Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
As Filósofas Gregas
Via de regra, constata-se que as mulheres que brilharam
na filosofia pertenciam a um meio já erudito. Os pensadores
esclarecidos, afastando-se dos preconceitos de sua época – o
que é justamente a característica de toda mente esclarecida –
tinham grande entusiasmo em transmitir seus conhecimentos
às suas filhas e estas mostravam-se plenamente dignas,
amplificando esse saber e difundindo-o, por sua vez. Isso
demonstra que, desde que lhes fosse possível ter acesso à
sabedoria e à erudição, as mulheres se mostraram tão ativas
nesta esfera quanto os homens.
Em torno a Pitágoras
– 322 –
De qualquer forma, não há nenhuma dúvida que, com tais
princípios, para os pitagóricos era impensável interditar o saber
às mulheres. Ao contrário, elas estavam entre os membros mais
eminentes da comunidade e, com toda certeza, também entre
os mais ativos!
– 323 –
Seu estilo era conciso e tingido de uma ponta de ironia.
Atribui-se a ela a seguinte frase, referente à lei da reencarnação:
– 324 –
Outra pitagórica eminente foi Myia, filha do filósofo e de
Theano, pessoa tão célebre em seu tempo que um autor romano,
Luciano, disse preferir não falar sobre ela, uma vez que, em
razão de seu caráter ilustre, todo mundo a conhecia… tanto
que hoje resta-nos bem poucos elementos sobre ela! Sabe-se
que ela foi esposa de Milo de Crotona, famoso atleta, várias
vezes vencedor em Olímpia, e general influente, mas, não
obstante, também pitagórico.
Ela devia ser excepcionalmente brilhante, pois ainda muito
jovem já instruía as outras meninas. Depois de casada, ela
instruía as mulheres e seu ensinamento devia ser famoso,
pois a rua onde ela morava, em Crotona, ganhou o nome de
Academia e sua casa foi mais tarde transformada num templo
para Ceres.
Pitágoras teve ainda duas outras filhas, ambas filósofas.
Damo foi a depositária dos escritos de Pitágoras, que
recomendou-lhe expressamente não transmiti-los a estranhos.
Os autores antigos sublinham que ela atendeu escrupu
losamente esse pedido, quando poderia ter vendido muito
caro os escritos de seu pai.
Por sua vez, ela transmitiu os escritos de Pitágoras à sua
filha, Bistália, que também respeitou essa vontade de sigilo.
Por esse desejo de sigilo, não se deve entender que Pitágoras
queria que seu ensinamento se extinguisse com ele ou que
fosse reservado somente aos membros de sua família, mas, sim,
que ele desejava que fosse conservada a dimensão iniciática
do pitagorismo. A propósito, alguns de seus discípulos
professaram o que tinham aprendido com o mestre e foram
severamente julgados por seus antigos companheiros. Assim,
se Damo não foi a mais brilhante das filhas de Pitágoras,
– 325 –
mesmo assim é importante citá-la como alguém que foi capaz
de pôr em prática o que havia aprendido.
– 326 –
harmonia é uma das mais fundamentais do pitagorismo, tal
como o demonstra o grande lugar atribuído aos números ou
à música em sua doutrina.
Em torno a Sócrates
– 327 –
personalidade forte, capaz de ensinar às maiores mentes, entre
elas Sócrates, e que em nenhum momento seus interlocutores
parecem se incomodar com esta idéia ou julgá-la absurda.
Assim sendo, esse fato devia ser bastante comum…
– 328 –
“Sem dúvida, não há nada de surpreendente que um
homem assim formado esteja apto a falar. Mas, na verdade,
mesmo alguém que tenha recebido uma instrução inferior à
minha, que tenha sido instruído na arte oratória por Antífonas
de Ramonte, não seria menos capaz de adquirir fama fazendo,
diante dos atenienses, o panerígico dos atenienses.”
– 329 –
Foi inclusive através desse sentimento que seus inimigos
lhe arremessaram suas flechas mais dolorosas, pois, homem
íntegro, o chefe da cidade era, de outro modo, dificilmente
atacável. Por motivos dúbios, Aspásia viu-se arrastada à justiça
por um ator, Cratinos. Deve-se lembrar que, em Atenas,
qualquer cidadão podia fazer uma acusação contra um outro,
até pelo motivo mais idiota, e suscitar um processo. Sabemos
como Sócrates, por exemplo, caiu vítima disso e foi condenado
à morte por blasfêmia – aliás, seu acusador também foi
executado pouco depois por ter causado a morte de Sócrates!
Péricles foi pessoalmente fazer a defesa de Aspásia em
seu processo, e ganhou. Entretanto, o golpe o atingiu tão
duramente que ele chorou; esta, dizem, foi a única vez em
que o viram se entregar a esta fraqueza, o que indica bem a
força de sua paixão.
Mas esse amor considerável, do qual o frio político não
tentava se esconder, ainda que atraindo para si as zombarias
da cidade, não explica tudo.
Dizia-se que Aspásia tinha um bordel e mantinha cortesãs
para os prazeres de seu esposo. Em primeiro lugar, isso
seria contrário a tudo o que sabemos sobre Péricles, que era
censurado justamente por não freqüentar os banquetes e
ter horror às orgias, ponto sobre o qual o atacaram, taxando
isto de orgulho… Podemos em seguida nos perguntar que
interesse teria tido a esposa do primeiro dignitário da cidade
em fazer comércio de prazeres fáceis, justo ela que, na
qualidade de estrangeira, já era alvo da rejeição de uma parte
da população…
Como interpretar, então, essa assertiva? Não devemos ver
nisso a mera condenação de uma horda inculta, hostil à idéia
– 330 –
de que uma mulher atue na vida política e converse livremente
com os filósofos (com homens!)? E, conseqüentemente, não
está aí uma prova do caráter particularmente brilhante e vivo
de Aspásia?
– 332 –
transformar aquelas jovens em dignas servidoras dos cultos
locais, principalmente dos mistérios órficos. Elas aprendiam,
além da versificação, o canto (as poesias eram cantadas nessa
época) e a dança. Era-lhes proporcionada também uma boa
cultura geral, como o conhecimento dos escritores antigos,
pois Safo visava a elevação de seus semelhantes.
– 333 –
Com relação a isso, pode-se estabelecer um paralelo
instrutivo com Sócrates. É bem sabido que esse filósofo tão
universalmente admirado era homossexual, como confirmam
inúmeras passagens de Platão, não somente no Banquete,
como em geral se acredita, mas também em vários outros
diálogos – vide, entre outros, as primeiras linhas de Protágoras
ou de Alcebíades. E, no entanto, quem sonharia em reduzir
a personalidade de Sócrates às suas preferências sexuais? O
que se exalta – com toda razão! – é a superioridade de seu
pensamento, a originalidade de suas teorias.
Portanto, é mais do que tempo de dar também a Safo
a parte que lhe cabe, a de uma poetisa de gênio, mística,
professando uma sublimação do estado humano através do
amor e o desabrochar das almas piedosas.
– 334 –
seu périplo iniciático, que o levou ao Egito e a Creta, passou
por Lesbos. Sem dúvida, isso não foi mero acaso…
Outras Personalidades
Agnódice foi a primeira médica conhecida. Enquanto
ateniense, ela não tinha direito a aprender medicina, estando,
aliás, na mesma categoria que os escravos. Cortando os cabelos
bem curtos, ela se disfarçou de homem para assistir aos cursos
de um certo Hierófilo. Quando tinha acumulado bastante
conhecimento, ela começou a tratar outras mulheres, que
aceitavam sua ajuda apesar de saberem qual o seu sexo; ela
as assistia principalmente nos partos.
– 335 –
desaparecer a Lua – algo que, na realidade, implica um
excelente conhecimento dos fenômenos siderais, mas que foi
traduzido pelas mentes supersticiosas da época como um ato
mágico.
– 336 –
Pausânias se refere, acerca da história do santuário de
Delfos, a duas eruditas. Ele cita primeiro uma certa Femonoê,
que, diz ele, “foi a primeira profetiza e também a primeira a
dar os oráculos em versos hexâmetros”, o que fazia dela uma
poetisa. Evoca depois uma outra mulher, Voio, “autora de um
hino aos délficos”. Essas evocações inopinadas, nos meandros
de viagens, deixam supor que as mulheres cultas eram bem
mais numerosas do que se crê.
Em torno a Plotino
– 337 –
a opinião dos seus próprios contemporâneos, Hipácia,
instruída por seu pai, suplantou-o na matemática, provando
e ampliando seus trabalhos. Empreendeu também diversos
estudos no campo da astronomia.
Melhor ainda, ela não se contentou apenas com as
pesquisas científicas, mas bem cedo se interessou pela mística
neoplatônica, desenvolvida por Plotino um século antes.
Discípula de Amônios, de tal forma excedeu, em saber e
em sabedoria, os pensadores do seu tempo – e até mesmo,
segundo diversas provas, alguns dos que a precederam –
que obteve uma cadeira de matemática e filosofia na escola
platônica de Alexandria. Ali, ela desenvolveu as idéias dos
seus antecessores, Plotino e Jâmblico, dando-lhes, porém,
uma dimensão científica e metódica que em pouco tempo
atraiu para ela grande reputação. Seus cursos conheceram
um sucesso sem precedente.
– 340 –
Entre as outras platônicas dessa época, podemos citar
aquelas que hoje, infelizmente, não são mais que nomes sem
rosto: Gemina, mãe e filha (discípulas de Plotino), Anficleia
(nora de Jâmblico), ou, ainda, numa época mais antiga, Arria,
a quem Diógenes Laércio dedicou sua História Filosófica,
o que constitui uma referência de primeira ordem… Essas
mulheres, freqüentemente citadas pelos autores do seu tempo,
devem ter sido todas admiráveis. Mas por falta de elementos
mais exatos, ficamos limitados a imaginar como deviam ser.
Sua existência permite, todavia, afirmar que a parte tomada
pelas mulheres na filosofia era importante.
– 341 –