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FICHAMENTO DO LIVRO:
MANUAL DE DIREITO
PENAL BRASILEIRO
PARTE GERAL
1º BIMESTRE
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Primeira Parte:
TEORIA DO SABER
DO DIREITO PENAL
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1ª AULA – 18/03/03
TÍTULO I
DELIMITAÇÃO DO OBJETO DO SABER DO DIREITO PENAL
CAPÍTULO I
CONTROLE SOCIAL, SISTEMA PENAL E DIREITO PENAL
CONCLUSÃO GERAL:
a) Ações conflitivas de gravidade e significado social diversos se resolvem pela via
institucionalizada do Direito Penal. Mas não são todas as pessoas que sofrem essa solução,
mas uma minoria, depois de um processo de seleção que seleciona principalmente pobres;
b) Muitos conflitos se resolvem por outra via institucionalizada que não o direito penal;
c) A solução punitiva (eliminatória ou retributiva) é somente uma das alternativas, mas que
exclui as outras (reparatória, conciliadora e terapêutica);
d) As ações que abrem a possibilidade de solução penal de maior gravidade são praticadas
pelo próprio Estado, que institucionaliza tais soluções.
Tem-se a impressão que o “delito” é uma construção destinada a cumprir certa
função sobre algumas pessoas a respeito de outras, e não uma realidade social
individualizável.
Nosso estudo visa esclarecer se esta impressão é verdadeira ou não. Mas esta
introdução serve para desmentir aqueles que dizem que o direito penal emburrece, só serve
para prender bandidos etc.
CONCLUSÃO GERAL:
Para avaliar o controle social não podemos olhar só o direito penal como fator
inibidor da criminalidade. Temos que ver como funcionam os outros sistemas:
a) escola métodos pedagógicos, controle ideológico de textos etc.;
b) medicina como é feita a orientação anestesiante, puramente organicista ou mais
antropológica.
As relações sociais, portanto, são complicadíssimas. Não dá para fazer um modelo
de sociedade sem olhar para tudo isto e querer controlá-lo. É simplismo ilusório.
c) O liberalismo do séc. XVIII e começo do século XIX, junto com a teoria da necessidade,
foram a ideologia de justificação do aniquilamento nuclear da população de Hiroshima e
Nagasaki.
Cada atrocidade é cometida em nome da humanidade e da justiça. Cada um dizia
que queria libertar o homem e construir um novo – de acordo com sua cara – acreditando num
direito NATURAL.
Em 1948, no auge da 2ª Guerra, a ONU proclamou a DECLARAÇÃO
UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM, como um ideal comum a ser alcançado por
todos.
Desde então vem se construindo um sistema internacional de garantias de direitos
fundamentais – direitos humanos – que vai configurando um LIMITE positivo nas
Constituições às ideologias que regem o controle social em todas as nações. Vai criando uma
baliza, um paradigma. Cada país tem um escalão de direitos humanos.
Pode-se argumentar que continuam as atrocidades. Concordamos, mas hoje a cara
do poder está aberta. Desmascara o poder.
É inegável que:
a) Há ideologias genocidas controle de natalidade nos 3º e 4º mundos, sob ameaça de
interromper ajuda de alimentos;
b) Ideologias de equilíbrio pelo terror.
Outras declarações internacionais complementam a da ONU. Entre nós o marco é
a CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS DO HOMEM de 1969, conhecida
como Pacto de S. José. Servem de parâmetro para a interpretação das leis.
A punição muitas vezes não sanciona uma conduta, mas ações que denotam
qualidades pessoais. É assim por causa da atividade classificadora do sistema. Por isto,
também fazem parte do sistema penal:
a) procedimentos contravencionais de controle de marginalizados (vadiagem, embriaguez
etc.);
b) faculdades policiais arbitrárias (batidas sempre em bares de periferia etc.);
c) internação por tempo indefinido de drogados – não são produtivos;
d) o asilo de velhos – sanção pela falta de produtividade e docilidade aos padrões de consumo
veiculados pelos meios de massa.
Isto demonstra que o sistema penal seleciona pessoas, segundo a classe e posição
social. Quanto mais incluídos, menos são pegos. Não somos todos vulneráveis ao sistema
penal.
Além disto a criminalização gera a “rejeição” do etiquetado “marginal”, e também
daqueles que se solidarizam ou entram em contato com eles.
Por fim, soltos são estigmatizados como “suspeitos”.
Deste modo, o sistema penal não previne condutas criminais. A criminalidade
aumenta ou diminui de acordo com as variantes do sistema penal e não da prevenção. Ex.:
Nos EUA se calculou que numa cidade de 500.000 habitantes há 150.000 furtos por ano.
Pouquíssimos são investigados.
Quanto a prevenção especial – ressocialização – os estudos demonstram que a
prisão causa deterioração psíquica no preso – as vezes incurável.
Isto demonstra que o controle social é uma ideologia que serve para sustentar a
necessidade da prisão, mas que não corresponde à realidade. Por isto a comunidade presa cria
mecanismos de auto-proteção: organizações de presos (PCC); corrupção organizada, motins,
líderes religiosos, jurídicos etc.
Hoje se fala em fracasso da prisão, inclusive em países que efetivamente tentaram
fazer dela um modelo de ressocialização.
Suspeita-se que o sistema penal seleciona pessoas humildes para mostrá-las aos
demais do bairro: comportem-se, senão lhe acontecerá o mesmo.
Suspeita-se que esta ideologia também subtrai setores que estão na estrutura do
poder ao sistema penal (são menos vulneráveis). Ex.: quem comanda a casta é reencarnação
de espíritos evoluídos, portanto, fora da marginalização.
O Estado de direito se materializa por degraus, tem graus de realização: quanto
mais se respeitam direitos humanos, mais pessoas estarão incluídos em outros sistemas e se
subtraem ao controle do sistema penal.
2ª AULA – 25/03/03
CAPÍTULO II
O HORIZONTE DE PROJEÇÃO DO SABER DO DIREITO PENAL
I - O DIREITO PENAL
16 - DENOMINAÇÃO
Chamam de Direito Penal ou Direito Criminal. Hoje predomina DP. Ex.: Còde
Penal, Codice Penale, Código Penal em Portugal, Argentina e Espanha. É o direito da pena.
19 - O CARÁTER PÚBLICO DO DP
Como o DP tutela bens jurídicos contra ataques que lesam a segurança jurídica, é
um ramo do direito público, ou seja, um ramo em que o Estado intervém diretamente – não
pode ser privatizado.
Isto não significa que o Estado tenha um direito subjetivo de punir porque o bem
lesado é seu – segurança jurídica, ou paz social. Isto levaria a afirmar que se pune o homicida
não porque tirou a vida de alguém, mas porque afetou a segurança jurídica.
A idéia do direito de punir do Estado existe só para limitá-lo: até onde pode punir.
Esses limites vem de toda ordem jurídica. Existe um espaço livre para cada um de
nós no qual o Estado não pode intervir, porque o direito reconhece que toda pessoa é capaz de
autodeterminar-se de acordo com sua consciência – Art. 1º da DECLARAÇÃO UNIVERSAL
DOS DIREITOS DO HOMEM.
Isto importa em que a legislação reconhece a dignidade da pessoa humana e disto
advém as seguintes conseqüências:
a) O Estado não pode pretender impor uma ordem moral. Ex.: limitar o número de filhos,
penalizando quem tiver mais de 2. Não pode proibir manifestações artísticas etc.
A moral de uma pessoa, de um povo, surge daquilo que ele livremente escolhe
como moral e não do que o Estado – grupo de poder – acha que é moral. Conclusão: o Estado
totalitário é imoral, porque impede a escolha pessoal – mérito moral.
b) Ao invés de impor uma moral, o Estado pode reconhecer um âmbito de direito moral.
Assim, ele possibilita a “conduta moral” de seus habitantes. O mérito está em poder
escolher o moral e o imoral.
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c) A possibilidade de escolha leva a que a pena não recaia sobre condutas que recaem sobre
escolhas morais. Sobre estas temos autonomia – CF e leis garantem. Recaem sobre
condutas que afetam o exercício desta autonomia ética. Exemplos:
- Não se penaliza a mulher porque se prostitui. É uma escolha moral sua. Mas pune-se o
estuprador, porque ele obriga ou impede a mulher de exercer sua escolha moral-sexual.
- Não se pune quem dilapida seu patrimônio no jogo. Esta é a sua escolha. Mas pune-se o
ladrão, que obriga ou impede a pessoa de dispor de seu patrimônio livremente.
d) Se optamos por um Estado moral – respeito à dignidade da pessoa humana de seus
cidadãos = escolha – são delitos só as condutas que afetem bens jurídicos alheios, ou seja,
aqueles necessários a que não possamos exercer a nossa livre escolha (vida, patrimônio,
honra, saúde, administração pública, o Estado em si). O Estado protege direitos.
e) Um direito penal assim concebido usa da pena para proteger bens jurídicos. Não tem uma
função de castigo, de expiação,
Zaffaroni não leva em consideração a função retributiva da pena como castigo
moral. A pena garante à vítima que goze livremente de seus bens na sociedade. Não se pune
quem subtraiu um bem, garante-se o uso de bens pela sociedade quando se aplica a pena.
21 - AS RESPOSTAS USUAIS
Se responde sobre o objeto do direito (legislação penal) de modo contrário e
excludente:
a) A meta é a segurança jurídica. A pena deve ter efeito de prevenção geral. A pena se dirige
àqueles que não delinqüíram = RETRIBUIÇÃO.
b) É a proteção da sociedade e a defesa social. A pena deve surtir efeito sobre o delinqüente,
para que não volte a delinqüir = PREVENÇÃO ESPECIAL. A pena se dirige àqueles que
delinqüíram = REEDUCAÇÃO OU RESSOCIALIZAÇÃO.
c) É prevenção geral e especial. São as opiniões mais generalizadas hoje, com base na
doutrina alemã. O fim da pena é a retribuição. Da execução da pena é a ressocialização.
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a) Não se pune a mulher porque usa uma saia maior ou menor, porque contradiz a moda. Mas
pune-se o casal que pratica ato sexual em via pública, porque isto afeta o sentimento de
recato e reserva sexual daqueles que se vêem constrangidos a presenciar o ato sexual;
b) Não se pune quem se despe em casa, mesmo que alguém o observe de um lugar
privilegiado, porque sua privacidade foi quebrada;
c) Não se pune quem usa barba ou cabelo comprido, porque o direito penal não visa formar
cidadãos barbudos ou cabeludos, mas apenas cidadãos que não afetem bens jurídicos
alheios.
E isto não tem nada a ver com a moral:
a) Carrara já falava: o casamento é muito moral, mas não é lícito o casal colocar a cama na
calçada;
b) Por outro lado, pode ser imoral, mas lícito, convidar os vizinhos para partilhar o quarto
conjugal, porque irão se quiserem.
O direito penal desvalora (diz que é mau) um resultado que se traduz numa
afetação de bem jurídico (por lesão ou por perigo) porque é resultado de uma conduta e não
porque é uma mera mutação física. O direito regula condutas e não mutações físicas.
Também desvalora uma conduta que produz resultado (impossível sem resultado)
porque, embora o resultado seja distinto da conduta, para o DP só tem relevância o resultado
acompanhado da conduta (relação de causalidade).
É arbitrário, portanto, separar o desvalor da conduta do desvalor do resultado, da
objetividade da conduta do da sua subjetividade. Ex.: quando o DP desvalora só conduta sem
resultado, normalmente confunde ética e moral e dissimula isto com o argumento de perigo
abstrato. Manipula essa norma que vai servir de serva dos grupos de poder:
a) vadiagem;
b) mendicância;
c) embriaguez;
d) a lei seca americana foi resultado da luta entre grupos estabelecidos – puritanos – frente a
imigrantes predominantemente católicos. Não tinha por fim proteger bens jurídicos. Os
resultados foram desastrosos. Foi um pretexto ideológico – bebida – para um grupo se
sobrepor ao outro. E o DP não pode ser o símbolo de uma guerra de um grupo contra o
outro, porque ele protege a realização como pessoa de todos.
25 - O CARÁTER DIFERENCIADOR DO DP
O DP como todo direito provê a segurança jurídica, é cultural, normativo etc. O
que o diferencia é a sanção. Ele procura cumprir a função de prover à segurança jurídica com
o uso da pena.
E a pena se diferencia das outras coerções (reparação de danos, por exemplo)
porque tem um fim preventivo ou particularmente reparador (multa e restritiva de direito).
O DP não tem uma superioridade ética sobre os outros ramos do direito, de modo
que só ele tem uma função de prevenção geral. Esta é função de todo ordenamento, e não só
do direito penal.
alguém, coagido por uma arma, não é reprovado, não é culpável, pois não lhe era exigível
outra conduta.
- O homem tem uma autonomia ética, é uma pessoa.
- A pena é determinada pelo grau de reprovação da conduta.
b) Direito Penal da periculosidade:
- O homem se move por causas. Não tem liberdade de escolha;
- A escolha é só uma ilusão;
- Não há culpabilidade porque não há autonomia ética, pessoa;
- A pena é determinada pelo grau de determinação do homem para o delito = periculosidade.
VI - AS “TEORIAS DA PENA”
36 - MEDIDAS DE SEGURANÇA
Integram as sanções penais com base na periculosidade e tem categoria distinta da
pena.
Aplicam-se:
a) Antes do delito:
- para prevenir delitos;
- estado perigoso sem sentido;
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3ª AULA – 31/03/03
INTRODUÇÃO
Falamos na 1ª aula que:
a) A sociedade, ou seja, nós, somos controlados por sistemas de controle social e que o direito
penal é só um destes sistemas – menos racional e mais violento;
b) Vimos que quem exerce o controle social é uma estrutura de poder que, se não for limitada,
extrapolará – política. Estes limites estão nos direitos fundamentais do cidadão, que vêm
sendo construídos e estudados desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem de
1948, passou pelo Pacto de S. José da Costa Rica, está na C.F. do Brasil;
c) Vimos que a A.L. é um continente marginalizado, longe das estruturas universais do poder
e, portanto, mais susceptível à manipulação e violência. Por isto os direitos humanos levam
a um direito penal mínimo, para não acrescentar mais violência à violência social da
marginalização. Precisamos criar uma ideologia própria do direito penal, que só se
desenvolve no contexto do estudo aos direitos humanos, embora a conclusão possa ser por
um DP repressivo ou humanista. É só uma ideologia.
Vimos na 2ª aula que:
a) O DP pode ser conceituado a partir da legislação (conjunto de leis, com finalidade de
reprimir crimes, através da pena, que tem a função de prevenção especial);
b) O DP é um ramo do direito público, que busca a segurança jurídica – como todos os outros
ramos do direito – isso é igual a prevenção geral. E faz isto através da pena, que tem uma
função de prevenção especial, que nada mais é do que formar cidadãos pela: REFORMA
(privação de algo para contramotivar. Pequenas penas, multa, prestação de serviços à
comunidade, reparação direta à vítima etc.), e READAPTAÇÃO, que é uma tomada de
consciência pelo criminalizado para não dar mais a cara ao sistema penal. (Pacto de S.
José, art. 5º, § 6º);
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c) O delito é uma intromissão proibida no gozo de meus direitos (bens jurídicos) e não a
prática de um mal (moral). Por isto que a conduta e o resultado são desvalorados e não só a
conduta (art. 13, do CP);
d) A pena só tem sentido se trouxer segurança jurídica = sociedade equilibrada pelo gozo de
direitos em igualdade, e não pelo terror;
e) O caráter diferenciador do DP é que ele age com a pena, que tem a função de prover a
segurança jurídica (como todos os outros ramos do direito = prevenção geral), que tem um
fim específico, que é preventivo especial ou particularmente reparador. Por isto o DP não
tem como função principal ser simbólico = prevenção geral;
f) A prevenção específica, respeitada a dignidade da pessoa humana, não pode ser:
- qualquer constrangimento físico;
- tratamento ou condicionamento social, porque não existem seres inferiores no plano da
dignidade humana;
- a pena não pode ser rígida, inflexível. Deve ser maleável (sistema de progressão,
substituição, e penas alternativas). A reparação de dano diretamente à vítima como pena é
uma boa alternativa.
CAPÍTULO III
FONTES, LIMITES E RELAÇÕES DO DIREITO PENAL
41 - POLÍTICA CRIMINAL
É a arte ou ciência do governo com respeito ao fenômeno criminal.
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a) Isto não implica que a norma jurídica fique submetida absolutamente à decisão política.
Ex.: controle de constitucionalidade.
b) Quando a decisão política gera (produz) a norma jurídica, esta é adotada pelo princípio da
legalidade. Ex.: não se cria crime por analogia, dizendo que foi a vontade do legislador.
c) A decisão política elege o bem jurídico tutelado e este componente político indica o fim da
norma na interpretação, muito embora a norma tenha vida própria. É um elemento
orientador da proibição e da permissão. Ex.: o Estado não pode fomentar em leis aquelas
atividades que proíbe em outras leis: ou não há proibição ou há permissão, como sucede
com as atividades desportivas perigosas.
A atividade política tem de fazer parte de um todo, do ordenamento. Não pode ser
diferente num caso e noutro sob pena de não existir como sistema.
menor.
a) Existe uma tendência – autoritária – do direito Administrativo se ampliar
às custas do DP;
b) Quer-se levar ao direito Administrativo o direito militar e o direito
contravencional;
c) Outra tendência é penalizar questões administrativas = ações sem
resultados;
d) O direito Administrativo prevê sanções disciplinares para integrantes de
DIREITO um corpo (advertência, suspensão, demissão, cassação de aposentadoria
ADMINISTRA- e disponibilidade);
TIVO e) As sanções tem caráter reparador e não de prevenção especial – repara a
imagem da administração;
f) Tanto o DP Administrativo, fiscal, econômico, são ramos do direito
penal e não do direito administrativo, e por isto devem obedecer aos
princípios do direito penal;
g) O direito Administrativo invade o direito Penal. Ex.: detenção para
identificação (contraria o art. 7º, § 3º, do Pacto de S. José). É um sistema
de controle e de conduta de massa, embora ilegal.
a) O DIPúblico regula as relações entre Estados e o DIPrivado a legislação
e a jurisdição nacional que deve ocupar-se de cada caso;
b) O DIPenal (relação do DIPúblico com o DP) estuda a tipificação
internacional de delitos por via de tratados e o estabelecimento da
jurisdição penal internacional (cortes internacionais de justiça penal);
c) O DPInternacional (relação do DIPrivado com o DP) determina o âmbito
de validade da lei penal de cada Estado e a competência de seus tribunais
penais.
d) Ambas as modalidades de DP Internacional são ramos do Direito
DIREITO Internacional e por isto obedecem a seus princípios;
INTERNA-
CIONAL e) O Tribunal de Nuremberg – Tribunal Militar Internacional – foi o 1º
Tribunal Internacional;
f) Não violou o princípio da legalidade porque os crimes já eram definidos
nas leis internas dos países (crimes contra a humanidade) e convenções
internacionais (crimes de guerra);
g) Violou a competência e a anterioridade da pena. Foi um Tribunal de
vencedores contra vencidos – de exceção;
h) Positivistas o criticam. Jusnaturalistas o elogiam. Mas a verdade é que
nem no direito Anglo-saxão se permite mais fixar delitos por
jurisprudência, como quiseram fazer em Nuremberg.
Observações sobre o Direito Penal Internacional, que é ligado ao Direito
Internacional Privado:
Existem 4 princípios reitores do Direito Penal Internacional que procuram
determinar o alcance da validade espacial da lei penal:
1. Territorialidade A lei vigora no território e nos lugares submetidos à sua
jurisdição;
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55 - A CRIMINOLOGIA
São chamadas “ciências da conduta” as que estudam a conduta humana do ponto
de vista do SER desta conduta.
O DP só determina que condutas devem ser desvaloradas e como se traduz este
desvalor em conseqüências jurídicas. Não se pergunta acerca do SER desta conduta:
a) o que ela representa na biografia do sujeito;
b) que problemas sociais surgem com condutas criminosas.
Estas são questões de outras ciências: a psicologia e a sociologia, ou seja, das
ciências que estudam a conduta humana.
Não se trata de ciências com OBJETOS distintos, mas disciplinas com um mesmo
objeto (a conduta humana) e 3 níveis diferentes de complexidade.
A relação entre estas três ciências tem sido tormentosa, existindo mais choques do
que aproximação, e a gente fica sem saber muito bem o que é o DP, a psicologia, a sociologia
penal.
Está na moda hoje reduzir o DP à sociologia e de outro lado dizer que ele não tem
nada a ver com ela: é uma técnica.
Nesse contexto surgiu mais uma ciência que tem por objeto a conduta humana,
que é a criminologia:
É a disciplina que estuda a questão criminal do ponto de vista biopsicosocial, ou
seja, integra-se com as ciências da conduta aplicadas à condutas criminais.
Oferece dados de utilidade ao DP e para a política criminal, possibilitando uma
atuação mais racional no aspecto do controle social.
56 - A CRIMINOLOGIA POSITIVISTA
Até pouco tempo atrás afirmou-se que a criminologia era uma ciência causal-
explicativa explicava as causas e as origens das condutas delituosas.
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Primeira dificuldade:
a) estabelecer o objeto da sociologia, que vinha dado pela lei penal, ou seja, por um ato do
poder público;
b) esta era a sua primeira contradição: como poderia ser uma ciência asséptica e objetiva
ideologicamente se o seu objeto era dado pela política?
c) Procuraram construir um conceito de delito natural/universal, mas caíram numa
criminologia de valores, ideológica.
58 - AS CIÊNCIAS PENAIS
A criminologia abarca a biologia criminal, a psicologia criminal e a sociologia
criminal. Estas são aportes feitos à análise e crítica da criminalização a partir de disciplinas
distintas, mas se reúnem numa disciplina chamada criminologia: TENTAM
COMPREENDER A CRIMINALIZAÇÃO A PARTIR DE SEUS ESTUDOS.
Todas estas matérias estão vinculadas à filosofia, à história, e à política, como
pano de fundo de interpretação.
4ª AULA – 01/04/03
CAPÍTULO IV
O MÉTODO E OS PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DO SABER DO DP
59 - A DOGMÁTICA
A metodologia do DP como ciência é a metodologia jurídica em geral.
Método significa caminho e está condicionado pela meta que se pretende atingir.
Exemplo:
a) Quando para Feuerbach a meta era a tutela dos direitos subjetivos, o método era partir de
tais direitos e reconhecer como fonte do saber penal a filosofia, que era a que permitia
acesso aos mesmos.
b) Se invertermos a proposição, o que vai ser tutelado é o direito objetivo em lugar do
subjetivo. O método tende a reduzir-se a uma sujeição à vontade do legislador.
Depois de Feuerbach surgiu:
O método exegético redução da ciência a uma mera técnica da análise da letra
da lei. Exemplos:
a) O enciclopedismo francês do séc. XVIII pretendeu compilar em certas obras o saber
humano sobre determinados campos do conhecimento. No campo jurídico essa tendência
levou à codificação: reunir numa lei tudo o que se refere a determinada matéria,
ordenando-os de forma sistemática.
b) Ao juiz cabia aplicar a lei. Bastava que entendesse seu sentido literal. Ações extremadas
chegaram a proibir obras que comentassem códigos.
c) A ciência jurídica ficou reduzida à interpretação gramatical do texto legal. O método era a
interpretação gramatical.
Esse realismo ingênuo reduziu o direito a algumas leis. Também quis explicar o
direito como um conjunto de proposições sociológicas. Exemplos:
a) A Escola Histórica defendia que o direito é produto espontâneo do “gênio” de um povo.
Tendência claramente romântica, porque as normas são influenciadas pelo mundo.
b) Método dogmático É o mais difundido a tal ponto que se chega a confundir a ciência
penal com a dogmática penal.
Quem expôs o método dogmático foi um alemão chamado Rudolf von Ihering
(1818-1892), surgindo no âmbito do direito privado.
O método dogmático consiste:
a) Numa análise da letra do texto;
b) Sua decomposição analítica em elementos (unidades ou dogmas);
c) E a reconstrução destes elementos de forma coerente, produzindo uma construção, ou
teoria.
Exemplo: excesso na legítima defesa. Lemos o texto do art. 21. Decompomos: o
que é legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal. No que
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consiste o seu excesso. Qual sua natureza jurídica. Quais as formas de excesso que podem
existir. Como é punido. Reconstruímos tudo isto e temos uma teoria sobre excesso na legítima
defesa.
A conclusão do método dogmático é que se o intérprete parte de dogmas (leis)
como são reveladas pelo legislador, a ciência jurídica não pode alterar o conteúdo dessa lei.
Você não pode “ajeitar” uma lei inconstitucional para virar constitucional. O máximo que
podemos fazer é considerá-la inconstitucional.
Por mais completa que seja uma legislação, ela nunca vai esgotar o assunto, ou os
casos concretos. De outro lado, a legislação não pode ser muito “casuísta”, sob pena de perder
a cientificidade.
A solução é inferir as respostas aos casos particulares a partir de uma série de
princípios gerais – conceitos – construídos com base no próprio texto legal.
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64 - DOGMÁTICA E IDEOLOGIA
A lei responde a uma ideologia, é fruto de um conjunto de idéias.
A dogmática não fica vinculada ao conteúdo ideológico de cada lei, porque pode
ser aplicada à interpretação de leis com conteúdos ideológicos diferentes.
No entanto, a dogmática não se concilia com as ideologias que conduzem à
insegurança jurídica na aplicação do direito. Essas ideologias entram para o direito como
conceitos difusos, do tipo de componentes autoritários que fecham o discurso, com a intenção
de emudecer o oponente:
a) Sentimento do povo;
b) Supremo interesse do Estado;
c) Interesses do proletariado;
d) A moral;
e) A ética;
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f) Defesa da sociedade;
g) Segurança nacional etc.
São expressões nas quais cabe o que quiser colocar.
65 - O MÉTODO COMPARATIVO NO DP
É utilizado para o direito penal comparado. Há institutos que se dedicam a isto:
a) Instituo Max Planck Alemanha;
b) Centre Français de Droit Comparé;
c) Instituto Penal Comparado da Universidade de Nova York.
Não é um método em sentido estrito. É uma atividade auxiliar do DP. Ajuda:
a) Na elaboração das leis mostra-nos os graus de tecnização dos textos e a forma de
encarar legislativamente os problemas;
b) Na atividade científica (dogmática) Enriquece o trabalho construtivo pela comparação
das legislações.
66 - PROSCRIÇÃO DA ANALOGIA
Se permite no Direito Civil – art. 4º, da Lei de Introdução ao CC e art. 126, do
CPC, e é vedada no DP.
É vedada porque só a lei do Estado pode dizer onde ele pode ter ingerência
ressocializadora, afetando bens jurídicos com a pena. Daí o princípio da legalidade.
Nem na Inglaterra da common law se permite a analogia para criar delitos. Em
1972 uma decisão da Câmara dos Lordes sacramentou isto.
Só vale in bonam partem.
69 - O PRINCÍPIO DA HUMANIDADE
Exige uma vinculação entitativa entre o delito e a pena e é corolário do princípio
republicano. Na CF está na proibição de penas cruéis – art. 5º, XLVII – O antônimo de pena
cruel é pena racional não pode existir pena que desconsidere o homem – capaz de decisões
– autônomo e ético.
Este princípio impede:
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5ª AULA – 07/04/03
CAPÍTULO V
EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO PENAL
I – CHINA
Nos primórdios históricos conhecia-se a lei das cinco penas:
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a) morte homicídio;
b) amputação de um ou ambos os pés furto e lesões;
c) castração estupro;
d) amputação do nariz fraude;
e) marca na testa delitos menores.
Posteriormente vieram penas mais cruéis:
a) abraçar coluna de ferro incandescente;
b) esquartejamento;
c) espancamento;
d) furar o olho com ferro em brasa;
e) diversas formas de morte;
f) extensão das penas aos parentes, inclusive morte.
Séc. VII a.C.:
a) suprimiu-se a extensão da pena de morte aos parentes;
b) reduziram-se a 5 as penas novamente:
- morte;
- deportação (expatriar, exilar, banir);
- desterro (degredo para algum lugar específico);
- espancamento;
- açoitamento.
Séc. X a.C.: Nenhuma província podia executar a pena de morte sem o cumpra-se
do Imperador.
Em 1312 veio o Código da Dinastia Ming: reconhecia 5 categorias de infrações e
5 tipos de penas. Em 1647 veio o Código da Dinastia Ching: voltou o sistema das 5 penas. E,
por fim, em 1912 veio a República e a modificação das leis.
II - ÍNDIA
Código de Manu Século XIII ou V a.C. (controvertido):
a) A pena tinha função moral, porque purificava aquele que a suportava;
b) Distinguia o dolo, a culpa e o caso fortuito;
c) O deus Brahma delegava a faculdade de punir, numa sociedade altamente estratificada;
d) Dependendo da hierarquia do grupo social algumas pessoas não eram punidas;
e) O homem de casta superior – conhecia de cor as leis – podia cometer impunemente
qualquer fato – mistura com religião.
III - EGITO
Também tinha uma organização teocrática. Penas:
a) morte simples ou qualificada conduta contra a religião ou Faraó e perjúrio (juramento
falso). A pena se estendia a ascendentes, descendentes e irmãos;
b) amputação de mãos falsificação;
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c) castração estupro;
d) amputação da língua revelação de segredos;
e) mutilação, desterro, confisco, escravidão, trabalho forçado em minas eram outras penas
aplicadas.
Mais tarde a pena de morte foi substituída pela amputação do nariz, e, depois, esta
pelo desterro.
IV - CALDÉIA
DP com matiz ético-religioso:
a) Maldição (pena mais grave) invocação aos deuses para que descarregassem desgraças
sobre a pessoa;
b) Um dos maiores delitos era a negação do vínculo de sangue;
c) Conheciam a pena de multa.
V - BABILÔNIA
É o DP mais antigo conhecido, através do célebre Código de Hamurabi, do século
XXIII a.C.:
a) admitia a composição para delitos patrimoniais, com a devolução do triplo do que havia
sido tomado;
b) morte ladrão surpreendido em flagrante;
c) morte nas chamas ladrão que roubava durante incêndio;
d) morte por afogamento mulher adúltera;
e) introduziu o talião lesão por lesão, morte por morte.
VI - HEBREU
O talião era a característica principal da pena: alguns dizem que só queria dizer
que a pena era proporcional, outros dizem que é literal: olho por olho, dente por dente.
Conheciam mais de 20 tipos de penas de morte, dentre elas:
a) cruz (Jesus);
b) serra;
c) apedrejamento (prostitutas);
d) animais ferozes (primeiros cristãos);
e) pisoteamento por animais;
f) flecha (S. Sebastião);
g) excomunhão etc.
Admitiam também a composição: além do pagamento do prejuízo, mais um
sacrifício religioso.
Os crimes foram baseados nos mandamentos:
a) Primeiros mandamentos idolatria, blasfêmia, feitiçaria, falsa profecia, conjunção carnal
com mulher durante o período menstrual etc.;
b) Guardar o sábado e honrar pai e mãe morte;
40
INCAS
a) Relações sexuais com mulher de outra tribo arrasava a tribo;
b) Nobres tinham penas mais leves;
c) O direito era oral, porque não usavam a escrita.
6ª AULA – 15/04/03
CAPÍTULO VI
A LEI PENAL EM RELAÇÃO AO TEMPO E A PESSOAS QUE DESEMPENHAM
DETERMINADAS FUNÇÕES
Observação:
a) O art. 3º, do CP, excepciona o princípio da retroatividade da lei mais benigna posterior
nesses casos. O fundamento é que se houver retroatividade essas leis perdem a eficácia.
A sua constitucionalidade é duvidosa por dois motivos:
a) A CF não traz essa exceção, ao contrário, diz que em todos os casos retroage a lei mais
benigna;
b) Se o fim da pena é a prevenção especial, vindo leis mais benigna, passado o tempo
excepcional, qual o fim da pena? É ciência ou não é? A ciência não trabalha com exceção.
A retroatividade da lei mais benigna atinge a medida de segurança, porque esta
praticamente eqüivale à pena.
7ª AULA – 22/04/03
TÍTULO II
FUNDAMENTAÇÃO FILOSÓFICO-POLÍTICA DO HORIZONTE DE PROJEÇÃO
DO SABER DO DIREITO PENAL (AS IDEOLOGIAS PENAIS)
CAPÍTULO VII
O SURGIMENTO DO PENSAMENTO PENAL MODERNO: O INDUSTRIALISMO
Os que sabem, ou seja, os que tem acesso à idéia são os donos da verdade e
portanto são superiores aos cegos, que nada sabem, que estão nas trevas e que não tem acesso
às idéias.
No hinduísmo construiu-se a teoria da reencarnação, instrumentalizada para
afirmar que quanto maior a evolução espiritual, obtida através de sucessivas reencarnações,
mais a pessoa subia nas castas, até chegar à casta superior que, por tudo saber, não poderia
jamais errar ou cometer crimes.
Quando a religião é instrumentalizada dessa forma perde seu valor religioso e
tende a reduzir-se a um ritualismo, cujo fim é a perda de legitimidade que leva à crise. Na
Índia isto teve lugar com Buda, que se dá conta dessa instrumentalização da religião e vem
afirmando que o homem encontra a liberdade na verdade, e que esta verdade pode ser buscada
por qualquer homem, só pelo fato de ter a dignidade de ser homem. Sendo assim as castas já
não têm nenhum valor.
Na civilização ocidental, o pensamento estóico teve um papel similar ao do
budismo na Índia.
c) Trasímaco. O direito é a expressão de poder da classe dominante, que impõe seus valores
do bem e do mal às classes dominadas. No séc. XIX estas vão ser as idéias de Marx: o
direito é uma superestrutura ideológica da classe dominante para submeter as classes
exploradas.
107 - SÓCRATES
Embora Sócrates não fale sobre direito penal, ele constrói uma teoria afirmando
que o homem livre não é aquele que faz o que quer, mas aquele que faz triunfar a razão sobre
suas paixões. Quem não faz isto não é livre, é escravo de seus instintos, é ignorante, não
conhece o que é bom e mau. Se soubesse não agiria mal. Isto se chama intelectualismo, que
vai ser aproveitado por teorias idealistas para afirmar que o homem pode ser ensinado,
corrigido, fazendo-o ver a verdade, como por exemplo o correcionalismo de Röder no séc.
XIX.
108 - PLATÃO
Platão criou o idealismo: o real são as idéias e as idéias do bem e do mal são
absolutas, imutáveis. Só alguns iluminados tem acesso às idéias, que depois impõem aos
outros menos iluminados. Esses iluminados são os filósofos. A República de Platão é
estratificada, organizada como um corpo, no qual os que vêem têm a condução do corpo, e os
que não vêem devem obedecer (mãos, pés etc.).
A pena deve ser corretiva e quando não consegue corrigir (fazer com os que não
vêem vejam) deve-se eliminar essas pessoas: corrige-se o corrigível, elimina-se o incorrigível.
Frisar, como Zaffaroni, que o direito penal autoritário circula sobre o objetivismo
valorativo: os valores estão fora de nós e são independentes de nossa valoração as conduta
boas ou más. Isto se faz pela força ou pelo conhecimento maior de seres superiores.
109 - ARISTÓTELES
Para Aristóteles a origem da sociedade não está no contrato, mas é explicada pela
natureza gregária do homem. Este mesmo fundamento será utilizado mais tarde por
Montesquieu, Carmignani e Carrara.
Corolário disto, Aristóteles quis estabelecer o que é comum a todos os seres, ou
seja, a ontologia, e fixou a metafísica. O ser é um ser de entes e não tem sentido sozinho.
O problema deve ser resolvido não no plano teológico, mas no filosófico. O plano
teológico é o plano da fé, cuja verdade não pode ser demonstrada e evidenciada pela razão.
Por isto não pode servir de base ao direito penal.
Mas os valores espirituais não são descartados pelo direito penal. Há verdades de
fé compartilhadas pela maioria da população e o Estado tem direito de defender a forma de
vida e as normas de conduta do setor majoritário, o que na nossa cultura seria a defesa do
culto católico.
Não obstante o Estado não se funda sob verdades de fé, mas sim sobre a razão, daí
que a CF garanta a liberdade de cultos (art. 5º, IV) e por isto é impossível fundar o direito
penal sobre a caracterização teológica do homem, sem prejuízo, no entanto, que por via da fé
criemos pautas individuais de conduta que virão a ser respeitadas pelo Estado.
Mas a pena precisa de uma explicação contratual. Qual a sanção para quem viola
um contrato? A reparação, uma indenização. Mas os homens criminalizados por esse sistema
de controle social não tinham nada para ser expropriado a título de indenização. Daí a noção
da privação da liberdade como privação da capacidade de trabalho. Até então a privação de
liberdade era só preventiva, pois as penas eram corporais.
A pena privativa era ideal, pois podia ser medida em tempo – linear –, da mesma
forma que as mercadorias e a moeda.
Qual a medida para a pena? O talião, como aquela necessária para reparar o mal
causado com o delito.
Kant desenvolveu isto com perfeição. A pena para Kant não é imoral, ou seja, não
instrumentaliza o homem, ou seja, torna-o um meio de alcançar um fim. A pena tem um fim
em si mesmo, derivado da violação do dever jurídico. E a medida da pena será o talião,
devolução da mesma quantidade de dor injustamente causada.
Existe uma ordem moral que é corrompida pelo homem com a prática de um
delito – contra um imperativo categórico. Esta ordem deve ser recomposta com o castigo, que
deve ter a medida do crime.
IV - OS PENALISTAS DO CONTRATUALISMO
O direito penal contratualista se desenvolveu no século XVIII e XIX e dentre
vários autores influenciados por ele temos:
50
8ª AULA – 28/04/03
CAPÍTULO VIII
AS IDEOLOGIAS PENAIS DA CONSOLIDAÇÃO DO PODER DO CAPITAL NOS
PAÍSES CENTRAIS E SUA CRISE
IV - O ORGANICISMO POSITIVISTA
como os delinqüentes eram humanos inferiores, degenerados, sem sentimento dos valores
sociais. Estes devem ser expulsos da sociedade e a pena de morte é mais piedosa que a prisão
perpétua no caso dos irrecuperáveis.
Essa ideologia foi aproveitada na Alemanha, pelo nacional-socialismo de Hitler,
como justificação para eliminação dos judeus. O DP deve proteger a sociedade de quem quer
corrompê-la, ou seja, dos degenerados.
V - AS VARIANTES DO POSITIVISMO
142 - BINDING
É fácil ser positivista quando o legislador é consciente. O problema é quando
descamba a repressão e temos de permanecer positivistas – respeitar leis. Binding viveu numa
época feliz, antes das guerras.
60
Foi um grande jurista alemão, que combateu a versão de delito natural, criticando-
a por ser seletiva, em base social, e tender para um direito da culpabilidade, repressivo, que
oculta as mazelas sociais da sociedade e despreza a dignidade da pessoa humana para
determinadas pessoas.
Criou a famosa teoria das normas. Quem comete um delito não viola a lei,
cumpre-a. Não está escrito: não matará. Viola a norma que é veiculada através da lei. Norma,
portanto, são proibições ou mandatos de ação.
As normas estão fora da lei, mas as conhecemos através das leis e por isto tem
caráter jurídico. Não há normas penais, mas normas jurídicas, algumas sancionadas com uma
pena. Com isto você pode trabalhar a idéia de norma dentro do ordenamento.
9ª AULA – 29/04/03
CAPÍTULO IX
A IDEOLOGIA PENAL NO “ESTADO DO BEM-ESTAR” NOS PAÍSES CENTRAIS
Mas esta não pode ser uma solução simplista, afastando todos os demais
problemas até aqui vistos.
151 - O NEO-ESCOLASTICISMO
O neotomismo foi uma reação ao neokantismo. Foi Vicktor Cathrein no início do
século quem iniciou o movimento.
Parte da afirmação de uma natureza humana que outorga a todos os homens igual
dignidade e por isto não é possível uma ideologia do tratamento. Depois Jacques Maritain
quem desenvolveu estas idéias. A culpabilidade está na base do direito penal, tanto a do autor
como a do fato.
CAPÍTULO X
A IDEOLOGIA PENAL EM PAÍSES CENTRAIS COM DIFICULDADE DE
ACUMULAÇÃO DE CAPITAL PRODUTIVO
b) confunde delitos contra o Estado com delitos contra o sistema político e o partido
governante (partido único). Ex.: Art. 282 Injuriar a honra ou o prestígio do chefe do
governo;
c) esses delitos eram julgados por um tribunal de exceção – político.
Quando tipifica delitos que estão previstos em qualquer código, o faz com um
sentido autoritário:
a) estupro não é um delito contra a liberdade sexual da mulher, mas contra a moral pública e
os bons costumes (elemento de nacionalidade);
b) aborto não é crime contra a pessoa, mas contra a saúde e contra a integridade da estirpe
(bem jurídico da nação);
c) sanciona-se a blasfêmia como delito contra a religião do Estado (não se protege o
sentimento religioso, mas a religião do Estado);
De outro lado:
a) não distingue entre atos preparatórios e executórios. Ex.: pune os que conspiram contra o
Estado;
b) agrava a pena dos delinqüentes habituais ou com tendência para delinqüir, com medidas de
segurança;
c) estabelece a pena de morte para delitos contra o Estado.
Este era o direito penal que assegurava um Estado que pretendia atingir um
desenvolvimento acelerado para superar o subdesenvolvimento (milagre econômico
brasileiro) e para garantir a própria unidade do Estado na Itália, desfalcado por emigrações e
pelo subdesenvolvimento de determinadas regiões. Isto degenerou para a guerra.
O positivismo e o idealismo neo-hegeliano foram utilizados como ideologia desse
Estado.
2) Política nacional-socialista
O nazismo, partindo do Estado como “comunidade do povo”, fundada sobre a
comunidade de “sangue e solo”, e sustentada pelo mito da raça ariana, embora não construísse
um Código Penal, gerou leis de alta repressão. A pena não tinha conteúdo vingativo, nem de
prevenção. Sua finalidade era segregar quem atacava a integridade do povo alemão.
Algumas leis:
a) 1933 sancionado o mero planejamento de delitos (nem era ato preparatório);
b) 1935 planejar homicídio de dirigentes do partido, recebia a pena de morte;
c) 1936 sancionada a relação sexual entre arianos e judeus;
d) 1936 criaram-se graus de pena de morte: fuzilamento para militares; decapitação com
machado para delinqüentes comuns, forca para crimes políticos;
e) 1936 delitos políticos eram julgados por tribunal de exceção;
f) 1933 introduzida a esterilização como medida de segurança e a castração para certos
delitos sexuais;
g) 1935 foi eliminado o princípio da legalidade, de modo que passou a ser crime qualquer
ato contra a idéia fundamental de uma lei penal e ao sentimento do povo, que eram punidos
por analogia com uma lei parecida.
68
c) disse que o princípio da causalidade puro e simples não é suficiente como princípio
jurídico. É necessário que se prove a intenção perversa;
d) é preciso que se reconheça que o homem se autodetermina, embora possa sofrer influências
externas ou internas, mas tem capacidade de superá-las. Daí a pena ressocializadora;
e) critica o positivismo que dizia que não pode ser justificado perante a razão, bem como o
autoritarismo do pós-guerra como um cinismo utilizado para alcançar a neutralização do
adversário.
2) João XXIII Gostava de visitar prisões e institutos de menores. Por ocasião de uma
dessas visitas salientou:
a) A importância da antropologia criminal: o delinqüente precisa ser compreendido, para o
que precisa ser estudado;
b) Somente compreendidas é que as pessoas delinqüentes podem ser julgadas e reeducadas
para uma serena inserção na vida social.
3) Papa Paulo VI Dirigindo-se aos assistentes do X Congresso Internacional de Direito
Penal de 1969, disse que:
a) Há na obra do penalista um ponto capital que é a salvaguarda dos direitos do homem;
b) A responsabilidade é de assegurar os direitos do culpado como também do inocente;
c) O delinqüente conserva sempre uma dignidade e direitos que é necessário garantir de
forma absoluta contra a arbitrariedade;
d) A pena deve tender à reeducação do delinqüente e à reintegração do culpável à sociedade,
com sua inteira dignidade de pessoa humana.
4) João Paulo II Afirmou em suas inúmeras preleções:
a) todas as formas de injustiça que se manifestam em nossa época sejam sujeitas a
consideração e sejam realmente remediadas, e que todos possam ter uma vida digna de
homem.
CAPÍTULO XI
PANORAMA ATUAL DO PENSAMENTO PENAL E A PROBLEMÁTICA
PERIFÉRICA
159 - EXISTENCIALISMO
Também hoje temos o confronto de teorias idealistas e realistas, com tendência ao
idealismo, tendo em vista a crise do Estado do bem-estar social.
Os Estados estão impedidos de investir no social e precisam preservar suas pautas
de produção e controlar o desemprego.
O sistema de produção mundial se estruturou em cima do petróleo, combustível
natural não-renovável, e a guerra do Iraque é um exemplo do que se pode fazer para garantir
energia por mais alguns anos. De outro lado, a oscilação de seu preço faz com que mude todo
o rumo de uma economia, com sofrimento evidente de países pobres.
70
Heidegger eleva o homem além da concepção biológica, mas não se eleva até a
teologia: cria uma antropologia existencial.
g) Os valores: Heidegger critica o objetivismo valorativo e as posições idealistas. O homem
se constrói. E isto é sua maior contribuição para o direito penal. Não existe uma imagem
perfeita e acabada do que o homem é. Ele se constrói no mundo em que é jogado, numa
existência que pode ser autêntica ou inautêntica.
a) a guerra exige que se sacrifiquem liberdades para a “ordem” (utilidade), porque se vive
uma situação extraordinária de necessidade;
b) No entanto, não se deve aplicar o direito de guerra, mas o direito nacional com argumentos
de guerra. Superam-se todos os direitos humanos;
c) O delito comum deve ser castigado severamente para reforçar o sentimento social
(Durkheim);
d) O delinqüente comum é o inimigo interno (Garofalo);
e) Em qualquer caso o delito deve ser punido, retribuindo o mal do crime com o mal da pena
(Kant) haja ou não necessidade.
Embora sem unidade teórica, foi um suporte ideológico de um momento histórico
da América Latina.
Embora superado, a sua realidade autoritária não desapareceu. Adotou-se nova
roupagem: a ideologia da segurança urbana, utilizando-se dos mesmos instrumentos:
a) atores políticos procuram clientela eleitoral com leis repressivas, sem nenhum contexto
ideológico coerente;
b) mesclam-se argumentos moralistas, perigosistas e de segurança nacional;
c) organizam-se cruzadas nacionais e internacionais contra o crime;
d) o medo e a redução de espaço político – esquerda – para tentar uma solução mais racional
para os conflitos sociais, favorecem uma transferência do poder à hegemonia das forças
armadas na época da segurança nacional, hoje, em época de segurança urbana, transferida
às polícias. E o Ministério Público atrás.
CAPÍTULO XII
OS CAMINHOS ABERTOS PARA UMA FUNDAMENTAÇÃO ANTROPOLÓGICA
DO DIREITO PENAL
171 - A DISTINÇÃO
Por efetivo se entende um direito penal que é capaz de desempenhar a função que
lhe incumbe no atual estágio de nossa cultura. A função é de auto-realização humana, ou seja,
garantia de que eu possa dispor de meus bens jurídicos para me realizar na coexistência. É
efetivo o DP que garante a minha existência.
Um direito penal que não garanta isto não é efetivo e gerará tensões sociais e
conflitos que acabarão destruindo a sua vigência ou eficácia. Mesmo assim será direito penal
e estará vigente enquanto for sustentado.
Se a carência de efetividade for tão grande que afete o horizonte de projeção da
ciência jurídico-penal, este será só um exercício de poder e não será um direito penal. E só
será efetivo se respeitar a condição humana, sirva ao homem a partir que reconheça a
condição humana – antropologicamente fundado.
Um direito penal efetivo baseia num homem não só racional, mas também
emotivo, e tem certas características:
a) Não pode basear-se em um ser derivado do valor:
O DP quer facilitar a vocação da consciência individual, não pretende extrair da
consciência uma ética material que seja aplicada a todos.
É um utilitarismo, mas um utilitarismo humano. O DP tem de ser útil ao homem,
tem de servir para alguma coisa. E sua utilidade está na possibilitação de existências
simultâneas (a coexistência é a única forma de existência).
O máximo que podemos aspirar é a um direito penal que seja útil para facilitar a
coexistência.
O objetivismo valorativo é mais fácil de trabalhar: construo um modelo de homem
e modelo todos segundo este exemplo. Aparentemente dá mais segurança, mas na prática
destrói o homem.
A crítica que se faz ao existencialismo no DP é que traz constantes dúvidas. Mas
esta é justamente a sua força. Existencialmente falando a dúvida é um aspecto da angústia,
que leva ao homem a uma existência autêntica.
b) Não terá por base um racionalismo nem um voluntarismo puros:
O homem não é pura razão, nem puro voluntarismo. É uma mescla. A razão, o
conhecimento, não obriga o homem, não obriga a vontade. Só orienta, guia, de modo que sem
conhecimento ela se perde.
Não se deve pensar que o racional é humano e o irracional é animal. O homem é
os dois. A vontade não nasce da razão.
c) Deve ter base realista:
Todo idealismo penal aliena, pois encobre o ser do homem. O conhecimento não
cria o “ente”, ele só o torna compreensível (Heidegger).
O caminho do conhecimento não pode ser arbitrário. O mundo não se esgota
numa transcendência subjetiva, mas todo questionamento é uma busca, e toda busca tem uma
direção, que é indicada por aquilo que se busca (Heidegger).
d) Não pode ser fundado num conhecimento adquirido pela fé:
O conhecimento pela fé é distinto do conhecimento racional. O sujeito da fé é o eu
individual, enquanto o sujeito da ciência é o eu formal, genérico, que coexiste. Se o eu e o tu
se encontram em algo descoberto pela fé, é porque ambos descobriram o mesmo, mas não
porque um o tenha demonstrado ao outro. Fundar o DP na fé é impor ao outro o que eu
conheço, é um exercício de poder sobre o tu.
e) Não pode basear-se num puro saber científico:
A consciência é algo original no homem, algo que não tem a forma de um ente
qualquer, e sim de homem.
Alguns procuram buscar essa consciência no alto, buscando a Deus. Constróem
um DP da fé, misturando direito e moral, e em afirmações que não são demonstráveis.
Outros procuram buscar essa consciência para baixo, na biologia. Constroi-se um
conceito naturalista do homem, que não distingue o homem das coisas. O homem torna-se
impessoal, cujo ser normal tem características próprias de homem, mas não compreende nada.
f) Deve possibilitar a liberdade mediante a segurança jurídica (condição externa):
79
FICHAMENTO DO LIVRO:
MANUAL DE DIREITO
PENAL BRASILEIRO
PARTE GERAL
2º BIMESTRE
82
Segunda Parte:
TEORIA DO DELITO
83
TÍTULO I
ESTRUTURAÇÃO DA TEORIA DO DELITO
CAPÍTULO XIII
NECESSIDADE DA TEORIA DO DELITO
CAPÍTULO XIV
ESBOÇO ESTRUTURAL
Quando a conduta típica não está permitida, diremos que, além de típica ela
contraria a ordem jurídica como um todo, porque não existe nenhum preceito em nenhuma lei
justificando essa conduta. A isto se chama de ANTIJURIDICIDADE. Dizemos que delito,
então, é um conduta típica e antijurídica.
Se continuarmos a ler os arts. 13 a 28, veremos que há hipóteses em que se deduz
que mesmo uma conduta típica e antijurídica não é delito, porque se referem a condutas que
são claramente típicas, para as quais não existe nenhuma permissão no ordenamento, e mesmo
assim não são delito. Ex.: loucos. O louco realiza uma conduta típica e antijurídica, mas que
não é delito.
A doutrina chama uma conduta típica e antijurídica de INJUSTO PENAL
(conduta + tipicidade + antijuridicidade), reconhecendo que esse injusto não é ainda um
delito. Para ser um delito é necessário que seja reprovável, ou seja, que o autor de uma
conduta típica e antijurídica tenha tido a possibilidade exigível de se comportar de outra
maneira.
A esta característica chamamos de culpabilidade.
Assim:
TÍTULO II
A CONDUTA
CAPÍTULO XV
CONCEITO E FUNÇÃO DA CONDUTA
Se fosse eliminado o princípio nullum crimen sine conducta, o delito poderia ser
qualquer coisa, abarcando a possibilidade de penalizar o pensamento, a forma de ser, as
características pessoais etc. Se quisermos um direito penal que defenda um mínimo de
respeito à dignidade da pessoa humana, não podemos deixar de afirmar que a conduta, no
conceito ôntico-ontológico é a base do direito penal.
II - A QUESTÃO TERMINOLÓGICA
da natureza
involuntários
do homem
voluntários (condutas)
Uma vontade sem conteúdo não é vontade. É filha de uma visão idealista, porque
sob o aspecto realista é absurda. Fica claro que: para uma análise do delito que toma como
base o realismo, a vontade implica finalidade, de tal forma que a expressão “vontade final”
resulta tautológica. Como não existe conduta sem vontade e a vontade sem finalidade, a
conduta requer sempre uma finalidade.
IV - ESTRUTURA DA CONDUTA
CAPÍTULO XVI
OUTROS CONCEITOS DE CONDUTA E SUA CRÍTICA
conceituava conduta assim: Deve-se entender por ação um comportamento corporal (fase
externa, objetiva da ação) produzido pelo domínio sobre o corpo (liberdade de enervação
muscular, voluntariedade) (fase interna, subjetiva da ação); isto é, um comportamento
corporal voluntário, consistente em um fazer (ação positiva, movimento corporal) ou em um
não fazer (omissão), ou seja, distensão dos músculos.
Hoje está claro que conduta não é só um comportamento corporal ou a distensão
dos músculos, porque não existe conduta sem vontade e esta sem finalidade. Ex.: quando
movo um dedo não o faço só por um movimento corporal, mas com a finalidade de brincar,
tocar, coçar etc. A vontade sem conteúdo não é vontade.
Este conceito ficou abalado quando o positivismo mecanicista começou a revelar-
se como falso. O mundo não era só um conjunto de causas e efeitos. O conceito naturalista
(mecanicista) de ação já não era tão natural. Era uma invenção que nada tinha a ver com a
realidade da ação, especialmente com relação à omissão como exteriorização de uma
distensão muscular. Ex.: a mãe que deixa de alimentar o filho, para que morra de fome e sede,
não distende qualquer músculo, se na hora que deixa de dar comida ao filho passa a fazer
ginástica.
Era fácil fazer teoria do delito “natural”. Num esquema em que o conceito
naturalístico de conduta escondia unicamente um processo causal, resultava fácil conceber o
injusto como a causação objetiva de um resultado danoso e a culpabilidade como a sua
causação subjetiva. Mas se a conduta deixava de ser um processo causal – como no caso da
omissão – porque se reconhecia um conteúdo à vontade, o processo desmoronava. (v. n. 183).
Quando este conceito começou a fazer água, porque não correspondia à realidade,
os autores descartaram a realidade (o conceito de conduta não é realístico), mantiveram o
mesmo esquema, criaram um conceito de conduta que diziam não ser “natural”, mas
elaborado para uso doméstico do direito penal. Esta corrente foi a do neokantismo.
ggg) Apoiou-se, depois, no neokanismo de Baden (ver n. 149). A primeira foi chamada de
estrutura clássica do delito. Esta de neoclássica, desenvolvida por Mezger.
A conduta como conceito final não era uma conduta humana em sua realidade, era
um conceito voluntário, como no mecanicista, desprovido de conteúdo.
Como fizeram isto? Afastando-se da realidade, indo para o idealismo, caminho
bem conhecido do pensamento humano. O conceito causal de ação passou a ser sustentado
pelo idealismo. O neokantismo, que é tributário das teorias do conhecimento em que este cria
o objeto que conhece, veio em socorro do conceito causal da ação. Se o universo é um caos e
a ordem jurídica nele põe ordem, isto implica o desconhecimento de outras ordens – realidade
– e nada obsta a que, ao “pôr ordem”, a vontade fique sem conteúdo. Há um profundo
desprezo pela realidade em prol de uma visão idealista.
coisa além de condutas humanas, pois do contrário deixa de ser direito, ao menos como o
conhecemos hoje.
formas. Seguem, assim, uma sistemática finalista do delito, ainda que não aceitem em sua
totalidade o conceito finalista de ação. Por este caminho, ação é ação realizadora do tipo, com
o que a tipicidade passa para o primeiro plano e o conceito de conduta com caráter genérico e
pedra angular de todo o sistema se torna secundário.
São critérios que não podem ser admitidos do ponto de vista realista. A conduta
não nos pode dizer coisa alguma acerca da proibição da conduta (como pretendem os
partidários da teoria social), mas tão-pouco a proibição nos pode dizer algo sobre o ser da
conduta (como pretende o conceito sistemático), e sim apenas a respeito dos caracteres de
certas condutas que são proibidas.
As condutas não se tornam condutas por estarem proibidas, mas, por estarem
proibidas – entre outras coisas – por serem condutas.
CAPÍTULO XVII
AUSÊNCIA DE CONDUTA
I - PANORAMA
210 - DELIMITAÇÃO
A doutrina chama a força física irresistível de vis absoluta: são hipóteses que
opera sobre o homem uma força de tal proporção que o faz intervir como uma mera massa
mecânica. Exemplos:
mmm) Não há delito de dano (art. 163), quando um sujeito que está diante de um armário
cheio de cristais é empurrado contra ele, quebrando o que ali estava guardado;
nnn) Não há homicídio (art. 121) quando o sujeito é empurrado contra uma anciã, por um
grupo de 50 pessoas, de tal forma que ela fica pressionada entre a parede e ele, morrendo
asfixiada;
ooo) Não há lesões leves quando um sujeito que está sentado à borda de uma piscina recebe
um empurrão, que o faz cair dentro d’água, com isto causando lesões a uma banhista;
ppp) Não há homicídio culposo por parte de um condutor de um veículo a quem a
acompanhante agarra as mãos, fazendo desviar o volante, com isto provocando a morte de
um pedestre;
qqq) Não há lesões se o sujeito tem o braço agarrado e arremessada contra uma pessoa,
causando-lhe lesões;
99
rrr) Não há difamação daquele que tem o braço forçado a escrever uma carta difamatória.
Mas não devemos confundir a força física irresistível com a coação do art. 22, que
sempre constitui uma limitação da vontade. Há vontade, mas limitada. Exemplos:
sss) ameaça-se incendiar o automóvel de um indivíduo se ele se recusar a quebrar uma
vidraça;
ttt)o indivíduo aperta a anciã contra a parede, pois, do contrário, seriam ambos derrubados e
pisoteados pelas 50 pessoas;
uuu) o indivíduo joga-se na piscina porque um cachorro enraivecido investe contra ele;
vvv) o indivíduo joga o seu veículo contra outro para evitar bater de frente com um
caminhão.
Nestes casos o indivíduo dirige a vontade, que é motivada por uma ameaça. A
conduta não está livremente eleita, mas constrangida pela ameaça. Há vontade e, portanto,
conduta. Trata-se nestas hipóteses de causas de justificação ou de exclusão da culpabilidade, e
não de ausência de conduta.
eeee) O sujeito se coloca em frente a uma cristaleira para que outro o empurre e quebre assim
os cristais. Haverá conduta de dano.
III - INVOLUNTARIEDADE
TÍTULO III
A TIPICIDADE
CAPÍTULO XVIII
ESTRUTURA DOS TIPOS PENAIS E SUAS RELAÇÕES COM A
ANTIJURIDICIDADE
Mas, às vezes o legislador agrega ao tipo conceitos que são sustentados por um
juízo valorativo jurídico ou ético.
1) Quando o art. 213 refere-se à “mulher”. Precisar “o que é mulher” não requer valoração
alguma. Mas quando o art. 215 (posse sexual mediante fraude) refere-se à “mulher honesta”, é
um conceito que obrigatoriamente tem de se estabelecer de acordo com a ética social;
2) Quando o art. 155 fala em “subtrair coisa alheia móvel”, obrigatoriamente temos de
conceituar o valor de “móvel” e veremos que ele será dado pelo Código Civil. Esses
elementos valorativos que às vezes aparecem nos tipos se chamam de elementos normativos
do tipo penal.
bbbbb) A função dos tipos é a individualização das condutas humanas que são
penalmente proibidas
A necessidade lógica do tipo é ditada por esta função.
IV - TIPICIDADE E ANTIJURIDICIDADE
c.1 Teoria dos elementos negativos do tipo Sustentada por Helmuth von
Weber
Afirmada a tipicidade, resultará também afirmada a antijuridicidade. As causas de
justificação eliminam a tipicidade, comportando-se como elementos negativos do tipo.
A crítica é que retroage a teoria do delito ao tempo em que ela era bipartida:
injusto e culpabilidade
c.2 Teoria do tipo de injusto Sustentada por Paul Bockelmann
Diz também que o tipo implica a antijuridicidade, mas esta pode ser excluída por
uma causa de justificação em uma análise posterior ao tipo.
A crítica é que ela não procede racionalmente, porque não é coerente que um
estrato afirme aquilo que no seguinte pode ser negado, que num estrato se ponha o que no
seguinte se tira.
LEGISLADOR
JUIZ
O tipo pertence à lei, mas a norma e o bem jurídico não pertencem à lei. Estes são
conhecidos através do tipo e limitam o seu alcance.
231 - A ANTINORMATIVIDADE
O tipo nasce de um interesse do legislador no ente que valora. Eleva-o a categoria
de bem jurídico, enuncia uma norma para tutelá-lo, a qual se manifesta em um tipo legal.
Conclusão: a conduta que se adequa a um tipo será necessariamente contrária à norma que
está anteposta ao tipo e afetará o bem jurídico tutelado. Exemplo:
sssss)A conduta adequada ao tipo penal do art. 121 será contrária à norma não matarás e
afetará o bem jurídico vida humana;
108
ttttt) A conduta adequada ao tipo penal do art. 155 será contrária à norma não furtarás e
afetará o bem jurídico patrimônio.
Isto significa que a conduta, pelo fato de ser típica, necessariamente é
antinormativa.
Mas não se pense que a conduta que se adequa formalmente a uma descrição
típica só por isto é típica. Que uma conduta seja típica, não significa que é antinormativa, ou
seja, que esteja proibida pela norma (não matarás etc.).
O tipo é criado pelo legislador para tutelar o bem contra condutas proibidas pela
norma. Desse modo, o juiz não pode considerar típica uma conduta formalmente típica, mas
que realmente não é contrária à norma e nem lesa o bem jurídico tutelado.
A antinormatividade requer um estudo sobre:
uuuuu) o alcance da norma que está anteposta e que deu origem ao tipo legal;
vvvvv) a afetação do bem jurídico.
Esta investigação é uma etapa posterior ao juízo de tipicidade. Uma vez
comprovada a tipicidade legal, indaga-se sobre a antinormatividade. Comprovada esta é que
se pode afirmar a tipicidade penal da conduta.
A tipicidade penal pressupõe a legal, mas não a esgota. A tipicidade penal requer
que a conduta, além de enquadrar-se no tipo legal, viole a norma e afete o bem jurídico – a
isto se chama antinormatividade.
Ex.: a lei resigna-se que um vizinho subtraia uma jóia valiosa de seu vizinho para pagar a
internação do filho gravemente enfermo, mas não fomenta, muito menos ordena, essas ações.
240 - CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS PENAIS EM RAZÃO DOS BENS JURÍDICOS AFETADOS
A doutrina e os Códigos classificam os tipos de acordo com os bens jurídicos
afetados:
111
cccccc) O primeiro critério de classificação foi o religioso, dado pelo Decálogo. Depois
foi substituído pelos delitos contra o Estado. Hoje, a partir do CP da Baviera de 1.813,
voltou-se a uma classificação personalista. Primeiro protegem-se os delitos contra as
pessoas, a honra, o estado civil...;
dddddd) Outro critério de classificação dos tipos é quanto a intensidade de afetação dos
bens jurídicos. Nesse sentido, podem ser qualificados ou privilegiados, sempre em relação
a um tipo fundamental ou básico. Ex.: art. 121 (básico), § 1º (privilegiado) e § 2º
(qualificado).
eeeeee) Outro critério é da agravação ou atenuação do delito em razão de uma maior ou
menor culpabilidade. Isto ocorre quando a lei adota como critério os motivos do crime ou o
estado psíquico do sujeito, questões que pertencem à culpabilidade. Ex.: homicídio por
relevante valor social – art. 121, § 1º.
ffffff)Por fim, outro critério é pelo número de bens jurídicos que o tipo tutela. Fala-se em
tipos com bem jurídico simples e complexo. O art. 121 é simples. Tutela a vida. O art. 158
(extorsão) é complexo, porque tutela a liberdade de determinação e o patrimônio.
CAPÍTULO XIX
TIPOS ATIVOS DOLOSOS: ASPECTO OBJETIVO
II - A ALTERAÇÃO FÍSICA
jjjjjj) antes de falar as ondas não transmitiam meus sons, nem irritavam o tecido nervoso do
ouvinte;
kkkkkk) antes de sentar não havia deslocado uma massa de ar que agora ocupa um outro
lugar.
Por isto, não é importante saber se um crime é material ou formal, como por
exemplo:
llllll) Art. 121 – crime material ou de resultado – porque ocorreu o resultado morte;
mmmmmm) Art. 213 – crime formal ou pura atividade – a ação é inseparável do
resultado (da alteração física) conjunção carnal está implícita no resultado haver penetrado.
nnnnnn) Art. 147 – crime formal – só descreve a conduta, admitindo qualquer resultado
que afete o bem jurídico.
Esta distinção não tem sentido, porque toda conduta implica num resultado. Ex.: o
resultado de passar uma ponte é que antes eu estava de um lado e agora de outro.
Todos os tipos requerem um resultado:
oooooo) alguns mencionam expressamente qual resultado querem;
pppppp) outros vinculam o resultado expressamente à conduta. Penetrar a vagina é estupro;
qqqqqq) outros limitam-se ao puro resultado da conduta, desinteressando de outro que
porventura venha a acontecer. Ameaça.
245 - OS SUJEITOS
Os sujeitos de delito podem ser ativos e passivos.
rrrrrr)Sujeito ativo É o autor da conduta típica.
Normalmente é qualquer pessoa. Neste caso, se chamam delitos comuns. Outros
requerem características especiais no sujeito passivo, e dão lugar aos delitos chamados de
próprios, que obedecem a características naturais. Ex.: art. 124; ou a requisitos jurídicos (ser
funcionário público no art. 312).
Segundo o número de sujeitos ativos, alguns crimes podem ser cometidos só por
um ou por vários sujeitos. Se podem ser cometidos por um ou vários sujeitos, chamamos de
unisubsistentes. Às vezes o tipo exige um número maior de pessoas. Aí se chama de delito
plurisubsistente, como é o caso do art. 288, o furto em concurso de pessoas etc.
ssssss) Sujeito passivo é o titular do bem jurídico tutelado.
Às vezes num crime há dois sujeitos passivos. Roubo de um banco em que o
ameaçado é o gerente. Crime contra a liberdade e contra o patrimônio.
246 - AS REFERÊNCIAS
tttttt) Tipos de formulação livre podem ser cometidos por qualquer meio. Ex.: matar
alguém;
uuuuuu) Tipos de formulação casuística Exigem determinados meios. Ex.: 121, § 2º, III;
vvvvvv) Tipos circunstanciados quando há exigência de circunstância de;
wwwwww)tempo 123 – durante ou logo após o parto;
xxxxxx) lugar 164 – em propriedade alheia;
yyyyyy) modo 121, § 2º, IV – a traição;
zzzzzz) ocasião 157, § 2º, III – vítima em serviço de transporte de valores.
IV - CLASSIFICAÇÕES SECUNDÁRIAS
CAPÍTULO XX
TIPOS ATIVOS DOLOSOS: ASPECTO SUBJETIVO
ccccccc) Todos os tipos dolosos exigem uma congruência (coerência, harmonia de uma
coisa com o fim a que se destina) entre seus aspectos objetivo e subjetivo;
ddddddd) Há tipos em que basta a congruência simétrica (correspondência em grandeza de
partes situadas em lados opostos de uma mesma linha), ou seja, o tipo subjetivo contém o
querer da realização do tipo objetivo (dolo);
eeeeeee) Há tipos dolosos em que a congruência é assimétrica, ou seja, o tipo exige algo
mais que a realização do tipo objetivo. Esse algo mais é chamado de “elemento subjetivo
do tipo distinto do dolo”.
II - CONCEITO DE DOLO
rrrrrrr) Como as regras do art. 73 e 74 são de aplicação da pena, sem criar qualquer
alteração quanto à natureza das tipicidades, não existe razão político-criminal que
justifique o entendimento da não punição da tentativa. De modo que se pune a tentativa.
2) Erro no objeto
O erro no objeto ocorre quando se crê dirigir a conduta contra um objeto, mas na
realidade ela se dirige e atinge outro. Quando os objetos não são equivalentes, não há
problema, pois desaparece o dolo:
sssssss) Alguém quer bater no vizinho e por causa da escuridão confunde-o com o
macaco;
ttttttt)Não há dolo de furto se alguém se apodera de coisa própria acreditando ser alheia;
uuuuuuu) Não há dolo de adultério se o sujeito pratica sexo com a própria mulher
acreditando ser outra.
Desaparece o dolo porque dolo é o querer; a realização do tipo objetivo com o
conhecimento de seus elementos. Na realidade esses elementos não existiram, existindo só na
imaginação do autor, o que não é punível.
O problema surge quando os objetos são equivalentes. Aqui o desvio resulta
irrelevante para o dolo.
vvvvvvv) Quem confunde seu vizinho com um inimigo e mata seu vizinho comete
homicídio.
A diferença com a aberratio ictus é que nesta a ação é dirigida contra uma pessoa
e atinge outra. No erro quanto a pessoa a conduta é dirigida contra uma pessoa e consumada
contra esta pessoa.
O erro quanto ao objeto, quando os objetos são equivalentes para o tipo, é um erro
de motivação, que pode ser um problema de culpabilidade, mas não para a tipicidade, porque
os motivos não alteram a tipicidade.
O art. 20, § 3º estabelece que “o erro quanto a pessoa contra quem o crime é
praticado não isenta de pena”.
Muito embora não se estabeleça expressamente a irrelevância de pessoa, isto
resulta da conseqüência lógica dos princípios do CP.
Na 2ª parte, o § 3º diz “não se consideram, neste caso, as condições ou qualidade
da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime”.
Isto deve ser examinado com cuidado.
wwwwwww) A lei fala em crime. Portanto, pressupõe ter sido praticado um crime. Se a
ação é dirigida contra uma pessoa que não possui as qualidades típicas necessárias para que
a conduta possa ser considerada crime, muito embora o agente, por erro, considere que
essa pessoa tivesse essas qualidades, não existe crime tentado ou consumado.
xxxxxxx) Aquele que pretendendo oferecer vantagem indevida a funcionário público,
oferece-a a um vizinho deste por erro quanto a pessoa, pratica uma conduta atípica do art.
333. Nem há tentativa porque nada ofereceu a um funcionário público.
yyyyyyy) Outra coisa é quando a ação praticada contra outra pessoa também é típica
(especialmente nos tipos simples e qualificados).
Temos duas hipóteses:
zzzzzzz) A ação é praticada contra intraneus (o autor quer injuriar um homem determinado
e acaba injuriando o Presidente da República por erro), quando a fórmula legal tem plena
aplicação como decorrência do dolo, mas que não é o dolo do crime mais grave (existe
118
dolo de injúria, mas não dolo de injúria contra o Presidente da República. É art. 140 e não
141, I);
aaaaaaaa) No caso contrário a regra do art. 20, § 3º, é inaplicável. O autor quer injuriar o
Presidente da República e por erro injuria o vizinho. Em tal situação não existe o tipo
objetivo, ou seja, o Presidente da República não foi injuriado, e por isto não é possível
subjetivar um requisito do tipo objetivo.
O princípio da legalidade exige, para aplicação de uma pena, que uma ação típica
seja praticada, e neste caso, não se injuriou o Presidente da República A imaginação do autor
não pode criar a tipicidade objetiva porque o princípio da legalidade impede a criação de
tipos, neste caso, agravantes típicas.
3) Dolus generalis
É um erro sobre a causalidade, em que o autor crê que alcançou o resultado, mas
na realidade este sobreveio de um curso causal posterior. Exemplo: um sujeito crê ter matado
a vítima a pancadas, mas na realidade esta está desmaiada. Para simular suicídio pendura-a
numa árvore e ela morre por enforcamento.
Há dois entendimentos:
bbbbbbbb) Há conduta única. O erro é irrelevante. É homicídio doloso consumado.
cccccccc) Há duas condutas e um desvio causal relevante. Há tentativa de homicídio em
concurso formal com homicídio culposo.
Zaffaroni diz que há de prestar atenção em duas hipóteses:
dddddddd) Se na realidade há uma só conduta, é irrelevante se a morte se deu por pancadas
ou por enforcamento. Aqui é necessário um plano unitário, uma unidade de decisão. Matar
e suspender numa árvore para simular suicídio.
eeeeeeee) Se há dois planejamentos sucessivos da causalidade, há duas condutas. O sujeito
quer matar a pancadas, e quando pensa já ter causado a morte pendura-a numa árvore,
matando-a por enforcamento para simular suicídio. Há tentativa de homicídio e homicídio
culposo em concurso formal.
A conduta é final:
llllllll) no primeiro caso de caçar urso;
mmmmmmmm) no segundo de levar seu próprio casado;
nnnnnnnn) no terceiro uma conduta de curar.
Em todos esses casos desaparece a finalidade típica, a vontade de realizar o tipo
objetivo. Se não há querer não há dolo.
Dolo é querer a realização do tipo objetivo. Quando não se sabe que se está
realizando o tipo objetivo este querer não pode existir e, portanto, não há dolo, este é o erro de
tipo.
Mas existe outro tipo de erro:
oooooooo) quem dispara sobre um homem crendo que este estava prestes a matá-lo e,
portanto, está em legítima defesa, também age com erro. Só que este erro não exclui a
vontade de matar (o dolo). É o chamado erro de proibição, que é problema da
culpabilidade.
O erro de proibição elimina a exigibilidade de conduta diversa, ou seja, de
compreender a antijuridicidade, e por isto sua conduta não é reprovável. Só tem sentido esta
diferenciação erro de tipo e proibição no marco de uma teoria finalista do delito. Se fosse
causalista seria erro de fato e de direito, ambos na culpabilidade.
Diferenças:
pppppppp) O erro de tipo afeta o dolo; o de proibição, a compreensão da antijuridicidade;
qqqqqqqq) O erro de tipo acontece quando o homem não sabe o que faz. No erro de proibição
ele sabe o que faz, mas crê que sua conduta não é contrária à ordem jurídica;
rrrrrrrr) O erro de tipo elimina a tipicidade dolosa, o de proibição pode eliminar a
culpabilidade.
Exemplos:
“A” aciona uma arma crendo que ela estava “A” crê que vai ser morto por um ladrão e
descarregada, mas ela estava carregada e nele dispara para defender-se. Na realidade
causa a morte de “B” era seu filho “B”
Uma mulher grávida ingere um tranqüilizante Uma mulher grávida, proveniente de um país
que tem propriedades abortivas e acaba em que o aborto não é crime, ingere um
provocando nela um aborto. abortivo, crendo que não é proibido fazê-lo.
Um estudante dá um analgésico a um Uma mulher gorda dá um barbitúrico a sua
companheiro, e na realidade trata-se de um amiga, para emagrecimento, ignorando que é
barbitúrico. proibido.
Um cliente de uma loja toca um jarro sem Um indígena quebra um brinquedo em uma
saber que serve de apoio a uma prateleira, que loja porque crê – de acordo com sua crença –
despenca e quebra um brinquedo. que tem poderes maléficos e que lhe causará a
morte.
Um sujeito leva o casaco de uma outra pessoa Um sujeito leva um casaco alheio, pensando
pensando ser o seu. usá-lo e devolvê-lo no dia seguinte, crendo
que isto não é delito.
O erro de proibição será estudado depois, na culpabilidade.
120
264 - AS DISTINTAS CLASSES DE DOLO SEGUNDO SEU ASPECTO VOLITIVO: O DOLO DIRETO
1) Dolo direto O autor quer diretamente a produção do resultado típico, seja
como o fim diretamente proposto (dolo direto de 1º grau) ou como um meio para obter o fim
(dolo direto de 2º grau). Exemplo:
uuuuuuuu) Um sujeito quer matar outro e desfere contra ele 5 tiros na cabeça = dolo direto de
1º grau.
vvvvvvvv) Um sujeito quer matar outro. Sabe que ele vai pegar um avião. Coloca um
explosivo em sua bagagem e acaba matando todo mundo (dolo direto de 2º grau).
As duas categorias estão abrangidas pelo art. 18, I, do CP.
121
fffffffff) Matar para assegurar a execução, a ocultação ou a impunidade de outro crime são
tendências internas transcendentes.
CAPÍTULO XXI
TIPOS CULPOSOS
de cuidado, enquanto não tenha razão suficiente para acreditar no contrário, ou duvidar.
Exemplo:
wwwwwwwww) Se o condutor vê a ação culposa do pedestre e mesmo assim segue em alta
velocidade, também é culpado;
xxxxxxxxx) Se o médico duvidou ou tinha razões para duvidar da conduta da
enfermeira;
yyyyyyyyy) Se o engenheiro não fiscalizou a colocação dos materiais, descumprindo sua
função, ou tinha porque duvidar do construtor.
É a mesma coisa que dizer que a violação do dever de cuidado deve ser
determinante do resultado.
zzzzzzzzz) Quem dirige um carro em alta velocidade por um estrada viola um dever de
cuidado, mas não haverá homicídio culposo se atropela um suicida escondido que se joga
na frente a alguns metros, porque ainda que tivesse em velocidade permitida não haveria
como evitar o acidente.
aaaaaaaaaa) Aquele que dirige um veículo sem CNH e atropela alguém que
descuidadamente desce de um ônibus e passa pela sua frente, tão só por violar o dever de
cuidado de dirigir sem CNH não responderá por culpa se se comprovar que mesmo assim o
acidente teria ocorrido.
Essa relação de determinação não é a mesma coisa de relação de causalidade. Há
causalidade no fato de dirigir em alta velocidade e atropelar alguém, como em dirigir sem
CNH e atropelar.
A causalidade se afere a partir da falta do dever de cuidado.
A relação de determinação é feita por uma operação mental: se ele tivesse
habilitação o acidente teria ocorrido? Se tivesse em baixa velocidade o acidente teria ocorrido.
E isto é exigido pelo art. 18, II, do CP, que requer para a comprovação do dever de cuidado a
imprudência, a negligência, ou a imperícia.
kkkkkkkkkk) Culpa consciente eu dirijo bem e vou acelerar bastante. As pessoas sairão
da frente.
llllllllll) Culpa normal (inconsciente) as pessoas estavam na calçada conversando.
Tinha certa possibilidade de não acontecer acidente algum. Mas é de se exigir que se
preveja que nessa situação alguém pode entrar na rua.
CAPÍTULO XXII
O PROBLEMA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA
II - AS FIGURAS COMPLEXAS
aaaaaaaaaaa) Se ele bebe para embriagar-se (vontade final) e sabe que fica violento e
comete um homicídio, comete homicídio culposo.
bbbbbbbbbbb) Se a embriaguez foi acidental, não há dolo nem culpa.
Com esta solução, abandonou-se o versari in re illicita e adotou-se a actio libera
in causa, que críticas posteriores dizem que viola o princípio da reserva legal.
ggggggggggg) CP 1.890 estava em sintonia com o critério liberal clássico – livre arbítrio
e por isto responde. Adotou a actio libera in causa.
hhhhhhhhhhh) CP 1.940 O modelo foi o CP italiano, com tendência repressiva para
forçar a acumulação de capital. O bêbado era um perigo e deveria ser punido de maneira
exemplar. Adotou-se a teoria do versari in re illicita e estipulou-se inclusive medida de
segurança para o bêbado habitual.
E a Reforma da República Nova do CP, de 1.984?
iiiiiiiiiii) aboliu a embriaguez habitual e a medida de segurança;
jjjjjjjjjjj) manteve no art. 28 a mesma fórmula do art. 24 de 1.940, inclusive a agravação da
pena por embriaguez preordenada (art. 61, II, “l”).
A doutrina e a jurisprudência, na maior parte, entendem que é um caso de
responsabilidade objetiva fixada pelo CP e que deve ser obedecida como exceção legal, o que
é possível.
Numa visão realista e dogmática, a norma não pode ser interpretada isoladamente.
O art. 28, embora com a mesma redação do art. 24 do CP antigo, não faz parte do CP de
1.940, mas do CP de 1.984. Assim:
kkkkkkkkkkk) A responsabilidade objetiva viola o princípio da reserva legal – art. 5º, II;
lllllllllll) O CP de 1.984 contém expressamente o princípio da culpabilidade no art. 19.
mmmmmmmmmmm) Portanto, o art. 28 deve ser interpretado de acordo com o art. 5º e 19, o
que torna impossível a exceção.
Completa, fortuita
ou por força maior Exclui a imputabilidade
Embriaguez Exime de pena (dispõe a lei)
(infere-se da própria lei)
por álcool ou Incompleta
substância de
Voluntária Como se deve apenar? Em
efeitos Não exclui a
completa todos os casos se deve apenar?
análogos imputabilidade
Culposa São crimes dolosos ou
(dispõe a própria lei)
incompleta culposos? (a lei não esclarece)
Como não existem respostas às perguntas pela lei, elas devem ser dadas de acordo
com os arts. 18 e 19:
nnnnnnnnnnn) Embriaguez completa, voluntária ou culposa:
Quer o agente beba com vontade de ficar bêbado ou fique bêbado culposamente,
nos dois modos é “imprudente”, tanto pela finalidade, como pela maneira como procede.
Desse modo, por sua culpa, não pode mais controlar, conscientemente, seus atos posteriores.
Trata-se de crime culposo os danos que causar nesse estado. Se não causar dano a ninguém, a
conduta é atípica. Se causar dano, mas sem culpa, não há culpa.
ooooooooooo) Embriaguez completa voluntária para a prática de crime:
Não se aplica a teoria da actio, porque pune a título de responsabilidade objetiva.
A punição a título de dolo, de qualquer agente que embriague para cometer um
delito, violaria o princípio da legalidade.
O art. 61, II, “l”, do CP diz que é circunstância agravante “ter o agente cometido o
crime em estado de embriaguez preordenada”.
133
Não é a mesma coisa que embriagar-se para cometer um crime. Embriagar-se não
é tentativa de homicídio. Só será delito o embriagar-se quando for instrumento: a pessoa
responsável da estrada de ferro é um exemplo. Aí há a premeditação.
CAPÍTULO XXIII
OS TIPOS OMISSIVOS
I - NATUREZA DA OMISSÃO
rrrrrrrrrrr) A mãe que tricota meias ao invés de alimentar o filho, não causa a morte do filho
no sentido físico. A conduta tricotar causa meias e não morte. A morte é causada pela
inanição – processo causal independente.
No tipo omissivo não se requer um nexo de causação entre a conduta proibida
(distinta da devida) e o resultado, mas sim um nexo de evitação do processo causal. Existe
uma probabilidade muito grande de que a conduta devida teria interrompido o nexo causal.
296 - O AUTOR
O autor tem uma grande importância nesses tipos, e dá causa a duas
classificações:
sssssssssss) omissões impróprias o autor pode ser qualquer pessoa que se encontre na
situação típica. Ex.: art. 135. São raros no CP.
ttttttttttt) omissões próprias o autor é próprio. São crimes próprios. O autor tem de ser
determinada pessoa, que assuma a posição de garantidor. Ex.: art. 319.
b.3) para que se produza o resultado morte não precisa desencadear um processo causal
específico, basta deixar que continue avançando o curso causal que já está em funcionamento
(o bebê está com fome e sede).
A mãe tem o domínio causal e efetiva previsão da causalidade. O que é
fundamental para o dolo é a previsão da causalidade.
IV - AS OMISSÕES CULPOSAS
CAPÍTULO XXIV
A TIPICIDADE CONGLOBANTE COMO CORRETIVO DA TIPICIDADE LEGAL
303 - REMISSÃO
Vamos rever os conceitos básicos da tipicidade conglobante:
iiiiiiiiiiii) o tipo legal é a manifestação de uma norma que é gerada para tutelar uma relação
de um sujeito com um ente, chamado de bem jurídico;
jjjjjjjjjjjj) a norma proibitiva dá lugar a um tipo (e permanece anteposta a ele);
kkkkkkkkkkkk) a norma não está isolada, mas permanece, junto com outras normas, também
proibitivas, formando uma ordem normativa. Por isto não se permite que uma norma
proíba o que outra ordena, ou fomenta. Aí seria só um amontoado caprichoso de normas
arbitrariamente reunidas;
llllllllllll) por isto a tipicidade penal não se resume à tipicidade legal. A tipicidade
conglobante corrige a tipicidade legal, no sentido de que pode reduzir o âmbito de
proibição aparente que surge se considerarmos isoladamente a tipicidade legal.
Veremos agora casos em que, apesar da tipicidade legal, configura-se uma
tipicidade conglobante.
304 - NATUREZA
De acordo com o art. 23, III, do CP não há crime se a pessoa age em “estrito
cumprimento do dever legal”. Alguns autores consideram isto uma causa de justificação, mas
vimos que não é assim, porque:
137
307 - ACORDO
Acordo é uma forma de aquiescência que configura uma causa de atipicidade. É
diferente do consentimento. É o exercício da disponibilidade que o bem jurídico implica. Se
posso dispor de meus bens jurídicos, posso fazer um acordo para dispor deles, sem que a
conduta do terceiro que ofende este meu bem seja típica.
Há formas de acordo que não são admissíveis, levando a doutrina a falar em bens
disponíveis e indisponíveis, o que é errado, pois isto é uma contradição. O que existe é uma
proibição de certas formas de acordo, particularmente porque não são racionalmente
compreendidas.
vvvvvvvvvvvv) Não é possível fazer um acordo para que alguém nos tire a vida.
wwwwwwwwwwww) É possível fazer um acordo para realização de atividades de alto risco,
como a participação em corridas automobilísticas. Portanto a vida não é um bem
indisponível.
Consentimento é também uma forma de aquiescência, mas se dá quando um
preceito permissivo faz surgir uma causa de justificação que ampara a conduta de um terceiro,
quando age com o consentimento do titular do bem jurídico.
xxxxxxxxxxxx) a pessoa que invade a casa de um vizinho para estancar um vazamento de
água que está causando infiltração e pode vir a derrubar o prédio = estado de necessidade.
Mas só pode fazer com o consentimento do dono da casa, que pode ser presumido.
Existem problemas não resolvidos com relação ao acordo, porque parece impedir
que pessoas gozem de seus bens jurídicos. Isto acontece principalmente nos delitos sexuais:
yyyyyyyyyyyy) manter relação sexual com uma pessoa etiquetada como alienada ou débil
mental é estupro. Isto quer dizer que a pessoa etiquetada não pode manter relação sexual
com ninguém, sob pretexto de tutela?
139
rrrrrrrrrrrrr)O furto de pequenos objetos de uma casa com o morador dentro é uma coisa, sem
o morador pode configurar insignificância.
V - EXCURSUS ESCLARECEDOR
TÍTULO IV
A ANTIJURIDICIDADE
CAPÍTULO XXV
ANTIJURIDICIDADE E JUSTIFICAÇÃO
I - ANTINORMATIVIDADE E ANTIJURIDICIDADE
permissivos não são fomentados pelo Estado, mas apenas concedidos ante a impossibilidade
de resolver a situação conflitiva de outra maneira.
E qual o fundamento comum a todas as causas de justificação? É a teoria do fim,
ou seja, a finalidade é que a conduta constitui o meio adequado para alcançar o fim de
convivência que o Estado regula.
CAPÍTULO XXVI
LEGÍTIMA DEFESA
I - NATUREZA E FUNDAMENTO
No nosso direito se trabalha com o excesso. A defesa deixa de ser legítima e passa
a ser ilegítima, excessiva:
iiiiiiiiiiiiii) Paralítico que vê uma criança entrar em seu quintal para furtar maças. Pega a
espingarda, único meio a seu alcance, e mata. É restrição ético-social ou excesso de
legítima defesa, por falta de moderação no uso dos meios.
CAPÍTULO XXVII
OUTROS TIPOS PERMISSIVOS EM PARTICULAR
341 - CONCEITO
A ponderação dos males tem importância capital. Aquele que sofre mal menor,
embora não tenha cometido qualquer ato contra o direito, é obrigado a suportar o mal, porque
quem o infere está numa situação de necessidade.
bbbbbbbbbbbbbbb) A denuncia B, ao policial C, como sendo o suspeito que o policial
procurava, mas a denúncia é falsa. O policial vai prendê-lo. B só pode agir em estado de
necessidade na medida do estado de necessidade, ou seja, causando um mal ao policial
menor do que o que ia sofrer: empurra-o, foge etc. Não pode matar.
ccccccccccccccc) Dois náufragos disputam uma tábua de salvação. É estado de necessidade
exculpante, porque os bens são de igual valor. Nenhum terceiro pode socorrer um dos
náufragos, sob pena de cometer um delito.
ddddddddddddddd) Age em estado de necessidade justificante aquele que arranca uma
ripa da cerca do vizinho para defender-se de agressão.
O fundamento geral do estado de necessidade justificante é a necessidade de
salvar o interesse maior, sacrificando o menor, em uma situação não provocada de conflito.