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(19/09, 1º aula)

O grande objetivo da Criminologia é o crime. Esta estuda o crime, o delinquente, a


vítima e o desvio.

Definição Jurídico-legal de Crime: Todo o comportamento que a lei criminal tipifica


com tal

Vantagens:

➔ Precisão e consistência face a conceitos alternativos que são vagos e difusos


➔ recolha a partir de estatísticas criminais oficiais.

Desvantagens:

➔ Não podemos utilizar apenas esta definição, é redutora;


➔ As leis alteram-se no tempo e no espaço e não é por isso que paramos de
estudar algo, antes considerado crime (descriminalização e criminalização);
➔ Se aceitarmos o que está na lei levianamente e de forma simplista não vamos
problematizar e criticar, criando uma visão muito pouco abrangente.

Definição sociológica de crime: Procurar a essência de todos os comportamentos


considerados para a sociedade crime, independentemente do tempo e do espaço e da
mudança da lei (Garófalo, 1986, e Durkheim, 1894)

Garófalo: Teoria do “Delito Natural” -> Defende como essência 2 coisas, probidade
(respeito pelas coisas dos outros) e piedade (respeito pela vida do outro. O crime
comum em todas as sociedades dispõe em causa os P e P.

Durkheim: Lesão de sentimentos coletivos, definidos na consciência coletiva;


característica comum a todos os crimes, atos universalmente reprovados pelos
membros de cada sociedade; os comportamentos tipificados como crimes originam
sempre uma sanção estatal.

Vantagem: universalidade; ambos procuram a essência.

Desvantagem: Desconcordância nos valores que procuramos seguir

Desvio: Comportamento que foge ao normal e é errado para cada um de nós, para a
sociedade. É tudo o que se afasta das normas sociais e que provoca uma reação
negativa a terceiros (Robert).
“O desvio como a beleza, está nos olhos de quem o vê”

Desvantagem: Relativiza de mais

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Definição normativa: A desviância é aquilo que se afasta da norma e que vai ter uma
desaprovação social de tal modo que pode haver uma sanção negativa.

Definição estatística: O desvio é algo que se afasta da média, ou seja, é algo que se
afasta do que é frequente numa sociedade em termos de números.
Ex. Aceder a sites para ver filmes é uma irregularidade e é considerado crime, no
entanto, a grande maioria das pessoas fazem isso. Por esta definição é algo correto.

(25/09, 2º aula)

Definição reativista ou reativa: A desviância é um comportamento que foi rotulado,


isto é, só existe desviância porque alguém rotulou aquele comportamento ou pessoa
como desviante.
Ex. A pessoa desviante não é aquela que copia num exame, mas sim a que é apanhada
e é rotulada com sucesso.

Complexificação

- Desvio enquanto comportamento assim etiquetado


- Importância da reação social e do contrato social
- Construção da identidade social

Diferenças Crime/Desvio

➔ O crime envolve sempre uma violação de uma lei, enquanto o desvio pode
apenas violar um conjunto de normas e tradições.
➔ Crime é uma violação de uma norma formal, quanto o desvio é a violação de
uma norma informal
➔ O desvio é muito mais alargante do que o crime. O crime é grealmente
comportamental, o desvio é de atitude.
➔ Nem todos os desvios podem ser considerados crimes, mas quase todos os
crimes são desvios.

Controlo social: É o que se faz para reduzir o número de crimes numa sociedade.
Pode ser informal, feito pelos nossos números de pares (pais, amigos, igreja, escola,..),
ou formal, exercido pelo controlo de justiça (polícia, tribunais, prisões,..)

(26/09, 3º aula)

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Métodos de medição dos níveis da criminalidade

O objetivo da criminologia é produzir conhecimento científico. É uma ciência


interdisciplinar: partilha conhecimento com outras áreas, mas também partilha
métodos.
Utiliza o método científico, a forma de produção de conhecimento é empírica.
Qualquer método pode ter falhas.

Desafios que criminologia encontra:

1º Há uma dificuldade em o investigador se separar do seu objeto de estudo pelo facto


deu crime ser muito falado na sociedade (ideologias, experiência quotidiana, política)
2º Quem comete crimes não o quer mostrar, portanto é muito difícil investigar este
fenómeno
3º Questões éticas, existem experiências que atualmente não são possíveis de replicar.

Etapas de investigação

1º Tema
2º Objeto: afunilar o tema
3º Método: recolher dados
4º Análise dos dados
5º Resultados e conclusões

Existem 2 tipos de métodos: métodos quantitativos (informação numérica e direta) e


métodos qualitativos (motivações, história de vida,...)

Métodos quantitativos

Estatísticas oficiais da criminalidade: tem como finalidade medir as infrações


cometidas num determinado espaço e num determinado período de tempo.

Vantagens e objetivos

➔ Volume da criminalidade: descrevem o número de infrações cometidas num


espaço e período de tempo
➔ Estrutura da criminalidade: medem as características da criminalidade,
caracterização do ofensor e da vitima
➔ Evolução no tempo: referem que houve uma diminuição, aumento ou
estabilidade do nível da criminalidade ao longo do tempo, no entanto, podem
não refletir a realidade do numero de crimes ocorridos.
➔ Variações no espaço: conseguimos comparar as estatísticas em diferentes
cidades ou países.

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(02/10, 4º aula)

Desvantagens

➔ Podem existir alterações na legislação, ou seja, os dados podem não


corresponder efetivamente à realidade.
Ex. Violência doméstica passou a ser um crime público, isto faz com que
naturalmente os números das estatísticas relativas à violência domestica
aumentados

➔ Podem haver alterações no registo das ocorrências nos diferentes


departamentos.

➔ Podem haver alterações na sensibilidade da opinião pública.


Ex. Abuso sexual em menores, ao longo do tempo a sensibilidade do público
aumentou e existe mais atenção a este crime

➔ Podem existir imperfeições na forma como se fazem as estatísticas, estas tal


como qualquer método, podem ser contruídas com algumas imperfeições

Todos estes fatores podem fazer com que quando nós olhemos para as infrações de
uma determinada estatística não corresponderam à realidade, por isso são apenas
indicadores.

Criminalidade aparente vs. Criminalidade legal vs. Criminalidade real

Criminalidade aparente: é aquela que é conhecida e reportada, registada pela polícia

Criminalidade real: é a criminalidade que existe efetivamente, toda a que é conhecida,


mas também aquela que não é conhecida

Criminalidade legal: aquela criminalidade que foi alvo de uma sanção, em que houve
uma condenação

O desfaçamento que existe entre a criminalidade real e aquela que é aparente


designa-se por cifras negras. As cifras negras existem devido a alguns fatores como:

- Só quem praticou o crime é que sabe, ou seja, nós nunca vamos ter conhecimento do
crime e automaticamente ele não vai aparecer nas estatísticas. Isto traz um problema
de incidência, número de crimes que são praticados, e um problema de prevalência,
número de pessoas que praticaram os crimes. Se há crimes que nunca vão chegar às
estâncias finais, isto vai fazer com que o número de crimes que eu tenho seja menor e
o número de pessoas que os praticaram também o seja.

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- Muitas vezes as vítimas não querem denunciar o crime (vergonha, medo de
represálias, não confiança no sistema de justiça, culpa de o crime ter ocorrido, não
pretendem que o ofensor seja condenado) ou não se apercebem de que são vítimas.
Podem também existir crimes sem vítimas específicas (tráfico de droga, contrabando,
crimes ambientais e corrupção).

- Queixas não registadas pelas autoridades.


Ex. Discussão entre vizinhos que fica resolvida apenas com a polícia ir lá

- Polícia é instância de seleção, isto é, é a polícia que recebe as queixas e podem


acabar por fazer alguma seleção: estereótipos relativamente a quem irá fazer a queixa;
prioridades no tipo de crime.

(03/10, 5º aula)

Efeito Funil

Ao longo das diferentes fases do processo o número de crimes vai decrescendo, há


uma redução muito significa, desde o momento do registo na polícia até aos indivíduos
irem parar à prisão.
É no inicio do processo que podemos ver realmente o número de crimes que foram
cometidos. Esta aproximação à criminalidade real designa-se por validade. Não é
olhando para o número das estatísticas prisionais que vemos efetivamente o número
real.
Ex. Se olharmos para os números prisionais de pessoas que entraram nas nossas
contas ilegalmente o número é 0, no entanto existiram muitas queixas (parte mais
larga do funil).
Quando um crime é reportado à polícia pode haver erros ou lapsos: forma de registos
em diferentes categorias existentes.
O conteúdo da criminalidade aparente vão ser os crimes mais visíveis e os que devido
às suas características tem maior reportabilidade (ex. quando as pessoas fazem um
seguro e tem que fazer queixa à polícia para poder reportar ao seguro)

Crimes cometidos
Crimes denunciados
Acusação
Julgamento
Condenações
Prisão

Medidas alternativas: medidas muitas vezes utilizadas em conjunto com as


estatísticas.

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Enquanto criminólogos devemos utilizar a triangulação, isto é, utilizar diferentes
métodos de forma a complementar.
Dentro dos diferentes métodos os mais utilizados são os inquéritos: inquéritos de
delinquência autorrevelada e inquéritos de vitimação.

Inquéritos de delinquência autorrevelada: consistem em perguntar a uma amostra da


população se já cometeu algum tipo de crime ou atos desviantes num determinado
período de tempo.

Objetivos:

1º Medição do volume e da estrutura da criminalidade, chegar ao número de crimes


que foram cometidos e às características da pessoa que cometeu este crime ou ato
desviante. Desta forma, conseguimos chegar a números que podem não ter sido
reportados à justiça criminal.

2º Podem contribuir para nós termos uma aproximação aos dados reais, ao perguntar
a alguém se cometeu o crime perguntamos também se foi reportado ou não às
autoridades.

3º Permite perceber a reação social, isto é, informal, isto é quem soube e como foram
as reações, ou formal, como foram reportar e como foi o contacto com as autoridades.

4º Permite saber quando começaram a carreira criminal: quando começou o crime, se


ser condenado serviu de algo ou não, ...

5º Permitem obter informação sobre a situação criminosa, ou seja, o contexto em que


o crime foi obtido.

Limitações e dificuldades:

1º Quando nós questionamos a população adulta, estes tem uma tendência, em


comparação aos jovens, de responder de forma socialmente desejável. Obtemos assim
respostas que não são válidas.

2º Problema de prevalência (quantas pessoas cometeram os crimes) e incidência


(quantos crimes é que cometeu), podem existir comportamentos que são tão
recorrentes para os jovens que é difícil de determinar quantas vezes ocorreu esse
crime ou desvio.

3º Localização no tempo, também designada como telescoping. Isto é, os indivíduos


situarem erradamente o comportamento no tempo.

4º Problemas de aplicação, isto significa que podem existir determinados fatores que
vão influenciar as respostas que as pessoas vão dar.
Ex. Se pedir a um jovem que responda ao inquérito com os pais ao lado, as respostas
vão estar condicionadas;

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5º Redação das questões, quando contruímos um questionário as questões devem ser
colocadas de forma a serem passivas de serem compreendidas para toda a população,
caso contrario, os indivíduos podem interpretar as questões à sua maneira.

6º Ambiguidade do vivido, significa que cada indivíduo tem experiências,


interpretando e dando significados a essas situações de forma individual.

Inquéritos de vitimação: São outros métodos alternativos às estatísticas oficiais,


nasceram com o objetivo de se aproximar aos dados da criminalidade real. Consistem
em perguntar a uma amostra da população se já foi vítima num determinado tempo.

Objetivos:

1º Volume e estrutura da criminalidade.

2º Razões pelas quais as vítimas não apresentaram queixas.

3º Reação social, ou seja, formal, como é que foi a relação com a polícia, que atenção a
vítima sentiu ligada ao caso, e a informal, os amigos, familiares apoiaram a vítima
nesse momento.

4º Sentimento de insegurança, como se sente quando sai à rua sozinha na sua área de
residência após escurecer.

5º Permitem caracterizar a vítima, por exemplo, qual é a idade média, género de


crime, profissão, rendimentos, ou seja, permite-nos obter uma visão mais larga do
perfil da vítima.

De acordo com os dados de criminologia, as vítimas em geral é um rapaz jovem que


vive num meio urbano com vida ativa.

Limitações e dificuldades:

1º Localização no tempo, telescoping.

2º Redação das questões.

3º Ambiguidade do vivido.

4º Aplicação

5º Crimes sem vítima, estes inquéritos não cobrem os crimes sem vítimas.

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(09/10, 6º aula)

Esquecimento: esqueceram-se de todo que foram vítimas do crime, telescoping: má


localização da ação no tempo.

Todos estes métodos têm fragilidades, mas também cada um destes é fundamental
para nós medirmos a criminalidade. Por isso é que, quando escolhemos um método,
convém adequarmos ao problema em questão, mas sobretudo complementar com o
máximo os métodos. (complementaridade)

Para além destes inquéritos, os investigadores também têm utilizado outros tipos de
inquéritos:
➔ Atitudes, (ex. punitividade)
➔ Opinião mais ligada à perceção.
➔ Outros comportamentos

Método experimental

É um dos métodos mais importantes na ciência e na criminologia.

Começou a ser utilizado na medicina. Na criminologia começou a ser utilizado por


Lombroso.

O método experimental serve para analisar a relação entre duas variáveis,


nomeadamente, a relação entre a variável dependente e a variável independente. O
que nós queremos analisar é se houve uma alteração na variável dependente que foi
causada por uma variável independente. A questão que nós então fazemos é: será que
esta alteração aconteceu devido ao tratamento ou à motivação que eu realizei, ou
existiram variáveis externas que influenciaram aquela alteração?
Subentende que se faça uma distribuição da minha amostra para os grupos, isto é,
aleatoriamente.
Se não existir um grupo de controlo, não podemos afirmar que efetivamente ocorreu
uma alteração devido à intervenção.
Pré teste: quando medimos antes da intervenção ocorrer, aplicamos o programa e vou
medir novamente, pós-teste. Isto é necessário para comparar realmente a alteração
que existiu, vamos ter uma comparação inter (compararmos o grupo de controlo com
o grupo experimental) e uma intra (no mesmo grupo como evoluiu antes e depois da
intervenção) .

Exemplo:

Amostra: 100 reclusos


2 grupos: grupo experimental e grupo de controlo

Grupo experimental: aquele ao qual vai ser aplicado o programa


Grupo de controlo: grupo de comparação, aquele grupo que não vai sofrer qualquer
intervenção e que vai servir para verificar o efeito da intervenção

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Divisão aleatória: 50 para cada grupo

(10/10, 7º aula)

Méritos:

➔ Geralmente é utilizado um ambiente laboratorial de forma a ser mais fácil


controlar fatores externos, ou variáveis parasitas;
➔ Se prepararmos muito bem o nosso protocolo experimental, sabemos
exatamente quanto tempo a experiência irá demorar;
➔ É o método mais rápido.
➔ Controlo de custos, exceto quando se recompensa os voluntários

Dificuldades:

➔ Artificialidade, estamos num ambiente laboratorial, não num ambiente real e


naturalista, e o indivíduo pode ficar condicionado;
➔ Torna-se difícil encontrar sujeitos que queiram participar nas experiências.
➔ Problemas éticos;
➔ Efeito dos investigados, dá-se quando aplicamos um questionário e voltamos a
aplicar podemos enviesar os resultados da experiência.

A validade externa diz respeito à generalização dos resultados, enquanto a validade


interna diz respeito à certeza com que eu posso assegurar que os resultados obtidos se
deveram à minha variável independente ou à minha intervenção. Quando temos
validade interna, não temos obrigatoriamente validade externa.

Com o método experimental temos mais validade interna porque conseguimos


controlar os fatores parasitas, mas é muito mais artificial. No outro extremo temos
métodos com dados mais qualitativos e menos artificiais, o que provoca um controlo
das variáveis muito menor.

Exemplo:

Quero estudar se a visualização de conteúdos violentos na televisão faz com que eu


tenha mais pensamentos criminais?

Hipótese: Indivíduos mais expostos a conteúdos violentos apresentam mais


pensamentos criminais

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Grupo experimental: 25 pessoas
n = 50 pessoas Aleatoriamente
Grupo de controlo: 25 pessoas

Pré teste: Inquérito

Experiência:
Grupo experimental: Colocar os indivíduos a ver uma série
Grupo de controlo: Colocar os indivíduos a ver conteúdos mais neutros

Pós teste: Inquérito

Métodos qualitativos

Observação

Método absolutamente naturalista, observação em ambientes naturais, consiste em ir


ao ambiente natural do indivíduo com o objetivo de o observar. Esta observação
distingue-se absolutamente da participante, aquela que vou estar com os indivíduos,
vivenciar os atos dos indivíduos tendo estes consciência que eu estou a fazer
observações.
Enquanto eu faço esta observação, seja participante ou não, preciso de um diário de
campo de forma a registar tudo o que observo. É necessário saber de antemão o que
se quer observar.
A vantagem de informar as pessoas é não correr riscos, mas se não informar não
condiciono os comportamentos.

Dificuldades:

➔ Em termos globais, fazer uma observação leva muito tempo, não podemos
apenas observar uma vez pois as conclusões não são válidas;
➔ Coloca questões éticas, isto é, se eu testemunhar um crime devo fazer queixa
ou manter-me apenas a observar;
➔ Subjetividade e objetividade, a ciência tem que ter objetiva, no entanto, ao
observar aquelas ações as nossas emoções podem acabar por influenciar os
resultados.
Quando fazemos a observação sendo participante, estamos a vivenciar as
ações, história e acontecimentos de um grupo específico. Até que ponto é que
conseguimos abstrairmos dos nossos preconceitos, emoções e manter a
neutralidade quando passamos tanto tempo com aquelas pessoas? Estamos a
observar alguém semelhante a mim, de um certo ponto estou a observar-me a
mim;

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Informação recolhida é muito complexa e variada, sendo por isso, difícil de
avaliar.
➔ Acesso ao terreno (ex. gangue)

Entrevistas

As entrevistas são um método qualitativo na criminologia. Nas entrevistas, não


estamos à procura de números, mas sim de histórias de vida, de significados que se
atribui às coisas, a maneira como nós vemos os acontecimentos ao longo da vida,
estamos face a um método que é proporcionador de profundidade.
A dificuldade que se coloca é o acesso ao terreno, muito ligado à dificuldade que
temos de encontrar indivíduos que se disponham a participar.

Quando fazemos entrevistas, temos que ter um guião, que pode demorar meses a ser
pensado de forma a colocar as dimensões ligadas à entrevista, ter cuidado em garantir
a confidencialidade e garantir uma relação, embora empática com a pessoa que
estamos a entrevistas, de objetividade para não condicionar as respostas.

Exemplos:

➔ Clínica
➔ Centrada Individuais
➔ Em profundidade
➔ Focus group

Análise documental

É a análise de documentos. É um método não intrusivo, porque não conectamos com


as pessoas, não impomos a nossa presença.

Com esta análise podemos reconstruir as histórias de vida dos indivíduos, estudamos o
processo judicial, diários, cartas, biografias.

Este método pode ser usado de forma independente ou como método complementar,
devido às fragilidades que cada método possui.

(16/10, 8º aula)

Escola Positivista Italiana (Lombroso, Ferri e Garofalo)

INFLUÊNCIAS PARA A TEORIA DE LOMBROSO

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• Positivismo (Comte): o conhecimento deve ser fundado na experiência e na
observação (ou seja, empiricamente) e não na teologia ou metafísica. Baseia-se
no método experimental e na indução (caso particular para lei geral) como
formas de produção de conhecimento. Através das leis gerais, conseguem
prever-se acontecimentos (causalmente determinados) de forma objetiva e
neutra. Deu um enorme impulso às ciências sociais;

• Psiquiatria (ou alienismo), (Pinel e Esquirol): com o surgimento do saber


médico passa a haver uma distinção entre loucura (delinquente louco, que não
consegue controlar) e delinquência (delinquente responsável, que consegue
controlar). Este saber também permite a perceção da existência da monomania
homicida (na altura do crime, o sujeito passava por um momento de loucura,
ou seja, ficava obcecado por algo que o motivava à delinquência, não agindo
conscientemente. Por isso mesmo, deixava de ser penalmente responsável);

• Fisionomia (Lavater): pseudociência que permite identificar, através da análise


do corpo, as características psicológicas da pessoa (as características interiores
do ser humano manifestam-se exteriormente). Põe a hipótese da existência de
um ‘corpo do mal’;

• Frenologia (Gall): pressupõe que diferentes partes do cérebro alojam diferentes


faculdades mentais do indivíduo (o cérebro e o crânio estão relacionados, isto
é, a forma do crânio é a impressão fiel da composição cerebral). Deste modo, a
alteração cerebral das funções psíquicas é detetável pela análise da morfologia
craniana;

• Teoria da degenerescência (Morel): o impacto que os meio físico (ambiente) e


moral (fatores sociológicos) têm sobre o corpo e mente modificam os
indivíduos saudáveis (induzem-lhes características patológicas), levando-os a
delinquir. A hereditariedade ou transmissibilidade do desvio proveniente da
degenerescência pode levar a humanidade à extinção;

• Evolucionismo (Darwin): o criminoso não concluiu a sua evolução biológica, ou


seja, ficou numa etapa de evolução inferior à do homem comum.

PONTOS COMUNS ENTRE LOMBROSO, FERRI E GAROFALO

✓ Procura das causas do crime e do que distingue os delinquentes dos não


delinquentes, de modo a tentar prever futuros crimes;
✓ Forte oposição à Escola Clássica do Direito Penal: enquanto os juristas eram a
favor do livre arbítrio (as penas baseavam-se no ato do crime e na culpa), os
positivistas eram deterministas e rejeitavam o livre arbítrio (as penas
baseavam-se na perigosidade do agente). A EPI defendia que o estudo dos
delinquentes não devia ser feito pelos juristas;

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✓ Rejeição do pensamento metafísico e de tudo o que não é ciência (o método
científico é a forma de produção de conhecimento mais fiável no estudo do
delinquente).

(17/10, 9º aula)

PRINCIPAIS AUTORES

Lombroso (foca-se em fatores biológicos)


- Atavismo (reaparecimento de uma certa característica primitiva) e degenerescência:
o delinquente é uma estagnação do processo evolutivo (sofre um retrocesso ao tempo
primitivo) e inferior ao homem comum;

- O criminoso nato nasce com as características do atavismo, passíveis de ser


observadas no físico (assimetria craniana, arcada supraciliar saliente, malformação nos
dentes, etc);

- A perceção das características físicas comuns aos delinquentes resultou na procura


de estigmas anatómicos (insensibilidade à dor, egoísmo, cólera, morbidez, etc.) que
permitiram criar uma conceção do criminoso;

- Importância da observação e da mensuração; Tipologia de delinquente (nato, louco


ou epilético e criminalóide);

- Constante reformulação da sua teoria (sem nunca abandonar o atavismo).

Pontos positivos:
✓ Rompe a conceção abstrata do homem, tornando-o passível de ser estudado;
Neutralização dos indivíduos perigosos;
✓ Aplicação dos métodos positivo e experimental no estudo do crime
(importância para a criminologia científica);
✓ Propõe uma teoria geral que explica qualquer tipo de crime.

Críticas:

. Tarde diz que Lombroso:


-Não abandona a sua hipótese inicial, mesmo depois de todos os estudos que
fez;
-Não considera fatores sociais nem a relatividade do crime;
-Não questiona o conceito de crime.

. Goring condena a metodologia usada, por ser frágil e não verdadeiramente científica
(apoia a sua crítica em estudos feitos em prisões, nos quais concluiu que não há
diferenças anatómicas entre delinquentes e não delinquentes: apenas se verificaram
diferenças a nível do tamanho, peso e QI);

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. Wolfgang recusa o atavismo (não se deve atribuir esse ressurgimento a criminosos); .
. Teorias do atavismo e do tipo criminoso foram formuladas a partir de uma única
observação.

Ferri (foca-se em fatores sociológicos)


- Nova etiologia do crime (abordagem multifatorial: para além de fatores físicos, o
crime surgia de fatores ambientais, sociais e antropológicos);

- Nova definição das funções do DP (necessidade de aplicar medidas preventivas como


substitutos da pena, de modo a eliminar parte da criminalidade);

- Nova tipologia de delinquente: nato, alienado, de hábito (a personalidade leva-o ao


crime), de paixão (a hipersensibilidade empurra-o para o crime) e de ocasião (comete
crimes devido a condições desfavoráveis).

Garofalo (inventor do termo ‘criminologia’; foca-se em fatores psicológicos e


morais)
- Delito natural (violação dos sentimentos básicos de probidade – respeito pelas coisas
dos outros – e piedade – respeito pela vida dos outros, o que vai contra os
sentimentos básicos da vida em sociedade e faz com que estas se desmoronem);

- Os criminosos perigosos devem ser eliminados, pois não são aptos (pena de morte);
Importância dos métodos indutivo e experimental (o DP não só deve ser especulativo,
como também auxiliado por um método científico, ou seja, guiado pela Criminologia);

- Saliência de orientações psicológicas, vincadas na noção de personalidade criminal: o


criminoso é moralmente atávico (não respeita os sentimentos básicos) e dotado de
perigosidade. O estado perigoso pode ter duas dimensões:
-Temibilidade ou capacidade criminal: perversidade constante e quantidade de
maldade que podemos esperar do criminoso;
-Falta de adaptabilidade (potencial de adaptação a um contexto social que dota
o criminoso de um controlo das pulsões criminosas).

Escola Clássica do Direito Penal (Beccaria e Bentham)


• Base no iluminismo e nos princípios da revolução francesa e consequente
denúncia do obscurantismo e do absolutismo (típicos do poder monárquico e
do antigo regime); Proteção das liberdades individuais e dos arguidos em
tribunal face ao abuso do poder;
• Não recorre ao método experimental para obter conhecimento, mas à razão e
dedução (leis gerais para chegar a casos particulares);
• Adoção do livre arbítrio (o delinquente deve ser responsável pelo crime porque
foi livre de o cometer);
• Princípio da utilidade, prazer e dor no cálculo da pena (todos os indivíduos
querem sentir prazer, portanto, a pena deve proporcionar uma dor maior do
que o prazer de praticar o crime);

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• A pena deve ser moderada (menos violenta), certa (sempre aplicada), célere
(rápida), proporcional ao crime e prevista na lei;
• Princípio da dissuasão, ou seja, deve-se convencer o indivíduo a não cometer
mais crimes através das prevenções geral e especial.

ESCOLA CLÁSSICA DE DIREITO PENAL ESCOLA POSITIVISTA ITALIANA


Liberdade e livre arbítrio Determinismo
Abstração jurídica (leis idênticas para Tipologia do delinquente (leis
todos) específicas)
Culpa (pena em função do ato) Perigosidade (pena em função do
indivíduo)
Responsabilidade individual Responsabilidade social
Aplicação da justiça Defesa da sociedade contra o
delinquente
As penas devem ter eficácia dissuasora As penas devem neutralizar e tratar

(23/10, 10º aula)

O Direito Penal passa, assim, a ter como objetivo não só a definição e dissuasão do
crime, mas também a alteração do comportamento delinquente através do
tratamento e da manipulação da personalidade (onde se encontravam as causas do
crime). Deve haver uma defesa social que contorne a ineficácia das penas dissuasoras
e, para tal, são propostas medidas de segurança, reeducativas e de reabilitação como
medidas preventivas do crime. Criaram-se, assim, penas indeterminadas (ou seja, vão
sendo determinadas ao longo da sua execução, conforme o tipo de delinquente e
tendo em conta a sua personalidade criminal, ou seja, o seu nível de perigosidade
durante esse tempo.

Emergência da personalidade criminal


Enquanto os estudos de Lombroso se desenvolvem, no século XIX, a psiquiatria
também se vai desenvolvendo. A psiquiatria e a Criminologia nascem exatamente na
mesma altura e com o mesmo objetivo. (Pierre Rivière, monomania homicida)
É a primeira vez que a justiça tem necessidade de chamar a psiquiatria, olhar
realmente para as características dos indivíduos.

A partir do estudo de Lombroso, a perigosidade e as características dos indivíduos


passam a assumir um papel importante na justiça (importância da personalidade
criminal).

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(24/10, 11º aula)

Personalidade Criminal

Teorias:

O objetivo da criminologia, essencialmente clínica, é prever comportamentos. Quando


falamos da prevenção destes estamos a estudar a probabilidade de eles virem a
comete crimes. Isto assenta em características psicológicas.

Pontos em comum: Existem características que podem distinguir delinquentes e não


delinquentes. São estas características que vão determinar o seu comportamento.
Estas teorias baseiam-se na psicologia. Existem diversos autores que abordam a
criminologia criminal.

A personalidade é um conjunto de características que distingue as pessoas umas das


outras. Esta tem alguma estabilidade, no entanto, cada vez se estuda mais a forma
como o meio a influencia.

Debuyst afirma que a personalidade assenta sobre um conjunto de traços que permite
prever o comportamento futuro de um sujeito.

Um traço, por sua vez, é uma característica que é durável e traduz-se numa disposição
para nós nos comportarmos de determinada forma.

Quando abordamos as teorias da personalidade, podemos olhar para esta de duas


perspetivas:

Diferencias -> Servem para distinguir a partir de um conjunto de características; Vão


olhar para as características especificas dos delinquentes em comparação às dos não
delinquentes, defendem que os delinquentes tem uma personalidade criminal, isto é,
estrutura especifica que os indivíduos apresentam determinante na passagem ao ato.
Procuram distinguir ofensores e não ofensores, a partir da sua personalidade,
defendendo que entre delinquentes e não delinquentes existe apenas uma diferença
de grau.
Diferenças com EPI: enfoque dos autores (Física vs. Psicológica); a diferença é que na
EPI, principalmente Lombroso, a diferença é qualitativa, natureza diferente, serem de
uma subespécie anterior. Esta perspetiva diz que a diferença reside apenas no grau,
temos a mais ou a menos características que os autores vão apresentado.

Fenomenológicas -> Estes autores não se limitam a estudar a estrutura da


personalidade dos indivíduos, é também necessário olhar para o fator tempo. Não é
possível entender o ato criminoso sem contextualizar o ato na história de vida do
indivíduo, sem ouvir a perspetiva que o ofensor teve sobre esse ato. Estas vão tentar

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aceder ao vivido do outro, aceder aos significados, ou seja, à forma como eles
interpretam o ato que cometeram.

Teoria do Nó central de J. Pinatel

Insere-se numa perspetiva diferencial. É possível ver diferenças entre delinquentes e


não delinquentes, mas estas diferenças são apenas de grau. Defende a existência de
uma personalidade criminal que estes indivíduos possuem, e que vão facilitar a
passagem ao ato.
A personalidade criminal é uma estrutura muito específica e é composta por um
conjunto de traços dinâmicos, isto é, que se ligam entre si. É uma interação entre os
diferentes traços que a compõem. É por este motivo que não existem indivíduos
exatamente iguais, é os traços que se ligam entre si que formam esta estrutura muito
especifica da personalidade, é esta que vai fazer com que haja uma passagem ao ato
num determinado momento. Esta estrutura é conhecida como o nó central.

Traços da personalidade responsáveis pela passagem ao ato: egocentrismo, labilidade,


agressividade e a indiferença afetiva.
Existem variáveis, isto é, características que vão determinar a modalidade do ato que
vão cometer: fatores de temperamento, aptidões físicas, aptidões intelectuais e
profissionais, necessidades (sexuais, nutritivas);

Todos nós temos um pouco, mais ao menos, destas características. A diferença está no
grau destas características que são mais assentadas no ofensor.

Egocentrismo: Caracteriza-se por uma leitura do mundo em que o único ponto de vista
válido é o meu, tendência para impormos o nosso ponto de vista sobre os outros,
tendência que considera que o nosso ponto de vista é que é legítimo, é uma
incapacidade de julgar as situações de um ponto de vista que não é o nosso. Se alguém
que adota esta postura é contrariada reage com frustração, que pode levar à
agressividade. Este traço está em todos os delinquentes, mas também existe em todos
os outros indivíduos. No conjunto dos 4 traços é considerado o que menor peso tem
na passagem ao ato. Este traço está ligado à indiferença afetiva.

Labilidade: Significa instabilidade. Diz-nos o autor que os delinquentes são indivíduos


instáveis em termos de carácter, são indivíduos despreocupados, desorganizados,
indivíduos que vão responder rapidamente às situações imediatas, o que faz com que
o sei comportamento seja inibido perante as sanções. Se a sanção é algo que está
longínquo, não tem importância, estes indivíduos respondem de forma imediata aos
problemas, são inibidos pelo imediatismo e pelo presentismo.

Agressividade: Tendência para reagir de forma agressiva às situações. É a energia que


permite que obstáculos físicos e psicológicos sejam ultrapassados quando os
indivíduos pretendem passar ao ato. Isto faz com que se mantenham indiferentes
relativamente ao repulsivo e odioso do ato.

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Indiferença afetiva: É a incapacidade de nós nutrirmos sentimentos de afeto, respeito,
carinho, empatia pelos outros e é marcada por uma grande insensibilidade. Raramente
sentem culpa ou compaixão pelos atos que cometeram, e no momento em que
passam ao ato não pensam no sofrimento que fizeram à vítima nem às pessoas que
fazem parte da vida da vítima. O seu ato está legitimado, devido aos níveis de
egocentrismo, o seu ponto de vista é o que conta.

Resumidamente, é uma combinação interativa e dinâmica entre os 4 traços e é


importante notar que não há uma única que isoladamente vá determinar a passagem
para o ato. É necessário que as 4 estejam presentes e num nível elevado.

Pontos favoráveis:

Esta perspetiva apenas atua sobre os delinquentes crónicos, aqueles que cometem a
maioria dos crimes. Explica o facto de os indivíduos reincidirem (conjunto de
características)

Pontos desfavoráveis:

Não explicação determinados aspetos: como explicamos que haja indivíduos que
apenas cometem 1 ou 2 crimes na sua vida, se a personalidade é tão vincada não devia
ter uma continuidade ao longo da vida? A maior parte do crime é cometida entre os 17
e os 25 anos, a nossa personalidade é diferente comparada à nossa personalidade
antes e depois, como varia assim tanto? A maior parte dos crimes são cometidos por
homens, as mulheres têm uma estrutura da personalidade diferente dos homens?

Estudos sobre delinquentes crónicos:

O primeiro aspeto que está mais acentuado nos delinquentes é a dificuldade no


raciocínio abstrato e em antecipar as consequências do ato que cometeram ou vão
cometer, são mais focados na recompensa e menos focados nas consequências a
longo prazo. Indivíduos que apresentam dificuldade em aprender com os erros que
vão cometendo, são menos inibidos pela sanção. Vivem de acordo com o presentismo,
tem necessidade de antecipar tudo. É mais acentuado um desfasamento, entre o
pensamento e a ação, no que dizem que podem fazer e no que efetivamente fazem,
normalmente referem que vão comportar-se de determinada forma, mas acontece
que depois não cumprem o que dizem. Tem uma maior dificuldade e incapacidade em
adotar o ponto de vista do outro, e por esse motivo sentem-se mais injustiçados, o que
faz com que sejam mais hostis em relação aos outros, por isso, é que tem problemas
interpessoais graves, há sempre um sentimento de confronto em relação aos outros.

19
(30/10, 12º aula)

Abordagens fenomenológicas

Características gerais

Procuramos perceber o sentido ou significado que o individuo vai atribuir às suas


ações. No caso concreto do delinquente vamos tentar compreender o significado, a
visão ou o sentido que aquele ato teve no percurso do individuo. Perceber de que
modo é que este ato delinquente se vai inscrever, fazer parte da história de vida ou do
vivido deste sujeito.

Ao contrário de abordagens mais fatoriais e diferenciais não se vão focar somente em


fatores, vão ter uma visão muito mais complexa e vão tentar perceber os processos ao
longo do tempo. O tempo é um elemento fundamental destas abordagens. Vamos
tentar aceder ao vivido do outro, defendendo sempre que este individuo que estamos
a analisar tem o seu próprio quadro de valores, a sua história e a sua visão do mundo.
Queremos tentar perceber como é que os atos vão ser concebidos e analisados a partir
desta sua visão do mundo e da forma como este individuo se vai relacionar co os
outros e com o mundo. Este individuo tem o seu quadro de referências e o seu sentido
de ética.

Ao contrário de outras perspetivas, o outro não é alguém passivo ou determinado, é


alguém que tendo o seu quadro de valores, consciência e inteligência vai ter uma
posição ativa no mundo. Estas perspetivas vão opor-se totalmente às teorias da escola
positivista italiana. O crime para estas abordagens, em termos gerais, não é resultados
de um conjunto de fatores sociais, biológicos ou psicológicos, mas sim é um
acontecimento na história de vida do sujeito, é um acontecimento ao qual é dado
sentido pelo sujeito.

E. De Greef

Dentro de vários autores, este é o mais influente (Pinatel é discípulo de Greef).


Era médico e antropólogo, deu aulas na universidade de Louvain. Começou a sua
carreira num centro de menores que tinham problemas mentais.

Foi sendo professor que começou a escrever as suas obras, é um autor muito influente
na criminologia. Foi desde sempre opositor às teorias positivistas, fundamentalmente
porque as teorias positivistas reduziam o criminoso a um objeto, alguém que era
fortemente determinado. O autor vai tentar perceber o delinquente a partir do
próprio ponto de vista do delinquente, como este se vê a si próprio, vai tentar aceder à
sua visão do mundo. E como é que o posicionamento sobre si próprio e a sua visão do
mundo podem ajudar a passar para o ato criminoso. O homem delinquente não é
qualitativamente diferente dos outros (Pinatel dizia o mesmo, mas afirmava que

20
existia uma diferença de grau). O homem delinquente pode ter algumas diferenças,
mas é a nível de grau e de intensidade. Isto não era suficiente e por esse motivo tenta
compreender e tomar o lugar do outro em vez de meramente descrever as suas
características. É necessário analisar os atos ao longo do tempo, sairmos da ordem dos
fatores e entrar na ordem dos processos, olhar para o seu vivido.

Quando analisamos esta teoria há duas questões que temos de colocar e que vão
orientar esta abordagem: Como é que acedo ao vivido do outro? Como é que eu
conheço o outro sem o reduzir a um objeto?

Para o autor, em vez de tentarmos procurar um delinquente em cada homem,


devíamos procurar um homem por detrás de cada delinquente. Esta expressão vai
servir para manifestar a oposição clara ao que se defendia na época.

É fundamentalmente não apenas na sua via académica, mas sim no trabalho clínico
que vai conseguir responder a estas questões.

Prática clínica

Condições para o encontro com o outro:

1º Temos que perceber que existe uma identidade fundamental entre o clínico e
aquele que praticou o crime, ou seja, tanto o clínico como o outro são exatamente da
mesma natureza, são humanos, independentemente da profissão ou do papel que lhes
foi atribuído. Partilham o mesmo drama humano.

2º O outro é sempre diferente de mim, cada um de nós face aos acontecimentos reage
e sente de forma diferente. A diferença não reside em eu não ter praticado o crime e o
outro sim, mas sim porque temos uma história de vida diferente, um conjunto de
experiências que são distintas. É esta história de vida que faz com que a situações
iguais as reações e os sentimentos sejam distintos, só que, apesar de nós termos a
noção de sermos diferentes, enquanto clínicos só podemos aceder ao outro sem o
reduzir a objeto se suspendermos todos os nossos preconceitos e esquecemos da
nossa própria visão sobre quem está à minha frente, os juízos que existem sobre
aquele tipo de situações. Enquanto clínico tem que suspender o seu quadro de valores,
preconceitos se quer realmente aceder ao outro.

Enquanto clínicos, desta forma, conseguimos reduzir a zona de incomunicabilidade


entre os homens. Todos os preconceitos, juízos prévios, quadros de valores que
poderia ter, têm que ser suspensos, caso contrário seriam obstáculos para aceder
claramente à visão do outro. Temos que procurar o sentido, quadro de referências,
ética, noção de justiça, a sua visão do mundo e a forma como se relaciona com os
outros e a maneira como isso pode influenciar a sua forma de agir.

Para entendemos o crime, depois de acedermos ao ponto de vista do outro, temos


que perceber a natureza humana e a construção de identidade. A identidade que cada

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um de nós temos caracteriza-se por: O ser humano é ambivalente porque a nossa
identidade é constituída por dois instintos que são opostos um ao outro, o instinto de
simpatia e o instinto de defesa.
O instinto de simpatia vai desenvolver-se a partir do amor parental, quando os
indivíduos ainda são crianças, e é um instinto que está na base da subordinação e
dedicação ao outro. Nós dedicamo-nos a alguém porque gostamos dessa pessoa,
aceitamos o outro porque gostamos dessa pessoa. Quando a criança começa a crescer,
este instinto faz com que consolidemos o respeito que temos pelos outros. Este
instinto faz parte da personalidade dos indivíduos, é algo que nos faz em termos
abstratos aceitar e respeitar o outro.
O instinto de defesa é oposto ao instinto de simpatia. Este está ligado à conservação
de nós próprios e está relacionado com o sentimento de justiça e injustiça. É o instinto
que nos permite reagir à injustiça e muitas vezes culpar os outros de alguma injustiça.
Esta reação é muitas vezes agressiva, subentende que o outro seja totalmente
reduzido a um objeto de responsabilização. Esta angústia só é ultrapassada quando
nós atribuímos a culpa os outros.

(31/10, 13º aula)

“O conjunto de instintos de defesa que contribuem para a conservação de eu, que


funcionam sob o signo de sentimento de justiça e da responsabilidade de outrem, está
na base da agressividade e tem como resultado uma redução progressiva do homem a
uma entidade abstrata, que obedece a leis morais concebidas como mecânicas”

Quando nós reduzimos o outro ao objeto de angústia e injustiça que previamente


sentimos, estamos a reduzir a alguém que responde de forma mecânica, alguém que é
um ser quase passivo. Esquecemo-nos de tudo que a pessoa é além do objeto de
responsabilização.

A nossa identidade vai ser construída através destes 2 instintos ambivalente. Todos
nós temos um instinto mais exacerbado em relação ao outro, dependendo das
situações concretas. A nossa identidade vai se contruindo ao longo do tempo com
estes 2 instintos. As pessoas que cometem atos delinquentes têm o instinto de defesa
superior ao de simpatia. Os delinquentes interpretam quase todas as situações como
atos de injustiça, é como se o mundo estivesse contra eles, reagindo agressivamente a
tudo. A consciência destes vai ser formada por esta estrutura, mas também há
inteligência em todos os seres humanos, isto é, não somos seres passivos e tendo
estes instintos reagimos de acordo com estes instintos, mas sim temos instintos
moderados – tomada de consciência.

A maior parte dos crimes que ocorrem acontecem devido a este sentimento de
injustiça sofrido, ou seja, o crime na maior parte das vezes é um atentado à sua
integridade. Estes indivíduos repõem a justiça face ao que eles consideram ser um
atentado à sua integridade.

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A forma como vai reagir vai depender da estrutura de personalidade (forma-se com a
integração dos instintos), relevância da situação e fundamentalmente da interpretação
que o individuo faz da situação (é um ser consciente). Nesta interpretação aos seus
próprios olhos é legítimo reagir de forma agressiva.

Temos que ter em conta que para o homem que está à nossa frente há a existência de
um código de ética e de valores que adquiriu e foi reconfigurando ao longo da sua
existência, quadro de valores. Todos nós temos um quadro de referências e se nós
temos o direito a ter um, o delinquente também tem. É a este quadro que temos que
tentar aceder. Todos nós temos o nosso sentido de justiça e moral, não sabemos tudo
que é crime ou deixa de ser, o que para nós é ético ou não, não depende das leis, mas
sim de um código moral.

Para entender o crime que foi cometido temos de olhar para este como um ponto no
processo de vida deste indivíduo. Não queremos encontrar causas diretas ou indiretas,
fatores, mas sim para o processo (a variável de tempo é crucial).

Ex. Delinquente perdeu o pai na sua infância:


Se nós dissermos geralmente os delinquentes cometem crimes porque a família é
destruturada. Isto é apenas um fator, não estamos a analisar a história de vida.
A morte do pai fez com que passasse a ver o mundo de forma distinta, o seu quadro de
valores, ética, justiça podem se ter alterado. O instinto de simpatia pode ser menor,
mas a tomada de consciência dele é fundamental.

Greeff tenta reconstruir os processos que levam ao comportamento antissocial, ou


seja, os seus estudos vão procurar perceber como um indivíduo normal pode chegar a
suprimir uma pessoa que ele vê como um obstáculo, ou seja, quase como se fosse um
crime de liberação.

O autor vai para uma prisão na Bélgica e vai estudar homicidas, homens que mataram
as suas mulheres.

Perceber que este ato vai desenrolar-se no tempo, não é decidido num dia, é um
processo que demora até chegar ao momento do ato. É dividido em estágios:

1- Assentimento ineficaz, primeira fase em que o indivíduo começa a considerar o


desaparecimento da sua mulher. Nesta fase não consideram a hipótese de
serem responsáveis pelo desaparecimento da mulher.
2- Assentimento formulado, segunda fase, o marido coloca-se a questão: e se
fosse eu a faze-la desaparecer? O sujeito começa a aperceber-se que pode ser
ele o responsável pelo desaparecimento ou morte da mulher, porque esta é a
solução que ele encontra como necessária. Impõem-se a possibilidade se ser
ele a suprimir a mulher. Nesta fase os indivíduos sofrem com a situação,
dormem mal, alimentam-se mal, a forma de ver o mundo altera-se, vivem num
grande estado de tensão constante.

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3- Crise e passagem ao ato, nesta fase qualquer ato devido a este constante
estado de tenção, qualquer ato menor pode desencadear a passagem ao ato. O
campo de consciência vai se estreitando. Há uma série de subprocessos:
-> Processo suicida, afasta-se da realidade e perda de contactos com o
exterior, vive para esta ideia de anulação da injustiça que sente.
-> Processo de reivindicação, para além do sofrimento e degradação física e
psicológica, fixação com a ideia, ele considera que matar a sua mulher é
reivindicar a justiça, vai projetar toda a culpa que sentia para a vítima, daí
sentir-se legitimado a matar a sua mulher. A vitima aos seus olhos é ele e não a
sua mulher, no fundo está a punir o outro por ser responsável pelo seu mal-
estar, a mulher é reduzida às suas piores características.

(08/11, 13º aula)

Perspetivas sociológicas
✓ Existem teorias que pretendem explicar a importância dos fatores sociais e
outras que acham que as bases dos comportamentos estão na desorganização
e falta de integração.
✓ Existem diferentes grupos sociais com diferentes objetivos, normas e
possibilidades.
✓ Influência das interações sociais negativas.
✓ Tensões e pressões que conduzem ao comportamento criminoso.
✓ Teorias que têm importância em programas aplicados à criminologia.
✓ Melhoria do controlo social informal

Escola Cartográfica

Uma cartografia do crime é distribui-lo num país, por exemplo.


Séc. XIX: o crime começa a ser um problema. Aumenta, segundo os governantes,
devido às classes mais pobres. Para melhor governar temos que melhor conhecer
(ideia base do séc. XIX). O objetivo é reorganizar social e politicamente a ação do
governo, há que gerir a população e os problemas sociais (crime).
Gerir = prever e prevenir
Só se pode conhecer a população a partir do método científico, das estatísticas.

Guérry

Diz que ao olharmos para os níveis de criminalidade, conseguimos ter acesso à moral
destes indivíduos, da nação.
O autor desdobre que é nas regiões mais ricas onde há uma maior taxa de
criminalidade, e não nas mais pobres, como se achava. Tem a ver com um acréscimo
de oportunidade. Se há mais prosperidade, há mais oportunidade.

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Ligação negativa ente a instrução e a criminalidade. A falta de instrução não está
necessariamente ligada à criminalidade, até porque mais importante do que a
instrução escolar é a instrução moral.
Regularidade do crime em relação ao tempo e à zona, mantinham-se constantes e nas
mesmas zonas. Isto leva a pensar que o crime é normal e não patológico.

Quételet

Vai utilizar as estatísticas criminais, distribui-las pelas regiões e relacionar os


indicadores criminais com outros fatores. (Na Bélgica)
Tendência para o crime: Probabilidade de os indivíduos no geral cometerem
delinquência num determinado país.
A partir das estatísticas é possível observar a tendência para o crime→ tal como
conseguimos medir a coragem através dos atos corajosa, também medimos os crimes
pelos atos criminosos.
O pendor para o crime é distribuído na curva de Gauss. A maior parte dos indivíduos
comete um número mínimo de crime. Depois há os que têm uma maior probabilidade
e aqueles em que é nula.
Vontade/liberdade individual: a minha vontade enquanto ser individual vai ser
neutralizada. O livre arbítrio deixa de ser uma causa do crime. Isto porque é necessário
olhar para a espécie humana em massa, olhar para a vontade coletiva.

Qual a causa do crime senão a vontade individual? A sociedade.

Causas do crime:

✓ Idade → A partir do final da adolescência até aos 25 anos é o pico da


criminalidade. É nesta altura que as paixões estão mais fortes
✓ Género → Os homens cometem muito mais crimes que a mulher.
✓ Relação entre crime e pobreza → O autor encontrou o mesmo resultado que
Guérry, é nas zonas mais ricas que se cometem mais crimes. Isto ocorre devido
à consciência das desigualdades. Quem comete os crimes nas zonas mais ricas,
fá-lo porque tem consciência que uns têm muito mais que outros.
✓ Clima (leis térmicas da delinquência) → durante o inverno os crimes mais
comuns são contra a propriedade e nos meses mais quentes há mais crimes
contra as pessoas.
✓ Regularidade do crime → É regular nas regiões e ao longo dos anos. A
regularidade do crime não ocorre constantemente.

(09/11, 13º aula)

Qual a importância da escola cartográfica para a evolução da criminologia?

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➔ Um dos aspetos cruciais é que é o método cientifico que os doutores operaram
para obter uma dimensão prática;
➔ Importância das estatísticas para o conhecimento das causas do crime e
previsão e controlo da população. Os governos na altura precisavam de
conhecer a população e fizeram isto com o objetivo de gerir melhor;
➔ Ideia de quebrar do que o senso comum defendia e que mesmo os próprios
governos quebravam na época, o crime dava-se principalmente nas zonas mais
pobre. Se agirmos de acordo com estereótipos vamos acabar por intervir para
as zonas com mais pobreza quando na verdade temos que gerir esforços para
as zonas mais ricas, uma vez que é lá que ocorrem a maior parte dos crimes;
➔ Regularidade do crime, o crime tem causas que estão na sociedade e se
queremos reduzir temos que perceber o que está mal e o que existe que possa
reduzir a criminalidade.

Críticas:

➔ Ao colocarem as causas do crime absolutamente na sociedade não estarem os


autores a descuidar os fatores individuais, como o conjunto de vontades e a
liberdade individual <- crítica redundante, uma vez que é a linha que os autores
seguem
➔ As estatísticas nem sempre refletem a realidade, existem cifras negras e os
autores tomaram quase coo absoluta a ideia de pudermos usar as estatísticas e
que estas refletem a criminalidade.
➔ Os autores defendem a regularidade do crime, contudo se pegarmos em séries
temporais mais alargadas nem sempre vamos conseguir ter esta regularidade,
uma vez que a regulação do crime é sensível a mudanças sociais.

Os autores fundamentaram questões que ainda hoje são defendidas na criminologia –


relação entre idade e crime, relação entre género e crime, desigualdades percebidas
serem motor do desenvolvimento da atividade criminal, uso das estatísticas para
encontrar as causas do crime;

Gabriel Tarde

Defende que as pessoas matam ou não matam, entre outros crimes, por imitação. O
crime ocorre por imitação. Este autor foi fundamental para outros autores da
criminologia como Alberto Bandura (aprendizagem social, o comportamento humano
ocorre por imitação).
Vem de uma época pós-industrialização, uma época que fez com que os laços e as
normas tradicionais fossem quebrados. Esta quebra aumentou nas grandes cidades a

26
criminalidade. Quando há um conjunto de crimes que se dão da mesma forma, estes
crimes ocorrem por imitação, e normalmente esta imitação vem de cima para baixo,
por exemplo pai para filho ou irmão mais velho para irmão mais novo. Há maior
probabilidade de imitação de comportamentos quando existe uma relação de
proximidade entre as pessoas, interação direta com os indivíduos. Há grupos sociais
que podem ser criminógenos. É no âmbito destes grupos que a criminalidade vai
acontecer.

A imitação pode ser feita de duas formas:

1- Imitação-moda: determinado modelo de comportamento se propaga através


de um caso exemplar.
Ex. Baleia azul; Piérre; Tiroteios nas escolas dos EUA; Ataques terroristas.

2- Imitação-costume: há transmissão de técnicas e procedimentos no seio do


mesmo grupo, nomeadamente entre antepassados ou pessoas mais velhas
para os mais jovens. Aprendizagem de geração em geração.
Ex. Máfia;

Durkheim

Era sociólogo, mas tem trabalhos ligados ao desvio e ao crime. Defende que o crime é
normal. Desenvolve os seus estudos depois da revolução francesa e revolução
industrial.

A revolução francesa trousse 3 princípios: igualdade, liberdade e fraternidade.

Há um afastamento claro dos valores religiosos até esta época existem valores muito
tradicionais, valores familiares elevados, havia muita uniformidade de valores, não
havia individualismo. Com a revolução francesa há muitos valores que vão ressurgir.
Ao mesmo tempo, dá-se a revolução industrial, passa a haver uma maior mobilidade,
maior facilidade de circulação de bens e os empregos das pessoas vão se diversificar.
Há um clima que passa a ser instável até a sociedade se poder organizar novamente.

Durkheim desenvolve todos os estudos nesta época de transformações sociais. É


também nesta altura que se desenvolve o positivismo, quase como uma reação a
todas estas transformações sociais. O conhecimento cientifico da sociologia pode
contribuir para uma sociedade mais racional e organizada e que já não possui os tais
valores tradicionais que existiam. O papel da sociologia através do positivismo é ter a
capacidade de análise, reflexão sobre as mudanças sociais largas que se estavam a
observar e contribuir para a regeneração social.

É um dos autores chave da criminologia.

O autor vai analisar os processos sociais e perceber como é que estes podem potenciar
o desvio.

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O que é a sociedade?

A sociedade é mais que a soma dos indivíduos que a compõem. É um conjunto mais ao
menos estável e coerente que se tende a reproduzir e onde cada elemento tem uma
função a cumprir. Se os indivíduos começam a falhar nesta função, a sociedade pode
colapsar. O crime pode explicar-se pelo bom ou mau funcionamento da sociedade.

Tipos de sociedade:

Todas as sociedades são fictícias, mas servem para mostrar o antes e o depois das
revoluções, há sociedades aproximadas, mas não iguais.

➔ Sociedade de solidariedade mecânica: A solidariedade entre os indivíduos era


feita de forma mecânica. São sociedades tradicionais, pré-revoluções. Os
elementos que compunham esta sociedade eram relativamente semelhantes
entre si e havia uma uniformidade nos valores que estes seguiam. A
propriedade era comunitária, havia o sentimento de que tudo era de todos,
havia uma enorme partilha de bens entre estes grupos sociais, o que provocava
um baixo nível de individualidade. Os modos de vida eram coerentes, as
pessoas viviam mais ao menos da mesma forma. Ao existir toda esta
uniformidade e coerência, existia também uma consciência coletiva, totalidade
de crenças e sentimentos comuns aos cidadãos da mesma sociedade. O que
define o que é crime é o que vai chocar a consciência coletiva. Quando alguém
choca esta consciência coletiva vai haver pressão e sanções penais, não para
punir, mas sim para reforçar os valores da sociedade. Quando esta consciência
é atacada vai levar a uma reação violenta e repressiva por parte da sociedade
(lei repressiva). Apesar desta uniformidade há sempre alguém que viola as
normas estabelecidas, provocando uma reação repressiva -> a lei tem uma
função puramente repressiva, para que a consciência coletiva melhore.

(13/11, 14º aula)

➔ Sociedade de solidariedade orgânica: São sociedades contemporâneas. Com a


revolução industrial passamos a ter uma maior diversidade de trabalho. Cada
indivíduo vai ter uma função específica, passou a existir diferenciação de
funções o que leva a uma maior dependência entre os diferentes segmentos
sociais. Apesar de existir mais individualismo, a verdade é que existe também
interdependência. Nesta nova sociedade, os valores tradicionais, a religião são
quebrados, há um nome conjunto de valores que surge e que faz com que a
uniformidade dos membros e modos de vida se multiplique. Cada indivíduo
ganha a consciência de que pode seguir um caminho distinto dos outros,
declínio da consciência coletiva. Efetivamente, já não existe reposição ou
reforço da consciência coletiva, não é necessária uma sanção criminal, a reação
passa a ser muito menos severa e repressiva. A reação toma uma nova
configuração, a lei vai servir fundamentalmente para reparar as diferentes

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interações, voltar ao normal (lei reparadora). -> a lei visa regular as interações,
uma lei mais civil e reparadora.

Ter diferentes tipos de sociedade leva a que a caracterização dos crimes que ocorrem
seja diferente. No entanto, nas duas sociedades o crime é normal. O crime tem uma
função distinta consoante as duas sociedades.
Na sociedade mecânica tem que existir sempre o mínimo de diversidade, caso
contrário tínhamos uma sociedade autoritária sem margem de liberdade. O crime terá
como função manter a solidariedade entre os membros e reforçar a consciência
coletiva.
Nas sociedades orgânicas o crime vai ter uma nova configuração: ser um passo para o
desenvolvimento da sociedade, ou seja, o crime tem uma função de inovação e
adaptação.
Ex. crimes políticos, rem regimes autoritários há situações em que há rebeliões e que
muitas vezes se podem cometer desvios, delitos ou crimes, isto faz com que muitas
vezes se comece a questionar o regime o que pode levar a uma mudança. Isto ocorre
numa sociedade em que existe diversidade de valores.

“O crime é normal”

Podem existir situações em que o crime é patológico, quando a sociedade está


anómica (algo transitório).

Anomia: Uma sociedade entra em anomia quando deixa de ter normas ou quando
deixa de ter regulação necessária para os indivíduos que a constituem. Quando temos
a passagem de uma sociedade para a outra, o que acontece é que esta transição social
rápida faz com que as leis que regulavam as ações deixem de fazer sentido e de ser
adequadas para a nova sociedade. É preciso notar que para o autor a sociedade na
batalha individuo/sociedade, é a sociedade que está sempre à frente, uma vez que, é a
sociedade que impõem a forma como nós temos de agir (ex. moeda estabelecida à
nascença; escola obrigatória). O autor defende a perspetiva de que todos nós temos
desejos constantes e infinitos, sede do infinito, aspirações que esperamos que sejam
realizadas. A sociedade vai nos controlar com as suas normas, A sede do infinito se não
é travada faz com que o individuo deixe de saber o que é bom, mau, justo ou injusto.

Ex. crises económicas profundas e prosperidade


“anomia significa uma situação generalizada de desregramento. Uma sociedade
anómica é uma sociedade carecida de ordem normativa e incapaz, por isso, de
controlar a força centrifugadora dos instintos, das ambições e dos interesses
individuais”

Durkein estuda isto com o suicídio (como uma perspetiva sociológica), tomando este
com um facto social. Não vai pensar em motivações individuais ou psicológicas, não
olha individuo a individuo, vai estudar massas, olhar para as taxas de suicídio e
correlaciona-las com indicadores: religião, estado civil, ocupação. Diz-nos que quando
olhamos para este temos que o ver através de duas forças ou vetores:

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-> Integração social, se o indivíduo está ou não integrado numa sociedade. Um
indivíduo pode suicidar-se não somente porque não se sente integrado, mas também
porque se sente integrado em excesso.
-> Regulação em termos de normas, tipo de suicídio que vai espalhar o suicídio
anónimo.

(14/11, 15º aula)

O autor encontra 4 tipos de suicídio:

➔ Suicídio egoísta: ocorre quando há falta de integração social dos indivíduos.


Existem mais taxas de suicídio em indivíduos protestantes em comparação a
indivíduos que são católicos e judeus, em indivíduos celibatários em
comparação a indivíduos casados com filhos, em tempos de paz relativamente
a tempos de guerra (estão integrados na sociedade social e politicamente) ou
de revolução. Há um maior individualismo. Vetor de integração

➔ Suicídio altruísta: ocorre quando há um excesso de integração, o indivíduo


encontra-se tão integrado que sofre uma pressão social para desviar. Ex.
ataques terroristas; seitas; Vetor de integração

➔ Suicídio fatalista: ocorre numa situação em que há excesso de normas o que faz
com que os indivíduos percam a esperança de encontrar uma vida melhor do
que a do momento. As condições sociais não lhes dão perspetivas futuras, não
lhes dão vontade de continuar a viver. Ex. escravatura; Vetor de regulação de
normas

➔ Suicídio anómico: A sociedade apresenta falta de normas. Este tipo de suicídio


ocorre principalmente em crises económicas, mas também pode ocorrer em
fases de riqueza repentina de uma sociedade. É típico em profissões do mundo
do comércio e da indústria. Instabilidade produz anomia iam vez que as
normas sociais perdem o seu poder coercivo e deixam de poder regular os
desejos individuais. Vetor de regulação de normas

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