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Normas jurídico-penais: leis que protegem determinados bens jurídicos que a sociedade
considera merecerem uma proteção especial
O consumo de drogas deixou de ser crime, mas não deixou de ser ilegal, foi descriminalizado
(não legalizado).
As leis penais protegem bens jurídicos que precisam de ter uma proteção vigorosa.
O que é comum entre normas jurídicas e sociais? São historicamente variáveis, mudam com o
tempo, sendo um produto humano são variáveis.
Critérios de marginalidade:
Marginalidade que diz mais respeito à população, às estruturas sociais de desigualdade, já não
tem a ver com comportamentos, diz respeito a estatutos sociais
Antes a pobreza humana geograficamente era mais difusa, havia mecanismos de proteção à
redistribuição ex: estado de providência, trazer as pessoas da periferia para o centro ou
através do crescimento económico que ao criar empresas criaria riqueza
Cifras negras- criminalidade oculta que não é denunciada, não aparece nas estatísticas oficiais
Métodos de pesquisa e técnicas de investigação do crime:
Metodologias qualitativas
● Universos de vida
● Valores
● Pensamentos
Captam de forma muito densa e aprofundada estes pontos, mas são em pequena escala
Inquéritos sociais: são em grande escala, podem ser aplicados presencialmente ou via
questionários, em perguntas curtas, ordenadas e por vezes de resposta fechada, normalmente
para pedir opiniões e atitudes face ao crime, à justiça ou procurar caracterizar a economia, a
escolaridade
Vitimação: foi vítima de algum crime? conhece alguém que foi vítima? Que apoio recebeu?
Denunciou o crime? Varia muito de crime para crime
*vitimação vicariante: tem a ver com pessoas no círculo de proximidade que foram vitimas
Limitações: a denúncia varia de crime para crime, vítimas de homicídio não revelam, crimes de
colarinho branco causam vítimas indiretas, há pessoas que nem sabem que foram vítimas de
um crime (crimes informáticos)
Auto-denúncia: perguntar se já cometeu algum crime num determinado período e se sim, qual
o tipo de crime. As pessoas mais velhas tendem a ser mais desconfiadas a e não quererem
partilhar, já as mais jovens tendem a assumir ter sido transgressoras
O papel da vítima é essencial naquilo que chega às estatistas oficiais, em muitos países a partir
destes inquéritos o governo toma medidas para melhorar o sentimento de segurança dos
cidadãos.
Métodos qualitativos
Fontes de informação:
● Estatísticas criminais
● Inquéritos de vitimação: complementar às estatísticas, 1994- em Portugal mostrou que
pouco mais de 28% de criminalidade detetada é que chegava às estatísticas oficias
● APAV: recebe queixas das pessoas que foram vitimas de violência e presta ajuda,
mesmo assim há muito crimes que ficam por denunciar seja por motivos de ordem
pessoal (esfera privada, receiam vingança), seja por motivos de ordem jurídica (não
acreditam no sistema)
1. Dado que o crime e o desvio não correspondem sempre à mesma coisa não podemos
assumir que as normas jurídicas são o reflexo das normas sociais
2. Nas estatísticas não se olha para a faixa etária, raça e circunstâncias que levaram à
ocorrência do crime
3. Muitas vezes não se adota uma postura critica aquando de retirar informações destas
4. Há muitos crimes que nunca chegam a ser denunciados, a criminalidade real não
corresponde à criminalidade detetada
5. São sensíveis à alteração da legislação
Policiamento proativo: a polícia tem por iniciativa própria investigar determinada coisa
O número de crimes denunciados varia de crime para crime, há infrações a que a policia dá
mais prioridade, da etnia da pessoa em causa, da sua categoria social.
Criminalidade oculta:
O universo das normas é variável, face às normas podemos colocar 2 grandes questões:
O crime em si não é algo que seja problematizado, o estudo das causas foca-se é mais no
perpetrador
3º paradigma: gestão de riscos (defesa social, prevenção) ex: teoria das escolhas racionais,
atividades rotineiras, não é bem um paradigma como os dois primeiros apresentados.
Ideias da noção de anomia (perda de vigor integrador das normas sociais, enfraquecimento
das normas), ideia primeiramente apresentada por Durkheim.
Cloward e Ohlin (1960) alegam que não são só as oportunidades legitimas que estão
bloqueadas, as ilegítimas também estão (em alguns casos) por razões étnico-raciais, teoria
do duplo bloqueamento. Ex: tráfico de drogas dominicanos não querem trabalhar com
porto-riquenhos / é uma das explicações para uma baixa taxa de criminalidade feminina,
há sexismo até no submundo.
Messner e Rosenfield (2001)- teoria da tensão institucional, american dream, estas ideias
fazem prevalecer o sonho de sucesso material sobre todos os outros, o problema é que
agora as instituições não económicas (da família à escola) estão a ser crescentemente
penetradas, violadas e forçadas a englobar fins económicos, a família está cada vez mais
dominada pelo trabalho
Os fins vão justificar os meios (vale tudo) valorização social dos fins em detrimento dos
meios, vai exigir mais das instituições para exercer controlo social.
Existe o sentimento de privação injusta dos meios para atingir os fins , vêm pessoas menos
merecedoras a ter direito a oportunidades legítimas (ou até ilegítimas) e a alcançar os seus
objetivos.
Teoria unificada da anomia: vai identificar uma série de pressões sociais as quais estão
submetidos certos grupos, violência, humilhação, a exposição prolongada a eles leva a que
a pessoa perca a sua capacidade de autocontrolo
Temos pessoas que não conseguem atingir as aspirações de sucesso, motivados pela
sociedade crente, têm todos os dias a oportunidade de constatar todos os dias alguém
menos merecedor a atingir esses fins.
Terreno anónico que resulta da privação relativa e depois casa com a ideia de recompensa
económica.
A criminalidade é mais elevada entre os pobres de uma sociedade rica do que entre os
pobres de uma sociedade pobre, os tumultos radicais eram mais fortes em bairros mais
ricos.
É nestes meios que se vai aprender alguns comportamentos desviantes, (os rapazes mais
novos que vão fazer certas aprendizagens dos mais velhos, exemplo) condições de vida
muito particulares que levam a uma aprendizagem de valores e comportamentos “fortes”,
o meio não proporcionam um controlo eficaz, o meio sofre tensões sociais, o bonding está
muito debilitado.
Nestes bairros há muito repressão policial. falta de controlo interno e vai haver uma
segregação coletiva. Efeito sistema ligado ao meio de proximidade que se vão refletir de
maneira muito especifica no meio envolvente.
A zona 2 seria a mais problemática pois era lá onde a delinquência se situava devido ao facto
de haver uma grande mobilidade e a zona acabar por sofrer deteorização.
Aprendizagens e influências que vêm desse meio, a ideia fundamental é que se começa a
delinquência porque se aprendem estes comportamentos ou se é envolvido em valores
desviantes, algo que se aprende por convívio, por valores desviantes. Transmissão cultural
dos valores que suportam a transgressão.
Estas teorias do meio não estão só relacionadas com o meio residencial. Este raciocínio foi
aplicado a pessoas tanto de baixos estratos sociais como aos de altos estratos (colarinho
branco e colarinho azul). Colarinho branco cometem crimes enquanto conduzem os seus
negócios, funciona da mesma maneira que faz os indivíduos de baixos estratos sociais
cometer diferentes crimes, os mais velhos fazem parecer estes comportamentos algo
normal, algo rotineiro, que não é nada de mais, enquanto os de colarinho branco acham
que os crimes de rua acham estes gravíssimos enquanto eles cometem outro tipo de
crimes que até é capaz de afetar mais pessoas.
Perguntas chave: como é que a influência da cultura dominante vai ser diminuída de
maneira a que visões do mundo favoráveis à violação da lei tenham prioridade?
Como é que esse algo que se aprende existe? Como é que os valores delinquentes
surgem?
Conceito de subcultura
● Explicitado na obra de A. Cohen, delinquente boys: the Culture of the Gang, 1955
● “cultura dentro da cultura”- relação de continuidade, mas também de oposição
e/ou divergência (“contracultura”)
● Modelo coletivo de ação, transmissível de geração em geração, dotado de certa
durabilidade
Cohen vai expor o caso de jovens que vão desenvolver uma subcultura para lidar com um
problema que é a tensão social, discrepância, expressões inconciliáveis da estrutura social
e da estrutura cultural
No caso dos jovens esta contradição vai aparecer de uma maneira diferente em relação à
criminalidade de adultos, o objetivo dos jovens não seria tanto o sucesso material, mas sim
o estatuto, querem ser aceites, ser bem vistos, querem respeito dos pares e
reconhecimento. Os adultos olham para os jovens e valorizam-nos com base no sucesso
escolar, os jovens de meios desfavorecidos não estariam no mesmo ponto de partida para
atingir o sucesso a nível escolar que por exemplo outros de estratos sociais mais altos, têm
mais dificuldade em se distinguir.
A escola pode parecer uma cultura estranha e muito distante, vão surgir sentimentos de
fracasso, levam à procura de jovens em situação semelhante, procura de “apoio” que leva
ao confronto com os valores dominantes, o grupo de pares pode adquirir uma importância
enorme porque pode parecer a única maneira desses jovens adquirirem reconhecimento,
o respeito não vem do núcleo familiar, mas sim dos seus pares.
Muitas vezes estas formas de delinquência juvenil podem-se pautar pela destruição de
bens ao invés da aquisição de bens, não roubam como um fim, roubam por roubar, gostam
do desfio da transgressão.
Desenvolvimentos recentes
As políticas penais, as formas de intervenção são importantes ter e conta as faixas etárias.
Ex: furto de automóveis é importante olhar para idade para perceber se já é uma carreira
nestes furtos ou se é um episódio isolado, assim sendo é importante ajustar a intervenção
a ser realizada.
As teorias da deriva não falam de um conjunto de causas, mas sim de uma sucessão de
pequenas causas que se sucedem umas às outras de uma trajetória de pontos de viragem,
por um efeito de acumulação conduzem as pessoas numa direção ou noutra, vai gerar algo
imprevisível.
A questão do controlo
Estas teorias começam por dizer na verdade os ofensores não são assim tão diferentes dos
não delinquentes, os transgressores são muito mais convencionais do que aquilo que nós
pensamos, a maior parte das vezes não enaltecem valores delinquentes, os valores deles
não são assim tão desafiadores, opostos dos modelos tradicionais
Se criminosos e não criminosos não são tão diferentes assim então o que é que acontece para
haver estes comportamentos?
● negação de responsabilidade
● negação do dano, “oh, mas isso tinha seguro!”
● negação da vítima “ninguém se magoou a sério” “ela estava a pedi-las”
● condenação dos condenadores “não fiz nada que os outros também não façam”
● invocação de valores superiores, “eu fiz isto para proteger alguém”
● estava a cumprir ordens ex: holocausto
Aqui vão aparecer as teorias interacionistas: vão focar nas relações interpessoais dos membros
da sociedade.
2ª Escola de Chicago: os comportamentos desviantes vão desencadear respostas sociais, o
desvio é um processo social interativo.
Teoria da rotulagem
A sociedade é que vai escolher quais os comportamentos que considera desviantes, o desvio
não vem única e exclusivamente do individuo. A rotulagem não é completamente fiável,
muitas vezes atribuem-se rótulos errados. Dentro da categoria dos que foram considerados
desviantes não vamos encontrar todas as pessoas que de facto cometeram atos desviantes,
apenas aquelas pessoas que a sociedade elegeu como tais.
Quais são as condições que se precisam de reunir para alguém ser considerado desviante?
✔ Constância e frequência do desvio: a pessoa tem de fazer a sua vida em torno daquela
prática
✔ Gosto pelos efeitos da transgressão
✔ Visibilidade
✔ Entrada num grupo desviante: as convivências sociais com outros já etiquetados como
desviantes
✔ Natureza do ato desviante: os atos considerados como desviantes ou não variam
O rótulo vai implicar que os rotulados não sejam vistos da mesma maneira pela sociedade, a
sua autoimagem também vai sofrer alterações, o seu relacionamento com as outras pessoas
também se vai alterar. A pessoa vai passar a ser percecionada única e exclusivamente como
desviante.
O desviante vai assumir uma nova identidade com base no rótulo que lhe foi dado, esta
identidade é potenciada pelas instituições de controlo, as suas oportunidades legitimas ficam
cada vez mais restritas.
Lemert (1967), vai definir dois tipos de desvio, o primário: a pessoa é rotulado e assume esta
nova identidade, vão se formar subculturas com base na rotulagem; e a secundária: vai haver
uma resposta por parte dos rotulados.
Estereótipos: sistemas de representações, parcialmente inconscientes e grandemente
contraditórias entre si, que orientam as pessoas nas suas atividades quotidianas.
Há um conjunto de teoria que assentam numa base muito diferente e que se opõem a
estas, são as teorias do conflito. É um modelo herdeiro com uma matriz tanto Marxista
como Não Marxista. As de matriz Marxista dão mais atenção ao acesso desigual no que
toca à propriedade e aos meios de produção. Os de raiz Não Marxista não põe tanto a
tónico na propriedade, mas sim no poder e na autoridade, quem domina e quem é
dominado, quem é que nessa relação é subjugado.
O modelo do conflito vai considerar tanto o crime como a criminalização como relações de
poder e desigualdade numa sociedade que vai opor grupos sociais que não partilham os
mesmos interesses. Vai olhar para a sociedade com uma outra visão, uma sociedade
marcada por diferentes grupos de poder.
Uma vez que o Direito e o sistema penal não seriam neutros então eles também de alguma
forma não estariam só a refletir a desigualdade, mas sim a contribuir para reproduzir essa
desigualdade. Crítica à criminologia e aos criminólogos: eles não podem ser acessórios
críticos e passivos, não podem ser meros auxiliares do sistema criminal (criminologia
administrativa) cuja ambição seria tornar o sistema criminal mais eficaz, como é que os
saberes dos criminólogos auxiliariam o sistema; deviam ter uma visão que escrutinasse os
sistemas de controlo.
Alguns autores clássicos
1. Throsten Sellin (1938, Culture, Conflict and Crime)
2. Willem Bonger (1916, Criminality and Economic Conditions)
3. George Vold (1958, Theoretical Criminology)
4. Austin Turk (1969, Criminality and Social Order)
Todos eles vão chamar a atenção para a criminalização diferenciadas de pessoas que ocupam
posições desiguais, ou seja, vão constatar que para além da própria produção das leis visar
mais uns comportamentos do que outros, também são punidos aqueles que são mais
rapidamente atentados contra interesses dominantes, em contrapartida os dominantes
mesmo quando se comportam contra o interesse geral eles raramente são incomodados pelos
sistema de controlo ou então são incomodados de uma forma muito ineficaz. Exemplos mais
recentes:
1. William Chambliss (1999)
2. Richard Quinney (1977)
3. Jeffrey Reiman (1998)
4. Ian Taylor (1997)
William Chambliss, Power Politics and Crime (1999), diz que quanto mais estratificada é uma
sociedade tanto maior é a necessidade dos grupos dominantes assegurarem a sua posição
através da força, do recurso a mecanismos coercivos da conduta dos outros. Depois vai
também chamar à atenção da enorme importância dos lobbys organizados (muito importante
nos USA) na produção das leis e logo na fonte determinar quais vão ser os conteúdos das
normas legislativas. A legislação não vai nascer para proteger o bem público, muitas vezes vai
até contra esse bem público.
On the take: From petty criminals to presidentes (1978), contexto americano, vai analisar a
relação entre o crime organizado em Seattle e as redes, tráfico de influências.
Quinney, Class, State and Crime (1977), vai descrever como atividades etiquetadas e descritas
como criminosas são atividades que atentam contra o interesse de certos grupos que estão
muito envolvidos nas atividades de poder.
Reiman, The rich get richer and the poor get prison, (1998), vai mostrar como (análise
comparativa do dano) a vitimação pública que resulta da atividade dos poderosos é muito mais
elevada do que a vitimação resultante da pequena criminalidade, avalia os danos que causa na
sociedade.
Efeito de sombra: quando há enfoques diferenciados isso acentua a sombra no outro lado, vão
falar deste enfoque dos poderosos no controlo dos mais pobres tem como efeito ocultar os
crimes daqueles que têm mais poder.
Caráter fragmentário do direito penal, será que o direito penal protege todos os direitos
jurídicos? É uma forma de intervenção tão severa e tão danosa que vai causar uma relação de
tensão com as liberdades e garantias. Não se usa o direito penal para punir “delitos menores”
este é reservado para coisas mesmo muito importantes! Daqui surge o seu caráter
fragmentário, só chama a sua proteção alguns bens jurídicos, vai implicar uma seleção, tende a
proteger-se de uma forma mais ampla os bens jurídicos associados às categorias sociais
dominantes, e, portanto, tende a criminalizar muito mais depressa as categorias não
dominantes. Daqui decorre uma inversão dos processos seletivos, está na altura de começar a
equilibrar os pratos da balança, em vez de proteger os bens dos dominantes, através de uma
interrogação critica vamos ver quais são dos bens jurídicos dos dominados para que estes
tenham uma vida digna, proteção das categorias submissas. A partir daqui vamos procurar
designar condutas que também devam ser criminalizadas.
Condutas que passaram a ser criminalizadas: racismo, crimes de ódio, violência de género.
Problematizar os fundamentos da noção de crime, esta está tão contaminada pelo seu passado
histórico e tão marcado pelas desigualdades que se vai propor que se olhem para
comportamentos como danos sociais, para abranger todos os fenómenos que causem danos,
independentemente de num dado momento serem catalogados como crime ou não. Condutas
nocivas desenvolvidas pelo estado e por empresas.
● A lei não é neutra, os processos de criminalização não são neutros
A existência de leis é uma coisa boa, não esquecer isso
Não deixar de fora as vítimas, a maior parte das vítimas dos pobres são os pobres, o crime tem
um grande impacto social nas camadas mais desfavorecidas, é um problema socia real. Tem de
encontrar uma forma de lidar com os transgressores que não tragam problemas secundários.
Reajustes: os realistas
● Estado de Direito vs. Poder arbitrário
● Vítimas e ofensores
● O crime como problema (social e teórico)
Não cair no pressuposto que as vítimas e os ofensores são realidades dicotómicas. Nas
relações de poder entre o ofensor e a vítima não se pode assumir que o ofensor é mais
poderoso que a vítima. Preocupação de trazer a vítima para o centro do processo (justiça
restaurativa) houve um desequilíbrio que trouxe demasiado poder à vítima, não pode ser esta
a ditar o curso do processo.
3º paradigma: gestão de riscos- “criminologia administrativa”
Este conjunto de teorias situa-se no polo oposta da criminologia critica, as preocupações são
mais de gestão de risco, “gerencialista” é uma criminologia que está muito preocupado com o
custo/beneficio e com a eficácia. Todo muito dominado pelo risco, vai-se estender à sociedade
toda, gerir a vida em sociedade com base no risco, atuariais- cálculo dos riscos.
1. A nova prevenção: antes de ter ocorrido o crime, visa reduzir o risco de ocorrência de
crimes, diminuindo as oportunidades e aumentando os obstáculos, diminuindo
também a vulnerabilidade
2. Sentenciamento e pós-sentenciamento: pós-sentença é a medida que vai ser
executada, é uma medida judicial, calcular o risco do individuo fazendo uma espécie
de previsões estatísticas acerca do risco que representa para a sociedade (saídas
precárias, liberdades condicionais)
3. A incapacitação: a pena é incapacitante para a pessoa, vai inibi-la de voltar a cometer
crimes no futuro
4. A deteção precoce: identificar de pré-delinquentes que possam vir a cometer delitos
removendo estes de potenciais locais onde possam cometer tais atos
Tribunais de execução de penas, em última parte vão determinar se o recluso pode ser
libertado em liberdade condicional.
A 1ª etapa: vai surgir na Europa como justiça atuarial, vai ter como primeira prioridade a
prevenção situacional em que o objetivo é tentar controlar as ocorrências criminais, reduzir a
ocorrência de delitos, procurando controlar as ocasiões em que tal vai ocorrer, intervindo em
situações que se prestam mais à ocorrências de crimes. A nova prevenção não tem nada a ver
com a prevenção clássica (que se preocupavam com as causas). O que se trata é de uma
perspetiva mais relacionada mais caso a caso.
Na 2ª etapa já estamos dentro do sistema penal, vão aparecer uma série de instrumentos
probabilísticos e faz-se uma previsão estatística das suas probabilidades de reincidência.
Também vamos ver raciocínios de risco que recorre à função incapacitante da prisão, que vai
ser usada como uma estratégia de controlo do risco. Sentenças indeterminadas que estão em
vias de expensão, não têm um fim definido.
Última etapa de deteção precoce de perfis de risco, muito orientada para a avaliação precoce
e a intervenção precoce preventiva, muito antes de qualquer ato penal, cujo objetivo é
remover o risco da sociedade identificando muito cedo os pré-delinquentes em tendência.
Levantou muitos problemas quanto à cientificidade deste método, e até questões de ética. Ao
contrário da criminologia crítica, esta criminologia vai adotar muitas noções de previsão sem
se questionar acercas das implicações éticas, sociais, cívicas deste tipo de intervenções.
Não quer mudar as pessoas, mas sim pura e simplesmente agir sobre os gatilhos que possam
desencadear uma ocorrência criminal. Criar condições para que seja mais fácil cumprir as
normas. Estratégias de cariz defensivo.
Prevenção situacional
A premissa do ator racional, o individuo faz o cálculo custo-benefício do seu crime, decisão
imediata, muitas vezes vais agir por impulso, improvisando. Os riscos são subestimados e os
benefícios são sobrestimados.
Esta dissuasão vai surgir efeito com os transgressores oportunistas. O efeito colateral é o
potencial aumento de alguns crimes, que ficam com uma motivação para agir de forma mais
séria e mais profissional. Estas ideias são o denominador comum de várias teorias:
Principal crítica feita: a representação dos ofensores está um pouco afastada da realidade pois
assume que os ofensores estão fora desse espaço quando na verdade a maioria partilha o
mesmo espaço que as eventuais vítimas. Outra critica: pode-se criar um estigma em torno de
uma área e criar uma influência indireta e ignorar táticas policias que possam diminuir a
criminalidade, ou até mesmo provocar mais criminalidade. Quando se trata de intervir esta
teorias não são incompatíveis com outras teorias que se preocupem mais com as razões para
haver criminalidade.
A criminalidade tem sido marcada por duas grandes questões, uma delas é a enorme taxa de
desproporção que há face às mulheres cometerem crimes, as mulheres são sempre uma
minoria nas estatísticas criminais. Também são uma minoria nas taxas de reincidência, têm
carreiras criminais muito mais curtas, e isto acontece em todas as faixas etárias e em todos os
tipos de crime. A maior parte das vítimas são mulheres. Segunda grande questão, as teorias
sobre a criminalidade que surgiram a partir do estudo da criminalidade masculina será que são
extrapoladas à criminalidade feminina? Generabilidade. Androcentrismo.
Teoria generalista, supostamente aplicável aos dois sexos não considerando especificidades
das mulheres (Smart, 1976)
Agora sabemos que as mulheres também cometem crimes por razões de cariz económico,
recursos para o sustento familiar. Feminização da pobreza- a pobreza, em termos estatísticos,
atinge muito mais as mulheres que os homens. O que acontecia era que estas teorias clássicas
e tornavam invisíveis as estruturas das desigualdades de género.
A partir dos anos 70 vão começar a aparecer uma série de teorias feministas e estudos que
começaram por questionar a tendência da criminologia clássica para ignorar os processos de
desigualdade de género, vêm chamar à atenção para os dispositivos de controlo (informal,
exemplo a família) que vão agir de forma muito diferenciada face a homens e mulheres e
como é que esta ação diferenciada vai afetar de forma distinta os comportamentos desviantes
de ambos os sexos e também dos seus processos normativos. As diferenças de socialização
tendem a empurrar as mulheres para uma conformidade, as raparigas são muito mais
orientadas para a normatividade. No sistema vigente patriarcal os homens são entendidos
como mais tendentes a ter comportamento mais ousados, desafiadores, transgressivos, e as
mulheres são indefesas, frágeis, a precisar de mais controlo.
O sistema criminal vai produzir efeitos muito diferentes para homens e mulheres, quanto mais
o crime se distancia do que é socialmente esperado, maior a severidade da pena. Exemplo
disso é que as mulheres são mais severamente punidas do que homens em casos de crimes
sexuais. As sentenças variam muito com as expectativas sociais atribuídas a cada um dos
géneros. Muitos teóricos vieram mostrar que o sistema jurídico penal está para além, é
penetrado pelas influências sociais e culturais, e que contribuem para reproduzir e acentuar as
desigualdades.
Controvérsia acerca da maneira como o sistema de justiça trata as mulheres, uma posição
sustentava que o sistema de justiça era favorável às mulheres, tratando-as com alguma
brandura e isto dever-se ia a uma noção de que as mulheres precisam de mais proteção, tese
do cavalheirismo do sistema de justiça. E depois temos a posição oposta que tem por base a
ideia do duplo desvio, as mulheres são punidas mais severamente por estas infringirem a lei e
as normas e expectativas sociais atribuídas ao seu sexo.
Noção de interseccionalidade: as mulheres não são todas iguais, todas têm experiências de
vida, o género não é uma categoria homogénea, a experiência é variável com base em outros
fatores de âmbito social. Estas perspetivas da interseccionalidade querem saber como é que os
aspetos de género se intercetam com outros aspetos. As novas perspetivas estão muito
atentas ao género e como este afeta a vida dos indivíduos.
Criminologia feminista
Década de 70 do séc XX, foi lançada a hipótese de que a emancipação da mulher está
associada ao suposto aumento da crescente criminalidade feminina. Foram publicados dois
livros (Freda Adler, Sisters in crime e Rita Simon, Women and crime) que vieram fazer uma
associação entre os movimentos feministas e a libertação das mulheres e o aumento da
criminalidade associada com uma rutura com os papeis socialmente femininos. Foram saindo
da esfera doméstica e começaram a aceder à esfera pública e do trabalho, as mulheres
estariam mais agressivas e mais competitivas, dentro de casa não teriam muita oportunidade
para cometer crimes.
Críticas feitas: eram teses que não eram sustentadas com evidencias empíricas
1. As desigualdades de género não desapareceram, elas persistem, inclusive no mundo
de trabalho
2. Não há qualquer relação entre o aumento de oportunidades para as mulheres (legais )
e a subida da taxa de criminalidade
3. Negligência das forças materiais e estruturais que moldam as vidas e experiências
femininas
Nos anos 90 houve uma tentativa de exumar estas teses para explicar o tráfico de droga,
considerava que estas teses não se aplicavam à criminalidade geral feminina, mas sim no que
toca à droga.
O que aconteceu em Portugal? Uma das mais elevadas taxas de encarceramento, a maior
proporção por crimes de droga (tráfico), maior proporção de mulheres presas. Nas mulheres a
concentração prisional num determinado leque de crimes, é muito maior que os homens. Os
crimes de tráfico de droga têm as maiores taxas de condenação (anos 90) e é dos crimes mais
duramente sentenciados, é isto que permite explicar a subida enorme da taxa. Como as
mulheres estão mais concentradas vão ser mais severamente tratadas não enquanto
mulheres, mas enquanto traficantes.
Em taxas de participação feminina nos mercados de trabalho temos níveis mais semelhantes
quando comparado com outros países da Europa. No que toca às mulheres serem quem traz o
rendimento para casa não temos muitos problemas ideológicos. Grandes taxas de imigração,
guerra colonial, mulheres a trabalhar, desde há muito que elas trabalham fora de casa. É uma
estratégia de sobrevivência.
Será que quando colocamos a questão a propósito da subida das taxas de participação das
mulheres no tráfico de droga, será que a participação não é significativa como nos mercados
norte-americanos? Ou então quando essa participação é real isso não terá nada a ver com o
feminismo?