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AS LENTES DA FÉ CRISTÃ

Como enxergar a realidade ao nosso redor?


AULA 01
A necessidade e a urgência da Cosmovisão Cristã
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
Craig cresceu na África do Sul na época do apartheid, quando cada
detalhe da vida sul-africana era determinado por questões raciais… Craig
acreditava que o que a África do Sul enfrentou naquela época e o
fracasso geral de cristãos evangélicos em relacionar sua fé com as
realidades da vida sul-africana têm muito a nos ensinar hoje sobre a
importância crucial de entender o evangelho como uma cosmovisão…
Como foi que cristãos evangélicos foram capazes de ver o mal que estava
bem diante deles? Como foi que os evangélicos em geral acabaram
reforçando esse mal em vez de contestá-lo? Uma resposta importante é
que eles careciam de uma cosmovisão cristã coerente (p.15-16)
kH
Nicholas Wolterstorff
Prefácio à Visão
Transformadora
(1984)
Um grande número de seus contemporâneos norte-americanos
se considera cristão. Ainda assim o Cristianismo é ineficiente
para moldar as suas vidas públicas. O que modela com eficácia
nossa vida pública e nossa sociedade em geral é a subserviência
com que tratamos a ciência, a tecnologia e o crescimento
econômico. Na maior parte do tempo o Cristianismo fica de lado
e, simplesmente, observa… Se buscarmos em qualquer sociedade
por sua formação básica, descobriremos que ela é formada pela
cosmovisão daqueles que a compõem (p. 9)
kH
Ricardo Agreste
Prefácio à Introdução
à Cosmovisão Cristã
(2008)
Um dos grandes desafios enfrentados por pastores, plantadores
e líderes de igreja na atualidade é o fato de termos sido
formados e capacitados para fazer a exegese bíblica, sem, no
entanto, em momento algum, nos ter sido dito quanto seria
necessária a exegese cultural. A ausência de capacidade para
fazermos a exegese cultural do contexto em que nos
encontramos… faz com que tenhamos igrejas em que a pregação
é rigorosamente bíblica, mas não responde às principais
perguntas que os ouvintes têm em suas mentes (p. 11)
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
Descobrimos em nosso ensino que um curso sobre cosmovisão é
muito mais eficaz quando é ministrado logo após um curso sobre
a narrativa Bíblica: a cosmovisão vem depois das Escrituras de
modo a aprofundar nosso compromisso de viver na história
bíblica… Muitas abordagens evangélicas tradicionais de cosmovisão
a entendem em termos intelectualista, ou seja, encaram a
cosmovisão como um sistema meramente racional. Cremos que a
cosmovisão deve ter forma narrativa — uma forma historiada —,
visto que essa é a forma da própria Bíblia (p. 19)
A cosmovisão está relacionada com as crenças religiosas mais
básicas, abrangentes e fundamentais que temos acerca do mundo
tal como estão incorporadas em uma narrativa. Isso significa que os
cristãos vão elaborar e compreender essas crenças que decorrem
das Escrituras, mas essas crenças não podem ser separadas de um
contexto cultural, pois o Evangelho é sempre expresso e
corporificado em alguma cultura humana. Portanto no estudo de
cosmovisão, precisamos também nos esforçar para compreender as
crenças fundamentais da cultura ao redor dentro da qual (p. 20)
cada comunidade cristã vive. A relação da fé cristã com a outra
“fé" cultural que a rodeia precisa ser explorada. Essa é uma
empreitada bem complexa e altamente perigosa. Como
mostram estudos de contextualização em missiologia, há
sempre o perigo de permitir que o evangelho faça concessões
e se acomode a idolatria de qualquer Cultura em particular.
Estudos de cosmovisão precisam, portanto lidar com os ensinos
fundamentais da Bíblia e das culturas ao redor e com a intenção
complexa dos dois sistemas de crença (p. 20).
É urgente que a cosmovisão cristã, oriunda
da narrativa bíblica, assuma a condução
das igrejas no Ocidente, caso desejemos
abandonar a posição de subserviência aos
ídolos da cultura em que estamos — e
assumamos o protagonismo que
evangelho reivindica para si.
AULA 02
O quê é Cosmovisão e como ela pode auxiliar a Igreja?
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
Os seres humanos são criaturas de visão. Isso não significa,
simplesmente, que temos olhos. Animais têm olhos. Antes, significa
que somos criaturas que vivem a vida em termos de perspectivas, da
visão que temos da vida. Os animais não precisam de tal perspectiva,
pois são guiados por instintos. Os homens fazem escolhas de vida e
as realizam considerando a maneira como vêem as coisas… Uma
cosmovisão nunca é meramente uma visão da vida. É sempre uma
visão também para a vida… Nossa cosmovisão determina nossos
valores. Ela nos auxilia a interpretar o mundo ao nosso redor. (p. 27).
Cosmovisões são mais bem compreendidas quando as vemos
materializados, incorporadas em modos reais de vida. Elas não são
sistemas de pensamento, como teologia ou filosofia. Pelo contrário,
cosmovisões são estruturas perceptivas são formas de se ver. Se
quisermos entender o que as pessoas vêem ou a maneira como
vêem, precisamos prestar atenção na maneira como elas andam. Se
colidem com certos objetos ou tropeçar neles, então podemos
supor que elas não o estão vendo. Reciprocamente, seus olhos
podem não apenas ver, mas fixar-se em outros objetos (p. 16).
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
No início do século 20, cosmovisão como conceito já havia se espalhado
entre a maioria das disciplinas acadêmicas. Foram principalmente James Orr
(1844-1913) e Abraham Kuyper (1837-1920) que se apropriaram do conceito
de cosmovisão para usá-lo no pensamento cristão. Tanto Orr quanto Kuyper
recorreram ao conceito de cosmovisão para responder à cultura pós-
iluminista que estava chegando para dominar o Ocidente. Orr, um teólogo,
estava profundamente convencido de que oferecer respostas parciais e
fragmentadas a uma cosmovisão hostil ao cristianismo não era suficiente.
Ele cria que os tempos exigiam uma demonstração de que o cristianismo era
em si mesmo uma visão abrangente e ordenada da totalidade da vida (p. 39).
Abraham Kuyper fez mais do que somente colocarem palavras a visão
abrangente da cosmovisão cristã; ele expressou em sua vida multifacetada
como jornalista, teólogo, político, primeiro-ministro da Holanda e fundador
da Universidade Livre de Amsterdã ele tinha a profunda convicção de que o
calvinismo (a tradição de pensamento protestante que teve origem em João
Calvino reformador do século 16) estava relacionado com a vida em sua
totalidade. Para Kuyper, a única abordagem cristã de adequada diante do
desafio do modernismo se encontrava no calvinismo e, por isso, seu projeto
particular era enunciar com clareza as implicações de uma cosmovisão
calvinista para religião, a política a ciência e a arte (p. 40).
O desenvolvimento sistemático de uma
visão de mundo cristã é condição sine
qua non para que o ser humano se
compreenda como diferente dos meros
animais — como também para que a fé
cristã se apresente como uma alternativa
abrangente na cultura ocidental.
kH
James Sire
Dando nome
ao Elefante
(2004)
Uma cosmovisão é um compromisso, uma orientação
fundamental do coração, que pode ser expresso como 

uma narrativa ou um conjunto de pressuposições
(suposições que podem ser verdadeiras, parcialmente
verdadeiras ou totalmente falsas) que sustentamos
(consciente ou subconscientemente, consistente o
inconsistentemente) sobre a constituição básica da
realidade, e que fornece o fundamento no qual
vivemos, nos movimentos e existimos (p. 16).
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
Há vários desenvolvimentos significativos na definição de Sire, ênfases
com as quais estamos de pleno acordo. Em primeiro lugar, sua ênfase
no compromisso, o qual não precisa ser consciente. Essa ênfase está
relacionada com o fato de Sire perceber que, primordialmente, uma
cosmovisão não é intelectual e proposicional, mas sim uma questão
do coração, de orientação espiritual, de religião. A semelhança de
Herman Dooyeweerd e David Naugle, Sire abraça a ideia de que, no
âmago de nosso ser, cada um de nós tem uma orientação religiosa,
seja na direção do Deus verdadeiro, seja na direção de um ou mais
ídolos (p. 45-46).
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
Gostaríamos de sugerir que as cosmovisões são fundadas em
compromissos fundamentais de fé. Fé é uma parte essencial da
vida humana, os homens são criaturas concessionais, crédulos
e confiantes. Nosso objeto de fé determina a cosmovisão que
adotaremos. Em outras palavras, nosso compromisso
fundamental de fé determina os contornos de nossa
cosmovisão, ela molda a nossa visão para um modo de vida.
As pessoas que duvidam de sua cosmovisão são inquietas e
sentem que não tem uma base para se apoiar (p. 32)
O que é um compromisso de fé? É uma maneira como
respondemos quatro perguntas básicas que afrontam a todos: (1)
quem sou eu? Ou, qual é a natureza, a tarefa e o propósito dos
seres humanos? (2) onde estou? Ou, qual é a natureza do mundo e
do universo onde vivo? (3) O que está errado? Ou, qual é o
problema básico ou o obstáculo que me impede de atingir a
satisfação? Em outras palavras, como eu entendo o mal? E, (4)
qual é a solução? Ou, como é se vencer esse impedimento a minha
realização? Em outras palavras, como encontro salvação? (p. 32)
kH
Roy Clouser
The Myth of
Religious neutrality
(1991)
A enorme influência de crenças religiosas continuam, no entanto, em
grade parte escondida do olhar casual; sua relação com o restante da
vida é como a das grandes placas geológicas da superfície da terra com
os continentes e oceanos. A movimentação dessas placas não é visível
em uma inspeção eventual de alguma religião em particular e só pode
ser detectada com muita dificuldade. No entanto, essas placas são
tão imensas, com um poder tão impressionante, que seus efeitos
visíveis – cordilheiras, terremotos e erupções vulcânicas – não passam
de pequenas manchas na superfície quando comparados com as
próprias poderosas placas (p. 1).
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
Como julgamos uma cosmovisão? Quais os critérios podemos usar?… até
mesmo esses critérios são dependentes da cosmovisão. Isto é inevitável.
Realidade. O primeiro critério é simplesmente é este: como visão de vida,
elucida toda a vida? Ela pode tornar acessível a vida como um todo para
aqueles que aderem a ela?… Ou tende apenas a dar acesso para alguns
aspectos da vida, ignorando outros? Por exemplo, a visão de vida norte-
americana, com sua preocupação com desenvolvimento, enfatiza demais o
crescimento econômico em detrimento da responsabilidade ecológica? A
ênfase japonesa no grupo e na lealdade resulta em uma desvalorização do
indivíduo e de suas necessidades? (p. 34).
O fato é que a criação de Deus tem coerência. Tudo tem o
seu lugar legítimo. E uma cosmovisão que dá prioridade
absoluta para o lado econômico da vida ou para a participação
do indivíduo em um grupo, inevitavelmente, fará injustiça a
coerência da criação. Essa injustiça se tornará evidente em
certo colapso na vida de uma cultura. Por exemplo, uma crise
ecológica o problemas psicológicos podem indicar um
problema fundamental na visão de vida de uma cultura
eventualmente, (p. 34)
sofremos as consequências de uma cosmovisão
idólatra. Uma cosmovisão que não integra e esclarece a
criação de Deus como ela realmente é não pode levar a
um modo de vida integral. Na verdade, aqui a questão é
se a nossa cosmovisão é consistente com a realidade
ou não. Se não for, então a realidade entrar em disputa
contra nossa interpretação errônea, impelindo-nos a
mudar nossa perspectiva e nosso modo de vida (p. 34)
Coerência interna. Uma cosmovisão não deve apenas
desvendar a criação para nós, mas também ser
coerente internamente. Uma cosmovisão não é um
conjunto de crenças juntadas e o modo arbitrário; ela
deve ser uma visão coerente da vida. A questão não é
tanto de coerência lógica, mas de unidade de
comprometimento. Essa visão de vida permanece
unida ou é uma casa dividida em si mesmo? (p. 34)
Cosmovisões são compromissos
fundamentais de nossos corações que,
quando declarados, respondem questões
básicas de toda a vida humana. A
avaliação entre cosmovisões exigirá
coerência externa e interna das narrativas
construídas para interpretar a realidade.
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
Já vimos como Orr e Kuyper foram levados a anunciar o
evangelho como uma cosmovisão em resposta aos poderosos
desafios de cosmovisões contrárias em seu contexto culturais.
Em outras palavras, o impulso deles foi missional: a fim de
levar sua cultura interagir com o evangelho e dar um
testemunho crível acerca de Cristo eles precisavam
demonstrar que o evangelho incorporavam uma cosmovisão
que fornece uma alternativa real evitável as poderosas
cosmovisões de sua época (p. 58)
O que se quer mostrar é que para os cristãos sempre foi um
imperativo missional explicar a coerência da mensagem
bíblica e relacioná-la de uma forma racional e coerente com
as culturas de sua época. O uso de textos-prova nesse sentido
simplesmente é lamentavelmente inadequado; o que é
necessário é uma noção de como as principais crenças do
drama das Escrituras se mantém coesas e como é possível se
basear nelas para desenvolver uma compreensão e críticas
cristãs da Cultura em questão (p. 59)
AULA 03
O primeiro pilar da Cosmovisão Cristã: a Criação
kH
Francis A. Schaeffer
O Deus
que se Revela
(1970)
Toda nossa geração tem uma segunda sensação de estar perdida,
que é válida: ela perdeu o sentido do mundo, ela perdeu qualquer
propósito, ela perdeu a moral, ela perdeu toda a base para a lei, ela
perdeu os princípios finais e respostas para qualquer coisa. Estas
pessoas sabem que estão perdidas neste sentido... Esta perdição é
respondida pela existência do Criador. Assim, o Cristianismo não
começa com a ordem “aceite a Cristo como o seu salvador”. O
Cristianismo começa por “No princípio criou Deus os céus (a
totalidade do cosmos) e a terra”. Essa é a resposta ao século 20 e à
sua perdição (p. 253).
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
Olhar o mundo por meio das Escrituras é, na verdade, olhar o mundo
através de três lentes ao mesmo tempo: como algo criado por Deus,
deformado pelo pecado e que está sendo resgatado pela obra de
Cristo. Tire qualquer uma dessas lentes e a cosmovisão bíblica ficará
distorcida. É como um projetor multimídia, que requer três lentes de
viro — vermelho, amarelo e verde — através das quais passa o sinal
de vídeo. Todas são necessárias para transmitir a cor certa. Tire uma
daquelas lentes, e a imagem estará deturpada. Tire qualquer uma das
lentes da criação, do pecado ou da restauração, e nossa ideia do
mundo estará distorcida (p. 104).
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
Contrário à ideia deísta da criação, Deus não falou no
princípio, somente, deixando o mundo por conta
própria. A criação não é um relógio no qual Deus deu
corda e deixou para funcionar sozinho. Até hoje ele
ainda fala; sua voz ecoa por toda a criação. Essa é a
única razão pela qual o mundo ainda está aqui. A
criação é essencialmente constituída como resposta
às leis de Deus. (p. 45).
Explicando de outra maneira: Deus é fiel ao seu pacto. Normalmente
pensamos na aliança de Deus como seu relacionamento com Abraão
ou Isaque, ou da nova aliança por meio de Jesus. Mas a realidade
subjacente por trás desses pactos históricos é o relacionamento de
Deus com a própria criação [Jr 33.20-21, 25-26]. Em outras palavras,
o relacionamento de Deus com o dia e a noite, os céus e a terra é
tão pactual quanto seu relacionamento com seu povo. E esse pacto
está ligado de modo explícito com a ordem fixa da criação a qual
Deus estabeleceu e designou (p. 46).
kH
Herman Bavinck
Dogmática
Reformada
(1901)
Não há um só átomo do universo em que você não
possa ver pelo menos alguns lampejos brilhantes de
sua glória. Deus é imanente em toda a criação. Os
puros de coração veem a Deus em toda a parte. Tudo
está repleto de Deus. Confesso que a expressão “a
natureza de Deus” pode ser usada em um sentido
piedoso por uma mente piedosa! (vol 1, p. 89).
kH
Abraham Kuyper
Sabedoria
e Prodígios
(1905)
Portanto, se o pensamento de Deus é eterno, e se a totalidade
da criação deve ser compreendida simplesmente como o fluxo
desse pensamento divino, de tal modo que todas as coisas
vieram à existência e continuam a existir por meio do Logos –
isto é, mediante a razão divina, ou mais particularmente, através
do Verbo –, então o caso é: o pensamento divino se encontra
incorporado em todas as coisas criadas. Então, não há nada no
universo que deixe de expressar – de encarnar – a revelação do
pensamento de Deus (p. 37).
A essência mesma de cada coisa é constituída por um pensamento
de Deus, de maneira que foi esse pensamento que prescreveu para
os entes criados seus modos de existência, suas formas, seus
princípios de vida, suas destinações e seu progresso... A pessoa
descuidada não é capaz de observar na natureza e em toda a criação
nada mais do que a aparência externa das coisas... Todos aqueles
que são instruídos pela Palavra de Deus sabem, no que diz respeito à
criação divina, que por detrás desta natureza, atrás desta criação,
existe uma operação secreta, velada, do poder e sabedoria de Deus
(p. 38).
A visão de mundo cristã começa da
aliança que Deus, o Criador estabelece
com a sua criação, fazendo com que esta
dependa constantemente de sua Palavra
para ordenar e prescrever o sentido
último de cada ente na realidade.
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
Isso levanta a questão muito complicada de como podemos saber
qual é a vontade de Deus para a vida emocional, para o governo,
para o casamento, para nossa imaginação. Como saber se as uniões
homossexuais seguem ou contrariam a ordem de Deus para o
casamento? Como saber se a democracia é uma ordem política fiel?
Como discernir o grau em que o capitalismo está em conformidade
com a lei de Deus para uma vida econômica saudável? Até que
ponto as estruturas de nossas escolas estão de acordo com a lei de
Deus para uma educação fiel? Existe arte que é contrária à vontade
de Deus para a vida estética? (p. 69).
Discernir a ordem de Deus sempre será difícil, mas existem
diretrizes. O inicio de tal discernimento é reconhecer que
isso é a obra do Espírito de Deus e não simplesmente uma
questão de nossa avaliação racional. O espírito de criação
utiliza meios com os quais nos comunica a vontade de Deus.
O primeiro são as próprias Escrituras: o que a Bíblia tem a
dizer sobre o assunto? Em algumas áreas pode haver muita
orientação direta, mas em outras quase nenhuma (p. 69).
Além disso, quando vemos um padrão estável ou constante
ao longo do tempo e da cultura, ele pode nos advertir contra
uma distorção que se afasta dessa regularidade. Além do
mais, a aliança de Deus com a criação significa que com
frequência uma resposta obediente trará bençãos e uma
desobediente trará juízo (Dt 30.15-20). Discernir vida e morte,
benção e maldição em uma atividade pode nos ajudar a ver o
caminho de Deus. Por fim, Deus criou em cada um de nós um
senso de sua ordem em nossa consciência (p. 70).
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
Muitos contestam, argumentando que Deus tem padrões para
algumas das ações humanas, mas que para outras ele é,
simplesmente indiferente… Por exemplo, ele não se aplica a
atividades tão “seculares" como a agricultura e as artes. Ou se aplica?
Veja o que a Bíblia diz em Isaías 28… Como o fazendeiro sabe como
arar os campos e semear as sementes? “O seu Deus assim o instrui
devidamente e o ensina” (v.26)… Como ele sabe a forma correta de
colher o grão? “Também isso procede do Senhor dos Exércitos; ele é
maravilhoso em conselhos e grande em sabedoria” (v.29) (p. 61).
Em outras palavras, o entendimento do agricultor a respeito
da maneira correta de cultura uma fazenda — a prática da boa
agricultura — é considerada na Bíblia como vindo de Deus. O
fazendeiro está conectado à sabedoria de Deus. Ele foi
esclarecido e segue as sábias leis de Deus, suas normas
sobre a criação, nessa área supostamente secular da vida…
tudo o que fazemos deve ser feito com o coração cheio de
amor a Deus. Se nossa vida não for uma expressão de nosso
amor por ele, ela expressará rebelião contra ele (p. 61-2).
kH
Nicholas Wolterstorff
Educating for shalom: essays
on Christian higher education
(2004)
Shalom incorpora satisfação em nossos
relacionamentos. Permanecer em shalom é encontrar
satisfação em viver corretamente diante de Deus, é
encontrar satisfação em viver corretamente no meio
físico que nos cerca, e encontrar satisfação em viver
corretamente com os outros seres humanos e é
encontrar satisfação até mesmo em viver
corretamente com nós mesmos (p. 23).
A visão de mundo cristã começa da aliança
que Deus, o Criador estabelece com a sua
criação, fazendo com que esta dependa
constantemente de sua Palavra para
ordenar e prescrever o sentido último de
cada ente e processo da realidade.
AULA 04
O segundo pilar da Cosmovisão Cristã: a Queda
kH
Jonathan Chaplin
A introduction
to Christian worldview
(1986)
Se os seres humanos são irremediavelmente
religiosos, sempre impulsionados a buscar um
objeto de adoração, a Queda não pode ser
caracterizada apenas como revolta contra o
legítimo Senhor: precisa ser descrita também
como substituição de lealdade religiosa (p. 64).
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
Servir ao Senhor, como nosso Criador, é nossa responsabilidade pactual, e
mesmo assim não somos forçados a fazê-lo. É possível desobedecer e nos
afastar do que somos chamados para ser. E essa possibilidade tornou-se
realidade na queda. A cosmovisão cristã responde a terceira pergunta
básica: “O que está errado?”, em termos de desobediência humana a Deus.
Os seres humanos são criaturas inerentemente religiosas. Não podemos
viver sem um deus, mesmo que ele seja fabricado por nós. Precisamos de
um centro, um foco supremo, um ponto de orientação para nossa vida.
Temos, de fato, duas alternativas. Ou servimos ao Senhor e obedecemos a
sua vontade, ou praticamos idolatria em desobediência (p. 55).
A questão das antíteses espirituais pode ajudar-nos a compreender o
que a Bíblia quer dizer por imagem de Deus. Apesar do princípio
fundamental da imagem de Deus ser nossa natureza como seres
culturais ordenados a governar a terra no lugar de Yahweh, a
orientação bíblica que vai, além disso, para essa expressão é
explicitamente pós-queda. Isto é, o significado completo da imagem
de Deus leva em consideração a desobediência humana, em
particular a idolatria… A resposta está na exata natureza da idolatria,
uma prática que não preocupa a maior parte dos cristãos de hoje, mas
que é mencionada frequentemente nas Escrituras (p. 55).
kH
Herman Bavinck
Dogmática
Reformada
(1901)
O pecado não é nada e não pode fazer nada
sem as criaturas e as capacidades que Deus
criou; no entanto, o pecado organiza tudo isso
em aberta rebelião contra ele. O pecado não
destrói a criação: o mundo da cultura humana
continua sendo… parte da boa criação de Deus,
mas o pecado corrompe e polui (vol 3, p. 49).
A doutrina da criação do ser humano à Imagem e
Semelhança de Deus aponta para as três
direções em que experimentamos analogamente
as relações fundamentais da divindade. Assim
como a Trindade, também estamos em relação
pactual com Deus, com a realidade e com outros
seres humanos — o pecado coloca cada uma
dessas relações em uma direção apóstata.
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
De acordo com Paulo, vivemos no mundo de Deus e estamos
cônscios, intuitivamente, que existe um poderoso Criador digno
de nosso culto. Mas rejeitamos esse conhecimento. Desde eras
remotas, os seres humanos têm rejeitado a revelação que
Deus faz de si próprio por meio da criação. Eles não o têm
reconhecido ou cultuado como Deus [Rm 1.18-26]… As
consequências podem ser terríveis. Se não adoramos o Rei da
criação, se rejeitamos seu domínio, então desobedecemos
suas leis (p. 56).
Essa é a razão pela qual os profetas trouxeram uma mensagem
dupla de julgamento a Israel: o povo havia renunciado Yahweh em
favor dos ídolos; e a terra está cheia de ilegalidade e injustiça. Os
ídolos estão na raiz da desobediência. Então, não é de se admirar
que a idolatria seja denunciada no início do decálogo, ou que
Paulo, em Romanos 1 tenha visto a idolatria como o principio da
desobediência humana… Certamente existe a sugestão a uma
correlação pelo fato de a Bíblia usar o termo imagem para se
referir tanto aos seres humanos quanto aos ídolos (p. 56-7).
No mundo antigo um ídolo não era considerado um deus em
si. Ele não era de modo ingênuo identificado com a deidade
que justamente representava. Em vez disso, o ídolo era visto
como o meio local para qual a divindade se tornava
presente para as pessoas. Ele era a incorporação visível do
deus, representando seu poder e majestade. Como imagem,
o ídolo era simbólico; ele mediava e manifestava a glória e o
domínio do deus para os que estava ao seu redor (p. 57).
Essa compreensão do que significa fazer imagem de um deus coincide com
nossa interpretação anterior da imagem de Deus no homem. Assim como o
ídolo era considerado ser a manifestação local, visível do deus, o meio pelo
qual ele se tornava presente, também se pressupõe, em Gênesis, que os
seres humanos representem Yahweh na terra. Seu Espírito e poder o
acompanham, e ele exercita seu domínio sobre a terra por meio deles. A
ligação fundamental entre a image de Deus e o mandato cultural é então
confirmada… a imagem consiste em nossa representação corpórea de Deus.
A pessoa como um todo, e não apenas uma parte espiritual e interior, é
criada à imagem de Deus. Refletimos a glória de Deus e o representamos na
terra por meio de nossa presença física completa (p. 57-8).
A idolatria é errada não por fazer Deus visível (que é exatamente a
tarefa humana), mas porque realiza isso de maneira errada. Em vez de
aceitar e cumprir nossa responsabilidade, criada para representar o
Senhor no âmbito completo de nossas atividades culturais, projetamos
essa responsabilidade nos ídolos. Assim, negamos nosso chamado para
viver de tal modo que o domínio amoroso de Deus possa ser visto, e
começamos a cultivar a terra em desobediência. Dessa maneira a
idolatria é a alternativa ilegítima para a genuína tarefa humana de refletir
a Imagem de Deus. É equivalente a viver uma vida tão distorcida pela
falsa adoração que cesse de refletir os padrões de Deus (p. 57).
Nas duas primeiras proibições do Decálogo,
encontramos a abrangência da idolatria enquanto
paradigma da queda no pecado: o fato de Yahweh
ser o único Deus e dos seres humanos serem as
únicas imagens verdadeiras da divindade. Nesse
sentido, a idolatria não apenas usurpa o lugar de
Deus, mas também deslegitimiza a vida humana
em todas as suas dimensões.
kH
Bob Goudzwaard
Aid for the
overdeveloped West
(1975)
Existem três regras bíblicas: (1) cada pessoa serve em sua vida a
um ou mais deuses; (2) cada pessoa é transformada à imagem
de seu deus; (3) junta, a humanidade cria e forma uma estrutura
de sociedade à sua própria imagem… No desenvolvimento da
civilização humana, o homem forma, cria e altera a estrutura de
sua sociedade e, ao fazê-lo, expressa esmoa obra a intenção de
seu coração. Ele dá à estrutura daquela sociedade algo de sua
própria imagem e semelhança. Nela ele revela algo do próprio
estilo de vida, de seu deus (p. 14-15).
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
Em razão de Deus ter nos dado uma autoridade singular sobre a criação,
nossa desobediência levou toda a criação a ficar sob maldição. Daí em
diante a tarefa cultural, a vida humana em todos os seus aspectos, passou
a ser um conflito. Ao cessar de refletir a imagem de Deus em nosso domínio
da terra, vamos contra a natureza da vida; contradizemos a maneira como
as coisas deveriam ser. Na verdade contradizemos nosso próprio ser; não
nos preocupamos mais com a criação; de fato, começamos a experimentar
a guerra como uma inimiga. Em vez de preservar e desenvolver a criação,
nós a destruímos e exploramos. Governamos a terra em desobediência.
Assim como déspota usurpador, agimos como déspotas (p. 63).
kH
Gerrit C. Berkouwer
General and
Special divine Revelation
(1959)
A vida nesta terra ainda não revela as consequências
plenas do pecado. Calvino fala de “graça comum” e,
quanto a isso, analisa virtudes que se veem também na
vida de incrédulos. Ele não quis atribuir esses fenômenos
a um resto de bondade na natureza como se a apostasia
contra Deus não fosse tão séria, mas, em vez disso,
discerniu aqui o poder de deus na revelação e na graça
que preserva a vida da destruição total (p. 20-1).
AULA 05
O terceiro pilar da Cosmovisão Cristã: a Redenção
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
A visão bíblica oferece esperança. Ela não somente trata do
problema do mal, mas nos diz como Deus respondeu a quarta
pergunta da cosmovisão: “Qual é a solução?”. A Bíblia
promete que as reivindicações ilegítimas de Satanás um dia
cessarão; seu reino será destruído. Gênesis 3, o próprio
capítulo que narra a queda, anuncia o primeiro indício do plano
redentor de Deus… Aqui, embutida nas maldições pactuais,
vem uma promessa do fim dessas maldições: por meio do
descente da mulher, Deus diz que Satanás será derrotado.
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
Uma cosmovisão bíblica tem de observar três características da obra
salvífica de Deus. Em primeiro lugar, a salvação é progressiva: a obra
redentora de Deus inicia pouco depois do alvorecer da história
humana, e ainda não chegamos ao pôr do Sol. Em segundo lugar, a
salvação é restauradora: o objetivo da obra salvífica de Deus é
retomar sua criação perdida, fazendo com que ela volte a ser
conforme o plano original. Em terceiro lugar, a salvação é abrangente:
a totalidade da vida humana e a totalidade da criação não humana
são objeto da obra restaurado de Deus. Ele pretende retomar nada
menos que o mundo inteiro como seu reino (p. 89).
Diferentemente das narrativas sustentadas
por muitos evangélicos, a Redenção de
Deus não diz respeito só à salvação da
alma individual. Antes, também aponta
para a retomada do reinado cósmico de
Deus sobre as reivindicações ilegítimas de
Satanás e sua semente.
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
É óbvio que o descendente da mulher é Jesus, o Messias
prometido, aquele que veio para destruir para sempre o reino
das trevas e realizar a redenção de Deus para o mundo caído.
Mas o descendente também se refere aos descendentes de
Adão e Eva que chegariam até Jesus. Apesar de Deus, no
final das contas, trazer a salvação por meio de Jesus, ele
profetizou a respeito de Jesus durante um longo processo
histórico que podemos chamar adequadamente de história
redentora (p. 65).
Essa é a história que as Escrituras contam. Elas relatam o
drama dos atos poderosos de Deus na história — conduzindo
ao seu maior ato, a encarnação de Cristo — por meio da qual
ele reverte a queda, golpeia o pecado e assim restaura e
redime sua criação caída… Embora Jesus esteja no centro do
plano redentor de Deus, o mesmo não o enviou de imediato à
cena da queda — pré-embalado, por assim dizer. Em vez
disso, o Deus da História preparou o mundo para a vinda do
Messias (p. 66)
A história redentora, como a Bíblia relata, prossegue
principalmente por meio de uma série de alianças históricas
as quais Deus estabelece com a raça humana. Assim, a
maneira como Deus se relaciona conosco na salvação é
estruturada em seu relacionamento original e fundamental
com a própria criação. A redenção, como a criação, é em seu
teor pactual. Por essa razão, no climax da história redentora,
temos a nova aliança inaugurada por Jesus e selada com seu
sangue (p. 66).
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
As boas novas são que Deus está agindo para derrotar toda
oposição a seu shalom, para que reafirme seu domínio legítimo sobre
toda a criação. Isso fica claro na vida, atos e palavras de Jesus, à
medida que tornam conhecido o reino vindouro. Ele lança um ataque
contundente contra o mal em todas as suas formas: dor, doença,
possessão demoníaca, imoralidade, justiça própria desprovida de
amor, privilégios de elites, relacionamentos humanos desfeitos, fome,
pobreza e morte. Os atos poderosos de Jesus demonstram que no
reino que ele inaugura o mal será erradicado e a boa criação de
Deus será totalmente restaurada e retomada (p. 94-5).
Antes de o Espírito ser concedido, Jesus dá à sua comunidade
de discípulos a comissão de assumir a própria missão dele:
propagar o domínio de Deus sobre toda a criação. Depois da
ressurreição, o mandato de continuar a missão de Jesus é
explicada: “Assim como o Pai me enviou, também vos envio”(Jo
20.21). Jesus sopra o Espírito Santo sobre os discípulos para
capacitá-los para sua missão, a fim de que sigam no caminho
que ele lhes havia demonstrado. A vida deles deve ser
inteiramente vivida debaixo do domínio de Deus (p. 98).
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
Os cristãos nos últimos dias são, portanto, chamados para
empenharem-se na tarefa de refletir a imagem de Deus como
ministros da reconciliação. Essa é a tarefa redentora: é vocação do
corpo de Cristo trabalhar junto em um mundo caído, procurando
trazer o perdão, a cura e a renovação do domínio de Deus para
cada área da vida. Os indivíduos precisam arrepender-se, e
padrões culturais necessitam ser redirecionados. A obediência a
Cristo não requer menos do que isso. Essa é a profundidade
completa e radical do evangelho (p.76-7).
A boa notícia que recebemos e que devemos
anunciar é que Deus estava, em Cristo, restaurando
todas as áreas da vida que haviam sido distorcidas
pelo pecado. A obra consumada de Cristo aplicada
em nossas vidas nos permite cooperar na
restauração do shalom de Deus não só em nossa
vida religiosa, mas em todas as áreas da existência
— levando todo pensamento cativo a Cristo.
AULA 06
As raízes da Cultura e das Cosmovisões
do Ocidente: o paganismo
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
À medida que consideramos o desenvolvimento histórico das
duas grandes cosmovisões concorrentes no Ocidente — o
cristianismo e o humanismo confessional — queremos oferecer
um conjunto diferente de rótulos para a história, rótulos
inspirados na obra de Dirk Vollennhoeven, um historiador
cristão da filosofia. As designações de Vollenhoeven atribuem
de modo totalmente deliberado ao evangelho o papel de
“herói da história”. Assim, faremos referência ao período
(clássico) grego-romano como pagão (p. 116)
não para deixar implícito que a cultura deles era
retrógrada, mas simplesmente para nos lembrar de
que ela se desenvolveu sem a luz do evangelho.
Identificaremos o período medieval como o período de
síntese, uma vez que se caracterizou por concessões,
fusão ou combinação das duas cosmovisões
abrangentes. Descreveremos o período moderno como
antitético, (p. 117)
a fim de ressaltar a crescente hostilidade entre as
cosmovisões humanísticas e cristã depois da Idade
Média. O que muitos chamam de período “pós-
moderno” poderia ser rotulado de neopagão.
Enquanto pagão se refere a uma cultura que nunca
teve a luz do evangelho, neopagão designa uma
cultura nascida da rejeição do evangelho (p. 117).
kH
Herman Dooyeweerd
Raízes da
Cultura Ocidental
(1960)
É absolutamente necessário o motivo básico grego primeiro,
visto que, apesar de suas modificações, continuou e

continua até hoje a operar tanto no catolicismo romano quanto
no humanismo. Esse motivo o controlou o pensamento e a
civilização gregos desde o surgimento das cidade-Estados
gregas. Ele se originou do conflito irresoluto dentro da
consciência religiosa grega, entre o motivo básico das antigas
religiões da natureza e o motivo básico da então mais recente
religião cultural, a religião das divindades olímpicas. (p. 29).
Motivo Básico das antigas
Aristóteles
religiões da Natureza
Zoroastrismo Platão

Hinduísmo Sócrates

Filósofos
Pré-socráticos Surgimento do motivo Matéria-forma

Poesia
Homérica

Motivo Básico da recente


religião das divindades olímpicas
kH
Guilherme de Carvlho
Cosmovisão Cristã
e Transformação
(2006)
A religião pré-homérica era uma forma primitiva de culto à
natureza, ou a “mãe-terra”. Essa religião cultuava o fluxo 

orgânico da vida e morte. O motivo da forma é o centro da
religião olímpica. Era centrada na harmonia, na beleza e na
permanência eterna. Essa é a situação dos deuses, que têm
uma forma eterna idealizada. Somente em Platão e Aristóteles a
polaridade entre os motivos matéria e forma chegou a uma
estabilidade, com a assimilação do motivo da matéria no da
forma (p. 127).
kH
Herman Dooyeweerd
Raízes da
Cultura Ocidental
(1960)
[esse motivo] levou o pensamento grego maduro a aceitar uma
origem dupla do mundo. Mesmo quando os pensadores gregos
passaram a reconhecer a existência de uma ordem cósmica,
originada por meio de um desígnio divino e de um plano divino,
ainda assim continuavam a negar categoricamente uma
criação divina. Uma concepção dualista da natureza humana
estava diretamente relacionamento com essa ideia dualista da
natureza divina. Encontrava dento de si mesma a dualidade
básica de uma “alma racional” e de um “corpo material” (p. 31)
Enquanto a primeira força motriz na cultura
ocidental, a cosmovisão pagã de matéria e
forma exerceu influência dominante no
mundo greco-romano, como também
manteve-se presente na Idade Média e na
modernidade em seus dualismos
incontornáveis.
AULA 07
As raízes da Cultura e das Cosmovisões
do Ocidente: a síntese medieval
kH
Francis A. Schaeffer
A morte da Razão
(1968)
A origem do homem moderno pode ser atribuída a
diversos períodos. Entretanto, partirei do ensino de
alguém que transformou o mundo de modo muito
real. Tomás de Aquino (1225-1274) abriu caminho
para a discussão do que convencionalmente é
designado de “natureza e graça”. Isso pode ser
representado pelo seguinte diagrama:
GRAÇA, O NÍVEL SUPERIOR

Deus, o Criador; o céu e as coisas celestes; o
invisível e sua influência na Terra; a alma
humana; a unidade 

____________________________________


NATUREZA, O NÍVEL INFERIOR

A criação; a Terra e as coisas terrenas; o
visível e o que fazem a natureza e o homem
na Terra; o corpo humano; a diversidade
Até a época antes de Tomás de Aquino, as formas de
pensamento tinha sido bizantinas. As realidades celestiais
capitalizavam toda a importância e se revestiam de tal
santidade que não eram retratadas de maneira realista...
Assim, antes de Tomás de Aquino, dava-se fortíssima ênfase
às coisas celestes, tão remotas e transcendentes, tão santas
e sublimes, representadas por meio de símbolos, com pouco
interesse pela natureza como tal. Com o advento de Tomas de
Aquino, temos o verdadeiro surto da Renascença humanista.
A concepção tomista de natureza e de graça não
envolvia completa descontinuidade dos dois princípios,
pois sustentava um conceito de unidade que as
correlacionava. Desde os tempos de Aquino, e por
muitos anos a seguir, houve empenho constante em se
estabelecer uma unidade da graça e da natureza, bem
como a esperança de que a racionalidade tinha de dizer
algo a respeito de uma e de outra.
A concepção tomista de natureza e de graça não
envolvia completa descontinuidade dos dois princípios,
pois sustentava um conceito de unidade que as
correlacionava. Desde os tempos de Aquino, e por
muitos anos a seguir, houve empenho constante em se
estabelecer uma unidade da graça e da natureza, bem
como a esperança de que a racionalidade tinha de dizer
algo a respeito de uma e de outra.
Motivo Básico nascido puramente da
Revelação divina registrada nas Escrituras
Moisés

Apóstolos

Profetas, Reis, Sacerdotes,


Poetas e Escritores
Jesus

Escribas
Motivo Básico Bíblico
Tomás de Aquino
Jesus Alberto Magno

Agostinho
Apóstolos

Pais da Igreja Motivo básico escolástico


Natureza e Graça
Gnosticismo
Plotino Credos e Concílios
Aristóteles Ecumênicos
Motivo grego
Matéria-forma Pedro Valdo
kH
Peter J. Leithart
A teologia Medieval e as
raízes da Modernidade
(2007)
Tomás incontestavelmente acomoda a teologia cristã aos conceitos
e à linguagem da filosofia. A linguagem e um bom pedaço da
estrutura da Suma são filosóficos, ainda que o conteúdo
normalmente seja bíblico. Moldar a teologia cristã em um formato
filosófico é uma questão irrelevante somente porque Aquino já
havia assumido uma separação abelardiana entre forma e matéria.
Uma única ilustração dessa questão terá que ser suficiente. A
metafísica de Tomás se baseia em uma série de contrastes
correlatos: forma e matéria, ato e potência, existência e essência.
Embora os termos não sejam intermutáveis, eles correspondem da
seguinte forma: forma-ato-existência de um lado, e matéria-potência-
essência do outro. Seguindo Aristóteles, Tomás cria que substâncias
são uma mistura de forma e matéria. A matéria não existe em si
mesma, pois sem forma é meramente uma potência e não tem uma
existência real… Uma vez que a matéria-prima é “instruída” por uma
forma, ela se torna uma substância específica. O bronze se torna uma
estátua quando é instruído pela forma de uma estátua, embora o
próprio bronze já seja uma matéria informada, matéria-prima
transformada em bronze por combinação com a forma do bronze.
kH
Francis A. Schaeffer
A morte da Razão
(1968)
Na concepção tomista, a vontade humana está
decaída, mas não o intelecto. Dessa noção incompleta
do conceito bíblico da Queda resultaram todas as
dificuldades que vieram depois. O intelecto humano
tornou-se autônomo. Em um aspecto, o homem
passou a ser independente, autônomo... Nessa
perspectiva, a teologia natural é uma teologia que se
poderia formular independentemente das Escrituras.
Embora fosse um estudo autônomo, Tomás de Aquino
esperava que resultasse numa unidade e dizia existir uma
correlação inegável entre a teologia natural e a Bíblia. O
ponto importante, porém, no que se seguiu foi que uma área
completamente autônoma assim se estabeleceu. Com base
nesse princípio da autonomia, também a filosofia tornou-se
livre e separou-se da revelação. Portanto, a filosofia começou
a criar assas, por assim dizer, voando por onde queria e
deixando á margem as Escrituras.
A Idade Média pode ser corretamente chamada de período da
síntese, uma vez que o Ocidente foi dirigido por uma tentativa
de manter unificada a visão grega de mundo com a visão
bíblica através da força institucional e cultural da Igreja. A vida
nesse período oscilava como um pêndulo entre os âmbitos da
graça de Deus e as realidades meramente naturais. Com isso,
paulatinamente vários âmbitos da vida humana, tidos como
naturais, foram se descolando da fé cristã — preparando o
terreno para o secularismo que conhecemos na modernidade.
AULA 08
As raízes da Cultura e das Cosmovisões
do Ocidente: a antítese humanista
kH
Herman Dooyeweerd
Raízes da
Cultura Ocidental
(1960)
Nesse período crucial, surgiu um movimento dentro
do escolasticismo do final da Idade Média que
fraturou a síntese artificial da igreja entre a visão
grega da natureza e a religião cristã. Isso provou ser de
importância decisiva para o período moderno. O
movimento renascentista, o primeiro precursor do
humanismo, seguiu o primeiro caminho; com
consistência variável, a Reforma seguiu o segundo.
No entanto, o humanismo não se revelou em suas primeiras
características em termos dessas tendências anticristãs. Homens
como Erasmo, Rodolfo Agrícola e Hugo Grócio representam um
“humanismo bíblico”; juntamente com a admiração que sentiam
pelos clássicos gregos e romanos também defendiam um estudo
livre e a exegese da Escritura. No entanto, um exame mais
atento revela que a verdadeira força espiritual por trás do
“humanismo bíblico” não era o motivo básico da religião cristã.
A consistente aplicação do motivo da natureza não deixava lugar na 

realidade para a liberdade e a autonomia humana. Desde o início,
“natureza” e “liberdade” estiveram num conflito irreconciliável. Foi a
crescente consciência desse conflito que causou a primeira crise do
humanismo. Ao resolver as tensões entre “natureza” e “liberdade”,
alguns tentaram moderar as pretensões do antigo ideal de ciência,
limitando a validade das leis da natureza aos fenômenos
sensorialmente perceptíveis. Acima desse reino sensorial da
“natureza”, existia um reino “suprassensorial” da liberdade moral,
que não era governado por leis mecânicas.
Motivo Básico Bíblico Immanuel Kant
Pedro Valdo
Escolástica Protestante
John Wycliffe René Descartes
Martinho Lutero
Renascença Motivo básico humanista
Natureza e Liberdade
Dante Alighieri
Reforma Protestante
Guilherme de Ockham João Calvino

Tomás de Aquino Motivo escolástico Confissões de fé Reformadas


Natureza e Graça
Thomas Reid
kH
Guilherme de Carvlho
Cosmovisão Cristã
e Transformação
(2006)
A marca principal do humanismo é a noção de que o homem
encontrará suas realização plena por meio de uma 

libertação plena de toda opressão. Ao lado de uma valorização
crescente do homem e da liberdade humana, os humanistas
defendiam o controle racional da realidade. Conforme esse dualismo
moderno, o homem é essencialmente um espírito racional, ansiando
por liberdade para se realizar. Mas o principal obstáculo a essa
realização é a natureza, que impõe limitações à liberdade. O homem
entra então em uma luta com a natureza, buscando controlá-la por
meio da tecnologia.
Niilismo
Existencialismo
Relativismo
Individualismo
Materialismo
Consumismo

Cientificismo Hedonismo

Historicismo
Naturalismo

Dualismo Natureza e Liberdade


As transformações nas forças motrizes do
Ocidente geraram uma forma de vida
irresolutamente polarizada entre as
determinações naturais cegas e sem
propósitos e as possibilidades morais dos
seres humanos que podem construir o
significado de sua vida sem estruturas prévias.
AULA 09
Onde nós estamos? Sobre os deuses do nosso tempo
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
A cultura ocidental tem, de fato, servido a outros deuses, muitos
deles — bens, coisas criadas que temos idolatricamente tornado
absolutas e procurado com religiosidade na esperança da
realização máxima… Isso não deveria nos surpreender. Embora a
civilização ocidental seja, incontestavelmente, politeísta, ela nunca
poderia ter conseguido sua coesão e dominância cultural sem
algum absoluto, ou absolutos unificadores… Enquanto podemos
experimentar hoje a desintegração dessa mesma cosmovisão e
civilização, ainda há uma ortodoxia dominante (p. 113).
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
Que visão de história poderia ligar esses desdobramentos
aparentemente tão diferentes? Há pontos em comum no meio da
diversidade tão grande? Cremos que aqui há um tema comum… Na
pós-modernidade vemos o desmoronamento da modernidade, à
medida que suas tensões internas e contradições básicas sofrem
ataques inesperados, especialmente nas nações ocidentais… A pós-
modernidade sugere que o ídolo do progresso tinha pés de barro
— uma descoberta que bem poucos leitores da Bibia achariam
pessoalmente inesperada (p. 163).
A contemporaneidade nasce sob o signo da
falência dos deuses modernos e suas promessas de
construir o paraíso na terra. A luta pela fidelidade
dos corações ocidentais acontece debaixo de uma
consciência de crise e incapacidade de realização
das utopias tradicionais. Cada um dos cinco
principais candidatos a deuses culturais opera no
espaço deixado pelas devoções modernas.
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
Alguns críticos da modernidade adotaram a designação
“pós-moderno” para sinalizar sua rejeição total da
metanarrativa modernista, e Jean-François Lyotard cunhou a
expressão “incredulidade para com metanarrativas” como um
dos elementos definidores do novo espírito. Para Lyotard,
metanarrativas são aquelas grandes histórias ou narrativas
abrangentes que visam explicar de modo abrangente todos
os acontecimentos e perspectivas (p. 163).
Sua crítica era especialmente voltada à confiança da modernidade na razão
para explicar a realidade de forma abrangente, à busca pela modernidade, de
critérios universalmente válidos com os quais pudesse organizar a sociedade
e à confiança cega da modernidade na capacidade da ciência e da
tecnologia de libertar a humanidade de todos os tipos de mal… O corolário
desse ceticismo tem sido uma profunda suspeita dos interesses ocultos do
denominado conhecimento moderno neutro… Os pós-modernistas têm sido
muito bem sucedidos em mostrar que aquilo que na modernidade era
apressado como verdade objetiva estava, na verdade, carregado de
bagagem ideológica, incluindo engajamento com o patriarcalismo, o
colonialismo, o eurocentrismo, o reacionarismo e o antissemitismo (p. 166).
O pós-estruturalismo tem sido a mola propulsora
da tomada de consciência do pluralismo
epistêmico e identitário e, com eles, as recentes
reivindicações das políticas de libertação.
Entretanto, quando trazido para a experiência
ordinária, ele se mostra impraticável — da
desconstrução hermenêutica às afirmações quer
de gênero.
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
O deus do economicismo (a absolutização da boa habilidade
humana de fazer escolhas econômicas) oferece a todos que
ouvem a promessa empolgante de prosperidade material gloriosa
nada menos que uma salvação secular… o economicismo é o
ídolo chefe… Quando o assunto é pesquisa científica ou inovação
tecnológica, o ponto final hoje é: Paga bem? É lucrativo? Os
deus mais antigos ainda estão lá, sem dúvida, e proporcionam a
base para nossa idolatria econômica; mas eles são muito
subservientes à cabeça econômica do ídolo (p. 119).
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
A cultura do consumo é uma cultura em que os valores fundamentais
se originam cada vez mais no consumo, em vez do contrário. Em
princípio, tudo se torna um produto, que pode ser comprado ou
vendido… Uma cultura de consumo é, além disso, uma cultura que a
liberdade é associada à escolha individual e à vida privada… uma
cultura de consumo é uma cultura em que as necessidades são
ilimitadas e insaciáveis. Isso é irônico, porque, embora o consumismo
prometa, de forma sem precedentes, satisfazer às nossas
necessidades, sua existência ininterrupta depende de nossas
necessidades nunca serem totalmente atendidas (p. 174-5).
kH
Bob Goudzwaard
Harry de Lange
Beyond poverty
and affluence
(1995)
O livre funcionamento do mercado se encontra bem perto do centro
da autodefinição da sociedade ocidental: no Ocidente não cabe ao
governo interferir no mercado, porque isso significa um passo atrás
em uma sociedade livre e um passo à frente na direção de uma
sociedade totalitária… a economia contemporânea procura somente
oferecer explicações, assim como as ciências naturais procuram
apenas explicar a realidade, à medida que busca leis universalmente
válidas e fatos inegáveis que podem ser ligados entre si de uma forma
objetiva e imparcial… o economista precisa se limitar a analisar
rigorosamente os processos das regras de mercado (p. 48-51)
Nas ruínas das grandes narrativas abrangentes, a
sociedade ocidental só conhece o livro funcionamento
do mercado como condição de cidadania global. Das
criações artísticas às redes sociais, nada resiste à
lógica do consumo de produtos. Tratado como uma
divindade, o humor do mercado dita a viabilidade dos
valores de uma sociedade — quem trabalha e quem
desfruta, quem é explorado e quem é preservado,
quem vive e quem morre.
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
No contexto de uma cosmovisão cada vez mais científica e
mecanizada, era quase inevitável que o alvo principal da vida
fosse algo que pudesse ser mecanicamente produzido e
matematicamente quantificado — ou seja, o crescimento
econômico. Também a ênfase do secularismo na expressão
humana autônoma da própria personalidade por meio do
controle e da exploração da natureza libertou o povo de
quaisquer limites sobre seu apetite aquisitivo (p. 117).
Esse tecnicismo se apoia nas realizações do cientificismo. Ele
traduz a descoberta científica em poder humano. Embora
inovações tecnológicas fossem evidentes em toda a história
antiga e medieval, normalmente elas falhavam no que se
referia a encontrar um modo de serem usadas em larga
escala… motivadas pela ideologia da conquista e a crescente
aspiração por um paraíso secular, elas trabalhavam para
desenvolver a vida sobre a terra por meio do controle
científico do meio ambiente (p. 115).
Enquanto o cientificismo sustentava a promessa na onisciência, o
tecnicismo nos oferece a onipotência. A humanidade moderna
tem acreditado no avanço ilimitado (e assim não normatizado) da
ciência e da tecnologia, desconsiderando as consequências: social,
ambiental ou psicológica. Viemos a crer que se ela poder ser
conhecida, ela deve ser conhecida; e se ela pode ser feita, ela
deve ser feita. A ciência e a tecnologia têm se tornado os guias
autônomos, foram elevados de seus lugares na criação de Deus e
transformados em absolutos; promovidos a ídolos (p. 116).
Seja na pesquisa médica e farmacêutica em
busca do prolongamento da vida, ou nas
facilidades da vida cotidiana toda transformada
em digital, o tecnicismo é alimentado não mais
por uma possibilidade de progresso, mas pela fé
na inevitabilidade do progresso. A inovação
tecnológica é a palavra de ordem em todos os
âmbitos da vida de uma sociedade.
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
O islamismo cresceu de 12,4% da população mundial em 1900
para 19,6 em 1993. Esse ressurgimento do islamismo, que teve
início na década de 1970, agora alcança diretamente cerca de
um quinto ou mais da humanidade e tem implicações
significativas para o restante do mundo… O islamismo
ressurgente tem uma atitude profundamente crítica em
relação ao Ocidente e está, portanto, procurando em suas
próprias tradições soluções para os desafios da modernidade
(p. 183).
kH
Christine 

Schirrmacher
Entenda o Islã
(2008)
Onde quer que os muçulmanos pratiquem sua fé, essa fé não é uma
atitude limitada à sexta-feira ou a uns poucos feriados anuais, mas antes,
com seus inúmeros mandamentos e prescrições, é algo que dá forma não
só ao cotidiano, mas também à vida como um todo, do nascimento à
morte… O islã, portanto, não é apenas um sistema doutrinário teológico,
mas um sistema que também reivindica inteiramente para si o leigo sem
instrução teológica. O islã é um ordenamento de vida para a família e a
sociedade... Esses preceitos não são deixados a critério do indivíduo...
Trata-se de um componente da vida cotidiana, ainda que a religião seja
praticada em diferentes graus de intensidade.
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
O islamismo tem tido bem mais sucesso do que o cristianismo em
resistir ao secularismo da modernidade. Na resposta do islamismo à
pós-modernidade, ouvem-se ecos das preocupações expressas por
cristãos sérios… como participar da civilização global sem que sua
identidade seja destruída. É um teste apocalíptico; o exame mais
difícil… Em um sentido, o islamismo e o cristianismo se encontram na
mesma encruzilhada, tendo a mesma decisão diante de cada um:
como preservar a natureza abrangente de sua fé ao mesmo tempo
que esta é relacionada com a ultramodernidade do Ocidente (p. 185).
Com uma cosmovisão bem mais rígida quanto às
concessões feitas para a cultura, o islamismo tem
encontrado em suas tradições respostas mais
eficientes para responder a corrosão dos valores pelo
secularismo liberal e consumista. Ainda que possamos
julgar seus méritos internos, não podemos negar que
os islâmicos estão mais bem preparados para
habitarem no mundo contemporâneo do que os
cristãos.
AULA 10
Ministério da Reconciliação: a cosmovisão em ação
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
Como podemos viver fielmente nessa
“tensão insuportável” de narrativas,
defendendo o desenvolvimento cultural,
que Deus ama, mas rejeitando ao mesmo
tempo a idolatria que também a deturpou
à medida que ela se desenvolveu? (p. 202).
A contextualização fiel exige discernimento em três
dimensões: (1) propósito da criação, (2) idolatria cultural e
(3) potencial curativo… nosso ponto de partida fiel na cultura
será ter alguma compreensão do propósito para o qual
aquela instituição cultural específica existe e uma ideia de
como a arte, os esportes, as relações internacionais, o
trabalho, o casamento ou a família podem parecer se
estiverem orientados para esse propósito (p. 205).
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
A criação de Deus é multidimensional. Todas as
variedades de criaturas e aspectos da vida funcionam em
interdependência coerente… A cosmovisão moderna é
reducionista; isto é, ela reduz toda a vida à sua dimensão
econômica, técnica ou científica. O que significa
reconhecer o verdadeiro aspecto multidimensional da
vida?… requer que atribuamos a todos os aspectos da
vida seus lugares apropriados (p. 132-133).
A tomada de decisões, seja pelo governo ou por indivíduos, não
deve ser afetada exclusivamente pelo crescimento econômico…
Uma visão cultural cristã, pelo contrário, insiste que as
questões sociais, ambientais e pessoais são tão importantes
quanto as considerações econômicas e tecnológicas. Assim,
uma abordagem de mão dupla é sempre insatisfatória — não
apenas porque facilmente sacrifica interesses pessoais,
comunitários e do ecossistema, mas porque fracassa em reagir
a normas tais como amor, a justiça e a mordomia (133-134).
Esferas de uma Sociedade diferenciada
Uma compreensão cristã do ordenamento
criacional precisa reinserir cada entidade e
processo da realidade em uma imagem
multinível do mundo. Tão somente nessa
coerência interdependente poderemos
discernir o propósito criacional de esfera da
vida — atribuindo seus lugares apropriados.
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
A fidelidade nessa zona de interseção incluirá, em segundo
lugar, compreender a idolatria cultural e a maneira como ela
corrompe a criação de Deus. Todas as empresas, escolas e
governos expressam reações humanas aos propósitos que
Deus tem para eles, e nessas respostas a obediência estará
entrelaçada com a desobediência… Em cada caso é preciso
discernir não apenas a ordem criada da instituição social em
consideração, mas também como aquela estrutura cultural foi
deformada pela idolatria (p. 206).
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
Se nossa crise é espiritual, então devemos começar a
questionar se nossa fé tem estado equivocada. Qualquer deus
que não possa cumprir suas promessas não é digno de nossa
adoração… Se conservarmos energia e limparmos o meio
ambiente apenas porque isso parece ser economicamente
necessário, então nosso motivo ainda estão fundamentados
no culto ao economicismo. Tal culto não no ajudará a sair
dessa crise… o que necessitamos é de uma rejeição desses
ideais culturais falsos (p. 130).
Na visão horizontal da realidade, as reações
humanas ao pacto com o Criador podem ser
de obediência ou desobediência. A tarefa
do cristão é discernir qual é a idolatria
cultural de cada esfera da vida em que está,
e também como aquela esfera foi
deformada pela idolatria.
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
Por último, uma testemunha fiel saberá discernir a ação curativa apropriada
em cada situação em particular. A executiva prestará atenção a vislumbres
de justiça e de boa mordomia manifestados na maneira como sua empresa
fornece produtos e serviços, e se empenhará para desenvolvê-los e
aperfeiçoá-los… Aqui a tarefa é altamente contextual. O que precisa ser feito
dependerá do cargo do cristão, do grau de distorção visível em sua esfera
cultura e das oportunidades que podem existir para testemunho fiel acerca
de uma cosmovisão alternativa. Mas o cristão que trabalha no meio de uma
cultura hostil pode se animar ao refletir que Deus mantém sua criação unida
em harmonia, e que a alegria e o shalom na vida humana dependem de nos
conformarmos à sua sabedoria (p. 206).
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
Uma resposta obediente às boas normas de Deus para a
criação é então essencial para um testemunho cultural cristão.
Aqui o evangelho de Cristo pode curar nossa cultura. Muitas
pessoas veem os problemas, as não podem proporcionar
quaisquer normas porque lhes falta uma base bíblica. Elas
podem saber que o utilitarismo está falido, mas sua
cosmovisão não oferece alternativas. A oportunidade cultural
para o evangelho é maior quando as pessoas não têm lugar
para onde ir (p. 134-135).
uma perspectiva cristã pede moderação interna e externa. A
restauração cultural é impossível sem uma resposta renovada à
lei de Deus. Assim como a criação é multidimensional, assim
também é a lei de Deus. Em vez e ser uma imposição à liberdade
humana, suas leis proporcionam o contexto para nossa liberdade e
resposta dinâmica. Goudzwaard pede a “Percepção simultânea
das normas”… Somente tentando perceber todas as normas de
Deus de modo concomitante é que seres capazes de reconstruir
nossa cultura em obediência pactual a Yahweh (p. 135).
Uma percepção simultânea das normas parece impossível.
O alto crescimento econômico, necessariamente, não entra
em conflito com a justiça social? Sim, entra, mas talvez nosso
entendimento da norma para a vida econômica precisa ser
revisto. As leis de Deus são coerentes. Quando são
adequadamente compreendidas, as normas da economia e
da justiça funcionam em harmonia. Não existe a intenção de
que elas sejam praticas uma contra a outra (p. 135).
Não só discernir, mas obedecer as normas
de Deus em cada esfera da vida será a forma
de apresentarmos uma cosmovisão como
alternativa à falência espiritual da cultura.
Sem uma renovada visão sobre a lei de Deus
nos dará condições de desenvolvermos uma
percepção simultânea das normas divinas.
kH
Michael Goheen
Craig Bartholomew
Introdução à
Cosmovisão Cristã
(2008)
A ideia de envolvimento cultura que esboçamos até aqui está
sujeita a pelo menos quatro possíveis críticas. A primeira é
que essa ideia é individualista, ressaltando o chamado
individual de crentes na sociedade e negligenciando o
testemunho comunitário da igreja. A segunda é que, ao tentar
fazer com que as diversas instituições sociais e culturais estima
em maior conformidade com o propósito de Deus, existe o
perigo de que as pessoas marginalizadas por essas
instituições sejam esquecidas (p. 207)
A terceira é que essa abordagem pode deixar os cristãos mais
vulneráveis às tentações de triunfalismos e coerção: é tentador se
esforçar para construir o reino aqui e agora, empregando diversos
métodos de coerção para construir uma sociedade “cristã”. E, por
fim, há o perigo sempre presente de se fazer concessões: à
medida que o crente procura interagir com a cultura em que está
inserido, é perigosamente provável que ele seja transformado pelos
ídolos poderosos que operam ali, em vez de levar o poder
transformador do evangelho e influenciar a cultura (p. 207).
kH
Brian J. Walsh
Richard Middleton
A visão
Transformadora
(1984)
A ansiedade cultural, facilmente, dá espaço para um
sentimento de impotência. Convencido de que as forças
idólatras de destruição estão vivendo uma vida independente,
ficamos imobilizados, assistindo nosso mundo despedaçar-se.
Parece que nada podemos fazer… precisamos de comunidade
não apenas porque os problemas são tão grandes, mas porque
somos o corpo de Cristo. Experimentamos nossa
individualidade, principalmente, em termos de nossa
contribuição singular ao corpo de Cristo (p. 137-138).
A comunidade é o meio de Deus para fortalecer o povo. Nossa
obediência pública às normas de Deus em todas as áreas da
vida é uma luz para o mundo. A comunidade cristã, com sua
visão bíblica da justiça, deveria trabalhar por justiça na vida
pública… O que faz da comunidade cristã é sua adoração.
Uma comunidade radical destrói a cultura dominante porque
cultua, serve e ora a um Deus diferente. Sua adoração
determina o padrão para toda a sua vida (p. 138-139).
O caminho necessário para superar os
triunfalismos ingênuos é a consciência dos
desafios que o ministério da reconciliação traz
consigo — que só poderão ser corretamente
enfrentados em comunidade. Não é possível
ultrapassarmos as idolatrias culturais sem um
culto correto ao verdadeiro Deus.
Obrigado!
Que o Senhor te use no
Ministério da Reconciliação —
discernindo as idolatrias culturais
e testemunhando a obediência fiel !

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