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PROCESSO DE ACONSELHAMENTO
BÍBLICO
Compilador:
Fernando Ferreira de Sousa
O centro de aconselhamento
bíblico onde sirvo oferece
treinamento para as pessoas
interessadas em ministrar no
aconselhamento bíblico, um
discipulado intensivo. Em um
dos módulos, nossos alunos
aprendem os aspectos práticos
de como proceder em um
encontro de aconselhamento
bíblico. Eles aprendem que
começamos um encontro de
aconselhamento reunindo os dados e colhendo informações do aconselhado.
É por isso que uma das melhores habilidades que alguém novato no aconselhamento
bíblico pode cultivar é aprender a fazer boas perguntas. No aconselhamento bíblico,
os tipos mais eficazes e produtivos de perguntas são aqueles direcionados
diretamente ao cerne da questão. Precisamos expor um coração que, por natureza,
oculta-se e é enganador (Jeremias 17.9). As perguntas ajudam o aconselhado no
processo de mudança bíblica e muitas vezes reduzem o tempo que é preciso investir
no relacionamento formal de aconselhamento.
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GANSCHOW, Julie. A importância das perguntas no aconselhamento bíblico. Atibaia, 2017.
Disponível em: <https://conselhobiblico.com/2017/12/27/a-importancia-das-perguntas-no-
aconselhamento-biblico/>. Acesso em: 11 abr 2020.
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Uma boa comunicação inclui dar e receber informações. Nosso objetivo é sermos
bons comunicadores em benefício daqueles que aconselhamos e para a glória de
Deus. Eu diria que fazer perguntas é o alicerce da boa comunicação. Na verdade, eu
daria ainda um passo a mais e diria que fazer boas perguntas é a pedra angular desse
alicerce.
(2) As perguntas efetivas revelam algo sobre o que está acontecendo nos
pensamentos e crenças do homem interior, o que é importante porque nosso
objetivo é chegar ao coração da pessoa.
(6) As boas perguntas levam às razões fundamentais por que alguém está
procurando aconselhamento. Eles provocam a pessoa a pensar e raciocinar
sobre as questões do coração.
Faça boas perguntas, mas tenha cuidado para não transformar em pura
investigação o tempo que você passa com o aconselhado. Seu aconselhado está à
procura de alguém com compaixão e de um coração que anseie ministrar ao
dele. Lembre-se de que o Espírito Santo é o conselheiro por excelência, e que Jesus
é nosso mestre por excelência na arte de fazer perguntas. Invista tempo nos
Evangelhos e aprenda com Jesus a fazer perguntas. Esse é um exercício de muito
valor não só para os conselheiros bíblicos novatos, mas para os mais experientes
também.
Para refletir
Você já colocou como um de seus objetivos aprender a fazer perguntas que atinjam o
coração do aconselhado durante os encontros de aconselhamento?
Você está disposto a fazer uma avaliação crítica de como você costuma interagir com
seus aconselhados nesse importante aspecto do aconselhamento bíblico?
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2
SABATIER, Lucas. Chorar com os que choram? Conectando-se com o aconselhado. São
Paulo, 2016. Disponível em: < https://abcb.org.br/chorar-com-os-que-choram-conectando-se-com-o-
aconselhado/>. Acesso em: 11 abr 2020.
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O EXEMPLO DA ENCARNAÇÃO
Mas o que posso fazer de concreto para que isso se torne realidade? O que fazer para
me envolver dessa maneira com meu aconselhado? Gostaria de sugerir alguns
passos:
(1) Seja sensível às lutas do aconselhado e tente entender como seria se estivesse
em seu lugar;
(2) Comprometa-se a orar regularmente pelo aconselhado;
(3) Busque ser seu amigo espiritual, demonstrando disponibilidade, levando seus
problemas a sério, enfatizando a suficiência da graça de Deus para sua vida e para a
vida dele, e encorajando-o a tomar passos práticos de crescimento;
(4) Seja sempre genuíno na explicação de seu sistema de valores bíblicos;
(5) Caminhe com ele em meio ao sofrimento de modo compassivo, reconhecendo o
tamanho de sua dor e ensinando a reação bíblica apropriada ao sofrimento;
(6) Exorte-o em amor em tempos de pecado, chamando-o ao arrependimento e
confissão;
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Ao fazer todas essas coisas, lembre-se que o conselheiro não é o salvador de quem
o aconselhado precisa. Cristo é quem o aconselhado mais precisa — e o conselheiro
também. É Cristo que dá forças tanto para o aconselhado superar lutas e dores,
quanto capacitação para a ministração do conselheiro. É o evangelho da cruz que dá
esperança e alivia o peso tanto de um quanto do outro.
No fim das contas, o conselheiro fiel é um mensageiro fiel e um discípulo fiel, que vive
a mensagem que prega ao abnegar-se e considerar os outros mais do que a si
mesmo. O conselheiro fiel é aquele que chora com os que choram, que se alegra com
os que se alegram.
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(Irei numerar os pontos principais abaixo para destacar meu esboço e incluir alguns
versos adicionais para você como conselheiro.)
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JONES, Robert. Dando esperança em meio a dificuldades: o poder e a simplicidade de 1
Coríntios 10.13. São Paulo, 2017. Disponível em: < https://abcb.org.br/dando-esperanca-em-meio-a-
dificuldades-o-poder-e-a-simplicidade-de-1-corintios-10-13/>. Acesso em: 11 abr 2020.
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Julia, a primeira coisa que essa passagem nos diz é que você enfrentará dificuldades
e tentações nessa vida. O termo grego do Novo Testamento traduzido como
“tentação” pode ter o sentido de tentação (indução ao pecado) ou de provação
(teste/fortalecimento da fé). Aqui em 1 Coríntios 10 o termo parece carregar os dois
sentidos. As dificuldades que encontramos são ao mesmo tempo testes de Deus e
tentações do inimigo [considere também 2 Coríntios 12.7–10].
Julia, seguir a Jesus não nos isenta das dificuldades. O que você tem passado não é
surpresa para Deus. Como você lidará com isso é o que importa.
A segunda verdade neste verso é que as dificuldades que você enfrenta não são
exclusividade sua. Você não está sozinha. Outros antes de você enfrentaram
provações. A Bíblia é repleta de lições e histórias sobre pessoas que enfrentaram
problemas similares. Romanos 15.4 diz: “pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o
nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras,
tenhamos esperança” [cf. Hebreus 11; 12.1; Tiago 5.7–11]. O caminho em que você
está tem as pegadas de pessoas que passaram por ele de forma bem-sucedida.
Não são somente as pessoas do passado que passaram de forma bem-sucedida por
essas dificuldades, mas também outros ao seu redor hoje [Romanos 12.15; 1
Coríntios 12.26; 1 Pedro 4.12–19; 5.8–9].
E Julia, você também tem o Deus-Homem para olhar. O livro de Hebreus nos diz que
Jesus foi homem como nós e tentado como nós em todas as coisas (Hebreus 2.10–
18; 4.15–16). Seu Salvador completamente humano sente suas dores e entende seus
sofrimentos, porque na forma de homem, ele os enfrentou. Ele o convida a se virar a
ele, conversar com ele e a confiar nele.
Julia, a terceira lição que vemos nesse verso é que o seu soberano, fiel e poderoso
Deus garante que, pela graça dele, essas dificuldades não serão mais difíceis do que
você possa suportar.
Deus é fiel. Ele é com você em meio aos seus problemas matrimoniais e as outras
dificuldades que temos discutido. Ele jamais irá deixa-la ou desistir de você. Deus é
poderoso. Ele não deixará que suas dificuldades a destruam. Como um pastor disse,
“Deus tem o olho no relógio e a mão no termostato; ele sabe por quanto tempo e qual
a temperatura que você pode suportar”. Para citar uma outra tradução, “Deus nunca
irá deixá-la; ele nunca deixará que você seja empurrada além do seu limite; ele sempre
estará lá para ajudá-la a passar por isso”.
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Mas, Julia, há uma verdade maior que sustenta essa promessa. Deus não permitirá
que suas dificuldades a destruam SE você lidar com elas da maneira de Deus. Se
não, como os israelitas mencionados anteriormente em 1 Coríntios 13, esses
problemas podem derrubá-la — até ao ponto de você se afastar do Senhor. Mas se
você lidar com os problemas da maneira de Deus — da maneira que iremos liderá-la
durante o aconselhamento — você será capaz de lidar com eles de forma bem-
sucedida.
Por último, Julia, há uma quarta verdade que eu quero que você compreenda. Deus
sempre provê um caminho para que você escape do pecado e agrade a Ele em meio
a dificuldades e provações.
No verso 13, Deus promete — em meio a suas dificuldades — “uma saída”. Uma saída
do que? Das dificuldades? Não, não é isso que o verso diz. Deus promete uma saída
para que você consiga suportar as dificuldades. Uma saída do que, então? De uma
resposta pecaminosa. Observe o verso 14, “Portanto, meus amados, fugi da idolatria”.
Este “portanto” conecta os três versos. E a parte precedente do capítulo fala sobre a
história de Israel sucumbindo a suas tentações, resultando em desobediência,
apostasia e incredulidade (versos 1–12). Julia, podemos ajudá-la a lidar com os seus
problemas da maneira de Deus.
O que é?
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MENDES, Alexandre. O que é o coração? São Paulo, 2016. Disponível em: <https://abcb.org.br/o-
que-e-o-coracao/ >. Acesso em: 11 abr 2020.
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Por isso, o Evangelho deve ser exposto e aplicado aos pensamentos, sentimentos e
desejos do coração do seu aconselhado. A dinâmica de transformação no
aconselhamento não é meramente de ordem comportamental, mas uma mudança de
condição de coração. É o coração alcançado por Cristo que irá gerar pensamentos,
desejos e sentimentos transformados que, por sua vez, irão influenciar ações
comportamentais diferentes. Mudança genuína.
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V. ELEMENTO: INSTRUÇÃO
Aconselhamento expositivo5
Por Joshua Hayward
No mundo do aconselhamento
bíblico, a maioria de nós está
familiarizada com a pregação
expositiva e, provavelmente, seja
certo dizer que acreditamos que
esse é o melhor método de
pregação como dieta contínua
para a igreja. Por quê? Porque a
convicção básica daqueles que
estão comprometidos com a
pregação expositiva é que a
Palavra de Deus está investida de autoridade e é suficiente para salvar e santificar o
povo de Deus.
No entanto, para alguns conselheiros bíblicos, e eu me incluo nisso algumas vezes,
parece haver uma desconexão com essa convicção quando se trata de nosso método
de aconselhamento. Os pastores comprometidos com a pregação bíblica e os
membros da igreja que esperam que seu pastor “maneje bem palavra da verdade”
(2Tm 2.15) deixam, muitas vezes, de fazer o mesmo no contexto do aconselhamento.
Eis onde quero chegar: como conselheiros bíblicos, devemos ministrar a Palavra de
Deus ao aconselhado com o mesmo cuidado que esperamos de nosso pastor em sua
pregação. À luz dessa correlação, vamos considerar algumas maneiras pelas quais
podemos praticar melhor o aconselhamento expositivo.
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HAYWARD, Joshua. Aconselhamento expositivo. Tradução Pedro Vercelino. Atibaia, 2018.
Disponível em: <https://conselhobiblico.com/2018/11/02/aconselhamento-expositivo/>. Acesso em: 11
abr 2020.
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no coração de seus ouvintes. O tom dessa passagem é de forte exortação. Como nós
sabemos? Você adivinhou! O contexto nos diz. Os membros da igreja de Corinto
falharam em amar uns aos outros. Eles estavam divididos sobre quem seguir (3.4),
negligenciavam o pecado sexual na igreja (5.1-13), estavam levando uns aos outros
ao tribunal (6.1-8), faziam com que os membros mais fracos tropeçassem (8.1-13),
maltratavam uns aos outros na mesa do Senhor (11.17-22), e estavam divididos
acerca dos dons espirituais (12.1-31). Em resumo, eles estavam bagunçando tudo!
Em 1 Coríntios 12.31, então, Paulo diz: “Agora, porém, vou lhes mostrar um estilo de
vida que supera os demais” (NVT), e a partir de então ele se move em uma seção que
mostra com que o amor realmente se parece. Em outras palavras, ele está dizendo a
eles tudo aquilo que eles não são! “O amor é paciente…, mas vocês não são
pacientes, Coríntios. O amor é bondoso…, mas vocês são maldosos. O amor não
inveja nem se vangloria…, mas isso é exatamente o que vocês fazem! O amor não
insiste em seu próprio caminho…, mas vocês estão comprometidos com seu próprio
caminho”. Você entendeu. Esse é o tom do texto. Imagine o tipo de impacto que ele
teria em um marido ou esposa ou adolescente consumido pela própria agenda de vida.
Conclusão
Quando digo que o nosso aconselhamento deve ser expositivo, entenda que não
quero dizer que você deve usar todo o encontro – nem mesmo a maior parte de cada
encontro –para trabalhar ao longo de uma passagem das Escrituras, discutindo o
ponto principal, o contexto, a estrutura gramatical e assim por diante. Certamente não
quero dizer que o encontro deva ser um monólogo. O que quero dizer é que devemos
usar o mesmo método central de estudo e interpretação bíblica que esperamos que
nossos pastores usem em seus sermões. Devemos tomar cuidado para não tirar
versículos fora do contexto nem minimizar a força dos versículos, negligenciando
inteiramente o contexto. Devemos investir tempo significativo em grandes porções das
Escrituras, e não devemos deixar escapar o tom do texto.
Como conselheiros bíblicos, queremos continuar a nos esforçar para ser tão bíblicos
quanto pudermos! Queremos lidar e ministrar a Palavra de Deus com o mesmo
cuidado que esperamos ver em todo pregador que está atrás de um púlpito. Portanto,
vamos aconselhar expositivamente e ver a Palavra de Deus fazer a obra!
No início do encontro seguinte, ou logo após o início, costumo perguntar: “Você teve
a oportunidade de fazer a tarefa de casa? Podemos conversar sobre isso?”. Perguntar
brevemente sobre cada item completado, e sobre seu benefício para o aconselhado,
sublinha a importância da tarefa de casa, mesmo quando for preciso nos concentrar
seletivamente apenas em alguns itens específicos mais pertinentes ao encontro do
dia.
Conclusão
REFERÊNCIAS: