Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DIAGRAMAÇÃO E CO-EDIÇÃO
Por sua vez, e é esse o tema deste livro, quando os seres humanos se
associam duas pessoas por amor e pretendem uma vida em comum marcada
por sexo, criação de filhos, comunhão completa de vida, respeito, fidelidade
e que isso dure para sempre, estamos diante de uma família, que inclui os
filhos desses dois seres humanos, se houver[4].
O próprio Código Civil às vezes estende (art. 1.412, §2º; art. 1.697; art.
1.843) , às vezes restringe (art. 1.630/1.631/1.634) o significado de Família,
mas, ao meu ver, prevalece o conceito de entidade formada por pais
(homem e mulher) e filhos (art. 1.565; art. 1.567; art. 1.664; art. 1.689).[11]
As causas suspensivas para o casamento (CC, art. 1.523) são aquelas que
apenas impõem o adiamento da celebração e podem ser arguidas pelos
parentes consanguíneos ou afins de qualquer dos nubentes, em linha reta ou
até o segundo grau colateral (art. 1.524 do CC). Mesmo assim, se restar
comprovado não haver gravidez ou, se for o caso, prejuízo para o herdeiro,
para o ex-cônjuge, para o tutelado ou para o curatelado, o juiz pode afastar a
sanção prevista, que não é a invalidade do casamento, mas apenas a
imposição do regime da separação de bens, em proteção dos interesses de
filhos, nascituros, tutelados ou curatelados etc.
Se o casamento for realizado a despeito da causa suspensiva, haverá duas
sanções: a adoção obrigatória do regime da separação de bens (art. 1.641, I) e
a instituição de hipoteca legal em favor dos filhos do primeiro casamento
(art. 1.489, II).
O filho adotivo não pode contrair matrimônio com os filhos naturais do
adotante, mesmo nascidos antes da adoção[30] e, por outro lado, conserva os
impedimentos em relação aos seus parentes naturais, porque de ordem moral
e sanitária. Mas resta uma pergunta: dois irmãos, ambos adotados, que não
sejam consanguíneos, poderiam casar-se? Seguindo a linha aparentemente
adotada, a resposta deve ser negativa, pois o legislador equiparou a filiação
civil à natural e, por outro lado, claramente cerceou avanços libidinosos no
seio familiar, ainda que “inocentes” e “honestos”, “tendentes ao
matrimônio”.
Não persiste mais a nulidade do casamento entre o cônjuge adúltero e o co-
réu por tal condenado, até porque o legislador certamente previa a revogação
do crime de adultério (CP, art. 240, revogado pela Lei nº 11.106, de
28/03/2005), que já não vinha recebendo a mesma reprovação social, para
não dizer que está quase por tornar-se aceito ou pelo menos tolerado.
Além daqueles celebrados por autoridade incompetente, poderão ser
anulados ou ratificados os casamentos das pessoas coagidas (arts. 1.556 a
1.558 do CC), das que não tenham condição de formar ou exprimir de
maneira inequívoca a sua vontade; de quem, tendo completado a idade núbil
e sendo ainda incapaz por idade, não obteve a autorização dos pais ou
responsáveis, nem obteve suprimento judicial, desde que não tenha
sobrevindo prole (art. 1.550 do CC).
Também será anulável o casamento celebrado mediante procuração cuja
revogação anterior fosse ignorada, desde que não tenha sobrevindo
coabitação entre os cônjuges, que seria obviamente incompatível com a
rejeição do matrimônio (art. 1.550, V, do CC). Por fim, é igualmente anulável
o casamento praticado em erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge:
sua identidade, honra, boa fama, tornando insuportável a vida em comum; a
condenação definitiva por crime inafiançável; a existência de defeito físico
irremediável, que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e
transmissível (art. 1.557 do CC).[31]
Como dito acima, a Lei 13.811/2019, que modificou o texto do art. 1.520 do
Código Civil, proibindo sob qualquer hipótese a relização de casamento
envolvendo menores dezesseis anos, provoca interessante dilema. É que ao
prescrever que "não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem
não atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código"
criou verdadeiro e textual impedimento. Nada obstante isso, a nova lei não
modifica ou revoga qualquer outro dispositivo do Código, sugerindo que
estaríamos, então, diante de relativa ou anulabilidade na hipótese de ser
celebrado o casamento. Vozes potentes como a de Flávio Tartuce (2019)
entendem “pela anulabilidade ou nulidade relativa do ato, permanecendo
hígidos os comandos que tratam do tema, caso do art. 1.550, inc. I, da própria
codificação privada”. Entretanto, como se trata de proibição, constituindo
evidente impedimento, tendemos a acreditar se tratar de nulidade absoluta,
que poderá ser declarada por provocação do Ministério Público ou de
qualquer interessado, nos moldes do artigo 1.549, do CC.
De fato, mesmo que não esteja listada no artigo que lista os Impedimentos
(art. 1.521), estando na verdade inserida na capítulo que trata da capacidade
para contrair matrimônio, o que se vê é que o casamento de quem não
atingiu a idade núbil não será permitido em nenhuma hipótese, ou seja, os
menores que não atingiram a 16 anos estão impedidos de casar, sendo a
sanção a de nulidade absoluta do casamento, nada obstante o artigo 1.550, I,
não tenha sido expressamente revogado pela nova regra leagal e essa
situação não esteja prevista no art. 1.548, que é o dispositivo que trata da
nulidade do casamento. A incompatibilidade lógica, entretanto, é notória e
decorre do trabalho afobado e pouco técnico do legislaro; porém,
entendemos que deve ser feita uma interpretação teleológica e sociológica
daquela norma legal, a qual tem por propósito acabar com a possibilidade
do casamento infantil no país, devendo-se, então, concluir que, ainda que
tecnicamente haja divergência sobre a natureza de Impedimento daquela
proibição, defendemos a aplicação da regra da Parte Geral do Código, isto
é, o art. 166, I[32], a qual resulta na nulidade do matrimônio.
O casamento nulo ou anulado produz todos os seus efeitos em relação aos
filhos e, se for o caso, ao(s) cônjuge(s) de boa-fé, até o dia da sentença
judicial (art. 1.561 do CC).
Exceto no caso da pessoa que contraiu novo matrimônio já sendo casada,
não se proclamará (CC, arts. 1.545 e 1.547), em prejuízo da prole comum, a
invalidade do casamento de pessoa que, vivendo até então em condições de
fato correspondentes ao casamento,[33] faleceu ou não estiver em condições
de se manifestar. Como não se admite distinção quanto à natureza da
filiação, o prejuízo a que se refere o legislador será antes de tudo
patrimonial, decorrente da redução ou exclusão do espólio, pois as regras
aplicáveis para a comunhão de bens e a herança podem depender da
existência daquele vínculo, especialmente se falarmos em sucessões
consecutivas. Da mesma forma, se os cônjuges viveram ou tiverem vivido
na “posse do estado de casados”, na dúvida não será proclamada a
invalidade do matrimônio (arts. 1.545 e 1.547 do CC).
A lei estabelece prazos para a ação de anulação do casamento, sendo de 180
(cento e oitenta) dias, contados a partir do momento em que o mandante
tenha ciência da celebração, para aquele realizado pelo mandatário que não
sabia da revogação do mandato; de dois anos, contados da celebração, para
o realizado por autoridade celebrante incompetente; de três anos, também
contados da celebração, nos casos de erro essencial em relação à pessoa do
outro cônjuge e de quatro anos em caso de coação.
Embora o Codigo estabeleça o prazo de de 180 (cento e oitenta dias) para o
menor de 16 anos anular seu casamento, contados da data em que atinge tal
idade[34], entendemos que não se trata de ato anulável, mas nulo de pleno
direito, pelos motivos já expostos. Para seus pais e representantes legais o
prazo é contado a partir da data da celebração.
HABILITAÇÃO
A fim de prevenir nulidades, o casamento deve ser precedido de um
processo de habilitação, apresentando as partes ao oficial de registro civil
os documentos e testemunhos que comprovam não haver impedimento e
declarando seu domicílio e o de seus pais (art. 1.525 do CC). Nesta fase é
dever do oficial esclarecer os nubentes quanto às possibilidades de
invalidade do casamento, assim como em relação aos diversos regimes de
bens que podem escolher (art. 1.528 do CC).
Estando em ordem a documentação e considerando o oficial que não há
qualquer vício aparente, os editais de proclamas são publicados, o que pode
ser dispensado em caso de urgência (arts. 1.526 e 1.527 do CC).
Se forem opostos impedimentos ou causas suspensivas nessa fase, ou
houver qualquer outro vício ou falha, os nubentes serão ouvidos e terão
oportunidade de saná-los ou defenderem-se (arts. 1.529 e 1.530 do CC) e a
habilitação é, então, submetida ao Juiz.
Cumpridas as formalidades legais, estando em dia a documentação e
verificada a inexistência de fato obstativo[35], expede-se o certificado de
habilitação, com eficácia de 90 dias. Se o casamento não for celebrado
nesse prazo, nova habilitação será necessária (arts. 1.531 e 1.532 do CC).
CELEBRAÇÃO
Não havendo impedimentos, o casamento celebrar-se-á a portas abertas em
dia, hora e lugar previamente designados (geralmente na sede do cartório),
na presença de pelo menos duas[36] testemunhas (que podem ser parentes
dos noivos) e da autoridade celebrante. Após certificar-se de que as partes
ali estão espontaneamente, e ouvindo de cada um dos nubentes a
manifestação explícita de que desejam o matrimônio, o celebrante os
declarará casados, mediante as palavras: “De acordo com a vontade que
ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e
mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados”. Em seguida, será lavrado
o assento no livro de registro, com a assinatura de todos aqueles cuja
presença é obrigatória, expedindo-se a certidão respectiva. A cerimônia
deve ser suspensa à menor suspeita de coação ou arrependimento ou mesmo
quando houver recusa na manifestação solene de vontade ou que esta não é
livre e espontânea. Nestes casos a cerimônia não poderá ser celebrada no
mesmo dia (arts. 1.533 a 1.538 do CC).
Algumas formalidades podem ser dispensadas em caso de urgência
decorrente de moléstia grave, deslocando-se o celebrante até onde estiver o
impedido (melhor dizer “imobilizado”, já que não há impedimento jurídico
ao matrimônio), mesmo que em horas mortas, lavrando termo avulso que
deverá ser registrado em cinco dias (art. 1.539 do CC). Mas se um dos
consortes estiver às portas da morte, não havendo a possibilidade de obter a
presença da autoridade, pode realizar-se o casamento nuncupativo,
celebrando-se o ato na presença de seis testemunhas que não sejam parentes
dos noivos até o segundo grau em linha reta ou colateral; mais tarde deve
ratificar-se esse casamento (arts. 1.540 e 1.541 do CC). Quando uma das
partes não se puder fazer presente, admite-se o casamento por procuração
pública com poderes específicos para esse fim, que deve indicar o futuro
consorte do mandante e não terá eficácia superior a 90 dias, e só pode ser
revogado por outro instrumento público, devendo notificar-se o mandatário
e o outro nubente (art. 1.542 do CC).
O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro, mas a
lei admite qualquer outra espécie de prova quando justificada a falta ou
perda do próprio registro, e o celebrado no estrangeiro, quando um dos
cônjuges é brasileiro, deve ser registrado no prazo de 180 dias a contar da
volta de um dos cônjuges ao território nacional (arts. 1.543 e 1.544 do CC e
art. 32 da Lei de Registros Públicos).
O Código de Direito Internacional Privado (Código Bustamante),
convenção assinada em Havana aos 20/12/1928 e promulgada no Brasil
pelo Decreto nº 18.871 de 13/08/1929, estabelece em seu art. 40[37] que as
partes são obrigadas a reconhecer o casamento realizado no exterior desde
que não conflite com as leis nacionais referente Impedimentos (art. 1.521
do nosso Código Civil[38]).
Não foi regulado pelo Código Civil de 2002[61], mas não se pode concluir
que esteja extinto ou proibido, uma vez que se trata de direitos disponíveis,
nada impedindo que o próprio nubente, seus ascendentes ou terceiro,
constituam um dote, doando bens a um dos cônjuges com cláusula de
incomunicabilidade, atribuindo sua administração ao titular ou ao outro
cônjuge (CC/02, art. 1.665)[62], formalizando a intenção em pacto
antenupcial, afinal, os nubentes, quanto ao regime de bens, podem estipular
“o que lhes aprouver”[63].
É típico do casamento dinástico, aquele matrimônio entre monarcas ou seus
descendentes com o objeivo de criar ou estreitar relações políticas e
econômicas entre as casas reais.
*** D. João ficava obrigado a dar à nora uma pensão anual de 60 mil
florins "á titre d´épingles" ("a titulo de alfinetes" - uma espécie de pensão
como contratode), que seria paga no montante de 5 mil por mês.
Qualquer pessoa maior de 18 anos pode adotar[110] outra que seja ao menos
16 anos mais jovem, independentemente do seu estado civil.
Podem adotar em conjunto somente os cônjuges e os companheiros,
devendo demonstrar, neste caso, a estabilidade da família (Art. 42, §2º, do
ECRIAD), mas poderão fazê-lo mesmo os que se tenham dissolvido a união
estável ou divorciado depois de iniciado o estágio de convivência, desde
que entrem em acordo quanto à guarda do adotado e que exista vínculo de
afetividade com ambos a justificar a medida. Assim, fica expressamente
proibida a adoção conjunta por pessoas que não tenham ligação conjugal.
Os tutores e curadores, antes de adotar, deverão prestar contas da
administração que fizeram (art. 44 do ECRIAD).
O deferimento da adoção, que atenderá principalmente ao interesse do
adotando, deverá ser precedido de um estágio de convivência fixado pelo
juiz, de no máximo 90 (noventa) dias, dispensável se o adotando já estiver
sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que
seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo, ou ainda se
for maior.[111]
BRASIL. Lei 11.106, de 28 de março de 2005. Altera os arts. 148, 215, 216,
226, 227, 231 e acrescenta o art. 231-A ao Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 – Código Penal e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2005/Lei/L11106.htm>. Acesso em 05 de jul. 2020.
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 6ª ed. São Paulo: RT, 2009
[3]
http://filosonewton.blogspot.com/2014/05/o-inferno-sao-os-outros.html
[4]
Sobre a origem dessa forma tão especial de associação humana, seguem dois links,
ideologicamente diversos, para leitura dos interessados no tema:
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1037 e
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_engels_origem_propriedade_privada_est
ado.pdf
[5]
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-etimologia-do-substantivo-familia/32950
[6] Povo muito antigo, anterior aos romanos, que vivia no sul da atual Itália, perto de Pompéia, e
que começou a ser dominados pelos romanos no Século V A.C. e em aproximadamente em 340 a 350
A. C. foram extintos porque sua cultura e independência foram absorvidas por Roma. Algumas
palavras oscas (como famulus) passaram a compor o latim.
[7] Por sua vez, é possível que o vocábulo osco famulus tenha origem na palavra osca famel, que
quer dizer fome. Dai, por exemplo, furto famélico. Isso pode significar que a origem da palavra
família representa uma imagem interessante: aqueles que matam a fome juntos em uma mesma casa.
Ou aqueles que um pater familias deve alimentar. Aliás, essa idéia é bem contemporânea e
condizente com a concepção atual de família do código civil (os pais possuem o dever de alimentar
os filhos e vice-versa).
[8]
Lei nº 10.836/2004.
[9]
Lei nº 9.250/95.
[10]
Lei nº 8.213/91.
[11]
Evidentemente, não podemos nos esquecer que o casamento e a união estável entre pessoas do
mesmo sexo são atualmente admitidos pelo Direito brasileiro, em razão de construção jurisprudencial
do Supremo Tribunal Federal.
[12]
“(…) o centro da tutela constitucional se desloca do casamento para as relações familiars dele
(mas não unicamente dele) decorrentes; e que a milenar proteção da família como instituição,
unidade de produção e reprodução dos valores culturais, éticos, religiosos e econômicos, dá lugar à
tutela essencialmente funcionalizada à dignidade de seus mesmbros, em particular no que concerne
ao desenvolvimento da personalidade dos filhos.” (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2020, p. 2)
[13]
“A regulamentação legal da família voltava-se, anteriormente, para a máxima proteção da paz
doméstica, considerando-se a família fundada no casamento como um bem em si mesmo, enaltecida
como instituição essencial. Hoje, ao revés, não se pode ter dúvida quanto àfuncionalização da família
para o desenvolvimento da personalidade de seus membros, devendo a comunidade familiar ser
preservada (apenas) como instrumento de tutela da dignidade da pessoa humana.” (TEPEDINO;
TEIXEIRA, 2020, p. 8)
[14]
Destaca-se também o conceito de Família Anaparental, aquela na qual não existe um membro
ocupando a posição de ascendente, como ocorre na hipótese de convivência entre irmãos ou entre
primos.
[15]
Tepedino e Teixeira destacam que família é uma tipologia em aberto (TEPEDINO; TEIXEIRA,
2020, p. 29/41)
[16]
Consituição Federal, art. 226, §3º: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento.”
[17]
(BRASIL, 2011)
[18]
Apesar de já estar superada a controvérsia (magister dixit), vale a reflexão acerca dos limitres do
Judiciário, uma vez que nesse julgamento, inegavelmente o STF laborou como verdadeiro legislador,
pois o art. 226 da Constituição, estavelecido em 1988, há muito tempo, portanto, é claro ao
prescrever que o Estado deve facilitar a conversão da união estável em casamento, o que
inegavelmente indica que se pretende estimular os casais a irem do bom (a união estável) para o
melhor (o casamento). Esse status diferenciado criado pelo constituinte amparava o tratamento
desigual dado pelo art. 1.790 do código civil. Além disso, se o STF entendia que a regra deveria ser
isonômica, quem lhe outorgou poderes para decidir que deveria ser aplicada a regra do casamento à
união estável? Por que não se aplicar a regra da união estável às duas entidades familiares?
[19]
Embora sejam reconhecidos efeitos civis ao casamento religioso, se os nubentes assim desejarem
e cumprirem todas as formalidades (art. 226, §§ 1º e 2º, da CF).
[20]
Tepedino e Teixeira ao tartarem sobre a natureza jurídica do casamento, ressaltam que na
atualidade, é necessário “(…) qualificá-lo sob dupla ótica, examinado dos pontos de vista ora do ato
jurídico formal que o origina, ora da ativiadde relacional emq ue se produzem os seus efeitos. Nessa
direção, o casamento pode ser concebido (i) como ato ou negócio jurídico (…) e (ii) como entidade
familiar, assim compreendida a relação estabelecida com a sua celebração (…).” (TEPEDINO;
TEIXEIRA, 2020, p. 45/46)
[21]
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Resolução 175/2013.
[22]
Embora muito divulgada a idéia romântica de que capitações de navios possuem autoridade para
celebrar casamentos, apenas um pequeno número de países autoriza a realização de casamentos pelo
capitão ou comandante em águas internacionais, desde que o navio esteja registado nesse país. Entre
estes inclui-se o Japão (só para cidadãos japoneses), Bahamas, Malta e Bermuda.
[23]
Art. 1.549.
[24]
O Código Civil de 2002 abandonou a antiga distinção entre impedimentos dirimentes, que
tornariam o ato nulo ou anulável, e os meramente impedientes, que não afetariam a validade do
casamento, mas sujeitavam os cônjuges ao regime de separação total de bens e outras sanções
secundárias. Estes últimos são agora chamados “causas suspensivas” e se regulam nos artigos 1.523 e
segs. do CC/02.
[25]
Não estão revogados o Decreto-Lei 3.200/41 e a Lei n.° 5.891/73, que admitem o casamento
entre colaterais no terceiro grau (tio(a) com sobrinha(o), o chamado casamento avuncular,
dependendo de exame por junta médica. Admite-se inclusive a união estável entre tio e sobrinha
(TRF-4 - AC: 50110753420174047201 SC 5011075-34.2017.4.04.7201, Relator: ROGERIO
FAVRETO, Data de Julgamento: 13/05/2019, TERCEIRA TURMA e STJ no REsp 1.330.023/RN,
Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 5/11/2013, DJe 29/11/2013).
Entre primos, não há obstáculos, pois são parentes de 4º grau.
[26]
O adotado é irmão do filho do adotante, se a adoção houver ocorrido após a Consttiuição Federal,
pois antes dela havia a adoção restrita ou simples, em função da qual não se criavam vínculos entre o
adotado e os demais parentes do adotante. Portanto, no inciso V do art. 1.521, o Código Civil se
refere à adoção restrita, pois a adoção plena suscita a hipótese do inciso IV, pois são irmãos.
[27]
Nemo suam propriam turpitudinem profitare potest. Mas, normalmente só restará a opção de
posterior anulação deste casamento, pois a lei não autoriza que seja suspensa a celebração do
casamento, mesmo depois da pronúncia do réu.
[28]
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 124.
[29]
O Brasil era até a edição dessa Lei o 4º país do mundo em número de casamento infantil.
[30]
O Código de 1916 restringia a limitação aos filhos nascidos após a adoção, mas a própria
vedação de distinção e mesmo registro entre filhos naturais e adotivos inviabilizaria outra solução.
[31]
O defloramento da mulher, ignorado pelo marido, foi retirado do rol explícito das anulabilidades,
mas não é assim tão evidente que a falta de virgindade de qualquer dos cônjuges não pode constituir
erro essencial, dependendo de convicções religiosas e do que cada nubente declarou ao outro. A
honestidade e boa-fé são deveres anteriores à celebração, e a liberdade de confissão religiosa é
protegida pela Constituição Federal, sendo direito de cada pessoa escolher cônjuge que compartilhe
suas crenças e valores morais, não podendo ser ludibriada quanto a tais características, se foram
essenciais na formação de sua vontade de contrair matrimônio e realmente possam tornar
insuportável a vida em comum. O outro nubente tem a mesma liberdade de crença religiosa e moral,
podendo inclusive mudá-la após o casamento; deve apenas ser sincero quando indagado, se sabe que
isto é determinante para seu futuro cônjuge.
[32]
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; (...)
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.
[33]
O Código Civil insiste na inadequada e antiquada expressão “posse do estado de casada”.
[34]
O menor deverá estar assistido por seus representantes legais.
[35]
O julgamento pela improcedência da impugnação comprova a inexistência de fato obstativo e
autoriza a a expedição da certidão, salvo se o Oficial constatar outros vícios.
[36]
As testemunhas deverão ser quatro se a cerimônia se realizar em prédio particular ou se um dos
nubentes não souber ou não puder ler.
[37]
Artículo 40. Los Estados contratantes no quedan obligados a reconocer el matrimonio celebrado
en cualquiera de ellos, por sus nacionales o por extranjeros, que contraríe sus disposiciones relativas
a la necesidad de la disolución de un matrimonio anterior, a los grados de consanguinidad o afinidad
respecto de los cuales exista impedimento absoluto, a la prohibición de casarse establecida respecto a
los culpables de adulterio en cuya virtud se haya disuelto el matrimonio de uno de ellos y a la misma
prohibición respecto al responcable de atentado a Ia vida de uno de los cónyuges para casarse con el
sobreviviente, o a cualquiera otra causa de nulidad insubsanable.
[38]
Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural
ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado
com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o
terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o
cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte.
[39]
O CNJ mantém uma lista atualizada dos países que aderiram à Convenção:
https://www.cnj.jus.br/poder-judiciario/relacoes-internacionais/apostila-da-haia/paises-signatarios/
[40]
[41]
De se lembrar que embora tenha entrado em vigor em 2003, o projeto do atual Código Civil é da
década de 1970, apresentando, em diversos momentos, alguns conceitos em desarmonia com a
Constituição de 1988.
[42]
Sustentamos que a emancipação depende da anuência de ambos os pais vivos, não podendo a de
um deles ser suprida judicialmente, pois importa renúncia integral, definitiva e irretratável ao poder-
dever de zelar pela proteção do incapaz, não havendo sequer interesse prático em antecipar por no
máximo dois anos a capacidade plena que se adquire aos 18 anos completos.
[43]
Nestas hipóteses somente os atos indispensáveis à administração da família e de seu patrimônio
podem ser praticados, não os de alienação ou disposição, sempre procurando preservar os interesses
do cônjuge privado da administração. Havendo urgência e relevância na prática de ato de disposição,
deverá ser concedida autorização judicial, ouvido o Ministério Público e, se for o caso, o curador do
incapaz, ou o próprio interessado, quando possível.
[44]
No regime da participação final nos aquestos, a mera outorga conjugal pode ser dispensada
expressamente pelo pacto antenupcial (CC, art. 1.656).
[45]
O Supremo Tribunal Federal vem entendendo reiteradamente, na mesma linha já consolidada
pelo STJ, que a coabitação embora constitua elemento prescindível à configuração da união estável, é
forte indício da convivência. De se questionar, assim, se essa relativização da regra em relação à
união estável seria cabível também no casamento.
[46]
Que, todavia, não precisa fundar-se em culpa de qualquer dos cônjuges.
[47]
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que é a separação de fato
que põe fim ao regime de bens do casamento, não o divórcio.
[48]
“No que tange à opção pelo regime de bens, aqueles previstos pelo Código Civil não constituem
numerus clausus, de modo que a spartes podem optar por regime de bens já existente ou por algum
outro atípico, desde que não contrariem disposição absoluta de lei, conforme art. 1.639, caput, do
Código Civil.” (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2020, p. 96)
[49]
“A disciplina dos regimes de bens subordina-se aos princípios gerais dos contratos. Agregam-se a
tais preceitos, três princípios específicos: a) variedade dos regimes de bens; b) Liberdade dos pactos
antenupciais; c) mutabilidade do regime contratado no curso do casamento.” (TEPEDINO;
TEIXEIRA, 2020, p. 96)
[50]
A outorga da esposa é denominada outorga uxória, e do marido outorga marital (TEPEDINO;
TEIXEIRA, 2020, p. 108).
[51]
CC/02, art. 1.656.
[52]
“(…) o regime de bens representa a lei aplicável às relações patrimoniais do casal, devendo a sua
alteração ter tratamento equivalente à mudança legislativa. Nessa perspectiva, embroa não haja no
direito brasileiro princípio constitucional ou legal da irretroatividade das leis not empo, há que se
preserver o ato jurídico perfeito e o direito adquirido na constancia do regime de bens em vigor no
momento da cosntituição de direitos pelos cônjuges (art. 5º, XXXVI, CR). (…) No entanto, em
relação aos cônjuges, é possível admitir-se a eficácia ex tunc da sentença, na medida em que se trata
de direito disponível.” (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2020, p. 107)
[53]
Em sentido oposto, Sílvio Rodrigues (Direito Civil, vol. 6), Carlos Roberto Gonçalves (Direito
Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2005) e Luiz Felipe Brasil Santos (Autonomia da Vontade e os
regimes matrimoniais de bens, in Direitos Fundamentais do Direito de Família. Porto Alegre: Liv. do
Advogado, 2004).
[54]
É duvidosa a constitucionalidade do inciso II, do artigo 1.641, II, do Código Civil, visto que
impõe injustificável diferença entre quem atingiu tal idade e as demais pessoas. Com a entrada em
vigor do Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003) , que prevê, em seu artigo 2º, que
“O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento
moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade” e do Estatuto da Pessoa
com Deficiência (Lei 13.146, de 6 de julho de 2015, a incapacidade deixou de ser presumida. Não se
pode presumir, assim, que quem tenha 70 anos de idade não tenha condições de escolher livremente o
próprio regime de bens.
[55]
A Súmula STF nº 377 não foi revogada pelo STJ, que todavia passou a aplicá-la com moderação
(RSTJ, 39/413; RT, 691/194; RF, 320/84), sob pena de negar vigência a dispositivo legal.
[56]
Teixeira e Tepedino destacam que o conteúdo do pacto não é exclusivamente patrimonial,
podendo nele haver disposições sobre outras situações. “(…) no que tange às formas de vida a dois,
especialmente quanto à fidelidade e à coabitação, há de se examiner, caso a caso, a seredade do
pacto, de modo que, caso não violem a dignidade da pessoa dos cônjuges e o princípio da isonomia,
não parece haver óbice na ordem pública para a sua admissão.” (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2020, p.
99/100).
[57]
Em outras palavras: o pacto antenupcial é instrumento essencial para que o casamento tenha
outro regime diferente do regime legal.
[58]
“O STJ tem se manifestado (i) tanto pelo reconhecimento do esforço comum empreendido nas
hipóteses de separação obrigatória, mitigando-se a presunção contida na construlão sumulada (ii)
quanto pela desnecessidade da prova do esforço comum para que haja a partilha de bens. Sob o
priema da primeira posição (i), a Súmula 377 do STF vem sendo revisitada pelo STJ, prevalecendo o
entendimento de que a comunhão dos bens adquiridos pode ocorrer, desde que comprovado o esfoço
comum, de modo a prestigiar a eficácia do regime da separação (legal) de bens. CAberá ao
interessado comprovar que teve efetiva e relevante (ainda que não financeira) participação no esforço
para aquisição onerosa de determinado bem a ser partilhado com a dissolução da união (prova
positive). Por outro lado, também há posicionamentos (ii) no sentido de dispesar o esforço comum
em casos de uniões duradouras e sedimentadas, em que é possível presumir a colaboraçaõ mútua do
casal, mesmo que circunscrita à esfera doméstica, a partir da vida em comum.” (TEPEDINO;
TEIXEIRA, 2020, p. 116/117)
[59]
CC, art. 1.656.
[60]
Art. 289 do revogado CC de 1916.
[61]
O regime dotal estava previsto expressamente no art. 278 do revogado CC de 1916 e era
instituído por meio do contrato dotal.
[62]
Note que o parágrafo único do art. 1.647, do CC/02 ainda fala nas doações nupciais feitas aos
filhos quando se casam ou constituem economia propria.
[63]
Art. 1.639, CC.
[64]
CATARIN, Cristiano. http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=828. Acesso
em 29/07/2020.
[65]
A demarcação original do dote de terras abrangia Orleans, parte de São Ludgero, Grão-Pará, Rio
Fortuna, Santa Rosa de Lima, parte de Anitápolis, Armazém, São Martinho e São Bonifácio. O nome
e o local exato da cidade foram escolhidos na única visita do Conde d'Eu à nova colônia, em 26 de
dezembro de 1884.
[66]
Para conhecer uma bela defesa desse regime, inclusive louvando a proteção que ele
proporcionava à mulher casada, veja-se o jurista clássico João Arruda em Regimen Dotal, para quem
“A acção do christianismo, tornando indissolúvel o casamento e augmentando a sujeição da mulher
ao marido, foi fatal ao dote. Eis porque este perdeu tanto de sua importância se manteve, graças á
tradição e á verdadeira fascinação que o direito justinianeo sempre exerceu sobre as classes mais
cultas da sociedade, com as quaes se acha em relação a classe rica, mais directamente interessada
na conservação do regimen dotal (Eyquem, n.° 602)”, disponível em
https://www.revistas.usp.br/rfdsp/article/download/65071/67682
[67]
TARTUCE, 2014
[68]
CRFB/1988, art. 5.º, inciso II
[69]
art. 229, CFRB/1988, art. 1.568, CCB/2002 e art. 22 do ECRIAD – Lei n.º 8.069/1990
[70]
art. 1.694, art. 1.696 usque art. 1.698 CCB/2002 – Lei n.º 10.406/2002
[71]
CCB/2002, art. 948
[72]
Com o advento da Emenda Constitucional n. 66/2010, que teria abolido a persecução da culpa
para o divórcio, a questão restou controvertida. Parte da doutrina entende que com a referida EC
estariam revogados os artigos 1.702 e 1.704, do CC/02. Neste sentido PAMPLONA FILHO, Rodolfo
e ASSIS JR, Luiz Carlos. O novo divórcio e seus reflexos no direito a alimentos. Rev. Fac. Direito
UFMG, Belo Horizonte, n. 62, pp. 557 - 598, jan./jun. 2013. Disponível em <
https://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article/viewFile/P.0304-
2340.2013v62p557/261> Acesso 06 jan. 2020 e DIAS, Maria Berenice. Divórcio sem culpa.
Disponível em <
http://www.mariaberenice.com.br/manager/arq/(cod2_538)2__alimentos_sem_culpa.pdf> Acesso 06
jan. 2020.
[73]
ROSA, 2016, p.
[74]
Segundo informa o professor Rolf Madaleno (2013, pp. 871/872) , “a obrigação alimentar carrega
diferentes características, que a destoam das demais obrigações civis, diante de sua especial natureza,
vinculada à vida da pessoa, atuando em uma faixa de valores fundamentais, havidos por
indispensáveis e indisponíveis para a sobrevivência do ser humano. Esta sua natureza especial
decorre do intrínseco propósito de assegurar a proteção do credor de alimentos, mediante um regime
legal específico, e cujo crédito visa a cobrir necessidades impostergáveis do credor, cuja satisfação
não pode admitir maiores demoras.”
[75]
2009, p. 49.
[76]
Conrado Paulino Rosa explica que “o direito ao recebimento de alimentos é personalíssimo no
sentido de que não pode ser repassado a outrem, seja através de negócio ou de outro acontecimento
jurídico”. Lembra ele, também, que “o fato dos alimentos serem fixados levando-se em conta as
peculiaridades da situação do credor e do devedor, consideradas as suas circunstâncias pessoais, é
prova cabal dessa natureza personalíssima” (ROSA, 2016)
[77]
De fato, a partir do momento em que o §1º do artigo 1.694, do Código Civil, estipula que “Os
alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa
obrigada”, fica bem claro que estamos diante de uma obrigação personalíssima, que se funda na
situação especifica das pessoas envolvidas na formação daquele vínculo jurídico.
[78]
“O Superior Tribunal de Justiça também formou entendimento no sentido de que o que se
transmite é o débito existente e nçao pago antes do falecimento do obrigado a prover alimentos, não a
obrigação alimentar propriamente dita, vinculando somente as pessoas compreendidas no art. 1.694
do diploma civil. […] O STJ também não permite a prisão civil do inventariante, justamente por não
ser este o titular do dever alimentar. A doutrina majoritária inclina-se ao mesmo entendimento.”
(TEPEDINO; TEIXEIRA, 2020, p. 345)
[79]
Sobre o tema assim se manifesta Rolf Madaleno: “Os herdeiros não respondem pessoalmente
pela dívida alimentar do sucedido, e só estão obrigados pela transmissão da dívida alimentar pré-
constituída, reconhecida em acordo judicialmente homologado, por sentença condenatória, ou se o
credor era naturalmente dependente do de cujus, como no caso de um filho menor ou de um ex-
cônjuge, ao qual prestava alimentos, mesmo em caráter informal, haja vista se dar pela lei a
transmissão da obrigação alimentar preexistente, e não a transmissão da obrigação do dever genérico
de prestar alimentos àqueles que deles oportunamente vieram a necessitar, pois destes, a futura e
eventual necessidade de alimentos deve ser requerida com suporte no artigo 1.697 do Código Civil.”
(MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 5ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense,
2013). O entendimento do STJ está consolidado na mesma linha, como demonstra o seguinte trecho,
colhido de acórdão paradigmático: "[...] se antes do falecimento do autor da herança não tiver sido
proposta a ação de alimentos contra o suposto devedor, não há falar em imputação desse ônus ao
Espólio, por versar obrigação intuitu personae, assim, intransmissível. Na ausência de encargo
previamente constituído, seja por convenção, seja por decisão judicial, o alimentando deve
buscar os alimentos dos seus parentes mais próximos, à luz do princípio da solidariedade, previsto
nos artigos já mencionados, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de
outros". (STJ, REsp 1598228 / BA, Relator Ministro Villas Boas Cuevas, julgamento em 11/12/2018.
DJe 17/12/2018)
[80]
art. 4º da LA 5478/68
[81]
Lei 11.804/2008.
[82]
Quando houver mais que um obrigado é necessário guardar também a proporcionalidade dos
ganhos de cada um.
[83]
Neste sentido, veja-se STJ, RESP Nº 1.290.313, Relator: Antônio Carlos Ferreira, Quarta Turma,
J. 12/11/2013.
[84]
MADALENO, Rolf. Tratado de Direito das Famílias. In Alimentos compensatórios. Rodrigo da
Cunha Pereira (organizador). Belo Horizonte: IBDFAM, 2 ed., 2016, p. 589.
[85]
A expressão “concubinato” ficou agora reservada às uniões ilícitas (CC/02, art. 1.727), inclusive
as daquele que, continuando a conviver com o cônjuge, mantém relação não eventual com outra
pessoa, pouco importando o assentimento do outro cônjuge.
[86]
Em que pese o texto legal utilizar o termo convivência, a coabitação não é requisito essencial
para configuração da união estável, de modo a ainda ser aplicado a Súmula 382 do STF: “A vida em
comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização do concubinato.”
[87]
São requisitos objetivos para configuração da união estável: estabilidade, continuidade,
durabilidade, publicidade e o objetivo de de constituição de família. (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2020,
p. 178/183)
[88]
“Embora não seja obrigatória, quando presente, a coabitação se traduz um forte indício da
presença de união estável na medida em que as partes que vivem sob o mesmo teto, geralmente,
compartilham projeto familiar comum e exteriorizam components que indicam a presença de mútua
assistência e corresponsabilidade que ultrapassam o simples namoro. Todavia, não se pode afirmar
que, uma vez presente a coabitação, há necessariamente união estável, pois a coabitação é muito amis
do que simplesmente divider a mesma casa.” (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2020, p. 181)
[89]
Estas afirmações ainda são controversas, embora não faça sentido falar em conversão com os
mesmos efeitos de um simples casamento; conversão importa apenas mudança na natureza, não uma
interrupção da entidade familiar, sem solução de continuidade ou desprezo pelos fatos pretéritos.
Pode ser prudente não haver pronunciamento judicial quanto ao termo inicial da união estável, mas
apenas declaração dos conviventes, de modo que eventuais litígios possam ser solucionados
futuramente, com produção de prova específica para cada caso e participação de todos os
interessados, especialmente terceiros.
[90]
O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 646721, reconheceu de forma incidental a
inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC/2002, declarando o direito do recorrente de participar da
herança de seu companheiro em conformidade com o regime jurídico estabelecido no art. 1.829 do
Código Civil, fixando tese nos seguintes termos: “É inconstitucional a distinção de regimes
sucessórios entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado,
tanto nas hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002”
[91]
Putativo se refere a aquilo que, embora ilegítimo, é objeto de suposição de legitimidade, fundada
na boa-fé, na ignorância do sujeito de direitos acerca da existência do elemento ilícito ou proibido. A
título de exemplos, temos a legítima defesa putativa e o casamento putativo.
[92]
CF, 226, §6º. “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”
[93]
“(…) no que toca à separação consensual (judicial e extrajudicial), não se pode falar em
inutilidade, na medida que se trata de manifestação de autonomia das partes que, por aluma razão –
que não cabe ao Direito perquirir – não pretendem colocar fim definitive ao vínculo matrimonial,
mas tão somente à sociedade conjugal.” (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2020, p. 160)
[94]
Registra-se que o Código de Processo Civil promulgado em 2015 cita expressamente a separação
consensual e/ou judicial por diversas vezes, conforme nota-se no art. 23, III; art. 53, I; art. 189, II e
§2º; art. 693; art. 731; art. 732; art. 733 e notítulo da Seção IV (referente aos arts. 731 a 737).
[95]
É o denominado divórcio unilateral ou impositivo. A esse respeito, veja-se TARTUCE, Flávio em
https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/725236760/o-divorcio-unilateral-ou-impositivo
[96]
Decisão do Corregedor do CNJ no Pedido de Providências 0003491-78.2019.2.00.0000
[97]
É equivocado entender que a concessão de guarda a um dos ex-cônjuges afeta o poder familiar do
outro, muito embora se deva reconhecer que, nas pequenas questões cotidianas, quase nunca poderá
participar. Mas cada um dos genitores conserva o direito de opinar e influenciar na escolha de
colégios, na participação de programas de intercâmbio cultural internacional, na autorização para
casamento, na emancipação, doação de órgãos e tratamentos médicos etc., devendo o juiz resolver
eventuais controvérsias.
[98]
Denominada guarda unilateral.
[99]
“Atualmente, a cláusula geral [do art. 1.593, CC] remete ao parentesco socioafetiva, advindo da
posse de estado e sua eficácia perpassa a discussão sobre o tratamento jurídico do afeto no direito de
família.” (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2020, p. 203)
[100]
Tepedino e Teixeira pontuam que a presunção de partenidade não se aplica à união estável,
principalmente em função de sua forma de constituição informal e espontânea, com difícil
delimitação temporal. “Logo, a presunção de paternidade/filiação é efeito derivado da solenidade do
casamento, que tem como ratio o princípio da segurança jurídica e não do casamento como entidade
familiar, de modo que não há nada de discriminatório no fato de as presunções incidirem apenas na
relação conjugal.” (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2020, p. 214/215)
[101]
Aquela realizada com óvulo e espermatozóide extraídos dos pais civis, que portanto serão
também consanguíneos, apesar de artificial a concepção, único traço que a distingue da concepção
natural.
[102]
Aqueles fecundados como garantia, mas não implantados na primeira tentativa de fecundação
artificial, permanecendo armazenados para futuras repetições da tentativa.
[103]
Aquela em que o óvulo ou o espermatozóide é extraído de terceira pessoa, um doador, pela
impossibilidade de se colher material do pai civil; pode comparar-se a uma “adoção pré-concepção”,
pois não haverá consanguinidade em relação àquele que não forneceu seu material genético-
reprodutivo.
[104]
Efetuado o Registro pelo Oficial do Cartório, ele expedirá a Certidão de Nascimento.
[105]
Interessante constatar que até 2015, a mãe do nascido não podia ir até o cartório e declarar o
nascimento, exceto na falta ou impedimento do pai, o que tinha que ser provado por ela. Essa
situação somente se alterou por força da Lei nº 13.112/2015.
[106]
Existe pelo menos um precedente estendendo essa presunção à União Estável: Recurso Especial
n° 1.194.059/SP, de Relatoria do Ministro Massami Uyeda, da Terceira Turma, em 06/11/2012.
[107]
Mater semper certa est.
[108]
Súmula 301, STJ: “Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de
DNA induz presunção juris tantum de paternidade.”
[109]
Recurso Extraordinário nº 898060- SC (Tema 622 da repercussão geral), julgado em
22/09/2016, fixando a seguinte tese: "A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro
público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem
biológica, com os efeitos jurídicos próprios".
[110]
A pessoa com deficiência pode adotar e ser adotada, nos termos do art. 6º, IV, do Estatuto da
Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015).
[111]
“Consoante vem entendendo o STJ, eventuais irregularidades a adoção podem ser superadas em
virtude da situação de fato consolidada no tempo, desde que favoráveis ao adotando.” (TEPEDINO;
TEIXEIRA, 2020, p. 259)
[112]
No regime do Código de 1916, a adoção de maiores era feita por escritura pública.
[113]
Unilateral ou compartilhada, nos termos do artigo 1.584, do Código Civil
[114]
“Entende-se que a escolha da pessoa para o exercício da tutela deve obedecer mais aos interesses
da criança ou do adolescente do que, propriamente, à ordem de convocação, o que motivou a ressalva
do art. 1.731 do Código Civil, no sentido de que ‘o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a
tutela em benefício do menor’.” (TEPEDINO; TEIXEIRA, 2020, p. 392)
[115]
A curatela da pessoa com deficiência se encontra atualmente regulada pelo respectivo estatuto
(Lei nº 13.146/2015) e afeta tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e
negocial (art. 85), dentre os quais, a depender da situação concreta, como antes mencionados, o ato
de contrair casamento, sempre com o propósito de evitar dano ao próprio deficiente.
[116]
TRF-4 - AC: 50538198920174049999 5053819-89.2017.4.04.9999, Relator: MARCELO
MALUCELLI, Data de Julgamento: 17/09/2019, TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DO PR.
[117]
STJ - AgRg no REsp: 1531830 MG 2015/0112742-4, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, Data de Julgamento: 17/05/2016, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação:
DJe 20/05/2016.