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O modo como ela é acolhida após o fato, seja pela família, seja
pelas instituições sociais ou de intervenção legal, poderá minimizar as
sequelas do acontecimento.”
Trindade (2011)
“Trindade (2011):
Tipos específicos de maus-tratos vividos na infância levariam a tipos
específicos de desordem de conduta na vida adulta. Isso explicaria a
perpetuação da violência: abusado na infância, abusador na vida
adulta, mantendo-se, assim, os ciclos de abuso através da
transmissão intergeracional da violência. Por exemplo: o abuso
sexual na infância é frequentemente citado como causa de
prostituição futura.”
“Trindade (2011) explica o modelo da chamada Nova
Criminologia nos seguintes termos:
Propõe novas definições acerca dos fatos delitivos e invoca,
como matéria de fundo, o respeito aos direitos humanos
fundamentais. Seu objetivo reside em alterar as estruturas
econômicas e políticas do capitalismo, geradoras da
delinquência, segundo argumentam seus teóricos.”
“Sob esse viés, mais interessante e eficaz seria estudar os
motivos que levam as pessoas a serem estigmatizadas como
delinquentes, e quem determinou isso, ou seja, se a sociedade
estaria legitimada para fazer esse julgamento prévio e
condenação social, do que os motivos que as levaram a
delinquir.”
Principais Teorias Criminológicas
“Principais teorias criminológicas para se analisar e explicar o que
leva os jovens a entrar em conflitos com a lei:
A primeira teoria é a clássica de Beccaria, para essa linha de
pensamento o crime é uma escolha livre e acontece quando,
devido à ausência de punição, os benefícios são maiores que os
custos.
Perpassa-se pela positivista, lançada por Lombroso para quem o
homem já nasceria delinquente e está determinado por causas e
características morfo-fisiológicas.”
Sociologismo de Ferri: o homem não nasce propenso ao crime, mas
torna-se delinquente a partir dos fatores do meio. Para essa teoria “se
numa rua escura se comete mais crimes do que numa rua clara, bastará
iluminá-la e isso será mais eficaz do que construir masmorras”.
A teoria de Hirschi e Gottfredson, a principal causa de crime é a falta de
controle. Os mecanismos de controle internos ou externos fracassam na
sua função de contenção gerando o comportamento delinquente. Esses
mecanismos podem variar de acordo com o contexto histórico, social e
geográfico.
Zaffaroni, as desigualdades criam condições que levam ao delito de rua e
à criminalidade organizada. O capitalismo e suas formas selvagens são
fundamentalmente criminogênicas, porque geram pobreza, injustiça,
menos-valia, e exploração dos mais fracos.
Teoria da recuperação da anomia: as relações interpessoais podem se
converter numa fonte de estresse ou de tensão ao não permitir que o
sujeito alcance suas metas. A estabilidade ou a mudança da conduta
antissocial depende do temperamento e do entorno social.
Não há como aplicar apenas uma teoria, isoladamente, para
explicar o que leva os jovens a entrar em conflitos com a lei, mas se
faz necessário que se vislumbre as principais teorias criminológicas
e sua evolução.
A INFRAÇÃO JUVENIL ANALISADA SOB
O VIÉS DA PSICOLOGIA JURÍDICA
“A psicologia jurídica não é apenas uma simples junção entre a
psicologia e o direito, mas tenta explicar alguns fenômenos como
o da infração juvenil. Nessa esteira, há uma forte tendência no
que tange ao recrudescimento das respostas sociais e jurídicas
quando se trata de comportamento infracional, marcado pela
baixa tolerância, práticas antissociais, clamor público pelo
encarceramento e a presença do discurso pela redução da
maioridade penal.”
“Duarte-Fonseca (2006): histórico da tendência ao recrudescimento:
O início do século XXI está sendo marcado por um progressivo
endurecimento das reações face à prática de atos realizados por crianças e
por adolescentes e qualificados pela lei como crime, indicando a baixa
tolerância da sociedade em geral para com esses comportamentos.
O sentimento de insegurança especialmente instalados nas áreas urbanas,
a ampliação dos comportamentos infracionais e a carga de violência de
que se revestem, bem como o destaque dado pelos meios de
comunicação social reforçam o sentimento de recrudescimento.”
“Ao invés de se pensar de forma estratégica, analisando a questão sob
todos os enfoques, inclusive sociológico, convivência familiar e
comunitária, de influências do meio, de reação a algum trauma ou violência
de que o agente tenha sido vítima, adotou-se uma postura de
endurecimento legal e judicial.
No Brasil, cresce o número de parlamentares que defendem a redução da
maioridade penal e o encarceramento logo a partir dos 16 anos e não mais
na faixa etária dos 18. Ocorre que no país não há uma política de
ressocialização, mas sim a tradição de que cadeia é escola do crime, há
ainda superlotação e denúncias de tortura e todo o tipo de mácula aos
direitos humanos não atingidos pela pena.”
“É nesse ambiente que se quer colocar adolescentes logo a partir do
seu primeiro ato infracional, sem dar qualquer chance de
recuperação. Vale ressaltar que o adolescente infrator já é
responsabilizado nos moldes do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
As medidas socioeducativas são fruto de uma legislação inovadora e
aclamada pelo mundo todo, mas vista pelos próprios brasileiros como
injusta e ineficaz.”
“Essas medidas sugerem a reparação do dano à vítima, o alerta
de que foi feito algo em desacordo com as regras de convivência
social e contra o ordenamento jurídico brasileiro e busca-se
despertar a consciência de que seus atos prejudicaram pessoas
inocentes.”
“Verificam-se algumas críticas ao Estatuto da Criança e do Adolescente:
nos últimos vinte anos se estabeleceu uma crença equivocada, porém
generalizada, de que o (ECA instaurou um regime protecionista que não
permite a responsabilização da criança e do adolescente infrator, alçado à
qualidade de vítima de uma sociedade desigual e injusta. Esse imaginário
veio patrocinado por uma concepção da aplicação do princípio
constitucional e legal da proteção integral, que, efetivamente, não
descurou do chamamento à responsabilidade dos infratores, como
comprova o simples exame das medidas socioeducativas elencadas no
(ECA/90, art.112).”
A descrença em medidas preventivas e educativas deixa de vislumbrar que
até os Poderes Judiciário, Executivo e Legislativo não estão isentos, vide os
casos que eclodem em todo o Brasil de beneficiamento próprio ou de
terceiro, venda de sentença, entre outros.
A doutrina da proteção integral existente no ECA traz um conceito pós-
moderno, fruto de uma evolução, porém recente, onde a criança e o
adolescente passaram a ser tratados como dignos do ter e do ser.
“Trindade (2011), teorias da psicologia jurídica aplicadas ao adolescente infrator
no decorrer do tempo:
Graças à ajuda da filosofia de Locke e Rousseau e à pedagogia de Pestalozzi,
a criança começou a ser considerada como uma tabula rasa, a que podiam
afetar as diversas experiências, impondo-se, por parte dos adultos, a obrigação
de ajuda-la no seu desenvolvimento e na sua formação.
Rousseau, em meados do século XVIII, consignou que a criança tem formas
próprias de ver, de pensar e de sentir, nada sendo mais absurdo do que pôr as
nossas em seu lugar.”
Atualmente, há uma tendência a atribuir a delinquência juvenil severa aos
jovens multiproblemáticos, aqueles cujo comportamentos violentos estão
associados a problemas de conduta e que, por seu aspecto crítico, devem
ocupar um lugar na agenda de prioridades, seja na pesquisa
(universidade) e na educação (escola), seja na intervenção (psicologia,
psiquiatria e serviço social), seja na órbita jurídico-normativa (estatutária),
ou na judicial (Poder Judiciário, Ministério Público, instituições de proteção
e amparo à criança e ao adolescente), todas envolvidas na difícil tarefa
de, a um só tempo, protege-los e proteger a sociedade que agridem de
modo sistemático.
Por ser a adolescência uma fase marcada pela vulnerabilidade, a
busca de identidades e a formação de valores, experimentação, além de
mudanças de ordem física, psicológica e relacionais, o adolescente se
expõe a drogas, violência, prostituição e a todo tipo de mazela com muito
mais facilidade.
A relação do adolescente com a família também é de
suma importância e está presente na psicodinâmica do
adolescente em conflito com a lei.
“Não parece exagero dizer que as manifestações de privação e
delinquência em sociedade constituem uma ameaça tão grande quanto
a bomba nuclear. De fato, certamente existe uma conexão entre os dois
tipos de ameaça, uma vez que, assim como aumenta o elemento
antissocial na sociedade, também o potencial destrutivo no seio da
sociedade atinge níveis mais autos de perigo.” (Winnicott – Privação e Delinquência)
Segunda Guerra Mundial: teoria do amadurecimento emocional.
Esse evento de catástrofes incalculáveis colocou Winnicott à frente
de um trabalho de grande importância. Ele comandou a evacuação
das crianças de Londres, conciliando não apenas a recolocação
delas em abrigos temporários, como a troca de experiências entre as
equipes de assistência social e os pais temporários dos lares.
Por isso, os professores da época diziam que as crianças não
iriam se ressentir com a evacuação. Mas Winnicott alertou
que se isso fosse feito de qualquer jeito, nas próximas
décadas as políticas públicas de educação iriam se voltar
para a delinquência.
O medo é caracterizado pela falta de confiança no ambiente, pela
ausência de uma rotina que sustente a criança e que mostre a ela
que, naquele local, com aquela mãe ou cuidador responsável, ela
terá a sua existência preservada e nada poderá ser roubado dela.
E as reações antissociais, diante das privações e de uma vida
imobilizada, leva o bebê-criança-adulto a defender-se do medo
sentido do ambiente (do mundo).
O medo é uma emoção importante na vida de qualquer pessoa. É
por meio dessa sensação que nos colocamos em estados de alerta
diante de prováveis perigos, seja para fazer uma pessoa seguir com a
vida ou paralisar-se.
Ainda em sua vida primitiva, o bebê irá se relacionar com certas
privações. Até então, normais para leva-la ao estágio de dependência.
De acordo com o grau dessas privações, um bebê poderá crescer e
tornar-se um adulto imobilizado pelo medo.
Para Winnicott, os distúrbios de caráter eram manifestações de
tendências antissocial. Assim, a enurese, encoprese, agressividade,
compulsão, surgem como sintomas da perda e da falta de confiança
no ambiente.
APEGO/SEGURANÇA
É possível até ter consciência de que determinada situação não é
desejada, mas é melhor ficar com “isso” do que correr riscos ou não
ter nada.
O roubo também se enquadra nesse comportamento
delinquente (antissocial). Trata-se de uma aquisição para
aplacar a perda. Dessa forma, uma criança, por exemplo,
não rouba. Ela só está recuperando aquilo que é dela, pois
está dissociada da realidade.
Privação: ausência de amor
Variações de amor: segurança, acolhimento, socorro, cuidado, carinho,
atenção. Quando uma criança de até 5 anos de idade é
emocionalmente privada dos cuidados de sua mãe, o desenvolvimento
de sua personalidade é seriamente comprometido.
Delinquência: comportamento antissocial, quando uma criança é
“contra o ambiente”
Uma criança não reage contra o ambiente por nada. Ela faz isso por que,
de alguma maneira, esse ambiente foi ruim para ela.
A delinquência está ligada a uma perda específica; uma perda que se dá
após a separação do ambiente (EU do NÃO EU). A perda é abrupta,
repentina e duradoura.
O termo “duradoura” se deve ao fato do ambiente não reconhecer
alguma situação como perda. No entanto, para a criança, isso é e
continuará sendo... “para sempre”. Por exemplo: o nascimento de um
irmão mais novo. Para a mãe (ambiente), isso é uma benção, uma
alegria enorme. Mas, para o filho que até então era único, essa situação
representará uma perda irreparável do seu espaço e de sua relação
única com a mãe.
Deste modo, como confiar no ambiente novamente, já que a
continuidade da criança dentro dele foi abalada? Volta-se a privação e
por aí, o ciclo se repete.
Na visão de Freud a criminalidade pode ter origem na necessidade de
punição. São criminosos por sentimento de culpa. É uma delinquência
de estrutura neurótica de personalidade, egodistônica, em que o
sujeito pratique o crime visando à punição e aliviar seus sentimentos
de culpa.
A questão dos atos infracionais cometidos por adolescentes é
complexa e envolve além de várias teorias, diversos fatores.
É evidente que a delinquência não pode ser explicada somente por
essas valências psicológicas, sendo incontestável que fatores
biológicos e sociológicos estão em cena, ensaiando a mesma peça.
Teorias como a teoria do desvio cultural: tese dos adolescentes
em conflito com a lei, aparece a subcultura da violência, onde os
valores são invertidos e representam comportamentos agressivos,
utilização de armas e convivência hostil especialmente nos grandes
centros urbanos.
Teoria da tensão: onde crianças de classe baixa, média e alta
deveriam perseguir metas de sucesso, como educação, profissão e
independência econômica, a delinquência ocorre quando há
obstáculos intransponíveis que dêem acesso para as oportunidades e
metas. A causa do cometimento de infrações não estaria no indivíduo
ou na sua família, mas nas barreiras ou nos obstáculos
estruturalmente determinados que objetivam as legítimas
oportunidades de sucesso.
Atos desviados produzem reações seletivas e relativas, conforme
leciona Garland (2002, p.88):
As políticas punitivas se fundam sobre a caracterização dos
delinquentes como “animais”, “predadores”, “monstros sexuais”,
“nocivos”, ou “perniciosos”, membros de uma “subclasse”, sendo
todos eles “marcados como inimigos”, numa cultura dominante
que exacerba os valores familiares, o empreendimento individual
e os limites da assistência social.
Essa visão é a de que “o poder seletivo do sistema penal elege alguns
candidatos à criminalização, desencadeia o processo de sua
criminalização e submete-o à decisão da agência judicial, sendo que
essa escolha é feita em função da pessoa (“o bom candidato é escolhido
a partir de um estereótipo”)”. (ZAFFARONI, 2010, p. 245).
O fenômeno dos atos infracionais cometidos por adolescentes requer um
redirecionamento multidisciplinar, uma análise holística e um entendimento global do
pensamento que deve partir do campo de investigação até a epistemologia por ser
muito complexo.
Não se trata apenas na estrutura familiar ou presença de ambos os
pais, mas no estilo educativo deles, tanto no que diz respeito à imposição
de limites quanto na distribuição de afeto, atenção e cuidado.
O crime pode ser considerado o resultado da ausência de controles
internos e externos, quando a família falha, o Estado tende a tentar corrigir
o indivíduo, ocorre que a tendência atual é da tolerância zero com o
recrudescimento do tratamento dos jovens conflitantes e ausência de
políticas sérias de ressocialização e realmente tentativas que
compreendam esse fenômeno.
https://www.cnj.jus.br/cnj-servico-o-que-sao-medidas-socioeducativas/
https://psico.club/conteudo/privacao_e_delinquencia/345/35
https://www.youtube.com/watch?v=I5vohVFx4IY