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DOCUMENTO DE APARECIDA
* Pe José de Anchieta Lima Costa é jesuíta, Bacharel em Teologia pelo Centro de Estudos Superiores da
Companhia de Jesus (FAJE) e Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma; atualmente, Reitor da
Capela de Lourdes, em Belém do Pará, onde coordena um programa de formação humana integral.
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perança de vir a existir “um novo céu e de uma nova terra” (Ap 21,1),
vale a pena acolher a exortação do Apóstolo que diz: “Alegrai-vos no
Senhor o tempo todo; eu repito, alegrai-vos” (Fil 4,4).
A comunhão. O conceito bíblico e teológico de “comunhão” vem re-
tomado como um verdadeiro chamado à co-responsabilidade dentro da
Igreja. A auto-compreensão do Mistério da Igreja e de sua missão na
vida no mundo supõe a inclusão de todos os seus membros na responsa-
bilidade do anúncio de Jesus e seu Reino. A experiência de comunhão
vai encontrando seus canais de expressão na abertura da Igreja à partici-
pação dos leigos e das leigas em todas as instâncias de planejamento e de
tomada de decisão em relação ao trabalho de evangelização e de suas
atividades pastorais. As entidades e os organismos que estão ligados às
estruturas eclesiais têm a finalidade de favorecer e desenvolver as res-
ponsabilidades de todos os membros na condução do destino da vida da
Igreja na vida dos povos da América Latina. Esta experiência de comu-
nhão é fruto de uma espiritualidade que encontra sua raiz na participa-
ção, por graça, de toda a Igreja na comunhão de vida do Deus Uno e Tri-
no. Esta participação só é possível por causa da ação do Espírito que
provoca o encontro pessoal de cada membro da Igreja com a pessoa de
Jesus Cristo. Portanto, a comunhão na Igreja não é uma simples expe-
riência de participação democrática, mas, para além dela, é a própria
realidade da vida cristã que brota da relação de íntima comunhão do Pai
com o Filho, na unidade que fortalece e cria laços profundos, pois se dá
pelo amor do Espírito Santo “que foi derramado em nossos corações”
(cf. Rm 5,5). Cada cristão católico participa desta comunhão trinitária,
que, por sua vez, se desenvolve e cresce em consciência e ação dentro de
um processo formativo que tem como ponto de partida a preparação e a
vivência dos sacramentos da iniciação à vida cristã e atinge sua maturi-
dade pela catequese permanente que acontece em diversos lugares e es-
paços onde os discípulos missionários têm a oportunidade de freqüentar
e ter acesso às informações e aos cursos relacionados com a vida e a mis-
são da Igreja.
Aparecida recorda que as lideranças da Igreja estão a serviço da pro-
moção da comunhão e da animação dos demais membros, cada um exer-
cendo sua missão, segundo seu próprio carisma, sua própria identidade e
função: os Bispos promovem a comunhão, participando do múnus de
“Jesus Sumo Sacerdote”; os presbíteros, participando do múnus de “Je-
sus Bom Pastor”; os diáconos permanentes participando do múnus de
“Jesus Servidor”; os fiéis leigos e leigas, participando do múnus de “Je-
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mente desce para libertá-lo (Ex 3,7-8). Sua realidade mais profunda fin-
ca raízes na prática e na participação da vida e missão do Filho deste
Deus Amoroso que assumiu toda a pessoa e a pessoa toda, para que esta
não mais se “esqueça” de sua condição divina, porque surgida das mãos
do Divino Criador. Sua força vem da presença contínua do Espírito na
vida humana, transformando e conduzindo todas as coisas para Deus,
para que Ele seja tudo em todas as coisas.
nhece “os mártires de ontem e de hoje”, numa clara alusão aos mártires
de nossas cidades e comunidades que foram perseguidos, torturados e
assassinados por causa do Reino e sua Justiça.
b) A santidade é mariológica, pois tem Maria como imagem e mode-
lo de santidade. Um Continente marcadamente mariano não poderia dei-
xar de buscar em Maria um ponto de referência para viver a santidade no
seguimento de Jesus. Através de Maria, a “beleza do ser humano” (141)
é destacada pelo vínculo de amor que se estabelece com a Trindade e
pela capacidade de toda pessoa de responder positivamente a seus ape-
los. Os dogmas marianos da Imaculada Conceição e da Assunção são re-
cordados dentro do contexto da beleza da pessoa humana, “obra prima”
da Beleza por excelência que é Deus no seu agir bondoso que “olha para
a humildade de sua serva” (Lc 1,48).
c) A santidade é bíblica e sacramental, pois se alimenta da Palavra
de Deus e dos Sacramentos (142). A Bíblia e a prática dos Sacramentos
são as duas referências fundamentais de toda pessoa que procura seguir
Jesus e, por seu seguimento, manifesta a realidade de sua vida santa. A
escuta da Palavra de Deus remete o discípulo à experiência de abrir seu
coração na intimidade do encontro dialogal com o Pai e, com Jesus, pela
atuação do Espírito, fala de suas experiências, preocupações, temores,
elevando seus braços e apresentado a Ele os clamores do seu povo sofri-
do. Foi assim que fizeram Jesus e Maria, buscando discernir a vontade
do Pai em todas as situações de suas vidas.
Mas, o discípulo também se alimenta do Pão da Vida que a Igreja,
solidária em sua caminhada de santidade, distribui como “alimento salu-
tar”, fortalecendo e ajudando a fazer e a refazer a trajetória da vida hu-
mana. A Eucaristia é fonte de vida e de esperança; é experiência de ante-
cipação, na contingência da história, do Reino do Pai e de sua comunhão
com Ele que, pelo Filho e no Espírito Santo, já acontece entre nós. A reu-
nião eucarística ajuda a visualizar e antecipar na história o reinado de
Deus, pois é Ele que constrói a fraternidade entre nós pelo perdão de to-
das as nossas dívidas, celebrado na reconciliação oferecida pela Igreja
através de seus sacramentos. O discípulo, embora seguindo a Jesus, ain-
da não atingiu aquela maturidade do discipulado que um dia o levará a
dizer e a vivenciar plenamente “que nem a morte nem a vida... nem o
presente nem o futuro, nem os poderes... nem nenhuma outra criatura
poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso
Senhor” (Rm 8,38). A fraqueza, o desânimo, as contradições, as infideli-
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