" que
nada m ais eram que um a sist em at ização do ensino das Escrit uras acerca de
Sat anás, seus anj os, e sua at ividade nesse m undo.( 15) Os purit anos, por
exem plo, escreveram m uit as obras acerca do conflit o ent re os crist ãos e o
diabo, que no geral sem pre eram baseadas no que a Bíblia dizia sobre os
dem ônios e suas at ividades.( 16) Cont udo, em nossos dias, assist im os com
perplexidade o crescim ent o espant oso de um a dem onologia que se ut iliza de
out ras font es de conhecim ent o acerca do reino das t revas além das Escrit uras,
ao pont o de afinal cont radizerem o ensino da m esm a, ou de a
com plem ent arem . Tant o a exclusividade quant o a singularidade da Escrit ura
nesses assunt os foram deixados para t rás. O result ado t em sido um ensino
acerca de bat alha espirit ual e de m ét odos de evangelização bem dist orcido e
diferent e daquele ensinado pelas Escrit uras. Em geral são usadas quat ro font es
de onde se ext raem conhecim ent o ext rabíblico sobre a at ividade dem oníaca.
Experiências pessoais. Alguns exem plos deverão bast ar para que
possam os ent ender o que est ou dizendo. Um a das m ais sérias deficiências do
livro " A I grej a e a Bat alha Espirit ual" , escrit o por Neuza I t ioka, diz respeit o às
suas font es. É surpreendent e encont rar nas not as bibliográficas font es com o
" fat os const at ados e verificados nas m inist rações pessoais" , depoim ent os
pessoais, e t est em unhos de ex- pais de sant os. É dest as últ im as " font es" que a
aut ora t ira o fundam ent o para grande part e do seu livro. Por exem plo, a sua
convicção de que crent es verdadeiros podem ficar endem oninhados baseia-se,
não em exegese das Escrit uras, m as na narrat iva de várias experiências que
t eve.( 17) I t ioka freqüent em ent e m enciona experiências pessoais para provar
suas convicções. Ela afirm a, com base na sua experiência de aconselham ent o,
que cert os dem ônios " adquirem " o direit o de se sent arem no pescoço das
pessoas. Com base em t est em unhos, ela afirm a que as orações da I grej a

15
BATALHA ESPIRITUAL

dim inuem o índice de crim inalidade, roubo e violência, que as ent idades de
um a rua podem ser at adas, et c. Um a de suas crenças m ais curiosas, a de que
det erm inadas igrej as t em ent idades m alignas que se alim ent am dos pecados
não resolvidos da com unidade e seus past ores, é defendida principalm ent e
com base em vários t est em unhos. O que é ainda m ais preocupant e, I t ioka faz
várias especulações sobre os dem ônios que dom inam o Brasil baseada na
dout rina da Um banda sobre est as ent idades.( 18)
Um out ro exem plo é o art igo sem inal de Pet er Wagner sobre " Espírit os
Territ oriais e Missões Mundiais" publicado em 1989.( 19) Nest e art igo, Wagner
adm it e que seu conhecim ent o sobre " espírit os t errit oriais" baseia-se
principalm ent e na sabedoria popular sobre o assunt o.( 20) Mas não pára ai. Ele
t ent a um cálculo do núm ero de dem ônios que exist em baseado nas
inform ações de um ex- pai de sant o da Nigéria, a quem Sat anás t eria
designado aut oridade sobre um det erm inado núm ero de dem ônios, que por
sua vez t inham cont role sobre out ro núm ero.( 21) Wagner defende a t ese de
" casas m al assom bradas" com base na experiência de m issionários em Serra
Leoa.( 22) A m aior part e do art igo é em pregado por Wagner para am ont oar
experiências após experiências de cam pos m issionários, que supost am ent e
provam a exist ência de dem ônios que são aut oridades locais.( 23) Wakely
observa que as experiências cit adas por Wagner para defender a exist ência e
at uação de " espírit os t errit oriais" são m uit o lim it adas e cuidadosam ent e
selecionadas.( 24) Ele m ost ra, por exem plo, que a m aioria das ilust rações que
Wagner usa em seu livro Warfare Prayer são t iradas da Argent ina,
especialm ent e do m inist ério do evangelist a argent ino Carlos Annacondia, que
se ut iliza das t át ica da " bat alha espirit ual" . Wakely not a, porém , que Wagner
não m enciona os casos em que est es m ét odos foram em pregados sem
qualquer result ado, e nem os casos em que houve conversões em m assa,
im plant ação de novas igrej as, e crescim ent o genuíno de igrej as sem que est es
m ét odos t ivessem sido ut ilizados. Por deixar de m encionar que out ras igrej as e
m issões, que não a de Annacondia, est ão t endo o m esm o result ado, Wagner
deixa de fornecer um a inform ação im port ant e para que o leit or j ulgue os
m ét odos de Annacondia dent ro do cont ext o argent ino global.( 25)
Revelações dos próprios dem ônios. A um a cert a alt ura do seu art igo j á
m encionado, Wagner m enciona seis pot est ades m undiais que est ão
im ediat am ent e abaixo de Sat anás na hierarquia sat ânica, cuj os nom es são
Dam ião, Asm odeo, Menguelesh, Arios, Beelezebub, e Nosferat us. Est es
dem ônios e seus nom es, segundo Wagner, foram descobert os por Rit a
Cabezas, que fez pesquisas ext ensas sobre a hierarquia sat ânica, usando
m ét odos que Wagner prefere não cit ar, m as que est ão relacionados com o
m inist ério de psicologia e libert ação de Cabezas, e com revelações divinas que
ela recebeu at ravés de " palavras de conhecim ent o" .( 26) Não é difícil, para
quem lê as obras de Rit a Cabezas, perceber qual o m ét odo que ela usa para
" descobrir" os m ist érios da hierarquia sat ânica. Em seu últ im o livro
( Desm ascarado [ São Paulo: Renascer, 1996] ) Cabezas narra longos diálogos
que t eve com dem ônios ( falando at ravés de pessoas endem oninhadas) , os
quais não som ent e lhe revelaram seus nom es, com o t am bém lhe deram

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BATALHA ESPIRITUAL

inform ações sobre out ros dem ônios. Ela afirm a que não é corret o basear sua
t eologia no que dem ônios dizem , m as acrescent a " ...t enho a im pressão que
aquele dem ônio dizia a verdade..." ( p.216) . Esse é apenas um exem plo. Nos
ensinos e prát icas do m ovim ent o há m uit as out ras inform ações sobre os
dem ônios adquiridas pelo m esm o m ét odo.
Pesquisas psicológicas. Um a out ra font e ext ra-bíblica ut ilizada para se
obt er conhecim ent o sobre o m undo espirit ual são as pesquisas cient íficas. Mais
conhecim ent o sobre os sint om as da possessão dem oníaca em cont rast e a
dist úrbios m ent ais t em sido buscado at ravés desse m ét odo. Est udiosos na área
de psicologia past oral t êm publicado relat órios onde procuram dist inguir a
possessão dem oníaca de doenças m ent ais pela observação e análise em seus
consult órios m édicos.( 27) A Bíblia narra diversos casos de possessão
dem oníaca m as nos oferece pouca inform ação acerca dos seus sint om as. No
geral, os aut ores bíblicos não est ão int eressados na psicologia desses casos, e
os narram apenas do pont o de vist a t eológico, para m ost rar o poder libert ador
de Deus at ravés de Crist o, e sua soberania sobre o reino das t revas.
Devem os obt er t oda a aj uda que puderm os para diagnost icar as
verdadeiras causas do sofrim ent o das pessoas. Nesse sent ido, pesquisas assim
são bem - vindas. Mas, não é fácil dist inguir ent re possessão dem oníaca e
dist úrbios m ent ais. O Senhor Jesus e os apóst olos não t inham qualquer
dificuldade em saber quem era o que, m as gozavam de um a posição especial
que não nos parece ser a m esm a dos crist ãos em geral. Muit o em bora os
crist ãos t enham discernim ent o espirit ual, é pat ent e que m uit os erros e abusos
t êm ocorrido nessa área, por part e de past ores, conselheiros e obreiros em
geral, especialm ent e nos cham ados " m inist érios de libert ação" . Num recent e
art igo acerca do t rat am ent o dos dist úrbios da " m últ ipla personalidade" ( um
est ado psiquiát rico doent io em que as pessoas apresent am várias diferent es
personalidades) , Christ opher Rosik advert e que os past ores devem t er cuidado
para não diagnost icar DMP ( dist úrbios de m últ ipla personalidade) com o sendo
possessão dem oníaca. Usar exorcism o num pacient e de DMP é um a at it ude
inaceit ável, e m uit os t erapeut as a consideram com o sendo ext rem am ent e
prej udicial ao pacient e.( 28)
A necessidade de caut ela fica ainda m ais pat ent e quando descobrim os,
para nosso desânim o, que os pesquisadores nessa área não conseguem chegar
a um acordo quant o aos sint om as que claram ent e dist inguem possessão
dem oníaca de desordens m ent ais. Alguns est udiosos, com o I saacs, afirm am
que a perda do aut o cont role, ouvir vozes ou t er visões, a presença de out ras
personalidades dent ro da pessoa, rej eição de it ens religiosos, flut uações ent re
personalidades, com port am ent o suicida e dest rut ivo, ocorrências paranorm ais
ou parapsicológicas, são sint om as claros de possessão dem oníaca.( 29)
Geralm ent e apont am para abuso sexual na infância com o sendo um a das
port as de ent rada dos dem ônios. Rosik, por out ro lado, ident ifica um passado
de abuso sexual, ouvir vozes dent ro da cabeça, com port am ent o anorm al do
qual o pacient e não se lem bra, t rat am ent os ant eriores que não funcionaram ,
com port am ent o aut o dest rut ivo, depressão e dor de cabeça severa, com o
sint om as de DMP. Afirm a ainda que o doent e t ípico de DMP pode t er at é

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BATALHA ESPIRITUAL

m esm o 14 personalidades dist int as.( 30) Não é m eu obj et ivo nessa part e do
est udo ent rar no assunt o da possessão dem oníaca, apenas quero m ost rar que
andam os em t erreno escorregadio quando t ent am os obt er conhecim ent o
acerca do m undo espirit ual usando out ras font es que não a revelação divina.
Conceit os pagãos sobre dem ônios. Muit a coisa ensinada pela " bat alha
espirit ual" assem elha- se à sabedoria pagã sobre os espírit os m aus, com o os
conceit os de " casa m au assom brada" , quebra de m aldições, et c. Gary
Greenwald afirm a num art igo que é possível que espírit os m alignos sej am
t ransferidos para crent es de 6 m aneiras: viver num a cidade onde os espírit os
dom inant es seduzem os crent es; viver em associação com descrent es; assist ir
fit as de cinem a ou vídeo que expõem pornografia e violência; t ransferência de
espírit os de ant epassados ím pios; im posição de m ãos por part e de pessoas
erradas; líderes espirit uais que não são realm ent e hom ens de Deus.( 31)
Podem os concordar que algum as dessas coisas m encionadas acim a são
perniciosas para o crent e e que ele deve evit á- las. Mas daí a aceit arm os a idéia
de que elas t ransferem m aus espírit os aos crent es, vai um a grande dist ância.
Essa conclusão não é corret am ent e inferida das Escrit uras, m uit o em bora o
aut or t ent e fazer referência a algum as passagens que j ulga que provam seu
pont o. O conceit o de t ransferência de espírit os m alignos para crent es parece
m uit o m ais um conceit o pagão do que bíblico. Soa com o o conceit o de " m au
olhado" da um banda.( 32)
Já out ro aut or, escrevendo sobre com o um a fam ília crent e deve
consagrar ao Senhor a casa onde m oram , defende que pode haver dem ônios
m orando nela, se os m oradores ant eriores foram ím pios, e recom enda que os
crent es façam um a operação de lim peza, rem ovendo t odos os t raços de
pecado, e expulsando os dem ônios daquele lugar. O m esm o deve ser feit o em
quart os de hot éis, e escrit órios.( 33) Evident em ent e t odos os crist ãos desej am
m orar num lugar onde Deus sej a o Senhor, m as as Escrit uras não nos ensinam
a fazer rit uais de purificação de casas ou out ros locais para que isso ocorra.
Deus habit a em nós, e se habit am os num a casa, nossa presença sant ifica
aquele local. A idéia parece t er sido im port ada das religiões pagãs,
especialm ent e da um banda e do baixo espirit ism o.
Os perigos que correm os crist ãos que adot am um a dem onologia ou um a
visão de bat alha espirit ual que vai além dos padrões da Palavra de Deus são
devast adores. Via de regra, os que t êm ido além das Escrit uras acabam caindo
num a dem onologia sem i-pagã. Defensores dessa nova t eologia m esm o
apresent ando as vezes bom m at erial bíblico são t endent es a especulações
fant ást icas e im aginações espet aculares. Os que vêem a dor, o sofrim ent o, as
doenças, a depressão, o desem prego, os conflit os pessoais e o pecado —
enfim , t oda a m iséria que exist e no m undo ao seu redor — sem pre em t erm os
de bat alha espirit ual, correm diversos riscos quant o à sua fé. Enum ero em
seguida t rês deles:
Falsa com preensão. Quando aceit am os a idéia de que vivem os num
m undo onde t odo m al se origina na at uação diret a de Sat anás ou alguns de
seus dem ônios, perdem os de perspect iva o ensino bíblico de que som os
responsáveis pelos nossos pecados e pelas conseqüências dos m esm os, que

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BATALHA ESPIRITUAL

geralm ent e nos t razem dor e sofrim ent o. E podem os at é m esm o com eçar a
quest ionar se a disciplina espirit ual é de algum valor para quebrarm os o poder
dos hábit os pecam inosos em nossas vidas, j á que acredit am os que est es se
resolvem pela expulsão de ent idades espirit uais responsáveis pelos m esm os.
Tem or doent io. Pessoas que percebem a vida crist ã exclusivam ent e em
t erm os de bat alha espirit ual, logo com eçam a ver conexões sinist ras e
m acabras ent re os event os do dia a dia e a at ividades de dem ônios, o que
pode levá-las ao pânico ou a um com port am ent o paranóico.
I lusão. Pessoas que experim ent am um as poucas vezes a " vit ória" sobre o
inim igo podem adquirir um a falsa sensação de superioridade, de orgulho ou a
ilusão de t erem " poder" . Ent ret ant o, a vit ória pert ence a Deus. Devem os nos
lem brar que a m aioria dos problem as que os crist ãos experim ent am procedem
de suas próprias falt as, defeit os, incoerências, idiossincrasias e enferm idades
espirit uais. Não est ou negando que Sat anás usa essas coisas para prej udicar
nossas vidas, apenas dest acando que elas t em origem em nossa nat ureza
decaída.
Se porém perm anecerm os confiant es na exclusividade e na suficiência do
ensino da Escrit ura e perm anecerm os firm es no que ela nos ensina, poderem os
ent rar no com bat e espirit ual perfeit am ent e equipados e t endo a perspect iva
corret a do que est á acont ecendo. Esse é um princípio fundam ent al que
devem os m ant er a t odo cust o quant o ao t em a da bat alha espirit ual.
3. O hom em é um ser decaído e debaixo do j ust o j uízo de Deus

Um t erceiro princípio fundam ent al para colocarm os o assunt o de " bat alha
espirit ual" na perspect iva corret a é lem brarm os do verdadeiro est ado da
hum anidade diant e de Deus. Creio que na raiz de um a dem onologia defeit uosa
e inadequada, com o a abraçada pelo m oderno m ovim ent o de " bat alha
espirit ual" , encont ra- se um a visão incorret a acerca da ext ensão dos efeit os do
pecado na nat ureza hum ana e do est ado do hom em diant e de Deus. Em out ras
palavras, falt a o conceit o bíblico de que o hom em é um ser decaído m oral e
espirit ualm ent e e debaixo do j ust o j uízo divino.
Um a das grandes disput as durant e a Reform a prot est ant e versou sobre a
nat ureza e a ext ensão do pecado original. Ele afet ou Adão som ent e, ou t odo o
gênero hum ano? A vont ade do hom em decaído é ainda livre ou escravizada ao
pecado? No século V Pelágio havia debat ido ferozm ent e com Agost inho sobre
est e assunt o. Agost inho m ant inha que o pecado original de Adão foi herdado
por t oda a hum anidade e que, m esm o que o hom em caído ret enha a
habilidade para escolher, ele est á escravizado ao pecado e " não pode não
pecar" . Por out ro lado, Pelágio insist ia que a queda de Adão afet ara apenas a
Adão, e que se Deus exige das pessoas que vivam vidas perfeit as, Ele t am bém
dá a habilidade m oral para que elas possam fazer assim . Ele reivindicou m ais
adiant e que a graça divina era desnecessária para salvação, em bora facilit asse
a obediência.
Agost inho t eve sucesso refut ando Pelágio, m as o pelagianism o não
m orreu. Várias form as de pelagianism o recorreram periodicam ent e at ravés dos
séculos. Lut ero escreveu um livro " A Escravidão da Vont ade" em respost a a

19
BATALHA ESPIRITUAL

um a diat ribe de Erasm o, onde o m esm o defendia conceit os pelagianos. Lut ero
acredit ava que Erasm o era " um inim igo de Deus e da religião Crist ã" por causa
do ensino dele sobre o pecado original.( 34)
Em bora nem sem pre houvesse t ot al concordância ent re os crist ãos, o
ensino defendido por Agost inho, Calvino, Lut ero, purit anos e t eólogos
reform ados m ais m odernos, represent ou durant e m uit o t em po o pensam ent o
da m aioria dos evangélicos. At ualm ent e, conceit os bast ant e sim ilares aos de
Pelágio parece t erem conseguido prevalecer ent re os prot est ant es de m aneira
geral. Mas, a t eologia reform ada cont inuando afirm ando que o pecado de Adão
t rouxe gravíssim as conseqüências aos seus descendent es. As duas principais
são essas, com o se segue:
A corrupção da nat ureza hum ana. Com esse t erm o se queria indicar a
degeneração, perversão, depravação ou decadência espirit ual e m oral à qual a
raça hum ana ficou suj eit a após o pecado de seus prim eiros pais, Adão e Eva. O
pecado m aculou a personalidade hum ana de t al m aneira, que o hom em é m ais
inclinado a prat icar o m al que o bem . O prim eiro casal, criado puro e inocent e,
após experim ent ar o pecado, j á exibia sinais da corrupção int erior: cada um
t ent ou j ust ificar seu erro colocando a culpa no out ro e afinal em Deus ( Gn
3.10 -13) . Depois disso, a hist ória de seus descendent es é um a t rist e hist ória
de violência ( Gn 4.8) , poligam ia ( Gn 4.19) , soberba e vingança ( Gn 4.23) e
im oralidade ( Gn 13.13; 18.20 -21) . Apesar de ainda exist ir algum bem nesse
m undo ( e isso som ent e pela graça de Deus) , as pessoas sem pre est ão
pensando em fazer coisas erradas ( Gn 6.5) . A descrição dada pelo salm ist a é
est arrecedora:
Todos se t ornaram im orais e fazem coisas horríveis; não há um a só
pessoa que faça o bem ... t odos se desviaram do cam inho cert o e são
igualm ent e m aus. Não há m ais ninguém que faça o que é direit o, não
há ninguém m esm o ( Sl 14.1- 3, BLH) .
O Senhor Jesus, ao explicar de que form a o hom em se t orna
verdadeiram ent e im puro, apont ou para o coração do hom em com o a font e de
t oda sort e de im pureza m oral e espirit ual:
É do coração que vêm os m aus pensam ent os que levam ao crim e, ao
adult ério e às out ras coisas im orais. São os m aus pensam ent os que
levam t am bém a pessoa a roubar, m ent ir e caluniar. São essas coisas
que fazem alguém ficar im puro ( Mt 15.19 - 20, BLH) .
Sem elhant em ent e, o apóst olo Paulo escrevendo aos Rom anos, e
desej ando m ost rar que t odos, sem exceção, são nat uralm ent e corrom pidos e
inclinados ao m al, cit a em série várias passagens do Ant igo Test am ent o com o
prova da depravação t ot al do hom em :
Não há ninguém j ust o, ninguém que t enha j uízo; não há quem adore
a Deus. Todos se desviaram do cam inho cert o, t odos se perderam .
Não há m ais ninguém que faça o bem , não há ninguém m esm o.
Ment em e enganam sem parar. Ment iras perversas saem de suas
línguas, e palavras de m ort e, com o veneno de cobra, saem de seus

20
BATALHA ESPIRITUAL

lábios. As suas bocas est ão cheias de t erríveis m aldições. Eles t êm


pressa de ferir e de m at ar. Por onde passam , deixam a dest ruição e a
desgraça. Não conhecem o cam inho da paz e não aprenderam a
t em er a Deus ( Rm 3.10 -18, BLH) .( 35)
Essas passagens da Bíblia são suficient es para dem onst rar o nosso pont o
( ainda out ras poderiam ser acrescent adas) . Bast a um a consult a sincera à
nossa consciência, aliada a um exam e da hist ória hum ana e a um a olhada ao
nosso redor para verificarm os que a Bíblia diagnost ica de form a exat a a
sit uação da raça hum ana. Mesm o quem não abraça o ensino bíblico sobre a
corrupção inat a ao ser hum ano, não pode deixar de perceber com o ela m acula
t odas as inst it uições sociais. Escreveu Shakespeare:
Ah, se as propriedades, t ít ulos e cargos. Não fossem frut o da
corrupção! e se as alt as honrarias Se adquirissem só pelo m érit o de
quem as det ém ! Quant os, ent ão, não est ariam hoj e m elhor do que
est ão? Quant os, que com andam , não est ariam ent re os
com andados?( 36)
Exist em algum as ressalvas im port ant es a serem feit as para evit arm os
um a falsa com preensão desse ensinam ent o. Segue- se quat ro delas.
A queda do hom em não cont radiz a presença do bem nele. Quando dizem os
que a depravação é t ot al não est am os com isso querendo dizer que nunca
ninguém t em pensam ent os bons ou faz coisas cert as. " Não há depravação, por
absolut a que sej a, que não t raga, em seu aspect o ext erior, algum t raço de
virt ude" .( 37) O t erm o t ot al apont a para o fat o de que o pecado penet rou em
t odas as faculdades do hom em e as cont am inou, com o pensam ent os,
em oções, vont ade. Tam bém indica que essa cont am inação é de t al form a que,
se deixado ent regue à si m esm o, o hom em seguirá nat uralm ent e cam inhos
que o desviam de Deus e o levam cada vez m ais ao pecado.
A queda do hom em não cont radiz a presença do bem no m undo. É
preciso ressalvar que o ensino reform ado da t ot al depravação do hom em não
ignora a realidade óbvia de que há pessoas nesse m undo que fazem obras de
caridade, que dem onst ram sent im ent os de m isericórdia e com paixão, e que
são capazes de sacrifícios os m ais heróicos e alt ruíst as por causas
hum anit árias e nobres. Apenas at ribui t ais at os, não à nat ureza do hom em em
si, m as ao que denom ina de a graça com um de Deus. Com isso os reform ados
designam aquelas operações graciosas e soberanas da providência de Deus,
pelo Seu Espírit o, na hum anidade em geral, rest ringindo as corrupções e as
t endências m alignas dos corações e prom ovendo at it udes de m isericórdia,
independent em ent e das crenças religiosas das pessoas, com o obj et ivo de
preservar por m ais um t em po o convívio hum ano, a exist ência da sociedade e
a sobrevivência da raça hum ana. Dessa form a, se por um lado a hum anidade é
t ot alm ent e inclinada a fazer coisas erradas, por out ro, é levada ( na m aioria
das vezes de form a inconscient e) por Deus a realizar at os de m isericórdia e
bondade, pelos quais a sua sobrevivência em sociedade é preservada. Caso
Deus deixasse de at uar assim , a hum anidade j á t eria se dest ruído há m uit o
t em po ( vej a Gn 20.6; Sl 33.5; 104.13- 15; Mt 5.45) .

21
BATALHA ESPIRITUAL

A queda do hom em não exclui sua responsabilidade. O ensino reform ado


da depravação t ot al t am bém não exclui o reconhecim ent o de que as Escrit uras
ensinam que o hom em , m esm o nesse est ado decaído, é responsável pelos
seus m alfeit os. Alguns est udiosos alegam que o hom em não pode ser
responsabilizado pelos seus at os pecam inosos desde que é irresist ivelm ent e
inclinado a prat icá- los. Porém , ent endem os que a queda do hom em de um
est ado de pureza e inocência para o de depravação m oral e espirit ual não
anulou a sua responsabilidade diant e de Deus. As Escrit uras, m esm o
afirm ando a depravação m oral e espirit ual das pessoas, avisa- as que são
responsabilizadas por Deus pelos seus at os, e que sofrem as conseqüências
dos m esm os ( cf. Jz 9.56; Pv 5.22; 22.8; Jr 21.14; Rm 6.21,23; 2 Co 5.10; Gl
6.8- 9) . Não é difícil const at ar que freqüent em ent e sofrem os com os result ados
de decisões, palavras e at it udes erradas que t om am os. A preguiça t em t razido
pobreza a m uit os. Um a vida desregrada t raz doenças. A falt a de dom ínio
próprio t em provocado reações que levam ao hom icídio. A em briagues e o uso
de drogas t em t razido sofrim ent os indizíveis aos seus usuários e fam iliares. O
am or ao dinheiro, a cobiça e a invej a t êm t raspassado a m uit os com m uit as
dores. Nas palavras do escrit or Jules Rom ains ( 1885- 1972) , " Se nossa época,
se nossa civilização correm a um a cat ást rofe, ist o se dá m enos por cegueira,
do que por preguiça e por falt a de m érit o" .( 38)
Esse é o pont o que desej am os enfocar nessa part e do nosso ensaio:
grande part e da m iséria espirit ual, m oral, social, individual, financeira e
est rut ural que sem pre aflige a hum anidade é frut o, em prim eiro lugar, dos
pecados que ela com et e. A hum anidade em geral é responsável, em grande
m edida, pela sofrim ent o m oral, espirit ual e físico que suport a durant e sua
exist ência. É verdade que há m uit os e m uit os casos em que pessoas sofrem
com o conseqüência, não de seus erros, m as dos erros de out ros — com o por
exem plo, os pais que perdem um filho at ropelado por um m ot orist a bêbado, ou
os civis que sofrem durant e um a guerra. Negar isso seria cruel. Mas não é esse
o nosso pont o. O que est am os querendo dizer é que, ou por nossa culpa ou
pela de out ros hum anos, grande part e da m iséria que nos acom et e t em com o
raiz últ im a esse est ado de depravação e corrupção a que a desobediência dos
nossos prim eiros pais nos lançou, desobediência essa na qual incorrem os por
nós m esm os; pois at é m esm o as cat ást rofes nat urais — com o t errem ot os,
ciclones, secas e dilúvios — são at ribuídos na Bíblia à desordem cósm ica
gerada pela queda do hom em no j ardim do Éden ( cf. Gn 3.17- 18; Rm 8.20-
22) .
A condenação e o cast igo de Deus. Essa é a segunda conseqüência da
queda que desej o enfat izar. A hum anidade não som ent e vive num est ado
last im ável de depravação espirit ual, provocando m uit as dores em si m esm a —
ela est á debaixo do m ais severo j uízo de Deus por causa do est ado de rebelião
em que vive, at raindo sobre si cast igos t em porais im post os por Ele. As
Escrit uras declaram abert am ent e que Deus, m esm o t endo reservado para o
fut uro as penas et ernas m erecidas pelos pecadores im penit ent es, aqui e agora
j á im põe cast igos t em porais aos m esm os.. As Escrit uras nos dão inúm eros
exem plos dos cast igos t em porais de Deus sobre o pecado do hom em . A

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BATALHA ESPIRITUAL

com eçar com os cast igos im post os ao prim eiro casal no Éden ( Gn 3) , passando
pelo dilúvio ( Gênesis 6 -8) , a confusão das línguas ( Gn 10) e a dest ruição de
Sodom a e Gom orra ( Gn 13- 17) , a Bíblia nos deixa m uit o claro que, aqui e
agora, no present e t em po em que vivem os, Deus est á execut ando, m esm o que
parcialm ent e, j uízos sobre os hom ens pecadores. Esses j uízos por vezes
t om am a form a de flagelos físicos. Deus disse por int erm édio de Moisés que
cast igaria os israelit as com t oda sort e de m isérias t em porais em caso de
desobediência. O cat álogo de sofrim ent os em Deut eronôm io 28 é
im pressionant e: dim inuição do pat rim ônio ( v.18) , doenças cont agiosas,
infecções, inflam ações e febres ( v. 21- 22) , pragas ( v. 22b) , secas ( v. 23) ,
t um ores, chagas, úlceras e coceiras ( v. 27) , cegueira ( v. 28 -29) , fracasso
financeiro e escravidão ( v. 29) — a list a é infindável ( cf. o rest ant e dela nos
vv. 30 -44; ver t am bém Levít ico 26.14- 46) .
Não pret endo fechar os olhos ao fat o de que as Escrit uras ensinam que
Deus é pacient e, com placent e e m isericordioso para com a hum anidade
rebelde, e que apesar da desobediência e rebelião das pessoas, Ele
graciosam ent e lhes dá a vida, saúde, bens, e at é longevidade. Mesm o as
pessoas m ais ím pias por vezes experim ent am nessa vida privilégios m at eriais
que excedem em m uit o a porção m agra com que freqüent em ent e os j ust os são
agraciados. A const at ação dessa realidade levou m uit os san t os ant igos a
inquirir acerca da j ust iça de Deus ( ver Salm o 72; o livro de Jó; o livro de
Eclesiast es) . A respost a é que Deus, em sua m uit a m isericórdia e seguindo
propósit os freqüent em ent e ocult os aos nossos olhos, nem sem pre nest a vida
cast iga o pecado im ediat am ent e e na proporção que o m esm o m erece. O j uízo
e a condenação final dos ím pios é cert a e Deus t em reservado a punição deles
para aquela ocasião. Aqui no present e Ele os cast igue por vezes com flagelos e
aflições t em porais, com o prenúncios daquela condenação et erna que os
aguarda.
A idéia de que t odo m al — quer sob a form a de sofrim ent o e m isérias,
quer sob a form a de pecado — provém da at uação diret a de dem ônios é
bast ant e difundida pelo m ovim ent o de bat alha espirit ual. Na verdade, acredit o
que o conceit o de que " t odo m al é dem oníaco" é a m ais fundam ent al dout rina
desse m ovim ent o. A esses espírit os m alignos é at ribuída a responsabilidade,
não som ent e de doenças, desast res, fracassos, divórcios, desem prego e coisas
sem elhant es, m as t am bém de at it udes pecam inosas, com o o uso de drogas, a
prost it uição, o hom ossexualism o, o consum o de pornografia e t odos dist úrbios
m orais de com port am ent o. Segundo o ent endim ent o de m uit os proponent es da
" bat alha espirit ual" , essas ent idades m aléficas se inst alam na vida das pessoas
( crent es e descrent es) e nas est rut uras sociais, polít icas e econôm icas de
det erm inadas regiões geográficas. Rest a à I grej a som ent e o m ét odo de expelir
essas ent idades dos locais est rat égicos onde se inst alaram , com o m eio eficaz
de com bat ê-las e libert ar as pessoas debaixo de seu cont role.
O pont o que desej o frisar é que esse ensino do m ovim ent o de " bat alha
espirit ual" é um a perspect iva lim it ada e reducionist a do ensino bíblico acerca
do sofrim ent o hum ano bem com o um a avaliação dist orcida da realidade que
nos cerca. Os diferent es sofrim ent os experim ent ados nessa vida pelos hom ens

23
BATALHA ESPIRITUAL

t êm com o origem , m uit as vezes, não som ent e a desobediência hum ana, com o
t am bém o cast igo divino. Evident em ent e, não sabem os ao cert o dizer quando
um t erm ina e o out ro com eça. E é preciso reconhecer que, em casos com o o
de Jó, Sat anás pode servir com o inst rum ent o dent ro dos propósit os divinos.
Provavelm ent e os efeit os do pecado, os j uízos divinos e a at uação dos
dem ônios est ão t ão int erligados em alguns casos que a separação na prát ica é
im possível. De qualquer form a, creio t er ficado claro que o conceit o defendido
pelo m ovim ent o de bat alha espirit ual, de que t odo sofrim ent o, t oda m iséria e
t odo m al circunst ancial que sobrevêm às pessoas hoj e, t em origem dem oníaca,
não t em qualquer sust ent áculo bíblico.
Não est ou dizendo que os espírit os m alignos não at uam na prom oção da
m iséria e da dor, bem com o na dissem inação do pecado. Negar isso seria
negar o ensino da Bíblia. Ela afirm a que o diabo veio para m at ar, roubar e
dest ruir ( João 10.10) . Afirm a t am bém que ele é o pai da m ent ira ( Jo 8.44) .
Sabem os que Sat anás se ut iliza da nossa nat ureza depravada com o
inst rum ent o de t ent ação, com o se fosse um aliado int erno, para nos levar ao
pecado.( 39) O que est ou quest ionando é a ênfase do m ovim ent o de bat alha
espirit ual de que t oda form a de m al ( circunst ancial e m oral) provém
diret am ent e de Sat anás, e que ele é, em últ im a análise, o responsável pela
nossa escravidão a det erm inados pecados.
Reconheço que m uit os crist ãos acham ext rem am ent e difícil rom per com
det erm inados com port am ent os com pulsivos que sabem ser pecam inoso, com o
ver pornografia, com er em excesso, sent ir aut opiedade ou m ent ir. Est ou
t am bém pront o a adm it ir que Sat anás procura levar as pessoas a perm anecer
escravas desses hábit os e padrões pecam inosos. Quest iono, porém , a idéia de
que t ais crent es não conseguem se livrar porque est ão debaixo do poder de
um det erm inado espírit o m aligno que os levam a pecar sem pre que esses
dem ônios assim o desej em . Quest iono essa idéia porque creio est ar claro nas
Escrit uras que o hom em é corrom pido o suficient e para at rair sobre si
sofrim ent os e aflições decorrent es de seus próprios at os ( sem que nenhum
dem ônio est ej a necessariam ent e envolvido) . A idéia de que t odo
com port am ent o com pulsivo é decorrent e de dem onização é um diagnóst ico
inadequado e abre port as para soluções inadequadas.
A Bíblia t am bém ensina, com o vim os, que Deus é o aut or de m ales e
sofrim ent os que envia sobre os ím pios ( e m esm o, sobre seus filhos, para
corrigi- los) . Com isso não est ou, nem por um segundo, sugerindo que Deus é o
aut or do pecado, ou que sej a, no m ínim o, cúm plice do m esm o. Quando
com eçam os a ir além da Escrit ura, e responsabilizam os o diabo por t odo o m al
que ocorre nesse m undo, correm os alguns riscos:
Perderm os de vist a o ensino bíblico acerca da queda e depravação do
hom em . Num art igo crít ico cont ra os ensinos de Pet er Wagner e dem ais
proponent es do m ovim ent o de bat alha espirit ual, Mike Wakely acusa a t eologia
do m ovim ent o de ser pobre, descuidada e inferior, pois apresent a um a
perspect iva inadequada do ensino bíblico acerca da queda do hom em . Sat anás,
cont inua Wakely, é vist o com o operando prim ariam ent e at ravés de inst it uições
polít icas, econôm icas e religiosas. Um a vez que seu poder sobre esses

24
BATALHA ESPIRITUAL

sist em as é quebrado, as pessoas pront am ent e se convert erão a Crist o.( 40)
Mas esse ensino, diz Wakely, est á em com plet o desacordo com o ensino bíblico
de que o coração do hom em é endurecido, t eim oso e rebelde. Esse ensino de
Wagner e de out ros t ende a j ust ificar os pecados dessas pessoas e sua recusa
em subm et er- se a Crist o.( 41)
Perderm os de vist a o ensino bíblico acerca da responsabilidade pessoal
de cada indivíduo pelos at os que com et e. Num art igo sobre com o os crist ãos
podem se libert ar de com port am ent os com pulsivos — out r a m aneira de se
referir a prát ica cost um eira de det erm inados pecados —, o aut or Lest er
Sum rall corret am ent e m enciona que o diabo ilude as pessoas com conceit os
errados acerca do pecado e de Deus, para m ant ê- las escravizadas a
det erm inados hábit os pecam inosos; m as responsabiliza t ais indivíduos por não
serem capazes de rom per com t ais hábit os: ( 1) m uit os não desej am realm ent e
renunciar ao prazer que o pecado lhes t raz; ( 2) out ros são orgulhosos dem ais
para buscar aj uda; ( 3) out ros se concent ram em assunt os secundários em vez
de irem à raiz do problem a; ( 4) ainda out ros são inconst ant es: desej am
m udar, m as não ao pont o de renunciar àqueles hábit os e sent im ent os
fam iliares. Ele conclui dizendo que é som ent e at ravés de um esforço espirit ual
const ant e que poderem os nos libert ar de padrões rot ineiros de pecado.( 42) O
que desej o dest acar nesse art igo de Sum rall é a com binação equilibrada ent re
o reconhecim ent o de que Sat anás pode iludir as pessoas ao pecado e a
responsabilidade últ im a que cada pessoa t em diant e de Deus por se deixar
iludir e prat icar a iniquidade. I nfelizm ent e, essa últ im a ênfase t em falt ado em
m uit as das publicações defendendo a " bat alha espirit ual" . A t endência
geralm ent e é resolver o problem a da escravidão ao pecado em t erm os de
expulsão de dem ônios supost am ent e responsáveis pelos m esm os, em vez do
em prego dos m eios bíblicos com o a disciplina espirit ual,, com o m encionado no
art igo de Sum rall.
Perderm os de vist a o ensino bíblico de que devem os resist ir ao pecado. É
im port ant e observar que nem sem pre é fácil dist inguir ent re os problem as
com uns da vida e at aques de espírit os m alignos. A dificuldade aum ent a
quando descobrim os que a Bíblia m enciona que, além de Sat anás, som os ainda
t ent ados pela carne, pelo m undo e pelas circunst âncias adversas dessa vida. O
que m uit os defensores da " bat alha espirit ual" parecem não perceber é que a
m aioria dos nossos problem as, dificuldades e sofrim ent os diários se originam
da com binação ent re nossa " bagagem de m iséria hum ana básica"
( predisposições genét icas, am bient e fam iliar, deficiências pessoais) e nossas
t endências pecam inosas ( am argura, ira, raiva, egoísm o) . O m undo e o diabo
com plet am o quadro, int eragindo ent re si para criar sit uações de conflit o, que
são por vezes t ão com plexas, que não conseguim os classificá-las claram ent e.
O que é m ais int eressant e em t udo isso, é que as Escrit uras oferecem aos
crent es um a m aneira padrão de agir nessas circunst âncias, sej a qual for a
origem — ou or igens — do conflit o: subm et er-se a Deus, arrepender- se dos
pecados, e resist ir ao diabo — e ele fugirá ( Tg 4.7- 10) .( 43) Ent endendo a
bat alha espirit ual som ent e em t erm os de at aques de espírit os m alignos,
m uit os hoj e t êm negligenciado o ensino bíblico acerca da necessidade de

25
BATALHA ESPIRITUAL

sant ificação, disciplina espirit ual e resist ência m oral cont ra as t ent ações —
sej am elas da carne, do m undo ou do diabo.
Port ant o, é ext rem am ent e im port ant e que m ant enham os firm es em
nossas m ent es o ensino bíblico de que o hom em é um ser decaído e que est á
debaixo do j ust o j uízo de Deus. É im port ant e, não por que desej am os enfat izar
m orbidam ent e essas t rist es verdades. Mas, porque precisam os com preender
claram ent e a nat ureza das m isérias e dos m ales que acom et em as pessoas, a
responsabilidade que t êm nelas, e de que form a devem reagir.

4. Se alguém est á em Crist o é um a nova criação

O leit or deverá t er percebido que o t ít ulo acim a é na verdade um a part e


das palavras de Paulo em 2 Corínt ios 5.17, " E, assim , se alguém est á em
Crist o, é nova criat ura; as coisas ant igas j á passaram ; eis que se fizeram
nova" ( ARA) . Preferi t raduzir a palavra kt isis com o " cr iação" e não com o
" criat ura" pelos seguint es m ot ivos: ( 1) Das 19 vezes que a palavra kt isis
ocorre no Novo Test am ent o, a grande m aioria é t raduzida por " criação" ( cf. Mc
10.6; 13.19; Rm 1.20; 8.19- 22; Cl 1.15, ent re out ros) , em bora em alguns
casos a t radução " criat ura" sej a possível. ( 2) Algum as das t raduções m ais
respeit adas int ernacionalm ent e preferem t am bém " criação" em vez de
" criat ura" , com o a RSV e a NVI . ( 3) " Criação" expressa m elhor o sent ido do
que Paulo desej a dizer em 2 Co 5.17. Seu pont o não é a t ransform ação
psicológica e espirit ual que acont ece com um a pessoa que est á em Crist o
( com o na t radução da BLH, " é um a nova pessoa" ) , m as sua part icipação na
nova criação que j á foi iniciada por Deus em Crist o. O cont rast e coisas
" ant igas" e " novas" não é um cont rast e ent re o t em po ant es e depois da
conversão da pessoa a Crist o, m as ent re o período ant es e depois da vinda de
Crist o, ent re a velha era e a nova. As palavras de Paulo devem ser ent endidas,
não psicologicam ent e, m as escat ologicam ent e, em t erm os do seu ensino sobre
o raiar da nova era em Crist o, do início da nova criação em Crist o, da qual ele
é o prim ogênit o.( 44) Já t rat am os acim a acerca do ensino paulino sobre as
duas eras. Evident em ent e esse conceit o abrange o out ro, de que a pessoa se
t orna um a nova pessoa int eriorm ent e, m as apont a para ainda out ras
caract eríst icas da obra de Crist o em favor da Sua igrej a.
Ent endido dessa perspect iva o verso est á dizendo que se alguém est á em
Crist o ele faz part e da nova criação, da nova hum anidade cuj o cabeça é Crist o,
e desfrut a de t odos os privilégios desse novo st at us. Out ras passagens do
Novo Test am ent o nos com plet am o quadro: quem est á em Crist o goza aqui e
agora da presença do Espírit o Sant o com o penhor do que ainda há por vir ( Ef
1.14) ; experim ent a o gozo e os poderes do m undo vindouro ( Hb 6.4 -5) ;
com part ilha da nat ureza de Crist o com o prim ícia da ressurreição ainda por
ocorrer; j á t em a vida et erna que significa conhecer a Deus e ao Seu Filho
Jesus Crist o ( Jo 17.1- 3) ; desfrut a de um novo coração ( Sl 51.10; Ez 11.19;
36.26; Jo 3.3; Gl 6.15) ; foi libert o do dom ínio do pecado e da lei ( Rm 6.1- 14;
7.1- 6) ; é guiado pelo Espírit o de Deus ( Rm 8.1-17) .

26
BATALHA ESPIRITUAL

As Escrit uras enfat izam especialm ent e a nova relação que aquele que
est á em Crist o m ant ém com Deus. Ant igam ent e era filho da ira, dom inado pelo
m undo, pela carne e pelo diabo e debaixo do j uízo de Deus ( Ef 2.1 -3) ; agora,
foi perdoado e aceit o por Deus, adot ado com o filho em Crist o; j á nenhum a
condenação exist e cont ra ele ( Rm 8.1) . Ele não m ais pert ence a esse m undo
que se desfaz, m as à época vindoura que j á raiou no present e. Assim , Sat anás
j á não t em m ais qualquer aut oridade ou direit o sobre ele, apesar de ainda
t ent á- lo ao pecado. Nas palavras do apóst olo João, " o m aligno não lhe t oca" ( 1
Jo 5.18) . Bast a um est udo sim ples nas Escrit uras, da linguagem usada para
descrever nossa redenção, para que não fique qualquer dúvida de que o
crent e, à sem elhança de um escravo expost o à venda na praça, foi com prado
por preço, e que, agora, passa a pert encer t ot alm ent e ao novo dono. O ant igo
pat rão não t em m ais qualquer direit o sobre ele, com o rezava a legislação
rom ana da época. Assim , Paulo diz que fom os com prados por preço ( 1 Co
6.20; agorazo, " com prar, redim ir, pagar um resgat e para libert á- lo" ) , e que
sendo agora livres, não devem os nos deixar out ra vez escravizar ( 1 Co 7.23) .
Fom os resgat ados ( lut row) pelo precioso sangue de Crist o ( 1 Pe 1.18; cf. Ap
5.9) .
O ensino bíblico acerca da relação que o crent e desfrut a com Deus
precisa ser enfat izado em nossos dias, part icularm ent e as suas im plicações. A
j ulgar por m uit o do que é dit o por defensores do m ovim ent o de " bat alha
espirit ual" quant o à at uação e ao poder dos espírit os m alignos na vida dos
crent es, falt a- lhes um a visão e um a com preensão m ais exat a quant o ao ensino
do Novo Test am ent o sobre o ser nova criat ura, ou m elhor, nova criação bem
com o quant o às im plicações desse ensino para a " bat alha espirit ual" . Há pelo
m enos dois ensinam ent os da " bat alha espirit ual" que acabam por m inim izar a
eficácia da obra de Crist o, que são: a dem onização de crent es verdadeiros e a
necessidade de quebrar m aldições.
Prim eiro, vej am os o conceit o de que crent es verdadeiros podem ser
dem onizados. Ela t em se t ornado t ão popular, que m uit os art igos de revist as
t eológicas especializadas em aconselham ent o, ao t rat ar das caract eríst icas da
dem onização, não fazem qualquer dist inção ent re crent es e descrent es.( 45)
Mas, o que é " dem onização" ? É im port ant e ent enderm os bem o que
querem dizer quando em pregam esse t erm o. Há quat ro coisas que definem
bem esse conceit o:
Dem onização é diferent e de possessão dem oníaca. Frank Peret t i, past or
licenciado da Assem bléia de Deus e aut or do best seller de 1998 Esse Mundo
Tenebroso, um crist ão não pode ficar possuído por um dem ônio, m as pode ser
" dem onizado" .( 46) Não som ent e Peret t i, m as m uit os líderes do m ovim ent o de
" bat alha espirit ual" seguem a m esm a dist inção, com o por exem plo, no Brasil,
Gilbert o Pickering. Em seu livro Guerra Espirit ual ele acusa os t radut ores da
versão King Jam es de t erem colocado a I grej a na direção errada ao t raduzir o
t erm o grego daim onizom ai e seus cognat os por " possessão dem oníaca" ,
t radução t am bém adot ada pela Alm eida.( 47) A expressão " possessão
dem oníaca" e m esm o " endem oninham ent o" , segundo Pickering, im plica na
posse por part e de Sat anás da vida e do dest ino de um a pessoa.( 48) Nesse

27
BATALHA ESPIRITUAL

caso, só há duas opções: ou alguém est á possuído por um espírit o m aligno, ou


não est á.
Dem onização é um fenôm eno parcial. O pont o defendido é que exist em
graus diferent es em que um a pessoa — m esm o um cr ent e — est á debaixo do
cont role e influência de Sat anás. Daí a preferência pela t radução " dem onizado"
ou " endem oninhado" , pois expressa a idéia de que um a pessoa, m esm o um
crent e, pode t er algum a área de sua vida debaixo do cont role parcial de um ou
m ais dem ônios, sem necessariam ent e est ar " possesso" por eles. Powlison, em
sua crít ica à " bat alha espirit ual" , descreve est e conceit o fazendo um paralelo
ent re a personalidade hum ana infest ada em diversas áreas por dem ônios e o
disco rígido de um com put ador, onde det erm inadas áreas est ão infect adas com
um ou m ais vírus.( 49)
Port ant o, m uit os defensores da " bat alha espirit ual" negariam que um
crent e pode ficar possesso de um espírit o im undo, m as afirm am que ele pode
ficar " dem onizado" , ist o é, com algum a área de sua vida debaixo do cont role
de um ou m ais dem ônios.( 50) Na verdade, vão ao pont o de dizer que não
exist e " possessão dem oníaca" nem m esm o de incrédulos — o que há é
" dem onização" .( 51) Port ant o, a explicação que dão para um com port am ent o
m oral ilícit o é de que os dem ônios do pecado est ão ent rincheirados no coração
hum ano.
A dem onização ocorre por causas bem definidas. Aparent em ent e, eles
ent endem que a " dem onização" é um a influência m aligna na vida de um a
pessoa, superior à daquela da t ent ação, em que um ou m ais dem ônios vêm
habit ar na pessoa, fazendo- a ficar confusa, incrédula, e especialm ent e
escravizada a det erm inados hábit os pecam inosos. A pessoa cai vít im a dest a
opressão dem oníaca por causa de seus pecados, ou por causa dos pecados de
out r os cont ra ela, com o por exem plo, a m olest ação sexual durant e a
infância.( 52) A " dem onização" de um crent e verdadeiro pode ocorrer ainda por
vários out ros m ot ivos: o pecado de seus ant epassados, ódio, am argura e
rebelião durant e a infância, pecados sexuais, m aldições e pragas rogadas por
out ros, e envolvim ent o com o ocult ism o.( 53)
Tais coisas dão aut oridade aos dem ônios para invadi- las. O m esm o
ocorre por causa de m aldições heredit árias. Qualquer que sej a a causa, os
dem ônios invadem a vida das pessoas e nelas habit am . No caso dos crent es,
eles perm anecem em const ant e conflit o com o Espírit o Sant o, que t am bém
habit a nos crent es.( 54) Segundo alguns, est es dem ônios invasores podem ficar
habit ando no corpo ou na alm a do crent e.( 55)
Dem onização e vida em pecado andam j unt as. O efeit o da dem onização
de crent es ou descrent es, segundo Murphy, é um a vida em pecado,
geralm ent e nas áreas de prát icas sexuais ilícit as, ódio, m ágoa, rancor,
rebelião, sensação de culpa, rej eição e vergonha, at ração ao ocult ism o e ao
m undo dos espírit os.( 56) Segundo Murphy, o processo de dem onização de um
crent e é geralm ent e o seguint e: o prim eiro dem ônio invade a sua vida, e abre
as port as para que out ros venham . Se não forem det ect ados e expulsos,
perm anecerão lá, habit ando no crent e, e gradat ivam ent e ganharão cont role
sobre as sua em oções, at é finalm ent e at ingirem o cent ro de sua personalidade.

28
BATALHA ESPIRITUAL

Crent es dem onizados não poderão prosseguir sozinhos na vida crist ã; precisam
de aj uda de alguém que expulse est as ent idades de suas vidas.( 57)
Em bora o conceit o de " dem onização" sej a um a ót im a explicação para os
hábit os pecam inosos que escravizam m uit os crent es, ele esbarra em algum as
dificuldades exegét icas e t eológicas. Há pelo m enos quat ro delas que podem os
m encionar.
O problem a é m ais que um a quest ão de t radução. Mudar a t radução de
daim onizom ai ( " possessão dem oníaca" ) para " dem onização" não resolve o
problem a levant ado pela sugest ão de que crent es verdadeiros podem se t ornar
escravos de dem ônios, m esm o que sej a em apenas algum as áreas m orais da
sua vida. Em bora o últ im o t erm o t raduza de form a m ais lit eral a expressão
bíblica, o prim eiro expressa m elhor o seu sent ido. Alguém " dem onizado" est á
debaixo do cont role de um dem ônio. Exist e algum a área de sua vida — ou sua
vida t oda — que est á possuída por aquela ent idade. É est e o sent ido da
expressão.
Nos casos m encionados nos Evangelhos e At os, os endem oninhados
est avam afligidos por dist úrbios, quer m ent ais ou físicos ( paralisia, cegueira,
surdez, epilepsia, loucura, cf. Mt 4.24; 8.28; 9.23; 12.22; 15.2 2) . Seus corpos
e m ent es haviam sido invadidos por dem ônios. A causa nunca é cit ada no Novo
Test am ent o. O efeit o é que t ais pessoas est avam debaixo do cont role dest es
seres, que não som ent e as afligiam , m as as haviam privado da razão, às vezes
da saúde e do cont role físico.
Nos Evangelhos, as at it udes e reações das pessoas " dem onizadas" são
at ribuídas aos dem ônios que as invadiram , ver Mc 3.11; Mt 8.31; Mc 1.26; Lc
4.35; At 5.16; et al. Port ant o, não é de se adm irar que os t radut ores, quase
que universalm ent e, t em t raduzido o verbo daim onizom ai indicando possessão
dem oníaca. É que se t rat a da invasão de dem ônios na vida, no corpo, na
m ent e e na personalidade das pessoas, chegando ao pont o de escravizá- lo a
cert os pecados e at it udes. Adm it ir que um crent e est ej a " dem onizado" é
adm it ir que ele est á debaixo do cont role de Sat anás, cat ivo à sua vont ade,
im pelido a est as at it udes com pulsivas. E port ant o, m esm o que a t erm inologia
foi t rocada, perm anece a quest ão se um crent e pode t er dem ônios habit ando
em seu corpo, o qual é igualm ent e habit ado pelo Espírit o Sant o.( 58)
O conceit o agride t ext os claros quant o aos privilégios dos crent es. A
quest ão é realm ent e aguda, pois a Escrit ura ensina que o crent e est á
assent ado com Crist o nos lugares celest iais, acim a de t odos os principados e
pot est ades ( Ef 1.21- 22) . O crent e est á em Crist o, e Crist o nada t em a ver com
o m aligno ( Jo 14.30) . E, nat uralm ent e, o diabo não t oca os que são de Crist o
( 1 Jo 5.18) , pois o que est á no crent e ( o Espírit o Sant o) é m aior que os
espírit os m alignos que habit am nest e m undo ( 1 Jo 4.4) .
O pecado é at ribuído à nat ureza decaída do hom em . Os dem ônios
denom inados pela " bat alha espirit ual" com o sendo dem ônios da lascívia, do
ódio, da ira, da vingança, da em briagues, da invej a, e assim por diant e, não
aparecem no Novo Test am ent o. Est as coisas são, na verdade, as obras da
carne m encionadas por Paulo em Gálat as 5.19 - 21. A solução para est es
pecados não é expulsar dem ônios que supost am ent e os produzem , m as

29
BATALHA ESPIRITUAL

arrependim ent o, confissão, e sant ificação. O conceit o de " crent e dem onizado" ,
na realidade, em vez de produzir a m ort ificação da nossa nat ureza pecam inosa
com o as Escrit uras det erm inam ( Cl 3.8; Rm 8.13) , fornece um a desculpa e
um a racionalização para o pecado, as quais a nossa nat ureza pecam inosa
sem pre é rápida em usar.
Falt a com provação bíblica da dem onização de crent es. Além dist o, falt a a
necessária com provação bíblica de que podem os e devem os expulsar dem ônios
da vida de crent es verdadeiros. Jesus nunca expulsou dem ônios de quem era
seu discípulo — Maria Madalena, de quem Jesus expulsou set e espírit os
m alignos, cert am ent e se convert eu naquela ocasião ( Lc 8.2) . Os apóst olos,
igualm ent e, nunca expulsaram dem ônios de crent es das igrej as locais. O Novo
Test am ent o é absolut am ent e silencioso a est e respeit o; silencia igualm ent e
quant o às causas que levaram det erm inadas pessoas a ficarem
endem oninhadas. O Novo Test am ent o apenas descreve o encont ro de Jesus e
dos apóst olos com pessoas endem oninhadas, m as em nenhum caso revela
com o o endem oninham ent o acont eceu, se foi por causa de pecados pessoais,
pelos pecados de out ros, por m aldições heredit árias, ou qualquer out ros dos
m ot ivos alegados pelos proponent es da " bat alha espirit ual" . Não devem os
t ent ar sat isfazer a nossa curiosidade baseados em especulações e experiências
pessoais.
Segundo, a quebra de m aldições. Esse ensinam ent o caract eríst ico da
" bat alha espirit ual" t ende igualm ent e a m inim izar a perfeição e a eficácia da
obra de Crist o na vida do crent e. Podem os resum ir esse conceit o em quat ro
pont os.
Os filhos pagam pelos erros dos pais. Os pecados, vícios, e pact os
dem oníacos feit os pelos ant epassados de um crent e afet am negat ivam ent e a
sua exist ência present e. Maldições heredit árias são aquelas que herdam os dos
nossos pais e ant epassados em decorrência desses erros que eles com et eram .
Est e conceit o procura basear- se em Êxodo 20.5, onde Deus afirm a que cast iga
a m aldade dos pais nos filhos at é a t erceira e quart a geração.
A t ransm issão genét ica de dem ônios. Aut ores com o Rodovalho chegam a
sugerir que os espírit os " fam iliares" passam dos pais para os filhos at ravés dos
genes.( 59) Dessa form a, eles se perpet uam na fam ília geração após geração.
I sso explicaria porque det erm inadas fam ílias sofrem de pecados ou t ragédias
caract eríst icas em suas linhagens. Por exem plo, fam ílias que at ravés dos
séculos são m arcadas por casos e m ais casos de suicídios são vít im as de um
" espírit o fam iliar" de suicídio, que ent rou na linhagem por algum m ot ivo e só
sairá com a quebra da m aldição e a reparação do pecado que lhe deu a
oport unidade.
O poder abençoador e am aldiçoador das palavras. As pragas, m aldições
ou palavras m ás proferidas diret am ent e cont ra nós no present e t am bém t êm o
poder de nos t ornar infelizes, de pert urbar nossas vidas. Maldições podem
incluir frases dos nossos pais com o " m enino, vai para o diabo que t e
carregue! " . At ravés delas, os dem ônios recebem aut oridade para ent rar em
nossas vidas e t orná- las em m iséria, dor e sofrim ent o.

30
BATALHA ESPIRITUAL

A necessidade de quebrar essas m aldições. Mesm o um verdadeiro crent e


pode deixar de alcançar a plena felicidade nesse m undo caso est ej a
" am aldiçoado" , isso é, debaixo de algum a m aldição. Caso não as quebre,
padecerá nas m ãos dos dem ônios, que recebem poder para at orm ent á- lo
at ravés delas. O processo consist e em localizar e ident ificar est as m aldições, e
anulá- las " em nom e de Jesus" . A " quebra" dest as m aldições o cam inho para a
libert ação.( 60) No caso de m aldições heredit árias, alguns aconselham que se
t race a árvore genealógica da nossa fam ília, procurando ident ificar as pragas,
m aldições, pecados e pact os com dem ônios feit os por eles no passado, para
depois anulá- los, quebrando- os e rej eit ando- os em nom e de Jesus.( 61)
É verdade que podem os experim ent ar as conseqüências dos erros da
nossa fam ília. Tam bém é verdade que as palavras podem ser usadas para
dest ruir vidas. É igualm ent e verdadeiro que devem os rej eit ar t odas as obras
das t revas, cuidar das nossas palavras e não serm os conivent es com os
pecados de nossos ant epassados e parent es ao nosso redor. Cont udo, o ensino
de " quebra de m aldições" vai m uit o além disso. Exist em quat ro crít icas que
podem os fazer a ele.
Uso parcial da evidência bíblica. Geralm ent e o t ext o usado para defender
o conceit o de que os filhos pagam pelos erros dos pais é Êxodo 20.5, onde
Deus am eaça visit ar a m aldade dos pais nos filhos, at é a t erceira e quart a
geração dos que o aborrecem .
Ent ret ant o, ensinar que Deus faz cair sobre os filhos as conseqüências
dos pecados dos pais, é só m et ade da verdade. A Escrit ura nos diz igualm ent e
que se um filho de pai idólat ra e adúlt ero vir as obras m ás de seu pai, t em er a
Deus, e andar em Seus cam inhos, nada do que o pai fez virá cair sobre ele. A
conversão e o arrependim ent o individuais " quebram " , na exist ência das
pessoas, a " m aldição heredit ária" ( um efeit o som ent e possível por causa da
obra de Crist o) .
Est e foi o pont o enfat izado pelo profet a Ezequiel em sua pregação ao
povo de I srael da época ( leia cuidadosam ent e Ezequiel 18) . A nação de I srael
havia sido levada em cat iveiro para a Babilônia, e os j udeus cat ivos se
queixavam de Deus dizendo " Os pais com eram uvas verdes, e os dent es dos
filhos é que se em bot aram . . ." ( Ez 18.2b) — ou sej a, " nossos pais pecaram , e
nós é que sofrem os as conseqüências" . Eles est avam t ransferindo para seus
pais a responsabilidade pelo cast igo divino que lhes sobreveio, que foi o
dest erro para a t erra dos caldeus. Achavam que era inj ust o que est ivessem
pagando pelo pecado de idolat ria dos seus pais. Usavam um provérbio da
época, que nos nossos dias seria m ais ou m enos assim : " Nossos pais com eram
a feij oada, m as nós é que t ivem os a dor de barriga. . ."
At ravés do profet a Ezequiel, Deus os repreendeu, afirm ando que a
responsabilidade m oral é pessoal e individual diant e dele: " A pessoa que pecar,
é ela quem m orrerá — não o seu pai ou a sua m ãe" ( Ez 18.4b, 20) . E que pela
conversão e por um a vida ret a, o indivíduo est á livre da " m aldição" dos
pecados de seus ant epassados, ver 18.14- 19. Est a passagem é m uit o
im port ant e, pois nos m ost ra de que m aneira o próprio Deus int erpret a ( at ravés
de Ezequiel) o significado de Êxodo 20.5. Aplicando aos nossos dias, fica

31
BATALHA ESPIRITUAL

evident e que o crent e verdadeiro j á rom peu com seu passado, e com as
im plicações espirit uais dos pecados dos seus ant epassados, quando,
arrependido, veio a Crist o em fé.
Minim izaçao dos efeit os da obra de Crist o. Esse é a nossa m aior
preocupação. O apóst olo Paulo nos esclarece que o escrit o de dívida que nos
era cont rário, a m aldição da lei, foi t ornado sem qualquer efeit o sobre nós:
Jesus o anulou na cruz ( Cl 2.13- 15; Gl 3.13) . Ou sej a, t oda e qualquer
condenação que pesava sobre nós foi rem ovida com plet am ent e quando Crist o
pagou, de form a suficient e e eficaz, nossa culpa diant e de Deus. Ora, se a obra
de Crist o no Calvário em nosso favor foi poderosa o suficient e para rem over de
sobre nós a própria m aldição da sant a lei de Deus, quant o m ais qualquer coisa
que poderia ser usada por Sat anás para reivindicar direit os sobre nós, inclusive
pact os feit os com ent idades m alignas, por nós, ou por nossos pais, na nossa
ignorância.
Bast a um est udo sim ples nas Escrit uras, da linguagem usada para
descrever nossa redenção, para que não fique qualquer dúvida de que o
crent e, à sem elhança de um escravo expost o à venda na praça, foi com prado
por preço, e que, agora, passa a pert encer t ot alm ent e ao seu novo senhor. O
ant igo pat rão não t em m ais qualquer direit o sobre ele, com o rezava a
legislação rom ana da época. Assim , Paulo diz que fom os com prados por preço
( 1 Co 6.20; agorazw, com prar, redim ir, pagar um resgat e — t erm o usado para
o at o de com prar um escravo na praça, ou pagar seu resgat e para libert á- lo) ,
e que sendo agora livres, não devem os nos deixar out ra vez escravizar ( 1 Co
7.23) . Fom os resgat ados (lut row ) pelo precioso sangue de Crist o ( 1 Pe 1.18;
cf. Ap 5.9) .
Quando vivem os à luz da gloriosa verdade de que " se alguém est á em
Crist o é nova criação" não t em em os pragas, m aldições, encost os, m au- olhado,
" olho gordo" , despachos, t rabalhos. I gualm ent e vivem os seguros de que não
som os " am aldiçoados" por qualquer dos pecados de nossos pais: t udo foi
anulado na cruz. Não est ou dizendo que os verdadeiros crist ãos gozam de um a
im unidade aut om át ica quant o à influência de espírit os m alignos. É preciso
revest ir - se da força do Senhor e de t oda arm adura de Deus para que possam
resist ir às ast ut as ciladas do diabo.( 62) Meu obj et ivo foi deixar clara a
im port ância de abraçarm os o ensino corret o sobre a sit uação daquele que est á
em Crist o. Saber o que isso significa nos dará o parâm et ros corret os para
avaliarm os os freqüent es relat os de experiências est ranhas que ouvim os de
evangélicos ao nosso redor, que parecem m inim izar ou dim inuir a suficiência
da obra de Crist o em favor dos que são seus.

Con clu sã o
Meu alvo nesse art igo foi abordar alguns dos principais ensinos do
m ovim ent o de " bat alha espirit ual" part indo do cont ext o dout rinário m aior onde
o m esm o se encaixa. Analisando os t em as m aiores que cont rolam a área de

32
BATALHA ESPIRITUAL

dem onologia bíblica procurei m ost rar que m uit as das dist orções apresent adas
pela dem onologia do m ovim ent o se devem ao fat o que ele enfoca
det erm inados ensinos fora dos cont ext os a que pert encem . Quando analisam os
a at uação dem oníaca da perspect iva do ensino bíblico sobre a soberania de
Deus, a suficiência das Escrit uras, a queda do hom em e a plena redenção em
Crist o, verificam os que " bat alha espirit ual" não pode se t ornar a port a de
ent rada ou o t em a dom inant e de um a t eologia ou de um a est rat égia
m issionária adequados para a I grej a de Crist o. Seria reduzir e dist orcer o
ensino m ais com plet o das Escrit uras.
Em bora reconheçam os que exist e um conflit o se desenrolando no
present e ent re a I grej a e as host es das t revas, t em os dúvidas de que o m esm o
deva ser o pont o focal da reflexão e da praxis da igrej a de Crist o em nossos
dias, vist o que est á subordinado a m uit os out ros pont os m ais abrangent es e
fundam ent ais.
A I grej a deve guiar-se pelos pont os m ais cent rais do ensinam ent o
bíblico. At ravés deles colocará na perspect iva corret a qualquer novo assunt o
que surj a. Nesse capít ulo enum erei quat ro desses pont os que cont rolam , ao
m eu ver, a com preensão adequada dos ensinam ent os da " bat alha espirit ual: a
soberania de Deus, a suficiência das Escrit uras, a decadência da raça hum ana
e a suficiência da obra de Crist o. Um a vez que esses pont os sej am firm em ent e
defendidos e ensinados haverá pouco espaço para que os erros da " bat alha
espirit ual" penet rem .

33
BATALHA ESPIRITUAL

N ot a s
1 Por exem plo, vej a-se o livro de Paulo Rom eiro, da Assem bléia de Deus,
Evangélicos em Crise: Decadência Dout rinária na I grej a Brasileira ( São Paulo:
Mundo Crist ão, 1995) , onde ele faz severas crít icas ao m ovim ent o.
2 Vej a ext rat os dest a declaração em Mike Wakely, " A crit ical look at a new
‘key’ t o evangelizat ion" , em Evangelical Missions Quart erly, ( Abril, 1995) 156-
57.
3 Boa part e do m at erial aqui apresent ado apareceu na m inha obra, O que Você
Precisa Saber sobre Bat alha Espirit ual ( São Paulo: Casa Edit ora Presbit eriana,
1997) , e é reproduzido aqui com perm issão.
4 I . H. Marshall, At os: I nt rodução e Com ent ário, em Série Cult ura Bíblica ( São
Paulo, Vida Nova: 1985) .
5 Cf. por exem plo, G. Van Groningen, O. Palm er Robert son, e out ros.
6 I nst it ut as, I I I , 7, 1. O reconhecim ent o da soberania de Deus era um a das
principais caract eríst icas da dout rina de Calvino, cf. Ken Myers, " Calvin and
cult ure" , em Tablet alk , 19/ 10 ( 1995) 58- 59.
7 Ross W.Marrs, " God's nest egg" , em Clergy Journal, Maio/ Junho de 1989, pp.
30 -34. Out ros aut ores falam de Deus com o soberano, m as não no sent ido de
pleno dom ínio sobre suas criat uras m orais. Cf. por exem plo Quet in Schult ze,
" Cult ure w at ch: t he crossover m usic quest ion" , em Moody , Out . 1992, pp. 30-
32; Spiros Zodhiat es, " Signs — why God gives t hem or refuses t hem " , em
Pulpit Helps, Maio de 1990, pp. 1- 5.
8 Clark Pinnock, " God's sovereignt y in t oday's w orld" , em Theology Today,
53/ 1 ( 1996) 15- 21.
9 J. Long, em Discipleship Journal, Março/ Abril de 1992.
10 Para m aiores det alhes sobre est a abordagem hist órica, redent iva-
escat ológica dos ensinos do Novo Test am ent o, vej a George Ladd, Teologia do
Novo Test am ent o, 2a. edição ( Rio: JUERP, 1985) 24- 32; Herm an Ridderbos,
Paulus: Ont werp van zij n t heologie ( Kam pen: Uit geversm aat schappij , 1966)
40 -55; The Com ing of t he Kingdom ( Filadélfia, PA: Presbyt erian and Reform ed
Publishing Co., 1976) 104- 115; Geerhardus Vos, Redem pt ive Hist ory and
Biblical I nt erpret at ion ( Phillipsburg, New Jersey: Presbyt erian and Reform ed
Publishing Co., 1 980) .
11 Guelich, Spirit ual Warfare, 39.
12 Ver o excelent e livro de F. Solano Port ela Net o, " Cinco Pecados que
Am eaçam os Calvinist as" ( São Paulo, PES, 1997) .
13 Jay Adam s, " Counseling and t he sovereignt y of God" , em Journal of Biblical
Counseling, I nverno de 1993, pp. 4- 9.
14 John Piper, " Charles Spurgeon: preaching t hrough adversit y" , em Founders
Journal, 23 ( 1996) pp. 5- 21.
15 Cf. por exem plo Merrill Unger, Biblical Dem onoly, ent re out ros.

34
BATALHA ESPIRITUAL

16 Exem plos de obras assim são aquelas de Thom as Brooks ( Precious


Rem edies Against Sat an´ s Devices) , John Bunyan ( O Peregrino) e William
Gurnall ( The Christ ian in Com plet e Arm our) .
17 Neuza I t ioka, " A I grej a e a Bat alha Espirit ual: Você Est á em Guerra! " em
Série Bat alha Espirit ual ( São Paulo: Edit ora SEPAL, 1994) 29- 30; 61- 64.
18 I bid., 30, 52- 53; 67- 69; 49.
19 C. Pet er Wagner, " Territ orial Spirit s and World Missions" , em Evangelical
Missions Quart erly 25 ( 1989) .
20 I bid., 278.
21 I bid., 279.
22 I bid., 278.
23 I bid., 282 -284.
24 Wakely, " A crit ical look" , 158.
25 I bid., 159.
26 Wagner, " Territ orial Spirit s" ., 284.
27 Vej a por exem plo Sam uel Sout hard e Donna Sout hard, " Dem onizing and
m ent al illness ( I I I ) : explanat ions and t reat m ent , Seoul" , em Past oral
Psychology, ( I nverno de 1986) pp. 132- 151; T. Craig I saacs, " The possessive
st at es disorder: t he diagnosis of dem onic possession" , em Past oral Psychology,
( Verão de 1987) pp. 263 -273.
28 Christ opher Rosik, " Mult iple personalit y disorder: an int roduct ion for
past oral counselors" , em Journal of Past oral Care, ( Out ono de 1992) pp. 291-
298
29 Cf. I saacs, " The possessive st at es" , 263- 73.
30 Rosik, " Mult iple personalit y" , 291 -298.
31 Gary Greenwald, " The dangerous t ransference of spirit s" , em Charism a &
Christ ian Life, ( Out ubro de 1990) pp. 110- 120.
32 Ent ret ant o, o conceit o de t ransferência ( sem ent rar no m érit o de que
espírit o) ocorre em várias passagens bíblicas; Nm 11.17; 2 Re 2.9,15; 15.27;
1 Co 2.12., o que exigirá um a at enção do leit or na int erpret ação dessas
passagens.
33 Thom as Whit e, " Est ablishing your hom e as a spirit ual r efuge" , em
Equipping t he Saint s, ( I nverno de 1993) pp. 14- 16.
34 É bom not ar que o Cat olicism o m edieval, sob a influência de Aquino,
adot ara um sem i- pelagianism o, m esm o que na ant igüidade houvesse rej eit ado
o pelagianism o puro. Nest e sist em a, acredit ava- se que o hom em cooperava
com a graça de Deus para a salvação.
35 É int eressant e que Paulo escreveu essas palavras aos crist ãos de Rom a,
cidade conhecida pela degradação m oral j á em sua época. Dest e m esm o
período são as palavras Rom ae om nia venalia esse ( " Em Rom a t udo est á à
venda" ) , usadas por j ovens arist ocrat as rom anos na t ent at iva de descrever a
Jugurt a, j ovem príncipe núm ida, a corrupção reinant e em sua pát ria.
36 Shakespeare, O Mercador de Veneza, At o I I ( palavras de Aragão) .
37 I bid. ( palavras de Bassânio) .
38 Jules Rom ains, Ascensão dos Perigos.

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BATALHA ESPIRITUAL

39 Cf. Curt is C. Mit chell, " Tact ics against Tem pt at ions" , em Moody ( Junho de
1989) 30- 35.
40 Vej a a resenha de Magnus Fialho do livro Espírit os Territ oriais edit ado por
Pet er Wagner, em Fides Reform at a 1/ 2 ( 1996) p. 133ss.
41 Wakely, " A Crit ical look" , 160ss.
42 Lest er Sum rall, " Breaking com pulsive behavior" , em Carism a & Christ ian
Life ( Out ubro de 1990) 68- 72.
43 Vej a esse pont o em det alhes em Tom Whit e, " I s t his really w arfare?" em
Discipleship Journal, 81 ( Maio/ Junho de 1994) 32- 37.
44 Vej a a excelent e exposição dessa passagem por Herm an Ridderbos em
Paulus ( 1966) .
45 I sso não quer dizer que os aut ores não reconheçam que há um a dist inção,
m as sim que, em t erm os prát icos de aconselham ent o, a filiação religiosa do
pacient e não faz diferença, cf. T. Carig I saacs, " The possessive st at es disorder:
t he diagnosis of dem on possession" ; Christ opher Rosik, " Mult iple personalit y
disorder" .
46 Vej a a resenha desse livro feit a por Dan O’Neil, " The supernat ural world of
Frank Peret t i" em Charism a & Christ ian Life ( Maio de 1989) 48- 52.
47 Gilbert o Pickering, Guerra Espirit ual: Est rat égias Missionárias de Crist o ( Rio
de Janeiro: CPAD, 1987) 116.
48 I bid., 116 -7.
49 Pow lison, Power Encount ers, 30.
50 Cf. Murphy, Handbook, 50- 51; Cabezas, Desm ascarado, 216- 19.
51 Murphy, Handbook, 51.
52 Murphy defende veem ent em ent e est e pont o, cf. I bid., 449- 462.
53 I bid., 437 -48. Cf. I t ioka, " A I grej a e a Bat alha Espirit ual" , 61- 63.
54 Murphy, Handbook, 429- 3050 .
55 I t ioka, " A I grej a e a Bat alha Espirit ual" , 65.
56 Murphy, Handbook, 433- 44.
57 I bid., 434.
58 Pickering, na t ent at iva de evit ar o problem a criado pela palavra do apóst olo
João que o diabo não t oca o que é nascido de Deus ( 1 Jo 5.18) , chega ao
pont o de dizer que est a passagem se refere apenas à nova nat ureza dent ro do
crent e, enquant o que a velha nat ureza é suj eit a à invasões dem oníacas! ( cf.
Guerra Espirit ual, 118- 20) É um exem plo claro de um a exegese a serviço de
conceit os t eológicos pré- concebidos.
59 O uso do t erm o " espírit o fam iliar" para se referir a dem ônios que seguem
fam ílias se baseia num a int erpret ação grosseira da t radução da King Jam es.
60 Um dos livros que m ais t em servido para difundir est as idéias no Brasil é o
da pent ecost al Marilyn Hickey t raduzido no Brasil com o t ít u lo Quebre a Cadeia
da Maldição Heredit ária ( Adhonep, 1988) . Represent ant es brasileiros seriam ,
por exem plo, Valnice Milhom ens, Robson Rodovalho ( Quebrando as Maldições
Heredit árias, [ Brasília: Koinonia, 1992] 5a. edição, 1995) , Jorge Linhares
( Bênção e Maldição, [ Belo Horizont e, MG: Bet ânia, 1991] 2a. edição, 1992) ,
ent re out ros.
61 Esse é o t em a do livro de Rodovalho, Quebrando as Maldições Heredit árias.

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BATALHA ESPIRITUAL

62 Cf. Clint on Arnold, " Giving t he devil his due" , em Christ ianit y Today ( Agost o
de 1990) 16 -19.

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BATALHA ESPIRITUAL

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