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“O Cessacionismo é um caminho irreversível,

então cuidado ao ler este livro.”

- Professor Hugo Badini


Sumário
INTRODUÇÃO.....................................................................................4

O QUE É O CESSACIONISMO?............................................................7

O CESSACIONISMO É EXAGERADAMENTE BÍBLICO.........................19

ANÁLISE MINUCIOSA DE 1 CORÍNTIOS 13.......................................29

O CESSACIONISMO NÃO CRÊ NA ANIQUILAÇÃO DE TODOS OS DONS


DO ESPÍRITO SANTO.......................................................................103

O CESSACIONISMO E O SOLA SCRIPTURA SÃO A MESMA COISA. . .115

O CESSACIONISMO É RACIONALMENTE CRENTE, NÃO SENSORIAL


.......................................................................................................120

O CESSACIONISMO NÃO É ANTISOBRENATURALISTA....................129

O CESSACIONISMO NÃO CRÊ NO RETORNO ESPORÁDICO DOS DONS


OU NUM RETORNO APOSTÓLICO..................................................145

O CESSACIONISMO PODE PURIFICAR SUA IGREJA, OU AO MENOS A


VOCÊ..............................................................................................154

O CESSACIONISMO DEVERIA CAUSAR UM DÉFICIT NA ESPIRITUALI-


DADE DO CRENTE CESSACIONISTA, MAS NÃO CAUSA...................178

APÊNDICE.......................................................................................184

AGRADECIMENTOS........................................................................185
INTRODUÇÃO

Esse livro é uma breve introdução à cosmovisão cessa-


cionista. Não o veremos como uma exaustão teológica necessá-
ria ao tema, nem um preenchedor de todos os problemas gera-
dos pelo pentecostalismo e suas variantes na história da igreja,
como me proporei a sanar nos trabalhos que virão a seguir.

Em vista do fato de que quase nenhum material é pro-


duzido na área, e uma “vista grossa” tem aparentemente paira-
do sobre as mentes dos teólogos contemporâneos, principal-
mente no Brasil, decidi criar esse conteúdo introdutório como
uma iniciação à cosmovisão doutrinária cessacionista para to-
dos aqueles crentes que possuem dúvidas e curiosidades no as-
sunto, mas que pouco conseguem, ou definitivamente não con-
seguem, se situar a respeito do que é, e sobre o que ensina, o
Cessacionismo.

Vale a pena salientar que o estudo acerca do Espírito


Santo e de Suas coisas de forma total se chama pneumatologia,
e não cessacionismo propriamente. O cessacionismo é um blo-
co pneumatológico, que tange a vida prática da igreja (eclesio-
logia), e como esta deve crer e agir após a era apostólica.

O Cessacionismo é uma cosmovisão doutrinária bíbli-


ca que irá tratar diretamente da não continuidade dos dons ima-
nentes e sinóticos, que se crêem, por exemplo, características
apostólicas, como sinais transitórios da expansão do Evangelho

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pelo mundo diante dos gentios, tanto mediante os apóstolos co-
mo mediante os seus auxiliares no primeiro século.

Sendo assim, sua influência mais ampliada, seria como


uma cosmovisão dogmática, tem seus afluentes doutrinários to-
cando não somente a pneumatologia cristã, mas também, a
Eclesiologia cristã, sua formação e finalização escrita do Cânon
(por causa da obra dos apóstolos em seu tempo), e até Escato-
logia da igreja (por conta dos sinais prodigiosos futuros no an-
ticristo).

Sabendo dessa amplitude que o Cessacionismo possui


no todo dogmático da igreja, apresento-lhes, esses meus dois
centavos, para quem sabe, ser útil tanto agora, como futura-
mente aos que desejam saber mais pontualmente o que cremos.

Sim, aqui está, a organização simples e desafiadora que


te fará repensar, o que você tem aprendido a respeito dos dons
espirituais e suas práticas, e não somente isso, aqui também vo-
cê aprenderá a como ver corretamente o movimento carismáti-
co atual, que nos tem sido vendido como verdadeiro e como
cristão.

A proposta deste escrito não é ser exaustivo em cada


nuance mínima do tema abordado, assim como serei, progressi-
vamente, em outros volumes físicos subsequentes, pelo contrá-
rio, levarei você a uma nova cosmovisão prática no Espírito
Santo, ao passo que conforme você discorre comigo pelos capí-
tulos, eu te ajudarei, por meio das Escrituras e pela dedução ló-
gica (regras interpretativas da CFW), a tirar qualquer totem pa-

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gão que o pentecostalismo possa ter inserido em sua mente e
em seu coração, seja diretamente ou por osmose cultural, para
que se possa assim pela doutrina, substituí-los pela mente de
Deus revelada na bíblia.

Eu espero de coração que este conteúdo já lhe possa pôr


em um estado de iniciação e até de autonomia de entendimento
no que compete ao Cessacionismo, e segundo o dom que Deus
me deu, que eu possa fazer com que tal Cosmovisão Cessacio-
nista crie boas e profundas raízes espirituais na sua vida, para
glória de Deus Pai por Cristo Jesus, e para a saúde da Igreja nas
Escrituras somente, pelo Espírito Santo. Amém! E boa leitura.

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O QUE É O CESSACIONISMO?

Afinal, o que é o tão famoso cessacionismo? Bem, vou


ser bem direto e claro em minha resposta. O cessacionismo é
um bloco pertencente à pneumatologia cristã (pneumatologia
reformada), não é o cessacionismo o todo da pneumatologia co-
mo salientei, mas sim a parte que lidará com os dons espirituais
concedidos pelo Espírito Santo à igreja.

No cessacionismo, ensinamos em relação aos dons, que


alguns deles cessaram lá no primeiro século da era cristã, com
o fim da era apostólica, enquanto outros dons espirituais conti-
nuam normalmente, com atuação visual, histórica e baseada bi-
blicamente até os dias de hoje na igreja, e não só até hoje, mas
terão estes protagonismos até o fim dos séculos e retorno do Fi-
lho de Deus.

Quando no cessacionismo, dizemos que alguns dons


“cessaram”, não estamos nos referindo a algum tipo de esfria-
mento espiritual individual, ou a algum tipo de incredulidade
por parte dos crentes, nem tanto pouco a um apagar da ação do
Espírito Santo para conosco, mas sim, estamos dizendo que al-
guns dons já atingiram os seus respectivos objetivos e propósi-
tos para os quais foram dados à igreja. Nisso rejeitamos a cren-
ça pentecostal prática de que os dons servem indubitavelmente
para recreação cúltica ou experimentação de sensações pesso-
ais, sem que com isso eles possuam alguma finalidade exata ou
algum benefício espiritual real para a igreja.

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Lembro-lhes também, ou ensino para os que ainda não
sabem, que na bíblia são nos apresentados 22 dons (vinte e
dois), e não apenas 9, como os carismáticos glamourizam di-
zendo: “existem 9 frutos do Espírito, e 9 dons”, não! Existem
22 dons (vinte e dois), dos quais reitero que confessamos que
alguns cessaram, enquanto outros continuam indispensavel-
mente, pois, estes que continuam ainda não atingiram seus ob-
jetivos.

Para se entender a teologia que estrutura o cessacionis-


mo, eu creio, que o primeiro passo que o interessado deve dar é
o abandono completo da disseminada ideologia do fast theo-
logy (Teologia Rápida), que ensina, principalmente aos jovens,
que Teologia se entende sem exaustão, sem retirada de concei-
tos cosmológicos errados e sem suor e esforço.

Hoje tudo parece se querer ser resolvido com uma sim-


ples resposta, e pior, desejam hoje ter sempre de imediato o fa-
moso “versículo de ouro”, que comentarei melhor mais para
frente, em quase tudo que se chama teologia.

Qual a base bíblica para Deus não ser o autor do mal?


Querem só um versículo. Qual a base bíblica para a Trindade?
Querem só um versículo. Qual a base bíblica para o cessacio-
nismo? Querem só um versículo. Porém, com um versículo vo-
cê não faz basicamente nada em Teologia.

Ainda mais que hoje, principalmente no Brasil, um jo-


vem ao completar 18 anos, aparentemente já tem opinião quase
para tudo, quando na verdade ele não estudou por mais de uma

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hora quase nada. Ele fala de calvinismo, escatologia, decretos
divinos, santificação, Ordo Salutis, pais da igreja, tudo isso e
muito mais, porém, o nível de pesquisa pessoal da maioria des-
tes é pífia.

Só pelo fato de você estar lendo esse livro eu já creio no


“correr contra a maré” por sua parte, pois concluindo esse livro
até o final, certamente você terá uma teologia cessacional mais
exaustiva, saindo na frente e excedendo em pneumatologia a
quase todos dos seus círculos de amizades, e isso, não para se
ensoberbecer, mas para os ajudar.

Então, o primeiro passo é esse, de entender que o Ces-


sacionismo demanda tempo. E em muitas áreas, é ele uma mata
ainda muito fechada para se andar, mas, se você quiser trilhar o
caminho para entender o Cessacionismo, verá eu e mais alguns
poucos irmãos com facão em mãos, tentando abrir o caminho
que a rua Azusa obliterou nesse último século.

Vejamos algo agora. Teologicamente, o cessacionismo


tem o seu início na Teontologia cristã, sim, no ser de Deus e na
vontade d’Ele em se revelar a nós.

O Cessacionismo é essencialmente sobre revelação, e


por lidar com a aniquilação de alguns dons, nele vamos basica-
mente afirmar que os dons que cessaram, pois estavam ligados
a produção de revelação ou com a confirmação dela, como no
caso do dom de profecia e dos sinais apostólicos, por estarem
ligados a imanência de informações divinas, eles cessaram com
o encerramento do cânon, e não mais continuam porque a reve-

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lação já se encerrou nos 66 livros que temos, gerando assim co-
mo resultado total as Escrituras Sagradas finalmente.

Mas, quando verificamos o início da revelação, vamos


começar ela sempre em Deus e na eternidade, e na vontade
d’Ele de querer se revelar, e isso com ênfase nos meios pelos
quais Deus em sua divindade usou para se revelar aos Homens.
Por isso começamos em Teontologia.

Na Teologia temos dois principais blocos de revelação:


a revelação natural, que é a que compete a natureza, aos ani-
mais e a toda criação; e a revelação especial, que diz respeito a
imanência informacional de Deus sobre quem Ele é, de forma
mais exata, e o que Ele fez, faz e fará segundo Seus Decretos
Eternos.

Dentro especificamente da revelação especial, nós te-


mos duas importantes divisões, que é a: revelação oral e a re-
velação escrita. Elas duas correm em paralelo por todo o Anti-
go Testamento, como também por todo o Novo Testamento.
Quando uma ocorre a outra ocorre também, e vice e versa, às
vezes simultaneamente, e às vezes um pouco depois, mas são
sempre correlacionais. E um tipo de revelação, sempre leva até
a outra inevitavelmente.

Vou explicar um pouco sobre revelação oral. A revela-


ção oral, como o nome já diz, são informações não registradas,
mas que possuem autoridade por serem ou proferidas por Deus,
ou por serem proferidas em nome de Deus oralmente. É óbvio
que nós só conhecemos hoje as revelações orais porque elas fo-

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ram registradas, e por ser assim elas acabam perdendo esse teor
oral exclusivo, mas quando vemos por exemplo João dizendo
que Jesus fez e falou muito mais coisas que não foram registra-
das (João 21:25), vemos então que a revelação oral ocorreu
muito no decurso da revelação, mas sem que houvesse sobre
ela algum registro além do necessário, e assim o foi.

Quando pensamos no início da revelação oral, vemos


que ela foi iniciada por Deus. Ao criar todas as coisas, como
também ao criar o Homem, Deus passa a lhe falar pessoalmen-
te e diretamente. Vemos em Gênesis Deus falando e dando
mandamentos a Adão, e essas palavras trouxeram revelação a
nós a respeito de como Deus é, sobre como Ele age em relação
a nós e a tudo o mais.

Vale lembrar também, que tudo o que foi dito antes


mesmo de Moisés registrar o Pentateuco, foi dito com a mesma
autoridade e verdade que são descritas nos textos, é basicamen-
te sobre isso que estou dizendo ao falar sobre uma revelação
oral autoritativa. A autoridade das Palavras de Deus no Éden,
como suas consequências, já eram reais mesmo antes de Moi-
sés as registrar por revelação durante a caminhada pelo deserto.

Após Adão, Deus falou diretamente a muitos outros de


forma oralizada. Como à Caim, Noé, Abraão, Moisés e aos
profetas. E pontuo que até a revelação começar a se tornar uma
revelação escrita, ela foi por muito tempo uma revelação de cu-
nho exclusivamente oral, e isso creio, com a preservação do
poder do Espírito Santo, pois nessa oralidade haviam muitas in-
formações salvíficas que os pais passavam para seus filhos, co-
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mo a respeito da promessa da vinda daquele que esmagaria a
cabeça da serpente (Gênesis 3:17) e etc.

Sabe, se Deus não quisesse registrar o que ele falou na


saída do povo de Israel do Egito, ou tudo o que Ele falou a seu
povo no deserto, ou tudo que disse sobre a entrada na terra pro-
metida, por exemplo. Sobre essas coisas, pelas Escrituras, nun-
ca saberíamos, PORÉM, nenhuma das Palavras proferidas por
Deus nessas situações perderam sua autoridade ou essencial va-
lidade direta ao povo ouvinte, isso que digo, ao dizer: revela-
ção oral.

Já a revelação escrita, vemos ela sendo iniciada somen-


te no Sinai. Depois de Adão, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José,
depois das 10 pragas do Egito, da passagem pelo Mar Verme-
lho, depois de tudo isso e mais um pouco, nas quais coisas
Deus se revelou e falou de forma oral; aos pés do Sinai, en-
quanto o povo se afastava por conta do medo do monte fume-
gante, Moisés, ali foi encontrar com Deus na escuridão.

E lá, após Deus lhe revelar oralmente muitas. Deus mu-


da o seu antigo modo de se revelar, inaugurando assim um no-
vo, dando a Moisés algo até então inédito na história d’Ele com
os Homens. Deus dá a Moisés o primeiro exemplar físico de
uma revelação Sua, os 10 Mandamentos, escritos com O Seu
próprio dedo em pedra.

E assim, Deus, como foi com a revelação oral, é quem


inicia a revelação escrita, e somente após ter iniciado ela, é que
Moisés irá então dar continuidade a revelação escrita progres-

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sivamente com o Pentateuco. E como no Éden, Deus deu início
a revelação oral, no Sinai, dando início a revelação escrita, para
que em tudo Ele tenha primazia. E isso só nos ensina a verdade
de que é Deus que soberanamente se revela a nós primeiro, e
sem Ele nunca O poderíamos conhecer. Se revelar é uma deci-
são soberana de Deus, e graças a Ele por isso.

Uma curiosidade. Se considerarmos o que o escritor de


Hebreus fala ao dizer que nos últimos dias Deus nos falou no
Filho, e os desdobramentos que a isso compete, podemos afir-
mar pelo Cessacionismo, que assim como Deus iniciou pesso-
almente a revelação oral no Éden, Ele também, na Pessoa do
Nosso Senhor Jesus, encerrou a revelação oral igualmente, cla-
ro que levando em consideração os apóstolos como embaixado-
res de Cristo, que por Ele falaram.

Do mesmo modo, assim como Deus iniciou a revelação


escrita com as duas tábuas de Pedra no Sinai. Ele é quem termi-
na, por assim dizer, o último livro revelacional das Escrituras, o
Apocalipse, pois o mesmo livro em seu início é chamado de
“revelação de Jesus Cristo”. E como Moisés teve que subir o
Sinai para se encontrar com Deus e intermediar as informações
d’Ele, assim João também teve que subir no dia do Senhor, pa-
ra se encontrar com Cristo e ouvir e escrever. Eu vejo assim,
Deus iniciando e terminando os dois caminhos revelacionais,
pois também, quem mais o poderia fazer?

Mas o que tudo isso tem a ver com o cessacionismo?


Tudo, basicamente. Eu vou me alongar mais sobre em outros
capítulos, mas o entendimento cessacionista é que a bíblia é um
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fruto gerado, ou seja, a bíblia como temos hoje é a totalização o
resultado final da revelação escrita somada a revelação oral, e
isso como resultado de um processo progressivo, mas que sem
dúvidas chegou a um final. E se o processo possui um final, os
meios desse processo não possuiriam também? Esse é o ponto
cessacionista.

A bíblia não nos foi dada diretamente por um anjo de


forma completa, ela é um livro formado por meios de imanên-
cia, e adivinhem quais foram esses meios? Os dons! Como está
escrito: “Deus falou de muitas formas e de muitas maneiras aos
pais pelos profetas [dom de profecia]” (Hebreus 1:1). A disso-
ciação entre revelação e dons, nesse e em outros textos, é sim-
plesmente impossível.

Deus ter revelado muitas coisas por meio dos profetas,


nos ensina que os canais divinos para revelação foram sempre
os dons, e nunca, nenhuma revelação foi feita sem eles, como
também está escrito: “Certamente o Senhor Deus não fará coisa
alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os
profetas” (Amós 3:7).

Pense, quem escreveu o Pentateuco? Moisés, o qual ti-


nha o dom de profecia. E os Salmos? Davi, chamado de profe-
ta. Isaías era profeta. Jeremias, profeta. Ezequiel, profeta. Os
apóstolos eram inspirados. Podemos então concluir, que todo
escritor dos livros bíblicos inspirados, foram possuidores do
dom de profecia para poderem intermediar essa inspiração, pois
Pedro nos ensina que: “a profecia nunca foi produzida por von-

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tade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram
inspirados pelo Espírito Santo.” (2 Pedro 1:21).

Sendo assim, a bíblia tanto em seu Antigo Testamento,


como em seu Novo Testamento, precisou de profetas e auxilia-
res, apóstolos e auxiliares, para que o paralelismo entre a reve-
lação oral e a revelação escrita, chegasse mais pontualmente
ao povo de Deus de forma condensada, e assim, a bíblia se for-
mou com os seus 66 livros totais.

Muitas coisas certamente foram ditas e não foram escri-


tas. Muito também nessa linha, se escreveu de forma inspirada,
mas não se canonizou. Mas Deus, que é infinito em sabedoria,
em nada que fosse necessário ao entendimento de vida e pieda-
de, nos privou de o saber. Fazendo da bíblia então a totalização
de tudo o que Deus tinha para nos dizer, não faltando nela nada
que Ele poderia nos ter dito perpetuamente e não nos faltou.
Nenhuma informação igual nos falta.

Entretanto, leitores, quando falamos de conclusão de re-


velação, interrupção de continuidade e fim do cânon, teremos
que falar inevitavelmente de dons também, e por consequência
de Cessacionismo. E esse é o elefante na sala que os continua-
cionistas tendem a evitar, e chamam de abajur.

Os carismáticos ou mentem sobre, ou querem rapida-


mente se desviar. Como vimos, Deus quis falar de forma oral
com os Homens, às vezes diretamente, às vezes por meio de in-
termediadores, depois que Deus nos deu sua revelação, por as-
sim dizer mais “organizada” (não que Deus seja desorganiza-

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do), mas assim que Seu povo passou a tomar formas de nação
estatal e não mais de famílias nômades, no Sinai, Deus lhes deu
estatutos e juízos, de forma agora escrita. E isso tudo nunca
sem um profeta, nunca sem revelação e nunca sem dons.

E isso vai nos fazer concluir, que: jamais houve conti-


nuidade de revelação, sem que houvesse a continuidade dos
dons concomitantemente. Então mediante isso fica inevitável a
sentença: se admitirmos a continuidade dos dons que traziam
revelação (que são os que no cessacionismo negamos) teremos
que admitir que a revelação, por conseguinte, continua tam-
bém, e continuará sempre enquanto estes dons existirem ainda.
Por outro lado, se admitimos a interrupção da revelação, tere-
mos que confessar a interrupção de alguns dons que a ela per-
tenciam também, e que ela produzia. E é essa espinha dorsal
sobre o que é o Cessacionismo.

Os carismáticos, mediante essa conclusão, sempre pro-


testam, pois dizem ser possível admitir a continuidade dos dons
sem que com isso haja interferência na finalização do cânon. E
como eles argumentam nisso? Eles dizem que o dom de profe-
cia continua hoje, mas não é a mesma profecia vista na bíblia.
Dizem, alguns, que os apóstolos continuam hoje, mas não são
eles como os apóstolos que vemos na bíblia. Dizem eles que os
milagres hoje continuam, mas que não são os mesmos tipos de
milagres que vemos na bíblia em quantidade. Ora, como podem
ser esses dons diferentes dos da bíblia, e ao mesmo tempo se-
rem eles bíblicos?

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Os carismáticos para poderem simplesmente existirem,
eles precisam ressignificar os dons, dando-lhes a roupagem fú-
nebre dos dons que já cessaram, por isso os dons que eles con-
fessam só operam de forma morta e duvidável, pois estes nem
sequer existem quando comparados aos parâmetros bíblicos.
Um apóstolo que não é inspirado. Um profeta que é falível.
Línguas angelicais que são ininteligíveis. Curas fajutas de dor
de coluna e pressão alta e toda sorte de “novos dons” que estes
precisam intrinsecamente inventarem. E isso que eu estou di-
zendo, nem é um espantalho, eu não preciso inventar mentiras
sobre o carismatismo. Tudo e mais um pouco eles têm no currí-
culo, e todos nós sabemos disso.

Para eles admitirem a continuidade dos dons hoje, eles


precisam adulterar os verdadeiros dons, para que estes nunca
sejam o que a bíblia realmente descreve. Ou seja, não há como
fugir e ser honesto ao mesmo tempo. Admitir a continuidade
dos dons que traziam revelação é admitir que uma revelação
continuada. E como podemos ver, onde a revelação oral conti-
nua a revelação escrita aparecerá, isso é inevitável.

Se questione, quando algum carismático fala um “assim


diz o Senhor”, e se direciona a igreja, por que não registramos
e anexamos o dito às Escrituras? Consegue perceber como as
consequências são terríveis? E me parece que quando o caldo
começa a engrossar assim, eles querem mudar o tom. Quando o
assunto começa a virar coisa de gente grande, me parece que os
entusiasmados engolem seco e querem parar de brincar, e pas-
sam então a se justificar.

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Mas não podemos brincar com a revelação divina, Deus
não se deixa escarnecer (Gálatas 6:7). Falar que “Deus está fa-
lando”, possui consequências, e são com elas que o cessacio-
nismo vai lidar e refutar. Você não pode proclamar que Deus
está falando e depois evitar o que significa realmente “Deus fa-
lar”.

Por fim, após essa breve divagação resumida a respeito


do que eu ensino no que se chama de Cessacionismo, vou ago-
ra lhes inserir na exposição de alguns textos bíblicos de forma
mais exaustiva, apesar de eu saber que muitos leitores gostam
das minhas divagações.

E vou mostrar intencionalmente, tanto a biblicidade do


Cessacionismo, como o fato de ele estar associado à conclusão
do Cânon, como estamos vendo. E quero mostrar também co-
mo o Cessacionismo estava já na mente dos apóstolos, e como
ele é claramente ensinado pelo apóstolo Paulo, e que dessa for-
ma ele não poderá ser mais ignorado, uma vez que é entendido.

Lhes darei também abaixo, uma exposição ampla de to-


das as citações da palavra “Teleion” (perfeito/ τελειον) que há
no Novo testamento, que será a minha base para mostrar que o
Cessacionismo prometido por Paulo, realmente já ocorreu com
a chegada da bíblia, ou se preferir chamar, com a chegada do
cânon revelacional (τελειον). Continue a leitura, temos muito
ainda para ver.

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O CESSACIONISMO É EXAGERADAMENTE
BÍBLICO

Vocês estão diante de um imenso capítulo, então se


preparem. Haverá ampla exaustão teológica e eu serei
massivamente prolixo. Nós cristãos não precisamos de mais
facilidades.

Um dos principais problemas e questionamentos hoje a


respeito do cessacionismo é a chamada base bíblica. Eu sempre
achei isso muito estranho, mas sabe aquelas fraseologias que
vão passando de boca em boca, mas que ninguém conhece a
origem? Creio que se aplica a isso! Como também, vejo que a
maioria dos opositores, quando questionados após pedirem base
bíblica para o Cessacionismo, aparentam não estarem muito
inteirados no assunto, antes, só repetindo algo que ouviram de
outras pessoas.

Veja, se perguntado a um destes: o que você quer dizer


quando pede o que chama de “base bíblica”? Quase nenhum
deles saberá responder o que quer. Já alguns vão responder:
“queremos a base bíblica ué, o versículo que ensina sobre essa
doutrina!” Mas o problema é que em teologia, absolutamente
NADA, como salientei acima, se faz com um versículo só.
TUDO deve ser feito com estruturas teológicas exaustivas. E
isso para termos o mínimo de segurança teológica e
apologética.

Entretanto, parece que o Cessacionismo virou o centro


de toda essa falácia da “Teologia de Um Verso”, pois ainda que
nada em teologia se prove com uma passagem apenas, faz-se
necessário que o seja assim com o Cessacionismo pelo menos,
para que o tal seja verdadeiro e bíblico. Muito estranho isso. E
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esse tipo de gente que pede compêndios teológicos sistemáticos
de apenas um versículo, costumam em geral, serem arminianos
e pentecostais, ou seja, tem alguma coisa errada aí.

Entenda algo, ao se observar por um momento a


expressão “base bíblica”, o que será que estamos tentando
primeiramente falar quando dizemos a palavra “base” em “base
bíblica”? Ao meu ver, essa é uma expressão que exprime a
necessidade de um apoio, basicamente um lugar onde tal e tal
doutrina se “apoiará” ou se “apoia”, para ser legitimamente
cristã.

Complementativamente, a parte que se chama “bíblica”,


nessa expressão “base bíblica”, nos indica que a fonte que
apoiará tal e tal “doutrina” é a bíblia mesmo, ou seja, não pode
ser algo meramente subjetivo o que vamos chamar de “base
bíblica”, ou derivante de algum empirismo pragmático ou da
experiência pessoal de alguém. Não pode aqui também ser
regra para legitimar algo a opinião de uma maioria, ou um
parecer majoritário eclesiástico, ou como é comum hoje, quem
tem mais seguidores é quem está certo. Não! Deve haver uma
definição de “base bíblica” a partir de algo que brote
claramente das Escrituras ou que é logicamente deduzido dela.

Então, quando se usa a expressão “base bíblica” para


alguma doutrina, e no nosso caso aqui, “base bíblica” para o
Cessacionismo, o que está se pedindo é o seguinte: “Onde na
bíblia a doutrina do Cessacionismo se apoia para então ser
considerada como verdadeira e autêntica?”. Percebe a
diferença?

E isso não serve apenas para o Cessacionismo, toda a


doutrina cristã deve passar dessa maneira por esse crivo, ao
passo que se uma doutrina não consegue ser apoiada nas

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Escrituras, e se manter em pé, então ela não possui base, ou
seja, não é bíblica, e para essas doutrinas sem base e apoio
bíblico damos o nome de heresias.

Neste ínterim teológico, muitos, principalmente


pentecostais, têm por necessidade o que eu chamei acima de
“O Versículo de Ouro”, o que não passa na verdade de um bode
expiatório para eles tentarem se desviar de suas incoerências
com a conceituação real das doutrinas. Eles dizem: “Em qual
versículo da bíblia fala que os dons cessaram exatamente? Eu
quero um versículo dizendo exatamente isso com data e hora, e
então eu vou crer.”

É literalmente assim, sem nenhum exagero, e me parece


que o que eles querem é Paulo ou outro autor bíblico digam:
“No solstício de inverno, quando o cometa Halley passar por
cima do Monte Everest, e o besouro-verde cascudo na Floresta
Amazônica voar seu último voo em extinção, enquanto o
Ragnar Lodbrok invade a França com os Vikings em barcos de
madeira, no ano de 845 d.C. Então, neste dia, às 09:47 h, os
dons cessarão no mundo todo!” (Inventares 1:71). Risório não?
Como que se faz teologia assim?

E pior, me parece que quando aplicado esse modo de


entendimentos às outras doutrinas, esse método do “um
versículo”, acaba se achando em péssimos problemas.

Imagine comigo a respeito da doutrina da segunda


vinda de Cristo, aplicando isso a argumentação do “Versículo
de Ouro” e do “Versículo com hora e data exata de cessação”.
Se o carismático dissesse: “Eu só creio na doutrina da segunda
vinda de Cristo, se você me provar biblicamente que Jesus
prometeu que voltaria uma segunda vez, dando uma data e uma
hora exata de seu retorno!” Entende? Jesus afirmou que

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retornaria, sem hora e sem uma data exata, mas isso, mesmo
assim, é uma doutrina cristã essencial e escatológica.

E nisso eu lhe pergunto, caríssimo leitor: quando


experimentaremos a segunda vinda de Cristo? Resposta:
quando Cristo voltar! Mas isso sem mesmo termos uma data e
hora específica nos dada. E mesmo passo que
experimentaremos a doutrina da segunda vinda quando ela
ocorrer, quanto ao Cessacionismo o experimentamos na medida
que percebemos nitidamente que os dons que lemos
descritivamente nas Escrituras, não continuam mais hoje em
operações entre nós (veremos melhor isso mais a frente).

Temos promessas a respeito da segunda vinda de Cristo


sem data e hora? Sim. Temos promessas a respeito da cessação
dos dons imanente sem data e hora exata? Sim. Se uma regra
anula uma doutrina com base na falta de data e hora exata, não
devemos então anular a outra também pelos mesmos critérios?
Da mesma forma que se uma doutrina é tida como verdadeira,
mesmo sem ter data e hora evidente (a segunda vinda), não
podemos deixar de ter a outra também do mesmo jeito (o
cessacionismo), e isso por causa de outros critérios.

Vemos então que essa argumentação e petição de


versículo único e de uma data e hora específica para se crer no
Cessacionismo é apenas palha e fogo, e evidentemente, não
precisará disso para sua legitimação, assim como a segunda
vinda do Senhor não a precisa. Precisamos sempre queridos de
coerência quando tratamos de teologia.

Vamos ver alguns exemplos nesse assunto ainda. Todo


cristão verdadeiro deve confessar a Trindade, certo? Mas qual
seria o “Versículo de Ouro” que diz ser Deus três pessoas
distintas, mas apenas um Deus único? Digo, qual é a base

22
bíblica para a Trindade? Dizem uns: “Eu e o Pai somos um”
(João 10:30), mas veja, nesse versículo está falando do Espírito
Santo diretamente também? Não. Agora outro verso usado:
“Pois há três que dão testemunho no céu: o Pai, a Palavra e o
Espírito Santo; e estes três são um” (1 João 5:7), e realmente
esse é um dos melhores e mais usados a respeito da Trindade,
entretanto o que está escrito lá é “Palavra” e não “Filho”, ou
“Jesus Cristo” exatamente, mas sim “Palavra”, entende? É claro
que “Palavra” aqui se refere a Jesus, mas para concluir isso,
VOCÊ PRECISARÁ DE OUTROS VERSÍCULOS.

E eu não estou aqui negando, ou pondo em dúvidas a


doutrina bíblica da Santíssima Trindade, antes estou mostrando
que com um versículo apenas, sem formar uma estrutura
teológica mínima e sem se fazer deduções lógicas de igualdade
entre “Palavra” e “Jesus”, não conseguiremos simplesmente
fazer teologia nenhuma aqui, e nem em qualquer outra
doutrina.

Formar uma estrutural bíblica de vários versículos


diferentes não significa que está sendo inventado algo ou que
está sendo dita uma mentira, mas sim que está sendo com isso
evidenciado que tal biblicidade é existente, mas não numa
esfera superficial, mas numa esfera teológica mais profunda e
organizada, ou seja, esse versículo mais aquele versículo, se
concluí essa teologia no final.

Para tal, sem dúvidas, para se entender doutrinas


teológicas, é necessário ler e conhecer o todo das Escrituras, e
por essa razão a maioria dos pentecostais não entendem o
Cessacionismo também, ou o Calvinismo e até qualquer outra
doutrina que vier a requer um esforço e trabalho mínimo, e isso
porque eles em sua maçante maioria, os pentecostais, não leem
suas bíblias como deveriam ler, e isso porque preferem uma

23
vida teológica superficial experimental, no lugar de uma que
lhes custe algum mínimo de esforço. E você e eu sabemos que
isso é verdade.

Agora, um outro exemplo, agora acerca da União


Hipostática de Cristo. Qual seria a “base bíblica” para dizer
que Jesus não era duas pessoas distintas no mesmo corpo
humano? Qual é a base bíblica para dizer que Ele era 100%
Deus e 100% Homem, sendo ele já era, previamente à
encarnação, uma pessoa existente? Se para ser 100% Homem
se precisa ter um corpo humano e uma alma humana, como na
encarnação, a pessoa do Cristo se tornou Jesus em união com
um corpo e uma alma humana, distinta da Pessoa do Filho que
já existia, sem com isso ser um corpo e duas pessoas ou duas
almas diferentes?

Facilitando. Você possui uma alma e um corpo, e isso


passa a ser real a partir da concepção, e antes disso você
simplesmente não existia, mas Cristo, tanto já existia como foi
concebido em Maria posteriormente, tendo então na concepção
uma alma e um corpo 100% Humanos, mas sem com isso
serem nEle duas almas ou duas pessoas diferentes (Cristo e
Jesus).

“Eu quero a base bíblica, o ‘Versículo de Ouro’ que


mostre exatamente a doutrina da União Hipostática de Cristo de
forma definida e exaustiva com todos os pontos esclarecidos,
para que eu então eu possa crer, que Jesus Cristo era 100%
Homem e 100% Deus! Aí sim, então, eu vou crer” (diz o
pedinte carismático).

Conseguem entender? Qual é o versículo específico que


poderíamos dar a esse pentecostal que seria então a “base
bíblica” para a União Hipostática de Cristo? Não dá. Teremos,

24
mais uma vez que usar versículos aqui, outros ali, apoiar essa
parte aqui, aquela outra coluna lá, e então teremos o alicerce
bíblico, a estrutura escriturística necessária, que dirá: “Sim! A
União Hipostática de Cristo é uma doutrina bíblica e possui
bases doutrinárias sólidas.”

Se seguirmos queridos essa forma de definição


pentecostal sobre o que seria “base bíblica”, validando as coisas
por um isolado e definidor versículo, inúmeras doutrinas do
cristianismo seriam invalidadas e declarada heréticas, pois
nenhuma delas conseguiria se validar assim.

Ainda quero dar uma última salientada a respeito desse


assunto do: “quando exatamente os dons cessaram?”, pois,
apesar de não nos ter sido dada a longitude e latitude exata do
fato, Paulo fala algo que é elucidador, e eu queria que já
começássemos a nos debruçar sobre isso aqui. Paulo diz: “O
amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão;
havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque
em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Quando,
porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será
aniquilado.” (1 Co 13:10). Notou? Certamente esse será o
nosso texto exposto, mas desde já podemos ver que Paulo usa
aqui a palavra “quando” para designar um tempo no qual os
dons imanentes cessariam. É claro que não com data e hora,
mas só pelo fato dele usar a expressão “quando vier”, já temos
então um nítido indicativo temporal do acontecimento, como
veremos mais à frente.

E, ao analisarmos o texto desde de seu início, vemos


também: “Havendo línguas, cessarão; havendo ciência,
desaparecerá; havendo profecias, serão aniquiladas” (1 Co
13:8). Paulo estava já conclamando pontualmente que um tipo
de Cessacionismo aconteceria em breve, e isso na perspectiva

25
dos dias da existência da Igreja dos coríntios, ou seja, para os
receptores do dito o “quando” de Paulo já poderia começar a ser
aguardado, mas me parece que demoniacamente, alguns crentes
quando leem esse texto paulino, o leem de olhos velados,
fazendo parecer que o que está o apóstolo é algo completamente
diferente do proposto.

Podemos já nitidamente ver nessa citação que fiz, que


Paulo já está falando de Cessacionismo dos dons, que ele já
está propondo uma transição deles e que Paulo já está dizendo
que um “quando” iria acontecer em breve, mas como falei,
alguns ao lerem esses versículo fazem parecer que o que Paulo
está escrevendo na verdade é o seguinte: “Retire o miojo do
pacote, coloque-o em água quente por 3 a 5 minutos, depois
coloque em um prato seco, tempere a gosto e já pode comer!”
(1 Co 13:8?). Será que é isso que Paulo está falando no texto?
O princípio de 1 Coríntios 13:8-10, caro leitor (e já tenha isso
em sua mente desde já), é que: o Apóstolo Paulo está não
apenas afirmando o Cessacionismo, mas também que em
breve, no “quando vier”, este já iria nos acontecer! Sim, o
cessacionismo é uma afirmação paulina, e Paulo nos deu até
um tempo para ele ocorrer.

E nisso, nenhum carismático pode afirmar que Paulo


Não ensinou o Cessacionismo na bíblia, de nenhuma maneira, o
máximo que eles podem afirmar é que a doutrina que Paulo
ensina aqui possui um “quando” futurístico, e que tem a ver
com a segunda vinda de Cristo, e nisso repousa a maior parte
do embate nesse texto, mas quanto a negar o mesmo afirmativo
ensinado por Paulo nesse texto, isso é simplesmente
impossível, sim, uma verdadeira heresia, pois Paulo está
fazendo afirmações invariáveis a respeito da cessação de certos
dons nesse texto, e isso já lhes saliento ser inegável.

26
Permita-me salientar um pouco mais esse ponto, de que
o Cessacionismo é uma afirmação de Paulo. Todo mundo que
fala, fala alguma coisa a alguém, e sobre algum assunto. E em 1
Coríntios 13, Paulo está falando do dogma aos crentes de
coríntios, e isso nem cessacionistas negarão e nem continuístas
o podem negar, quem nega isso nem tratando de pneumatologia
está. Os cessacionistas que não querem lidar com 1 Coríntios
13, vale o comentário também, precisam responder ao menos a
pergunta: então sobre o que Paulo está falando aqui? Pois
alguns, por conta de seu dispensacionalismo, tendem a evitar
esse texto para que ele não cause problemas aos seus profetas
do milênio e etc., mas é nesse momento que eles não podem se
esquivar mais com suas desculpas. Todos aqui precisam admitir
a um som igual: Paulo ensina o Cessacionismo em 1 Coríntios
13, fixamos isso aqui desde já.

Em vista dessas coisas tratadas acima, obviamente,


temos que confessar e admitir que “base bíblica”, pode e deve
ser chamada e conceituada por nós de “estrutura bíblica”,
estrutura que uma vez formula irá validar ou se invalidar como
algo bíblico ao ser comparada ao testemunho das Escrituras.
Agindo nós assim, sempre ratificaremos o que cremos e
confessamos, a partir de um “Arcabouço Canônico”, de uma
“Estrutura Bíblica” bem embasada, e não apenas por um
“Versículo de Ouro”. A preguiça teológica é a irmã das
heresias modernas.

Perceba agora como faz muito mais sentido teológico a


pergunta: “Qual a estrutura bíblica na qual se apoia o
Cessacionismo?”, do que “Qual é a base bíblica do
cessacionismo?”, pois na última a pergunta possui termos que
podem se perder nos conceitos subjetivos de cada um, pois a
formação de uma “base bíblica” para um reformado se dá de
uma forma, mas para um pentecostal se dará de outro

27
totalmente diferente. Por isso que eu costumo dizer que quem
erra em teologia costuma errar nas definições.

E vale lembrar que uma “estrutura bíblica”, uma vez


formulada, nunca é anulada por outras estruturas já
estabelecidas e por outros textos que nela não estão (como os
arminianos amam fazer, anulando Escritura com Escritura),
pois o Espírito Santo não ensina duas coisas antagônicas pelas
Escrituras, mas uma só, pois há uma só Mente.

Desse jeito, a estrutura bíblica para o cessacionismo não


é uma compilação de conceitos que tentarão enganar os mais
simples, antes uma união de versículos das Escrituras, que
serão reféns de seus contextos, e que apontarão para uma
mesma síntese de ensino, que é no caso da doutrina, o fato que
alguns dons já cessaram.

Então, se Paulo em 1 Coríntios 13 ensina o


Cessacionismo de alguns dons, como se percebe, em outras
passagens que também falam sobre dons espirituais, iremos
inevitavelmente perceber o caráter transitório de alguns deles
enquanto que em outros perceberemos um caráter permanente,
como por exemplo, o dom ministerial de Apóstolo, que pelas
suas funções e características específicas, sabemos que possuiu
um carácter transitório e que agora já cessou.

Em suma, uma vez que já entendemos que uma


doutrina é finalmente formulada e ensinada, quando, a partir da
bíblia se forma para ela uma legítima estrutura de apoio, e isso
sem que nenhum outro texto e versículo verdadeiramente a
contrarie e a anule, então, temos formada uma base estrutural
bíblica e verdadeira, como é comumente chamada de “base
bíblica”, e como veremos existir a seguir para o Cessacionismo.

28
ANÁLISE MINUCIOSA DE 1 CORÍNTIOS 13

Chamo agora a sua atenção para a análise exegética à


afirmação paulina do Cessacionismo na passagem aos coríntios,
e ali veremos, no texto bíblico, como estão alicerçadas as
máximas e as afirmações cessacionistas.

Lembrando que eu uso 1 Coríntios 13 como uma base


bíblica generaliza para o Cessacionismo, pois em vista do fato
de ensinarmos que apenas alguns dos dons cessaram enquanto
outros continuam, haverá textos bíblicos distintos para dons
distintos e assim por diante.

E uma vez que você entender 1 Coríntios 13, e enxergar


estruturalmente a fala do Apóstolo e sua intenção ali, caro
leitor, nunca mais você lerá a bíblia da mesma forma no que
compete aos dons espirituais, ou ao menos não lerá mais 1
Coríntios 13 com os mesmos olhos que antes, isso lhes
asseguro.

A passagem de 1 Coríntios 13 é sem dúvidas um texto


riquíssimo, e que muitas vezes passa como despercebido por
nós. Eu creio que o grande ponto no qual orbitaremos em todos
os desdobramentos desse texto será a respeito de quem seria, ou
o que seria, o “perfeito” (τελειον) citado no verso 10.

Por isso, antes de entramos na exposição do texto


propriamente, quero lhes oferecer um comentário contendo
todas as vezes que a palavra grega “teleion” aparece no Novo
Testamento, para já firmar e estabelecer que o “perfeito” em
nenhuma das passagens que veremos, nunca jamais, se refere a
uma “pessoa” pessoal, mas sim a algo, e que no uso dela em 1
Co 13:10, muito menos será este termo usado de forma pessoal

29
também, como que para se referir a uma pessoa, ou até a pessoa
do Senhor Jesus Cristo.

Segue abaixo as 19 passagens do NT em que o termo


τελειον aparece, e todas comentadas por mim:

(1, 2) Mateus 5: 48

“Portanto, sede vós perfeitos¹ como perfeito² é o vosso


Pai celeste.” - ¹τελειοι [teleioi] Nom. pl. masc. / ²τελειος
[teleios] Nom. sing. masc.

Comentário: É bom começarmos por essa passagem, pois ela


faz parecer que o uso do termo τελειος aqui se refere a uma
pessoa, por citar “vosso Pai celeste”, mas se analisarmos a
perfeição exigida nela, vamos perceber que é uma perfeição
moral pedida a nós, mas de que tipo se está falando? Pois nós
sabemos que a perfeição moral é impossível sem a glorificação,
por causa do “corpo desta morte”. E por Jesus nesse texto está
falando que precisamos dessa “perfeição” em contraste com
Deus que é perfeito, essa moralidade exigida se assim o for fica
mais impossível ainda.

Devemos entender o uso do termo aqui não como Jesus


dizendo que temos que ser perfeitos como Deus é perfeito em
sua divindade, ainda que esse deve ser nosso querer tendo em
mente a glorificação, pois certamente um dia seremos assim
como Ele é. Antes, levando em consideração a possibilidade
que os mandamentos precisam nos proporcionar
potencialmente, o uso de “Teleios” aqui cabe mais no sentido
de algo “completo” do que de alguém absolutamente
“perfeito”, e verificando o contexto moral da passagem, esse
uso possui um peso de sermos “irrepreensíveis” moralmente,

30
como Paulo vai colocar isso como característica necessária para
os que desejam o episcopado por exemplo (1 Timóteo 3:1).

Assim, o uso do termo τελειος, se refere aqui a uma


irrepreensibilidade cristã necessária a todos os que seguem a
Jesus, e não a uma alusão a alguém que é perfeito
completamente como persona.

(3) Mateus 19: 21

Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os


teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem
e segue-me. - τελειος [teleios] Nom. sing. masc.

Comentário: Um jovem tinha se apresentado a Jesus


mostrando credenciais de moralidade perfeita desde sua
mocidade, e interrogou a Jesus sobre o que lhe faltava para que
ele fosse digno do céu. Jesus testando-lhe para que ele
percebesse que a perfeição moral dele era uma mentira, deu-lhe
um mandamento a cumprir. E para alguém, que para com todos
os mandamentos era “perfeito”, esse mais um seria fácil.

E assim Jesus mandou que ele vendesse toda sua


fortuna desse aos pobres e então o seguisse, pois assim ele seria
“τελειος”. E mais uma vez temos o termo τελειος aqui sendo
usado não para se referir a uma pessoa, a alguém em específico,
mas sim para elucidar uma completude de algo, no caso aqui,
de uma completude moral, uma obediência total por parte desse
jovem.

(4) Romanos 12: 2

E não vos conformeis com este século, mas transformai-


vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis

31
qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. -τελειον
[teleion] Nom. sing. neutro.

Comentário: Aqui Paulo ao concluir sua exposição do


Evangelho aos cristãos de Roma, pede que mediante todas as
misericórdias de Deus apresentadas, eles não tomassem a forma
desse século, mas que eles se transformassem pela renovação
de seus entendimentos, para que assim provassem a vontade de
Deus como sendo sempre boa, agradável e τελειος (perfeita).
E mais uma vez o termo aqui não é usado para se referir a uma
pessoa em particular, mas sim a algo. E se formos um
pouquinho mais além vamos perceber que por estar se falando
de “vontade de Deus”, com perfeita, está Paulo então se
referindo a doutrinas.

E o interessante é que aqui em Romanos 12:2 e em 1


Coríntios 13:10, o termo τελειος é usado com a mesma
classificação, sendo: normativo, singular e neutro. E isso é
interessante, pois nos dois casos, doutrina, revelação e vontade
de Deus estão associados e citados.

(5) 1 Coríntios 2: 6

Entretanto, expomos sabedoria entre os


experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a
dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; - τοις
τελειοις[tois teleiois] Dat. pl. masc. ("entre os experimentados"
- εν τοις τελειοις [en tois teleiois]).

Comentário: Algumas outras traduções vão chamar “os


experimentados”, de “perfeitos” também, mas o sentido é
novamente o mesmo. Está se falando de ser irrepreensível na
obediência aos mandamentos divinos. E não se referindo a
alguém específico, mas sim a uma maneira de ser e proceder.

32
(6) 1 Coríntios 13: 10

Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é


em parte será aniquilado. - το τελειον [to teleion] Nom. sing.
neutro.

Comentário: Por Paulo falar de Cessacionismo de alguns dons


e sobre revelação nos versículos anteriores desse contexto.
Quando ele então começa o verso 10, ele fala a partir dali sobre
a chegada de algo que é τελειος, e por ser “perfeito” aniquila
tudo o que ele citou no verso 8 e 9 e que chamou de “em parte”.

O referido τελειον que viria, segundo Paulo, possui no


uso desse termo a categoria de ser algo “completo”, e isso fica
nítido não apenas pelo uso da palavra τελειος, mas por que no
contraste do contexto o “perfeito/completo”, aniquila o que é
chamado de “em parte”. E assim, mais uma vez, a palavra
“perfeito” τελειος não é usada para se referir a ninguém em
específico, mas a algo que se completa, e aqui, como em
Romanos 12:2, esse algo tem a ver diretamente com doutrina.

(7) 1 Coríntios 14: 20

Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim,


sedes crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos. -
τελειοι [teleioi] Nom. pl. masc.

*Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede


meninos na malícia e adultos no entendimento. (Almeida
Revista e Corrigida).

Comentário: Mesmo com uma variação na tradução do


33
Português, a palavra τελειος vem aqui como sendo algo que
devemos nos tornar, usando aqui τελειος para falar de
amadurecimento espiritual. Sem ser esse termo τελειος, uma
referência a alguém em si, mas sim a algo que devemos atingir
em nosso juízo.

(8) Efésios 4: 13

Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno


conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à
medida da estatura da plenitude de Cristo, - τελειον [teleion]
Acus. sing. masc. ("à perfeita varonilidade" - εις ανδρα τελειον
[eis andra teleion]).

Comentário: Paulo usa aqui a palavra τελειος para falar de uma


meta que seria atingida pela igreja, o que ele chama de
“perfeita varonilidade”. Ainda que nesse texto ele cite “o Filho
de Deus”, ele o faz ao dizer de um “pleno conhecimento”, ou
seja, está contextualizada com doutrinas essa tal “perfeição”
(τελειος), como também está associada aqui ao termo “unidade
da fé”, que nada mais são que as doutrinas cristãs, como um
todo.

Judas vai chamar elas de “fé que uma vez por todas foi
dada aos santos” (Judas 1:3). O que novamente evidencia que
em nada isso tem a ver aqui com alguém da Trindade, mas sim
com algo que eles deveriam almejar atingir coletivamente.

(9) Filipenses 3: 15

Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este


sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também
isto Deus vos esclarecerá. - τελειοι [teleioi] Nom. pl. masc.

34
Comentário: Nós sabemos que nem os melhores entre nós são
perfeitos. Apesar de nós crentes sermos regenerados, por causa
desse corpo de morte, somos ainda por natureza pecadores.
Logo essa perfeição dita por Paulo muito se distancia de uma
perfeição plena e moral, mas, na verdade, ela traz novamente
esse sentido de alguém irrepreensível.

Se você se atentar, minha intenção aqui é mostra que


“τελειος” não é usado como designação de um fulano ou de um
beltrano, nem como um sinônimo pessoal, entende? O uso
dessa palavra não fala a respeito de um certo “João” específico,
de um “José”, de alguma “Maria”, nem muito menos do
Senhor Jesus.

Esse termo é usado de forma geral, como também de


forma genérica, e se refere a moralidade, e quando se dirige a
alguém, o faz de forma a ser alguém irrepreensível
potencialmente, e repito, não é um sinônimo pessoal específico.

(10) Colossenses 1: 28

O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e


ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que
apresentemos todo homem perfeito em Cristo; - τελειον
[teleion] Acus. sing. masc.

Comentário: Paulo ao falar de seu trabalho teológico como


Apóstolo salienta que todo o seu ensino, sabedoria e
advertência doutrinária é para apresentar todo aquele que toma
o nome do Senhor para si, de forma a se achar doutrinariamente
capaz e apto, não possuindo lacunas com as quais poderia ser
achado em falta. E assim, Paulo aqui associa τελειος à
doutrinas, à completude delas na vida de um indivíduo cristão.

35
(11) Colossenses 4: 12

Saúda-vos Epafras, que é dentre vós, servo de Cristo


Jesus, o qual se esforça sobremaneira, continuamente, por vós
nas orações, para que vos conserveis perfeitos e plenamente
convictos em toda a vontade de Deus. - τελειοι [teleioi] Nom.
pl. masc.

Comentário: Paulo ao citar Epafras, diz que tal ministro se


esforçava em oração pelos colossos, para que estes fossem
preservados intactos (τελειος) na fé, e em plena convicção a
respeito das doutrinas, nas quais é conhecida a vontade de
Deus. E assim Paulo direciona essa perfeição em τελειος, a um
conhecimento doutrinário. É impressionante como esse termo
na teologia de Paulo está ligado à doutrina, à revelação e à
vontade de Deus, e de uma forma amplamente recorrente. É
patente.

(12) Hebreus 5: 14

Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles


que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para
discernir não somente o bem, mas também o mal. – τελειων
[teleiôn] Gen. pl. masc.

Cometário: O escritor de Hebreus durante uma exortação aos


receptores de sua carta, lança em rosto os atrasos no qual eles
se encontravam no desenvolvimento cristão. E faz uma
comparação com os crentes mais desenvolvidos
doutrinariamente, que podem por isso entender dogmas mais
difíceis, que aquele que são alimentados com “leite
doutrinário” não o podem. E aqui, também, τελειος é usado
como qualificador doutrinário, não se referindo a ninguém

36
específico, mas de forma geral a aqueles que atingem uma
completude doutrinária.

(13) Hebreus 9: 11

Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos


bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito
tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, -
τελειοτερας [teleioteras] Gen. sing. fem. Comparativo.

Comentário: Aqui o escritor de Hebreus ao salientar a


superioridade de Cristo em relação a toda estrutura simbólica
judaica, que na verdade apontava para Ele. O escritor usa
τελειος para falar dessa vez objetivamente, agora não de forma
genérica ou generalizada, porém, para nossa elucidação, no uso
atribuído a τελειος aqui, ele o usa de forma a especificar uma
coisa, e esta coisa para qual ele atribui τελειος mais uma vez
não se refere a alguém, mas sim a algo, aqui no caso, ao
tabernáculo celestial.

(14, 15) Tiago 1: 4

Ora, a perseverança deve ter ação completa¹, para que


sejais perfeitos² e íntegros, em nada deficientes. - ¹τελειον
[teleion] Acus. sing. neutro. / ²τελειοι [teleioi] Nom. pl. masc.

Comentário: Esse uso de Tiago aqui é muito importante, e ele


o faz por duas vezes. Primeiro é usado τελειος para se dizer de
algo que não deve ter uma ação parcial, a perseverança (aqui
ele está ensinando sobre a doutrina da Perseverança dos Santos
basicamente), e em seguida ele diz que tendo nós uma
perseverança “completa”(τελειος), iremos nos achar em
posição de “perfeição” (τελειος).

37
E basicamente Tiago faz um claro resumo do que estou
repetindo e repetindo, que τελειος é sobre algo completo, algo
íntegro, algo que não possui deficiência ou falta, algo que não é
“em parte”.

(16) Tiago 1: 17

Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto,


descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação
ou sombra de mudança. - τελειον [teleion] Nom. sing. neutro.

Comentário: Tiago usa mais uma vez em sua epístola o termo


τελειος, agora para falar num contexto de dons e dádivas
divinas. Que em contraste com nosso coração, que é a origem
de nossa maldade, Deus não nos tenta e nem nos inclina a
perversidade, nós fazemos isso naturalmente sozinhos, mas
dEle, ao contrário, vem o que é bom. Dele vem o bem. E mais
uma vez o uso de τελειος não faz referência a alguém em
específico, nem ao pé da letra se refere a Deus, mas sim a algo
que Deus nos dá. Não é o uso de τελειος aqui pessoal também,
mas objetivo.

(17) Tiago 1: 25

Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita,


lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente,
mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que
realizar. - τελειον [teleion] Acus. sing. masc. ("na lei perfeita"
- εις νομον τελειον [eis nomos teleion]).

Comentário: Nesse quarto uso do termo τελειος, eu acredito


que se encontra uma sublimidade incrível do uso real dessa
palavra, pois aqui Tiago usa τελειος para se referir de forma
direta à Palavra de Deus, associando assim τελειος a revelação

38
propriamente, a Escritura mesmo, pois ele diz que a Lei de
Deus τελειος, ou seja, perfeito e completa. Informando assim
que ela é confiável e integral para nos guiar, não tendo nela
falta alguma. Tiago aqui é categórico.

(18) Tiago 3: 2

Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém


não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também
todo o corpo. - τελειος [teleios] Nom. sing. masc.

Comentário: Nesse quinto uso do termo τελειος por parte de


Tiago, ele agora o usa, como vemos ser comum na teologia do
Novo Testamento, para classificar os irmãos que se destacam
por causa da irrepreensibilidade moral. E dessa forma, a
perfeição aqui citada também não fala de ninguém em especial,
mas sim sobre algo que devemos sere almejar.

(19) 1 João 4: 18

No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança


fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que
teme não é aperfeiçoado no amor. - η τελεια [hê teleia] Nom.
sing.
fem.

Comentário: Aqui João fala novamente não de uma perfeição


possível a se atingir nessa vida, mas sim de uma completude de
aperfeiçoamento cristão, que devemos almejar atingir.

Esse estado de irrepreensibilidade é fortalecedor a nossa


fé, e não permite que sintamos o medo que é característico na
vida dos que não confiam no Senhor.

39
Não é o uso de τελειος atribuído aqui a uma
possibilidade de nunca errar, ou uma possibilidade de
perfeição, mas sim a um estado completo, maduro e íntegro de
entendimento.

E mais uma vez, por fim, não é usada a palavra τελειος


para se referir a ALGUÉM, mas sim, e como vimos versículo a
versículo no Novo Testeamento, sempre a ALGO.

E desvatadoramente para o carismatismo o termo


τελειος está, muito pelo contrário, amplamente unido à
doutrina, à revelação, ao entendimento aperfeiçoado da fé, a
irrepreensibilidade moral e à expressão da vontade divina ao
homem, mas nunca a alguém em específico.

Que textos!

Comentário expositivo de 1 Coríntios 13:

Agora, uma vez que vimos todas as vezes que Teleios


(τελειος) é citado no Novo Testamento, e constatamos que em
absolutamente nenhum dos casos o termo se refere a alguém,
antes sempre se refere a algo. Vamos agora a exposição de
nossa base bíblica geral para o Cessacionismo, para vermos
como o cessacionismo é ratificado, ensinado e prometido pelo
apóstolo Paulo nesse nas Escrituras, e isso indubitavelmente.

Vejamos o texto:

“O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão


aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência,
desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte
profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito (τελειος),
então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era
40
menino, falava como menino, sentia como menino, discorria
como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com
as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em
enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em
parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes
três, mas o maior destes é o amor.”

1 Coríntios 13:8-13

8- O amor nunca falha – Vou fazer um resumo rápido do


contexto antes de chegar no verso 8, do capítulo 13. Paulo em 1
Coríntios 12, 13 e 14 fez um combo doutrinário a respeito de
questões relacionadas aos dons.

Depois de uma longa citação dos dons no capítulo 12,


comparando o tê-los com os membros do corpo humano em
funcionamento, e a necessidade de união e ajustes com os
outros irmãos, outros membros, para então se ter harmonia
cristã. Paulo faz então ao final desse capítulo 12, uma exortação
aos coríntios, falando a respeito do Espírito Santo que a eles
distribuiu os dons, de forma tal que eles devem completar a
falta dos outros com as suas próprias operações, e vice-versa,
pois Paulo diz: “Porventura são todos apóstolos? São todos
profetas? São todos doutores? São todos operadores de
milagres?” (1 Coríntios 12:29.

E já no final do capítulo 12 (mais precisamente em 1


Coríntios 12:31), ele diz, “mas eu vos mostrarei um caminho
mais excelente”, e então ele entra no tão disputado capítulo 13,
mostrando a necessidade do amor nos carismas, e como o amor
precisa ser o norteador de toda operação carismática,
mostrando com algumas máximas que: “sem amor nada disso

41
me aproveitaria” (1 Coríntios 13:1-3), sim, nem os mais
espetaculares prodígios são proveitosos sem o amor.

Paulo segue a isso dando uma lista de características do


amor que era necessário aos coríntios na operação dos dons em
suas interações eclesiásticas. E na altura do versículo 8, Paulo
faz uma nova virada de assunto.

Perceba, ele fala dos dons diretamente do início do


capítulo 12 até o último versículo, o 31, e então há uma volta
na direção do assunto, e ele começa a falar da necessidade do
amor no carisma, do verso 1 ao 7 do capítulo 13, e então, após
isso, ele faz uma segunda virada, agora voltando ao assunto dos
dons no versículo 8, mas agora com a ressalva do amor como
contraste, ficando como que camadas do assunto, perceba:
Dons (cap.12), amor (cap.13:1-7), Dons novamente (cap.13:8-
12) e amor finalmente (cap.13:13). Sem contar que dando
seguimento no capítulo 14, ele volta a falar de dons.

Quando o apóstolo começa novamente a falar dos dons


no capítulo 13, mais precisamente a partir do verso 8, ele não
mais dá orientações a cerca deles como fez no capítulo 12,
sobre quais eles são, como são e etc, antes, ele diz algo que
possivelmente para os coríntios, que andavam em soberba e
desordem ao operar as línguas e profecias, foi um choque
absoluto!

Paulo, do nada, começa a dizer que os dons que agora


eram uma realidade entre eles, que deveriam ser operados com
amor e que estava causando todo esse embate de orgulho na
igreja, não durariam por muito tempo. Queridos, isso é
simplesmente incrível se você perceber!

42
E aqui é o momento que os que estavam andando em
altivez destacada nessa igreja, muito possivelmente engoliram a
seco, pois além lhes faltar o amor, e lhes sobrar os dons e o
orgulho, estes dons mesmos que os ensoberbeciam, acabariam.

Para surpresa deles, Paulo dá seguimento a esse verso 8


dizendo o seguinte, “o amor nunca acaba”, e diz em seguida,
“mas”, veja, após dizer que “o amor NUNCA acaba”, esse
“mas” arrasador aparece, e é nele que é evidenciado
inicialmente o contraste que Paulo vai fazer entre algo que
“permanece permanentemente” (vale a redundância), com algo
que é anunciado que cessará.

Paulo usa o “amor” para mostrar aos coríntios, que é o


amor o vínculo da perfeição na relação da igreja coletivamente,
e que na verdade os “modos de serviços” poderiam ser
mudados, e como no caso o modo de serviço a Deus eram os
dons revelacionais naquele momento, ouvir esse “mas” deve ter
sido alarmante para os ouvintes, porque ele indica que algo vai
se alterar no modo de operação, que vai acontecer. “O amor
jamais acaba, mas…” Percebe? Se o amor é aquilo que nunca
acaba, nesse contexto, o que seria então aquilo que viria a
acabar?

Em seguida a isso, mais um balde de água fria é


lançado, pois se você ler a epístola desde o seu início, vai
perceber que ela é uma epístola de exortação à Igreja de
Corinto, e à luz dos membros que se encontravam em altivez e
soberba por causa dos dons que lhes ocorriam, falar a eles que
o motivo de seu orgulho não iria permanecer, mas antes
cessaria, era como desarmar um exército inteiro a pronto
ataque.

43
Vou parafrasear Paulo: “O amor é o caminho
permanente para vocês na interação carismática comunitária. E
se vocês se apoiam nesses ‘modos operandis’ dos dons
imanentes nesse momento, saibam que eles são uma coluna de
areia, um alicerce temporário, que já está prestes a passar”.

Se percebermos bem, isso é uma bomba! Pois Paulo


então desse jeito, no versículo 8, contrasta algo permanente na
Igreja, “o amor nunca acaba”, com algo que estava preste a
passar, e como veremos em seguida, esse algo eram os dons
imanentes.

8b – Mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo


línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; - O
Dr.Martyn Loyd Jones afirmou certa vez que nos “mas” do
Apóstolo Paulo encontramos grandes sínteses de suas doutrinas
a igreja. E aqui não é diferente!

De repente no meio de um caos carismático, Paulo tira o


pino de uma granada de efeito moral, e lança uma informação
chocante no meio da igreja dos coríntios, que: havendo uma
realidade carismática real entre eles ali naquele momento, em
breve ela iria: “cessar” (Καταργέω / Kartageo)!

Imagine-se como um membro da igreja de Corinto,


falando em línguas em todos os cultos, e sendo destacado entre
os irmãos como espiritualizado por conta disso, recebendo e
proferindo profecias, sendo instrumento de produção de
ciências revelacionais, e de repente Paulo, o apóstolo fundador,
em uma carta exortativa diz: “Não sejam os dons revelacionais
a vocês um motivo de destaque e orgulho, pois eles em breve
vão cessar! Não seja os dons entre vocês o vínculo de
comunhão e estratificação, seja antes o amor, pois os modos

44
mudam, mas é o amor que vai permanecer”. Que abalo isso não
causaria em sua cosmovisão cristã?!

Alguns teólogos carismáticos tentam manobrar esse


transatlântico paulino, afirmando que para se entender o que
Paulo está afirmando aqui, seria necessário fazer uma exegese
extensa e exaustiva de todos cognatos gregos, juntamente com
um caminhão de passagens no Antigo até o Novo Testamento
de cartas que só viriam a ser escritas depois da 1 epístolas aos
coríntios, para somente a partir daí, se poder entender o que
está Paulo realmente falando aqui, quando afirma que havendo
línguas cessaram e etc.

Quando usei as 19 vezes que Teleios aparece no novo


testamento, as usei para mostra como realmente para se
entender o Cessacionismo se requer tempo. Mas o que eu fiz ao
comentar as passagens foi para mostrar onde e de que forma
elas aparecem, e sem com isso alterar os seus sentidos. Já os
teólogos carismáticos, não querem usar a palavra Teleios
propriamente, mas sim estes querem achar nos cognatos no
grego pretexto, para então mudar o sentido paulino.

Basicamente, eles argumentam que o que nos é


necessário para entender o que Paulo está falando nesse texto, é
um grande entendimento da língua grega, com grandes
inferências e deduções teológicas e linguísticas, que sem as
quais o texto puro mesmo nunca poderá ensinar o que Paulo
realmente queria dizer.

Todavia, pense! Paulo está escrevendo uma carta


exortativa a partir do relatório que recebeu da família de Cloé
de que havia carnalidade e dissenção na igreja (1 Coríntios
1:11).

45
Paulo está intencionalmente escrevendo essa epístola
para pessoas que ele chama mediante isso de meninos
espirituais, e diz: “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como
a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo.
Leite vos dei a beber. Não vos dei alimento sólido; porque não
podíeis suportar.

“Nem ainda agora o podeis…” (1 Coríntios 3:1). Pense!


Se Paulo se refere a igreja de coríntios dessa tal forma, como a
criança no entendimento, como ele poderia nesse texto sobre os
dons espirituais conjecturar algo tão complexo e tão difícil ao
ponto que os cristãos coríntios teriam que amadurecer muito
para então começar a entender? Como que Paul em um
momento os chama de crianças no entendimento, e no outro
lhes daria algo muito complexo para digerir?

E para piorar, esse entendimento sobre “os dons


cessarem” seria tão complexo nessa passagem, que até nós que
já temos toda a bíblia aperfeiçoada e completa, não
conseguiríamos alcançar pela pura leitura o que Paulo está
ensinando ali. E é isso que os teólogos carismáticos nos
propõem. O que é uma total mentira.

Para tristeza desses teólogos pentecostais, Paulo tem em


mente cristãos imaturos no entendimento e escreve de forma
muito pessoal, direta e clara a eles, os quais ele trata como
“meninos espirituais”. E assim, quando Paulo diz: “Mas
havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas,
cessarão; havendo ciência, desaparecerá” (1 Co 13:8), eles
não precisam aqui de um léxico grego, ou de um curso de
“grego descomplicado” para o entender. Eles entenderam
exatamente o que Paulo quis dizer.

46
E nisso eles só precisariam ler o texto puro, sim, era só
eles lerem o texto no contexto do caos carismático no qual eles
se encontravam, que tal versículo seria como o borrifar de jatos
d’água em uma nuvem de poeira, sim, faria com que todo
aquele alarde cúltico deles se assentasse e se acalmasse.

O problema que vejo hoje ao lermos esse texto é que


temos a tendência de ler ele como óculos pentecostais,
aplicando o que Paulo estava dizendo a um culto assembleiano.
Precisamos rejeitar isso, e nos colocar no lugar do receptor da
epístola, e dessa maneira, e nesse contexto, vamos perceber que
ouvir de Paulo que os dons cessariam, toma uma proporção
carismática totalmente diferente para quem o lê.

Ao seguimento do texto, vemos a citação específica


desses três elementos no verso 8: “profecias”, “línguas” e
“ciência”, Paulo faz neles um resumo excelente dos três pilares
do que compete à produção revelacional, e isso antes de haver
o cânon final do Novo Testamento, pois o mesmo estava ainda
sendo produzido nesse período. Sim, enquanto Paulo ainda
escrevia essa epístola aos coríntios, o Novo Testamento estava
ainda “em parte”, e ao que me parece, Paulo como apóstolo de
Cristo, já possuía o entendimento de que ele, como também os
outros doze apóstolos, seriam guiados “em toda a verdade”
(João 16:13), para completar e levar até a perfeição o cânon das
Escrituras.

Entendido isto, vamos agora esmiuçar cada um desses


três pilares revelacionais que Paulo cita que haveriam de cessar.
E para a tristeza dos pentecostais, nesse texto, Paulo amarra tais
pilares carismáticos a um “Sansão” que está prestes a se arrimar
sobre eles, Paulo usa as palavras “Καταργέω / Kartageo” e
“Paulo”.

47
Vamos analisar:

8ª- Havendo profecias, serão aniquiladas – Essa máxima


paulina me deixa feliz e muito entusiasmado! Veja esse texto.
Paulo começa usando a palavra “havendo”, ou seja, os dons
eram sim uma realidade, como é nítido, eles existiam, foram
uma operação divina entre os irmãos coríntios e eles eram reais
na igreja, lá no primeiro século.

E esse “havendo” é a prova de que estava algo


acontecendo realmente entre eles, esse “havendo” significa
“existindo”, “acontecendo”, mas Paulo profere e diz a respeito
disso que: “acontecendo profecias”, “serão aniquiladas”. Olha
que virada! Algo está acontecendo, porém, esse algo não estará
mais ocorrendo em bem pouco tempo.

Essa palavra “serão” é uma virada muito importante,


uma afirmação paulina real de cessação dos dons revelacionais,
e sendo uma realidade naquele momento, não seria então mais
em outro momento seguinte, sendo assim, segundo Paulo, o
dom de profecia é afirmado como um dom que cessaria.

E Paulo alardeia para piorar o sentido: “Serão


ANIQUILADAS”. Veja, ele não diz que as profecias seriam
“pausadas”, “desvanecidas”, “negligenciadas”, “não cridas”,
“retornadas no milênio”, Paulo diz bem categoricamente:
“havendo profecias”, elas serão “ANIQUILADAS”, mas antes
de analisarmos o sentido absoluto de “aniquilação” aqui,
podemos perguntar antes: o que seriam “profecias”?

Muitos paroleiros, e alguns homens fieis ao Senhor,


costumam argumentar de forma “bonitinha” e inconsequente,
que profecia e pregação são a mesma coisa objetivamente, ou
seja, se alguém faz a função de pregar a palavra de Deus, tal
48
pessoa é um “profeta” e está “profetizando”, e isso se infere
porque profetas falam a palavra de Deus.

Mas ora, que profetas são pessoas que falam a palavra


de Deus, nós realmente já sabemos e não temos dúvida alguma,
mas a caraterística profética essencial é que eles não falam
apenas a palavra de Deus, eles falam da parte de Deus.

Pedro, o apóstolo, em sua segunda carta,


categoricamente apaga o fogo de palha dessa concepção errada
contemporânea, nos dizendo: “Sabendo, primeiramente, isto:
que nenhuma profecia da escritura provém de particular
elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada
por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da
parte de Deus, inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:20-
21).

Pedro lança com esse versículo para a estratosfera essa


teologia de salinha de criança, que os teólogos carismáticos
precisam e amam usar, e isso com apenas uma afirmação.
Fixando que profecia e ser profeta, não é meramente falar a
palavra de Deus, mas antes, que é um falar inspirado da parte
de Deus, trazendo informações revelacionais pelo Espírito
Santo.

E, se ousarmos considerar a profecia como mera


pregação da bíblia, e não a considerarmos como um falar da
parte de Deus de forma inspirada e inerrante, como o
Apóstolo Pedro aqui nos ensina, a profecia então, caro leitor,
por definição perderá o sentido de ser uma produção de
revelação com peso escriturístico (oralizada), e que pode vir a
se tornar escrita, dando lugar a uma definição falsa de Profecia
que as Escrituras nunca nos deram.

49
Paulo quando cita “profecias”, ele está falando de
profecia em definições bíblicas, sim, nas definições do
apóstolo Pedro, e com esse caráter de autoridade inspirada oral,
e não nas definições contemporâneas carismáticas que
tencionam justificar experiências pessoais e subjetivas como
autoritativas.

Posto isso, tal dom de profecia, nas definições acima,


foi no passado uma realidade em Corinto, pois Paulo faz
realmente essa afirmação: “Havendo profecias” (vers.8),
estabelecendo assim que Deus estava usando irmãos ali
verdadeiramente para falarem da parte dEle diretamente ao
corpo de Cristo, e de forma inspirada.

Porém, que contraste Paulo faz a isso: “havendo


profecias, serão aniquiladas”. Isso indica que o dom de profecia
cessaria, e mais, cessaria já na realidade coríntia, pois é a eles
que Paulo profere isto de forma informativa. E esse
entendimento é muito importante a essa altura. Pois Paulo ao
escrever essa epístola, ainda que ele tivesse em mente que ele
era participante do fundamento doutrinário da igreja, ele não a
escreve como que tendo intenção direta de falar conosco no
século XXI, sendo assim, quando ele afirma aos coríntios que
os dons cessariam, eles deveriam já ter isso em suas mentes e
em seu próprio tempo.

Facilitando. Se Paulo aos coríntios afirma o


Cessacionismo já no primeiro século da era cristã, logo,
devemos entender que o Cessacionismo dos dons imanentes
não seriam apenas uma realidade para nós hoje, vinte séculos
depois, mas seria já um fato na existência e experiência daquela
igreja para a qual Paulo direciona o dito.

50
Historicamente, sabemos que essa igreja se estendeu por
anos após a morte dos apóstolos, e também, infelizmente,
persistiram eles em muitos erros e problemas até a chegada de
seu fim, mas antes disso, e após a morte do apóstolo João, o
último do colegiado apostólico, eles experimentaram já isso
que Paulo os tinha previamente acautelado, que os dons iriam
lhes cessar, e aqui no caso específico, o dom de profecia, pois
com João o Cânon já havia se encerrado.

Então, havendo sido as profecias uma realidade e uma


parte integrante do culto das primeiras igrejas apostólicas,
Paulo, já naquele tempo, fixou em epístola a informação com
respeito a transitoriedade dessa operação profética, que
“havendo” e acontecendo naquele momento, seriam em breve
destruídas, e deixariam de acontecer, pois seria “aniquiladas”.

Um aspecto aditivo a essa realidade é o fato de que a


estrutura de culto deles, dos coríntios, quando ainda os dons
operavam de forma revelacional, é completamente divergente
de qualquer princípio e ordem reguladora do culto hoje, pois
eles possuíam operações e mandamentos específicos, “E falem
dois ou três profetas, e os outros julguem” (1 Coríntios 14:29),
ou “Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja (1
Coríntios 14:28), coisas que só poderiam se aplicar a eles por
causa dos dons que possuíam, e que hoje já cessaram. Afirmar
o continuísmo é ir contra também o Princípio Regulador do
Culto (PRC).

A tentativa prática de aplicar as ordens de Paulo quanto


as línguas e profecias nos cultos hoje, não existindo hoje mais
esses dons, cria entre nós naturalmente um Frankinsten
pneumatológico eclesiástico, que costumamos chamar de
pentecostalismo, ou seja, é impossível um culto com princípio
regulador confessar que os dons continuam ou confessar ao

51
menos a possibilidade de dons “desde que estejam dentro das
regras”, pois estes mudariam toda ordem e realidade cúltica,
pelo simples fato de operarem de forma revelacional,
colocando assim a bíblia novamente em posição de formação
progressiva, e de um livro ainda não completo e suficiente.

Entende? No lugar onde as profecias continuam, as


Escrituras não são suficientes, e não são tão “Sola” assim.

8b- Havendo línguas, cessarão – O mesmo dito é repetido


para com as línguas idiomáticas, que possivelmente era o dom
que mais estava causando problemas a igreja de coríntios.

Que “havendo”, mais uma vez, “existindo” ou


“acontecendo” a realidade daquele dom naquele momento, ele
em outro momento seguinte, informa Paulo, “cessarão”.

Aqui o apóstolo usa agora a palavra grega “paúō”


(παύω), que significa novamente a mesma ideia que “Kartageo”
em sua aplicação, que é: cessar, desativar e aniquilar. E
poderíamos dizer de forma até mais categórica, que quando se
trata do assunto cessação, a questão das línguas fica ainda com
mais evidência em Corinto.

Aqui, então, pela segunda vez no mesmo versículo,


Paulo afirma o Cessacionismo, agora, porém, com o foco no
dom de línguas estrangeiras.

Um ponto importante antes de continuarmos, e que já


tratei na página do meu Instagram: @prof.hugobadini, é que é
aqui nesse texto de 1 Coríntios 13 que surge o termo
“Cessacionismo”.

52
A raiz dessa expressão não está na tradição
contemporânea, na história da igreja ou em algum consenso
comunitário teológico, mas está nas palavras do próprio
Apóstolo Paulo. Ele é quem inaugura essa terminologia. Isso eu
saliento, pois muitos acusam o Cessacionismo de ser uma
invenção iluminista da era recente ou como sendo
incredulidade, o que é uma mentira.

A expressão nasce no Apóstolo Paulo, e é vista e citada


constantemente na história da igreja, mas não tem origem nela.
Cessacionismo é tanto uma expressão bíblica como uma
doutrina bíblica, ainda mais por ser uma doutrina que
caracteriza os eleitos, pois todos os regenerados possuem
algum nível de cessacionismo, como veremos mais a frente
(Mateus 24:24).

Que fique salientado então, que é nessa epístola, que


“cessacionismo” é inaugurado como termo por Paulo no
assunto “dons espirituais”, e não é está palavra uma mera
invenção dos reformadores, dos puritanos ou de qualquer outro.

Posto isso, vamos dar uma olhada agora no caráter e na


função das línguas estrangeiras no novo testamento, para
entendermos o que ela é, e por que a mesma cessou.

Ao contrário do que os desonestos tentam inserir nos


textos, primeiramente, não são as línguas de 1 Coríntios
diferentes das de Atos 2 em Pentecostes. Isso é importante
estabelecer, pois eles precisam que esse dom seja duplo, ou
dúbio, para que eles consigam ressignificar um e dispensar o
outro. Pois, a luz do relato de Atos 2 somente, é simplesmente
impossível a similaridade entre o que os carismáticos fazem
hoje, com o que ocorreu realmente ali.

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E estabeleço, o dom de línguas que aparece em Atos 2
no cenáculo, é o mesmo dom que aparece na igreja em Corinto
em 1 Coríntios 12,13 e 14, ambos idiomáticos e ambos
inteligíveis como veremos.

Veja algo aqui, a definição exaustiva do que seria o


dom de línguas na carta de 1 Coríntios nunca se fez necessária
aos próprios crentes coríntios, pois os receptores da epístola já
sabiam do que se tratava e já tinham esse dom em operação
entre eles, ou seja, eles já entendiam que se estava falando
sobre um dom de idiomas humanos.

E o que é dito em Atos 2 e em 1 Coríntios 14 é


ressonante em igualdade nos dois textos, e isso no que compete
em as línguas serem IDIOMAS humanos somente, veja o que se
diz nos textos comparativos: “Não são Galileus todos esses
homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um,
na nossa própria língua em que somos nascidos? Pardos e
medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judéia,
Capadócia, Ponto e Ásia, e Frígia e Panfília, Egito e partes da
Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como
prosélitos. Cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em
nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.” (Atos
2:7-11).

Aqui não temos muito a expor, pois o próprio texto


afirma e não deixa dúvidas que as línguas eram idiomas de
povos humanos.

Agora, vejamos a carta aos coríntios a respeito do


também chamado dom de línguas: “Está escrito: Por gente de
outras línguas, e por outros lábios, falarei a este POVO; e
ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as
línguas são um sinal..” (1 Coríntios 14:21-22). Percebe? Paulo

54
está falando da mesma coisa, de línguas/idiomas de outros
POVOS, lábios que falam à um povo humano, caindo assim a
falácia que as línguas do Novo Testamento não seriam
idiomáticas exclusivamente, e que em Corinto Paulo falaria de
outro tipo de dom.

Se você perceber, quando Paulo usa em Corinto a


expressão “de sorte que…” ao falar sobre o dom de línguas,
sobre o que “as línguas são”, o que Paulo diz é: “Sendo essa a
definição do que é o dom de línguas...”, e em seguida ele fala
de “gente de outras línguas”. Entende? Paulo define o dom de
línguas no capítulo 14 de coríntios como idiomas, e o uso da
expressão “de sorte que” é usado para ratificar isso. Somando
isso a Atos 2, fica evidente que esses dois textos tratam do
mesmo dom, e por definição esse dom era realmente idiomas
de outros povos humanos exclusivamente.

Outro ponto importante sobre as línguas idiomáticas, e


preste muita atenção nessa definição, é que elas eram:
PROFECIAS, E PROFECIAS EM OUTROS IDIOMAS
HUMANOS, isso mesmo, a natureza essencial das línguas
idiomáticas é que elas são profecias propriamente, que eram
proferidas igualmente como o dom de profecia, mas só que elas
possuíam o caráter de estarem em outros idiomas, de outros
povos, caracterizando assim um sinal de transição do
Evangelho, agora não somente aos judeus, mas daquele
momento em diante, também para os gentios. Por isso Paulo
também diz: “De sorte que as línguas são um sinal para os
incrédulos” (os judeus), pois eles rejeitaram o Messias, mas a
todos quanto o receberam foi lhes dado o poder de serem Filhos
de Deus, os quais creem em Seu nome (João 1:12).

Talvez essa definição de dons de línguas como profecia


em outro idioma seja nova para você, mas vou lhe mostrar ela

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no texto de Atos. Pedro, depois de ter sido acusado em Atos 2
por alguns judeus, de que a igreja reunida estava na verdade
bêbada no cenáculo, responde a isso dizendo que aquelas
línguas que eles ouviam, na verdade, era um cumprimento
naquele exato momento de uma profecia antiga do profeta Joel,
que dizia: “Mas ISTO é o que foi dito pelo profeta Joel: “E nos
últimos dias acontecerá que derramarei do meu Espírito sobre
toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas
PROFETIZARÃO, os vossos jovens terão VISÕES, e os vosso
velhos terão SONHOS.” (Atos 2:16-27).

O Apóstolo Pedro, ao citar o dom de línguas que estava


sendo operado diante daqueles que estavam caçoando deles, ele
definiu como P-R-O-F-E-C-I-A mesmo, pois ele diz: “ISTO
É”, ou seja, “isto que está acontecendo aqui hoje é o que foi
dito pelo profeta Joel”, e ao definir esse “isto”, Pedro dá-nos as
características do dom de profecia, ainda que ele esteja
objetivamente apontando para o dom de línguas que estava
acontecendo, ele numera: “PROFETIZARÃO”, “VISÕES” e
“SONHOS”, isso é incrível! Pois Pedro estava explicando aos
homens que estavam caçoando que aquelas línguas que
estavam sendo faladas por eles, eram profecias com todas as
características descritivas de uma profecia, só que em outro
idioma basicamente.

Então, ao definir assim as línguas idiomáticas, Pedro as


caracteriza como profecia essencialmente. E em 1 Coríntios
Paulo irá fazer a mesma coisa. Perceba, em Atos 2 não houve a
necessidade de tradução das línguas pelo fato de que as línguas
“viraram” um sinal aos judeus em Pentecostes, e os tais já
sabiam os idiomas que estavam sendo falados, tanto que
alardeiam estarem ouvindo em suas línguas natais as
“grandezas de Deus” (Atos 2:11), mas em 1 Coríntios 14 é

56
salientado algo a mais, mas que não muda a igualdade desse
dom nos dois textos.

Na carta aos coríntios nos é apresentado um dom que


seria complementativo na edificação comunitária, o dom de
tradução/interpretação de línguas. E este era necessário para
que houvesse edificação aos crentes reunidos, os quais se infere
que não sabiam os idiomas operados como um todo, por isso
precisavam que eles fossem traduzidos, para então eles saberem
o que Deus, O Espírito Santo, tinha para dizer. Basicamente
essa é a única diferença entre Atos 2 e 1 Coríntios 14, que em
Corinto se tem a necessidade do dom de interpretação de
línguas.

Nisso, quando Paulo vai comparar as línguas com as


profecias em grau de utilidade à igreja, ele diz ser a profecia
superior ao dom de línguas, a não ser que ela seja
interpretada/traduzida, para que então haja edificação, para
que então haja entendimento, para que a mente deles não fique
infrutífera, mostrando assim que as línguas idiomáticas, quando
traduzidas, são igualmente equivalentes as profecias em
autoridade, pois são elas em suma e em utilidade. Profecias em
outros idiomas por definição.

Eis a citação que iguala elas em 1 Coríntios: “O que


profetiza é maior do que o que fala em línguas, A NÃO SER
que também interprete, para que a igreja receba edificação” (1
Coríntios 14:5), ou seja, uma vez traduzida a língua para o
idioma conhecido da congregação, tal dom que era maior, o de
profecia, perde seu posto por causa da condicional “a não ser
que”, para então dar lugar a uma igualdade de Profecias e
Línguas por meio da interpretação delas.

57
Um exemplo simples. Um “Good Monirgn” traduzido
para o português, possui a mesma igualdade de um “bom dia”
na nossa língua original, é o mesmo conteúdo, possui a mesma
finalidade, a mesma importância, tem o mesmo peso, a única
diferença é que uma precisa de tradução para se útil ao
entendimento, enquanto o outro possui um caráter mais direto.

E a respeito dessas línguas estrangeiras, essas que


existiram na realidade da igreja, a qual expomos suas
definições acima, a essas línguas o Apostolo Paulo diz:
“havendo (existindo) línguas, cessarão”!

8c- Havendo ciência, desaparecerá; - Essa parte é a


que eu acho mais inusitada, pois na concepção da maioria dos
questionadores do Cessacionismo, essa “ciência” citada por
Paulo é um tipo de ciência empírica e médica, a mesma ciência
que descobriu o código genético do corona vírus, que inventou
a Dipirona, que foi capaz de criar a cirurgia de retirada de
apêndice e etc.

Isso não faz sentido nenhum! O método empírico que


usa de repetições para achar um padrão com poucas ou
nenhuma variável, e que chamamos hoje de ciência, foi criada
embrionariamente somente no século X para o XI, pelo que
tudo indica por um Iraquiano nascido na cidade do Cairo,
chamado Abu Ali Haçane Ibne Haitão (Indico o filme: O Físico
por conta do tema), e que foi depois melhor desenvolvido em
séculos posteriores por Fracis Bacon, René Decartes, Galileu
Galilei, Robert Boyle, Antonie Lautent Lavoister e outros.

Não é este tipo de “ciência” metodológico que Paulo


está ensinando no versículo 8 de coríntios! A qual ele afirma
ele que cessaria, não! E creio que esse pensamento pentecostal
vem de um vídeo de um ex-reverendo presbiteriano do

58
YouTube, onde ele defende o continuísmo, deturpando, como
já se tornou comum para ele, o texto bíblico em questão, e
comparando a ciência citada por Paulo com um empirismo
científico, sim, os que defendem essa ideia de “ciência”
continuar, parecem ter aprendido isso de um negador da
inspiração das Escrituras que fica gravando hoje vídeo para o
YouTube, porém para Paulo ciência aqui em 1 Coríntios é outra
coisa.

Essa ciência vista no versículo 8, está na verdade sendo


citada pela segunda vez ali por Paulo (e a maioria não percebe
isso), sendo a primeira citação no versículo 2, quando Paulo
diz: “E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos
os mistérios e toda a CIÊNCIA; e ainda que eu tivesse toda fé
de maneira tal que transportasse os montes de lugar, sem amor,
nada seria.”(1 Coríntios 13:2), Paulo cita inicialmente a ciência
do versículo 8, aqui no versículo 2, e é no 2 que vemos a
melhor definição.

Veja, “ciência” está sendo citada dentro de um


emaranhado de dons no verso 2, como se formasse um
“sanduíche revelacional”. Paulo primeiro fala de profecia, em
seguida de mistérios e em seguida de ciência, deixando assim
claro que o contexto de “ciência” aqui é revelacional, é sobre
um conhecimento que não procede na vontade humana, e não é
inato ao Homem, mas algo que vem em si de Deus.

Podemos citar como exemplo o questionamento que


Jesus fez aos apóstolos a respeito do que os Homens pensavam
a Seu respeito, e Pedro toma a frente e diz: “Tu és o Cristo, O
Filho do Deus Vivo” (Mateus 16:16), e Jesus confirma à Pedro
que: “...não foi carne e sangue que to revelaram [essa ciência],
mas meu pai que está nos céus” (Mateus 16:17).

59
Percebe? Essa ciência que Paulo afirma que cessaria é
uma ciência revelacional. É um tipo de conhecimento que
agregava conhecimento divino e participava da formação do
Novo Testamento naquele momento. E creio também que
“ciência” no capítulo 13 está ligado ao que Paulo falou no
capítulo anterior, a respeito dos dons de palavra de sabedoria e
palavra de ciência (1 coríntios 12, verso 8), que em minha
opinião também integravam os dons extraordinários, ainda que
tenhamos poucas informações sobre os mesmos.

Vou dar um exemplo prático sobre palavra de ciência e


palavra de sabedoria. Sempre que um apóstolo ou escritor
neotestamentário se apossava de um texto do Antigo
Testamento ou de uma sabedoria secular, e com isso aplicava,
interpretava e a ressignificava estes a uma realidade e a um
contexto do Novo Testamento, tal texto ganhava uma nova
roupagem e agora com um caráter canônico.

E assim, em minha interpretação, está em definição


mais ampla essa “ciência” e conhecimento revelacional, do
mesmo tipo que observamos em Pedro ao dizer que Jesus é o
Cristo, a vemos aqui também citada por Paulo, e podemos a ver
em outros apóstolos como uma ciência revelada não por “carne
e sangue”, mas por nosso “pai que está nos céus”. Assim que
devemos entender sempre “ciência” nesse contexto de dons,
como uma ciência revelacional.

E, existindo esse tipo de ciência na realidade dos


coríntios, ela seria desativada e desapareceria no decurso da
história da igreja, assim que se encerrasse o cânon, pois,
“havendo ciência [revelacional], desaparecerá”.

9- Porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos –


Entender esse versículo 8 gera uma indagação a respeito da

60
afirmação paulina de cessação dos dons revelacionais, do tipo:
Mas por que os dons cessariam?

Entenda o cenário. Algumas igrejas foram fundadas já


com os dons operando entre elas e inaugurando-as, propor que
os dons em certo momento cessariam criaria a indagação
natural: “por qual motivo cessariam esses dons, se nossos
cultos dependem deles, e fomos fundados assim? ”

Nessas igrejas apostólicas, tal afirmação gera


naturalmente uma estranheza prontamente, pois não se
conhecia um culto, um grupo de irmãos ou um evangelismo
pioneiro da época, em que não se ocorria os dons
extraordinários, ainda mais pelas mãos diretas dos apóstolos.

Os dons imanentes e sináticos, eram uma realidade


espetacular das igrejas apostólicas de forma geral, e mais, era
algo perceptível, porque os dons extraordinários são
essencialmente VISÍVEIS e AUDITÁVEIS, esse papo de que
os dons estão continuando, mas ninguém sabe onde, é uma
péssima falcatrua dos enganadores carismáticos, pois os dons
só continuam na medida que eles CONTINUAM
ACONTECENDO.

Não há como algo continuar sem existir visivelmente


em algum lugar e em algum tempo, e levando em conta que os
dons são para a igreja, toda e qualquer igreja possui o direito a
ter eles em operação, e não apenas igrejas longínquas e de
territórios missionários, mas a sua igreja na esquina da sua casa
também tem esse direito.

Assim, se Paulo propõe que em certo momento alguns


dons iriam cessar, isso faz com que surja naturalmente a
indagação sobre o que então será posto no lugar dos dons. Mas,

61
antes de chegarmos a isso, vejamos que Paulo nos dá o
“porquê” a respeito da cessação que acontecerá, veja: “Porque,
em parte conhecemos, e em parte profetizamos” (vers.9), isso
nos instrui nitidamente que havia algo ainda incompleto no
conhecimento da igreja apostólica, algo que estava ainda em
produção. Perceba a expressão “em parte” (vers.9), ela indica
que havia sim um conhecimento existente para com eles, mas
que este não era ainda completo.

Paulo não está propondo uma ignorância total a respeito


do conhecimento que eles tinham do Filho de Deus e de Suas
doutrinas. O que ele afirma é que: “em parte conhecemos”, ou
seja, eles sim tinham um nível de experimentação do
conhecimento inédito que estava sendo revelado no Evangelho,
do conhecimento que esteve oculto desde todos os séculos em
gerações passadas (Efésios 3:5), e isso inclui o conhecimento
do antigo testamento também, mas isso ainda não tinha
chegado a um clímax, eles, ainda que tivessem esse
quantitativo de “ciência” já revelada, era isso por demais “em
parte” ainda.

Sim, a igreja apostólica já estava com uma parte do


todo da revelação naquele momento, por isso diz Paulo
categoricamente: “conhecemos”. Ele, porém, segue essa
narrativa e diz: “e em parte profetizamos”, e como isso é muito
importante de se entender, pois isso nos mostra agora um
aspecto que concerne a produção de conhecimento
revelacional, e aqui em um estado progressivo.

Se de um lado Paulo diz: “conhecemos”, do outro ele


nos diz agora: “profetizamos”, ou seja, “estamos profetizando”,
“estamos produzindo”, expondo que na realidade da igreja
apostólica naquele momento, a construção do conhecimento de
Deus no Novo Testamento ainda não estava completada, pois

62
eles só possuíam uma parte da revelação, o “conhecemos”,
enquanto a outra parte ainda estava sendo produzida pelos
dons revelacionais: “profetizamos”. Fica muito claro assim
que o assunto de Paulo nesses versículos é produção de
revelação, e não escatologia ou Jesus Cristo em Sua pessoa
descritiva.

Então, Paulo nos diz assim, parafraseando: “em parte já


temos certo conhecimento de Deus, não podemos negar, mas,
por outro lado, ainda estamos completando esse conhecimento,
nós estamos ainda em continuidade revelacional, nós ainda
estamos profetizando”.

Dessa forma, ele explica o motivo da cessação a nós, o


seu “porquê”, para entendermos que naquele momento, a
operação dos dons revelacionais era proposital e necessária, ou
seja, havia um objetivo para os dons revelacionais naquele
momento, não era experiência por experiência apenas (como os
pentecostais querem viver), mas os dons imanentes estavam
servindo como meios para um fim.

Em resumo, Deus estava usando os dons citados no


versículo 8 “profecias, línguas e ciência [revelacional]”, e que
Paulo resume como “profetizamos”, com uma finalidade e
propósito específico, de tornar o que era “em parte”, finalmente
em algo que não careceria mais de acréscimos, que não
careceria mais de complementação.

Paulo basicamente no verso nove só muda de


nomenclatura. O que ele antes chamou de “profecias”,
“línguas” e “ciência”, no verso oito, aqui agora ele resume em
“profetizamos”.

63
10- Mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em
parte será aniquilado - E isso é simplesmente sensacional!
Pois, quando ele fala da chegada desse algo que é “perfeito” e
que solapa o que é “em parte”, ele ensina que é necessário que
se tire um para que se estabeleça então o outro, OU SEJA,
aonde os dons de profecias, línguas e ciência existem, o
perfeito ainda não chegou.

E que bomba! Por que essa explicação basicamente


encurrala a todos os reformados a terem uma posição a favor do
Cessacionismo em 1 Coríntios 13, pois de outra forma, se eles
afirmarem que o “perfeito” não é o cânon que já chegou, eles
terão inevitavelmente que afirmar que as profecias, as línguas e
a ciência ainda possui lugar hoje. Percebe? Aquilo que é
“Perfeito” é o que aniquila o que é “em parte” (as profecias, as
línguas e a ciência revelacional), se o “perfeito” ainda não
aconteceu, logo os dons revelacionais ainda continuam, por
conseguinte.

Paulo está categoricamente afirmando, não um


adormecer dos dons citados para serem despertados
futuramente em algum avivamento por exemplo, ele está
afirmando que havendo dons revelacionais naquele momento, e
fazendo eles parte da produção da revelação, e que ele chama
de “em parte profetizamos”, eles seriam posteriormente
aniquilados com a chegada disso que ele chama de “perfeito”,
e perfeito para a igreja. Se admitimos a chegada do perfeito,
confessamos aniquilação completa dos antigos dons
revelacionais, sem possibilidade algum de retorno deles, de
jeito nenhum, pois é isso que Paulo afirma por essas linhas.

Isso a essa altura deve ser para nós cada vez mais, pois
de outra forma, voltaremos para nossa bem-humorada receita
de miojo do início do livro, nas qual Paulo não está falando de

64
nada nesse texto em específico, e isso segundo os carismáticos.
Paulo está sim falando sobre alguma coisa, e essa coisa é o
Cessacionismo.

Quem fala, fala algo ou alguma coisa a alguém. Paulo


está falando sobre cessação e aniquilação de dons revelacionais
nesse texto, e é aos coríntios que ele o fala, a estes, que tinham
os dons como o motivo de seu orgulho não amoroso devem ter
o entendido muito bem.

Paulo então, reitero, não diz a eles que os dons


revelacionais se “desvaneceriam concentricamente” ou que
dormiriam por um tempo até que fossem despertados pelo livre
arbítrio espiritual de calvinistas carismáticos ou por
montanistas de uma rua americana, não! Antes, diz Paulo, que
os dons revelacionais seriam literalmente A-N-I-Q-U-I-L-A-D-
O-S, sem tirar e nem por, pela chegada de uma perfeição dada
por Deus.

Ainda sobre esse termo “aniquilação” relacionado aos


dons. Veja, este termo é bem diferente da proposta pentecostal
e carismática do: “eu creio que Deus pode fazer hoje”, pois
Deus diz: “quanto aos dons que hoje operam, eles vão ser
“aniquilados” definitivamente” (parafraseando).

E me permita ser um pouco prolixo agora a respeito de


um assunto que já comentei a alguns parágrafos acimas.
Mediante a informação da aniquilação dos dons, o que surge
naturalmente ao leitor atento é o questionamento de que, se
Paulo afirmou realmente o Cessacionismo dos dons no
versículo 8, e já no 10 está dizendo mais uma vez que eles
serão aniquilados, e ele fala isso no primeiro século d.C aos
coríntios. Quando então depois dessa predição paulina os dons
cessariam realmente? Ou melhor quando esse tal “perfeito”

65
chegaria, para então inutilizar os dons imanentes? Em que
tempo? Quando exatamente?

Como vimos, por incrível que pareça à essa pergunta,


no mesmo texto Paulo responde o questionamento do
“quando”, com um “quando”, interessante, não? Permite-me
ser um pouco mais repetitivo. Paulo estabeleceu um TEMPO
para o fim do que era “em parte” claro que ele não vai te dar
aqui uma latitude e longitude, como expressei antes citando
Ragnar e etc, mas o que ele nos dá aqui é realmente
esclarecedor.

Paulo diz: “quando vier o que é perfeito, então o que o


é em parte será aniquilado”, e queridos, eis nosso TEMPO, eis
o estabelecimento apostólico dos tempos e modos nos quais os
dons que traziam revelação e confirmação sinática iriam ser
interrompidos e sucumbidos, para dar lugar a outra autoridade,
a outro meio de comunicação divina exclusivo, a outro meio
definitivo de edificação, para dar lugar ao: “que é perfeito”.

Essa expressão “quando vier”, já aqui nos ensina algo.


Quando Paulo afirma “vier”, isso já indica que este algo ainda
não chegou, logo, o que havia para com a igreja apostólica
naquele tempo em relação a isso era uma falta, pois se está
algo por vir é porque este ainda não veio.

Nisto, aquilo que viria e faria com que os dons


revelacionais em operação sofressem seu término AINDA
NÃO ERA UMA REALIDADE PARA AS IGREJA
APOSTÓLICAS naqueles dias. E isso é muito interessante,
pois se nos, perguntarmos, o que hoje nós temos que eles não
tinham em sua época, poucas respostas teremos, pois na
verdade aparentemente eles tinham mais em sua época do que
nós temos hoje. Muitos das igrejas apostólicas viram o Senhor,

66
eles tinham os Apóstolos, eles ainda por um tempo tiveram o
templo, tiveram um Israel estatal, possuíam profetas, faladores
de línguas, milagres… O que nós hoje temos que eles não
tinham ainda? A revelação completada (a bíblia), conseguem
perceber?

Por isso se diz: “quando vier”. Pergunta-se então,


“quando vier” o quê? E se responde no texto, “quando vier o
que é perfeito”, e aqui, nobre irmão e irmã, temos a acrópole de
todo entendimento cessacionista nesse texto ao meu ver, o
sumo entendimento sobre o que Paulo está falando em 1
Coríntios 138:13.

E eis que vos digo um mistério, Paulo não diz aqui:


“Quando vier QUEM é perfeito” (aos que podem, consultem
também o texto em grego), mas sim: “quando vier O QUE é
perfeito”, tirando, como vimos 19 vezes, qualquer possibilidade
de Paulo estar se referindo a qualquer pessoa, ou ao próprio
Senhor Jesus Cristo. Essa teoria do “perfeito” ser Jesus não faz
nem sentido e nem cabe no texto e no seu contexto.

Para a tristeza dos exegetas continuístas, o termo aqui


pelo contexto e por seu uso em si no novo testamento, é
exclusivamente objetificador, e nele não cabe, para aumentar a
tristeza destes, a aplicação de interpretações por meio de
cognatos da língua grega, pois todo o contexto é objetivo e
instrutivo, e não descritivo de algum ente pessoal, em
português claro, Paulo não está falando de Jesus. O contexto é
sobre revelação e sobre produção de revelação “conhecemos…
profetizamos”

Entende? Não há uma pessoalidade nessa promessa,


mas sim algo vindo, uma objetificação, um tipo de informação

67
satisfatória, uma obra, alguma coisa, em outros lugares até uma
irrepreensibilidade moral, mas nunca alguém.

O que estava para vir e o que a Igreja não tinha naquele


momento, não era uma pessoa, mas algo, e esse algo era
necessário em relação ao assunto do contexto, em relação à
revelação. Eu vou repetir até encravar em sua memória de
longo prazo (rs).

E nisso, chamo sua atenção para um detalhe. Estando


você atento (a), e sendo um(a) leitor(a) consistente da bíblia,
você perceberá que o que é relatado no Novo Testamento, de
forma tão extraordinária a respeito dos dons, tanto no Senhor
Jesus, nos 70 comissionados, nos apóstolos, nos auxiliares
apostólicos e nas igrejas primitivas, em nada pode ser
comparado ou visto de igual forma na realidade de nossas
igrejas locais hoje! São mundos distintos, acontecimentos
diferentes, experimentações não iguais.

Pense, crente! Algo aconteceu, algo ocorreu. Não


acontecem as mesmas coisas agora que aconteciam nos dias de
Jesus e nos dias dos apóstolos, não são os mesmos relatos entre
nós. Há uma disparidade gritante de acontecimentos reais, de
relatos ocorridos na igreja apostólica, comparado a nós hoje.

Não temos sombras e lenços curando, cegos vendo,


coxos andando, leprosos sendo limpos, mortos ressuscitando,
idiomas não aprendidos sendo falados e traduzidos, profecias
sendo proferidas e ocorrendo. Uma abrupta ruptura ocorreu, um
mar há entre nós e eles, um fato inevitável separou essas duas
realidades da vida comum da igreja, o que ocorreu? O que
aconteceu querido leitor? Falta de fé da igreja depois do
primeiro século? NÃO! O que então aconteceu irmãos? Será

68
que algo foi nos dado? Será que algo foi finalizado e fechado?
Será que algo chegou?

O que é perfeito e completo chegou! Consegue


perceber? “E o que seria esse perfeito Hugo mais exatamente,
que você está afirmando que chegou para a igreja? ” Caro
leitor, antes de chegarmos a definição do que é o “perfeito”,
permita-me andar mais uma quadra com você nessa questão da
objetificação do termo “perfeito” na teologia.

Ao contrário do que os pentecostais propõem, quando


dizem que o “perfeito” não tem significado, ou que significa
outra coisa que o texto não diz. Alguns pentecostais insistem
letargicamente ao texto, que o “perfeito” seria Jesus, como citei
agora pouco a cima.

Mas analisando em si o texto, em qual parte desse texto


de 1 Coríntios 13, ou de textos anteriores, Paulo fala da
segunda vinda escatológica de Jesus Cristo? Sério mesmo.
Onde está Jesus como pessoa encarnada da Trindade aqui em 1
Coríntios 13? Ou há nesse texto alguma descrição do caráter do
Filho, ou da humanidade dEle, para que possamos fazer alguma
mísera comparação?

É nítido que de forma anedótica, não vemos Jesus ser


citado de forma escatológica em nenhum lugar em 1 Coríntios
12, 13 e nem no 14, que sãos os textos que falam, descrevem e
prescrevem os dons aos irmãos de Corinto, nem vemos a
Segunda Vinda ser se quer citada neles.

Se você puder, pare um minuto, vá à sua bíblia, e leia


esse texto de 1 Coríntios 13 todo, com foco no versículo 8 em
diante, se puder leia o 12 e o 14 também, depois volte aqui.

69
Se você o fez, e se você o leu, analise por um momento:
Onde que Paulo sugeriu, por um segundo que seja, que o
“perfeito” é uma pessoa, e ainda pior, sugeriu ser o “perfeito” a
pessoa do Senhor Jesus Cristo? E ainda pior, sugeriu
descritivamente ser Ele o “perfeito” voltando
escatologicamente para levar a Igreja para a eternidade? Isso
chega a ser uma ofensa intelectual!

O perfeito ali não é Jesus Cristo, nem em seus


atributos pessoais e nem em sua vinda escatológica. E por que
não Hugo? Por que o texto não diz! Simples assim. Não
podemos inventar em teologia, temos que afirmar a partir do
texto em seu contexto e sem pretexto institucional/pessoal o
que realmente o texto diz.

Por que “perfeito”, no texto, não é a criação? Por que


“perfeito” não é o Novo Céu e a Novo Terra? Por que
“perfeito” não é a blusa que estou vestindo agora? Por que
“perfeito” não é O Santo Espírito, ou qualquer outra coisa que
você quiser? Se usarmos desse tipo de parâmetro, poderemos
falar o que quisermos a respeito de qualquer coisa e em
qualquer texto. Assim, qualquer coisa caberia ali no “perfeito”,
mas isso não é teologia de nenhuma maneira!

Se Paulo deixa claro que o “perfeito” é “o que”, e não


“quem”, é impossível exegeticamente a gente colocar a pessoa
do Senhor Jesus ali, e ainda mais em Sua segunda vinda
triunfante com miríades de anjos!

E isso, querem afirmar os pentecostais, apenas para


poderem ficar confortáveis na afirmação de que os dons vão
cessar nesse texto, mas somente com uma aplicação num futuro
no qual eles não serão incomodados em suas experiências
diárias, cultuais e místicas, pois se os tais não jogarem o

70
Cessacionismo desse texto para um futuro distante, eles terão
que admitir que tudo o que eles vivem e fazem é uma mentira!

E dessa maneira, não sendo o “perfeito” Jesus Cristo, e


tendo os dons extraordinários já cessado, ABSOLUTAMENTE
TUDO o que eles vivem e fazem é palha e vaidade, é heresia
mesmo. O Cessacionismo é aquilo que com eficácia é capaz de
destruir o pentecostalismo para sempre. Pois aonde os dons
cessam, o pentecostalismo se torna simplesmente impossível.

Eu vou repetir a mesma coisa para ser bem judaico,


prolixo e chato, quando perscrutamos o texto, seu contexto e a
palavra “perfeito” em si, vemos algo fascinante. Paulo, ao falar
o seguinte: “quando vier o que é perfeito”, repare, ele não diz
“quando vier quem é perfeito”. Paulo não designa o perfeito
com nenhum tipo de pessoalidade, ele não o trata como uma
pessoa, Paulo o trata como ALGO, e não alguém, por isso diz:
“o que”, e não “quem”. Uma vez que percebemos a
objetificação do fato, partimos então para saber que algo por
definição seria esse “perfeito”.

A palavra “perfeito”, no grego é “teleios” ou “to


teleion” no uso do versículo, a qual possui o significado de:
“finalizado; completo; perfeito; maduro; aquilo que não carece
de acréscimos; o que já atingiu seu clímax” (referência:
Dicionário Grego Strong), e isso é muito interessante, pois esse
tipo de expressão é um correspondente direto a algum tipo de
feito ou obra, pois quando perscrutamos a palavra “teleios”,
encontramos sua raiz na palavra “telos/tello” que significa
(adivinhem): “fim”, “término”, “resultado”, basicamente em
seu uso normal, “algo concluído”.

E assim fica até mais fácil de entender, pois desta forma


não há designação de pessoa na palavra “perfeito”

71
definitivamente, mas sim de uma obra, de uma coisa a se
terminar, de uma obra completada, finalizada e concluída.

Ficando o entendimento, de forma parafraseada, e


usando alguns sinônimos, desse jeito: “Quando vier o que é
completo”; “quando vier a finalização”, “quando vier aquilo
que estará concluído”, “quando vier a ser finalizada a obra [da
revelação]”, ou “quando ela for concluída” e até “quando vier a
ser ela completada”, então “o que o é em parte (profecias,
línguas e ciência revelacional) serão aniquilados”. Esclarecedor
né? Pois é. A chegada e o estabelecimento de um aniquila o
outro, como salientei. A chegada do que é completo, faz o que
é incompleto deixe de existir.

Um exemplo bom sobre a palavra “teleios” (perfeito)


em sua designação é um dos brados do Senhor Jesus na cruz.
No qual O Senhor vai usar uma palavra derivante da mesma
raiz para “Teleios”, Ele diz em dado momento: “Tetelestai”,
que significa “está consumado!”, e adivinhem a raiz da palavra
“tetelestai”? A raiz é “telos/tello”, a mesma raiz de “teleios”
(perfeito). E isso é pontual.

Nos é nítido que quando Jesus disse: “Está consumado!


”, Ele não se referia a si mesmo, ou a alguém estar consumado,
ou a qualquer sentido pessoal por exemplo, ELE SE REFERIA
A SUA OBRA, pois diz “tetelestai”, ou seja, “esta obra está
consumada”, “esta obra está perfeita”, “esta obra está
finalizada”, “esta obra está concluída”! E não: “esta pessoa está
consumada” ou “está pessoa está perfeita”. Não faz sentido
assim.

Quando vamos para o versículo 10 de nosso texto com


esse entendimento da palavra “perfeito” como algo
objetificado, agora sim, conseguimos entender Paulo dizendo:

72
“Quando vier [a obra da revelação que não carece mais de
acréscimos, pois estará completada e concluída], então o
que o é em parte [os dons que produzem revelação:
profecia, línguas e ciência revelacional] serão aniquilados”
(1 Coríntios 13:10), e essa queridos, é a minha essencial
interpretação desse texto. E ela é esclarecedora.

Ufa! Tudo mais fácil agora, acredito. E me perdoe por


ser tão prolixo. Alguns dispensacionalistas não vão gostar
muito do que eu expus acima, mas tudo quanto fiz, creio ser,
exatamente o que Paulo quis dizer. E sei que além dos
pentecostais, os cessacionistas dispensacionalistas não vão
gostar muito da minha argumentação, pois eles possuem um
grande problema em afirmar a aniquilação dos dons
revelacionais definitivamente, principalmente o dom de
profecias, e isso se dá por conta visão escatológica e milenar
que eles possuem, por causa da literalidade, que afirma a vinda,
nos últimos dias, de profetas judeus que falarão de forma
autoritativa e inspirada da parte de Deus novamente. Sendo
assim, para os dispensacionalistas, os dons sináticos não foram
aniquilados como Paulo nos informa acima, mas apenas
desativados por um momento. Eu acho que para eles os dons só
desmaiaram na verdade.

Com a vinda da revelação completa (se você quiser


chamar de bíblia, ou cânon, Paulo chama de “teleion” aqui, de
“unidade da fé” em Efésios 4 e Judas no seu verso 3 chama de
“fé que uma vez por toda foi dada aos santos”), as profecias, as
línguas e conhecimento revelacional, não desmaiariam apenas,
ou levariam um tombo, ou desvaneceriam concentricamente, ou
pior, viriam a aparecer perto do “milênio literal” com paroleiros
circuncidados, não, antes, com a vinda da revelação completa,
estes dons, inclusive o profecias, seriam “aniquilados”.

73
Sendo assim, a bíblia, cânon revelacional ou aquilo que
se completou depois da era apostólica, literalmente chegou a
igreja já no primeiro século. Todo conteúdo que hoje temos e
que foi meramente organizado no ano 400 d.C, ficou
definitivamente palpável para igreja, e assim, de nenhuma
informação mais da parte de Deus se faz hoje carente a igreja,
pois quanto a tudo o que concerne a vida e a piedade nos foi
entregue definitivamente pelos apóstolos do Senhor.

E o próprio Jesus disse aos apóstolos que O Espírito os


guiaria EM TODA A VERDADE (João 16:13), e sendo essa
uma promessa feita aos apóstolos, confessamos que Deus os
guiou em toda a verdade em nosso favor, tendo a igreja
apostólica participação nisso, e todo esse descobrimento do
total corpo da verdade a respeito do Filho de Deus (Efésios
4:13), gerou para nós a bíblia finalmente.

Hoje a temos, e como costumamos falar, a temos como:


“a palavra de Deus”, e ela o é. Palavra suficiente e final, que foi
produzida não misteriosamente, ou que foi achada em barras de
ouro em algum canto, mas que foi inspirada e veio a existência
por meio de certos dons espirituais dados a certos homens
inspirados por Deus.

Por isso, é um hediondo pecado contra a suficiência das


Escrituras afirmar que todos os dons continuam hoje, porque se
se continuam os meios de produção, isso significa que a bíblia
que é o resultado desses meios, está ainda sendo produzida, por
conseguinte, mas quem é idôneo entre os continuístas para
afirmar honestamente essa conclusão óbvia?

Sendo então isto estabelecido no cessacionismo:


somente as Escrituras são nossa forma de recebimento de
Palavras oriundas de Deus hoje, e são elas a nossa única forma

74
de edificação espiritual, sendo ela o nosso único, completo,
perfeito, suficiente e final meio de revelação, como Paulo
previu e nos afirmou. Deus hoje só fala de forma especial, por
meio das Escrituras.

Deus falou de muitas formas e de muitas maneiras aos


pais pelos profetas, mas a nós igreja, Ele falou nesses últimos
dias exclusivamente no Filho (Hebreus 1:1). E tendo o Filho
subido aos céus, levou cativo o cativeiro e deu dons aos
Homens, e nisso, autorizou apóstolos para falarem em Seu
lugar como Seus representantes e embaixadores, estendendo
assim a Sua exclusiva voz por eles, e isso até que os textos se
completassem como Deus assim estabeleceu.

Em vista do que vimos até aqui, devemos compreender


a revelação, então, dessa forma: O Filho, foi a última e
exclusiva forma de Deus falar aos seus eleitos, e sendo os
apóstolos uma extensão desse falar, após a Sua ascensão, para
melhor confirmação e registro da Palavra, toda a verdade (João
16:13) foi então por eles e seus auxiliares concluída e chegou a
perfeição (Teleios), estabelecendo o fundamento da igreja
como sendo ela a doutrina dos apóstolos e profetas (Efésios
2:20) exclusivamente, e assim o foi, e assim o é perpetuamente.

Com as Escrituras completadas e concluídas cessasse


os dons revelacionais, chamados também de imanentes, e nisso
nós cessacionistas cremos, pois por meio desse texto paulino
de forma geral não nos fica a dúvida.

Texto este, escrito aos crentes de Corinto para os


desestimular a respeito da perpetuação de todos os dons
espirituais na igreja de Cristo, estabelecendo assim com isso, o
Cessacionismo Bíblico.

75
11.Quando eu era menino, falava como menino, sentia
como menino, discorria como menino, mas, logo que
cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

Após o versículo 10 no qual Paulo encerra o seu dito a


respeito de um cessar dos dons imanentes que iria
fatidicamente ocorrer, como um bom professor que era, Paulo
dá dois exemplos para elucidação do ensino que Ele acabou de
dar. Ele dá a teologia, e após ela, facilita-a com parábolas e
comparações ordinárias, para melhor facilidade de
entendimento.

Entenda, muitos costumam ler os versículos 11 e 12


desse capítulo completamente desconectados do contexto dos
versículos anteriores, como se Paulo estivesse falando sobre
outra coisa a partir do verso 11, que em nada tem a ver com
dons revelacionais que ele acabara de citar, como se o apóstolo
estivesse falando dele e de sua infância pregressa para quem
sabe bater um papo ou algo assim.

E em seguida, sem sentido nenhum, ele começa a falar


de espelhos embaçados, de um suposto “retorno de Jesus”
futuramente e de outras coisas que em nada possuem conexão
com o Cessacionismo que ele estava propondo a um versículo
atrás (eu realmente não sei como carismáticos tem a coragem
de fazer as afirmações que fazem em seus comentários nesses
versículos, de forma tão desconectadas).

Porém, é aí que se enganam os que pensam que Paulo


está fugindo do assunto anterior. Se ele estava propondo
anteriormente o Cessacionismo no verso 8, 9 e 10, tendo
também começado o assunto “dons” lá no verso 1 do capítulo
12, os exemplos que ele dá em seguida são nada mais, e nada a
menos, do que duas exemplificações práticas, didáticas e

76
parabólicas sobre o que ele estava ensinando a um milésimo de
segundo atrás. A lógica das epístolas paulinas são sempre
assim, um encadeamento de versículos interligados um após o
outro, e somente de forma rara vemos Paulo começando um
assunto que em nada tem a ver com um dito anterior. Paulo é
caracteristicamente sistemático.

Agora, preste muita atenção, os dois exemplos que


Paulo dá em seguida ao versículo 10, o que ele faz ali, é um
contraste comparativo entre a revelação que ele chamou de “em
parte”, citada anteriormente, linkada a expressão “menino...e as
coisas de menino”, como também ele compara a revelação em
estado “perfeito” que ele o disse anteriormente também, à
expressão “homem”, e homem num sentido de homem maduro
e completo, ok?

Vamos analisar:

Paulo depois de falar de uma revelação incompleta e


uma revelação que se completaria usando o termo “em parte” e
“perfeito”, nessa ordem. Aqui, no verso 11, ele usa os termos
“menino” que que se tornou um “homem”, para ilustrar tanto
um estado passado com características próprias, como um
futuro que deixa algumas coisas para trás.

Ele usa essa comparação de idade humana para ilustrar


seu ensinamento do Cessacionismo, dizendo que assim como
um menino tem suas características essenciais: forma de sentir,
forma de agir e forma de falar (1 Co 13:11), as quais são
necessárias e comuns ao seu tempo de infância.

A partir do momento que ocorre a transição desse de


menino para a fase adulta, ele então se torna um “homem”, e
perde o sentido de continuar com as formas anteriores de

77
menino: as características de menino, o propósito ao falar, o
como pensar, o como agir, o ser um menino, pois essa fase já
foi cessada, aniquilada e deixada, e inicia-se então um novo
estado, um momento irreversível, no qual um homem maduro
“acaba com as coisas de menino” (1 Coríntios 13:11).

E mais uma vez Paulo continua a contrastar algo que se


caracteriza essencialmente pela transitoriedade, com algo que
atinge uma completude madura e permanece. Lembrando que a
primeira vez que ele faz isso é com o “amor que nunca acaba”
(vers.8), e aqui ele fala também do Homem maduro que
“acaba” com as coisas de menino.

Para tristeza dos carismáticos e ratificação do que estou


afirmando, “adivinhem” a palavra que Paulo usa novamente
para marcar a transição entre o estado imaturo de um “menino”
para o seu estado adulto...a palavra aqui usada é: “katargéō”
(καταργέω), a mesma palavra que ele usa no versículo 8 por
duas vezes para falar de profecias e ciência revelacional,
juntamente com a palavra “pauo” que tem o mesmo sentido de
finalização de algo.

A mesma palavra que Paulo usa aqui para contrastar


que o estado que ao “homem” chega, acaba/cessa/aniquila
(Kartageo), o estado de “menino”, e isso é uma sequência a
respeito do da existência dos dons que daria lugar ao
Cessacionismo revelacional, que é o assunto do contexto.

Em palavras mais claras, Paulo fala dos dons


revelacionais como sendo o “menino”, com suas características
e obras, e usa da chegada da fase adulta desse “menino”,
quando ele se torna “homem”, para falar a respeito da chegada
da revelação concluída e completada do cânon.

78
E assim como a chegada da fase adulta “acaba”
(Kartageo) com a fase de vida do “menino”, assim também a
chegada da completude das Escrituras, aniquila (Kartageo,
mesma palavra) definitivamente os dons revelacionais. Nesse
contexto, afirmar a continuidade dos dons imanentes é a mesma
coisa que afirmar sobre um menino que nunca cresce, um
eterno Peter Pan, o qual continua com suas antigas e inicias
coisas, as quais nunca atingem a maturidade doutrinária da
revelação.

Porém o arrasador, “mas” do apóstolo Paul ataca


novamente, ao mesmo estilo do verso 8, ele diz: “Mas quando
me tornei homem, acabei (cessei), com as coisas de menino”
(verso 11b), incrível, não? Paulo não muda de assunto. Paulo
está sendo comparativo ao que ele estava ensinando
anteriormente, e não falando sobre outro assunto novo e
inédito.

Paulo compara o momento dos dons na igreja como


uma fase ainda imatura do conhecimento, um menino, e a fase
que estava para chegar de completude e perfeição do
conhecimento da revelação, como um homem maduro, um
estado amadurecido que chagaria para a igreja no que compete
a informação sobre as doutrinas.

E assim fica a explicação do primeiro exemplo que


Paulo nos deu para facilitar sua didática aos coríntios, e isso
com respeito ao Cessacionismo dos dons imanentes.

12. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então


veremos face a face; agora conheço em parte, mas então
conhecerei como também sou conhecido.

79
Na segunda exemplificação, Paulo faz A MESMA
COISA, em vez de uma comparação de um menino que se
torna um homem, Paulo como bom judeu repetitivo, usa a
figura de um espelho turvo, que então se torna um espelho
nítido, para elucidar a melhora que ocorreria no conhecimento
da Igreja com respeito à revelação.

Paulo, nosso apóstolo do cessacionismo, usa uma


palavra muito interessante a respeito do tempo sobre o qual ele
estava falando sobre aquelas coisas nesse versículo, ele diz:
“agora”, ou melhor “agora vemos”.

A palavra que no Grego Paulo usa é: “árti” (ἄρτι), que


significa “neste exato momento”. Veja, Paulo aqui nos diz:
“neste exato momento nós vemos”, e aqui Paulo usa uma
pluralidade do dito, dizendo: “vemos”, e não “vejo”, como
usando não somente ele na exemplificação, mas toda da Igreja
daquele momento. Paulo faz um todo de assimilação: “nós
vemos”, e o que ele está dizendo era algo que competia à igreja
em geral. Em palavras sem embargos, Paulo está dizendo que
naquele momento toda igreja estava ainda em um estado de
incompletude revelacional, como que diante de um espelho
turvo.

E ele continua, o conhecimento da revelação da igreja


naquele “exato momento” (árti/ ἄρτι), foi alegoricamente
comparado por Paulo a um “espelho em enigma” (ésoptron en
aínigma), ou seja, algo misterioso, obscurecido e não nítido
ainda para a igreja. E isso não denota uma ignorância completa
da revelação por parte deles, como ensinei acima no “em parte
conhecemos”, eles não estavam em totais trevas naquele
momento com respeito a revelação, eles possuíam sim um
espelho, mas embaçado.

80
Entretanto, em relação a ter uma Escritura completa
como nós a temos hoje, com todas as informações necessárias a
respeito do Filho de Deus e Sua obra, eles ainda possuíam
muitas partes sem luz e sem nitidez na proporção da revelação
deles naquele momento, por isso, um “espelho em enigma”.

Temos então Paulo nos dizendo sobre o conhecimento


da igreja naquele momento assim, parafraseando: “Porque neste
exato momento temos um conhecimento ainda imperfeito,
obscurecido e enigmático comparado a totalidade da revelação,
um espelho turvo, como que com sombras ainda em muitas
partes...”, e em sequência Paulo usa o seu famoso e
quebrantador “mas”, que assim como ocorre na transição de
menino para homem “discorria como menino, mas quando me
tornei homem...”, ou como ocorre ao falar acima sobre o amor
e o cessacionismo dos dons: “O amor nunca acaba, mas
havendo profecias...”, mais uma vez ele o usa aqui, em uma
virada de chave incrível e com uma premeditação de algo que
estava para ocorrer, dizendo: “agora vemos por um espelho em
enigma, mas então veremos face a face”.

Porém, antes de avançar nisso, quero salientar algo


aqui, assim como Paulo no primeiro exemplo usa a figura de
um menino que vira homem, aqui, na segunda exemplificação,
Paulo vai falar de um objeto, o “esoptron” (ἔσοπτρον), um
espelho de aço ou de bronze que na época era usado para se
conseguir, ou tentar conseguir, enxergar sua própria face e
aparência.

Saliento, Paulo não está ao usar “esoptron”, a falar a


respeito de uma pessoa ou de alguém. Paulo vai usar de um
objeto que era usado em sua época (e que temos na nossa
também, ainda que de forma precária comparado aos nossos de
hoje), para conseguir se auto enxergar, ou seja, para que quem

81
usasse o espelho conseguisse assim ver a sua própria face/rosto.
Essa é a função de um espelho.

Na antiguidade os espelhos eram de aço ou bronze, e


não de vidro derivado de areia, como os de hoje, o que nos
ajuda a entender a fala de Paulo ao usar de exemplo o espelho
da época, o qual possuía, reitero, a incapacidade de gerar uma
nitidez e clareza completa da feição de quem o usava.

Entendido esse aspecto do objeto citado por Paulo,


vamos agora analisar o sentido que Paulo dá ao fazer a virada
de entendimento de um espelho turvo para um espelho nítido.

Mas então veremos face a face – Pense querido crente, pense


em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Se Paulo está falando
de um objeto, de um espelho de aço bronzeado com falta de
nitidez, e de repente ele usa o termo, “mas”, o que será que ele
vai dizer em seguida, se o assunto do qual ele acaba de se
referir é “espelhos”?

Se ele acabou de comparar algo “em parte” com algo


“perfeito” versículos acima, se ele acabou de comparar um
“menino” com um “homem” completo, o que ele fará ao acabar
de falar de um “espelho turvo” e sem nitidez? O que ele falará
em seguida ao usar o contratador de ideias, “mas”? Ele fará o
mesmo processo de antes, contrastará o anterior e sua falta,
com o posterior e sua completude, ou seja, se ele acabou de
falar de um espelho não nítido, ao usar a palavra, “mas”, ele
começará em seguida a falar de um espelho perfeito, um que
reflita perfeitamente a feição de que o use, um espelho que é
NÍTIDO, e não de um encontro futurístico com Jesus Cristo na
segunda vinda. ISSO NEM FAZ SENTIDO NESSE TEXTO!

82
Aonde podíamos ver por um miléssimo de segundo que
seja, Jesus nesse texto? E olha que eu estou passando palavra
por palavra na exposição até aqui, sem deixar de comentar
nenhuma absolutamente nenhuma nuance. Seja honesto(a), até
aqui, você viu a Pessoa do Senhor Jesus Cristo em algum lugar
sendo descrita? Paulo está, queridos, ilustrando um espelho
(“esoptron”) e sua qualidade, o qual tem a função objetiva de
refletir a face de quem fica diante dele.

E se você perceber, preste absoluta atenção nisso, não


há o artigo “o” nesse versículo bíblico, repito, se você reparar,
não há o artigo “o” nesse versículo, como se Paulo dissesse:
“Então o veremos face a face” (os carismáticos inferem esse
artigo “o”, para ensinarem que o que Paulo está dizendo é:
“então veremos Jesus face a face”). Não, mil vezes não! Paulo
diz tanto no português como no grego assim, veja o texto:
“Então veremos face a face”, “τότε δέ πρόσωπον πρός
πρόσωπον” ou “tóte dé prósōpon prós prósōpon” (verso 12), e
se você perceber não há o artigo “o” sendo aqui usado, e a frase
nem sequer faz alusão a alguém em específico.

Não há uma referência pessoal. Os continuístas


inventaram simplesmente um versículo que não existe, ao
acrescentar um artigo que não existe em nenhum lugar. Não
existe “o” nenhum nesse texto em português, nem no grego.

Paulo não está falando de Jesus aqui, e nem de um encontro


futuro com Ele que faria com que o víssemos “face a face”,
pois, se o apóstolo está no contexto imediato falando sobre
Dons e Cessacionismo, não é lógico e nem possível afirmar
escatologia aqui, de nenhuma maneira. Tanto o versículo não
comporta o artigo “o”, que seria a única ponte para uma
tentativa exegética desse tipo, nem o contexto comporta um
encontro futurístico e escatológico com Jesus de toda maneira.

83
Queridos, eles sustentam uma teologia futurística em um
versículo que não existe, que não é real!

E deixe eu abrir meu coração para você querido leitor.


Quem autorizou esses homens a fazerem acréscimos as
Escrituras Sagradas? Eles não conhecem a maldição divina de
Apocalipse 22:18: “Declaro a todos os que ouvem as palavras
da profecia deste livro: Se alguém lhe acrescentar algo, Deus
lhe acrescentará as pragas descritas neste livro.”

Isso é obra daqueles que precisam acrescentar as


Escritura para poderem validar suas experiências espirituais
falsas, mas lembre que somente um pouco de fermento levada
toda a massa, ainda que o fermento não passe de um mero
artigo. Que tragédia! Grudem e Carson tiveram um sonho que
os fez acordar chorando? Tiveram eles arrepios e ouviram
vozes internas? O que eles decidem fazer? Decidem usar suas
influências e doutorados para construir uma teologia que
justifique suas experiências e misticismo, sem é claro, afetar
seu grupo de amigos em teologia. Que maldade com a igreja!

Passada a minha divagação momentânea, vou lhe dar


um exemplo elucidador sobre o objeto citado, o espelho, e
como é sobre ele que Paulo está falando ao dizer “então
veremos face a face”. Vejamos o que isso significa.

Se você for no seu banheiro nesse exato momento e se


olhar no espelho (espelho é o objeto de Paulo no versículo), se
você olhar fixamente para o seu espelho, o que acontecerá?
Será que no momento que você olhar para o seu espelho em seu
banheiro, aparecerá diante da sua face JESUS CRISTO? Será?
O que acontece quando você se olha para um espelho? Ele olha
de volta para você. Você fica “face a face” consigo mesmo. E
isso é simplesmente o ÓBVIO!

84
Quando você se olha num espelho, você não fica face a
face com Jesus Cristo querido leitor, como os carismáticos
tentam inserir nesse texto, para argumentar sobre uma cessação
de dons futuros e escatológicos, antes VOCÊ VÊ A SUA
PRÓPRIA FACE A FACE.

Nisto, por ser o assunto de Paulo inicialmente um


espelho turvo de aço bronzeado, quando ele profere esse: “mas
então veremos”, ele está a falar de um espelho que em
comparação com o anterior é mais perfeito, ele fala sobre um
que é mais nítido para se ver. E para ver como? Para se
conseguir se ver Face a Face NITIDAMENTE.

Temos então na expressão “face a face” o sentido de


conseguir se enxergar em um espelho nítido e sem
OBSCURIDADE. Veja como fica simples de se entender:
“Porque nesse exato momento temos essas coisas como se
olhássemos um espelho embaçado e escurecido, mas então virá
um momento em que teremos um espelho límpido e perfeito,
que permitirá que nos vejamos cara a cara”! Ficou mais nítido
agora?

Se aplicado essa comparativo ao contexto de revelação


termos como Paulo dizendo o seguinte também, parafraseando:
“Nesse exato momento temos um conhecimento não muito
nítido do todo, um conhecimento parcialmente escurecido, mas
chegará um novo momento no qual teremos tão patente e nítido
diante de nós o todo das doutrinas, que será como se
olhássemos nosso exato reflexo com nitidez”.

No versículo seguinte Paulo vai dar sequência a esse


mesmo entendimento, usando de algo que ele já está fazendo
desde o início, a repetição didática. Vejamos.

85
Agora conheço em parte – Novamente ele lança esse “agora”,
para mostrar um posicionamento de tempo, significando a
mesma coisa: “neste exato momento” (árti).

“Agora conheço”, Paulo aqui se usa como exemplo na


comparação com o espelho, na expressão “[eu] conheço”, e
preste atenção, esse “conheço” do apóstolo não se refere a um
conhecimento de sabedoria ou de entendimento, mas de um
conhecimento “visual”, no sentido de se revelar algo, conhecer
algo, no caso aqui, o próprio rosto no espelho, trazendo a essa
palavra “conhecer” no contexto de espelho, o mesmo sentido da
palavra “vemos agora” citada anteriormente. Esse
conhecimento de “agora conheço”, é um conhecimento
“visual”, e é similar ao que dizemos no dia a dia: “conheço
fulano de vista”.

Facilitando, se você ler de novo o versículo, vai


perceber a repetição igualitária: “porque agora vemos como
um espelho em enigma…”, e depois, “agora conheço em
parte…”, a palavra anterior nos dois casos é a mesma: “agora”,
indicando, principalmente por causa do estilo judaico repetitivo
e paulino de escrever, que Paulo está falando ainda do espelho
sem fugir do assunto, ele está apenas se repetindo.

E um ponto muito interessante aqui é que o equivalente


para o “em parte” da segunda oração, nada mais é do que o “em
enigma” da primeira oração, leia a cima de novo. Provando-nos
assim, que o espelho turvo que Paulo cita está conectado as
profecias, as línguas e a ciência revelacional do verso 8, 9 e 10,
sendo mais exatamente elas o espelho, assim como o menino,
de uma forma alegórica, para se falar desses três pilares
revelacionais do verso 8.

86
Repito, o equivalente que ele usa aqui para espelho
turvo é a expressão que ele tinha usado lá em cima para os dons
de profecia, línguas e ciência revelacional (“em parte
conhecemos” e “em parte profetizamos”), ele diz aqui: “em
enigma”, e em seguida “em parte”, exemplificando a
mesmíssima coisa, e com as mesmas expressões sendo
repetidas, as quais têm como intenção a alusão à incompletude
da revelação e a transitoriedade dos dons que eram “turvos” por
serem “em parte”.

Mas então conhecerei como também sou conhecido – E


temos mais um, “mas” paulino, perceba que não é aqui nenhum
tipo de “coincidência”, ele está cortando fluxos. Paulo joga
uma máxima e depois a cortar. Ele traz a mente algo que era
real, e depois afirma que esse tal ia passar.

E Paulo já tendo dito sobre a parte “incompleta”, o “em


parte”, comparando um espelho turvo em primeiro ao que eles
tinham “agora vemos”, e que um espelho nítido viria
posteriormente “então veremos”, ele dá então sequência a parte
final das suas duas ilustrações com respeito ao Cessacionismo
aqui.

Se percebermos bem, Paulo está usando um jogo de


retirada e estabelecimento. Ele pega a realidade daquele
momento a estabelece como real e verdadeira, mas de pronto
quebra essa realidade usando os seus, “mas”, e em seguida,
após retirar o primeiro princípio, ele estabelece o segundo, e
mostra que esse último que sim, irá permanecer.

Vou facilitar com esses exemplos estruturais abaixo:

87
O versículo 12: “1-Porque agora vemos por espelho em
enigma/ 2-Mas então veremos face a face/3-Agora conheço em
parte/ 4-Mas então conhecerei como também sou conhecido”

Agora perceba o paralelismo de assunto:

“1- Porque agora vemos por espelho em enigma = 3- Agora


conheço em parte”.

“2- Mas então veremos face a face = 4- Mas então conhecerei


como também sou conhecido”.

A repetição do mesmo ensino aqui é nítida.

“Face a face = Como também sou conhecido (nitidamente)”

Entende? É a mesma coisa, em repetição. Paulo está


falando de um “conhecimento visual”, guarde isso, um
conhecimento que é proveniente de espelhos.

Temos então nas palavras de Paulo um espelho turvo


que gera um conhecimento parcial, e em seguida um espelho
nítido que gerará um conhecimento nítido e completo daquele
que o olha, e isso para ensinar que os dons na era apostólica
eram como um espelho turvo no que competia a unidade
doutrinária total da fé, mas chegaria um momento que o todo
do conhecimento a respeito de Deus ficaria sem enigmas e sem
obscuridade, podendo então se ter uma imagem nítida de quem
Deus é, e quais são as Suas obras completamente.

Porém, com isso, no Cessacionismo, não ensinamos que


podemos conhecer o todo infinito e eterno de Deus
exaustivamente na bíblia. Ele é infinito, mas que sim, pelas

88
Escrituras Completadas, podemos O conhecer sem
sombra de dúvidas (sem obscuridade alguma).

Logo, quando Paulo diz: “mas então conhecerei como


também sou conhecido”, isso está em paralelo com o dito
anterior: “veremos face a face”, e assim, esse “conhecerei” de
Paulo é um conhecer a respeito de sua própria aparência, e não
a respeito de um conhecimento divino.

É um conhecer de sua própria feição. E por que Hugo?


Porque Paulo está exemplificando com espelhos querido leitor.
Entenda, Paulo não está falando de onisciência divina com
respeito a conhecer os Homens, ou seja, “Deus me conhece e
me sonda”, Paulo está falando sobre o refletir de sua aparência
em um espelho. Paulo em um ideal espelho sem enigmas,
conheceria a si mesmo claramente.

Vou simplificar. Se você vivesse na época do apóstolo


Paulo, seu acesso a espelhos seria mínimo, e se tivesse como
ter algum espelho, ele seria de aço bronzeado e muito
embaçado. Agora pense comigo querido leitor, digamos que
você encontrasse o Apóstolo Paulo na rua ou em uma praça
pregando, e você pudesse o enxergar, o ver, e conhecer
pessoalmente o rosto dele. Você conheceria veria com seus
olhos um rosto turvo ou nítido? Pense, você olharia direto para
o rosto do apóstolo Paulo na rua, como estaria o rosto dele?
Embaçado? Certamente que não.

Paulo, como todo ser humano, não podia ver, conhecer


ou enxergar o próprio rosto sem auxílio. Você mesmo nunca
viu o seu próprio rosto sem o auxílio de algum objeto. Se você
perceber, todos que te conhecessem conseguem reconhecer
visualmente a sua face, mas você mesmo (a) nunca a viu por si
só e nem conhece a ver. Sim, você nunca viu o seu próprio

89
rosto sem auxílios, você precisa de algo para o ver. E o que nós
usamos? O que nós e as pessoas da época de Paulo usavam?
Eles usavam ESPELHOS, é óbvio! Mas a diferença dos
espelhos deles para os nossos se encontra em uma coisa apenas:
na nitidez.

Logo, voltando ao exemplo de encontrar Paulo


pessoalmente, você e as pessoas que o encontrasse naquela
época, poderiam conhecer o rosto do apóstolo visualmente ao
vê-lo, porque o veriam a olho nu, mas Paulo mesmo não
conseguia se ver e se enxergar nitidamente, pois o acesso de
Paulo à espelhos realistas como os nossos de hoje, era
nenhuma, podemos afirmar.

Então, quando Paulo diz: “mas então conhecerei como


também sou conhecido”, ele está falando que quando tivesse
em sua disponibilidade um espelho mais nítido, PAULO
MESMO conheceria a sua própria aparência, como também
ela era conhecida pelos outros, que a enxergavam e a
olhavam diretamente. E é a isso que Paulo compara ao ter a
revelação em estado completo e perfeito (a bíblia).

Vou parafrasear completamente para você: “Porque


nesse exato momento nós vemos o todo do conhecimento
revelacional como que sendo um espelho obscuro e turvo, cheio
de enigmas e lacunas, mas chegará um momento que teremos a
revelação nítida e completa, como um espelho realista que
reflete as coisas como elas realmente são, sem sombras. Neste
momento, ainda, conhecemos o todo da revelação como sendo
uma imagem incompleta, mas então eu a conheceremos tão
completa, que será como enxergar meu rosto perfeitamente, da
mesma forma como as pessoas me veem e sou conhecido no
dia a dia.”

90
Reitero, que Paulo ao falar “conhecerei como também
sou conhecido”, significa: como também sou conhecido pelos
outros, e não como também sou conhecido por Deus. Isso
que lhes estou ensinando.

E isso é um conhecimento visual, que não tem a ver


com o conhecimento divino do apóstolo, pois Paulo está
exemplificando o seu ensino por meio do objeto espelho, que
tem a função de gerar conhecimento de quem o olha, e por
causa da baixa qualidade dos espelhos de seu tempo, a
possibilidade de se conhecer visualmente e ver o próprio rosto
como as pessoas conseguiam o ver claramente, ainda não era
uma possibilidade.

Agora levanto o questionamento novamente: o que isso


tem a ver com Jesus pessoalmente na eternidade? Com
futurismo escatológico? Ou com a perfeição da Segunda Pessoa
da Trindade? Nada! Os apóstolos por conta da promessa do
Senhor de que eles seriam guiados “em toda a verdade” (João
16:13), tinham sim em mente uma completude de revelação.
Pedro mesmo afirma ser as cartas de Paulo “Escrituras” (2
Pedro 3:16), por exemplo.

E em vista disso, aonde está Jesus nesse texto? Sério


queridos, não tem nada sendo referido aqui ao Senhor em lugar
nenhum. Tentar colocar um mar de informações escatológicas,
que os carismáticos insistem em tentar fazer, é como tentar
colocar um elefante dentro de um Kitnet de 20m2. Ele não cabe
ali. Assim também, não cabe ao texto, tais afirmações
pentecostais/carismáticas de que o “Teleios” é Jesus, e que a
expressão “verei face a face” significa “verei a Jesus”, e não
“verei a mim mesmo nitidamente em UM ESPELHO”.

91
E eu realmente duvido que os defensores de tais visões
pentecostais desse texto, conseguiriam explicar o que nele é
dito, fazendo a exegese exaustiva e expositiva dos versículos,
centímetro por centímetro, passando por cada palavra como
estamos fazendo até aqui, comparando a teologia com teologia,
texto com texto. Parte com parte.

A verdade é que os pentecostais só repetem as


fraseologias de pessoas que nem sabem realmente o que estão
falando. “O Perfeito é Jesus”; “Face a Face, é minha face com a
face de Jesus na eternidade”; “Os dons cessam com o retorno
escatológico de Cristo”. Pode ser emocionante para alguns,
bonito, glorioso, mas o TEXTO MESMO não ensina nada
disso em lugar nenhum, e essa é a minha maior tranquilidade
exegética, pois uma coisa é eu contra argumentar a respeito de
algum texto que apresente uma ideia dúbia, mas nesse caso
aqui, a minha apologética é contra algo que o texto nem se quer
fala ou indica.

E se você sentar com algum carismático para fazer um


trabalho teológico nesse texto, sem deixá-lo fugir, e pedir para
que ele explique cada palavra e cada versículo de 1 Coríntios
13, mais especificamente do 8 ao 13, como eu estou fazendo
com você, o que ele realmente fará? Ele fugirá da
responsabilidade de lidar com o que o texto realmente diz, e
tentará aplicar exegeses externas ao texto. Depois disso, o que
todo carismático faz? Eles apelaram à outras regras de fé para
se justificar, o que só evidenciará que no continuísmo, assim
como é no arminianismo também, a bíblia puro não é suficiente
e nem é a única regra absoluta para a fé, mas precisa-se ser
sempre a bíblia mais alguma coisa, e no caso deles, mais as
suas experiências paranormais.

92
Por isso eu digo: Cessacionismo é credulidade, e não
incredulidade. Sim, Cessacionismo é fé no lugar certo, nas
Escrituras, no texto bíblico como ele o é.

Enquanto o continuísmo é baseado em volições de


homens experimentalistas que querem justificar suas vidas e
experiências esotéricas, como suas formas místicas de crença
por meio da adulteração do sentido do texto bíblico,
acrescentando ao puro trigo das Escrituras seu imundo
fermento pessoal e diabólico. “É assim que Deus disse...”
(Gênesis 3:1)

A ordem sistemática da fé dos carismáticos é: eu vivo


uma experiência extra bíblica, e depois vou à bíblia achar uma
passagem que justifique meu experimentalismo vivido.
Enquanto que no cessacionismo a ordem é: vemos nas
Escrituras como devemos nos guiar para vida e piedade cristã, e
assim nos conduzimos, rejeitando toda e qualquer experiência e
doutrina que às Escrituras não se sujeitem e sejam por elas
confirmada como verdadeira e como norma para a vida cristã
real; e rejeitamos a falsa doutrina, ainda que ela nos seja
conferida por um anjo vindo do céu em uma marcante
experiência espiritual!

Ratifico por fim que, por causa do texto de 1 Coríntios


13 e por causa de outros textos que ainda vou expor a vocês, o
continuísmo é completamente insustentável biblicamente.
Como também que o apóstolo do Cessacionismo, neste texto de
1 Coríntios 13, afirma como vimos, o Cessacionismo
categoricamente, quando diz: “O amor jamais acaba, mas
havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas,
cessarão; havendo ciência, desaparecerá” (1 Coríntios 13:8).

93
Nisso cremos! Rejeitando toda falsa doutrina que se
baseia em imaginação doutrinal, como rejeitamos toda doutrina
que se quer justificar por meio da experiência pessoal,
permanecendo nós somente como guia de nossa fé a Escritura
Sagrada, completada e já perfeita.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor,


estes três, mas o maior destes é o amor – O que eu vou dizer
agora talvez mude para sempre a sua forma de ver esse
versículo. Os carismáticos futuristas sempre ensinaram a nossa
geração o seguinte sobre esse último versículo: que na
eternidade, no futuro, quando todas as promessas de Deus se
cumprirem, então lá, nos céus, irão permanecer a fé, a esperança
e o amor, mas o maior lá será o amor. Familiar esse argumento?
Não duvido.

Mas em que esse futurismo tem a ver com esse texto?


Em nada novamente. E por que não Hugo? Porque NÃO HÁ
FUTURO NA PALAVRA “AGORA”, nos é dito: “agora, pois,
permanecem…” Como pode ser futurístico, algo que Paulo diz:
“agora” (árti), “agora, pois, permanecem…”? Graças a Deus
pelas Escrituras!

Mas veja, como podemos queridos tão facilmente


aceitar o que os carismáticos nos ensinam, sem que isso tenha
algum sentido no texto? Como podemos inventar a partir de
nossa imaginação caída o que Deus está ou não nos falando em
um texto?

Porém, vamos lá, vou te mostrar, com a graça de Deus,


o que Paulo realmente fala nesse versículo, pelo texto e pelo
seu contexto.

Paulo começa o versículo estabelecendo o tempo do seu


dito. Ele fala “AGORA” (no grego nyní/νυνί), ou seja, “nesse
94
exato momento”, com mesmo sentido de “árti”, usado
anteriormente. E Paulo o usa assim para indicar a questão dos
tempos e modos. Embora ele estivesse ensinando o
Cessacionismo aos crentes de coríntios já naquele momento,
ele estabelece que até que o perfeito (teleion) chegasse, os dons
ainda seriam permanentes como vimos, estabelecendo então
que os crentes para operarem os dons que ainda continuavam
naquele momento, deveriam o fazer com: fé, esperança e amor.

Pense comigo, se Paulo informou anteriormente aos


coríntios que viria uma revelação completa e perfeita, que
acabaria com a realidade e necessidade dos dons no culto, o que
se gera então em relação a isso? Certamente esse
questionamento: “como então cultuaremos até a chegada do
perfeito? ” E a resposta é simples: com “fé, esperança e amor”.
Por isso que Paulo diz mais à frente para não ser proibido os
dons. Eles eram necessários, mas só se aproveitariam com fé,
com esperança e com amor.

Percebe? Essas coisas não estão desconectadas dos


versos anteriores, Paulo continua falando sobre os dons, ele vai
dar até sequência no capítulo 14 sobre o mesmo assunto, dons.
Lembra no capítulo 12 quando Paulo estava falando dos dons, e
então emendou em falar do amor? Ele disse: “ainda que eu
tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e
toda ciência, sem amor, nada seria” (1 Co 13:2). Aqui no 13,
Paulo começou o capítulo falando que para se operar os dons
no culto, o mais importante era o amor, e ele termina o texto
falando o que? A mesma coisa. Por isso o: “agora, pois,
permanecem”!

Paulo não está sendo futurístico, ele está afirmando que


até a chegada do perfeito, os dons seriam uma realidade
operante, mas eles deveriam ser operados por meio da fé, da

95
esperança e do amor, mas principalmente visando o amor,
coletivamente.

Por isso Paulo no verso seguinte a este diz: “Segui o


amor (o tenham como bússola), e procurai [operar] com zelo
os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar” (1
Coríntios 14:1).

Entende? O que você acha que os coríntios deveriam


fazer até a chegada do perfeito? Proibir a operação dos dons já
que as Escrituras completas estavam já chegando? De modo
nenhum! Pois as Escrituras, o perfeito, só chegaria na
medida que os dons continuassem em operação, por isso
Paulo diz ao final do assunto dons nessa epístola: “Portanto,
irmãos, procurai [operar], com zelo, [o] profetizar, e não
proibais o falar em línguas” (1 Coríntios 14:39), mas tudo isso,
ele salienta aqui no verso 13, com fé, com esperança e com
amor. Paulo ao falar de fé, esperança e amor, ele está se
referindo a utilização cúltica dos dons, e não sobre um futuro
na eternidade.

Vou parafrasear novamente, agora no verso 13, porque


sim: “Neste exato momento, a completude da revelação não é
uma realidade, mas nos sãos reais os dons, entretanto estes
devem ser operados para com a igreja, com fé, com esperança e
principalmente com o amor, enquanto o completo ainda não
nos chegou” O amor em especial, já desde o primeiro verso do
capítulo, foi estabelecido como norma carismática de operação.

Assim, como Paulo começou o texto falando do amor


como regra operacional, ele ao final coloca a cereja no topo do
bolo, estabelecendo que sim, até a chegada do conhecimento
perfeito, o amor seria a bússola dos dons.

96
E isso, só nos confirma que o apóstolo continua falando
sobre o mesmo assunto do princípio do capítulo já aqui no
final, o qual é: a necessidade de se operar os dons espirituais
com amor, até que estes sejam aniquilados finalmente. Fixa-se
então aos coríntios esta regra: no trato cristão dos dons para
com a igreja, o mais importante é o amor.

Eu, Hugo, tenho aversão à especulação teológica


opinativa, ainda mais quando vem cheia de pretextos, o famoso
“eu acho isso ou eu acho aquilo. “Na minha opinião é assim, ou
na minha opinião é assado”. Eu, Hugo, foco no texto, no
contexto, no grego, e na síntese do que está sendo dito no seu
sentido e na intenção.

E dessa forma, eu chego a inevitável conclusão de que o


que Paulo está falando aos coríntios ao citar fé, esperança e
amor aqui, é o seguinte: Que para a igreja de Corinto (naquele
momento específico), o “agora”, em que os dons revelacionais
eram reais e operacionais, o caminho que eles deveriam trilhar
na operação dos dons era o do amor coletivo, como Paulo
exemplificou nos versículos 1,2 e 3 do início do capítulo 13, e
no qual assunto estou sendo bem prolixo e que ele atinge o
ápice no verso 13.

O Amor naquele momento era o tempero dos dons, e ele


é dito como o principal nisso, pois é ele que “nunca acaba” (1
Coríntios 13:8), ou seja, aquilo que possui característica
permanente na Igreja.

Já com fé, visto que creio que o assunto aqui nunca foi a
fé salvífica, de maneira nenhuma, mas sim a fé citada no início
do capítulo: “ainda que tivesse toda fé de maneira tal que
transportasse os montes de lugar”.

97
Sendo assim então, essa fé aqui é a que tem relação com
os dons, a chamada fé operacional, aquela que Paulo no
capítulo 12 chama de dom também (verso 9), e que faz com
que os dons e sinais miraculosos aconteçam segundo as
promessas, como o Senhor Jesus disse: “Esses sinais seguirão
aos que crerem [ou creem] (fé operacional) ” (Marcos 16:17),
Percebe?

A fé aqui não é a mesma fé da justificação pela fé


somente, mas sim a fé que está linkada aos dons, e chamada por
Paulo de dom também, dom que aqueles que operavam os dons
espetaculares tinham e precisavam para os operar.

Entendido isso, a fé que naquele momento, no “agora”,


permanecia, era a fé que operava os dons extraordinários, e que
possuía o aval de continuar operando, como já vimos Paulo
salientar, “Não proibais o falar em línguas”. Essa fé era muito
importante para fazer distinção do verdadeiro dom com o falso
dom, pois mediante tal dom da fé, os milagres, curas e toda
sorte de dons, verdadeiramente aconteciam. Não operavam
dons quem quisesse operá-los, mas sim que podia opera-los,
aquele que tinham essa fé. E ela permaneceria.

E por fim é dito, “esperança”, e por estar no mesmo


capítulo, e por não ter citação específica da palavra “esperança”
no texto, a não ser no começo: “tudo espera, tudo suporta”, eu
venho a crer que “esperança” aqui diz respeito à promessa e
predição de Paulo da vinda do “perfeito”, do teleion da
revelação, mostrando que naquele momento, no “agora” de
Paulo, a “esperança” era necessária em relação a completude da
revelação que viria, e que aniquilaria os dons que causavam
tanta confusão por serem mal usados.

98
Essa promessa de vinda do “perfeito”, se torna então
uma “esperança” resolutiva ao caos carismático que estava
ocorrendo na igreja dos coríntios.

E, na bíblia, “esperança” sempre é umbilicalmente


unida a alguma promessa, logo, estando Paulo ainda falando de
pneumatologia e de repente ele insere a palavra “esperança”,
pelo contexto, tendo ele acabado de proferir uma promessa,
creio então que devemos olhar para essa promessa que Paulo
fez alguns versículos atrás no texto, e encontrando-a no
versículo 10, concluímos, pelo contexto, que essa esperança
que os coríntios “agora” deveriam ter, é a que diz respeito à
vinda do conhecimento completo da revelação que aniquila os
dons, e por consequência, sem dúvidas, aniquila as coisas
incompletas e toda confusão daquela igreja também, por isso
“esperança”.

Você realmente acha que eu não vou parafrasear de


novo? Vou sim, verso 13: “Neste nosso presente momento,
permanece conosco na operação dos dons revelacionais na
igreja, a fé, que é necessária para fazer os dons operarem, por
causa da natureza indispensável deles no momento; a esperança
de que a nós chegará a promessa de uma revelação perfeita e
final, que lançará luz a todas as partes escuras do nosso
conhecimento; e o amor que nunca acaba, pois esse será sempre
necessário no trato da igreja, mesmo depois que alguns dons
não continuarem mais. O maior desde, porém, pois depois que
a fé operacional não for mais necessária, e depois que a
esperança de uma revelação perfeita se cumprir, será o amor
que irá permanecer como o vínculo da perfeição”. Consegue
perceber como faz total sentido assim, quando não isolamos
esse versículo do seu contexto?

99
Ouça agora essa sinfonia nas próprias palavras do
apóstolo Paulo, leia pausadamente e devagar: “O amor nunca
acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo
línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em
parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier
o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como
menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser
homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos
por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora
conheço em parte, mas então conhecerei como também sou
conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o
amor, estes três, mas o maior destes é o amor” ( 1 Coríntios
13:8-13).

Percebeu a cosmovisão correta e cessacionista desse


texto agora? Espero que sim, e espero ter lhe ajudado nesse
texto até aqui. Há um outro texto, o de Efésios 4 no qual Paulo
indica a mesma coisa que está afirmando aqui, e lá também a
mente do apóstolo já tinha em vista um fim canônico do Novo
Testamento ao utilizar a expressão “unidade da fé”, mas isso
deixo para um outro momento, pois minha intenção aqui é te
apresentar um material introdutório a Cosmovisão
Cessacionista em 1 Coríntios 13. Um material que te deixe em
um estado que você não seja mais a mesma pessoa desde que
começou esta leitura, e fora Efésios 4, há outras dezenas de
textos que iremos analisar cansativamente nos meus outros
materiais que serão publicados, mas já creio que você não está
mais alienado (a) ao assunto, se for o caso.

Um ponto importante, para você não achar que eu estou


com preguiça de expor os outros textos nesse material
introdutório (rs), é o fato de que existem 20 dons diferentes no
Novo Testamento, para cada um separadamente existem textos
100
e estruturas bíblicas específicas de continuidade e
descontinuidade, visando suas características e funções
transitórias, que nos mostram que alguns já cessaram por já
terem cumprido os seus objetivos, enquanto outros continuam
normalmente na igreja e na história após a era apostólica, como
dom de pastor, o de ensino e o de exortação, por exemplo. Mas
até o final desse livro vou te entregar muitas coisas, confie.

Entretanto, deixo-vos esse texto de 1 coríntios 13


MUITO MASTIGADO, como um sanador para o pedido
clamante de base bíblica para o Cessacionismo, claro que aqui,
de forma pontual, mas também bastante exaustiva e prolixa.

Guarde isso, para cada dom específico do Novo


Testamento temos bases bíblicas específicas, para podermos
dizer pelas características e funções de cada dom, se os tais
continuam hoje ou não, e isso tudo a partir do texto bíblico
apenas, sem tradição, sem relatos históricos, sem experiências
pessoais de terceiros ou subjetivas. E eu Hugo uso somente as
Escrituras para estabelecer meus pontos nisso.

Nessa estrutura, temos bases bíblicas de sobra para o


Cessacionismo além de 1 Coríntios 13, e pasmem, bases
verdadeiras. Enquanto o continuísmo é só esoterismo
experimentalista mesmo. Ou será que existe base bíblica para o
continuísmo de todos os dons? Já sabemos agora que aqui em 1
coríntios 13 tem em lugar nenhum, literalmente.

Agora que você já entendeu, o essencial e indispensável


pano de fundo apostólico para o Cessacionismo, vamos a
algumas outras partes dessa tão bela, bíblica e libertadora
cosmovisão doutrinária que é o Cessacionismo, para que, assim
como já creio que você esteja sendo edificado (a) e confirmado
(a) na pneumatologia bíblica e verdadeira da Igreja de Cristo,

101
você seja ainda mais, conforme vamos divagando pelos
capítulos restantes desse livro.

102
O CESSACIONISMO NÃO CRÊ NA
ANIQUILAÇÃO DE TODOS OS DONS DO
ESPÍRITO SANTO

Uma dúvida por demais recorrente, e creio que ela


exista por causa da difamação pentecostal, é a que diz respeito
ao fato de que nós cessacionistas “cremos”, dizem os
caluniadores, na cessação de todos os dons apresentados nas
Escrituras, mas, estabeleço desde já, que isso é uma grande e
falaciosa mentira, a qual nem sentido faz, como brevemente já
indiquei anteriormente.

O cessacionismo não afirma a cessação de todos os


dons espirituais. O que afirmamos é que alguns dons
cessaram, sim, que SOMENTE ALGUNS DONS
CESSARAM, e não que todos cessaram. E isso se dá pelo
mesmo princípio tratado acima, a chegada do “teleios”, que
hoje decidimos chamar de BÍBLIA.

Basicamente o entendimento é o seguinte: com a vinda


da completude da revelação, a qual foi gerada por meio de
alguns dons, a necessidade de perpetuação destes dons que
foram o canal para tal formação Escriturística, simplesmente
cessa-se, pois, uma vez que o menino se torna homem, este
deixa as coisas de menino. E uma vez que o espelho turvo se
torna nítido, o mais turvo perde a sua utilidade. E desta mesma
forma, assim que é chegada a revelação completa, os meios de
construção destas revelações se tornam desnecessários.

Pense na construção de uma casa, durante a obra objetos


como carrinho de mão, desempenadeira, prumo, colher de
pedreiro e etc, são totalmente indispensáveis, mas uma vez que

103
a casa chega a sua finalização, qual é a real necessidade dessas
ferramentas? Nenhuma mais.

Algo que sempre torno a dizer para aqueles que


aprendem Cessacionismo comigo é: a bíblia não caiu de um pé
de manga, não foi achada dentro de um asteroide, igual o
relógio do Ben 10, e nem tampouco foi achada por algum
“Joseph Smith” da vida, em barras de ouros enterradas no chão
por aí.

A bíblia é um livro gerado por meios, os quais meios


foram os dons espirituais, os dons imanentes, os quais em
potência “residiam” nos homens de Deus e serviam como canal
da imanência divina revelacional.

Ou seja, Deus quis se revelar, então ele usou vias para


isso, as quais foram os homens dotados de dons do Espírito
Santo, como Deus mesmo diz a esse respeito: “Certamente o
Senhor DEUS não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu
segredo aos seus servos, os profetas. ” (Amós 3:7).

Ora, se toda imanência divina chamada de “revelação”,


possui uma intermediação profética (intermediação de dons)
como está acima citado, a bíblia então, que é a totalidade da
Palavra de Deus, é a plenitude da intermediação carismática,
digo, a bíblia é toda construída por meio dos dons
revelacionais/espirituais, e por conseguinte, admitir a
continuidade dos dons que Deus usou para formar as Escrituras
hoje, é admitir inevitavelmente a continuação da revelação
canônica, e por conseguinte, isso acrescentará insuficiência
para os 66 livros da bíblia que já possuímos.

Se analisarmos a história da formação canônica,


veremos sempre a intermediação dos dons para a formação da

104
Bíblia, inevitavelmente. Começando com os 10 mandamentos
escritos por Deus em pedra, passando por Moisés, que foi o
ápice profético do Antigo Testamento, e que trouxe da parte de
Deus as primeiras Escrituras em forma escrita. Lembrando que
durante a peregrinação no deserto, Moisés começou por meio
de revelação, a escrever o Pentateuco, como o conhecemos
hoje, pois, Moisés não poderia jamais escrever Gênesis por
exemplo, sem antes possuir em si um dom de revelação, para
que então ele recebesse de Deus informações ocultas e inéditas,
como diz o Apóstolo Pedro, “Sabendo primeiramente isto: que
nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. ”
(2 Pedro 1:20).

Depois do Pentateuco, homens dotados de inspiração


divina por meio dos dons espirituais, de igual forma, revelaram
os livros históricos, poéticos, os profetas maiores e profeta
menores.

Se julgamos que eles não falaram a partir de seus


próprios corações, cremos então inevitavelmente, que sem os
dons espirituais não haveria o Antigo testamento de nenhuma
maneira. Entende? Não há para onde fugir, precisamos admitir
que a operação de dons espirituais é o que trouxe a luz a
revelação, ou então teremos que confessar que as Escrituras são
escritos meramente humanos.

Da mesma forma, e avançando um pouco, agora com a


ajuda dos Apóstolos e profetas, temos também por inspiração
carismática os quatro evangelhos sendo escritos, o livro de
Atos, as epístolas paulinas, que Pedro chama em sua carta de
“Escrituras” (2 Pedro 3:16) como também as epístolas gerais e
o Apocalipse (revelação).

105
Todos estes formados não por mera opinião humana,
mas sim, livros formados por meio de inspirações divinas,
pelos dons, as quais coisas Paulo chama de: “fundamento dos
apóstolos e profetas” (Efésios 2: 20)

Uma vez que entendemos que a bíblia foi formada por


meio de inspiração divina, e que tal inspiração é proveniente
dos dons, principalmente o dom de profecia e apostolado,
aqueles dons que no Novo Testamento aparecem tendo como
característica a função revelacional, uma vez atingida a
plenitude da revelação nos 66 livros do cânon,
instantaneamente, estes dons perdem suas utilidades e cessam
perpetuamente, pois seus objetivos já foram atingidos e
cumpridos.

Pense, como poderiam hoje existir apóstolos sem que os


tais possuíssem capacidade de escrever e falar de forma
inspirada? (1 Tessalonicenses 2:13) Como poderíamos ter hoje
profetas que falam da parte de Deus, sem que isso seja algo
além do que já está escrito nas Escrituras? E quanto as
profecias chamadas “locais”, não importa se é profecia com um
conteúdo “igual” ao que já foi revelado, pois os evangelhos são
iguais em muitas partes, mas nem por isso são eliminadas as
partes iguais e deixadas as diferentes como palavra de Deus,
antes, são todas Escrituras Sagradas mesmo que se encontrem
em repetição de assunto.

Todo e qualquer pentecostal tem que admitir que uma


vez que eles creem em profecias hoje, ainda que não haja para
isso base bíblica alguma, eles tratam em suas igrejas tais
palavras “proféticas” sempre como palavras oriundas de Deus
mesmo, ou seja, quando em suas igrejas alguém se levanta e
começa a profetizar ou falar em línguas, os pentecostais
consideram que é Deus falando para eles literalmente por meio

106
daquela pessoa, desta forma, a Bíblia não se faz mais como
suficiente, e se é Deus falando em profecia, tais palavras
proferidas ao ar são tão autoritativas para a igreja quanto a
própria bíblia o deve ser, pois, é Deus falando absolutamente,
segundo eles.

E uma outra proposta, por que os pentecostais não


registram as profecias de suas igrejas locais em papel, e
começam a consideralas como canônicas também? Se o
apóstolo Alfeu tivesse alguma de suas pregações dos
Evangelho ou alguma profecia registrada, não seria está hoje
para nós canônica? Não são as profecias de Ágabo, de toda
forma, canônicas por conta do conteúdo e por conta do registro
em Atos dos apóstolos? Diante dessas verdades não fica
ninguém para contar história.

Pense agora sobre as tão repetidas línguas estranhas.


Como poderíamos hoje ter dons de idiomas estrangeiros, se os
tais quando traduzidos eram equivalentes às profecias? É como
Pedro fala em Atos 2, as línguas estrangeiras eram igualmente
profecias (atos 2:18). Se alguém fala em línguas e outro traduz,
o que é que está sendo traduzido a não ser a própria palavra de
Deus, para que haja edificação (1 Coríntios 14:26-27)?

Se os dons que são “Deus falando”, ou seja, os que são


revelacionais, continuam hoje, e a bíblia afirma que os tais
traziam edificação, os carismáticos precisam admitir que temos
então além da bíblia um outro meio de edificar a noiva de
Cristo!

A bíblia e mais alguma coisa, novamente, se torna


inevitável, e com essas verdades ninguém parece querer lidar.
Mais uma vez a bíblia não é suficiente para edificação sozinha,

107
e aonde os dons revelacionais “continuam” a bíblia não é
autoridade exclusiva.

A estrutura de divisão:

Muitos ainda pensam que no cessacionismo se afirma


que TODOS os dons espirituais cessaram como salientei, e isso
é uma grande falácia enredada pelos carismáticos para nos
difamar mediantes os irmãos mais simples.

Reitero novamente, nós cessacionistas, confessamos


que apenas ALGUNS dons cessaram enquanto outros
necessariamente continuam na vida da igreja, e que estes
podem ser auditáveis.

Para melhor elucidação dessa questão, eu Hugo Badini,


disponibilizo agora para vocês a minha organização sistemática
do tema. A estrutura que eu criei e uso pessoalmente, com
nomenclaturas próprias, para assim organizar essa questão
doutrinariamente a respeito de quais dons cessaram e quais
dons continuam hoje. Segue a estrutura:

Dons Imanentes: Esses dons são aqueles que serviram no


passado para a intermediação da imanência informacional
divina e que em relação a hoje já cessaram, ou seja, estes
serviram para a produção da revelação direta ou indiretamente,
trazendo assim o cânon à existência.

Esses dons possibilitaram a operação progressiva da


revelação oral e da revelação escrita, e assim, esses dons
trouxeram a lume paulatinamente os livros sagrados, até que se
chegaram eles à perfeição. E estes dons que cessaram são:

-O Dom Ministerial do Apostolado;

108
-O Dom Ministerial de Profeta;
-O Dom de Profecia, por conseguinte;
-O Dom de línguas idiomáticas;
-O Dom de Tradução/Interpretação desses idiomas, por
conseguinte;
-O Dom de Espírito de sabedoria; -
O Dom de Espírito de ciência; -O
Dom Discernimento de espíritos.

Dons Sináticos: Esses dons não produziam necessariamente


revelação, mas eles eram os responsáveis por servirem como
credenciais daqueles que traziam informações divinas.

Foram eles reais no passado na vida de Moisés, Elias,


Eliseu, do Senhor Jesus, dos 70 comissionados, dos Apóstolos
e de alguns auxiliares apostólicos.

Sendo assim, esses Dons chamados sináticos nunca


foram uma realidade para qualquer crente “comum”, por assim
dizer, que os quisesse operar, mas como podemos observar
acima eles estavam sempre relacionados a homens ministeriais,
ou seja, a cristãos que estavam em posição de serviço
ministerial específico e de liderança. E estes dons que também
cessaram são:

-O Dom de curas: cura de variadas enfermidades, lesões


e desconjunturas.

-O Dom de milagres: ressurreição de mortos; expulsão


autoritativa de demônios; maldições espontâneas; garantia de
vida mediante veneno de cobra; garantia de vida mediante
envenenamento; poderes de cura por meio de lenços; poderes
de cura mediante sombras; multiplicação de comida; abertura
de mares e rios; flutuação de peça de ferro em água;

109
desenvenenamento de comida contaminada; produções de
pragas terríveis e muitas outras variações de milagres
concernentes aos ministérios dos citados a pouco.

-O Dom da Fé operacional: o dom que fazia o operador


de curas e milagres ser diferente em arbítrio dos demais
cristãos, ele não apenas queria operar algo, mas mediante essa
fé ele podia o operar.

-O Dom de Línguas: este pode ser citado como um sinal


também, pois serviu como um juízo de ciúmes para com os
judeus. Para que eles percebessem que as boas notícias divinas,
antes exclusivas, agora estavam passando a todos os outros
povos.

Dons Subordinados: Estes dons são todos aqueles que não


possuem por objetivo produzir revelação, e tão pouco operam
de forma espetacular para validar algum ministério, ministro ou
doutrina. Basicamente esses dons espirituais dados pelo
Espírito Santo, se utilizam daquilo que os dons imanentes
produziram, ou seja, os dons subordinados se subordinam às
Escrituras para operarem, e sem elas estes não possuem
nenhuma possibilidade de atuação. São estes dons que hoje nos
dão forma a estrutura eclesiológica como a conhecemos, são
esses que produzem a teologia que temos no decurso da história
da igreja, são eles que estabelecem finalmente a forma de culto
e serviço que a Igreja deve prestar a Deus e todos eles são hoje
facilmente auditáveis. Os dons espirituais que hoje continuam
são:

-O Dom de Ensino;
-O Dom de Socorro;
-O Dom de Governo;
-O Dom de Serviço (Diácono);

110
-O Dom de Exortação/Encorajamento;
-O Dom de Contribuição;
-O Dom de Presidência (Presbíteros);
-O Dom de Misericórdia;
-O Dom Ministerial do Pastorado; -
O Dom Ministerial de Mestre;
-O Dom Ministerial de Evangelista.

E o que me chama mais atenção, é o fato que esses dons


subordinados, nós os vemos normalmente em nossas igrejas
locais, como também eles estão alastrados em toda a história da
igreja.

Estes não são dons ocultos, misteriosos, dons que


acontecem só em lugares distantes, pois na verdade os dons
sempre são “exibidos”, ou seja, quando eles operam, todos
sabem. E todos nós sabemos da realidade desses dons
subordinados em nossos meios hoje.

Infelizmente os tais são também tratados por nós como


“menos espirituais”, o que é uma mentira contra as Escrituras.
Você já deve ter conhecido um irmão que nitidamente possuía
o dom de ensina, e você ao se comparar com esse irmão, não
tendo esse mesmo dom, percebeu nitidamente que uma graça
divina foi dada ao mesmo, pois ele não poderia fazer o que faz
sem com que aquilo fosse realmente um dom e espiritual.

Enxergue, querido (a), eu sou um jovem de 24 anos,


criado em favela, sempre fui pobre e nunca tive educação boa e
de qualidade, meu português é ruim e eu até o momento nunca
pus um pé em um seminário teológico, e veja, de onde vem
essa minha capacidade de falar com você como se eu tivesse na
sua cabeça? Como se eu estivesse na sua frente? Como se eu
estivesse atingindo a usa consciência? Isso se chama dom de

111
ensino, como também o dom de exortação, os quais eu sei pelas
Escrituras e pela evidência de continuidade prática que eu
possuo e os recebi na regeneração.

Não é uma questão de QI ou de capacidade intelectual,


pois nenhuma capacidade da inteligência pode mudar algo
espiritual, ou atingir a consciência ou edificar um crente de
forma transformadora, é algo carismático em mim, é um dom.

Palestrantes, filósofos e professores de religião, no


máximo podem atingir a sua ética, mas não é assim com um
dom espiritual subordinado as Escrituras.

Agora, pede para eu curar um tetraplégico...peça para eu


abrir os olhos de um cego...pede para eu falar da parte de Deus
de forma inspirada e infalível! Quanta petulância há na prática
pentecostal! Você acha que eu Hugo consigo operar algum
sinal hoje? Eu respondo a você: de jeito nenhum! E por quê?
Primeiro porque eu não tenho esses dons, e segundo, eu não os
tenho pois eles já cessaram na era apostólica.

Não é falta de fé de minha parte, muito pelo contrário,


eu creio que possuo muito mais fé em Deus, em Seu poder e
nas Escrituras do que os pentecostais, mas isso não é uma
questão de querer, antes é uma questão de poder, é uma questão
de possuir esses dons, é uma questão de estar ou não estar hoje
sendo esses dons distribuídos, é uma questão de se estar
autorizado por Deus para os operar.

Por fim, queridos Calvinistas, não sejam ingênuos nesse


momento tão crucial da história da igreja. Pense, quais dons
imanentes e sináticos vemos continuar na história da Igreja de
Cristo? Agostinho fez algum sinal? Lutero curou alguém?
Calvino falou em línguas? Os puritanos profetizavam como

112
profetas inspirados por Deus? John Owen escreveu de forma
inerrante? George Whitefield falava de forma inspirada? Esses
homens possuem historicamente essas características de
operem maravilhas? Um silêncio reina diante dessas
perguntas…

Se os dons continuassem, como eu costumo afirmar,


eles certamente continuariam nas igrejas reformadas,
somente um Deus tolo daria poderes extraordinários a crentes
da estirpe “pentecostal”! Essa é a mais pura verdade! Por que
Deus não concedeu dons sináticos aos fariseus e saduceus? Se
os dons continuassem, indubitavelmente, eles continuariam em
igrejas reformadas, em igrejas bíblicas, e não em locais que
parecem terreiros tribalistas e que fazem o Espírito Santo
parecer um idiota.

E digo mais, alguns, ao ouvirem assim, remetem muitas


vezes suas mentes a um pentecostalismo mais “clássico”, um
que possuía menos excessos e mais ponderação, porém se
retornamos a Azusa, que é o início dessa invenção toda,
vemos que já ali, o tal “movimento espiritual clássico” era
simplesmente ridículo. Uma mulher nesse local ficou falando
por três dias somente em mandarim! E escreveu de forma
“espiritual” palavras que comparadas com o verdadeiro
mandarim parece um desenho mal feito de criança! E eles
estavam atribuindo essas coisas ao Espírito Santo.

Eu lhes estimulo, querido e querida, a pesquisar por si


mesmo (a) os “acontecimentos” desse local chamado “rua
Azusa”, e você por si mesmo (a), sem minha influência, verá
que tudo ali não passou de uma histeria coletiva que em
absolutamente nada glorificou a Cristo ou exaltou às Escrituras
como única regra de fé e prática.

113
A verdadeira obra do Espírito, como disse Jesus, é: “Ele
testificará de mim” (João 15:26), sendo assim, a verdadeira
obra do Espírito Santo é a que testifica do Cristo das Escrituras,
e faz com que Ele em tudo seja glorificado.

Sendo assim, todo movimento atribuído ao Espírito


Santo que foca na Pessoa Santa do Espírito Santo e não em
Jesus Cristo, é um movimento criado pelo diabo e seus anjos
caídos, e na Azusa foi exatamente assim.

Então que ninguém lhes engane, no Cessacionismo nós


não cremos na cessação de todos os dons espirituais, mas
somente daqueles que geravam revelação e confirmação de
revelação, e que hoje são arrogados pelos pentecostais como
continuados, o que é uma das maiores mentiras.

114
O CESSACIONISMO E O SOLA SCRIPTURA
SÃO A MESMA COISA

Quando estudamos sobre a organização do cânon depois


de concluído, acabamos nos deparando com o concílio de
Cartago que em 397 d.C. definiu as Escrituras em 66 livros
como os temos hoje.

Nós protestantes, universalmente, subscrevemos as


Escrituras em sua organização final assim: Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1
Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas, 2 Crônicas,
Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes,
Cânticos, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel,
Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

No Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João,


Atos, Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios,
Filipenses, Colossenses, 1 Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses,
1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito, Filemom, Hebreus, Tiago, 1 Pedro,
2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João, Judas e Apocalipse.

Esse é o “teleios” organizado finalmente, da forma


como conhecemos hoje, e da forma como Deus prometeu e
estabeleceu. Longe de nós pensarmos que a estrutura presente
das Escrituras deriva de mero consenso histórico conciliar dos
homens. Jamais!

Quando, como reformados, dizemos: “Sola Scriptura”,


que foi um dos brados da reforma do século XVI, os que o
usam, estão admitindo com isso que a bíblia é nossa única regra
de fé, ou seja, todo o padrão que teremos a respeito de como
115
creremos a respeito da vida e da piedade, nela se ensina
absolutamente; como também ela é nessa afirmação que
ratificamos nas Escrituras nossa única regra de prática,
afirmando assim que somente a bíblia irá nos guiar, nos
edificar, nos regrar a respeito de como agiremos ou não agir na
vida como um todo. Bradar o “Sola Scriptura” é o mesmo que
bradar que nós temos um padrão exclusivo na bíblia a respeito
da vida.

A respeito de tudo o que cremos, temos como


designador o que a bíblia diz somente, então pela bíblia, se
praticamos ou se cremos, fazemos conforme nela está
registrado, e sem sair dela, e sem a necessidade de acréscimo
de outras opiniões, pois é nela que temos a suficiência da
Palavra de Deus.

E esse entendimento na reforma foi fortíssimo por conta


das muitas autoridades de fé que havia no tempo do monge
agostiniano Martinho Lutero, as quais, chamadas de
“tradições”, norteavam a vida prática e cultual dos crentes
usando de doutrinas que muitas vezes, ainda que tradicionais,
iam em desconformidade com as Escrituras, causando assim
dois ou mais caminhos “verdadeiros” a respeito de alguma
coisa. O tão citado: “a bíblia mais alguma coisa”. Logo, quando
dizemos “Sola Scriptura”, estamos afirmando que SOMENTE
AS ESCRITURAS são para nós a regra de fé e prática
enquanto cristãos.

E agora eu gostaria de chamar a sua atenção para algo


que muitas vezes passa despercebido quando dizemos que a
bíblia é nossa única regra. Como igreja, precisamos entender o
que estamos AFIRMANDO quando dizemos que ela é a
ÚNICA regra de fé que possuímos, pois se falamos SOMENTE

116
(Tradução para Sola) em Sola Scriptura, nesse SOMENTE não
há exceções.

Se admitirmos que os dons revelacionais como: línguas


idiomáticas e profecias continuam hoje, levando em conta que
o apóstolo Paulo afirmou que estes geravam edificação (1
Coríntios 14:5) para a igreja, por serem “Deus falando”, se
admitirmos esses dons hoje, teremos que admitir que o
SOMENTE, não é tão somente assim, pois uma vez que
possuímos outra forma de edificação espiritual, no caso os
dons, a bíblia perde sua função de absoluta suficiência, e o Sola
Scriptura passa a ser Scriptura + Carismas, para ser nossa regra
de fé e prática.

Vou te dar um exemplo prático. Um carismático diante


dessas afirmações acima dirá que não é bem assim, e que na
verdade a bíblia é sim para ele a sua única regra de fé e prática
suficiente, mas como você acha, que este, procederá caso
receber uma “profecia” particular a respeito de como deverá
proceder sobre uma determinada situação?

Todos já sabemos que ele primeiramente crerá nessa tal


profecia recebida (irá tê-la como regra de fé), e em seguida
agirá conforme essa profecia que veio como forma de
orientação de vida (irá tê-la como regra de prática). E nessa
história toda, aonde ficam as Escrituras? Ficam de reserva, pois
a prioridade nesse momento como regra é o dom. Assim há
nisso duas formas de edificação no continuacionismo, as
Escrituras mais os carismas, e aquele que afirmar subscrever o
Sola Scriptura e ao mesmo tempo o continuacionismo, é em
suma, um incoerente.

Porém, nós reformados, se cremos no Sola Scriptura, e


“Sola” mesmo, temos então no cessacionismo a única razão

117
pela qual o Sola Scriptura é realmente sustentado como
verdadeiro, e ouso dizer como no título, que o cessacionismo e
o Sola Scriptura são a mesma coisa, e mais, sem o
cessacionismo não há o Sola Scriptura (vale lembrar que todos
os reformadores eram dessa doutrina), pois quando admitimos
o fim dos dons que edificavam diretamente na ausência da
Escrituras completadas, resta-nos então, para a vida, piedade e
para toda sorte de edificação Somente as Escrituras
absolutamente.

Por final, desejo inteirar algo que repetidas vezes digo,


e que você já deve ter concluído até aqui, que é: quem é
continuísta não é reformado (nesse momento se sua mente se
lança a pensar em Piper, Carson, Hernandes Dias Lopes e
outros para defender a sua posição carismática, isto é a prova
cabal de que você ainda é continuísta, porque se você usa de
qualquer autoridade, no caso esses pastores, para validar uma
doutrina, já não é a bíblia a sua única regra), pois ser
reformado não é para quem quer, nem para quem corre, mas
para os que se adequam às características históricas do termo,
nas quais, a pneumatologia cessacional é o núcleo de toda
dedicação reformada ao livro que nos foi confiado por Deus, a
bíblia.

Pois, se é admitido que somente no cânon temos Deus


revelado de forma especial e final para nos governar, ao passo
de que se ao menos quiséssemos definir como reformados
aqueles que subscrevem por exemplo os 5 Solas, os que assim
fizerem, terão de admitir que Somente as Escrituras são a nossa
norma de edificação espiritual para a igreja hoje, e, por
conseguinte, os tais subscreverão naturalmente e
obrigatoriamente o cessacionismo, e terão nele seu fundamento
apologético.

118
A verdade é que alguém nascido depois de 1901 mentiu
para a igreja dizendo que na fé reformada há um lugar para
todos, e inclusive há um lugar para continuacionistas, lamento
dizer, mas não há não.

119
O CESSACIONISMO É RACIONALMENTE
CRENTE, NÃO SENSORIAL

Vamos falar agora um pouco sobre esse viver místico


de nossos dias.

Nossa geração é marcada hoje pelo viver sensorial, ao


ponto de muitos definirem Deus e Sua presença como
descargas sinápticas que correm pelo corpo durante um louvor
ou algo do gênero.

Certamente nas Escrituras temos Deus aparecendo,


falando, se revelando, de muitas formas e de muitas maneiras,
mas é majoritariamente algo ASSUSTADOR, desde o povo aos
pés do Sinai, nos anjos com Abraão, a descida da Shekina com
Salomão, o redemoinho com Jó, a sarça com Moisés, as visões
e sonhos dos profetas, nas quais eles caíam muitas vezes como
mortos.

Sentir Deus, nunca foi uma boa coisa para estrutura


física humana, vemos isso desde o início da narrativa bíblica
até o final dela com o Apóstolo João em Apocalipse. Se você
ler o texto de Apocalipse, verá que o mesmo João que recostou
a cabeça sobre o peito de Jesus na ceia, quando O viu
glorificado, caiu como morto diante dEle, que dirá eu e você.

Claro que também vemos experiências mais leves,


como o sussurro calmo com Elias, vemos Deus falando
pacientemente com Caim, indo encontrar com Adão para
esclarecimento, conversando com Moisés diretamente e falando
com Felipe audivelmente e externamente para alcançar a
carroça do Eunuco. Sem esquecermos que Deus falou na pessoa

120
humana do Senhor Jesus, que habitou por anos entre nós, mas,
ainda assim, Deus sempre é TERRÍVEL em Sua presença.

Quando analisamos os nossos dias, o que me parece ter


inferido e inventado na pessoa do Espírito Santo, é uma
presença sensitiva d’Ele que se faz necessária a cada culto e a
cada oração, ao ponto de que se não sentirmos algo em nossas
reuniões, e de preferência algo chamado “forte”, não há a
“presença” naquele local.

Tal coisa não possui queridos parâmetro em nenhum


lugar das Escrituras, e o interessante é que hoje milhares de
ajuntamentos cristãos só se reúnem basicamente para sentir
coisas espirituais para que durante um ápice no culto, eles,
girando, gritando e caindo manifestem “dons espirituais”.

Entretanto, não vemos Jesus girando, os apóstolos


sentindo e caindo, as igrejas primitivas em transes estáticos ou
dinâmicos para receberem palavras designadas por Deus ou
pelo Espírito Santo, antes, e muito pelo contrário, temos um
Jesus claramente racional e focado, apóstolos muito
intelectuais, profetas objetivos em suas palavras e uma igreja
em geral alimentada pela palavra, e isso é nas Escrituras a
verdadeira espiritualidade.

Mas será que não existe nenhuma afeição religiosa em


nós crentes? Há sim, sem dúvidas, e são sentimentos
essencialmente nossos, que por termos um novo coração que
corresponde às coisas espirituais, podemos então sentir por
Deus, mas isso em nada tem a ver com sentir Deus ou um anjo
te tocando almaticamente.

Podemos lembrar de Emaús como exemplo, Jesus não


estava abraçando aqueles homens ou lhes dando arrepios

121
espirituais, Deus estava andando com eles e conversando no
caminho com os dois, porém ao mesmo tempo, por serem eles
verdadeiros cristãos, seus corações novos reagiram à exposição
das Escrituras de forma fervorosa, com afeições religiosas.
Jesus na estrada é uma coisa, a ardência no coração deles é
outra, um é o objeto da afeição e a outra é a própria afeição
pelo objeto. O amor que um marido tem por sua esposa é
diferente da persona da esposa, ainda que estejam
correlacionados.

E sobre afeições espirituais, Paulo sim, escreveu e


estimulou as igrejas a sempre terem: “sede fervorosos”
(Romanos 12:11), e o que é isto se não um coração ardente
pelas coisas de Deus? Todavia isso não significa que essa
ardência seja o próprio Deus em si, mas sim que é algo com
respeito a Ele, você consegue distinguir? É você sentindo por
Deus, e não Deus tocando você, e reitero, que sentir por Deus
mediante Sua Palavra é uma afeição legítima, mas não é o
Espírito Santo descendo sobre sua cabeça.

Algo comum, e que eu Hugo vivi por anos, foi o


“tentar” viver de uma vida mística e sensitiva, a qual eu, todo
santo dia, já convertido pelo Senhor, tentava minimamente
viver conforme as nuances e vozes interiores do meu coração,
pois eu pensava: “Se o Espírito habita em mim, ele então pode
falar, guiar e me dizer sobre os caminhos mais simples que eu
devo seguir”, como se o Espírito Santo fosse algum tipo de
Venom falante a me orientar audivelmente, e assim, por muito
tempo eu vivi.

Eu me lembro de uma ocasião em que eu estava


escolhendo um móvel na Internet para comprar, quando eu orei
a Deus para saber qual cor eu deveria escolher segundo a
vontade d’Ele, e eu fiquei como que esperando uma voz em

122
meu coração dizer: “marrom” (risos), mas por providência
divina, alguns dias antes eu tinha lido provérbios que em certa
altura dizia: “Sê sábio, filho meu e alegra o meu coração”
(Provérbios 27:11), naquele momento ao invés de eu ouvir uma
voz, eu lembrei de um versículo bíblico recente, o qual dizia
nitidamente que Deus se alegra não quando vivemos como
tolos cegos, mas quando tomamos decisões como sábios, ou
seja, eu deveria com sabedoria escolher a cor do móvel que eu
desejava e não esperar de Deus uma voz para isso, ou algum
tipo de confirmação sobrenatural.

Lembro que nesse momento, meus questionamentos


começaram a existir com respeito ao continuacionismo em
mim, e embrionariamente eu já me aproximava do
Cessacionismo mesmo sem perceber.

E eu não sou uma exceção no que concerne a viver de


forma sensitiva para tudo, principalmente por causa do
movimento Worshiping que hoje se dissemina entre nós crentes
como uma gangrena, principalmente entre os jovens.

Vou lhes dar um exemplo. Vamos analisar uma


experiência Worshiping recorrente. Imagine-se você em um
ambiente totalmente escuro, com luzes muito bem colocadas,
com equipamentos de som poderosos e confortantes, com uma
temperatura aconchegante de se estar, com cantores afinados
repetindo, como mantras, músicas de apenas um refrão, e que
despertam em você toda e qualquer transcendência possível, e
nesses meios todos começam a se balançar para lá e para cá
como em uma onda corporal sincrônica, e você começa a ver
todo o ambiente tomar uma harmonia única e sem igual.

É como se você estivesse subindo para o céu, e de


repente uma onda elétrica corre da ponta da sua cabeça até a

123
ponta dos seus pés te arrepiando completamente, enquanto
alguém diz: “Espírito, vem sobre nós”, o que você irá deduzir
dessa sensação que você acabou de sentir? Deus? E se caso
você não for um falador de línguas e começar a sentir essas
descargas uma após a outra, e já tendo você memorizado
informações suficientes de como reproduzir as tão famosas
“línguas estranhas”, que são tão “necessárias” para se ser
realmente espiritual, o que ocorrerá contigo? Você será cheio
de Deus enquanto suas lágrimas caem? Será batizado
verdadeiramente pelo Espírito Santo nesse ambiente santo, e
bradará em línguas angelicais? Hum? Não! Você só estará
sendo induzido e enganado pelo ambiente como quase todos o
são.

Apesar de tudo ser lindo, você só se encherá nesses


ambientes de engano. “E por que, Hugo? Não é tão bom isso
tudo? Qual o problema? Nós estamos tão felizes!” O problema
é que não é bíblico. É simplesmente e somente por isso, ou
não sabem vocês que toda e qualquer seita oferece para seus
membros múltiplas formas de experiências sensoriais também?
Mas o que nos diferencia delas queridos? A doutrina! Sim, não
pode ser nunca a experiência o timão que vai nos nortear no
que compete as coisas espirituais e divinas.

Outro exemplo para você se situar definitivamente


nesse problema sensorial que estou te apresentando. Imagine-se
agora você em sua casa, ou melhor, na sala da sua casa, e em
uma ocasião na qual todo mundo já foi dormir. De repente,
começa a chover forte, e enquanto você está procurando algo
na Netflix para assistir, você se depara com um filme de terror
dos piores possíveis, e por algum motivo decide vê-lo.

Conforme você vai assistindo, um medo repentino


invade seu coração, o qual 5 minutos atrás não existia, até antes

124
daquele momento não havia problema algum com a sua casa,
mas para piorar, você sente como se alguém estivesse atrás de
você lhe experimentando.

Seu coração acelera sem motivo aparente, você começa


a olhar para os lados como se alguma coisa fosse acontecer
iminentemente, um barulho normal na cozinha se torna agora
algo horrendo aos seus ouvidos, seu gato antes tão querido,
agora aparenta estar possesso por uma entidade tribal
amazônica. Você se levanta e vai até a cozinha para ver o que
foi aquele horrendo barulho, e enquanto o filme ainda rola na
sala, você pega um objeto aleatoriamente na mão, como se você
fosse o Capitão América, e decide ir sorrateiramente até a
cozinha resolver os possíveis problemas de Poltergeist ao estilo
Ghostbusters. Chegando na cozinha, de repente, você se depare
com um grandioso e alarmante: NADA! E sua vida segue.

Perceba, todas essas sensações de medo que estavam


correndo pelo seu corpo eram reais? Sim! Toda essa tensão
“sobrenatural” foi real? Sim. Suas experiências daquele
momento foram realmente legítimas? Sim! Tudo aquilo apesar
de sentido foi apenas uma produção aterrorizante da sua mente?
Sim também. Mas, será que houve realmente alguma atividade
sobrenatural/espiritual na sua cozinha? Você sabe que não!

Porém, por causa do ambiente no qual você está


submerso naquele momento e por causa de toda estrutura
audiovisual, é simplesmente impossível você fazer um
julgamento de valor das coisas. Das que realmente são
realmente verdadeiros acontecimentos e das que estão sendo
falsamente criadas por você. E assim, infelizmente, também
ocorre nos ambientes cúlticos carismáticos, toda santa semana.
Querido (a), sua intuição pode até te matar se você viver por
ela, mas o justo viverá pela fé (Romanos 1:17).

125
Em resumo, o que você sente não pode ser seu guia a
respeito das coisas espirituais, mas sim o que está escrito na
bíblia, pois: “andamos por fé, e não por vista [sensorialmente]”
(2 Coríntios 5:7), e essa fé não é esotérica, mas doutrinária.

E uma vez que você entende essas diferenças, você se


encontrará em paz de consciência, não se encontrará “frio”
espiritualmente como nos acusam, a não ser que com “frio
espiritual” estejamos falando a respeito do fogo pentecostal
comparativamente, aí sim, nesse caso ser frio é muito bom.

Discernindo dessa forma, em paz, você começa a viver,


parando de achar que é o Constantine da sua igreja e que está
em alguma constante “batalha espiritual” sensitiva, na qual
você tem visão aberta conseguindo enxergar demônios pelas
ruas, ouve vozes ordenativas e possuía sonhos divinos
inspirados. Na verdade, a maioria dos que falam que veem
coisas, só estão vendo os seus próprios “demônios”, que
criaram para se auto infernizarem e infernizarem aos outros.

Sim, demônios existem e trabalham contra as nossas


vidas e contra a igreja de forma organizada e inteligente. Mas
ao lermos Daniel e outras passagens, temos que confessar que
tudo isso é muito obscuro a nós, e na verdade essas batalhas nas
regiões celestiais são um “problema” da cunhada angelical e
não nossa diretamente.

“Nossa batalha não é contra hostes espirituais, Hugo?”


Certamente é, mas no que compete a nós contra os espíritos
malignos, nossa luta é doutrinária! Não pense que o diabo vai
arranhar sua janela ou que ele vá passar correndo atrás do seu
sofá, ele na verdade vai fazer com que você se distraia da

126
doutrina para que você não leia a sua bíblia e não ore ao seu
Deus com regularidade.

Ele irá fazer você acreditar no continuísmo para que


você tenha um deus falante em seu interior, enquanto sua bíblia
sempre permanecerá fechada ou quase nunca usada da forma
certa. Ele modificará um pouco as doutrinas, e em nome da
“união e paz”, levantará homens civilizados para açucararem as
doutrinas essenciais e tratar o pecado como algo a se
racionalizar. Esteja sempre atento, pois: “É assim que Deus
disse: ...” (Gênesis 3:1), foi proferido por aquele que enganou
Eva com uma falsa doutrina, e que quer nos enganar também.

E além dos demônios, nossa batalha é contra nós


mesmos, contra a nossa carne, na qual devemos tomar
diariamente a cruz e seguir a Jesus em abnegação. Lembrando
também do mundo como nosso ferrenho opositor.

E qual é a consequência de se começar a entender mais


racionalmente e menos misticamente? A consequência é que
teremos um cessacionista em formação, e é nesse momento que
tal crente dirá: “Tem alguma coisa de errado com o
pentecostalismo e eu já percebi, mas e agora, o que eu faço?”,
pois imagine tal mente como fica confusa, pois tendo
desmoronado as colunas que antes tal pessoa se apoiava em sua
“espiritualidade ardente”.

Ela agora terá que reencontrar aquele antigo livro, por


muito empoeirado, para então perceber que ali sim, está toda a
sua vida cristã espiritual, sem firula, sem entretenimento
manipulado, sem pragmatismo, sem sensibilização e mentiras,
apenas o texto direto e claro para o encantar e o orientar no que
fazer, no que não fazer, por que fazer, o por que não fazer.

127
A Bíblia vai o instruir a respeito de como agiu tal irmão
nessa situação e como ele deve agir também, o que Deus requer
dele aqui, o que Deus lhe prometeu ali, como deve ser isso e
como não deve ser aquilo, como Deus é, como a igreja não
deve ser, o que é o céu, por que eu não irei para o inferno e
tudo o mais o que compete a vida e a piedade. Um refúgio
seguro, mas que estava por tanto tempo desconhecido, esse
antigo crente místico encontra agora nas Escrituras
exclusivamente.

Antes, a bíblia era apenas um acessório de ir ao culto


aos domingos, agora calada todas as outras vozes, se torna uma
necessidade diária indispensável, sem a bíblia tal cessacionista
em formação não tem nada, mas por meio dela, ele terá Cristo!

E assim, o cessacionismo é quem estabelece o Sola


Scriptura!

128
O CESSACIONISMO NÃO É
ANTISOBRENATURALISTA

À luz do que acabei de dizer, para alguns evangélicos o


resultado lógico e natural do Cessacionismo é ser naturalmente
antissobrenaturalista, ou seja, ser alguém que não crê em nada
que seja sobrenatural realmente, reduzindo tal indivíduo apenas
a uma vida ordinária e de forma material e orgânica, beirando,
segundo eles, a incredulidade, e para alguns, até o ateísmo
prático.

Eu acho isso estranho, porque se pensarmos e


analisarmos essa conclusão, perceberemos que ela não tem
nexo algum. Pense, que tipo de incredulidade repousaria sobre
um cessacionista? Seria a respeito dos dons que Paulo afirmou
que cessariam? No caso, não seríamos crentes na cessação dos
dons, que foi por Paulo terminantemente afirmado? Entende?
Se cremos na afirmação paulina de cessação dos dons
imanentes, somos nesse caso, crédulos, e não incrédulos, pois
se cremos no que Paulo afirmou, não há lugar em nós para
incredulidade. Incredulidade seria mediante a afirmação de
cessação do apóstolo, nós descrermos nele, como fazem os
carismáticos. Eles sim são incrédulos a afirmação cessacionista.

A vida restritivamente materialista sem admitir uma


transcendência, providência ou alguma realização divina em
nossas vidas, de nenhuma forma, é o que nós cessacionistas
afirmamos. A verdade é que essa acusação contra nós não passa
de uma mentira esfarrapada, pois como vivemos anteriormente,
nós cessacionistas cremos na continuação de outros dons, os
quais de igual forma são dados pelo Espírito Santo, e de igual
forma são espirituais, e suas operações e edificação são também
totalmente espirituais.
129
E outra coisa, estabeleço desde já que nós cessacionistas
cremos em milagres, cremos em curas e cremos também na
expulsão de demônios hoje, as quais coisas a bíblia chama de
“sinais”. Mas, a forma com que hoje nós cessacionistas cremos
nessas manifestações sobrenaturais é exclusivamente isenta
dos antigos dons sináticos, sendo elas ocorridas hoje por meio
da oração não ordenativa. Cremos que a oração do justo pode
muito nos seus efeitos (Tiago 5:16), e que no dom não há
oração, mas sim uma ordenação: “levanta e anda” (João 5:8)
por exemplo.

Assim, tanto os dons sináticos como também essa


intermediação autoritativa, confessamos no cessacionismo que
cessou. Não cremos que os milagres cessaram, antes cremos
que os dons que os operavam em massa cessaram. O
Cessacionismo queridos não é incredulidade, mas sim fé no
lugar certo, nas Escrituras.

Diferentemente do que nos acusam, somos crentes sim,


no que diz respeito ao texto bíblico, mas quanto às
manifestações extras e antibíblicas, aí sim, somos em relação a
elas incrédulos mesmo. Ainda mais porque no meio pentecostal
há um falso pensamento de que se qualquer coisa espiritual
“acontecer”, e alguém tiver a coragem de creditar o ocorrido ao
Espírito Santo, toda alma crente deverá naturalmente e
obrigatoriamente nesse ocorrido acreditar, sem nem por um
segundo ousar nisso questioná-lo.

Logo, se nos acusam de incredulidade, é necessário


perguntar: Incredulidade em relação ao que? Se for uma
incredulidade acerca do pentecostalismo e seus falsos dons,
afirmo, então está tudo certo, somos incrédulos a isso mesmo.
Não negamos a possibilidade de cura de um cego se orarmos a

130
Deus por ele, saliento novamente. O que não cremos é que
alguém possua hoje o DOM de curar esse cego
autoritativamente, essa é uma essência diferente e
esclarecedora.

Ainda nesse assunto de credulidade e incredulidade, é


essencialmente necessário em nós, entenda isto, que exista um
certo aspecto de incredulidade e ceticismo pessoal, para que
não sejamos mais levados por todo vento de doutrina como
meninos inconstantes (Efésios 4:14).

Veja, se eu te disser que na verdade, não eu, mas um


anjo está escrevendo esse livro em meu computador enquanto
eu dito estas palavras a ele, eu te pergunto, por que e qual
necessidade há de você acreditar nisso? Ou, por que você
precisaria acreditar? Entende? Se você não possuir cautela e
uma verdadeira incredulidade ao que te falam no meio
evangélico hoje, você será levado e enganado nas maiorias das
vezes, e por pura ingenuidade e ignorância.

Vou te dar um conselho, e proceda sempre assim em


nossos dias em relação a experiências sobrenaturais: primeiro
ouça o relato, depois seja neutro ao mesmo, nem crendo e nem
descrendo, e em seguida submeta este relato ao testemunho das
Escrituras, para por último submeter o relator dessa experiência
à verdade também.

Se o relator for achado como sendo um sevo do Senhor


ou se a dita experiência for confirmada como possivelmente
bíblica, aí sim, e somente aí, você começa a creditar fé ao
relato, mas se o relator da experiência for achado como um
servo do Senhor irrepreensível, mas a experiência que ele conta
não for aprovada pelas Escrituras, então de imediato, apesar de
qualquer apresso e afeição pessoal que você tenha pelo relator,

131
você deve de prontidão rejeitar o que ele te conta e te ensina
como anátema.

Dessa forma que eu Hugo procedo em relação ao John


Piper, D.A.Carson, Hernandes Dias Lopes e outros irmãos de
nosso meio, que são sim servos do Senhor, mas que a luz das
Escrituras, as experiências pessoais deles, como também suas
exegeses bíblicas a respeito do continuacionismo hoje, são
coisas totalmente rejeitáveis.

Não sei se percebe, mas uma idolatria pastoral


representativa tem pairado sobre os arraiais Calvinistas, pois
tenho vistos muitos que ao não terem base bíblica e quase
nenhuma força apologética para os ajudar na prova da
biblicidade do continuacionismo, estes, citam sem nenhum
pudor, o nome de pastores Calvinistas/continuacionistas como
escudos pneumatológicos, para as suas consciências
carismáticas.

Ao fazerem isso, eles querem validar uma doutrina falsa


por meio dos acertos que esses “pastores escudos” fazem em
outras áreas da teologia. “Piper, Carson e Hernandes são ótimos
em Calvinismo, Novo Testamento e em pregação do
Evangelho?” Logo, pensam eles, “a pneumatologia deles deve
estar inevitavelmente correta também…”, mas não é assim que
se faz teologia.

Podemos lembrar de Arão, que era irmão de Moisés, e


que foi designado por Deus como o primeiro dos Sumos
Sacerdotes da ordem levítica, sendo ele o porta voz direto de
Deus através de Moisés ao povo. Podemos lembrar de como ele
participou das 10 pragas no Egito, da libertação dos filhos de
Israel e da passagem pelo mar vermelho. Entretanto, podemos
também lembrar desse mesmo Arão pegando peças de ouro do

132
povo na ausência de Moisés, para lhes fazer um deus, para lhes
trabalhar um bezerro de ouro idólatra.

Percebe querido? O mesmo John Piper que te ensina


corretamente os 5 pontos do calvinismo, pode pôr fim te
estimular a buscar “dons” hoje que só poderão ser concedidos
pelo próprio Satanás, pois são dons falsos e fraudulentos.

E eu poderia citar Davi, Salomão, Jonas, Pedro e outros,


que apesar de acertarem em muitas áreas, erraram em outras. E
sendo assim, nossa regra nunca pode ser as opiniões pessoais
pastorais de nenhum dos lados, mas sempre e somente as
Escrituras.

Esses meus conselhos, lhe protegerá de incontáveis


coisas, e por outro lado te fará um crente verdadeiro em juízo,
capaz de discernir aquilo lhe é apresentado como verdadeiro.

“Ah, mas fulano voou numa vassoura…Ah, o pastor tal,


no ano tal da história da igreja teve esta experiência…Ah, mas
o grande teólogo disse isso a respeito daquilo…” Pergunto, isso
que você está usando como regra de fé passa sem ferimentos
pelo crivo das Escrituras? Não? Então é anátema, basicamente.

O Cessacionismo quando crido e abraçado, te assegura


querido leitor de uma vida baseada na experiência pessoal
alheia, e se você perceber, sempre acabamos vivendo e nos
guiando pelas experiências terceirizadas. Nunca é com a gente
esses momentos espetaculares. É sempre alguém que viveu
isso, alguém que ouviu aquilo, este que viu e ouviu isso, e
aquele que sonhou aquilo. E as experiências que são conosco
mesmo, são facilmente desacreditadas se tivermos o mínimo de
honestidade e sanidade pessoal.

133
Deixe-me falar um pouco ainda sobre curas e milagres.
Se observarmos na prática pentecostal, quando há algum doente
somado a um pastor “extraordinário”, inevitavelmente, acaba
ocorrendo aquele momento sensacionalista de oração forte, de
condicionamento psicológico de ambiente e aquela crucial
validação de vida com Deus, o famoso “Deus é comigo ou não
é?”, e nesse momento épico carismático, quando um pastor
“capaz” é testado com um doente, o que ocorre? Uma oração
chamada de a “oração da fé” ou de “oração forte”.

Você já deve ter visto isso algumas vezes, veja só:


“Soberano Deus e eterno Pai, crentes em suas promessas que os
sinais seguiriam aos que cressem e que tu levastes todas as
nossas enfermidades na cruz, nos reunimos aqui em fé legítima
para exigir o cumprimento de Tua palavra sobre as nossas
vidas…e para que todos saibam que tu és Deus em Israel e que
eu sou teu servo…ordeno que essa doença deixe essa pessoa
em 3,2,1…Fuuuuuu (assopro)…Satanás, leva tudo o que é
teu…pois está escrito: “Ele levou as nossas dores e por suas
pisaduras fomos sarados”… Doença, em nome de Jesus, te
ordenamos, saia dessa pessoa..”, e etc.

Isso já nos é até muito familiar e corriqueiro, e não só o


dito, mas o resultado é sempre o mesmo, frenesi cúltico e
aquela já conhecida manipulação psicológica. E o doente não
querendo dizer que nada mudou em suas dores, para não criar
aquele “climão desconfortável” na igreja afirmar a eficácia do
tal pastor extraordinário na maioria das vezes, e o pastor
distraindo a congregação com corinhos de “fogo” após a sua
suposta “cura”, segue o culto em meio ao calor do momento,
em meio a gritaria e em meio a um leve cheiro de dúvida.

Para nossa esperança, porém, o texto bíblico, e isso que


é o importante, nos mostra que a verdadeira operação do

134
Espírito Santo ocorre de outra forma e de uma outra
maneira. Moisés, Elias, Eliseu, o Senhor Jesus, os Apóstolos,
os auxiliares apostólicos, quando operavam os dons
extraordinários por toda a bíblia, tais operações eram feitas
sempre sem margem de dúvidas ou falhas por parte dos
operadores. As curas divinas nunca eram uma mera
possibilidade, antes eram sempre um fato.

Se você estivesse com Moisés, diante do mar vermelho


se abrindo, isso seria uma nítida realidade diante dos seus
olhos, não uma manipulação de ambiente. Se você olhasse
Jesus ressuscitar Lázaro, você perceberia não algum tipo de
enganação duvidosa, ou um tipo de “vamos ver no que dá”,
você veria fatalmente uma ressurreição.

O que eu descrevi acima no exemplo do doente e do


pastor pentecostal, não tem NADA a ver com a prática pastoral
do Novo Testamento ou com a prática apostólica em si. Não
vemos orações na operação dos sinais em Atos, não há
manipulação de ambiente nos cultos deles, não há orações
“fortes” e gritantes para mover Deus, não há ninguém de olhos
fechados e passando a mão pelo corpo do doente em algum tipo
de “ato profético”. E sério queridos, é só ler a bíblia, não tem
mesmo nada disso lá.

O que temos são ordens dos operadores dos dons


espetaculares sendo proferidas: “sê limpo” (Marcos 1:41),
“Lázaro, sai para fora” (João 11:43), “saias dela” (Atos 16:18),
“Efatá” (Marcos 7:34), “Talita Cumi” (Marcos 5:41), “Levanta
e anda” (João 5:8)… Meus amigos, isso são coisas
espetaculares e completamente diferentes do que vemos na
prática carismática, não podemos brincar com isso, são as obras
de Deus e do Espírito Santo.

135
Um cego voltar a ver, não é normal e corriqueiro, nem
na época de Jesus (João 9:32), alguém abriu os olhos de um
cego. Um morto de 4 dias ter suas fibras musculares e
tegumentares restauradas, seus sistemas voltando à harmonia
seu cérebro correspondendo aos estímulos da vida e sendo ao
final o mesmo Lázaro de sempre sem sequelas.... Isso não é
brincadeira irmãos, e pior, não é passível de ser manipulável
por qualquer que seja.

Eu creio honestamente que se qualquer um de nós


pudesse voltar no tempo, e pudéssemos assistir pessoalmente:
Jesus curando enfermos em massa, os apóstolos expulsando
demônios e ressuscitando mortos, como também se pudéssemos
ouvir por apenas 1 minuto os 120 do cenáculo falando em
línguas estranhas no dia de pentecostes, jamais, eu ratifico,
jamais cogitaríamos em considerar, por um milésimo de
segundo que seja, tudo o quanto se autointitula “pentecostal”
como algo verdadeiramente cristão.

Um milagre é a mudança do curso natural da natureza, e


isso operado por Deus. Exemplo, uma tal pessoa ficou com
lepra e essa lepra está progressivamente se alastrando, tal
doente encontra Jesus, e este ordena que a lepra regrida, e
visivelmente, ela desapareça, mudando assim o curso natural da
doença de gerar morte tegumentar no leproso, isso é um
milagre.

E você quer me dizer que NORMALMENTE isso


continua hoje, e ainda por cima no meio pentecostal? Jamais!
Os jornais estão noticiando isso? O YouTube tem registrado
essas coisas em vídeo? Uma câmera na época de Jesus nos
mostraria tudo o que em belas cores foi registrado nas
Escrituras! Percebe como tudo é muito místico e imaginário?

136
Como eu costumo afirmar: nós nunca vimos os dons
espetaculares em operação e nunca os veremos, pois eles já
cessaram e foram aniquilados, eles serviram para a inauguração
da chegada do Messias e para proliferação do Evangelho no
mundo. Há única exceção que há nas Escrituras compete a
aparição do anticristo, o qual operará sinais e maravilhas, que
se possível, enganaria até os eleitos (Marcos 13:22), mas pela
graça isso não é possível, pois os eleitos possuem algum nível
de cessacionismo em si, creio.

À luz do relato bíblico, nós cessacionistas somos


incrédulos ao movimento pentecostal e suas constantes
mentiras e manipulações, mas não incrédulos aos antigos e
reais dons que no passado operaram e que hoje não operam
mais. Tão pouco somos incrédulos a respeito da eficácia da
oração a Deus, que pode muito em seus efeitos, a qual segundo
a vontade dEle opera para o bem daqueles que o amam,
concedendo, segundo o Seu livre querer muitas coisas,
inclusive curas físicas, milagres e expulsão de demônios,
segundo a oração, e não segundo os antigos dons ordenativos.

Vou salientar algo ainda sobre a oração. Tivemos na era


apostólica uma demanda miraculosa exorbitantemente grande,
até com o Senhor antes dos apóstolos, como vemos João
falando: “Cuido que nem ainda o mundo todo…” (João 21:25),
e posteriormente com os 12 mais Paulo, como o relato dos
lenços e a sombra de Pedro, estes eram milagres em massa.
Lembrando que Jesus mesmo afirmou que os apóstolos fariam
sinais maiores que Ele mesmo.

Hoje, porém, em vista do fato de que o meio da


operação dos milagres, curas e sinais mudou dos antigos dons
inaugurais para oração, segundo o beneplácito de Deus, fica
nítido que a oferta de milagres e sinais hoje já não é a mesma

137
em quantidade da que vemos no relato do Novo Testamento.
Sejamos honestos.

Se eu te perguntar quando você presenciou um


verdadeiro milagre por meio da oração, ou uma cura ou uma
real expulsão de demônios, você dificilmente terá mais de cinco
relatos que sejam realmente verdadeiros e legítimos, ou quem
sabe não terá, por fim, nenhum. Ou seja, ainda que admitamos
hoje a possibilidade por meio da oração de se ocorrer milagres,
curas ou expulsão de demônios, negamos que esteja ocorrendo
uma alta demanda de relatos dos mesmos, como também
negamos que toda oração será respondida extraordinariamente,
ou que o acontecimento dos milagres será futuramente alguma
realidade diária e vivenciada por todos corriqueiramente. Não!

Hoje afirmamos que os milagres são menos recorrentes


ao comparar com a era apostólica, na qual, em Israel, quase
todos podiam afirmar que já tinham visto um ou vários sinais,
tanto operados por Jesus como operado por um dos apóstolos
(Atos 10:38).

Milagres podem acontecer hoje, mas eles são raros ao


compararmos com a era apostólica e sua densidade de relatos
nas Escrituras. E isso afirmo tendo em mente até os campos
missionários longínquos, que costumam ser usados como
argumento para os dons.

Isso é soberbo, pois faz parecer que o Brasil é o centro e


os outros povos são periféricos, o que é uma mentira, não existe
essa noção de quanto mais longe o “campo missionário” mais
milagres extraordinários acontecem. Uma vez destruída
Jerusalém, não existe mais uma “nação de Deus” que seja
central enquanto as outras são adjacentes, logo, o Brasil é tão

138
“campo missionário longínquo” como qualquer país
muçulmano por exemplo.

A pergunta que devemos sempre fazer é: aonde está a


igreja? Pois onde ela estiver, ali terá então um ajuntamento de
crentes, que em teoria, terão o direito de possuir esses supostos
dons que “continuam”. Não existem países com preferências.

Antes de terminarmos essa cessão, desejo falar


brevemente sobre sonhos e visões também.

Primeiro, qualquer pesquisa rápida vai te mostrar que


todos nós sonhamos todos os dias (use rapidamente o Google,
ou outro meio e achará essa verdade relatada). O que ocorre
com uns aqui e outros ali é que lembramos de alguns sonhos
enquanto de outros ou da maioria, não nos lembramos. Sonhar
é uma descarga de informações acumuladas por nossos
cérebros enquanto descansamos em nossas camas. Criam-se
cenas, ações, histórias e muitas das coisas do nosso dia a dia
são unidas com algum certo sentido às vezes, e em outras
vezes, com sentido nenhum.

O dom de profecia, que transformava um homem crente


em um profeta, tinha como característica o recebimento da
parte de Deus, imanências e comunicações a serem feitas ao
povo de Deus por parte do profeta. Um dos meios pelos quais
Deus falava com seus profetas era através dos sonhos. Então
em vez de o profeta ter durante seu descanso, sonhos que são
comuns aos homens, ele recebia informações divinas para então
passar ao povo, estes eram sonhos extraordinários, proféticos.

Nas visões ocorria a mesma coisa, porém em vez de


ocorrerem durante o descanso do corpo, ocorriam durante o

139
momento despertado do profeta, durante seu dia a dia comum, e
algumas vezes muito de repente, como os relatos sugerem.

Isso vemos sendo descrito em: “se entre vós houver


profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me farei conhecer, ou em
sonhos falarei com ele.” (Números 12:6), então uma das
características essenciais de ser um profeta de Deus era ter
essas comunicações divinas por meio de sonhos e visões
espirituais, que não possuíam cunho natural.

No meio pentecostal, por se admitir que existe ainda


hoje o dom de profecia, por conseguinte, profetas, e por
conseguinte, o profetizar, levando em conta também a pressão
psicológica que há no fato de se ser um pentecostal e de
precisar estar se provando espiritual o tempo todo, um mero e
simples sonho passa imediatamente a ser taxado como uma
comunicação divina particular, e não só isso, muitas vezes
esses sonhos são contados em culto como se fosse uma
revelação vinda da parte de Deus.

E veja o caos que esse entendimento cria, por exemplo,


se uma crente pentecostal não quer que seu filho único se case
com certa menina de sua igreja, ela que já vive uma vida
sensitiva, e que é juntamente contra esse relacionamento, ao ter
um sonho de um acidente de carro, no qual a futura nora está
dirigindo o carro que bateu, e nesse acidente o filho pretendente
morre, pela manhã ela acorda às pressas o filho e diz que tem
uma palavra de Deus para o relacionamento dele, e que Deus a
mostrava que se ele seguir a vida com aquela mulher, ela o
guiará para destruição e blá blá blá.

Você já está cansado disso, e eu também. Aí, o que


ocorre por influência dessa mãe? O filho termina com a moça,
sem que a moça tenha nenhum real motivo legítimo para ser

140
reprovada e rejeitada pelo rapaz, pelo contrário, às vezes ela
seria até uma excelente esposa para ele, mas por ser
inegavelmente inerrante o sonho dessa mãe pentecostal, esse
filho infelizmente fica com a consciência amarrada e
condicionada pela sonhadora profeta.

E isso tudo no final e na real, não passou de um backup


de sentimentos ruins e pensamentos durante a noite, pois pela
mãe dele ficar pensando o dia toda no tanto de desgosto e
ciúmes que ela tem nesse relacionamento ela acaba de noite
sonhando com isso, e assim por fim, temos um futuro casal
saudável destruído.

Agora você imagina isso em uma proporção nacional,


milhares, literalmente, de pentecostais sonhando e sentindo “de
Deus” todo santo dia, ou melhor, toda santa noite, e
“entregando” muitas e constantes vezes seus sonhos como
palavras divinas aos outros, e ai dos que discordarem e
desobedecerem. Lembrem-se que hoje no mundo os
pentecostais somam mais de meio bilhão de adeptos.

Certamente queridos, uma ou outra vez, por mera


providência ordinária, ou insistência quantitativa, algum sonho
ou visão vai ter compatibilidade com a realidade e vai ser
assertivo, e é nesse momento, que um “profeta” ou “profetiza”
passa a ser validado (a) como um verdadeiro “servo de Deus”
nesses meios evangélicos.

Mas numa tempestade de raios, se você tiver exposto,


certamente um irá cair sobre a sua cabeça. Durante uma chuva
forte, certamente alguma gota de água cairá sobre a tela do seu
celular. E numa nuvem imensa de sonhos, sentimentos
paranormais, premonições, intuições e visões pentecostais,
certamente alguma acabará se “concretizando” com

141
semelhança, e isso pela amplitude de abrangência dos ditos
constantes sobre a vida das pessoas que nisso creditam fé, fora
a ajuda de Satanás nessa brincadeira toda. Não se deixe enganar
queridos, um pouco de experiência joga para escanteio toda a
autoridade das Escrituras.

Ainda sobre visões, e que os carismáticos arrogam


receber, digo: quando você quer muito ver algo, você acaba
criando com a mente aquilo que não está exatamente ali, o
poder imaginativo de lugares e cenas é um dos pontos
principais nesse assunto de visões pentecostais.

Existe uma senhora que ficou famosa em (2021) na


internet com as constantes visões dela de anjos, de Jesus dando
cambalhotas e de pessoas famosas no inferno, e com isso frases
dessa senhora viraram até memes, como: “é demônio puro” e
outras. Qualquer um que a assistir perceberá que no decorrer
narrativo de suas “visões” extraordinárias, ela vai inventando
tudo o que quer dizer usando de pausa para pensar com seus
“glória a Deus” e “aleluias”, e ela não é uma exceção.

Outro exemplo. Tivemos na corrida presidencial de


2018 a essência do pentecostalismo na figura de um cabo dos
bombeiros, que dizia ter sonhos, visões e palavras da parte de
Deus para a nação brasileira. Devemos considerar também que
nesses meios onde muitas visões e sonhos são considerados
como reais, o fato de que muitos dos casos e acontecimentos
contados possuem certo cunho patológico, ou seja, muitos
desses profetas e sonhadores têm claramente altíssimos
problemas psicológicos não resolvidos, como também
problemas psiquiátricos como esquizofrenia, síndrome do
pânico, como doenças metabólicas que causam alucinações e
depressões também (pentecostais não costumam se preocupar
com a saúde na maioria das vezes, como também não costuma

142
terem plano de saúde, e isso por conta de sua cosmovisão
curandeira, vale salientar).

E não posso deixar de citar Satanás que deu visões até


para Jesus dos reinos da terra. Óbvio também irmãos, que
muitos “profetas” carismáticos são grandes mentirosos, e eles
mesmos sabem disso, pois sabem que não possuem sonhos
revelacionais nenhum, não possuem visões sobrenaturais
nenhuma, e ainda assim mentem para o povo de Deus para se
auto promoverem, para ganhar deles dinheiro e para se
tornarem autoridades.

Mas quanto a nós cessacionistas, reitero, nós cremos na


cessação do dom de profecia, logo para nós, não há mais
sonhos, visões e nem nenhuma aparição angelical, que eram
coisas características para com os Apóstolos e Profetas no
Novo Testamento, pois afirmamos que todos esses meios
faziam parte da produção canônica e da confirmação
apostólica, como sendo orientações de Deus ao seu povo no
decorrer da história.

E vindo o “perfeito”, o cânon revelacional completo das


Escrituras, finda-se com isso a necessidade desses antigos
meios e formas de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo.

Temos então hoje somente as Escrituras como nossa


Comunicação final e suficiente, e sendo assim caro leitor, não
espere Deus falar com você por qualquer meio se sua bíblia
permanece fechada e se a leitura dela continua sendo
negligenciada.

Por fim, a cosmovisão cessacionista, eu diria até


Normalista, te trará “do mundo de Bob” pentecostal para a
realidade NORMAL da vida ordinária e comum, na qual você

143
não vê anjos na calçada, não manda pedras se tornarem em pão,
não têm poderes sensitivos, não possui sonhos e visões com
conexão direta com realidades futuras e divinas que ainda vão
acontecer, antes, você pega aquele antigo livro preto e começa
a ouvir nele Deus falar com você.

Simplesmente, com o Cessacionismo, você parará de


seguir o coelho atrasado com seu relógio, agradecerá ao
chapeleiro maluco pelo chá, se despedirá no caminho de volta a
lucidez, dará as costas ao gato sábio, escalará de volta o buraco
no qual você caiu deixando para trás a sua bíblia e abandonará
para sempre esse mundo de “Alice”, que foi vendido para você
como espiritual, no qual você só viveria “maravilhas”. Desperte
querido (a) com o Cessacionismo, pois você ainda tem muito a
entender.

144
O CESSACIONISMO NÃO CRÊ NO RETORNO
ESPORÁDICO DOS DONS OU NUM RETORNO
APOSTÓLICO

“Eu creio que Deus pode usar algum missionário no


Nepal em línguas para que ele possa evangelizar mesmo sem
ter aprendido o idioma”. Essas frases soltas são proferidas
corriqueiramente quando o assunto é possibilidade carismática
hoje. Em frases como essas temos incontáveis problemas só na
primeira olhada, pois parece que elas são ditas mais com um
cunho pessoal de “achismo” do que realmente com algum tipo
de lógica ou embasamento bíblico.

Algo recorrente no meio pentecostal ao lidar com os


cessacionistas é dizer em tom de contraste o seguinte: “mas eu
creio que Deus pode fazer…”, isso naturalmente afirma que nós
cessacionistas, aparentemente, descremos da Onipotência
Divina, pois se o pentecostal diz: “mas eu creio que Deus
pode…”, o que ele está inferindo é que nós cessacionistas não
cremos que Deus então possa, o que é uma mentira.

Nosso ponto não é se Deus pode ou não pode, mas sim


se Ele quer ou não quer fazer. Deus não faz as suas obras
segundo sua Onipotência, Ele opera por meio da Sua
Onipotência, mas Ele faz as suas obras segundo o Seu
beneplácito, segundo o seu querer, como está escrito:
“conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo
o conselho da sua vontade; ” (Efésios 1:11). Deus age segundo
o que quer fazer, e não segundo o que pode fazer.

Nisto, devemos não questionar se Deus pode ou não


pode, tanto cessacionistas e continuístas estão em consenso
quanto à onipotência divina, mas devemos nos perguntar se Ele
145
quer. E como sabemos o que Deus quer? Será que Deus age
segundo alguma volição aleatória que ele possui a cada dia
diferente?

Não é isso que a bíblia diz. Na verdade, Deus afirma


quanto às suas obras o seguinte: “Certamente o Senhor DEUS
não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus
servos, os profetas. ” (Amós 3:7), percebe? Deus age segundo o
seu próprio querer, mas nisso ele revela aos seus profetas a sua
vontade a respeito do que quer, e assim, tudo quanto Deus irá
ou não fazer, podemos conhecer a partir da revelação que ele
faz previamente de seus feitos. Tais coisas chamamos também
de promessas e revelação. Então conhecemos o querer de Deus
por meio da revelação imanente, segundo o que Ele nos
prometeu e afirmou, segundo o que está na bíblia registrado.

Agora, onde na bíblia Deus promete ou afirma que os


dons seriam ininterruptos até a segunda vinda? Ou aonde ele
demonstrou que dom de línguas servia de forma evangelística a
missionários? Ou onde na bíblia indica que o dom de línguas
era para qualquer finalidade além da finalidade congregacional
para edificação? Ou onde na bíblia Deus demonstra querer que
o dom de línguas fosse uma realidade perpétua? Entende?
Quando você diz que crê que Deus pode isso ou pode aquilo
sem com isso citar algum versículo ou promessa das Escrituras,
o que você está fazendo é apenas especular teologia de forma
imaginativa, é proferir opiniões, as quais coisas em nada têm a
ver com a Verdade.

Pense, qual garantia temos que depois que estivermos


definitivamente na eternidade não chegará um momento em
que Deus irá desgostar de nós e nos mandará para o inferno? O
que nos garante que Deus não se arrependerá de nos ter com
Ele? Será que Deus teria poder para fazer-nos simplesmente

146
sumir da existência depois de uma ou duas eternidades? Como
podemos ter em Deus esperança se a vontade dEle é aleatória?
A nossa confiança repousa nas coisas que Ele disse e prometeu
nas Escrituras e em Seu caráter, e não no que quisermos
imaginar sobre Deus e suas obras.

E assim, conhecemos o que Deus quer por meio do que


está escrito para nós, e fora do que está afirmado na bíblia não
podemos ser opinativos acerca de nenhum absoluto que
propomos. E isso se aplica tudo, mas também se aplica aos
dons extraordinários e seus acontecimentos hoje. Não pense
que porque Deus tem poder para operá-los significa que Deus
queria opera-los, por conseguinte. Deus quer o que Ele deixou
registrado, e ao chamar certos dons de Sinais, Ele nos deixou
claro que segundo a Sua vontade certos carismas possuíam uma
característica transitória. Um sinal é definitivamente algo
transitório.

Um apêndice nesse assunto, já que citei as línguas: o


dom de línguas não é evangelístico. O dom de línguas era para
ser usado em culto e para edificação da igreja, e não para se sair
na rua ou em campos missionários dizendo: “good morning my
brothers”, ou algo do tipo. O Dom de línguas não era um
cursinho da FISK, e não creio que as Escrituras ensinem que
quem falava em línguas em momento cúltico, conseguia ser
influente nas línguas em conversação fora do momento de
operação espiritual do dom, podemos elucidar isso bem ao
entender que as línguas eram profecias em outros idiomas
essencialmente. O profeta possuía momentos de imanência, ou
seja, ao exercer seu ministério, e não a todo momento, como ao
dar “bom dia” a sua esposa.

Quando em Atos 2 vemos os irmãos recebendo o dom


de línguas estrangeiras, devemos entender eles estavam em

147
culto. O povo da festividade de pentecostes que foi de
CURIOSOS averiguar a situação, por causa do barulho que ali
acontecia. Chegando lá, eles constatarem que os irmãos
estavam falando em seus próprios idiomas natais, causando
assim, um espanto entre eles.

Se você perceber, os irmãos não saíram de onde


estavam reunidos para evangelizar em outro idioma, do tipo:
“God love you!” (humor), nem nada do tipo. O texto descreve
que eles estavam reunidos e quando começaram a falar em
línguas atraíram os curiosos de Jerusalém para ouvir. E isso é
tão interessante que quando o Apóstolo Pedro vai falar
respondendo aos homens que estavam caçoando dos irmãos,
dizendo que eles estavam bêbados, Pedro começa não a pregar
em outras línguas a eles, mas a pregar em língua comum aos
“varões israelitas” (Atos 2:2).

Se o dom de línguas fosse uma capacidade de pregar


evangelisticamente em outros idiomas às nações, como
ensinaram Charles Fox Parham e William Seymour, então por
que Pedro discursou utilizando a língua natural a todos que ali
estavam? Lembre-se que existiam pessoas de várias nações
naquele dia, e no mesmo local, e o resultado do discurso de
Pedro foi 3000 novos convertidos. Ficando assim, em Pedro
temos o evangelismo para os não crentes em língua comum, já
nos 120 falantes do cenáculo, neles sim, temos culticamente
outros idiomas estrangeiros sendo proferidos na igreja, pois era
para igreja que o dom de línguas foi dado, e para a sua
edificação.

Em 1 Coríntios, quando Paulo estabelece ordens para o


culto que estava saindo do controle por causa da baderna
coríntia, e por causa de alguns falsos dons em operação, Paulo
deixa bem claro a função das línguas: “Faça-se tudo para

148
edificação” (1 Coríntios 14:26), nos mostrando assim o
verdadeiro propósito do dom de línguas idiomáticas, a
edificação da igreja, pois quando são citados os ímpios na
congregação, é referenciado não o dom de línguas a respeito do
evangelismo para com eles, mas sim o de profecias, pois no
dom de profecias, quanto aos ímpios: “os segredos do seu
coração ficam manifestos” (1 Coríntios 14:25), diretamente.

Então nem em Atos 2, e nem em 1 Coríntios 14, temos


o dom de línguas sendo utilizados ou outorgados de forma
missionária, para que os cristãos saíssem por aí evangelizando
às nações.

Essa afirmação de que o antigo dom de línguas servia


para o evangelismo parece bonita, parece que encaixa bem, mas
não é isso que o texto diz a respeito das línguas. Se você ler
Atos inteiro (um livro muito visual acerca dos “atos dos
apóstolos”), não veremos ABSOLUTAMENTE NADA, sobre
o uso do dom das línguas como evangelismo idiomático
espiritual para ímpios, sempre veremos esse dom sendo
outorgado durante um ajuntamento de crentes e para crentes
somente.

Se você perceber também, Pedro que participou de


Pentecostes e que também participou da casa de Cornélio, ao ter
uma reunião missiológica com Paulo (Gálatas 2:9), juntamente
com João e Silas, foi estabelecido que aquele que iria ao Judeus,
ou seja, aos de mesma língua para evangelizar, seria Pedro e
João. E Paulo, nascido em Tarso, e por estudo, falante de muitas
línguas (1 Coríntios 14:18), Paulo sim, iria aos gentios de outros
idiomas. Isso é nítido no Novo Testamento.

Agora, voltando ao assunto de Deus poder, mas não


querer. Deus pode dar a capacidade de fala em outro idioma
149
para um missionário? Pode. Deus pode fazer com que
brasileiros crentes durante um culto comecem a falar em russo?
Pode. Deus pode transformar o monte Everest numa
Jaguatirica? Pode. Deus pode abrir uma ONG na África do Sul
para salvar as tartarugas marinhas dos canudos de plástico?
Pode. Mas, Ele o quer fazer? Não. Ele indicou que quer isso
pela revelação das Escrituras? Não. Algum profeta profetizou a
esse respeito? Não. Deus prometeu isso de alguma mísera
forma? Não. Algum apóstolo afirmou a continuidade desse
dom para hoje? Não. Devemos então crer nessa especulação
pentecostal? Também não.

E eu uso o dom de línguas idiomáticas como um


exemplo para a não possibilidade do retorno esporádico de
qualquer dom espetacular. Se sabemos a respeito do querer de
Deus segundo o que ele revelou, devemos nos perguntar: o que
Deus disse a respeito dos dons que afirmamos terem cessado? E
veremos uma expressão muito peculiar paulina a respeito:
“serão aniquilados” (1 Coríntios 13:8).

Quando vemos Paulo AFIRMANDO o Cessacionismo


em 1 Co 13, vemos a respeito do fim dos dons, a essa expressão
que não deixa nenhuma margem para retorno deles hoje:
“aniquilar” (1 Coríntios 13:10), Paulo não diz que os dons
adormeceriam ou que entrariam em coma induzido, para
voltarem à Igreja durante avivamentos, ou durante reformas, ou
durante cultos fervorosos. Paulo afirma uma aniquilação dos
mesmos, não permitindo assim qualquer margem para algum
“desvanescentismo concêntrico” dos dons ou para o retorno
deles no milênio como ensinam os dispensacionalistas
cessacionistas.

Como já vimos, depois da chegada do “perfeito”, não


houve um adormecimento dos dons, mas uma aniquilação dos

150
mesmos, pois está escrito: “havendo profecias, serão
aniquiladas, havendo línguas, cessarão, havendo ciência,
desaparecerá” (1 Coríntios 13:8), percebe que não é paliativo?
É um fim em sim mesmos, e não uma pausa.

Então, com isso não creia, queridos cessacionistas,


quando alguém te disser: “eis ali os dons continuando”, ou, “eis
eles acolá”, não acreditem e nem deem atenção, pois são falsos
acontecimentos, tendo eles procedências não divinas.
Aviamentos verdadeiros são retornos aos textos das Escrituras,
avivamento em nada tem a ver com recebimento de Dons
espetaculares, sempre tenham isso em mente,

Crendo assim, então afirmamos que os dons para com a


igreja nunca retornarão, pois já foram estes totalmente
aniquilados. Porém, algo ocorrerá em um sentido escatológico a
respeito dos dons espetaculares como já salientei, pois eles
aparecerão novamente no anticristo.

Não será isso um retorno dos antigos dons exatamente,


pois esses já foram aniquilados, e os propósitos deles eram
edificar igreja especialmente. Os sinais que aparecerão serão no
anticristo serão segundo a eficácia de Satanás, e não segundo o
Espírito Santo, essa é a crucial diferença, a procedência, de
onde procede tais poderes. E os sinais no anticristo serão tais
em eficácia, que se possível fosse enganariam até os eleitos.

E eis que vos digo um mistério, certamente, perdurando


o pentecostalismo nos arraiais evangélicos, o anticristo será
validado por meio dos pentecostais, pois se homens falsos
como Benny Hinn, Edir Macedo, Valdemiro, líderes
Worshiping e companhia já são facilmente tolerados e
aclamados em nossos meios, o que dirá do anticristo quando se
manifestar, o homem da iniquidade, com verdadeiros “sinais de

151
mentira”? Quem você acha que serão os primeiros a crerem nas
suas operações? Os cessacionistas? Pense nisso.

Quanto, porém aos eleitos, eles não crerão nos sinais do


anticristo, e isso não será possível pois estes saberão que com
respeito aos antigos sinais visíveis do Espírito Santo, houve-se
uma mudança de operação desde a era apostólica para cá.

Nesse texto vejo também o cessacionismo como uma


necessidade escatológica para a igreja, como também como
uma de suas características contra os “sinais de mentira” que
serão operados por esse homem. E sim, o cessacionismo será
um ponto essencial na chegada do homem da iniquidade no que
compete a pureza da igreja, e isso não é uma profecia minha, é
o óbvio que se pode perceber pelas Escrituras, por isso não será
possível os eleitos serem por ele enganados, eles sabem a
verdade pneumatológica em seus corações, fiquemos atentos.

Sendo essas coisas assim, permaneça sempre satisfeito a


respeito do relato bíblico exclusivamente, pois somente ali você
poderá ver os dons espetaculares em operação, “pois muitos
reis e santos desejaram ver o que vocês veem hoje e não
viram”(Lucas 10:24), disse Jesus a respeito das grandes
operações de seus dias, e isso nos serve de entendimento de
como aqueles momentos foram únicos e especiais.

Nós devemos nos satisfazer com as Escrituras sabendo


que “bem-aventurados são aqueles que não viram, mas creram”
(João 20:29), ou seja, os cessacionistas. E devemos crer que o
Evangelho foi confirmado no passado com estes dons
extraordinários, e agradecer a Deus que temos hoje as
Escrituras, e elas são satisfatórias para nós.

152
Não veremos queridos, repito, nenhum desses antigos
dons nunca mais, sim, eles foram aniquilados e já não mais
existem, e nem tão pouco foram prometidos por Deus nas
Escrituras para hoje, logo Ele não os quer para nós. Acautelai-
vos então dos falsos profetas, pois esses são falsos só pelo fato
de arrogar existirem.

E se alguém soberbamente outorgar para si mesmo estes


extintos dons, dizendo ter algum deles, automaticamente já
sabemos que não devemos nessas tais pessoas confiar e crer,
pois esses carismas já foram descontinuados para sempre, eles
foram “aniquilados”. Esse deve ser o nosso baluarte
apologético!

153
O CESSACIONISMO PODE PURIFICAR SUA
IGREJA, OU AO MENOS A VOCÊ

Neste ponto eu desejo fazer como que um testemunho


pessoal meu, me usando como exemplo de como o
Cessacionismo como cosmovisão doutrinária bíblica, pode e
muda, as coisas em nossas vidas.

Eu, Hugo, hoje, neste exato momento possuo 25 anos


de vida, ou de tentativas (humor), dos quais boa parte eu passei
tendo contato com todo tipo possível de doutrinas do meio
evangélico.

Comecei na Universal, para ser mais realista, eu fui


apresentado em uma igreja Metodista Wesleyana, e ali fiquei
durante essa fase prematura. Com tudo, ao me esforçar para
pensar qual é a memória mais antiga que tenho a respeito de
frequentar alguma igreja, minha memória mais antiga me
remete à Universal, com talvez meus 5 ou 6 anos.

Na IURD – Igreja Universal do Reino de Deus,


permaneci desde a idade de 4 ou 5 anos até a fase de 10 a 12
anos de idade, de uma forma muito assídua, a ponto de eu ter
sido catequizado na chamada EBI (escola bíblica infantil). E
posteriormente fiquei mais um breve período.

Algo que lembro ser bem comum dentro da Universal,


como em toda seita, e que desde criança eu percebia, era o
pensamento coletivo de que aquela forma de culto a “Deus”
deles era a única possível a se seguir, e eu me lembro de
questionar com alguns amigos como ficaria a salvação dos
outros crentes como: Metodistas, Batistas e Assembleianos,

154
pois o pensamento normalmente era de uma salvação
exclusivista segundo a perseverança na fé da Universal.

E nessa cosmovisão fui eu criado na Universal dos


meus 4 até por volta dos 14 anos de idade, indo com uma
frequência louvável nas reuniões. Toda segunda-feira (culto de
campanha), terça-feira (culto de libertação), quarta-feira (culto
de busca pelo Espírito Santo), quinta-feira (culto dos
empresários, nesse eu não ia), sexta-feira (culto de libertação de
novo), sábado (culto dos solteiros, a famosa “Terapia do
Amor”, nesse eu não ia também) e domingo (culto da família, a
“concentração de fé e milagres”), nas quais eu era fiel e
assíduo.

Eu ia em média 5 vezes na semana, durante todas as


semanas, durante todo o tempo de 10 anos em que eu
frequentava a Universal, isso contabiliza milhares de
acontecimentos. Sério, eu vi todo tipo de coisa e participei de
todo tipo de coisa também. Talvez por isso Deus tenha me
concedido esse talento de falar sobre o Cessacionismo, pois
aparentemente Ele me preparou exatamente para isso.

Dezenas de vezes eu passei no vale do sal da IURD, já


joguei pedra em um Golias de papelão, já passei por debaixo de
pano TNT vermelho como se fosse a Shekinah de Deus, já
engoli água ungida com arruda que jogaram em mim, já levei
rosa ungida para casa, vendi mariola no sinal e vendi meus
pertences para participar da fogueira santa, já passei inúmeras
vezes pelo “altar”, já vi zilhões de pessoas manifestadas com
“demônios”.

Certa vez me lembro de ter contado umas 13 ou mais


pessoas durante o culto de libertação, todas grunhindo com
mãos para trás e fazendo barulhos roucos de demônios

155
simultaneamente. Já cantei todo tipo de corinho entre eles,
participei de gincanas de arrecadação de membros, recebi todo
tipo de imposição de mãos, quase me tornei o obreiro mais
jovem da Região dos Lagos, mas por providência divina eu não
fui chamado à entrevista no dia separado, e o pastor que iria me
“levantar obreiro” foi transferido exatamente no dia seguinte
para outro lugar.

Já consumi incontáveis vezes os materiais da IURD,


como, a Folha Universal dominicalmente, materiais para
crianças e as rádios 102.5 e etc. Já participei do jejum de
Daniel, 21 dias de abstinência de tudo, até de televisão e coisas
mínimas, participei do dia D, do Peniel, já lavei e limpei a
igreja universal várias vezes.

Certa vez assisti um vídeo transmitido em culto


intitulado: “o som do inferno”, no qual era passado à igreja uma
gravação de como seria os gritos das pessoas condenadas e em
tormento no inferno feito por uma sonda de mineração, como
sendo assim o inferno no núcleo da terra e tudo mais. E logo
após esses momentos sensacionalistas sempre vinha um apelo
financeiro ou algo de amarração de consciência para enganar os
membros.

Lembro-me que ainda criança ajudava a levantar os


bancos, que eram mais de dois mil, já a varrer a catedral que
era imensa, viajei para outras catedrais como por exemplo a
maior que eles tinham em Del Castilho no Rio de Janeiro, fui
batizado nas águas na Universal umas duas vezes, ouvi todo
tipo de ensinamento e doutrina, todo tipo de testemunho de
cura, milagres e ganhos financeiros, e finalmente, depois de
muita busca em tantas “quartas-feiras da busca do Espírito
Santo”, falei em línguas estranhas durante o culto e me
derramei em lágrimas, e comecei a me intitular a partir desse

156
dia de “batizado com o Espírito Santo”, a ponto de mudar meu
tom de voz para um mais sereno e espiritualista, parar com
brincadeiras e formas de tratar das pessoas e coisas, pois agora
segundo o que eu pensava tudo tinha mudado, pois eu era um
“batizado”.

Ufa! Todo esse resumo foi para mostrar como


inicialmente minha cosmovisão foi transtornada e moldada em
um formato místico e subjetivo, me inclinando a acreditar em
céu e inferno, demônios e anjos aos moldes da IURD, como
também me fazendo ver a bíblia como um acessório cúltico a
ser respeitado a lá igreja católica, mas nunca fui estimulado a
lê-la ou a tê-la como única regra de fé por exemplo.

Lá o coronelismo pastoral era o “ex cátedra” da igreja,


o que eles diziam, e principalmente o que o bispo Edir Macedo
falava por meio de videochamada, era sempre tido como lei
absoluta e inquestionável, e acatávamos tudo dizendo apenas:
“sim, senhor bispo”, pois no final das contas ele era o “patrão”,
por assim dizer.

Após quase 10 anos, tive uma mudança de cidade,


saindo da minha cidade natal (Cabo Frio), para minha cidade
atual (Búzios), e por algum breve tempo minha mãe decidiu
continuar na Universal de Búzios, o que não durou muito
tempo, e então ela decidiu ir para a Metodista do Brasil, na qual
depois de todos esses anos na Universal, foi a minha segunda
igreja por uns 3 anos mais ou menos.

Nesse período o fenômeno Lagoinha e o Diante de


Trono estavam tomando proporções gigantescas, e tudo lá era
sobre eles. A princípio, era tudo muito estranho para mim,
inclusive a sonoplastia muito alta, pois na IURD só se usa de
um instrumento: o teclado. Os estrondos da bateria, guitarra e

157
ambiente, inicialmente, foram ensurdecedores e esquisito para
mim, mas permaneci lá.

Na metodista, já eu sendo adolescente, participei de um


método que virou febre na época: “o encontro com Deus”, e
comecei a desenvolver uma vida interior muito mística e
sensitiva. Se a Universal do início da minha infância até o
começo da minha adolescência moldou minha cosmovisão
espiritual de forma bem ritualística e exterior, a Metodista
moldou a minha cosmovisão a respeito do culto interior, como
a respeito de ouvir a voz do Espírito Santo e de ter sempre em
mente uma batalha demoníaca a cada esquina (as batalhas
espirituais). Nisso Deus era alguém que falava constantemente
em meu coração e essa voz que eu ouvia eu sempre a deveria
seguir.

Possessões demoníacas aconteciam da mesma maneira


nessa nova igreja assim como na IURD, mas lá pela primeira
vez eu vi uma catalogação, literalmente um tipo de livro com
centenas de nomes de demônios e etc, que descreviam tanto
seus nomes, como suas ações. Lembro-me que a pastora desse
local ao levar tão a sério esse tipo de vida espírita passou a
tomar remédios controlados e a chegar a ponto de literal
loucura.

Era realmente um clima constantemente sombrio de


“batalha espiritual”, de um “deus guerreiro”, de “unções”, de
“transmissões” de poder, de “principados sobre a cidade”,
“macumbas” para serem desfeitas, “feitiçarias” constantes, e
tudo quanto a Lagoinha e outros conseguiam produzir na época,
era cabalmente repetido ali. Eu cheguei nesse período,
acompanhado de um grupo de metodistas, a pegar em óleos
ungidos, e ungir todo centro de armação dos búzios, suas
esquinas e ruas. Literalmente jogando óleo ungido nelas, como

158
um ato profético, para segundo pensávamos, “consagrar”
búzios ao Senhor.

As pregações eram tão ruins quanto as da Universal,


porém lá possuía um cunho mais Coach (sabe aquela horrível
sensação de ficar de 1 a 2 horas sentado ouvindo um pastor
falar e ao final parece que ele não falou realmente
absolutamente nada? Exatamente assim), e ainda nesse estado,
eu Hugo não conseguia entender a síntese do que estava sendo
dito, e entendia que a igreja possuía uma mensagem e uma
síntese do que eles chamavam de “Evangelho”, mas eu apenas
ouvia o sermão dos cultos como algo que fazia parte da religião
e eu tinha de ouvir, mesmo sem entender.

Algo que vi novo na Metodista e que não havia na


IURD, foi uma liderança jovem, até com pregadores de culto
público de jovens, tanto meninos como meninas, coisa que não
existia em na Universal.

Métodos como células, G-12 e MDA eram muito


comuns nesse tempo. Certa vez conheci o Cláudio Duarte, que
para a época ainda estava começando a ficar conhecido.
Ocorria muito também as idas aos shows de Talles Roberto e
Fernandinho que na época estavam no topo de todas as paradas
de sucesso gospel.

Entretanto, paralelamente a isso tudo, eu estava


entrando no ápice da adolescência, ainda que membrado na
Metodista, eu vivia uma vida desregrada e ímpia, tendo
conhecido bebida como entorpecente, tendo conhecido
meninas, tendo conhecido o uma vida “underground” com
skatistas e dançarinos de Hip Hop.

159
Eu na adolescência até cheguei a dançar por um bom
tempo “dubstep”, um tipo de dança de Hip Hop. Ainda que
oficialmente e externamente crente, até esse momento, eu
nunca tinha nascido de novo ou ouvido o Evangelho com
ouvido crente. E ouso dizer que talvez nunca até ali, nem
mesmo com ouvidos incrédulos, eu tinha ouvido as
informações que concernem ao Evangelho.

E isso é alarmante, pois sabendo hoje o Evangelho e ao


me deparar com o fato de eu ter ficado 10 anos na Universal e 3
anos na Metodista, pense em quantas pregações eu já ouvi e
assisti. E sem brincadeira, eu não devo ter ouvido as
informações do Evangelho em nenhuma delas. Por isso essa
justificativa que nos dão hoje “pelo menos eles estão pregando
o evangelho”, para mim não passa de mentira.

Porém, depois de todo esse mar de demônios, O Deus


que ressuscita os mortos, segundo a Sua Eleição Incondicional,
num domingo do mês de janeiro de 2014, providencialmente a
Metodista decidiu enviar um grupo de jovens para uma base
missionária de linha aparentemente batista que cuidava de
dependentes químicos, para conhecermos o trabalho deles e o
que eles estavam fazendo lá.

E eu e um grupo de jovens, em um ônibus de linha,


fomos às 5 da manhã para essa base missionária que cuidava de
pessoas com problemas com drogas e outros pecados.

Chegando a uns 2 km de lá, descemos do nosso ônibus


e começamos a andar por uma BR até o nosso destino. E eu
Hugo, estava daquele jeito jovem, muito sono, sem vontade
alguma de estar ali, me arrastando, e com muito tédio, e sem
perspectiva alguma de algo novo debaixo do sol. A essa altura
da minha caminhada pseudo cristã eu achava que eu já tinha

160
visto de tudo no cristianismo, mas mal sabia eu que dá
informação principal por anos eu tinha sido privado.

Chegamos ao local. Eu me sentei em um dos bancos do


lugar de reunião. Do lado direito havia bancos específicos para
os visitantes, enquanto do lado esquerdo sentavam-se os
dependentes em tratamento, que eram chamados de “valentes”.

E eu com um sono quebrantador enquanto ocorria a


espera da chegada do pastor, e isso por volta das 6 da manhã
ainda. Debrucei-me sobre a cadeira da frente para dormir, e
sim, eu peguei no sono profundamente. E de repente, como
num salto, eu despertei e de uma tal forma que o sono fugiu de
mim, e por providência, isso ocorreu no exato instante da
chegada do pastor, realmente, sem emoção, aquilo foi algo
sobrenatural e surpreendente, o sono me fugiu e parecia que
eu estava tão despertado para aquele culto como se eu tivesse
corrido uma maratona ou se tivesse mergulhado em água fria
com sangue quente.

Percebe? Não sou antissobrenaturalista. Antes, afirmar


que essa experiência que vivi de o sono ter me fugido
completamente fez sem dúvidas, parte da providência divina de
me colocar atento as informações que eu ia ouvir naquela
pregação. E o que isso tem a ver com dons espirituais e com o
pentecostalismo? Nada!

E vi diante de mim um pastor bem diferente de tudo o


que eu já havia presenciado, um homem um pouco acima do
peso, cabelos grandes até os ombros, bermuda na altura dos
joelhos, AllStar no pé e um pingente de crucifixo em madeira
no peito, um tipo de bijuteria de artesanato que eles mesmo
produziam como recreação, sim, algo realmente muito

161
incomum, e eu espera o de sempre, um pastor de cunho
pentecostal de terno aparecendo para pregar e gritar.

Porém, de repente, ele saudou a igreja e abriu em um


texto muito específico, e sem microfone, a plenos pulmões,
começou a pregar o Evangelho a partir do texto de “Eloí, Eloí,
lamá sabactâni? Que, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por
que me desamparaste?” (Marcos 15:34).

Conforme esse inusitado pastor ia discorrendo no texto


acerca desse brado de Jesus na cruz, ele foi explicando a partir
da passagem da ressurreição de Lázaro que tudo o que Jesus
falava em voz alta era didático, não que ele precisasse falar,
mas falava para ser registrado e, por conseguinte para o nosso
benefício.

Quando ele aplicou isso ao brado na cruz, ele explicou que


Jesus quando bradou: “Eloí, Eloí, Lamá sabactâni...” (Marcos
15:34), para deixar bem claro a nós e a quem O ouvia, fez isso
para nos ensinar que Deus Pai, que desde toda a eternidade
NUNCA havia se separado de Seu Filho Unigênito, em um
grande mistério da Trindade, o abandonou na cruz, virando
assim as costas para Ele por causa de nossos pecados. E de uma
forma impressionante, tal pastor disse isso com o rosto virado
exatamente para mim.

Naquele momento, Jesus, Deus e o Evangelho que eram


coisas sempre tão distantes para mim tomaram ali uma forma
especificamente pessoal. O sacrifício de Cristo que sempre foi
algo distante, mas que poderia me beneficiar, agora me parecia
tão pessoal e específico, foi como se um arpão fosse lançado
em meu coração, e eu que estava tão distante, fosse assim
trazido para perto da cruz, para entender então que aquele
sacrifício do filho de Deus era sobre mim, e especificamente

162
por mim, vendo assim agora, o amor específico de Deus à
minha pessoa.

Quando eu entendi que Jesus foi abandonado por Deus Pai na


cruz por causa dos meus pecados, naquele exato momento, eu
nasci de novo. Costumo dizer que sentei naquele banco de
madeira, morto em delitos e pecados, mas me levantei vivo
dentre os mortos para sempre mediante o Evangelho. Sim, tudo
se fez novo.

Já vou voltar para o Cessacionismo e como ele pode


purificar as coisas doutrinariamente, mas antes, nesse lapso de
tempo entre meus 16 a 18 anos, fui me desvinculando da
Metodista e me integrando cada vez mais a essa base
missionária citada, chegando a ficar 21 dias com eles
integralmente, um dia após a minha conversão, ou dois dias
após.

E essa base missionária na época, foi fundada com certa


ajuda da Junta de Missões Nacionais da Batista ou de algum
dos líderes, mas ela sempre possuiu em si um viés
independente (eu não sei bem ao certo, mas creio ser isso).

Comecei essa jornada com eles um pouco distante, mas


continuamente presente nos trabalhos externos. Fiz teatro,
visitas a hospitais, evangelismo de rua, visita a pessoas
carentes, doações de roupa, doações de comida, ajuda a
dependentes químicos, porém ainda sempre distante sem
integralidade.

Esse convívio externo, porém, me deu muito contato


com o estilo de doutrina dos missionários, que eram de várias
partes do país e do estado, me tornando assim, juntamente com
o meu tempo na Universal e na Metodista, um verdadeiro

163
arminiano prático, e não somente isso, um continuísta místico
do mais fiel possível.

E isso me é muito intrigante, pois simultaneamente ao


fato de eles saberem o Evangelho lá, e estarem em parte
verdadeiramente o pregando, no que concerne a espiritualidade
prática, eles não se distinguiam de outros carismáticos em
muitas coisas, a não ser no falar em línguas e nas profecias
diretas. A espiritualidade deles, apesar de arminianos, era muito
parecida com a dos Calvinistas continuístas, ou seja, não havia
estardalhaços, mas a vida interiormente espiritualizada era
excessivamente comum.

E eu segui a “manada”, eu realmente seguia vozes


interiores e era estimulado por eles ali a “ouvir o Espírito
Santo”. Já sendo eu, porém convertido, tive a graça de ficar
muito vidrado na leitura bíblica e no evangelismo, eu realmente
com a conversão virei uma mistura de justificado com coisas
ainda não santificadas em muitas áreas pneumatológicas.

Isso é muito importante de se falar a essa altura, pois


muitos acusam o Cessacionismo como desnecessário por conta
que ele “não influencia na salvação”, e isso é verdade na
medida que estamos falando da justificação pela fé, mas é uma
grande mentira na medida que estamos falando da santificação
que é peça integrante do todo da salvação, da Ordo Salutis.

Eu fui salvo (justificado)? Sim. Mas eu fui para o céu


imediatamente? Não. Sendo assim, havia muitos espinhos
doutrinários em mim ainda agarrados por conta do matagal
carismático da Universal e da Metodista, no qual eu por muito
tempo passei e estive. E são esses tipos de espinhos que o
Cessacionismo retira de nós.

164
E então dos 16 aos 18 anos de idade, eu fui arminiano –
esse é um motivo óbvio e prático do porquê eu insisto em dizer
que existem arminianos regenerados, pois eu mesmo fui um
deles, mas também admito que por conta do fato de serem
verdadeiramente eleitos, estes, quando expostos à verdade
creem nela mais precisamente.

E eu fui arminiano por uns 2 anos, até que durante uma


conversa informal com um amigo a respeito de soteriologia
bíblica em um churrasco de amigos, comecei a ser convencido
com respeito ao Calvinismo, em seus 5 pontos. E durante um
bom período houve em mim uma iluminação espiritual nestes
assuntos em vários textos, como se tudo para onde eu olhasse
me iluminasse acerca dos 5 pontos do Calvinismo. Eu entrei em
um momento esclarecedor até que eu fui convencido de cada
ponto da TULIP.

Se você deseja saber mais especificamente o meu


processo de mudança em cada ponto do Calvinismo, adquira
meu E-book “O que são os 5 pontos do Calvinismo? ”, pois
nele eu falo com um teor mais exaustivo a respeito de cada
nuance de meu convencimento (em breve ele terá versão física
também).

Lembro-me que o último ponto dos 5 a ser superado,


era o da “Expiação Limitada”, que com muita dificuldade
entrou em minha cabeça ao perceber que Cristo tinha morrido
na verdade pela Igreja e não pelo mundo todo sem exceção.

Então após os 2 anos de convertido comecei a me


aprofundar cada vez mais no Calvinismo e em sua soteriologia
pra ser mais específico, e dos agora 18 até meus 21 anos eu só
me aprimorei no que eu cria. Todavia, nem tudo eram rosas.

165
Apesar de já ser Calvinista de 5 pontos, aos 21 anos, a
mística que definia a minha vida como espiritual perdurava
comigo e em mim desde então, moldada desde minha infância
na Universal, banhada na Metodista e infelizmente levada ao
ápice na base missionária, pois apesar de saberem o Evangelho,
eles eram continuístas práticos como informei.

De forma geral, a base missionária sempre estava


ocupada em boas ações sociais, mas doutrinariamente sempre
houve grandes rombos doutrinários aqui e ali, e o pior desses
problemas era esse das “vozes místicas”, a ponto de um dos
líderes de lá, o pastor principal que foi na verdade o meio para
a minha regeneração pelo Evangelho, a negligenciar a leitura
das Escrituras como única regra para se guiar, preferindo
constantemente ouvir as vozes interiores que segundo ele eram-
lhe audíveis, o que o levou a perder amigos, mantenedores,
missionários, voluntários e creio que principalmente a sua
saúde mental, mas apesar de tudo isso lhe ter acontecido, eu o
amo profundamente, sem nem mesmo ele o saber.

E tristemente tenho hoje a consciência de que minha


experiência ali, foi o ensinamento prático e visual de como o
continuísmo levado às últimas consequências pode destruir um
homem integralmente e levá-lo ao poço do misticismo, mas,
ainda assim, sempre há esperança quando se é um eleito de
Deus.

Em vez de eu me desvincular deles, pelo fato de eu estar


cada vez mais convicto do Calvinismo, eu acabei pegando o
caminho contrário e larguei minha faculdade de enfermagem,
meu trabalho estável e fui viver missões integralmente por 6
meses com eles.

166
Apesar de eu apresentar esses rombos doutrinários
deles, por conta do trabalho amplamente social e evangelístico,
vive muitos dias incríveis e esclarecedores, os quais me deram
muita experiência de vida pessoal, mesmo eu possuindo pouca
idade. E lá eu fiz de tudo um pouco, o que me acrescentou
experiência prática cristã também.

Até que um dia veio ao fim o meu contato com essa


base missionária, que apesar de tudo que me ensinaram
doutrinariamente errado a respeito da espiritualidade
pneumatológica, muito me ajudou em diversos aspectos, e me
fez viver em 6 meses o que outros demoram anos para
vivenciar.

Voltei a minha vida comum. Trabalho, estudos,


relacionamentos, dia a dia, amigos, tudo voltou ao ordinário
depois desse período, porém algo ainda me acompanhava, o
que eu posso chamar hoje de “templo místico interior”.

Sim, essa vida interior a lá “Madame Guyon”


permanecia dentro de mim, e nesse estilo quietista de vida eu
segui por mais um tempo, e me parece que Deus nesse aspecto
pneumatológico estava me levando ao limite das
experimentações carismáticas, pois eu cheguei até a congregar
num ajuntamento cristão ao estilo Quakers ou algo do tipo, a
famosa “igreja sem nome”, ao estilo Watchman Nee, o que
mais ainda acentuou o meu “templo místico interior”, pois o
culto deles, tanto no momento de pregação e no de oração,
eram segundo, e até hoje é, conforme o que se “ouvir” do
Espírito Santo, ou seja, se você tivesse uma palavra espiritual
para dizer que O Espírito Santo tivesse te revelado, lá, você
podia se levantar e falar a frente, a respeito disto ou daquilo que
sentiu de Deus que deveria falar.

167
E havia entre eles uma frase bem comum: “O Senhor
me falou isso ontem...O Senhor falou isto e isto ao meu coração
hoje...O Espírito Santo pede que eu compartilhe isso ou aquilo
com a igreja”, fora os infindáveis relatos de irmãos pelo Brasil
a fora que se reuniam desta mesma maneira “em torno do nome
do Senhor” e que tinham todo tipo de experiência quietista para
contar. Parece a mim hoje com isso, que Deus desejava que eu
vivesse de tudo um pouco que o continuacionismo e seus
desdobramentos práticos poderiam oferecer.

Ufa de novo! Depois de toda essa vivência, um dia,


tentando eu ainda seguir esse estilo de vida que estava me
destruindo, eu questionei essas vozes interiores pela primeira
vez, questionei o porquê eu deveria segui-las como se fossem
Deus falando comigo me exortando e me consolando, ainda
mais à luz de tanta leitura bíblica que eu sempre tive, e a
questão nuclear pra mim foi: qual deveria ser a minha única
regra de fé e prática?

Creio que esse foi o ponto principal no qual houve a


virada de chave em minha espiritualidade e vida, na qual passei
de um assíduo crente místico e continuísta prático para alguém
que estava calando vozes “inspiradas” ao meu redor (minhas e
das pessoas), para então começar a ouvir o que as Escrituras
têm para me falar em sua objetividade clara. E assim o foi.

Até esse momento, que eu aos 21 anos comecei a


questionar essa vida esotérica que eu vivia, eu não tinha ainda
analisado a questão dos dons espirituais no Novo Testamento,
ou Atos dos apóstolos, ou a obra do Espírito Santo nas
Escrituras como um todo para eu poder então estar perto do
Cessacionismo, eu nem sabia que existia esse tal
“Cessacionismo”- o que creio ser o também o problema de
muitos de vocês que estão lendo esse livro, há um incomodo,

168
há uma vontade de mudança, mas não se conhece ainda o
cessacionismo como doutrina.

Mas sem dúvidas algumas nesse período já havia em


mim um trabalho embrionário a respeito do Cessacionismo em
certo nível, questionando as línguas, as profecias, os milagres e
as curas, nesse período eu não falava mais em línguas como eu
fazia na Universal e na Metodista, e como também a respeito da
expulsão de demônios que eu já percebia que havia algo
esquisito, mas nada aprofundado eu tinha nesse momento, ou
melhor, nada eu possuía sistematizado nesse momento.

Até que, um dia, ao questionar e ser questionado por um


líder de jovens da Igreja Metodista aqui da minha cidade a
respeito da veracidade dos dons extraordinários entre eles hoje,
ele me fez a pergunta que despertou o titã teológico em mim.
Ele me perguntou a pergunta que foi o pontapé inicial de todo o
meu trabalho pneumatológico no Cessacionismo, ele me
questionou quando eu duvidei das experiências que eles
viviam: “Mas qual é a base bíblica para o Cessacionismo? ” –
Perguntou ele, e ele chegou a afirmar para mim: “O
cessacionismo não tem base bíblica! ”.

E aí meus amigos, tudo se iniciou.., e me lembro que


de pronta resposta citei 1 Coríntios 13 para o responder, o que
de imediato ele rebateu usando a expressão “havendo ciência
desaparecerá” me perguntando se a ciência tinha então cessado,
e eu já era ciente de que a “ciência” que Paulo citava ali, e a
que ele propunha como ciência empírica eram completamente
distintas, pois ela não era o modo empírico de repetição que os
cientistas hoje usam, mas naquele momento citado por Paulo
ela era uma ciência que tinha a ver com os dons.

169
Nisto, apesar de eu ainda não saber muito ainda sobre
cessacionismo e o que responder a quem vinha me rebater
sobre meus questionamentos a respeito do meio pentecostal, eu
já tinha uma certeza em mente: “Tem alguma coisa de errado
com o pentecostalismo. Eu creio que alguma coisa aconteceu
do tempo dos apóstolos para cá, eu creio que com respeito a
alguns dons espirituais, creio que alguns já cessaram”.

Todo trabalho que se seguiu a isso, de eu analisar os


textos bíblicos, de ouvir os argumentos de carismáticos,
perceber suas lacunas teológicas, de eu debater em grupos de
Whatsapp, das lives no Instagram, tudo o que se seguiu, foi
para que eu ao máximo possível fosse exposto a problemática
dos dons espirituais e como eu poderia entender mais para
ajudar aos outros.

Uma guerra começou, e eu iniciei oposições as pessoas


que já há muito tempo tratavam desses assuntos de forma
continuísta. E com a cara e a coragem eu me punha contra elas
em questionamento, para que ao ser rebatido, elas pudessem
mostrar para mim onde estava as lacunas de minha
argumentação para que eu então pudesse as concertar, e assim o
foi por um longo tempo.

Hoje eu posso afirmar que a sistematização bíblica de


entendimento dos textos, o preenchimento de lacunas não
respondidas, somadas a minha apologética contra as
incoerências teológicas dos carismáticos, me geraram todo o
entendimento no cessacionismo que eu tenho hoje. E
continuam gerando.

Com o passar do tempo, a respeito de continuísmo e


Cessacionismo, fui percebendo que eu sabia responder quase
todos os questionamentos que me apresentavam nesse assunto,

170
alguns eu respondia de imediato outros eu levava um pouco
mais de tempo para pensar, mas respondia também. E foi aí que
percebi que Deus tinha me confiado, segundo o dom de ensino
e exortação, a capacidade espiritual e a facilidade de
entendimento nesse assunto específico, e assim Cessacionismo
se tornou meu nicho e área de atuação em pneumatologia.

Certamente eu possuo entendimento teológico amplo,


pela graça de Deus, mas quem me segue sabe o quanto me
proponho constantemente em Cessacionismo.

Inicialmente, falo diante de Cristo, eu não tinha lido


NADA de nenhum irmão a respeito do assunto, nem mesmo
um parágrafo de MacArthur sobre, tudo o que eu argumentava
inicialmente era a partir dos textos bíblicos, como insisto em
fazer até hoje, sem usar de experiência pessoais minhas ou de
terceiros e muito menos me usar das opiniões encontradas na
história da igreja de ambos os lados, para com isso validar o
Cessacionismo.

Essa minha insistência em usar somente os textos


bíblicos para ensinar o Cessacionismo torna tudo mais difícil
para os pentecostais, pois em si não existe nenhuma base
bíblica para o continuísmo dos dons imanentes e sináticos hoje,
muito pelo contrário, o que há é muita base bíblica para a
interrupção deles ao atingirem certos objetivos.

E assim, sem ter lido os irmãos cessacionistas que eram


antes de mim, comecei a partir dos textos bíblicos a criar uma
didática própria e 100% original, sistematizando da melhor
forma possível o que a Bíblia fala a respeito do final de alguns
dons, e me glorio no Senhor em dizer que o Cessacionismo que
ensino eu não aprendi de homem algum, mas das Escrituras
diretamente.

171
Esse tipo de procedimento que eu tenho gera
naturalmente um monstro teológico para os pentecostais, pois
toda apologética que eles possuem na área da pneumatologia é
baseada em “listas de adeptos” e “citações soltas”, ou seja, eles
citam o pastor fulano, o pastor beltrano, a citação histórica tal e
a experiência que algum cristão tenha vivido aqui e ali. E isso,
eles usam como base bíblica para o continuísmo hoje. Isso é
equivalente a aprovar uma mentira só por que uma maioria a
aprovam, ou porque pessoas em destaque a aprovam.

O grande problema que isso gera é que assim como os


continuístas possuem suas “listas de adeptos”, nós
cessacionistas temos a nossa também, a qual é maior e bem
“melhor”, por assim dizer. Porém, esse tipo de guerra eu não
começo, pois se queremos validar uma doutrina por meio de
quantitativo de irmão que aderem ou não a ela, já não será mais
as Escrituras a nossa única regra normativa.

Hoje, tenho quase todos os livros possíveis sobre


Cessacionismo, em português, tanto de brasileiros como
traduzidos, desde MacArthur a Hoekema, B.B Warfield a O.
Palmer Robertson, Josafá Vasconcelos à Thomas Schneider.

Já os li, já entendi a síntese do que ensinam, mas antes


mesmo de antes de ver a concordância deles com o que eu
entendia e desenvolvi, eu mesmo já tinha sintetizado e
sistematizado o cessacionismo em meus estudos solitários. E
com isso não estou formando um culto a mim ou uma nova
doutrina, antes estou mostrando que o “meu” cessacionismo,
que poderia ser chamado com humor e reservas de
“Cessacionismo Huguenote”, é original e pautado somente nas
Escrituras, sem influência de terceiros.

172
E esse ponto é crucial, pois se eu sem a influência de
nenhum irmão cessacionista, descobri e compreendi o
cessacionismo pelas Escrituras, isso significa que qualquer
pessoa com acesso à bíblia poderia potencialmente o fazer
também, estabelecendo dessa forma o Cessacionismo como
bíblico e didático por si mesmo.

Essa minha abordagem independente creio ser boa para


a nossa geração, pois percebo que os irmãos que escrevem
sobre cessacionismo me parecem se repetirem, se
contradizerem e nunca parecem chegar a um ponto decisivo
necessário, me parecendo muitas vezes que eles, não todos,
estão andando em círculos politizados, como que não querendo
ofender o incomodar ninguém.

Estes irmãos me parecem não querer fazer a conclusão


nuclear do cessacionismo, que é: O continuísmo é uma
heresia e não uma mera questão de perspectiva! Como
também que toda instituição ou crente que abraça o
continuísmo está conscientemente ou inconscientemente,
negando a suficiência das Escrituras como autoridade
única, e, por conseguinte, sua eficácia prática e espiritual
para a igreja.

E depois desta máxima, em relação ao que eu ensino,


uns vão para um lado em reação positiva ao Cessacionismo
concordando que é isso mesmo, já outros vão para o outro lado
afirmando ser um posicionamento muito radical e que não é
isso que desejam. Os que ficam do lado cessacionista da força
acabam sofrendo todo o dano de realmente perceber a verdade,
já os que se vão para o lado mais experimentalista do
cristianismo, se afastam sempre com uma persona pentecostal
específica em suas mentes para com a qual possuem muito
apreço pessoal, ou também uma experiência pessoal que

173
viveram e que não podem negar para então abraçar o
Cessacionismo, e dizem: “não posso crer assim, nem mesmo
negar o que vivi ou negar que no passado me acolheu”.

Voltando a história do meu início de trabalho no


Cessacionismo, ele começou de forma por demais embrionária
no princípio, foi se aperfeiçoando com o tempo e agora um
pouco mais amadurecido, decidi escrever sobre. E como eu
disse no título, lá no começo sobre o cessacionismo um
purificador doutrinário, depois de ter desenvolvido toda minha
história cristã até chegar a pneumatologia correta, é que, o
Cessacionismo em relação a mim mudou as bases de minhas
crenças.

Em vez de eu me guiar pelo experimentalismo místico


interior ou externo de outrem, passei a ter credulidade no
Cessacionismo de certos dons quando comecei a considerar a
bíblia como a norma a respeito de como eu deveria agir e viver.

Quando eu entendi a respeito do fim dos dons


espetaculares, e comecei a recapitular o que li nas Escrituras,
não achei lugar mais para a prática de meu misticismo pessoal,
para as vozes interiores, para a crença em sonhos e visões, para
a fé em profetas de igrejas aqui e ali, em pessoas que tinham a
capacidade de curar ou de ir ao céu e ao inferno e em pessoas
que podiam falar em línguas estranhas.

O templo pagão em mim foi derrubado e destruído, tudo


cessou, na medida que eu cri que os dons extraordinários
cessaram também. E sim, tudo o que me restou foi aquele
antigo livro no qual comumente chamamos de Palavra de
Deus. Isto é o verdadeiro e mais puro Sola Scriptura prático, no
qual não há nada, não há comunicações, revelações, inspirações
ou premonições, há somente o texto e ele nos é suficiente.

174
Por isso, o cessacionismo pode purificar a sua igreja, ou
ao menos você, pois uma vez que se entende que o
cessacionismo e o Sola Scriptura são a mesma coisa, se você
passar ao ter como sua cosmovisão pneumatológica, ou se sua
congregação passa a confessar publicamente o Cessacionismo,
isso levará tanto você como a sua igreja a deixar os achismos,
os “Deus me disse”, o “eu senti de Deus isso ou aquilo”, e fará
com que o foco de toda obra local, por exemplo, seja em
aperfeiçoar o culto bíblico, ter uma pregação pura, uma oração
sincera e lúcida e um ajuntamento de crentes que são edificados
no texto bíblico somente.

No Cessacionismo, as experiências pastorais não serão


mais suficientes como conteúdo de sermão, as enrolações
durante as pregações ficarão mais nítidas quando compararmos
o que é dito com o que está escrito, o interesse pelas Escrituras
e pelo que nela está aumentará, a pregação expositiva será cada
vez mais necessária, um retorno aos escritos de homens
cessacionistas do passado que lutaram pela suficiência das
Escrituras começará a se tornar cada vez mais comum, e
quando menos se esperar, sua igreja estará se reformando, sim,
estará se tornando reformada, por causa do processo
cessacionista de crença.

Faça o teste caso você for pastor. Homeopaticamente vá


retirando as superstições carismáticas, e verá com sua igreja,
sendo ela crente, se ela não ficará mais ávida e interessada no
que a bíblia diz.

Que ninguém vos engane irmãos, o que torna uma


igreja reformada é o Cessacionismo, ou se preferir outra
nomenclatura, o Sola Scriptura. E a conclusão e lógica dessas
máximas é que, enquanto o continuísmo for uma realidade na

175
congregação, tanto na doutrina como nos líderes, uma igreja
carismática nunca será saudável como poderia ser e nem
mesmo será uma igreja reformada historicamente.

O continuísmo é, sem dúvida, o maior mal da


eclesiologia hoje. Alguns pensam que essa questão dos dons
espirituais é algo que abrange somente o campo
pneumatológico e teórico, mas uma verdade sólida é: todo
problema pneumatológico se torna uma gangrena eclesiológica.

Você se lembra de Corinto? Qual é a igreja descrita na


bíblia com mais problemas eclesiológicos e pessoais? Corinto.
E qual é um dos assuntos principais e até iniciais da exortação
paulina para com eles? Dons espirituais. Não é curioso?
Arrogar e praticar os dons espirituais de forma errada ou falsa,
confere “autoridade divina” ao portador, e é neste momento que
as Escrituras verdadeiras são negligenciadas como sendo
insuficientes, e é aí que igreja desanda de vez.

No que compete à individualidade cristã, caso para com


a sua igreja o cessacionismo não for purificador por causa da
dureza do coração dos Homens que nela congregam, ao menos,
o Cessacionismo pode purificar você. Lembre-se que milhares
morreram no deserto por causa da dureza de coração, mas a
palavra foi aproveitada naqueles que a misturaram com a fé
(Hebreus 4:2).

Vou lhe contar, por fim, um caso. Lembro-me que


assim que imergi no cessacionismo, eu ainda estava na igreja
batista tradicional de minha cidade, e tal igreja, não somente
com respeito ao cessacionismo, mas com respeito também ao
calvinismo, não foi muito acolhedora da doutrina, isso fez com
que eu desejasse estar em um lugar onde “pássaros de mesma
plumagem voassem juntos”, pois eu percebi que o benefício

176
pessoal que essas doutrinas fizeram a mim não necessariamente
seriam aceitas pela minha igreja como um todo.

E a parti daí então, que eu fui para a IPB (Igreja


Presbiteriana do Brasil), e por providência divina me encontrei
com um pastor que era também cessacionista. Nisto, o
Cessacionismo não purificou a igreja onde eu estava naquele
momento inicial do dogma, mas certamente purificou a mim.

177
O CESSACIONISMO DEVERIA CAUSAR UM
DÉFICIT NA ESPIRITUALIDADE DO CRENTE
CESSACIONISTA, MAS NÃO CAUSA

Sabe, queridos leitores, se vocês estiverem atentos ao


que estou lhes ensinando até este momento, vocês perceberão
que a progressividade de entendimento naquele que era
continuísta e passa a ser cessacionista gera naturalmente um
afastamento das experiências cristianizadas pessoais ou de
terceiros como uma regra de fé e prática, e isso gera um apego
e uma aproximação natural e nítida às Escrituras
exclusivamente, como uma firme regra absoluta. Tomar o
caminho contrário e abraçar o misticismo experimental, te fará
sempre e para sempre negligenciar as Escrituras Sagradas.

Então não se deixe enganar. Não pense que o único


degrau a se subir na fé são os 5 pontos do calvinismo, eu
costumo dizer que estes são apenas o primeiro degrau, e que o
cessacionismo é o segundo. O calvinismo realmente santifica o
púlpito, mas precisamos definitivamente entender que é o
cessacionismo que purifica os cultos doutrinariamente.

Então, se caso você desejar ser progressivo no seu


entendimento da fé, e desejar abraçar ela como ela foi
sistematizada pelos reformadores, você precisará subir essa
escada mais um degrau. Não pense que a fé reformada é um
pódio, pois ela não é, ela é uma escada, e se você é um
Calvinista de 5 pontos, mas crê nos dons carismáticos hoje, te
exorto a sair dessa estagnação e subir mais um degrau na fé
verdadeira.

Quando nos deparamos com a já conhecida proposta


carismática faz-me parecer que realmente a experiência que
178
eles vendem é uma necessidade essencial para todo e qualquer
crente. O tom de venda dos pentecostais nunca é de uma
possibilidade opcional, antes, o que eles ensinam é dado como
algo indispensavelmente necessário a vida cristã.

No princípio do carismatismo, que foi em 1901 com


Parham, e em seguida na Rua Azusa com Seymour, eles sempre
abertamente pregavam que a segunda bênção (ou terceira se
contar a santificação plena pregada por Wesley como segunda),
era essencial a fé, e todos os verdadeiros crentes, e a evidência
de tal experiência carismática era o falar em línguas estranhas.
O tom sempre foi esse, e hoje ele não mudou.

Sempre quando vamos em cultos pentecostais, quando


ouvimos pregações carismáticas, quando somos apresentados a
um novo método de experimentação espiritual, o dito cujo é
sempre apresentado como uma necessidade cristã, e caso você
não participar e aceitar, você está sempre “perdendo” alguma
coisa.

Perceba só esse pensamento, imagine se você for um


crente presbiteriano na Escócia por exemplo, que sempre foi
cessacionista, e pouquíssimo ou nenhum contato teve com as
doutrinas e máximas pentecostais (lembrando que por não ser o
pentecostalismo bíblico, nenhum crente pela bíblia somente
poderá chegar à conclusão de que os dons continuam e etc, isso
se passa por osmose carismática).

E de repente depois de anos você ao ler sobre as


doutrinas carismáticas. Se depare com a máxima de que se você
não participar das experiências do batismo em línguas, das
profecias particulares e atos dos proféticos, você não está numa
posição de “confirmado” na fé realmente. Qual seria a sua
reação? A minha seria rir. Por que se a bíblia mesma não me

179
apresenta por si só o pentecostalismo doutrinário como uma
necessidade ou a falta dele como um ônus, posso concluir
assim, que ser carismático em nada me acrescenta ou me tira
realmente algo espiritual.

Na prática, o ser cessacionista deveria, segundo a


doutrina pentecostal, gerar nos que o são um déficit imenso de
necessidades espirituais, mas pasmem, não causa. Na verdade,
e muito pelo contrário, o que faz parecer que os cessacionistas
sempre são os tipos de crentes mais saudáveis quando
comparados.

Os mesmos sempre estão apegados às Escrituras,


sempre desejam melhorar sua vida piedosa, sempre querem
melhor cultuar a Deus, sempre querem melhor gerir suas
famílias e trabalho. Agora, quando lançamos luz naqueles que
para si, arrogam “dons” espirituais e que arrogam serem “mais
especiais” por conta de suas experiências, vemos que a vida da
maioria maçante é um completo fracasso.

Nos seus trabalhos esses possuem fama de caloteiros e


mentirosos. Em suas famílias são classificados como maus pais,
maus maridos e como esposas rixosas. Na igreja os homens são
em maioria gananciosos ou uns bananas, as mulheres são
conhecidas como fofoqueiras e rixosas. Seus filhos na igreja
são na maioria das vezes são alienados e entediados às coisas
chamadas de Deus, ou só estão esperando a primeira
oportunidade para pularem fora. Quanto a sua saúde corporal,
quase não se cuidam e dificilmente você verá um deles com um
plano de saúde.

Os que se dizem calvinistas e carismáticos possuem um


ego enorme e muitas vezes fétidos, como uma constante inveja
de qualquer um que tende a lhes ofuscar, uma indiferença

180
samaritana às questões pneumatológica que lhes questionam,
vivendo a maioria numa bolha imperturbável.

Quanto às suas experiências, sempre são cheias de


lacunas, aumentos, acréscimos e quando não são
completamente mentirosas. Mais amigos da experimentação do
que são amigos das Escrituras. Fora o fato de serem
debochados e sempre estarem fugindo dos cessacionistas que
lhes pedem a razão e a sistematização da sua fé, a qual na
realidade nem existe.

Seus cultos são aberrações humanas sensitivas das


piores possíveis, parecendo que o objetivo é sempre se
superarem a cada domingo. Sem ordem, sem paz, sem
harmonia cúltica. As músicas sempre são sobre seus próprios
umbigos, e sobre “Deus” lhes falando e consolando na primeira
pessoa.

Não tem intérprete, não tem quem haja com


discernimento, nada é feito para edificação, nada se parece com
a igreja vista e quista no novo testamento. Um tribalismo pagão
desenfreado. Dos que possuem conhecimento bíblico, são eles
sempre os mais ignorantes. Das seitas, a pior, e a mais baixa.
Lhes pergunto, em quem está o déficit? No cessacionista?

E lembrando que isso é assim, pois os que se


aproximam dos dons que já cessaram, se afastam das
Escrituras. E os que se aproximam das Escrituras confessam
que os dons (extraordinários) já cessaram.

Abram os olhos queridos. Vejam a raiz inicial desse


movimento que nasceu ontem de manhã, em 1901-1905. Eles
nunca tiveram nenhum apreço pelas Escrituras. Sempre foram
exclusivistas. Inventores de doutrinas, que colocam fardos

181
imensos sobre as consciências de seus adeptos, e nem com um
dedo tendem a ajudá-los.

O pentecostalismo é um movimento disseminado por


um homem cego, não só fisicamente, mas espiritualmente. E
somos nós cessacionistas que possuímos um déficit? Sério? O
que nos falta? Como algo já EXTINTO poderia nos suprir? E
caso os dons continuassem, como poderiam eles coexistir com
uma Escritura que confessamos ser suficiente? Há morte panela
irmãos, e estão nos forçando a comer.

As armas que eles usam é atribuir aos nossos


questionamentos blasfêmias, para que assim não ousemos
contra eles falar. Mas que Deus me dê o lugar mais horrendo do
inferno por blasfêmia se eu estiver falando contra Ele nisso,
mas com ampla convicção que na verdade eu estou “e puseste à
prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste
mentirosos.” (Apocalipse 2:2). Digo que o espírito que guia as
igrejas pentecostais hoje e que fundou ela no começo do século
XX não é o Espírito Santo de Deus, mas o espírito que um dia
foi um anjo de Deus, mas que agora foi precipitado a desgraça
eterna.

Sim irmãos, nós cessacionistas não possuímos déficit


nenhum. E diante da Santíssima Trindade eu confesso a todos
os que tem ouvidos para ouvir: que o pentecostalismo é uma
obra satânica, sim, um trabalho de Satanás, do seu começo até o
seu fim. E isso eu afirmo ao comparar doutrina com doutrina.
Ao olhar para as Escrituras. Ao estudar o início desse
movimento. Suas afirmações. Seus ideais. Suas intenções com
a igreja. E fica a mim cada vez mais claro que essa obra de
Satanás tem a intenção de afastar os crentes genuínos das
Escrituras Sagradas, a qual coisa é o trabalho do diabo desde o
princípio (“É assim que Deus disse...” – Gênesis 3:1), criando
assim um pseudo evangelho e uma pseudo assembleia de Deus,
182
mas a verdade é que uma religião falsa nunca poderá te
conduzir ao caminho verdadeiro.

Se falar contra o pentecostalismo, reitero, é blasfemar


contra o Espírito Santo, que no juízo final Deus me coloque
diante de toda a criação como um vitupério eterno, e como o
maior exemplo do que nunca se deve dizer ou ensinar.

Entretanto, sabendo com grandíssima convicção a


respeito do que eu estou ensinando, sei particularmente, que ao
ensinar essas coisas a vocês assim, eu na eternidade brilharei
como o sol no seu firmamento (Daniel 12:3).

O Cessacionismo é fé, e como tal não te causa uma


falta, antes sempre, na medida que você avançar em
entendimento, te gerará bônus, te gerará graça e cada vez mais
entendimento santo e pacífico. Ser Cessacionista é estar em
paz, é confiar inteiramente nas Escrituras. Mas ser carismático
gerará sempre inquietude, e você sabe disso.

Que Deus, que é poderoso em santificar, purificar e


edificar a Sua igreja, nos livre dessa pneumatologia diabólica.
Amém.

183
APÊNDICE

Assim, após essa minha introdução a cosmovisão


cessacionista, que eu nesse curto livro lhe apresento,
certamente algo inevitável é gerado no leitor atento, que é: a
destruição completa do campo da neutralidade nesse assunto.

Se realmente você leu esse livro, e o entendeu até que


no mínimo possível, sua consciência clama a você por um
posicionamento mediante ao que você leu. E não há
escapatória. Ou você começará a considerar o cessacionismo
como possível, ou terá que o rejeitar abraçando então o
carismatismo.

E veja, não estou dizendo que você tem que abraçar o


Cessacionismo no mesmo nível conforme eu o faço, mas trago
a sua consciência a considerar inicialmente o Cessacionismo
como: primeiramente bíblico, real e também possível, para
então após isso ser admitido um nível de progressividade, digo,
um interesse em questionar em você de querer avançar mais e
mais nesse assunto.

Eu Hugo ainda tenho quatro grandes volumes físicos


para produzir. Fora documentos complexos, como: confissão,
catecismo, tabela, fluxograma e outros, para doutrinariamente
sistematizar o cessacionismo exaustivamente. E cito também
que farei cursos online, se assim Deus me permitir.

E assim, esse meu livro que está em suas mãos tem


além do objetivo de te introduzir na matéria chamada
Cessacionismo, a intenção de te abrir o apetite no assunto, para
que cada vez mais você o entenda, e quem sabe futuramente
possa o estar ensinando aos outros.
184
AGRADECIMENTOS

Cessacionismo não é difícil, difícil é achar que o ensine


corretamente. E tudo é óbvio quando você conhece a verdade!

Com essas máximas me despeço de você nesse singelo


livro, crendo em meu coração, que o Senhor testifica sempre
com as Escrituras por meio do Espírito Santo aos eleitos, a
respeito das coisas que são verdadeiras, pois somos nós aqueles
que proclamamos a plenos pulmões: “Eu sei em quem eu tenho
crido”, e sim, os eleitos sabem a verdade e diante dela nunca
podem resistir.

E sabendo disso agradeço ao Senhor por ter me


confiado tal obra, agradeço aos irmãos que me apoiam de
diversas formas e maneiras, principalmente ao irmão Rony que
me assiste muitas vezes em minhas necessidades, mesmo
morando tão distante de mim, mas que sempre está pronto a me
ajudar. Que Deus te abençoe meu irmão.

E quanto a você caro leitor, espero que muitas coisas


tenham mudado em sua cosmovisão a partir desta leitura acerca
dos dons espirituais.

Realmente o Cessacionismo é drástico, é dramático e


tem cheiro de morte e de vida, pois como costumo afirmar, ele
é a pneumatologia do Evangelho. E se caso alguns de vocês
foram convencidos a respeito do Cessacionismo nesse livro ou
em outros materiais, e se você vem de um meio pentecostal ou
neopentecostal, tais informações irão sim afetar todo o seu
círculo social, familiar, sentimental, espiritual e
congregacional, já lhe adianto desde de já.

185
O Cessacionismo para alguns é um verdadeiro abalo
sísmico, mas saiba que Jesus não veio trazer paz a terra, mas
espada, e isso em um sentido doutrinário, pois a verdadeira
doutrina causa divisão. Disso não temos dúvidas, pois pense!
Se você agora percebe que estava envolvo e submergido em
uma mentira na qual por anos acreditou, o que ocorrerá agora a
partir do momento que atingiste a lucidez doutrinária? União?
Você e eu sabemos que não.

O Cessacionismo causa muitos problemas quando crido,


não há dúvidas, mas, pelo menos, ele te salva de viver uma vida
como um (a) tolo (a) acorrentado pela consciência, e lhe traz
para uma cosmovisão de vida e paz cristã.

Que Deus, O Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo


Espírito Santo, nas Escrituras, lhes confirme biblicamente em
tudo o que eu disse aqui, é claro, levando vocês em
consideração as minhas palavras como honestas.

E que a Paz de Deus para a qual Ele nos chamou em um


só corpo eleito, possuindo um cânon perfeito como guia final,
guarde os nossos corações e mentes da destilação de chorume
infernal que brota das ilhargas do coração de Satanás e que hoje
tem sido ensinada a nós como verdadeira espiritualidade, e que
tem por nome: Pentecostalismo e Carismatismo.

Amém.

Todos os erros de gramática e português desse presente


documento, se existirem, serão corrigidos na próxima edição.

186

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