Você está na página 1de 8

Curso: Direito

Disciplina: Processo Penal I


Docente: Fabiano Oldoni
Discente: Hellen Beatriz Amaral da Silva
JUNIOR, Airto Chaves; OLDONI, Fabiano. Para que(m) serve o Direito
Penal? Uma análise criminológica da seletividade dos segmentos de controle
social. 1. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014. E-book. Disponível em:
https://siaiap27.univali.br/material/?control=Mural&action=index&id=153676.
Acesso em: 19 Set. 2022

“Luiz Alberto Warat afirma que precisamos admitir a existência de certos


efeitos de verdade (consequenciais), detectados a partir da observação do
discurso de objetivação, especialmente, quando esse discurso se torna
estratégico e estereotipado, o que é complementado com aquilo que
Foucault registrara: “o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as
lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o
poder do qual nós queremos apoderar” 23. E essas regras epistemológicas
aparecem como marcas sagradas no discurso e que furtam das relações
conceituais a sua função referencial, perpetuando uma reprodução ideológica
dentro dos Cursos de Direito, daquilo que se pode chamar de verdadeiras
“fábricas de reprodução ideológica.” (Pag. 12)

“A análise do Direito Penal deve ser feita de forma mais ampla possível,
muito além da norma penal, pois o objeto de estudo implica relações sociais,
políticas e culturais (inclusive as normas), relacionadas à reação humana e
ao fenômeno do desvio. Daí porque é importante a constante interação com
outros pontos de vista atinentes ao Direito Penal, como a sociologia, a
filosofia, a antropologia e, é claro, a criminologia.” (Pag. 12)

“Assim, o primeiro limite imposto ao direito de punir do Estado é a mais


estrita necessidade de recorrer à punição (pena ou medida de segurança),
consubstanciado em dois princípios fundamentais: a) o da subsidiariedade na
seleção dos bens jurídicos (que opera in abstrato); b) a proteção aos bens
jurídicos deve suportar a forma fragmentária, limitada a ataques mais
perigosos (que ocorre in concreto). Conforme Mir Puig, negligenciar esses
critérios seria abandonar algumas das tarefas sociopolíticas que o Estado se
propõe a cuidar.” (Pag. 20)

“Vejam que a linguagem não se restringe somente à expressão verbal, tem


ela um sentido muito mais amplo. As palavras, ao saírem de seu estado
neutro de dicionário e ao dependerem do contexto em que foram
empregadas, passam a expressar valores, ideais ou, então, ideologias.
Percebam como a mídia pode influenciar o público em geral e incutir a ideia
de que a sensação de insegurança coletiva só pode diminuir com um sistema
penal cada vez mais rígido.
ara Dotti125, os defensores desse pensamento partem do pressuposto
maniqueísta de que a sociedade está dividida entre bons e maus, cuja
violência só pode ser controlada com penas mais severas e longas.” (Pag.
57)

“Outro papel que a mídia se ocupa é a “catalogação dos criminosos”,132


apresentando um estereótipo do delinquente pré-fabricado, deixando de fora
alguns tipos de criminosos do colarinho branco. A eficiência deste processo é
facilmente percebida com um olhar mais atento ao nosso redor. Repudiamos
e queremos distância daqueles “marginais” que cometem roubos, latrocínios,
homicídios, tráfico de drogas, crimes sexuais e demais crimes de “sangue”
ou crimes violentos. Para esses visualizamos prisão, isolamento social e
muita punição. Paradoxalmente não temos a mesma repulsa com relação
àqueles que sonegam impostos, dirigem embriagados, desviam dinheiro
público, corrompem autoridades públicas etc. E qual a razão desta
diferenciação no trato? Por que somos mais complacentes com estes
indivíduos? Quem são e como qualificamos os “marginais”? A razão parece
estar no fato de que nos identificamos ou identificamos alguém próximo ou
algum familiar como autor destas condutas criminosas. Somos rápidos em
afirmar que jamais cometeremos um roubo, um homicídio, um estupro. Não
nos vemos cometendo esses crimes e, consequentemente, fazendo parte
deste grupo social. Contudo, reconhecemos a possibilidade de já ter
cometido ou conhecer alguém de nosso relacionamento que já sonegou
imposto, dirigiu embriagado ou andou armado etc., fazendo com que estas
condutas não nos aparentem tão repulsivas assim, justamente porque nos
vemos fazendo parte ou podendo fazer parte deste grupo.” (Pag. 61)

“Explica Goffman que construímos uma teoria do estigma, uma ideologia


para explicar a sua inferioridade e dar conta do perigo que ela representa,
racionalizando algumas vezes uma animosidade baseada em outras
diferenças, tais como as de classe social. Utilizamos termos específicos de
estigma como aleijado, bastardo, retardado, em nosso discurso diário como
fonte de metáfora e representação, de maneira característica, sem pensar no
seu significado original. E a mídia é um dos principais fomentadores do
estigma social, na medida em que ideologicamente manipula as informações
no sentido de desqualificar determinados grupos sociais. O medo com
relação aos negros nos Estados Unidos está franqueado na perpetuação da
atenção excessiva dada aos perigos causados por uma pequena
porcentagem de afro-americanos com outras pessoas, assim como por uma
relativa falta de atenção para os perigos que a própria maioria de negros
enfrenta138. Glassner139 apresenta-nos alguns fatos que evidenciam a
realidade da manipulação midiática. Segundo ele os arautos do medo
projetam sobre os negros exatamente aquilo que a escravidão, a pobreza, a
exclusão educacional e a discriminação garantiram que eles não tivessem:
poder e influência” (Pag. 64)

“Para tanto, a igreja oferece “justiça” eterna se houver redenção nesse


mundo de “injustiça” terrena. Essa questão é muito bem trabalhada por
Bertrand Russell162, quando trata “do argumento quanto à reparação da
injustiça” vivida no plano terreno. Conforme o autor, dizem que a existência
de Deus é necessária a fim de que haja justiça no mundo. Na parte do
universo que conhecemos há grande injustiça e, não raro, os bons sofrem e
os maus prosperam, e a gente mal sabe qual dessas coisas são mais
molestas; mas, para que haja justiça no universo como um todo, temos de
supor a existência de uma vida futura para reparar a vida aqui na terra. Por
isso, a igreja sustenta que deve haver um Deus, e que deve haver céu e
inferno, a fim de que, no fim, possa haver justiça.
Ocorre que, como não conhecemos o resto do universo, tanto quanto se
pode raciocinar acerca das probabilidades, poderíamos dizer que este
mundo constitui uma bela amostra e, se há aqui injustiça, é bastante provável
que também haja injustiça em outras partes. É que, como lembra Russell, os
argumentos intelectuais sobre os quais falamos aqui não são, na verdade, de
molde a estimular as pessoas. O que realmente leva os indivíduos a acreditar
em Deus não é nenhum argumento intelectual. A maioria das pessoas
acredita em Deus porque lhes ensinaram, desde tenra infância, a fazê-lo, e
essa é a principal razão.” (Pag. 75)

“Essa crença, no entanto, faz com que acreditemos que, para alcançar esse
mundo de justiça, devemos pagar um preço nesta vida. O dízimo, por
exemplo, faz parte dessa conta. E isso faz da igreja uma instituição
capitalmente bastante rentável. Faz de seus pastoreios uma profissão, com
cargos e salários conforme a produção, conforme a conquista de novos fiéis.
O que busca uma igreja que comercializa a “fé”? Que condiciona a
“salvação” (o acesso ao mundo justo) ao dízimo, senão o lucro? Será que
devemos achar natural a proliferação de templos como há hoje? Encontrar
naturalidade na venda de “toalhas com o suor do pastor”, como objeto
“abençoado”? A venda de “fronhas de travesseiros abençoadas” pelo pastor
para que seu filho deixe de usar drogas? A venda de perfume com o “cheiro
de Jesus”? A distribuição de “carnês para oração incessante”, para que seja
o fiel constantemente “abençoado”? A aceitação de dízimo pelo cartão de
crédito e débito para que não se falhe com o compromisso “divino” de
confirmação da fé? (Pag. 76)

“O hiperconsumo, a moda e o modismo, como segmento de controle


informal, movimentam a população ao “aqui e agora”, ao “aproveitar a vida”
sem medo das consequências e quem não consegue “estar” neste lugar, seja
pela exclusão social ou econômica, buscará seu espaço, mesmo que à custa
do outro. Essa necessidade de ter mais, de consumir cada vez com mais
intensidade e rapidez nos é ensinada. Somos indivíduos criados em um
mundo de consumo, em um mundo líquido (Bauman), orientados a “vencer
na vida”, a buscar sempre o melhor emprego, o melhor salário, onde não
basta o conforto, queremos o excesso, nada de uma vida frugal, queremos
uma vida fugaz e através dos meios de comunicação de massa “os donos do
mundo nos comunicam a obrigação que temos todos de nos contemplar num
único espelho, que reflete os valores da cultura do consumo”, onde as
“ordens de consumo, obrigatórias para todos, mas impossíveis para a
maioria, são convites ao delito”173. Estamos intoxicados, é o diagnóstico de
Edgar Morin174. Seja pela obsessão permanente do lucro, do quantitativo,
do calculável, do cifrável, seja pela rotina da cidade, pelo ritmo opressor do
trabalho, tudo linkado ao consumismo, que transforma o supérfluo em
necessário e os antigos luxos em necessidades, estimula a obsolescência
rápida dos produtos, a promoção do descartável em detrimento do
sustentável, a sucessão acelerada da moda, o incentivo permanente do novo
e a preocupação individualista de status social, gerando frustrações
psicológicas e morais que somente encontram “consolo” passageiro na
compra e no abuso de bebidas, alimentos e objetos sem utilidades.” (Pag.
82/83)

“Diante disso, vale registrar o questionamento formulado por Jean Cruet256


há mais de 100 anos: qual é o contrato que é um verdadeiro contrato?
Conforme o autor, se o contrato deve se ajustar a autonomia da vontade dos
contratantes, o que temos nos contratos de trabalho, em maior ou menor
grau, são contratos de trabalho forçado. Será que o consumidor pode viver,
sem contratar com o produtor ou o intermediário? Até quando o contrato tem
por objetivo final instituir uma cooperação entre as partes? Há, na verdade,
um conflito entre dois interesses distintos ou opostos, e a parte mais forte
tende a ditar a sua vontade à outra parte: dá-se isto assim nas convenções
privadas e públicas, ao ponto de se concluir, nesse ínterim, que todos os
contratos são leoninos. Cai por terra, dessa forma, o tão festejado “direito de
escolha” (livre arbítrio), fundamento, inclusive, para análise da culpabilidade
do autor do comportamento desviante. O conceito de culpabilidade tem por
base a ideia de que o homem é um ente plenamente capaz de se
autodeterminar. Ou seja, a culpabilidade entendida como um juízo de
reprovabilidade, parte da inarredável premissa de que o homem deve ser
visto como um ser apto a livremente orientar a sua conduta, e, em razão
dessa mesma possibilidade, fazer-se totalmente responsável pelas
consequências do seu agir.257 A liberdade de escolha é considerada, assim,
um atributo graduado.” (Pag. 124/125)

“Para melhor diferenciar, Alessandro Baratta351 esclarece que os


criminólogos adeptos a ideologia da Defesa Social examinam problemas do
tipo “quem é criminoso?”, “como se torna desviante?”, “em quais condições
um condenado se torna reincidente?”, “com que meios se pode exercer
controle sobre o criminoso?”. É de se destacar, neste contexto, que a
criminologia era definida como a ciência que investiga as causas da
criminalidade, tratando o criminoso (seu objeto) como coisa. Ao contrário, os
adeptos a corrente da Defesa Social, como em geral os autores que inspiram
no labeling approach, se perguntam: “quem é definido como desviante?”,
“que efeito decorre desta definição sobre o indivíduo?”, “em que condições
este indivíduo pode se tornar objeto de uma definição?” e, enfim, “quem
define quem?” Passa-se, dessa forma, a encarar o desviante como pessoa.
Denota-se, apesar disso tudo, que a ideologia da Defesa Social ainda
influencia em muito, tanto o público em geral, quanto os agentes que atuam
nas instituições jurídicas, clarificando uma cultura maniqueísta e afastada de
qualquer participação na construção da realidade social, cultura que
diuturnamente é levada em conta na fundamentação de manifestações
ministeriais e nas decisões judiciais em todos os cantos do país.” (Pag.
167/168)

“Com relação à primeira fonte, a ideia de que “quem fez tem que pagar” é
postura corrente para a sociedade em geral e até mesmo para os
condenados. É clara, pois, a necessidade de expiação da culpa adquirida
pela prática do delito, de onde as violências decorrentes da prisão são
facilmente justificadas.382 Esta perspectiva infere que a lei é um imperativo
categórico, pois é uma ação com referência em si mesma, sem qualquer
outro fim, e possui em Kant e Hegel seus principais defensores. Quanto ao
“sofrimento necessário” (segunda fonte), não é mais possível ignorar que a
punição de um crime cometido se efetiva para muito além da sentença
prolatada pelo processo judicial. Isto porque, se não temos, nos dias atuais, a
exposição pública do suplício, sabe-se que de forma extralegal, ele aparece
com bastante frequência nos presídios e penitenciárias brasileiras.383
Conforme constatação registrada no relatório Violação dos Direitos Humanos
Contra os Detentos, da Anistia Internacional, é comum os maus-tratos
praticados por agentes penitenciários e policiais. Alguns se sentem no direito
de “fazer justiça” pelas próprias mãos, aplicando maus tratos, torturas,
ameaças, vexames e formas coletivas diversas e ilegais de “punição”.” (Pag.
189/190)

“Apesar disso, as características mais marcantes desse processo e que aqui


mais interessam se amoldam em duas considerações, a segunda
diretamente ligada à primeira:
a. A questão recorrente do retorno à prisão de pessoas que acabaram de
deixá-la (o que significa que a instituição falhou quanto aos seus objetivos
declarados, principalmente no que se refere à ressocialização e intimidação);
e
b. A assimilação bastante passiva da primeira questão pela sociedade, não
chegando, sequer, a arranhar a sensibilidade social.
Vejamos essa simples equação: um ladrão qualquer é colocado na prisão e
deixado à sorte; de lá ele vai acabar saindo e sem nenhuma condição de
sobreviver na vida em sociedade, acaba voltando à criminalidade, com larga
chance de voltar à prisão. Entre a primeira prisão e a segunda há, pelo
menos, um crime, não sendo de se descartar que o ladrão possa se ter
transformado em um latrocida. Logo, apesar de a sociedade assimilar essa
situação passivamente, não há a menor possibilidade de se aceitar algo
assim como normal, mormente porque na equação o que deve pesar, de
forma decisiva, é a vida de uma inocente vítima do latrocínio. Essa vítima,
em geral, um cidadão comum, trabalhador, com frequência aquele que
impregnado pelo lugar-comum dos discursos dos meios de comunicação,
defendia o punitivismo desmedido.396 E isso ocorre com a máxima
assiduidade, pois nada voltado à missão integradora se faz durante o
encarceramento. E depois, esperamos, demagogicamente, um milagre. Não
acontecerá. E mais. O impacto deletério do encarceramento não se exerce
somente sobre o preso, mas também, e de forma mais insidiosa e mais
injusta, sobre sua família e pessoas que o cercam, especialmente sobre seus
cônjuges ou companheiros.” (Pag. 193/194)

“Devemos procurar reduzir ao máximo possível a implacável seletividade que


assola todos os segmentos de controle social, pois verificamos que o câncer
penal não está na (in) efetividade do controle, mas em sua fatal seleção. O
controle nem sempre é um mal; a liberdade, nem sempre um bem.” (Pag.
224)
Conclusão
O livro aborda diversos temas com o mesmo ponto; o Direito Penal
na sociedade e como é inserido e interpretado.
Assim que iniciei a leitura me deparei com um ponto ao qual nunca
tinha parado para pensar de fato, “Fabricas de reprodução ideológica”, mas
que faz tanto sentido não só dentro do curso de Direito, como em todas as
outras temáticas que o livro aborda. Assim podemos tomar como exemplo de
ponto de partida a fé. Jorge e Neto definem melhor como era a relação
homem-religião nos tempos primitivos: “Há registros de pinturas e desenhos
dos agrupamentos primitivos que habitavam cavernas nos quais se
representava o sol e a lua, presumivelmente como as mais antecedentes
manifestações de religiosidade da espécie humana. Traduzia-se nesses
astros a tentativa do homem primitivo de neles buscar proteção contra as
intempéries e os animais predadores.” i Desde que o mundo é mundo se usa
da fé para se ter um certo “controle” sobre a sociedade, seja para que se
tema um fim cruel ou para que se deslumbre com a promessa da salvação
seguida de princípios religiosos.
A religião é, portanto, um elemento não só de grande eficácia
política, como também um divisor de pensamentos que influencia a maioria
dos seus fiéis, a acreditarem que um sistema penal mais severo irá ser o
ideal para que possamos acabar com a criminalidade. Usada com a devida
prudência, constitui uma alternativa ao emprego da força bruta para
assegurar a ordem e a paz interna. Oferece um meio para comandar sem
recorrer à violência física. Esse recurso é, sobretudo, útil quando os
argumentos racionais são impotentes para convencer os homens.  
A construção histórica do Direito Penal, em que o mesmo surge em
meio ao desejo de vingança e não de justiça, e era o corpo do indivíduo que
pagava pelo ato ilícito que ele havia realizado. E mesmo depois de décadas
a grande maioria inserida na sociedade acaba por acolher um discurso onde
o individuo que cometeu o crime merece a repreensão mais severa possivel,
acreditando que assim o problema de tantos retornos destes criminosos para
a prisão seja diminuído. Assim reafirmando o coro que vemos por aí que
“bandido bom é bandido morto” e aumentando um preconceito sobre a
família desses apenados e até mesmo depois do detento já ter comprido sua
pena enfrenta a dificuldade da ressocialização na sociedade.
Analisando este ponto do livro, sobre a dificuldade do retorno desses
presos, como o sistema penitenciário não tem “estrutura” para que seja
aplicado uma reeducação e que nós enquanto sociedade sempre buscamos
um padrão para criminalizar, seja ele a classe social ou etnia. Vejo que
muitas vezes estamos tão ocupados com nossas próprias realidades, nossas
obsessões para que o mundo não pare e continuarmos adquirindo, criando,
ganhando cada vez mais, não parando para refletir o que isso vai acarretar
ou o padrão de vida que estamos construindo, fazendo com que seja um
padrão tão impossível de se alcançar por pessoas mais carentes, onde um
sonho de uma vida com um padrão digno nem sempre é a realidade dessas
pessoas.
Bauman explica um pouco sobre este consumo: A “sociedade de
consumidores”, em outras palavras, representa o tipo de sociedade que
promove, encoraja ou reforça a escolha de um estilo de vida e uma
estratégia existencial consumistas, e rejeita todas as opções culturais
alternativas. Uma sociedade em que se adaptar aos preceitos da cultura de
consumo e segui-los estritamente é, para todos os fins e propósitos práticos,
a única escolha aprovada de maneira incondicional. Uma escolha viável e,
portanto, plausível – e uma condição de afiliação”. (BAUMAN, 2008. p. 54)
Enquanto não evoluirmos como sociedade ainda teremos este
paradigma que os bandidos de “colarinho branco” na sua maioria saem
impune dos seus crimes, onde até mesmo na sociedade muitas vezes não é
visto como crime.
Entendo que esses casos são seletividade do sistema penal, dando
tratamento diferenciado para alguns indivíduos, com isso ferindo o princípio
constitucional da igualdade. A busca da democrática requer
fundamentalmente o exercício em igualdade de condições de direitos
elementares. Pode-se observar que a lei não é aplicada para todos, pois a
mesma dificilmente alcança os ricos, poderosos, e os políticos. Os mesmos
se beneficiam de inúmeras formas cometendo crimes, e não são julgados
como qualquer cidadão.
Um exemplo claro da falta de simetria entre ás figuras criminais, e as
penas respectivas pode ser compreendido no enfrentamento entre os crimes
do artigo 1° da Lei nº 1.060, de 1969, e o artigo 157 do Código Penal,
respectivamente “Crime de Sonegação Fiscal”, e “Crime de Roubo”, sendo
que a pena do primeiro delito, cujo geralmente é cometido por pessoas que
detém poder, é de detenção, de seis meses a dois anos, e multa de duas a
cinco vezes o valor do tributo, e do segundo cujo geralmente é praticado
pelos indivíduos marginalizados é de reclusão, de quatro a dez anos, e
multa.
Diante disso vemos que os crimes cometidos no sentido de força
física, recebem um tratamento bem mais severo, que os delitos praticados
com fraude, alguns usam o argumento da dificuldade de apurar o dolo nos
crimes de apropriação indébita, estelionato, e sonegação de imposto, por
exemplo, se opondo a facilidade de evidência da ação dolosa em crimes
como os de roubo e furto.
i
NETO SILVA, Manoel Jorge e. Proteção constitucional à liberdade religiosa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 11.

Você também pode gostar