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A IMPORTANCIA DA VERDADE
NUM MUNDO DE VERDADES

Recife - 2020
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO............................................................................................03

2. ATAQUE À VERDADE..............................................................................05

3. NEUTRALIZAÇÃO DO INIMIGO...........................................................12

4. CONCLUSÃO...............................................................................................26

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA..................................................................27
2

1. INTRODUÇÃO
Um dos primeiros versículos bíblicos que minha mãe me ensinou e me fez memorizar, falava
sobre a importância da verdade, e consequentemente o perigo da mentira. Ef 4.25 “Portanto
abandonem a mentira e digam a verdade ao seu próximo, pois somos parte do mesmo corpo” 1 Não
que minha família fosse algo que se pudesse rotular como “perfeita”, mas cresci, influenciado pelos
princípios bíblicos, ouvindo quase que todos os dias, sobre a importância da verdade em todas as
áreas da vida. Desde a verdade representada pela Palavra da Deus, até a verdade no dia a dia; nas
brincadeiras e jogos da infância; nos procedimentos escolares e nos comportamentos na sociedade.
Meu pai me dizia que quem fala a verdade, não tem medo de olhar nos olhos da outra pessoa. Ele
sempre me pedia para olhar nos olhos dele, quando lhe falava... A verdade é muito importante, dizia
ele.
Esses dias, não estão tão distantes assim; mas mesmo estando próximos, a ponto de serem
recordados com riqueza de detalhes, a verdade, é um produto cada vez mais raro em nossa realidade.
Desde o conceito, até sua prática. Com toda certeza você já conversou com alguém que não dá a
mínima para a verdade; ou mesmo já passou por uma situação, em que por falta de volorização da
verdade, alguém ou você mesmo, foi prejudicado.
O Escritor Solano Portela, em seu livro “O que estão ensinando aos nossos filhos”, ilustra essa
realidade por meio de alguns artigos ou livros, que em algum momento foram objeto de estudo em
escolas
Livro “A Verdade e a Mentira” – Cada um deve pensar bem no que dizer e analisar a
importância de uma verdade ou de uma mentira (20). Mentir para proteger outra pessoa,
esconder a verdade para não magoar alguém, é algo bem diferente. Nesse caso, temperar as
palavras com uma pitada de mentira não é necessariamente uma má solução. Será que
todos nós não precisamos de uma mentirazinha para facilitar a vida? (21). Portanto, a
verdade e a mentira não são necessariamente inimigas. Dependendo do valor de cada uma,
elas podem ser cúmplices e coexistir em perfeita harmonia, se for para o nosso bem.
Misturando a verdade e a mentira com consciência e equilíbrio, podemos deixar a vida
fluir alegremente (39).
Depois as pessoas se espantam e indagam por que a verdade é uma “espécie em extinção”
em nossa sociedade? Por que políticos, profissionais, pessoas em geral, mentem tanto em
suas vidas? Com esse tipo de ensinamento, o que podemos esperar?2
A desconsideração e ataque à verdade não se deu início na minha geração. Essa história começou
a muito tempo atrás, e com intenções pra lá de ambiciosas. Nós nunca fomos os verdadeiros alvos,
embora sejamos ao mesmo tempo vítimas e culpados; éramos e somos apenas os meios; o alvo de
toda guerra contra a verdade sempre foi o Criador de todas as coisas, inclusive criador da própria
verdade – Deus.
Embora, possa ter parecido que nossa nossa abordagem ao tema, se daria sob aspectos envolvendo
questões éticas e morais, extremamente importantes e essencias para discussão e prática, por meio
desses escritos, sob o viés bíblico e histórico, intencionamos abordar questões mais estruturais,
envolvendo a temática da verdade e suas implicações para todos nós.
Nosso desejo é que o conteúdo incentive a reflexão, pesquisa e mais produções sobre esse assunto.
2. ATAQUE À VERDADE.
Numa guerra, em termos de estratégia, um ataque pode se dar de formas diferentes e por meio das
mais variadas armas. No campo das ideias ou dos conceitos, por exemplo, as possibilidades são
inúmeras.
Se voltarmos na história, a aproximadamente um século, poderemos relembrar um longo período
na história da humanidade, onde ainda se fazia vigente um determinado tipo de ataque à Verdade,
essa, representada pelos absolutos de Deus, revelados de forma geral (coisas criadas – Sl 19) ou de
forma específica (Jesus – Jo 1:1-18; e a Bíblia Sl 119; 2 Tm 3:16; 2 Pe 1:21). Estado e Igreja, tanto
1
Bíblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 1493.
2
PORTELA, Solano. O que estão ensinando aos nossos filhos? São José dos Campos: Editora Fiel, 2012, p 111, 112.
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no Oriente como no Ocidente, as duas maiores instituições da época, se baseavam e defendiam esses
conceitos com todas as armas possíveis. É fato que algumas dessas defesas, foram baseadas em
tradições humanas e visavam a manutenção de poderes humanos, e não necessariamente a verdade
de Deus. Quanto a isso, a Reforma protestante prestou bons serviços, rompendo com muitas
tradições e sendo instrumento útil nas mãos de Deus para o reestalecimento de muitas de Suas
Verdades. (Exemplos: 5 Solas; avanços na ciência; economia; cidades; sociedade; instituiçoes, entre
outras). Contudo, aqueles que contestavam as verdades estabelecidas, estavam dispostos a romper
com tudo o que até então havia sido instituído; não importava o preço que custasse. Se é verdade que
a sociedade funcinona sob relações de troca, a busca da mesma naquele período, parecia ser de
oferecer ou trocar sua “segurança”, provida pelas idéias e instituiçoes da época, por mais
“liberdade”.3
Como os assuntos cotidianos podiam ser administrados pela razão, sem a revelação divina,
a verdade cristã (confinada ao pavimento de cima), começou a parecer supérflua para esta
vida. A separação completa entre a razão estava alvorecendo. Nas palavras de Fracis
Schaeffer, a natureza começou a “devorar” a graça...O Renascentismo solidificou esse
dualismo ao valorizar o mundo natural na ciência e na arte sem considerar a autoridade
divina nesse mundo, e ao promover um humanismo que considera o ser humano autônomo
para as atividades naturais e senhor da natureza, Tais conceitos nascidos num período
ainda bem religioso viria a se secularizar de fato no século 18. 4
Os contestadores desse período se auto-denominavam libertadores da humanidade; os iluminados
num contexto de densas e escravizadoras trevas.
O iluminismo do século 18 foi um movimento de idéias que buscava libertar a humanidade
do erro e do preconceito e alcançar a verdade, o que, por sua vez, produziria a liberdade.
Muitos pensadores iluministas tinham como alvo a religião, pois eles a consideravam algo
que incorporava o erro e o preconceito tão abominados. Em especial, consideravam o
cristianismo e todas as outras religiões irracionais e inadequadas à época científica. O
iluminismo procurava explicações racionais para tudo o que era real, e a religião não era
exceção... Enquanto a revolução científica apresentava a ordem e a racionalidade do
universo, e descobriria as leis que controlam o universo físico, o iluminismo desejava
examinar as instituições humanas para encontrar nelas o mesmo tipo de ordem e coerência
e, assim, postular leis que governassem a sociedade. Em resumo, buscava-se uma ciência
humana que libertasse os homens de todas as amarras... O método da crítica era o motor
que impulsionava a análise das instituições da sociedade, incluindo igreja, a lei e até
mesmo o governo. O filósofo francês Peter Gay disse: “Todas as coisas devem ser
examinadas, debatidas, investigadas, sem exceção e sem levar em conta os sentimentos de
quem quer que seja...o iluminismo defendeu a destruição de todas as barreiras à liberdade e
à autonomia dos seres humanos.5
O Iluminismo criou uma esfera “secular” que é considerada imparcial e racional (diferente
das opinições religiosas) e, por isso, apropriada para a esfera pública. O credo do
iluminismo era a autonomia de toda autoridade externa a fim de descobrir a verdade
somente pela razão. O próprio conceito de “profissional” ganhou conotação de secular,
livre de valores; os próprios cristãos procuram uma erudição “neutra”. Em todas as áreas
do saber (educação, política, psicologia, etc.), “o cristianismo foi privatizado como
“sectário”, enquanto as filosofias seculares, como o materialismo e o naturalismo, foram
promovidas como “objetivos” e “neutros”, colocando-os como as únicas perspectivas
satisfatórias para a esfera pública.6
Os primeiros ataques, por parte de pessoas e grupos influenciados por raciocínios filosóficos e
descobertas científicas, eram claros e objetivos; por assim dizer, se davam à luz do dia; através da
3
Entrevista com Zygmunt Bauman. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=I_VJFr0Ale8. Acessado em 25/02/20.
4
CAMPOS, Junior, Heber Carlos de. Amando a Deus no mundo: por uma cosmovisão reformada. São José dos Campos, SP: Fiel, 2019,
p.138.
5
ECKMAN, James P. Panorama da história da Igreja. São Paulo: Vida Nova, 2005, p.87,88.
6
CAMPOS, Junior, Heber Carlos de. Amando a Deus no mundo: por uma cosmovisão reformada. São José dos Campos, SP: Fiel, 2019, p.
141.
4

negação da Verdade de Deus e da oferta de uma “verdade superior”; “empirica” e/ou “racional”. A
Verdade de Deus era chamada de mero religiosismo; farsa; ópio; contos de fada; irracionalidade;
crendice; ignorância; mentira; entre outros adjetivos pejorativos. Esse período acabou sendo
denominado de “modernidade”.
Imagine que você pode realizar um feito do qual sou incapaz. Imagine, em outras palavras,
que você pode criar a imagem de um criador infinitamente bondoso e todo poderoso, que o
concebeu, depois o fez e moldou, o colocou no mundo que ele tinha feito para você e agora
o supervisiona e cuida de você mesmo quando você está dormindo. Imagine ainda mais:
que se você seguir as regras e os mandamentos que ele amorosamente estabeleceu, irá se
qualificar para uma eternidade de bem-aventurança e tranquilidade. Não digo que invejo
sua crença (pois para mim, soa como desejar uma forma horrível de ditadura benevolente e
imutável).7
Recionalidade Exclusiva. Trata-se da crença de que a ciência é o único árbitro real e
factual, e de que não deveríamos acreditar em nada, a menos que possamos prová-lo de
forma conclusiva por meio da observação empírica. As coisas que podemos provar são as
únicas dígnas de ser chamadas “verdade”. Tudo o mais que alguém possa dizer ou pensar
pertence ao campo não confiável dos sentimentos e da opinião humana. Essa perspectiva
da razão é fundamental para a afirmação secular de que a religião não consegue provar sua
alegação de que existe um Deus e uma esfera sobrenatural 8
Um comentário sobre o cristianismo: não faz o menor sentido no mundo real e natural em
que vivemos, portanto não tem mérito algum (em termos racionais)... o secularismo faz
uma avaliação sensata da natureza das coisas com base em uma análise puramente racional
do mundo. Segundo disseram, os religiosos tentam impor suas crenças aos outros, mas os
secularistas, quando defendem as próprias ideias, só contam com fatos, e quem discorda
está fechando os olhos para os fatos. O único modo de ser cristão, segundo disse outro
desses participantes, é presumir que os contos de fadas da Bíblia são verdadeiros e fechar
os olhos para toda e qualquer forma de razão e evidência.9
A Verdade Absoluta de Deus tentou ser corroída, desacreditada e desmoralizada por séculos,
numa sequência de golpes provenientes de buscas humanas infindas, pseudo-descobertas científicas,
propostas filosóficas, pseudo-análises textuais e pela limitada lógica humana. Embora muitos, até
mesmo nações, sistemas fillosóficos e sócio-políticos, pelo menos a princípio, tenham se deixado
seduzir por essa estratégia, com o tempo, e pela própria fraqueza, liquefação e contrariedade dos
argumentos, essas “fantásticas, humanistas e tecnológicas descobertas” foram perdendo sua força,
tornando-se contestáveis, frustrantes, conflitantes, inoperantes e irrelevantes. Enquanto isso, a
Verdade fidedigna de Deus, seguia seu curso, determinado pelo Autor e Consumador da história.
Anos atrás, ouvi uma charge que ajuda ilustrar um pouco esse cenário. Um grupo de conhecidos
cientistas chegaram até Deus com um pouco de terra num esterelizado tubo de ensaio. Confiantes e
orgulhosos de si mesmos, disseram: - “Descobrimos o segredo da vida!; agora somos capazes de
formá-la, reproduzí-la e manipulá-la. O Senhor (Deus) gostaria que demonstrássemos?” Ao que
Deus lhes respondeu: - “Sim, fiquem a vontade para tentar. Entretanto, não podem usar esse punhado
de terra que têm em mãos, pois essa matéria prima foi criada por mim; me pertence. Antes de
qualquer coisa, devem criar sua própria terra (matéria prima) para fazer a demonstração de vocês”.
Sem resposta, o silêncio tomou conta do lugar... (autor desconhecido). Interagindo com a situação
hipotética, dentre tantos textos bíblicos, poderiam ter lido salmo 24:1,2 - “A terra e tudo que nela há
são do Senhor; o mundo e todos seus habitantes lhe pertencem. Pois sobre os mares ele edificou os
alicerces da terra, e sobre as profundezas do oeceano a estabeleceu”.10
Não por falta de esforço ou elaboração de estratégias, mas após seguidas tentativas, parece que
quanto mais elaboradas as contestações, mais óbvia se mostrava a falência dos argumentos, e a
solidez das verdades instituidas por Deus. Se avaliássemos, por exemplo, as contestações contra os
7
HITCHENS, Christopher. Deus não é grande: como a religião envenena tudo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007, p. 24.
8
KELLER, Timothy. Deus na era secular: como os céticos podem encontrar sentido no cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 2018, p.50.
9
KELLER, Timothy. Deus na era secular: como céticos podem encontrar sentido no cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 2018, p.11,12.
10
Bíblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 709.
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argumentos bíblicos, ou mesmo contra argumentos cosmológicos, teleológicos, ontológicos,


antropológicos e morais, acerca de Deus, concluiríamos que a resistência não se deve por falta de
lógica e racionalidade presente nos argumentos bíblicos/filosóficos/teológicos, mas sim, por escolha
e decisão de que todas essas verdades não podem ser possíveis, uma vez que, supostamente, não
podem ser verificadas pelos meios manipuláveis pelo ser humano, auto-eleito, para ser “balança” e
avalista de si mesmo. Os salmos 14.1 e 53.1 ilustram bem esse quadro. “Os tolos dizem em seu
coração: Não há Deus. São corruptos e praticam o mal; nenhum deles faz o bem”.11
O movimento que se iniciou no século XIII... na direção da autonomia do homem...
completou-se, de certa forma, em nossa época. O homem aprendeu a lidar com todas as
questões de importância em recorrer a Deus como uma hipótese funional... Cada vez se
torna mais evidente que tudo funciona normalmente sem Deus. Já se admite que o
conhecimento e a vida são perfeitamente possíveid sem ele. Desde Kant ele foi pregado à
esfera para além da experiência.12
Bem, os anos se passaram, algumas guerras já haviam consumido uma parte considerável da
população européia e de suas respectivas esperanças acerca de um mundo melhor, como fruto do
trabalho de suas próprias mãos, e antes mesmo que o século 21 alcançasse a humanidade, a mesma,
já havia sido ludibriada por uma outra estratégia.
O filósofo e escritor Zygmunt Bauman, criou e/ou popularizou um conceito chamado por ele de
modernidade líquida, onde segundo sua análise, a sociedade, sem esperança, deixa de ser uma
sociedade produtora e passa a ser uma sociedade consumidora, onde tudo é passageiro, transitório e
descartável.13 Se essa análise for correta, parece ser a base ideal para o desenvolvimento do momento
atual de incertezas e relatividade; cenário paradoxal ao defendido pela modernidade, que pregava
convicções e objetivos. E parece ser sempre assim, num mundo de verdades, não há espaço para o
silêncio ou para a sincera reflexão e reconhecimento dos fracassos e caminhos mal sucedidos; a não
ser que do alto seja proposta (Tg 1:17) – “Toda dádiva que é boa e perfeita vem do alto, do Pai que
criou as luzes no céu. Nele não há variação nem sombra de mudança”14
Essa estratégia tem características um pouco mais estéticas, ardilosas, articuladas, políticas e
sagazes. Optando pela “escuridão da noite”, e por armamentos multi-sensoriais, como o relativismo,
o hedonismo, o secularismo, o pluralismo e o privacionismo, conseguiu ocupar o espaço vazio
deixado por seu antencessor, a modernidade, e ainda arrebanhar a muitos. Principalmente, os que se
achavam vazios, com coceiras nos ouvidos, atrás de algo novo; algo que pudesse lhes “satisfazer”,
ainda que momentaneamente, e lhes dar alguma esperança; essa perdida a algum tempo pelo fracasso
das promessas da modernidade e seu mundo humanamente perfeito.
Nessa nova estratégia, a ideia não é nem de longe bater de frente com a Verdade Objetiva e
Absoluta de Deus. Muito pelo contrário, em alguns momentos, com um formato político, amistoso e
amigável, a ideia é até defender alguns dos benefícios dessa Verdade, mostrando o que todos podem
ganhar com a tolerância dos argumentos e idéias decorrentes. Nesse cenário, embora haja zombaria e
escárnio às metanarrativas e verdades universais, há também a obrigatoriedade da reserva de um
espaço; uma cota; afinal de contas todos devem ter lugar ao “sol”.
Entretanto, no mesmo discurso, texto ou prática, que de alguma forma enobrece a Verdade de
Deus, enfatiza-se também a existência e necessidade de reflexão, aceitação, busca e experimentação
de outras “verdades” que assistam o ser humano de forma plena, sensorial e particular. Algo que,
segundo o discurso vigente, a Verdade de Deus, reduzida e limitada ao conceito de religião, não
pode conceder ao ser humano pós-moderno.
Os secularistas são politicamente muito astutos para atacar a religião de modo frontal ou
redicularizá-la como falsa. Então, o que fazem? Eles consignam a religião à esfera do
valor, desta forma excluindo-a da esfera do verdadeiro e do falso. Assim, os secularistas
podem nos assegurar de que “respeitam” a religião, ao mesmo tempo em que negam haver

11
Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 701,733.
12
ALVES, Rubem. O enígma da religião. Campinas: Papirus, 1984, p. 60,61.
13
Entrevista com Zygmunt Bauman. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7P1MAZXFVG0. Acessado em 25/02/20.
14
Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 1539.
6

relevância com a esfera pública.15


Em nossos dias, em hipóstese alguma, a Verdade de Deus é chamada de mentira. Isso seria
preconceituoso, intolerante, impopular e politicamente incorreto. Midiaticamente talvez até batizado
de “verdadefobia”. Alguns já tem escrito sobre a “crentefobia”, discorrendo sobre a perseguição aos
de fé evangélica, que acreditam em verdades exclusivas e princípios baseados na Bíblia.16 Inaceitável
num mundo globalizado, midiático, regido pelo “ibope”, moderno e progressista, onde a aparência e
a opinião pública valem mais do que qualquer coisa. “Num mundo em que se ouve com os olhos e
pensa com os sentimentos”17. Contudo, nesse mundo plural, de “verdades”, a Verdade de Deus, foi
rebaixada e nivelada a apenas mais uma “verdade”, das várias possíveis, (segundo eles), mesmo que
pouco prováveis. Essas, são defendidas, difundidas, popularizadas e estrategicamente massificadas
numa velocidade quase que viral, pelos mais variados meios de comunicação, alcançando não apenas
uma faixa da população, mas as multidões; dos mais diferentes grupos e esteriótipos.
Perseguir, bater de frente, contestar e rotular, não são mais as estratégias vigentes. Conviver,
dialogar, aculturar, sincretizar, aglutinar, congrassar e conectar, são os meios buscados para ao
mesmo tempo, enfraquecer e diluir a Verdade de Deus. O foco é torna-la em qualquer coisa ou em
mais uma coisa, menos naquilo que de fato é, Verdade. Ao mesmo tempo que pendulam nessa
direção, pendulam também na direção de elevar o conceito dos argumentos e idéias humanas, muitas
delas, abomináveis aos olhos de Deus, segundo as Escrituras. A busca segue sendo pela mudança e
domínio da cosmovisão. De forma objetiva, os engajados optaram apenas por um mudança na
estratégia, mas o ataque continua...
Percey apresenta cosmovisão como um “mapa” da realidade e ilustra como diferentes
cosmovisões enxergam a natureza humana: “Os marxistas afirmam que, no final das
contas, o comportamento humano é moldado pelas circunstâncias econômicas; os
freudianos atribuem tudo a instintos sexuais reprimidos; e os psicólogos comportamentais
encaram os seres humanos pela ótica de mecanismos de estímulo-resposta. Todavia a
Bíblia ensina que o fato dominante nas escolhas que fazemos é nossa crença suprema ou
compromisso religioso. Nossa vida é talhada pelo “deus” que adoramos – quer seja o Deus
da Bíblia, quer outra deidade substituta. 18
3. NEUTRALIZANDO O INIMIGO
Ao pensarmos no conceito ou materialização da verdade, deveríamos partir da pessoa de Deus,
Criador de todas as coisas; perceptíveis e imperceptíveis. No princípio de tudo, do nada, Ele trouxe
tudo a existência. Não existe nada que possamos pensar, conceber ou vir a conhecer, que de fato
exista, a despeito de acreditarmos ou não, que não tenha sido criado por Deus (Gn 1.1) “No
princípio, Deus criou os céus e a terra”19 Coisas e conceitos foram “startados” por Ele.
O livro de Genesis, um livro de origens, tem por propósito não apenas trazer ao ser humano, um
relato sobre o passado; sobre como tudo se deu no início. Além desse propósito, o livro também
intenciona conectar cada e qualquer narrativa registrada no livro, à narrativa maior, que foi e está
sendo escrita, por assim dizer, pelo Criador de todas as coisas, que de forma progressiva, nos
desvendou alguns episódios. Embora saibamos, por revelação divina, que existam cenas dos
próximos capítulos, onde tudo se consumará, “fechando”, e ao mesmo tempo “abrindo”, uma nova e
perfeita história – (Ap 21.1) “Então vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a
primeira terra já não existiam, e o mar também não mais existia”.20
Por isso a negação, desconsideração ou relativização da Pessoa e obra do Criador, que inicia e
consuma todas as coisas, implica não apenas em propor uma outra narrativa – mais racional; ou uma
narrativa concorrente – mais funcional; ou mesmo, uma narrativa paralela – mais interativa. A
15
CAMPOS, Junior, Heber Carlos de. Amando a Deus no mundo: por uma cosmovisão reformada. São José dos Campos, SP: Fiel, 2019,
p. 134.
16
NERY, Pedro Fernando. Crentefobia. São Paulo: Estadão, 04/02/20.
17
CARSON, D.A. A Verdade – Como comunicar o evangelho a um mundo pós-moderno. São Paulo: Vida Nova, 2015, p.29.
18
CAMPOS, Junior Heber Carlos de. Amando a Deus no mundo: por uma cosmovisão reformada. Sâo José dos Campos, SP: Fiel, 2019, p.
131 Apud Pearcey, Verdade Absoluta, p.26.
19
Bíblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p.3.
20
Bíblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p 1581.
7

proposta de uma outra narrativa, é acima de tudo, a estratégia de propor algo falso, mentiroso,
afrontador e inexistente, que tem por objetivo a malfadada intenão de destronar o Soberano Deus.
No Novo Testamento, o texto de Cl 1.16, corrobora com a idéia de Gênesis 1:1. – “Pois por meio
Dele, todas as coisas foram criadas, tanto no céu como na terra, todas as coisas que podemos ver e
as que não podemos ver, e as autoridades do mundo invisível. Tudo foi criado por meio Dele e para
Ele”21.
Cristo é supremo, antes de tudo, por causa de Sua singular relação com Deus. Em contraste
com o sistema de emanações progressivamente inferiores de um Deus distante, santo
demais para entrar em contato com o universo, Jesus Cristo era a “eikõn”, a perfeita
representação de Deus, a “iluminação de Seu âmago e essência. Ele é supremo, a seguir,
em virtude da Sua relação com o universo criado. Em contraste com o Demiurgo gnóstico,
um criador semidivino, Paulo apresenta Jesus não só como criador divino, mas como o fim
último da criação e aquele que tem o direito de exercer autoridade sobre ela como
primogênito. Ele tem autoridade sobre espíritos, e anjos de qualquer categoria que possa
ser invocada. Além do mais, Ele é responsável por sustentar a integridade do universo.22
Quando pensamos em Deus, seja em sua Pessoa, caráter ou feitos, concluímos que Ele é a
plenitude de tudo o que possamos vir a conhecer e entender por Verdade. Ele é a Verdade, seja em
termos conceituais ou revelados; essência e materialização. Todos os conceitos absolutos que nos
foram revelados, pela criação, pelos decretos divinos, por providencia divina, por meio de Jesus
Cristo, ou ainda por meio da Bíblia, o foram, por vontade e ação Soberana Dele. Ir contra isso,
mesmo sem perceber ou aceitar, é fazer mal a si mesmo.
Nietzsche vê que a civilização (ocidental) passa pelo processo de descartar a divindade ao
mesmo tempo que se apega a valores religiosos, e que esse ato ultrajante de má-fé não
deve permanecer incontestável. Nossas concepções de verdade, virtude, identidade e
autonomia, nosso senso de história como algo bem formatado e coerente, tudo isso têm
profundas raízes teológica.
A idéia defendida por Nietzsche é a seguinte: se você afirma não crer em Deus, mas
acredita que todos têm direitos e também crê na necessidade de cuidar dos mais fracos e
pobres, então continua apegado a crenças cristãs, quer o reconheça, quer não. 23
Num mundo de “verdades”, o ataque à Verdade Absoluta, seja por meio de conceitos filosóficos e
acadêmicos, formas de expressão socio/político-religiosas, ou ainda por meio de práticas
comportamerntais, constituem-se não apenas num mero ataque no campo acadêmico, filosófico,
político, religioso ou cultural. Constitui-se num ataque direto a Pessoa de Deus.
Um bom exemplo desse fato, pode ser visto em (Gn 3.1-6).
“A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus havia
criado. Certa vez ela perguntou a mulher: Deus realmente disse que vocês não devem
comer do fruto de nenhuma das árvores do jardim? Podemos comer do fruto das árvores
do jardim, respondeu a mulher. É só do fruto da árvore que está no meio do jardim que não
podemos comer. Deus disse: Não comam e nem sequer toquem no fruto daquela árvore; se
o fizerem, morrerão. É claro que não morrerão!, a serpente respondeu a mulher. Deus sabe
que, no momento em que comerem do fruto, seu olhos se abrirão e, como Deus,
conhecerão o bem e o mal, A mulher viu que a árvore era linda e que seu fruto parecia
delicioso e desejou a sabedoria que ele lhe daria. Assim, tomou do fruto e o comeu, Depois
deu ao marido, que estava com ela, e ele também comeu.24
Satanás se inflitra de alguma forma no jardim do Édem, lugar de perfeita comunhão entre Criador
e criação, a partir de onde Adão e Eva teríam condição de espelhar e espalhar a glória de Deus por
toda a terra. Satanás ataca Adão e Eva, ainda ali no “Centro de Treinamento Édem”, com o claro
objetivo de atingir a Deus. Sua proposta: Embora Deus tenha falado com vocês, racionalizem;
21
Bíblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 1501.
22
PINTO, Carlos Oswaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008, p. 383.
23
KELLER, Timothy. Deus na era secular: como os céticos podem encontrar sentido no cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 2018, p. 69.
24
Bíblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 3.
8

duvidem; desconfiem; questionem; relativizem; não acreditem e nem sigam a Verdade (Deus).
Acreditem e sigam qualquer outra coisa; pode ser a idéia de ser igual ou maior que Deus, ou
simplesmente os desejos de seus próprios corações, que lhes satisfaçam e lhes abram novas opções e
libertadores caminhos; só não acreditem e nem sigam a Verdade (Deus). Buscando atingir
diretamente a Deus, todos esses ataques à verdade absoluta como conceito ou prática, são tentativas
de atingir a pessoa e obra da Trindade divina.
A Bíblia, revelação específica de Deus, inspirada, inerrante e infalível, está essencialmente
centrada no fato de ser a comunicação da Verdade Absoluta de Deus, sobre Sua Pessoa e feitos, e
sobre tudo quanto Ele quis nos revelar
A bíblia é normativa abrangente; ela nos conta a verdadeira história do mundo, e, como tal,
se coloca em oposição às histórias alternativas que tentam fazer a mesma coisa. Como
Tom Wright afirma, “a essência toda do cristianismo é que ele oferece uma história que é a
história do mundo todo. É verdade pública. 25
Quando temos uma visão correta das Escrituras, a própria Bíblia vem ao nosso encontro,
para moldar o que acreditamos do começo ao fim. Ela deve comandar a forma como nos
comportamos, e deve conformar toda a nossa perspectiva de vida. Em outras palavras, se
simplesmente começarmos a afirmar o que a Bíblia diz sobre ela mesma, o restante de
nossa visão ruirá, ao adotarmos a Bíblia como princípio e critério de tudo o que cremos,
portanto, isto é crucial; é o ponto de partida fundamental no desenvolvimento de uma visão
cristã de mundo.26
O princípio da suficiência das Escrituras é de importância central... A declaração da
Confissão de Westminster resume o consenso evangélico sobre a essa questão importante:
“Todo o conselho de Deus, com respeito a todas as coisas necessárias para a sua glória, a
salvação do homem, a fé e a vida ou está expressamente colocado na Escritura, ou, por ser
uma boa e ncessária consequência, pode ser deduzido da Escritura, à qual nada em tempo
nenhum deverá ser acrescentado, que por novas revelações do Espírito, ou por tradições de
homens. 27
Em Dt 29:29, fica claro o privilégio e responsabilidade que o Senhor nos concedeu.
“O Senhor nosso Deus tem segredos que ninguem conhece. Não seremos responsabilizados por
eles, mas nós e nossos filhos somos responsáveis para sempre por tudo que Ele nos revelou,
para que obedeçamos a todos os termos desta lei”28
O livro de Deuteronômio, traz por conteúdo a repetição de vários acordos entre Deus e Seu povo
escolhido, Israel. Reenfatiza a necessidade de obediência e sevidão exclusiva ao Deus Soberano e
único, para que todas as Suas promessas e bençãos se concretizassem sobre a nação de Israel.
Nesse texto (Dt 29.29), ainda que o conteúdo “tudo que Ele nos revelou”, aponte para a Lei e
todos os preceitos que deveriam ser cumpridos pelo povo de Israel, para que o mesmo fosse bem
sucedido na Terra provisionada pelo Senhor, numa somatória de leis e acordos apodídicos e
causuísticos, não podemos deixar de pensar que “tudo o que Ele nos revelou”, também tem
implicações e relação com todas as coisas possíveis de serem descobertas, percebidas, entendidas e
sistematizadas pelo ser humano, uma vez que, todas as narrativas relevadas pelo Senhor, de alguma
forma, estão conectadas à narrativa maior, que contribuem para a restauração do relacionamento
Criador – criatura, e culminam na honra e glória do Deus trino.
Se Ele não tivesse comunicado esse conhecimento a Israel e a nós de maneira extensiva e geral,
nunca, e de nenhuma outra forma, teríamos acesso a essas informações. Conceitos de verdadeiro e
falso; certo e errado; bençãos e maldições; agradável e desagradável, segundo Seu parecer divino; se
Ele não nos tivesse revelado, nunca saberíamos. Se de cima para baixo, não ocorresse tal revelação,
é como se tivéssemos que viver por um caminho que deveríamos saber, mas sem nunca termos tido
25
GOHEEN, Michael W. Introdução a cosmovisão cristã: vivendo na intersecção entre a visão bíblica e a contemporânea. São Paulo: Vida
Nova, 2016, p. 50.
26
MAcARTHUR, John. Pense biblicamente: recuperando a visão cristã de mundo. São Paulo: Hagnos, 2005, p. 26.
27
MAcGRATH, Alister. Paixão pela verdade: a coerência intelectual do evangelicalismo. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 45.
28
Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p.272.
9

acesso às informações e direcionamentos necessários para trilharmos por ele.


Tudo isso além de ser permissão divina, ato de bondade e instrumento de glória ao Senhor, ao
mesmo tempo que potencializa o ser humano a viver e experimentar a vida de forma ampla,
cuidadosa e prazerosa, nos responsabiliza sobre a ciência de um Ser superior, a quem não estamos
isentos de obediência e prestação de contas no tempo oportuno. Quer concordemos com essas
determinações ou não. Como nos ensina Rm 1.18-20.
“Assim, Deus mostra do céu sua ira contra todos que são pecadores e perversos, que por
sua maldade impedem que a verdade seja conhecida. Sabem a verdade a respeito de Deus,
pois Ele a tornou evidente. Por meio de tudo que Ele fez, desde a criação do mundo,
podem perceber claramente seus atributos invisíveis: seu poder eterno e sua natureza
divina. Portanto, não tem desculpa alguma”. 29
A carta de Paulo aos irmaos de Roma, judeus e gentios, que desenvolve temas teológicos,
pastorais e apologéticos, dentre tantas coisas expõe a verdade de que somos injustificáveis diante de
um Deus santo, soberano e justo, que por graça e misericórdia, mesmo a despeito da incrédula e
idólatra humanidade, decidiu se revelar e vir até ela, com perdão e livramento. Mesmo não havendo
“justo nenhum sequer” (Rm 3.10), num ato de misericórdia e graça, o Senhor se inclinou aos Seus
eleitos. Novamente temos nesse texto a idéia de que se o Senhor não houvesse nos revelado algo
sobre Ele e sobre suas bondosas e justas obras, nunca teríamos acesso nem a essas, nem a qualquer
outra informação. Ainda que sejamos indesculpáveis, em qualquer cenário, o fato de termos acesso a
tantas informações da parte de Deus, e pelo conteúdo revelado podermos conhecê-Lo, é como se o
ser humano que o rejeita, tivesse sua situação “piorada”, ou sua culpa “ampliada”, - se é que isso seja
possível; ser mais perdido e condenável, do que já o é- (Rm 3.23) – “Pois todos pecaram e não
alcançam o padrão da glória de Deus” 30
Desde a criação (Genesis) até a consumação de Seus propósitos eternos (Apocalipse), em Sua
revelação progressiva, a premissa é sempre a mesma. Verdade de Deus! Verdade de Deus! Verdade
de Deus! A criação e a Bíblia proclamam essa mensagem em alto e bom som (Salmo 19).
O salmo 19, eu creio o mais conciso e direto tratado sobre a suficiência das Escrituras em
toda Bíblia. Esse salmo nos conduz ao significado da revelação divina. A primeira metade,
versículos de 1-6, descreve a revelação de Deus na natureza, a qual por anos os teólogos
tem chamado de revelação geral... Mas enquanto a revelação geral é suficiente para revelar
o fato de que Deus existe, e para ensinar-nos algo sobre Seus atributos, a natureza por si só
não revela a verdade da salvação... Então, a segunda parte do salmo, versículos 7-14,
destaca a absoluta e perfeita suficiência das Escrituras como nossa única verdade e
infalível guia de vida... O primeiro título para a Bíblia é “a lei”, a palavra hebraica
“tõrã(h), que significa basicamente ensinamento bíblico... A torah, é o ensinamento de
Deus para todas as áreas da vida.31
O fato de que existe um conhecimento decadente a respeito de Deus que invade a
consciência humana é indiscutível, de um ângulo bíblico, e que evolui em duas direções
que, na verdade, se interceptam. E o ponto de intersecsão está na consciência. Sob um
aspecto inconfundível... o Criador tem um relacionamento de concerto com a criação (Gn
8.21,22; 9.16; Sl 19.1-6). O outro ângulo pelo qual isso pode ser visto consiste no fato de
que o ser humano continua sendo um ser moral, mesmo em meio à grande desordem moral
e confusão, e, particularmente, mesmo com um perpetrador da desordem moral... Pela
criação, nós somos feitos para um mundo moral, quen não podemos honrar, mas do qual
não conseguimos nos separar... Pela criação, são revelados “tanto o seu eterno poder, como
sua divindade” (Rm 1.20). Paulo declara que conhecemos a Deus (Rm 1.21)...Mas esse
conhecimento não salva... A consequência adicional dessa falta de consideração
determinada a Deus é o fato de que a vida se torna vazia e sem sentido... Em um mundo
decadente, o Destino, o Acaso, a Matéria e o Vazio tomam o lugar de Deus na vida, e
tornam-se as forças organizadoras na criação... No mundo pós-moderno em que vivemos,
cujo centro está no indivíduo autônomo, a partir do que se tem uma colheita generosa de
29
Bíblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p.1429.
30
Bíblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 1432.
31
MAcARTHUR, John. Pense biblicamente: recuperando a visão cristã de mundo. São Paulo: Hagnos, 2005, p. 36,37.
10

vazio intelectual e desordem moral, isso não é uma boa notícia. O que o mundo pós-
moderno celebra em sua rejeição de tudo o quer é absoluto, e no seu direito presumido de
definir toda realidade de modo privado, é um sinal da ira de Deus (cf. Rm 1.22)32
A expressão ou conceito Verdade, juntamente com termos e conceitos derivativos, em relação a
Deus, Sua Palavra e feitos, trazendo a ideia de: “estabilidade”, “fidelidade”, “veracidade”,
“realidade”, “pacto”, “promessa”, aliança”, “descortinamento”, “inesquecível”; “correspondência aos
fatos”, “coerência com os fatos”, “oposição a mentira”, “mensagem correta”, “digna de confiança”,
aparecem inúmeras vezes e em várias partes diferentes no relato bíblico. A chave Bíblica, baseada na
versão Revista e Atualizada, quantifica o termo “Verdade” e “Verdadeiro”, pelo menos 150 vezes.
No A.T, uma das palavras para verdade é: Emet: ‫) ֱאמֶת‬, e traz a idéia de: fidedignidade; firmeza;
confiança; fidelidade; aliança; pacto; estabilidade; apoio; sustentação; promessa (Is 11:5; Ex 34:6; Dt
6:20-25; I Re 2:4;3:6; Sl 19: 43:3; 119:105; 57:3,10; 61:7; 69:13; 85:10; 111:8; 117:2; 119; Zc 8:8).
“Sendo o Deus da verdade, Javé é o Deus em cuja palavra e obra, podemos colocar nossa inteira
confiança... A verdade no A.T não é meramente teorética ou abstrata, mas sim fundamentada na
fidelidade de Deus... Sua palavra e seus atos, são uma coisa só. Age fielmente de acordo com sua
palavra falada. Logo, o crente pode fazer descansar com confiança seu peso total sobre Deus, e
achá-Lo fiel33.
O Deus que não pode mentir (Nm 23:19), baseou-se em si mesmo, para pactuar com Adão (Gn
3:15;21); com Noé (Gn 9); com Abrão (Gn 12;15); com Moisés (Ex 3); com com Davi (II Sm 7);
com Cristo (Is 9:1-7) e com os redimidos (Is 11). Ele (Pessoa, atos e Palavra) são as garantias de que
tudo, Soberanamente determinado por Ele, se cumprirá. Ao mesmo tempo que Ele criou a Verdade,
Ele é a Verdade, e por ela vela para que tudo siga pelas vias que projetou. À parte da Verdade,
qualquer “verdade” é mentira!
No N.T, uma das expressões para verdade é: aletheia (ἀλήθεια), e traz a ideia de: verdadeiro;
real; veraz; genuíno; fidelidade; sincero; correto; válido; de fato; conforme os fatos; oposto a
mentira. (Jo 1:14; 8:32; 14:6; Rm 15:8).
O N.T nos mostra que Jesus Cristo, tabernaculou em nosso meio como expressão máxima da
Verdade (Jo 1:14). Por meio Dele, fomos presenteados com a Verdade, da qual Ele testificava (Jo
1:17,18; Jo 8:44-47; 18:37), e fomos alvos de Sua intercessão, para que fossemos santificados na
Verdade da Sua Palavra (Jo 17:17). Além disso, Ele mesmo afirmou ser a Verdade (Jo 14:6). Não
abstrata, ou apenas promessa vindoura; mas real; presente; verificável; quer por conceitos lógicos e
teológicos, quer pelos sentidos da alma. Junção perfeita de conceito e ação. Oposição Soberana e
plena à mentira! Ninguem pode se relacionar com Deus, se não pelo caminho da Versade; Jesus
Cristo!
É interessante observar o texto de Jo 18.38, que narra o diálogo/interrogatório de Pilatos com
Jesus. Nesse versículo, Pilatos confuso e sem saber o que fazer, pergunta a Jesus “...Que é a
verdade?”34 Seria cômico, se não fosse trágico, que Pilatos esteve diante da encarnação da Verdade
Absoluta, e não conseguiu se dar conta disso. Infelizmente, Pilatos não foi o único que esteve diante
de Cristo, mas não O reconheceu como Verdade encarnada. Como diz o ditado popular: “o pior
cego, é aquele que não quer enxergar”.
O apóstolo Paulo, ao escrever ou falar sobre a Verdade, na grande maioria das vezes, o fazia,
correlacionando-a também com os padrões de Deus; ou com o genuíno evangelho; ou ainda de forma
mais ampla, com a inerrante e inspirada Palavra de Deus (At 26:25; Rm 1:18,25; II Co 6:7; 11:10;
13:8; Gl 2:5; 5:7; II Ts 2:12,13; I Tm 2:4,7II Tm 2:15,25; 3:7,8; 4:4). Por várias vezes o apóstolo
alerta sobre os perigos da entrada de falsos ensinos que tinham por objetivo, torcer a verdade de
Deus.
(At 20:28-31) - Portanto, cuidem de si mesmos e do rebanho sobre o qual o Espírito Santo os
colocou como bispos, a fim de pastorearem sua igreja, comprada com seu sangue. Sei que
depois de minha partida surgirão em seu meio falsos mestres, lobos ferozes que não pouparão
32
PIPER, John; TAYLOR, Justin. A supremacia de Cristo num mundo pós-moderno. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 43,44.
33
COENEN, Lothar/ BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p.2604,2605.
34
Bíblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 1377.
11

o rebanho. Até mesmo entre vocês se levantarão homens que distorcerão a verdade a fim de
conquistar seguidores35
Em sua carta aos Colossenses, que estavam sendo influenciados por várias idéias contrárias aos
ensinamentos bíblicos, como superstições religiosas, legalismo judaico ou judaísmo e filosofias
humanas, Paulo exorta os irmãos daquela comunidade a fincarem suas raízes na verdade que era
Cristo. Cl 2:7 “Aprofundem nele suas raízes e sobre ele edifiquem sua vida. Então sua fé se
fortalecerá na verdade que lhes foi ensinada, e vocês transbordarão de gratidão” 36. Numa
observação mais detalhada do capítulo 2, é possível perceber que Paulo constrói seu argumento,
apresentando a diferença entre as várias mentiras alheias a Cristo (Versos – 4,8,16,18,22,23);
independentemente da fonte, todas elas eram ideologias e conceitos falsos da vida. Em contrapartida,
Paulo enfatiza que toda e qualquer verdade está e é manifesta em Cristo e Sua obra (Versos –
2,3,5,6,7,9,10,11,12,13,14,15,17,19,20).
Já o apóstolo João, que de todos os escritores do N.T, talvez tenha sido o que mais fez uso do
termo Verdade e suas derivações, acrescenta muito sobre o tema. É ele que nos relata, por exemplo,
sobre o anúncio feito por Jesus, da vinda do Consolador; o Espirito Santo de Deus. Espírito da
Verdade, que nos faria lembrar acerca dos ensinamentos do Verdadeiro e nos guiaria à toda verdade
(Jo 14:15-27; 16:5-16). A Trindade repousa no fato de ser criadora, protetora, proclamadora e
expressão plena da Verdade.
As considerações da frequência das palavras sugerem, por si só, a importância da verdade
em João e nas Epístolas Joaninas. Quase metade das 109 ocorrências de aletheia aparece
nos escritos joaninos (25 vezes no Evangelho e 20 vezes nas Epístolas de João). alethes é
usado 17 vezes de um total de 26 ocorrências no N.T; ao passo que alethinos, aparece 23
vezes (inclusive 10 no Apocalipse) de um total de somente 28 usos na totalidade do N.T.
No cômputo geral, portanto, mais da metade de todos os usos de todas as três palavra do
N.T ocorrem nos escritos joaninos.37
O discípulo amado de Jesus, comissionado por Ele para testemunhar do que viu, ouviu e
experimentou, até o fim de sua vida esforça-se para enfatizar a necessidade de: Conhecermos a
Verdade; mesmo em meio as mais astutas e articuladas heresias (I Jo) (uma delas o gnosticismo,
como todas suas ramificações). Permancermos na Verdade; mesmo em meio aos “simpáticos”,
aventureiros e etinerantes enganadores desse mundo. (II Jo). Andarmos na verdade; mesmo em meio
a oposição interna, até mesmo entre os supostos seguidores, e a busca sem escrúpulos pelo poder (III
Jo).
Infelizmente, em algum momento da história da humanidade, ainda no Édem, o relato bíblico nos
revela que a Verdade de Deus, sua Pessoa, caráter, obra e vontade, foram atacados, levando o ser
humano a colher como fruto de sua malfadada decisão, a disciplina de Deus; isso, como
cumprimento da própria Verdade divina (Gn 2:17 – “com certeza morrerá”)38. Desde então, a
humanidade, tomada por corrupção e insanidade, de uma forma ou de outra, usando as mais
diferentes estratégias e armas, tenta atacar, destronar e fazer ruir a Verdade; ou o próprio Deus,
sofrendo em si mesmos as consequências de suas escolhas. “O humanismo secular clássico rejeita a
verdade, em favor da matéria; a versão pós-moderna rejeita a verdade, em favor da experiência.”39
Em termos práticos, a reverência para com a verdade exige receptividade para com ela, e
submissão à sua orientação. Do lado protestante, T. F. Torrance fala da disposição para
submeter todos os preconceitos ao teste da verdade, disposição esta que caracteriza a
Reforma. Do lado católico romano, K. Rahner fala do modo segundo o qual a auto-defesa e
a auto-asseveração dão origem à falsidade. Por que outro motivo alguém desejaria mentir,
senão para obter alguma vantagem imerecida para si mesmo, tendo em vista a conservação
da sua própria reputação ou de impor seus próprios pontos de vista? Somente o homem que
se sente inseguro, cujos pecados não foram perdoados, e que, portanto, tem medo de
35
Biblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 1415.
36
Biblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p.1502.
37
Idem ao 2, p. 2616.
38
Biblia Sagrada. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p.3.
39
PIPER, John; TAYLOR, Justin. A supremacia de Cristo num mundo pós-moderno. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 56.
12

aceitar a culpa, precisa mentir. O homem liberto terá a coragem de dar testemunho da
verdade. Seguirá a verdade, onde quer que ela o leve, não tendo interesses pessoais para
chegar a algum destino pré-deterninado. Na teologia, esta atitude não precisa ser a
prerrogativa exclusiva do liberalismo clássico, conforme as vezes se alega. É maior do que
qualquer tradição teológica. Conforme T. F. Torrance argumenta, com razão, o método de
seguir a verdade por onde quer que ela nos levar é o único método apropriado e
genuinamente “científico” quando o que está em jogo é a verdade do próprio Deus. A
reverência para com a verdade não é simplesmente o pseudo-cinismo da nossa era, que
procura “desmascarar” tudo, na crença de que ninguém e nada pode genuinamente alegar
possuir a verdade. Esta reverência é a atitude que combina a confiança jubilosa de que a
verdade realmente pode ser achada, com a humilde submissão à verdade, quando e onde
ela emerge. Esta receptividade para com a verdade é exigida daqueles que adoram o Deus
da verdade; e ao mesmo tempo, a devida reverência pela verdade garante a honestidade no
modo do homem lidar com seu próximo, tanto nas palavras como nas ações. É à esta
atitude, conforme já vimos, que o A.T e o N.T dão testemunho. A.C. Thiselton.40
É importante pontuar e ressaltar que o período pós-moderno, que caracteriza o tempo que vivemos;
esse “jeitão” de nossa geração, em sua totalidade, ou seja, em todos os seus conceitos, não deve ser
rotulado como uma espécie de: “anti-cristo”; “uma praga apocalíptica”; ou “o sinal claro e profético do
final dos tempos”; ou mesmo como a “doutrina do inferno”. Esse período deve ser encarado com
equilíbrio, como o foram os outros que marcaram suas respectivas gerações.
Obviamente existem particularidades desse período que também trouxeram boas ênfases, na forma de
pensar, agir e crer. Dentre eles, poderíamos citar o incentivo numa maior reflexão acerca da vida, das
idéias, das instituições, das crenças, das filosofias, das metodologias, da sociedade, dos ritos e das
pessoas; uma maior ênfase na necessidade dos relacionamentos e uma maior reflexão acerca dos mesmos,
conservando suas funcionalidades (Ex: líder-liderado; família; casamento.); na visão de que casamento
não é apenas procriação e metas, mas é também romance; poderíamos citar ainda a ênfase na idéia de que
o ser humano é um ser integral; tudo esta correlacionado e interligado; a maior possibilidade de diálogo e
diplomacia; a junção ou alinhamento no crer (saber) e no crer (experimentar ou sentir); e a visão de que a
vida não pode ser vista apenas como uma Catedral e todo seu ritualismo, ou uma Bíblioteca, com todo seu
academicismo e ciência, ou mesmo como um Indústria e sua linha de montagem; ela também pode e deve
ser vista como um lindo jardim, para ser sentida e desfrutada.
Contudo, mesmo que os tempos atuais enfatizem reflexão, relacionamentos, devoção, lazer,
experiências, avanços e oportunidades, divorciados das Escrituras e de Seus Absolutos, algo que com
muita facilidade e frequência tem ocorrido, indenpendentemente do período em que vivemos, os frutos a
serem colhidos serão: confusão, alienação, frieza, frustração, caos e juízo divino. Em suma, olhando para
a história da humanidade, seremos apenas mais uma geração que decidiu correr atrás do vento (vide livro
de Eclesiastes).
A Verdade de Deus é a resposta. Uma das formas escolhidas por Deus para revelação dessa Verdade
é a Bíblia. Nela encontramos o alicerce para lidarmos com o vendaval das idéias antigas ou
contemporâneas. Ela é o nosso manual de fé e prática; não somente aos evangélicos, como se fosse um
livro religioso escrito apenas para esse público alvo.
O padrão apresentado pelas Escrituras é o padrão correto a todo ser humano. Podemos encontrar a
exposição desse padrão em várias porções da Bíblia (Êx 20. 1-17; Mt 5.17-48; Rm 12.14-21; 13:1-7; I Co
13.1-7; I Tm 6.10). Se a humanidade, e particularmente, os adolescentes e jovens evangélicos, irão se
submeter a esse padrão, é uma outra questão, todavia, isso não tira e nem mesmo diminui a Verdade
revelada por Deus nas Escrituras, sobre qualquer que seja o assunto.
Somos chamados a compreender nosso tempo. “Façam isso, compreendendo o tempo em que
vivemos. Chegou a hora de vocês despertarem do sono, porque agora a nossa salvação está mais
próxima do que quando cremos” (Rm 13.11) 41. Em nossos dias, não somente a verdade, mas também a
possibilidade da existência de uma verdade absoluta tem sido atacada. Em meio aos ataques de alguns
conceitos da pós-modernidade, nós evangélicos, devemos enfatizar nos lares e cultos domésticos, nas

40
Ibid. p 2629.
41
BÍBLIA SAGRADA. Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Geográfica, 2000, p. 885.
13

classes de Escola Bíblica, nos cultos públicos, nos sermões, nos acampamentos, nos seminários, nas
reuniões de grupos pequenos, nas letras das músicas e em outras oportunidades que tivermos, não
somente a existência da verdade, mas também a ação que a mesma pode realizar na vida do ser humano
(Jo 8:32). A Verdade é Deus e toda verdade procede de Deus. Não podemos pensar de forma diferente.
A confrontação e aconselhamento baseado essencialmente nas Escrituras, aos mínimos sinais
comportamentais pecaminosos, precisa voltar a ser uma prática comum e não eventual entre os
evangélicos, e precisa ter como foco o coração (Pv 4:23; 27:19; Mt 6:21; Tg 4). O objetivo é sermos
parecidos com Cristo (Ef 1:10) e não reprodutores de comportamentos vazios em sua essência; hipócritas
religiosos e legalistas; sepulcros caiados.
Nossos púlpitos precisam da genuína exposição das Escrituras. Proclamar o que Deus diz em Sua
Palavra, que é inspirada, poderosa e infalível; sempre atinge seus objetivos (II Tm 3:16,17; Hb 4:12).
Precisamos de menos ênfase em programas, marketing, metodologias e oratória, e mais conteúdo bíblico
(I Co 2; II Tm 2:15; 4:1,2).
Não podemos ter um estilo de vida igual, ou mesmo parecido, ao de uma geração depravada e
corrompida. (Tt 2:12). Não precisamos ser estranhos, mas precisamos ser diferentes (Fp 2:12-16). Não
podemos ignorar ou fingir que não estamos vendo a distância entre o padrão bíblico e o padrão
vivenciado por muitos evangélicos; padrão esse, denominado por alguns deles como: “jeito moderno de
ser” ou “manifestações culturais ou regionais”. Não podemos nos conformar, apenas aceitando a situação.
Nossa forma de agir não pode ser antagônica ao que afirmamos pensar e crer (I Tm 4:12).
O ser humano precisa de Deus. A declaração presente no início do salmo 42:1 “Como a corça anseia
por águas correntes, a minha alma tem sede de ti, ó Deus” 42; é tão real em nossos dias como era nos dias
do salmista. Embora muitos evangélicos, estejam sendo alimentados com uma cultura que prega a auto-
suficiência, ou dependência em qualquer coisa, precisamos enfatizar o axioma de que alienados de Deus,
não somos nada (Sl 24; Rm 11:33-36).
Nossa geração está faminta – faminta de amor, de beleza, de significado, de moral estável e
de lei. A “poeira da morte” cobre tudo. E, como nos dias de Jeremias, há conosco o desejo
insatisfeito de um consolador suficiente. 43

A oração, leitura e meditação nas Escrituras, a pratica cristã e a frequência aos cultos e programações
de nossas igrejas locais não devem constituir-se num evento excepcional em nossa agenda, mas sim numa
rotina; num estilo de vida. Como disse Pedro: “...Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida
eterna”.44 (Jo 6:68b). Essa deve ser nossa forma de crer.
Uma proposta que acreditamos ser prática e que produzirá saúde e influência positiva em nosso meio,
especialmente ao público de adolescentes e jovens evangélicos, é a ênfase na formação de uma
cosmovisão bíblica, que enfoque: Evangelismo, Discipulado e Treinamento de Líderes. (Existem algums
opções disponíveis em nosso país. Para saber mais sobre uma dessas opões, vide informações sobre IBPV
– www.pvnordeste.com). Glorificar a Deus e edificar Seu Reino, através da observância à vocação e
capacitação (dons e talentos) dada por Ele a nós (Ef 4). Colocá-la em prática em nosso dia a dia,
aproveitando as oportunidades em nosso círculo de relacionamentos; também em nossa funcionalidade,
como membros de alguma igreja local e/ou ainda por meio da voluntariedade numa instituição para-
eclesiástica.
Vivemos num mundo pós-moderno. Não há como fugir dessa realidade. Sua clara influência tem
produzido alguns efeitos negativos entre adolescentes e jovens evangélicos. Contudo, não podemos adotar
uma postura simplista e alienada ao nosso tempo, formando guetos e nos transformando em ermitões
contemporâneos.
Tampouco, devemos adotar uma postura politicamente correta, nos amoldando ao pensamento e
comportamento da moda. A verdade de Deus sempre foi vivida e exposta em todas as épocas e períodos,
portanto, em nossos dias, temos o desafio de buscar capacitação para conhecer, andar e permanecer na
verdade de Deus. Além disso, devemos também apresentá-la a essa geração, não como mais uma opção,
mas sim como “...o caminho, a verdade e a vida... 45” (Jo 14.6a). Essa é a verdade que a geração atual
precisa abraçar em toda sua forma de pensar, agir e crer. Nossa geração precisa de um encontro real,
transformador e permanente com Cristo (Jo 3;4;15).
42
BÍBLIA SAGRADA. Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Geográfica, 2000, p. 434.
43
Idem ao 79, p.21.
44
BÍBLIA SAGRADA. Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Geográfica, 2000, p. 833.
45
BÍBLIA SAGRADA. Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Geográfica, 2000, p. 841.
14

serem meramente sobrevividos! Devem ser encarados com um senso de


Estes não são anos para
esperança e missão. Quase todo dia traz uma nova oportunidade de entrar na vida de seu
adolescente com ajuda, esperanca e verdade. Não devemos nos resignar a um
relacionamento cada vez mais distante. Esta é uma época de conexão com nossos filhos
como nunca houve antes. São anos de grande oportunidade.46

4. CONCLUSÃO
Eu não consigo imaginar totalmente, como seria um mundo em que não houvesse qualquer
resquíceo de verdade. Um mundo onde sequer houvesse fragmentos daquilo que foi revelado e
provido pelo Criador, capaz de nos livrar das falsas idéias e nos conduzir pela estrada da verdade e
do cumprimento dos Seus Soberanos propósitos.
Todavia, mesmo não sendo capaz de imaginar por completo essa realidade, a que vivemos, já
deveria nos preocupar o suficiente. Se Deus e Sua Palavra já não são mais “conceitos indiscutíveis” e
Absolutos, imagine outras questões envolvendo o dia a dia; nossos relacionamentos e
funcionalidades. Olhar nos olhos dos outros, só se for para comunicar e transparecer a culpa e a
desesperança de nossos dias...
Essa avaliação deve nos mover a firmar nossas bases no Alfa e Ômega; Princípio e Fim. Criador e
Consumador de todas as coisas. Intencionalmente alertar as pessoas quanto ao caminho errado em
que estão caminhando, por meio das ideologias e conceitos disseminados ao longo das eras. É nossa
vez de orientar a todos quanto possível, acerca da importância da verdade; crida e vivenciada, capaz
de nos conduzir em segurança e liberdade pelas narrativas da vida, até que desfrutemos da narrativa
eterna - Ef 4.25 “Portanto abandonem a mentira e digam a verdade ao seu próximo, pois somos
parte do mesmo corpo”47
Que o Senhor Deus, criador, sustentador, expressão e representante máximo da Verdade Absoluta,
continue sendo misericordioso e gracioso, não deixando de nos mostrar Sua verdade, não nos
impedindo de compreendê-la, e nos capacitando a caminhar alicerçados e enraizados nele. (Cl 2.7).
“Aprofundem nele suas raízes e sobre ele edifiquem sua vida. Então sua fé se fortaleceráa na
verdade que lhes foi ensinada, e vocês transbordarão de gratidão”.48

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