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SACRAMENTUM CARITATIS
A Festa da Fé
e
Introdução ao Espírito da Liturgia
No Pontificado destacam-se as Exortações Apostólicas
Para o Papa Bento a liturgia sempre foi fonte e o ápice da vida cristã, seguindo
Sacrosanctum concilium e a Tradição viva da Igreja.
“ Foi o que nos recordou o próprio desenvolvimento do Concílio Vaticano II, que começou os seus
trabalhos (...) com o debate acerca do esquema da sagrada liturgia, depois aprovado solenemente, a
4 de Dezembro de 1963, o primeiro texto aprovado pelo Concílio (...). Mas, sem qualquer dúvida,
aquilo que à primeira vista pode parecer um caso, demonstrou-se a escolha mais justa, também a
partir da hierarquia dos temas e das tarefas mais importantes da Igreja. Com efeito, começando com
o tema da ‘liturgia’ o Concílio ressaltou de maneira muito clara o primado de Deus, a sua prioridade
absoluta. Antes de tudo, Deus: é precisamente isto que nos diz a escolha conciliar de começar a
partir da liturgia. Onde o olhar sobre Deus não é determinante, todas as outras realidades perdem a
sua orientação. O critério fundamental para a liturgia é a sua orientação para Deus, para poder
assim participar na sua própria obra” (26/09/2012).
A celebração litúrgica: lugar do encontro pessoal privilegiado com Jesus Cristo. Em
sua primeira Mensagem, ao final da concelebração Eucarística com os Cardeais
eleitores na Capela Sistina, em 20 de abril de 2005, declarava:
Assim, não é de admirar que durante seu pontificado Bento XVI tenha se
interessado tanto pela liturgia. Para o Papa a defesa de uma formação
litúrgica e da interioridade, de uma vida espiritual baseada na liturgia, foi
sempre pauta de seus discursos, procurando unificar as necessidades e as
questões do mundo atual ao dado da Tradição, que na liturgia tem a sua
mais alta expressão. Nesse sentido, Bento XVI segue o pensamento de
Romano Guardini, sobre aa importância da formação litúrgica.
Pós Concílio – tempo imediato de “experimentações”, alguns acertos e também muitos
excessos. Em Desiderio desideravi Papa Francisco chega a chamar certas
“experimentações” (que continuam até hoje) de “criatividade selvagem” (cf. nn. 16 e 41).
Bento XVI viveu o Concílio como perito e a preocupação com a liturgia levou-o a buscar
meios para evidenciar o lugar e a importância da liturgia na vida e missão da Igreja.
- Mistério acreditado
- Mistério celebrado
- Mistério vivido
Bento XVI esclarece que a fé na eucaristia não aparece do nada, não acontece de repente, como que
por um passe de mágica. O ser humano é um peregrino em busca da verdade, daquela
verdade que dá sentido à vida de todo ser que vem a este mundo.
Sacramentum caritatis, n. 2
Uma vez que só a verdade nos pode tornar verdadeiramente livres (Jo 8,36), Cristo
faz-Se alimento de Verdade para nós. Com agudo conhecimento da realidade
humana, Santo Agostinho pôs em evidência como o homem se move
espontaneamente, e não constrangido, quando encontra algo que o atrai e nele
suscita desejo. Perguntando-se ele, uma vez, sobre o que poderia em última análise
mover homem no seu íntimo, o santo bispo exclama: “Que pode a alma desejar mais
ardentemente do que a verdade?” De fato, todo o homem traz dentro de si o desejo
insuprimível da verdade última e definitiva.
Desse modo, a fé eucarística, é precedida pelo anúncio da
Palavra, pela evangelização, que faz com que a Palavra seja levada a
todos os povos, como ordenou Jesus Cristo aos apóstolos e
discípulos.
A sagrada Liturgia não esgota toda a Por este motivo que a Igreja anuncia a mensagem de salvação
ação da Igreja, porque os homens, antes de aos que ainda não têm fé, para que todos os homens venham
poderem participar na Liturgia, precisam de a conhecer o único Deus verdadeiro e o Seu enviado, Jesus
ouvir o apelo à fé e à conversão: “Como Cristo, e se convertam dos seus caminhos pela penitência.
invocarão aquele em quem não creram? Ou Aos que creem, tem o dever de pregar constantemente a fé e a
como podem crer sem o terem ouvido? Como penitência, de dispô-los aos Sacramentos, de ensiná-los a
poderão ouvir se não houver quem pregue? E guardar tudo o que Cristo mandou, de estimulá-los a tudo o
como se pregará se não houver quem seja que seja obra de caridade, de piedade e apostolado, onde os
enviado?” (Rm. 10,14-15). cristãos possam mostrar que são a luz do mundo, embora não
Podemos nos perguntar: qual é esta obra de Deus, na qual somos chamados a participar? (...) a resposta que nos oferece
a Constituição conciliar sobre a sagrada liturgia é dupla. (...) no número 5 indica-nos que a obra de Deus são as suas gestas
históricas, que nos trazem a salvação, que culminaram na Morte e Ressurreição de Jesus Cristo; mas, no número 7, a mesma
Constituição define precisamente a celebração da liturgia como ‘obra de Cristo’. (...) estes dois significados estão
inseparavelmente interligados. Se nos perguntarmos quem salva o mundo e o homem, a única resposta é: Jesus de Nazaré,
Senhor e Cristo, crucificado e ressuscitado. E onde se torna atual para nós, para mim hoje, o Mistério da Morte e Ressurreição
de Cristo, que traz a salvação? A resposta é: na obra de Cristo através da Igreja, na liturgia, em particular no Sacramento da
Eucaristia, que torna presente a oferta sacrifical do Filho de Deus, que nos redimiu; no Sacramento da Reconciliação, no qual se
passa da morte do pecado para a vida nova; e nos outros atos sacramentais que nos santificam (...). Assim, o Mistério pascal
da Morte e Ressurreição de Cristo constitui o âmago da teologia litúrgica do Concílio.
A participação ativa, consciente e plena dos féis (SC 48),
excitada e orientada pelo Papa e seus antecessores
imediatos, é ponto fundamental para que a liturgia realize
tudo aquilo a que se propõe, especialmente aquela
experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo vivo, com
a presença viva de Jesus Cristo que se dá pela mediação
dos Sacramentos, expressão real e viva do Mistério Pascal
de Cristo.
Catequese, 26 de setembro de 2012
“Cada celebração sacramental é um encontro dos filhos de Deus com o seu Pai, em Cristo e
no Espírito Santo. Tal encontro exprime-se como um diálogo, através de ações e de
palavras” (n.1153). Portanto, a primeira exigência para uma boa celebração litúrgica é que
seja oração, diálogo com Deus, antes de tudo escuta e depois resposta”.
“Considerando a Igreja como ‘casa da Palavra’, deve-se antes de tudo dar atenção à Liturgia
sagrada. Esta constitui, efetivamente, o âmbito privilegiado onde Deus nos fala no momento
presente da nossa vida: fala hoje ao seu povo, que escuta e responde. Cada ação litúrgica está,
por sua natureza, impregnada da Sagrada Escritura. Como afirma a Constituição Sacrosanctum
concilium, ‘é enorme a importância da Sagrada Escritura na celebração da Liturgia. Porque é a ela
que se vão buscar as leituras que se explicam na homilia e os salmos para cantar; com o seu espírito
e da sua inspiração nasceram as preces, as orações e os hinos litúrgicos; dela tiram a sua
capacidade de significação as ações e os sinais’. Mais ainda, deve-se afirmar que o próprio Cristo
‘está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja da Sagrada Escritura’” (VD,
52).
É A ligação entre as duas partes da Celebração: a Liturgia da Palavra prepara os
fiéis para a Liturgia Sacramental.
Em cada celebração sacramental está a precedência do anúncio da Palavra de
Deus.
uma ênfase particular [foi posta] sobre a participação ativa, plena e frutuosa de todo o povo de Deus
na celebração eucarística. A renovação operada nestes anos proporcionou, sem dúvida,
notáveis progressos na direção desejada pelos padres conciliares; mas não podemos
ignorar que houve, às vezes, qualquer incompreensão precisamente acerca do sentido
desta participação. Convém, pois, deixar claro que não se pretende, com tal palavra, aludir a mera
atividade exterior durante a celebração; na realidade, a participação ativa desejada pelo
Concílio deve ser entendida, em termos mais substanciais, a partir duma maior
consciência do mistério que é celebrado e da sua relação com a vida quotidiana. Permanece
plenamente válida ainda a recomendação da Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium feita
aos fiéis quando os exorta a não assistirem à liturgia eucarística ‘como estranhos ou espectadores
mudos’, mas a participarem ‘na ação sagrada, consciente, ativa e piedosamente’. E o Concílio,
desenvolvendo seu pensamento, prossegue: os fiéis ‘sejam instruídos pela palavra de Deus;
alimentem-se à mesa do corpo do Senhor; deem graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos,
ao oferecer juntamente com o sacerdote, que não só pelas mãos dele, a hóstia imaculada; que, dia
após dia, por Cristo Mediador, progridam na unidade com Deus e entre si’.
A eucaristia, presença real e viva de Jesus Cristo entre nós, merece todo nosso
respeito e toda a dignidade na sua celebração. Façamos nossa parte, o povo de
Deus agradecerá.
Finalizamos com a certeza de que o legado que Bento XVI deixou sobre a liturgia é
inegável, principalmente de seus escritos e pronunciamentos. O Papa Bento, naquilo que
diz respeito à liturgia, demonstrou sempre profunda espiritualidade a atenção por cada
ação litúrgica. Sem dúvidas, para Bento XVI, a liturgia sempre foi o lugar privilegiado
do encontro entre Deus e o seu povo – a anábasis e katábasis. Em Sacramentum
caritatis Bento XVI fez a opção em mostrar o Sacramento da Eucaristia a partir da fé, da
celebração, propriamente dita e da vida, numa ótica mistagógica, como era bem o seu
estilo. Para Bento XVI a liturgia deveria o lugar excelente para a formação.
Em Verbum Domini ele tratou da Palavra de Deus
dedicando dos números 52 a 71 relação entre a Palavra de
Deus e a liturgia. Bento XVI, mais do que os excelentes
textos que produziu, expôs sua doutrina litúrgica pelo seu
modo de celebrar, de pregar e interagir com o sagrado.
Não é à toa que em Sacramentum caritatis, 64, ele afirmou
que “a melhor catequese sobre a Eucaristia é a
própria Eucaristia bem celebrada”.