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“A análise do Direito Penal deve ser feita de forma mais ampla possível,
muito além da norma penal, pois o objeto de estudo implica relações sociais,
políticas e culturais (inclusive as normas), relacionadas à reação humana e
ao fenômeno do desvio. Daí porque é importante a constante interação com
outros pontos de vista atinentes ao Direito Penal, como a sociologia, a
filosofia, a antropologia e, é claro, a criminologia.” (Pag. 12)
“Essa crença, no entanto, faz com que acreditemos que, para alcançar esse
mundo de justiça, devemos pagar um preço nesta vida. O dízimo, por
exemplo, faz parte dessa conta. E isso faz da igreja uma instituição
capitalmente bastante rentável. Faz de seus pastoreios uma profissão, com
cargos e salários conforme a produção, conforme a conquista de novos fiéis.
O que busca uma igreja que comercializa a “fé”? Que condiciona a
“salvação” (o acesso ao mundo justo) ao dízimo, senão o lucro? Será que
devemos achar natural a proliferação de templos como há hoje? Encontrar
naturalidade na venda de “toalhas com o suor do pastor”, como objeto
“abençoado”? A venda de “fronhas de travesseiros abençoadas” pelo pastor
para que seu filho deixe de usar drogas? A venda de perfume com o “cheiro
de Jesus”? A distribuição de “carnês para oração incessante”, para que seja
o fiel constantemente “abençoado”? A aceitação de dízimo pelo cartão de
crédito e débito para que não se falhe com o compromisso “divino” de
confirmação da fé? (Pag. 76)
“Com relação à primeira fonte, a ideia de que “quem fez tem que pagar” é
postura corrente para a sociedade em geral e até mesmo para os
condenados. É clara, pois, a necessidade de expiação da culpa adquirida
pela prática do delito, de onde as violências decorrentes da prisão são
facilmente justificadas.382 Esta perspectiva infere que a lei é um imperativo
categórico, pois é uma ação com referência em si mesma, sem qualquer
outro fim, e possui em Kant e Hegel seus principais defensores. Quanto ao
“sofrimento necessário” (segunda fonte), não é mais possível ignorar que a
punição de um crime cometido se efetiva para muito além da sentença
prolatada pelo processo judicial. Isto porque, se não temos, nos dias atuais, a
exposição pública do suplício, sabe-se que de forma extralegal, ele aparece
com bastante frequência nos presídios e penitenciárias brasileiras.383
Conforme constatação registrada no relatório Violação dos Direitos Humanos
Contra os Detentos, da Anistia Internacional, é comum os maus-tratos
praticados por agentes penitenciários e policiais. Alguns se sentem no direito
de “fazer justiça” pelas próprias mãos, aplicando maus tratos, torturas,
ameaças, vexames e formas coletivas diversas e ilegais de “punição”.” (Pag.
189/190)