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Infância e Adolescência (Medidas Protetivas e Socioeducativas)

 Definição de criança e adolescente segundo o ECA

• Criança: até 11 (onze) anos completos;


• Adolescente: a partir dos 12 (doze) anos;
• Adulto: a partir dos18 (dezoito) anos.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a faixa etária seria


de 10 (dez) a 19 (dezenove) anos.
Art.2º Considera-se criança, para os fins desta Lei, a pessoa até doze anos
de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei*, aplica-se excepcionalmente
este Estatuto ás pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade . (Lei
8.069/1990 ECA).”
*Excepcionalmente, na forma do art. 2°, parágrafo único, do ECA, a medida sócio- educativa
poderá ser aplicada ao maior de 18 anos que praticou ato infracional quando ainda era
inimputável, cessando de forma obrigatória quando o jovem completar 21 anos.
“Há fortes críticas quanto à adoção unicamente do critério biológico
para limitar a responsabilidade criminal. Nucci (2015, p. 12):

Não nos parece adequada essa pretensa limitação, indicando o


limite de 12 anos como marco de separação entre criança e
adolescente, somente para fins de aplicação do Estatuto da Criança
e do Adolescente.”
E continua Nucci (2015, p.12):
Debate-se, até hoje, quem se deve considerar criança, existindo
três correntes:
a) o ser humano até sete anos;
b) o ser humano até 11 anos;
c) o ser humano até 13 anos.
 A primeira posição lastreia-se no amadurecimento indicado pelos
critérios psicológicos, que aponta os sete anos como estágio final
da primeira infância.
 A segunda, baseia-se no Estatuto da Criança e do Adolescente.
 A terceira, fundamenta-se na idade para o consentimento sexual,
que se dá aos 14 anos, nos termos do art. 217-A do Código Penal.
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes,
por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições
de liberdade e de dignidade.
“Moacir César Pena Jr., toma como base o artigo constitucional que
trata da Doutrina da Proteção Integral da criança e do adolescente
para alicerçá-la em três pilares:
(i) a criança e o adolescente passam a condição de sujeitos de direitos;
(ii) a infância e a adolescência passam a ser reconhecidas como
etapas específicas do processo de desenvolvimento e formação;
(iii) a absoluta prioridade estabelecida pelo artigo 227 da Constituição
Federal o eleva à condição de princípio constitucional.”
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.”
“A fase da adolescência e da juventude é quando se constrói a
identidade, onde ele define suas referências e pauta seu
comportamento tirando dele lições para a vida adulta.

Essa é a fase de transição da infância para a vida adulta em que


geralmente surgem os maiores conflitos, sejam internos ou.

A adolescência é “o período da vida que começa na puberdade e se


caracteriza por mudanças corporais e psicológicas, estendendo-se,
aproximadamente, dos 12 aos 20 anos”.
(FERREIRA, 2014)
“A formação de grupos, a tentativa de se identificar no mundo, a
curiosidade e o idealismo, aliados ao desafio de construir experiências e
vivências, gera perturbação e o contato com condutas de risco.
O ser adolescente está envolto em mudanças físicas, psicológicas,
afetivas e comportamentais (instabilidades).
Durante essa fase, é imprescindível que os adolescentes tenham
conhecimento das suas responsabilidades, pois não há impunidade para
os atos que eles venham a cometer, e sim, um abrandamento das
sanções que seriam cabíveis a determinado ato.”
O fato de ser adolescente ou jovem não significa isenção total de
responsabilidade pelos atos infracionais cometidos.
Com relação a esses, são cabíveis medidas socioeducativas.
Internet: fator que tem influenciado muito o comportamento dos jovens,
a chamada era digital proporciona uma gama de informações, mas nem
todas elas são úteis para um ser em desenvolvimento.
Falsa sensação de anonimato, o que facilita o cometimento de
diversos delitos.
Falsa sensação de estarem “protegidos”.
O QUE SÃO AS MEDIDAS SÓCIOEDUCATIVAS?

Medidas socioeducativas são respostas que o Estado dá ao


adolescente que pratica ato infracional, entendido como crime ou
contravenção penal pela legislação brasileira.
O Estatuto da Criança e do Adolescente define que adolescente é toda
pessoa com idade entre 12 e 18 anos e nessa faixa etária o jovem que
comete um ato infracional análogo a crime ou contravenção pode estar
sujeito a medidas socioeducativas.
Em se tratando de jovens em conflito com a lei, se faz necessário a
explanação das garantias processuais que não poderiam ficar de fora
dessa proteção sistêmica aclamada pelo ordenamento jurídico.
“A Constituição Federal em seu art. 228 ressalta que “são
penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeito às
normas da legislação especial”.
“Seguindo essa mesma vertente,
o Código Penal fixou em 18 anos
a idade para alguém ser criminalizado
na seara penal, abaixo dessa faixa
etária a responsabilização se dá de
acordo com a Lei 8.069/1990 (ECA).”
“Sob esse viés, a discussão sobre a
redução da maioridade penal leva a outro
questionamento: Não estaríamos com o intuito
de punir e segregar para afastar a nossa
responsabilidade diante dos jovens e
adolescentes?”
“A atual tendência de recrudescimento das
respostas sociais e jurídicas para o comportamento
infracional não é a solução para a diminuição dos
crescentes percentuais de jovens em conflitos com
a lei no Brasil e no mundo.

Observa-se que a redução da maioridade


penal e outras questões que envolvem o
encarceramento e a repressão, não atacam
as causas do problema e não o solucionam.”
Em alguns casos, as medidas socioeducativas podem ser
aplicadas até o limite de 21 anos.
Isso acontece em situações excepcionais quando um adolescente
perto dos 18 anos comete um ato infracional.
No entanto, caso a contravenção ou crime tenha sido praticada após
os 18 anos, a pessoa deixa de responder conforme o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) e passa a estar sujeito à legislação
penal comum (LEP).
APLICAÇÃO DAS MEDIDAS

Quem determina a aplicação de uma medida socioeducativa é o


juiz da vara de infância e juventude. Somente o magistrado é
quem tem competência para aplicar e acompanhar a execução da
medida socioeducativa. Isso porque nenhum adolescente será
privado de sua liberdade sem o devido processo legal.
Para determinar a medida, o juiz avalia, principalmente, o fato em
que o adolescente se envolveu, analisando, também, a capacidade do
adolescente em se submeter a determinada medida socioeducativa.
O magistrado determina qual medida socioeducativa é a mais
adequada conforme o ato infracional praticado e se há ou não
reincidência e, para isso, são consideradas as circunstâncias em que o
fato aconteceu e a participação do adolescente no ato infracional.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece seis medidas
socioeducativas:
 Advertência – o juiz chama a atenção do adolescente que praticou ato
infracional para que não repita o comportamento.
 Reparação de dano – o juiz decide que o adolescente que praticou
contravenção ou crime deve reparar o dano. Exemplo: reparar o dano
provocado por pichações.
 Prestação de serviço à comunidade – o juiz decide que o adolescente que
praticou ato infracional preste serviço à comunidade por determinado
período como forma de reparar o dano causado. Medida aplicada por
período não excedente a seis meses junto a entidades assistenciais,
hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres.
 Liberdade assistida – o juiz decide que o ato infracional praticado pelo
adolescente demanda que o Estado preste atenção maior àquele jovem.
Nesses casos, um agente do Estado é destacado para procurar a família do
adolescente ou ir à escola para verificar se há alguma demanda que o Estado
precisa prover em relação ao jovem. Medida aplicada em situações em que o
adolescente está, por exemplo, envolvido com drogadição. Nessa medida
socioeducativa a ideia é que durante um período mínimo de seis meses o
adolescente fique sendo acompanhado por agentes sociais do Estado.
 Semiliberdade – Regime pode ser determinado desde o início ou
como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a
realização de atividades externas. Nessa medida, a proposta é que o
adolescente que cometeu um ato infracional passe a semana em
instituição com a restrição de liberdade, com saída para atividades de
estudo ou trabalho, sendo liberado nos fins semanas para convívio
com a família.
 Internação em estabelecimento educacional – Medida privativa de
liberdade, com prazo determinado e que não exceda três anos,
devendo sua manutenção ser reavaliada, no máximo a cada seis
meses. Somente pode ser aplicada quando tratar-se de ato infracional
cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa, por reiteração
no cometimento de outras infrações graves, por descumprimento
reiterado e injustificado da medida anteriormente imposta.
FONTE: Agência CNJ de Notícias
Em relação aos pais, também existem medidas a serem
aplicadas, entre as quais podemos citar: perda da guarda,
destruição da tutela e suspensão ou destituição do poder
familiar.
“A sociedade assumiu o papel de julgadora excluindo aqueles que
não se moldam aos padrões que ela espera que sejam atendidos.

Dessa forma os jovens em conflitos com a lei já são, desde o


seu primeiro ato de delinquência, considerados irrecuperáveis.”
Essa proteção (medidas socioeducativas) é necessária para
que o adolescente possa ter a oportunidade de aprender com os
erros e não voltar a cometê-los, pois a própria palavra
adolescente tem origem do latim adolescere que significa
crescer.”
“O reflexo penal que isso causa é o de que os
menores de 18 anos estão imunes ao Código Penal e
como consequência, começou a crescer na sociedade o
sentimento de impunidade externado nos debates sobre
a redução da maioridade penal.”
“Enquanto a criança e o adolescente não forem priorizados pelo Estado,
pela família e pela sociedade como um todo, sempre haverá discussões
sobre afastar o problema dos jovens conflitantes ao invés de solucioná-lo.
Os números de atos infracionais crescem a cada dia e pouco ainda é feito
no sentido da prevenção.
Muito da questão perpassa por problemas sociais, financeiro-econômicos
e da falta de investimento estatal em educação, lazer, cultura e
profissionalização.”
“No tocante as garantia processuais, ressalta-se que nenhum adolescente
será privado de sua liberdade, salvo em flagrante de ato infracional, por
ordem escrita e devidamente fundamentada da autoridade competente,
tendo ainda direito a conhecer a identidade dos responsáveis por sua
apreensão e informado de seus direitos cabíveis naquela ocasião. Ato
contínuo a sua apreensão, será verificada a possibilidade de sua liberação
imediata, caso isso não seja possível, será comunicado ao magistrado e a
família, ou pessoa indicada pelo adolescente, do local onde se encontra
recolhido, sendo-lhe assegurado também o devido processo legal quando
da aplicação de medida socioeducativa ou privação da liberdade.”
Pena Júnior (2017, p.80):
A carência de políticas públicas voltadas ao cuidado e proteção
ainda é latente enquanto cresce o número de pessoas que pregam
um maior rigor para a delinquência juvenil e ainda, o desejo de
inseri-los em ambientes de criminosos comuns sem qualquer
distinção de idade.
A missão de educar, proteger e guiar vai sendo aos poucos
substituída pela de punir, num cenário de total ausência estatal e de
omissão social.
A CRIMINOLOGIA E A INFRAÇÃO JUVENIL
“É necessário se relacionar a infração juvenil com algum
tipo de violência que o sujeito tenha sido submetido no
passado para que se consiga entender a origem e os fatores
que explicam essa criminalidade precoce.
Muitos jovens que hoje são considerados delinquentes
experimentaram situações de violência intrafamiliar ou
extrafamiliar.”
Infelizmente, a violência pode atingir qualquer tipo de pessoa, mas
ela é ainda mais preocupante quando as vítimas são crianças,
porque, sendo fisicamente mais frágeis e psicologicamente ainda em
formação, têm menos recursos para se defender. Elas também
poderão carregar as consequências da violência sofrida pelo resto da
vida. Por isso, merecem uma especial atenção do Direito e da
Psicologia.
(Sani, 2002)
As vítimas de violência
podem reagir de diversas
formas, inclusive
reproduzindo-a, mas isso
não pode ser considerado
isoladamente.
A violência é sempre, de uma maneira ou de outra, um fato
traumático, e, por isso, as vítimas de crime manifestam vários níveis de
estresse e sintomas.

MECANISMOS INTERNOS E RECURSOS EXTERNOS

O modo como ela é acolhida após o fato, seja pela família, seja
pelas instituições sociais ou de intervenção legal, poderá minimizar as
sequelas do acontecimento.”
Trindade (2011)
“Trindade (2011):
Tipos específicos de maus-tratos vividos na infância levariam a tipos
específicos de desordem de conduta na vida adulta. Isso explicaria a
perpetuação da violência: abusado na infância, abusador na vida
adulta, mantendo-se, assim, os ciclos de abuso através da
transmissão intergeracional da violência. Por exemplo: o abuso
sexual na infância é frequentemente citado como causa de
prostituição futura.”
“Trindade (2011) explica o modelo da chamada Nova
Criminologia nos seguintes termos:
Propõe novas definições acerca dos fatos delitivos e invoca,
como matéria de fundo, o respeito aos direitos humanos
fundamentais. Seu objetivo reside em alterar as estruturas
econômicas e políticas do capitalismo, geradoras da
delinquência, segundo argumentam seus teóricos.”
“Sob esse viés, mais interessante e eficaz seria estudar os
motivos que levam as pessoas a serem estigmatizadas como
delinquentes, e quem determinou isso, ou seja, se a sociedade
estaria legitimada para fazer esse julgamento prévio e
condenação social, do que os motivos que as levaram a
delinquir.”
Principais Teorias Criminológicas
“Principais teorias criminológicas para se analisar e explicar o que
leva os jovens a entrar em conflitos com a lei:
 A primeira teoria é a clássica de Beccaria, para essa linha de
pensamento o crime é uma escolha livre e acontece quando,
devido à ausência de punição, os benefícios são maiores que os
custos.
 Perpassa-se pela positivista, lançada por Lombroso para quem o
homem já nasceria delinquente e está determinado por causas e
características morfo-fisiológicas.”
 Sociologismo de Ferri: o homem não nasce propenso ao crime, mas
torna-se delinquente a partir dos fatores do meio. Para essa teoria “se
numa rua escura se comete mais crimes do que numa rua clara, bastará
iluminá-la e isso será mais eficaz do que construir masmorras”.
 A teoria de Hirschi e Gottfredson, a principal causa de crime é a falta de
controle. Os mecanismos de controle internos ou externos fracassam na
sua função de contenção gerando o comportamento delinquente. Esses
mecanismos podem variar de acordo com o contexto histórico, social e
geográfico.
 Zaffaroni, as desigualdades criam condições que levam ao delito de rua e
à criminalidade organizada. O capitalismo e suas formas selvagens são
fundamentalmente criminogênicas, porque geram pobreza, injustiça,
menos-valia, e exploração dos mais fracos.
 Teoria da recuperação da anomia: as relações interpessoais podem se
converter numa fonte de estresse ou de tensão ao não permitir que o
sujeito alcance suas metas. A estabilidade ou a mudança da conduta
antissocial depende do temperamento e do entorno social.
Não há como aplicar apenas uma teoria, isoladamente, para
explicar o que leva os jovens a entrar em conflitos com a lei, mas se
faz necessário que se vislumbre as principais teorias criminológicas
e sua evolução.
A INFRAÇÃO JUVENIL ANALISADA SOB
O VIÉS DA PSICOLOGIA JURÍDICA
“A psicologia jurídica não é apenas uma simples junção entre a
psicologia e o direito, mas tenta explicar alguns fenômenos como
o da infração juvenil. Nessa esteira, há uma forte tendência no
que tange ao recrudescimento das respostas sociais e jurídicas
quando se trata de comportamento infracional, marcado pela
baixa tolerância, práticas antissociais, clamor público pelo
encarceramento e a presença do discurso pela redução da
maioridade penal.”
“Duarte-Fonseca (2006): histórico da tendência ao recrudescimento:
O início do século XXI está sendo marcado por um progressivo
endurecimento das reações face à prática de atos realizados por crianças e
por adolescentes e qualificados pela lei como crime, indicando a baixa
tolerância da sociedade em geral para com esses comportamentos.
O sentimento de insegurança especialmente instalados nas áreas urbanas,
a ampliação dos comportamentos infracionais e a carga de violência de
que se revestem,  bem como o destaque dado pelos meios de
comunicação social reforçam o sentimento de recrudescimento.”
“Ao invés de se pensar de forma estratégica, analisando a questão sob
todos os enfoques, inclusive sociológico, convivência familiar e
comunitária, de influências do meio, de reação a algum trauma ou violência
de que o agente tenha sido vítima, adotou-se uma postura de
endurecimento legal e judicial.
No Brasil, cresce o número de parlamentares que defendem a redução da
maioridade penal e o encarceramento logo a partir dos 16 anos e não mais
na faixa etária dos 18. Ocorre que no país não há uma política de
ressocialização, mas sim a tradição de que cadeia é escola do crime, há
ainda superlotação e denúncias de tortura e todo o tipo de mácula aos
direitos humanos não atingidos pela pena.”
“É nesse ambiente que se quer colocar adolescentes logo a partir do
seu primeiro ato infracional, sem dar qualquer chance de
recuperação. Vale ressaltar que o adolescente infrator já é
responsabilizado nos moldes do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
As medidas socioeducativas são fruto de uma legislação inovadora e
aclamada pelo mundo todo, mas vista pelos próprios brasileiros como
injusta e ineficaz.”
“Essas medidas sugerem a reparação do dano à vítima, o alerta
de que foi feito algo em desacordo com as regras de convivência
social e contra o ordenamento jurídico brasileiro e busca-se
despertar a consciência de que seus atos prejudicaram pessoas
inocentes.”
“Verificam-se algumas críticas ao Estatuto da Criança e do Adolescente:
nos últimos vinte anos se estabeleceu uma crença equivocada, porém
generalizada, de que o (ECA instaurou um regime protecionista que não
permite a responsabilização da criança e do adolescente infrator, alçado à
qualidade de vítima de uma sociedade desigual e injusta. Esse imaginário
veio patrocinado por uma concepção da aplicação do princípio
constitucional e legal da proteção integral, que, efetivamente, não
descurou do chamamento à responsabilidade dos infratores, como
comprova o simples exame das medidas socioeducativas elencadas no
(ECA/90, art.112).”
A descrença em medidas preventivas e educativas deixa de vislumbrar que
até os Poderes Judiciário, Executivo e Legislativo não estão isentos, vide os
casos que eclodem em todo o Brasil de beneficiamento próprio ou de
terceiro, venda de sentença, entre outros.
A doutrina da proteção integral existente no ECA traz um conceito pós-
moderno, fruto de uma evolução, porém recente, onde a criança e o
adolescente passaram a ser tratados como dignos do ter e do ser.
“Trindade (2011), teorias da psicologia jurídica aplicadas ao adolescente infrator
no decorrer do tempo:
Graças à ajuda da filosofia de Locke e Rousseau e à pedagogia de Pestalozzi,
a criança começou a ser considerada como uma tabula rasa, a que podiam
afetar as diversas experiências, impondo-se, por parte dos adultos, a obrigação
de ajuda-la no seu desenvolvimento e na sua formação.
Rousseau, em meados do século XVIII, consignou que a criança tem formas
próprias de ver, de pensar e de sentir, nada sendo mais absurdo do que pôr as
nossas em seu lugar.”
Atualmente, há uma tendência a atribuir a delinquência juvenil severa aos
jovens multiproblemáticos, aqueles cujo comportamentos violentos estão
associados a problemas de conduta e que, por seu aspecto crítico, devem
ocupar um lugar na agenda de prioridades, seja na pesquisa
(universidade) e na educação (escola), seja na intervenção (psicologia,
psiquiatria e serviço social), seja na órbita jurídico-normativa (estatutária),
ou na judicial (Poder Judiciário, Ministério Público, instituições de proteção
e amparo à criança e ao adolescente), todas envolvidas na difícil tarefa
de, a um só tempo, protege-los e proteger a sociedade que agridem de
modo sistemático.
Por ser a adolescência uma fase marcada pela vulnerabilidade, a
busca de identidades e a formação de valores, experimentação, além de
mudanças de ordem física, psicológica e relacionais, o adolescente se
expõe a drogas, violência, prostituição e a todo tipo de mazela com muito
mais facilidade.
A relação do adolescente com a família também é de
suma importância e está presente na psicodinâmica do
adolescente em conflito com a lei.
“Não parece exagero dizer que as manifestações de privação e
delinquência em sociedade constituem uma ameaça tão grande quanto
a bomba nuclear. De fato, certamente existe uma conexão entre os dois
tipos de ameaça, uma vez que, assim como aumenta o elemento
antissocial na sociedade, também o potencial destrutivo no seio da
sociedade atinge níveis mais autos de perigo.” (Winnicott  – Privação e Delinquência)
Segunda Guerra Mundial: teoria do amadurecimento emocional.
Esse evento de catástrofes incalculáveis colocou Winnicott à frente
de um trabalho de grande importância. Ele comandou a evacuação
das crianças de Londres, conciliando não apenas a recolocação
delas em abrigos temporários, como a troca de experiências entre as
equipes de assistência social e os pais temporários dos lares.
Por isso, os professores da época diziam que as crianças não
iriam se ressentir com a evacuação. Mas Winnicott alertou
que se isso fosse feito de qualquer jeito, nas próximas
décadas as políticas públicas de educação iriam se voltar
para a delinquência.
O medo é caracterizado pela falta de confiança no ambiente, pela
ausência de uma rotina que sustente a criança e que mostre a ela
que, naquele local, com aquela mãe ou cuidador responsável, ela
terá a sua existência preservada e nada poderá ser roubado dela.
E as reações antissociais, diante das privações e de uma vida
imobilizada, leva o bebê-criança-adulto a defender-se do medo
sentido do ambiente (do mundo).
O medo é uma emoção importante na vida de qualquer pessoa. É
por meio dessa sensação que nos colocamos em estados de alerta
diante de prováveis perigos, seja para fazer uma pessoa seguir com a
vida ou paralisar-se.
Ainda em sua vida primitiva, o bebê irá se relacionar com certas
privações. Até então, normais para leva-la ao estágio de dependência.
De acordo com o grau dessas privações, um bebê poderá crescer e
tornar-se um adulto imobilizado pelo medo.
Para Winnicott, os distúrbios de caráter eram manifestações de
tendências antissocial. Assim, a enurese, encoprese, agressividade,
compulsão, surgem como sintomas da perda e da falta de confiança
no ambiente.
APEGO/SEGURANÇA
É possível até ter consciência de que determinada situação não é
desejada, mas é melhor ficar com “isso” do que correr riscos ou não
ter nada.
O roubo também se enquadra nesse comportamento
delinquente (antissocial). Trata-se de uma aquisição para
aplacar a perda. Dessa forma, uma criança, por exemplo,
não rouba. Ela só está recuperando aquilo que é dela, pois
está dissociada da realidade.
Privação: ausência de amor
Variações de amor: segurança, acolhimento, socorro, cuidado, carinho,
atenção. Quando uma criança de até 5 anos de idade é
emocionalmente privada dos cuidados de sua mãe, o desenvolvimento
de sua personalidade é seriamente comprometido.
Delinquência: comportamento antissocial, quando uma criança é
“contra o ambiente”
Uma criança não reage contra o ambiente por nada. Ela faz isso por que,
de alguma maneira, esse ambiente foi ruim para ela.
A delinquência está ligada a uma perda específica; uma perda que se dá
após a separação do ambiente (EU do NÃO EU). A perda é abrupta,
repentina e duradoura.
O termo “duradoura” se deve ao fato do ambiente não reconhecer
alguma situação como perda. No entanto, para a criança, isso é e
continuará sendo... “para sempre”. Por exemplo: o nascimento de um
irmão mais novo. Para a mãe (ambiente), isso é uma benção, uma
alegria enorme. Mas, para o filho que até então era único, essa situação
representará uma perda irreparável do seu espaço e de sua relação
única com a mãe.
Deste modo, como confiar no ambiente novamente, já que a
continuidade da criança dentro dele foi abalada? Volta-se a privação e
por aí, o ciclo se repete.
Na visão de Freud a criminalidade pode ter origem na necessidade de
punição. São criminosos por sentimento de culpa. É uma delinquência
de estrutura neurótica de personalidade, egodistônica, em que o
sujeito pratique o crime visando à punição e aliviar seus sentimentos
de culpa.
A questão dos atos infracionais cometidos por adolescentes é
complexa e envolve além de várias teorias, diversos fatores.
É evidente que a delinquência não pode ser explicada somente por
essas valências psicológicas, sendo incontestável que fatores
biológicos e sociológicos estão em cena, ensaiando a mesma peça.
 Teorias como a teoria do desvio cultural: tese dos adolescentes
em conflito com a lei, aparece a subcultura da violência, onde os
valores são invertidos e representam comportamentos agressivos,
utilização de armas e convivência hostil especialmente nos grandes
centros urbanos.
 Teoria da tensão: onde crianças de classe baixa, média e alta
deveriam perseguir metas de sucesso, como educação, profissão e
independência econômica, a delinquência ocorre quando há
obstáculos intransponíveis que dêem acesso para as oportunidades e
metas. A causa do cometimento de infrações não estaria no indivíduo
ou na sua família, mas nas barreiras ou nos obstáculos
estruturalmente determinados que objetivam as legítimas
oportunidades de sucesso.
Atos desviados produzem reações seletivas e relativas, conforme
leciona Garland (2002, p.88):
As políticas punitivas se fundam sobre a caracterização dos
delinquentes como “animais”, “predadores”, “monstros sexuais”,
“nocivos”, ou “perniciosos”, membros de uma “subclasse”, sendo
todos eles “marcados como inimigos”, numa cultura dominante
que exacerba os valores familiares, o empreendimento individual
e os limites da assistência social.
Essa visão é a de que “o poder seletivo do sistema penal elege alguns
candidatos à criminalização, desencadeia o processo de sua
criminalização e submete-o à decisão da agência judicial, sendo que
essa escolha é feita em função da pessoa (“o bom candidato é escolhido
a partir de um estereótipo”)”. (ZAFFARONI, 2010, p. 245).
O fenômeno dos atos infracionais cometidos por adolescentes requer um
redirecionamento multidisciplinar, uma análise holística e um entendimento global do
pensamento que deve partir do campo de investigação até a epistemologia por ser
muito complexo.
Não se trata apenas na estrutura familiar ou presença de ambos os
pais, mas no estilo educativo deles, tanto no que diz respeito à imposição
de limites quanto na distribuição de afeto, atenção e cuidado.
O crime pode ser considerado o resultado da ausência de controles
internos e externos, quando a família falha, o Estado tende a tentar corrigir
o indivíduo, ocorre que a tendência atual é da tolerância zero com o
recrudescimento do tratamento dos jovens conflitantes e ausência de
políticas sérias de ressocialização e realmente tentativas que
compreendam esse fenômeno.
https://www.cnj.jus.br/cnj-servico-o-que-sao-medidas-socioeducativas/

Precisamos falar sobre o Kevin:


https://www.youtube.com/watch?v=vl369KdpFPM

https://psico.club/conteudo/privacao_e_delinquencia/345/35

https://www.youtube.com/watch?v=I5vohVFx4IY

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