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“CORAÇÕES ARDENTES, PÉS A CAMINHO”

“Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o
encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta
forma, o rumo decisivo.” (Deus caritas est, n. 1).
Estamos aqui hoje, sobretudo, por esse motivo: porque um dia fomos encontrados por
uma Pessoa que mudou a nossa vida, porque fomos encontrados por Jesus. Existem inúmeras
consequências práticas desse encontro com Jesus. Mas nunca esqueçamos este princípio que
dá sentido a tudo o que somos e fazemos: o encontro pessoal com Jesus.
Qual era o lema paroquial do ano que está terminando? – “Alegres na esperança”
Para o próximo ano paroquial que se inicia semana que vem, o lema será: “corações
ardentes, pés a caminho”.
Este lema foi escolhido a partir do III Ano Vocacional do Brasil, cujo tema é Vocação:
graça e missão e o lema é “corações ardentes, pés a caminho.”
A inspiração bíblica desse lema é a passagem dos discípulos de Emaús. (Lc 24, 13-35).
Depois dos eventos da paixão e morte de Jesus, os discípulos estavam tristes e desiludidos.
Segundo o relato de Lucas, não acreditaram no testemunho das mulheres que viram o túmulo
vazio. Dois deles resolveram sair de Jerusalém, se afastar da comunidade, seguir seu próprio
caminho em direção ao povoado de Emaús. Neste caminho, Jesus vai ao encontro deles
escuta-os e depois lhes abre o coração explicando as Escrituras. Mas é só depois do partir do
Pão, ou seja, da eucaristia, que os seus olhos de fato enxergam e se dão conta do encontro
pessoal que tiveram com Jesus. Deram-se conta que o encontro pessoal com Jesus na Palavra
e na Eucaristia lhes fazia arder o coração. E o primeiro fruto desse encontro se expressou nos
pés que se colocam a caminho e retornam para a comunidade. A dinâmica que acontece na
vida de alguém a partir do encontro com Jesus não para nos corações ardentes, mas só se
completa quando os pés se colocam a caminho, quando a graça se transforma em missão.
O Ano Vocacional convida a uma reflexão ampla sobre a nossa consciência vocacional,
sobre a nossa sensibilidade de sabermos que somos todos chamados por Deus.
Mas como esse lema foi escolhido para a nossa vida paroquial também, vamos refletir
sobre um aspecto vocacional específico, que é a vocação do “ser Igreja”, ou seja, sobre a
identidade da Igreja ou o que significa ser chamado a ser Igreja.
Cada um de nós, pessoalmente foi chamado por Deus à vida. Cada um de nós foi
chamado por Deus a ser santo, a pertencer a Ele, especialmente pelo Batismo. Cada um de nós
também é chamado a uma vocação específica, como o matrimônio, a vida religiosa, o
sacerdócio. Mas dentro dessa dinâmica vocacional da nossa vida, juntamente com o nosso
chamado à santidade, está o nosso chamado a ser Igreja. Cada um e todos nós somos
chamados a ser Igreja.
O nosso objetivo com essa reflexão é, portanto, refletir sobre o que significa ser Igreja,
iluminados pelo nosso lema paroquial: “corações ardentes, pés a caminho”.
“Na fé cristã, tudo é pessoal, mas nada é individual. Tudo é comunitário, mas nada é
coletivo.” (Pe. Gilson)
O chamado a santidade, comum a todos, pode ser muitas vezes interpretado num
sentido individualista ou intimista. Eu, com os meus méritos e minha forças luto para ser
santo. Mas corremos o risco de ficar isolados e esquecer que ninguém é santo sozinho. Diz o
Papa Francisco na Gaudete et exultate, n. 6: “Por isso, ninguém se salva sozinho, como
indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações
interpessoais que se estabelecem na comunidade humana.” Jesus chama cada pessoa para
formar comunidade, não para ser um discípulo exclusivo.
“Se queres andar rápido, caminha sozinho. Se queres ir longe, caminha com os outros.”
(Provérbio Africano, citado pelo papa Francisco na Christus Vivit)
“É impossível ser feliz sozinho” (Tom Jobim)
A partir dessa primeira constatação sobre o cristianismo, vamos aprofundar a nossa
reflexão com base em três fontes oferecidas pelo texto-base do ano vocacional. Além da
inspiração bíblica de fundo, o documento apresenta o Concílio Vaticano II, o V CELAM que
deu origem ao assim chamado documento de Aparecida e o Magistério do Papa Francisco.

CONCÍLIO VATICANO II
Em geral os Concílios anteriores ao Vaticano II, na história da Igreja, tinham um
objetivo de esclarecer e tornar claro algum aspecto da fé cristã por meio da proclamação de
um dogma que evitasse alguma vivência equivocada da fé ou alguma heresia.
Já o Concílio Vaticano II (CVII), que ocorreu entre 1962 e 1965 pretendeu fazer uma
espécie de resgate da essência da fé cristã. Por isso, o CVII não proclamou nenhum dogma
nem revogou nada do conteúdo da fé, mas procurou refletir sobre como a Igreja é chamada a
continuar a proclamar a verdade do Evangelho em um mundo moderno em constante
transformação. Por isso, o Concílio Vaticano II é conhecido por ser um Concílio Pastoral.
Assim dizia São João XXIII na abertura do Concílio em 11 de outubro de 1962: “O que
mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã
seja guardado e ensinado de forma mais eficaz. Essa doutrina abarca o homem inteiro,
composto de alma e corpo, e a nós, peregrinos nesta terra, manda-nos tender para a pátria
celeste. é necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja
aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a
substância do «depositum fidei », isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a
formulação com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e o mesmo
alcance. Será preciso atribuir muita importância a esta forma e, se necessário, insistir com
paciência, na sua elaboração; e dever-se-á usar a maneira de apresentar as coisas que mais
corresponda ao magistério, cujo caráter é prevalentemente pastoral.”
E assim disse o Papa Francisco na celebração da memória de São João XXIII e 60º
aniversário da abertura do Concílio em 11 de outubro de 2022: “foi para reavivar o seu amor
que a Igreja, pela primeira vez na história, dedicou um Concílio a interrogar-se sobre si
mesma, a refletir sobre a sua própria natureza e missão.” (n. 1)
O CVII pode ser comparado, portanto, a um “novo Pentecostes”. O Espírito suscitou
dons e carismas que se tornaram acessíveis a toda a humanidade, sejam judeus ou gentios.
Também na modernidade, a Igreja, inspirada pelo Espírito Santo precisa viver de tal modo que
a doutrina perene do Evangelho chegue a toda criatura, a todos os povos. O episódio narrado
em Atos fala de um “vento impetuoso”. Podemos pensar que “A brasa do coração ardente pelo
encontro com Cristo precisa do sopro do Espírito para se manter acesa e para que a Igreja
tenha força para continuar com os pés a caminho.”
A Paz como fruto do Espírito não é sinônimo de tranquilidade. Basta olhar para o
restante da narração dos Atos dos Apóstolos e perceber momentos de perseguição e desafios
na missão do anúncio do Evangelho. Assim também, depois do CVII, não houve um período
de tranquilidade.
Exemplo da experiência em Budapeste.
Queremos olhar para os documentos do CVII e procurar entender melhor como viver a
vocação a ser Igreja. O Concílio tem vários documentos, todos eles muito importantes, mas
podemos destacar dois documentos conciliares que falam sobre a Igreja. O primeiro é a
constituição dogmática Lumem Gentium, que trata sobre a Igreja em sua essência, ou seja,
sobre a identidade ou a vocação da Igreja. O segundo é a constituição pastoral Gaudium et
espes, que trata sobre a Igreja no mundo de hoje. Fazendo uma comparação com o nosso lema,
podemos pensar que ao tratar da identidade da Igreja o a constituição Lumem Gentium reflete
sobre o que faz o coração da Igreja arder. E, ao tratar sobre o papel da Igreja no mundo de
hoje, a constituição Gaudium et spes reflete sobre o que põe os pés da Igreja a caminho.
Ao apresentar uma imagem da Igreja, o Concílio afirma que a vocação da Igreja e,
portanto de cada um de nós como Batizado, é ser “povo de Deus”.
Assim diz a Lumem Gentium: “Aprouve, contudo, a Deus santificar e salvar os homens
não singularmente, sem nenhuma conexão uns com os outros, mas constituí-los num povo.”
(LG, 9).
Por isso dizia a profecia: “Eis que virão dias – oráculo do Senhor – em que concluirei
com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova. [...] Porei minha lei no fundo de
seu ser e a escreverei em seu coração. Então serei seu Deus e eles serão meu povo.” (Jr 31, 31.
33b).
“Foi Cristo quem instituiu esta nova aliança, isto é, o novo testamento em seu sangue
(cf. 1 Cor 11, 25), chamando de entre judeus e gentios um povo que junto crescesse para a
unidade, não segundo a carne, mas no Espírito e fosse o novo Povo de Deus. [...] Assim, este
povo messiânico, embora não abranja atualmente todos os homens e por vezes apareça como
pequeno rebanho, é contudo para todo o gênero humano germe firmíssimo de unidade,
esperança e salvação. [...]. Como o Israel segundo a carne, que peregrinava no deserto, já é
chamado Igreja de Deus, assim o novo Israel que, caminhando no presente tempo, busca a
futura cidade perene, também é chamado Igreja de Cristo.” (LG, 9)
Essa imagem de povo de Deus nos coloca diante do povo de Israel escolhido por meio
de Abraão, Isaac e Jacó. Povo que caminhava no deserto, depois da libertação do Egito, em
busca da Terra prometida. E então, essa imagem também nos coloca diante da comunidade
dos apóstolos que caminha pelo mundo em missão, sob o mandato de Cristo e o impulso do
Espírito Santo, para anunciar a boa nova da Salvação. “Todos os homens são chamados a
pertencer ao novo Povo de Deus. Por isso este povo, permanecendo uno e único, deve
estender-se a todo o mundo e por todos os tempos, para que se cumpra o desígnio da vontade
de Deus.” (LG, 13)
Como Igreja, não somos apenas um grupo de pessoas com algumas características em
comum. A nossa característica comum é ser “de Deus”. Podemos nos dividir em grupos de
diversas características: “o povo do sul” e o “povo do nordeste”, “o povo gente boa” e “o povo
chato”, e “o povo de direita” e “o povo de esquerda”. Mas, mesmo que tenhamos outras
diferenças, nossa característica comum e essencial é ser “de Deus”. O Espírito Santo congrega
a Igreja, o Povo de Deus, na unidade. Essa unidade, porém, é diferente de uma uniformidade.
Trata-se da unidade na diversidade, uma vez que são inúmeros os dons e carismas que
compõem os membros do único Corpo de Cristo. Aqui lembramos que no cristianismo tudo é
comunitário, mas nada é coletivo enquanto expressão de uniformidade.
Portanto, podemos destacar algumas características da vocação da Igreja enquanto
Povo de Deus:
- pertence a Deus (santidade por eleição: graça/coração ardente);
- peregrino (estrangeiros a caminho da pátria celeste: missão/pés a caminho);
- unidade (sinal concreto da unidade gerada pelo Espírito Santo, o povo não caminha a esmo,
mas para gerar unidade);
Ser povo de Deus é graça, é puro dom: “não fostes vós que me escolhestes, fui eu que
vos escolhi.” (Jo 15, 16). Ser povo de Deus é missão, nos coloca a caminho, no encontro com
o outro para gerar comunhão em busca do céu. O Povo de Deus tem o coração ardente e os
pés a caminho. Olhando para a pastoral, movimento, célula ou ministério em que participo
posso me perguntar:
Vivemos a vocação de ser Povo de Deus em comunhão com as outras pastorais, as outras
comunidades, a Diocese e toda Igreja?

DOCUMENTO DE APARECIDA
“Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo
encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra
e obras é nossa alegria.” (V CELAM – Aparecida, n. 29).
A principal imagem vocacional que o Documento de Aparecida apresenta é a de
discípulos-missionários. O encontro com Jesus transforma o coração humano em um coração
de discípulo, ou seja, em um coração ardente que se percebeu amado. Portanto, “Por sermos
amados, podemos prosseguir amando, em um canto de alegria que, já nesta peregrinação, ecoa
rumo à eternidade.” (cf. texto-base do 3º Ano Vocacional do Brasil, n. 34).
O encontro com Jesus faz do homem e da mulher pessoas eucarísticas, chamadas com
Cristo a ser alimento para a vida de cada semelhante. (cf. texto-base do 3º Ano Vocacional do
Brasil, n. 35). O encontro e a comunhão com Jesus na Eucaristia, que faz o coração arder, nos
chama e nos convoca a colocar os pés a caminho e promover o encontro e a comunhão com o
próximo, especialmente com os que mais sofrem. O discípulo acompanha o mestre de perto,
escuta-o e segue-o, deixa seu coração arder na presença do Senhor. Mas para o discípulo de
Jesus, sua identidade só adquire pleno sentido se o discípulo se torna missionário, se os seus
pés se colocam a caminho para ser, com a Igreja e na Igreja, Sacramento de Cristo no mundo,
conforme o CVII já afirmava na Constituição Dogmática Lumem Gentium, n. 1. Se eu sou
Igreja, eu também, com minha própria vida sou chamado a ser presença de Cristo para o
mundo.
Maria é também nosso modelo de discípula-missionária. Na sua vida fica clara a
dinâmica vocacional do coração ardente e dos pés a caminho. Após receber o anúncio do anjo
Gabriel e dar seu assentimento ao chamado recebido, Maria põe os pés a caminho. A graça
que transborda do encontro com Deus se transforma em anúncio, missão e encontro com
Isabel.
Podemos agora passar da dimensão pessoal para a dimensão comunitária. Assim como
pessoalmente sou chamado a ser discípulo-missionário, toda a Igreja, e também minha
paróquia é chamada a ser discípula-missionária, com as seguintes características:
- amado(a) por Deus (graça/coração ardente);
- Sacramento de Cristo no mundo (a Eucaristia como fonte e cume da missão/pés a caminho);
- tem Maria como modelo;
Olhando para a pastoral, movimento, célula ou ministério em que participo posso me
perguntar:
Vivemos a vocação de ser discípulos-missionários em comunhão com as outras pastorais, as
outras comunidades, a Diocese e toda Igreja?

MAGISTÉRIO DO PAPA FRANCISCO


Uma das características vocacionais muito presente nos ensinamentos do Papa
Francisco é o chamado a servir com ALEGRIA. A alegria é um fruto do Espírito Santo e,
portanto, um cristão que encontrou Jesus e foi enviado com a força do Espírito Santo está
marcado por uma experiência de profunda alegria que é chamado a partilhar no mundo.
Um exemplo claro da valorização da Alegria no pontificado de Francisco são os
próprios títulos dos principais documentos por ele escritos: “A alegria do Evangelho”; “A
alegria do amor”; “Alegrai-vos e exultai”.
Para Francisco, a verdadeira alegria do discípulo-missionário de Cristo expressa-se no
amor-serviço. Ou seja, no serviço que não espera retribuição, mas que, a exemplo de Jesus,
doa-se e consome-se pelo bem do outro.
Além dos documentos, encíclicas e exortações, o tema da alegria é recorrente em
muitas homilias e discursos do Papa. Pode ser proveitoso para nós refletir sobre uma homilia
recente do Papa Francisco na celebração da memória de São João XXIII e 60º aniversário da
abertura do Concílio em 11 de outubro de 2022. Assim perceberemos uma ligação de unidade
entre os apelos vocacionais para a Igreja do CVII, do Documento de Aparecida e do
magistério do Papa Francisco. Na ocasião, o Evangelho proclamado apresentava a tríplica
pergunta de Jesus a Pedro: “Amas-me?” e o chamado a apascentar as ovelhas. (cf. Jo 21, 15-
17). O Papa inicia sua reflexão ressaltando que Jesus dirige-se a toda a Igreja: “[...] o Senhor
[...] pergunta ainda, pergunta sempre à Igreja, sua esposa: «Amas-Me?».” (n. 1).
Então, o Papa fala sobre três modos de olhar a Igreja. O primeiro é o olhar do alto:
“Perguntemo-nos se, na Igreja, partimos de Deus, do seu olhar enamorado sobre nós. Existe
sempre a tentação de partir do eu antes que de Deus, colocar as nossas agendas antes do
Evangelho, deixar-se levar pelo vento do mundanismo para seguir as modas do tempo ou
rejeitar o tempo [...].Nem o progressismo que segue o mundo, nem o tradicionalismo – o
«retrogradismo» – que lamenta um mundo passado são provas de amor, mas de infidelidade.
[...]. Redescubramos o Concílio para devolver a primazia a Deus, ao essencial: a uma Igreja
que seja louca de amor pelo seu Senhor e por todos os homens, por Ele amados. [...] uma
Igreja que perdeu a alegria, perdeu o amor. [...] Seja a Igreja habitada pela alegria. Se não se
alegra, desdiz-se a si mesma, porque esquece o amor que a criou. E todavia quantos de nós
não conseguem viver a fé com alegria, sem murmurar nem criticar? Uma Igreja enamorada
por Jesus não tem tempo para confrontos, venenos e polémicas. Deus nos livre de ser críticos
e impacientes, duros e irascíveis.”
O segundo modo de olhar a Igreja, segundo o Papa Francisco, é o olhar do meio: “O
pastor está à frente do povo para assinalar o caminho, no meio do povo como um deles, e atrás
do povo para estar perto daqueles que vão atrasados. O pastor não está por cima, como o
pescador, mas no meio.” Essa é a missão da Igreja, não só dos bispos, dos padres ou dos
religiosos, mas de todos que nas suas pastorais movimentos e organismos exercem alguma
liderança. Continua o Papa: “A Igreja não celebrou o Concílio para fazer-se admirar, mas para
se dar. De facto, a nossa santa Mãe hierárquica, nascida do coração da Trindade, existe para
amar. [...] Apascenta – repete o Senhor à sua Igreja – e, apascentando, supera as nostalgias do
passado, o lamento pela falta de relevância, o apego ao poder, porque tu, povo santo de Deus,
és um povo pastoral: não existes para te apascentar a ti mesmo, para galgar, mas para
apascentar os outros, todos os outros, com amor.”
Por fim, o Papa apresenta o terceiro modo de olhar a Igreja, que é o olhar de conjunto
ou de comunhão: “O bom Pastor vê e quer o seu rebanho unido, sob a guia dos Pastores que
lhe deu.” O Papa lembra que a divisão é causada pelo diabo e continua: “Quantas vezes,
depois do Concílio, os cristãos se empenharam por escolher uma parte na Igreja, sem se dar
conta de dilacerar o coração da sua Mãe! Quantas vezes se preferiu ser «adeptos do próprio
grupo» em vez de servos de todos, ser progressistas e conservadores em vez de irmãos e
irmãs, «de direita» ou «de esquerda» mais do que ser de Jesus; arvorar-se em «guardiões da
verdade» ou em «solistas da novidade», em vez de se reconhecer como filhos humildes e
agradecidos da santa Mãe Igreja. [...]. Superemos as polarizações e guardemos a comunhão,
tornemo-nos cada vez mais «um só», como Jesus implorou antes de dar a vida por nós (cf. Jo
17, 21).”
Portanto, refletindo com o Magistério do Papa Francisco, podemos perceber que a
Igreja é:
- amada por Deus e alegre (graça / coração ardente);
- existe para amar, servir e apascentar a humanidade ferida (missão / pés a caminho) aqui
vemos a harmonia com outras imagens que o Papa utiliza para expressar a identidade da
Igreja, como a Igreja em saída e o “hospital de campanha”;
- chamada à comunhão e à unidade.
Olhar para a pastoral, movimento, célula ou ministério em que participo e perguntar:
Vivemos a vocação de ser Igreja alegre e servidora em comunhão com as outras pastorais, as
outras comunidades, a Diocese e toda Igreja? E, Por fim, para refletir e conversar em
pequenos grupos, fica a pergunta: Na escuta e na resposta ao chamado para ser Igreja, o que
faz meu coração arder e meus pés se colocarem a caminho?

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