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TRABALHO DE PSICOLOGIA

MEDIDAS SÓCIOEDUCATIVAS, LIBERDADE ASSISTIDA. DIREITO


DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

ADILSON SANTOS – RA 3628221 – DIREITO NOTURNO – CAMPUS IV – 1º SEMESTRE

DENISE SAMPAIO – RA 3553434 – DIREITO NOTURNO – CAMPUS IV – 1º SEMESTRE

EDNA LESSA – RA 3546586 – DIREITO NOTURNO – CAMPUS IV – 1º SEMESTRE

TATHIANE CHAVES – RA 3556239 – DIREITO NOTURNO – CAMPUS IV – 1º SEMESTRE

RENATA MIELLI – RA 3558053 - DIREITO NOTURNO – CAMPUS IV – 1º SEMESTRE

JESSICA VIEIRA – RA 3602788 – DIREITO NOTURNO – CAMPUS IV – 1º SEMESTRE

RONALDO PEGO – RA 3600181 – DIREITO NOTURNO – CAMPUS IV – 1º SEMESTRE


I. MEDIDAS SÓCIOEDUCATIVAS, LIBERDADE ASSISTIDA; DIREITO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente trabalho tem por escopo abordar acerca das medidas sócio educativas
aplicáveis aos adolescentes em conflito com a lei. Desse modo, far-se-á uma análise
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o qual trouxe em seus artigos, o
controle judicial da delinquência juvenil em razão de prática de ato definido como
crime ou contravenção penal, que se dá o nome de ato infracional.

Pois bem, o ECA surge com a finalidade de regular o artigo 227 da Constituição
Federal, que dispõe que:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.

Da leitura do dispositivo supracitado, percebe-se que a Constituição adotou a


Doutrina da Proteção Integral à criança e ao adolescente. Até então, prevalecia a
Doutrina da Situação Irregular, que, segundo Cavallier, correspondia a um estado de
patologia social, entendida de forma ampla, onde se encontravam os jovens em
situação de risco, que eram o foco das medidas tomadas por parte do Poder
Público.

Hoje, com o advento do ECA, há prioridade absoluta à todas crianças e


adolescentes, independentemente de se encontrarem em situações precárias.
Sendo assim, eles deixaram de ser meros objetos de intervenção da família e do
Estado, passando a ser tratados como verdadeiros sujeitos de direito, instituindo-se
uma nova política de atendimento à infância e a juventude, baseada, portanto, na
Teoria da Proteção Integral.
Contudo, apesar de toda a proposta, sabe-se que o quadro de marginalidade das
crianças e adolescentes do Brasil é muito grande, visto que são vítimas frágeis e
vulneráveis pela omissão da família, da sociedade e do Estado, o qual deveria
assegurar seus direitos fundamentais.

Nesse contexto de falta de assistência e abandono, de ter que sobreviver a


situações degradantes, frutos da falta de acesso à saúde e educação, é que se
evidencia o maior índice de marginalidade (mas não apenas nestas), mostrando a
incapacidade do Estado em promover um equilíbrio social.

Não se discute que a grande parte da violência cometida por estes jovens é apenas
parte do reflexo da violência do meio em que habitam. Dessa forma, o ECA,
baseado no sistema da proteção integral, procura ressocializar estes agentes,
através de auxílio, apoio e das medidas socioeducativas, que possuem o condão
muito mais pedagógico do que punitivo. É o que se desprende-se do artigo 100 do
ECA, in verbis:

Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades


pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários.

Isto posto, tem-se que a medida sócio-educativa não busca abonar o ato infracional
cometido pelo adolescente infrator, mas sim a responsabilização por seus atos, de
modo a permitir sua regeneração, ou seja, possibilitar um despertar para sua
responsabilidade social, proporcionando-lhe um novo projeto de vida que o liberte da
marginalização.

Sendo assim, em sequência, far-se-á uma breve análise sobre o ato infracional,
onde posteriormente serão demonstradas as medidas sócio-educativas, destacando
sua natureza, bem como os princípios que as regem.

2. DIREITO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8069/1990, é reconhecida


internacionalmente como um dos mais avançados Diplomas Legais dedicados à
garantia dos direitos da população infanto-juvenil.
O estatuto manifesta-se como um corpo de princípios e normas prescritas pelo
Estado para administração da causa da criança e do adolescente, visto que são
prioridades nas ações estatais. O ECA criou no Brasil um sistema de controle judicial
da delinquência juvenil, baseado na responsabilização socioeducativa dos jovens
entre 12 e 18 anos de idade, que venham à desenvolver um comportamento definido
como crime ou contravenção penal. Por serem inimputáveis, conforme disposição do
art. 228 da Constituição Federal, a criança ou o adolescente jamais cometem crimes
ou contravenções, incorrem tão só em ato infracional, caso adotem conduta
objetivamente idêntica, a fim de que possa ser responsabilizado.

Há várias particularidades encontradas no ECA que levam em conta a situação


peculiar daqueles que ainda estão em desenvolvimento físico, social e psicológico.
O direito da infância e juventude possui objeto e âmbito jurídico próprio, por conta de
sua natureza e relações que visa proteger. Tendo em vista que se edifica sobre uma
categoria de bens e interesses que lhe é privativa por natureza, e cuja singularidade
legítima a sua autonomia, que por sua relevância na vida social, necessita de tutela
específica. Não podemos tratar adultos e adolescentes de uma mesma maneira,
pois estão submetidos a ordenamentos jurídicos diversos.

Sendo assim, é fundamental a intervenção de todos no sentido da existência de


políticas públicas capazes de fazer das crianças e adolescentes efetivamente
sujeitos de direito, garantindo-se a pena efetivação de seus direitos fundamentais,
com a mais absoluta prioridade, tal qual preconizado de maneira expressa pelo
art.4º, caput e parágrafo único, da Lei nº 069/1990, como reflexo direto no artigo
227, caput, da Constituição Federal.

2.1 A Prática de Ato Infracional

Segundo o próprio ECA, considera-se ato infracional a conduta descrita como crime
ou contravenção penal. Com o advento do estatuto, os adolescentes infratores
passaram a configurar como sujeitos passivos da ação socioeducativa proposta pelo
Ministério Público, quando da prática de atos infracionais. Esta ação assegura ao
jovem infrator diversas garantias advindas dos princípios do contraditório e da
imparcialidade do Juiz, bem como o pleno e formal conhecimento da atribuição do
ato infracional, mediante citação ou meio equivalente, igualdade na relação
processual, defesa técnica por advogado, assistência judiciária gratuita aos
necessitados, direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente e
direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do
procedimento. Sobre o tema Valter Kenji Ishida leciona:

Pela definição finalista, crime é um fato típico e antijurídico. A criança e o


adolescente podem vir a cometer um crime, mas não preenchem o requisito da
culpabilidade, pressuposto de aplicação da pena. Isso porque a imputabilidade penal
inicia-se somente aos 18 (dezoito) anos, ficando o adolescente que cometa infração
penal sujeito a aplicação de medida sócio educativa (sic) por meio de sindicância.
Dessa forma, a conduta delituosa da criança e do adolescente é denominada
tecnicamente de ato infracional, abrangendo tanto crime como a contravenção.

Importante ressaltar que os menores de 12 anos, portanto, crianças, estão sujeitos


apenas às medidas de proteção previstas no art. 101. Já ao adolescente infrator
poderão ser aplicadas as medidas elencadas no art. 112 e seus incisos:

I – Advertência;

II – Reparação do dano;

III – Prestação de serviços à comunidade;

IV – Liberdade assistida;

V – Semiliberdade;

VI – Internação.

Tais medidas, de modo geral, conferem ampla resposta ao ato praticado, merecedor
de reprovação social.

O Juiz ao administrar as medidas socioeducativas acima enumeradas não se aterá


apenas às circunstâncias e à gravidade do delito, mas especialmente, às condições
pessoais do adolescente, sua personalidade, suas relações e referências familiares
e sociais, bem como a sua capacidade de cumpri-la, assim como as necessidades
da sociedade. Temos condições privilegiadas para avaliar de modo a eficácia do
estatuto, tanto em reduzir a violência juvenil em geral como reincidência em
particular. Nosso estatuto é considerado por especialistas, de dentro e de fora do
país, como um marco no tratamento do problema da infração juvenil e como um
modelo a ser seguido por outros países.

2.2 As Espécies de Medida Socioeducativa

2.2.1 Advertência

A advertência, prevista no artigo 115, é a primeira medida judicial aplicada ao menor


que delinque e, consistirá na admoestação verbal, que será reduzida a termo e
assinada. Não se trata de simples “conversa de rotina”, tendo em vista que dela
resultará um termo, no qual estarão contidos os deveres do menor e as obrigações
do pai ou responsável, com vista a sua recuperação, mantendo-lhe no seio familiar,
com vistas a que ele não mais volte a delinquir. Para a sua aplicação é suficiente a
prova da materialidade e indícios de autoria.

Explicita sobre a temática o autor Válter Kenji Ishida:

Prevê o ECA a medida de advertência consistindo em admoestação, ou seja, a


leitura do ato cometido e o comprometimento de que a situação não se repetirá.
Assim, atos infracionais como de adolescentes que cometa, pela primeira vez,
lesões leves em outro ou vias de fato, podem levar à aplicação desta medida. E
segundo o STF: “A medida de advertência tem caráter pedagógico, de orientação ao
menor e em tudo se harmoniza com o escopo que inspirou o sistema instituído pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente ( Ishida, ,2010)

2.2.2 Reparação de Danos

O artigo 116 prevê a obrigação de reparar o dano, se o ato infracional tiver reflexos
patrimoniais, determinando que o adolescente restitua ou de alguma forma
compense o prejuízo da vítima. Esta medida poderá ser substituída por outra
adequada se existir manifesta impossibilidade de ser cumprida.

Entretanto tal medida é muito pouco aplicada, considerando grande parte dos
menores que praticam atos infracionais são pouco abastados. De acordo com o
entendimento de Válter Kenji Ishida:
A lei prevê a medida de reparação de dano no caso de infrações com reflexos
patrimoniais. A lei prevê a medida de reparação de dano no caso de infrações com
reflexos patrimoniais. Poder-se-iam citar os delitos de trânsito, abrangendo as lesões
culposas, o homicídio culposo, a direção perigosa e a falta de habilitação.

2.2.4 Prestação de Serviços à Comunidade

A prestação de serviços à comunidade com fulcro no artigo 117 do ECA, consiste


em uma forma de punição útil à sociedade, onde o infrator não é privado do convívio
social, entretanto desenvolve tarefas proveitosas a seu aprendizado e a necessidade
social. Por um período não excedente à seis meses, tais prestações são realizadas
junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos
congêneres, bem como programas comunitários ou governamentais. O grande
alcance desta medida é exatamente constituir-se em uma alternativa à internação.

Ressalve-se que, a teor do referido artigo, os serviços a serem atribuídas aos


adolescentes, serão de conformidade com as suas aptidões, não podendo
ultrapassar oito horas semanais, para que não prejudique a frequência à escola ou a
jornada de trabalho do adolescente. Também não pode ter duração superior a um
semestre.

De acordo com Valter Kenji Ishida: “Definiu o legislador a medida de prestação de


serviços à comunidade. É a realização de tarefas gratuitas de interesses gerais por
período não superior a seis meses.”

2.2.5 Semiliberdade

O regime de semiliberdade trata-se de um meio termo entre a privação. da


liberdade, imposta pelo regime de recolhimento noturno, e a convivência em meio
aberto com a família e a comunidade.

O Estatuto no artigo 120, com o intuito de resguardar os vínculos do menor com os


seus familiares e com a sociedade, também prevê esta medida, sendo que em dois
regimes: o que é determinado desde o início, e o que representa a transição para o
meio aberto. Tal inovação permite a sua aplicação desde o início do atendimento,
possibilitando a realização de atividades externas independentes de determinação
judicial. Sendo, entretanto, obrigatória à escolarização e a profissionalização, não
comportando prazo determinado, aplicando-se, no que couber, as disposições
relativas à internação.

Convém destacar que, tal medida pressupõe casas especializadas e preparadas


para o recebimento desses adolescentes e, infelizmente, não se dispõe dessas
casas para o recolhimento dos adolescentes, como forma de transição para o
regime aberto, que seria o da liberdade assistida. Nas palavras de Valter Kenji Ishida
acerca do tema:

A lei prevê o regime de semiliberdade, onde o adolescente permanece internado no


período noturno, podendo realizar atividades externas. Dentre estas atividades,
incluem-se a escolarização e a profissionalização. Não há prazo de duração
determinado, dependendo de avaliação a cada seis meses como na internação pelo
Setor Técnico. Corresponde no sistema penal ao regime semiaberto.

2.2.6 Internação

A medida socioeducativa da internação é a mais severa de todas, por privar o


adolescente de sua liberdade. Deve ser aplicada somente aos casos mais graves,
em caráter excepcional.

Em conformidade com o artigo 121, § 2° do ECA esta medida não comporta prazo
determinado, uma vez que a reprimenda adquire o caráter de tratamento
regenerador do adolescente, e não poderá em hipótese alguma exceder a três anos
(§ 3° do art. 121), devendo ser reavaliada a cada seis meses, mediante decisão
fundamentada. Atingido o limite de três anos, o adolescente deverá ser liberado,
colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. O parágrafo 5° do
artigo 121 prevê a liberação compulsória do adolescente tão logo ele complete 21
anos de idade.

Nesse sentido, a situação peculiar do adolescente, como pessoa em formação e em


desenvolvimento deve ser respeitada, de modo que a resposta de reprovação do
Estado deve ser exercida com moderação e equilíbrio sem, no entanto, minimizar as
consequências decorrentes do ato infracional, de forma a não imprimir um ideal de
impunidade ao adolescente. Conceitua tema Valter Kenji Ishida:

Constitui a medida de internação a mais grave dentre as socioeducativas,


constituindo, a teor do caput, em medida privativa de liberdade. Difere do regime de
semiliberdade, tendo em vista que, neste, dispensa-se autorização judicial para a
saída.

A internação deve ser a última medida e incumbida de caráter eminentemente sócio


educativo, que assegure aos jovens internos, cuidados especiais, como proteção,
educação, formação profissional, esporte, lazer, para permitir-lhe sua reintegração
na sociedade.

De acordo com Estatuto, a internação só é cabível nas hipóteses do artigo 122,


incisos I a IIl, e desde que não se possa aplicar outra medida mais adequada.

Devendo, portanto, ser aplicada quando:

I – tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à


pessoa;

II – por reiteração no cometimento de outras infrações graves;

lII – por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

Finalmente, vale ressaltar que a internação deverá ser cumprida em entidade


exclusiva para adolescente, em local distinto daquele destinado ao abrigo,
obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade
da infração (art.123). No artigo 124 do ECA estão elencados todos os direitos do
adolescente que esteja cumprindo medida socioeducativa de internação.

2.2.7 Princípios Orientadores e aplicação da medida

Quanto aos princípios que orientam a aplicação das medidas sócio educativas,
importante ressaltar, o princípio da Brevidade, previsto no art. 121, §3º, ECA, o que
prevê que não existirão medidas perpétuas, já que tais medidas não poderão
exceder 3 anos.
Diante disso, qualquer decisão judicial que determine previamente o período de
internação, já fica cancelada em razão do princípio da brevidade, que não permite a
perpetuação de nenhuma medida. Uma vez que a nossa Constituição Federal no
seu artigo 5º, XL, VII, b, CF, proibiu penas perpétuas, logo, seria ilógico admitir
perpetuidade de uma medida sócio educativa, pois estaria caracterizada a
desesperança na ressocialização do menor infrator e consequente descrença no
sistema penal.

O princípio da Excepcionalidade, disposto no art. 122, § 2º, ECA, prevê que a


privação da liberdade do menor infrator deve ser a última ratio, isto é, a última razão,
o que significa dizer que ela só deverá ser utilizada após utilizar-se de outras formas
de advertência e repressão, sempre levando se em consideração a gravidade do
delito cometido. Existindo a possibilidade de ser imposta medida menos onerosa ao
direito de liberdade do jovem infrator, esta deverá ser imposta em detrimento da
internação.

Por fim, no que tange aos princípios norteadores, o principio base deve ser o da
proporcionalidade entre o bem jurídico atingindo e a medida imposta.

2.3 Das Medidas de Proteção

No nosso país, visualizamos uma grande contradição no que tange a Lei de


Execução Penal (Lei nº 7.210/84) e ao Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº
8.069/90), somos relativamente conhecidos como o pais onde o sistema
penitenciário e falho e os direitos da criança e do adolescente são mais violados.

O Estatuto da Criança e do Adolescente é marcado pela responsabilidade penal


juvenil no tratamento dos delitos cometidos por adolescentes. O Estatuto também
demonstra quais são os objetivos destas medidas impostas, que possuem caráter
pedagógico a fim de esclarecer o dano e sua necessidade em repará-lo, para que o
jovem não volte a delinquir e não se torne alguém sem limites e responsabilidades.

O art. 98 até o 102 do ECA, são estabelecidas medidas de proteção à crianças e


adolescentes, quando estes tiverem direitos ameaçados ou violados, essas medidas
classificam os menores em três categorias: os carentes ou em situação irregular
(aquelas crianças ou adolescentes que tem seus direitos violados por ação ou
omissão da sociedade ou do Estado), os menores vítimas dos país ou responsáveis,
seja pela falta, omissão o abuso e por fim, aqueles que praticam atos infracionais.

Sabe-se que ninguém nasce para ser infratora. Para se chegar a delinquência há
uma série de fatores por trás de tal conduta, seja conviver em um ambiente onde
não há paz, amor, pais ensinam o jovem a delinquir, falta de escolaridade, uso de
álcool e drogas. Começa com a prática de pequenos furtos, podendo chegar até um
latrocínio.

E é exatamente por estes casos, que o Estatuto se preocupou em estabelecer


medidas de proteção de caráter pedagógico, levando em consideração a
peculiaridade dos infratores.

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino


fundamental;

IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao


adolescente;

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime


hospitalar ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento


a alcoólatras e toxicômanos;

(...)

IX - colocação em família substituta

Encaminhamento aos pais e responsáveis: Aconselha-se essa medida sempre que


possível, pois o menor continuará com sua família e sociedade, desde que não
prejudique sua educação e desenvolvimento de sua personalidade.
A utilização desta medida é condicionada a um estudo social acerca do caso, pois,
tem vezes em que continuar acompanhado dos seus pais pode ser prejudicial.

Orientação, apoio e acompanhamento temporário: Esta medida está implícita na


primeira, ou seja, no encaminhamento aos pais ou responsáveis. Tal
acompanhamento pode ser na família ou em estabelecimento de educação e
aprendizagem.

Matrícula e frequência obrigatória em estabelecimento de ensino fundamental: Tal


medida é imposta para evitar a marginalidade e o analfabetismo, pois sabemos que
muitos menores abandonam a escola, este local em que pode lhe trazer muitos
frutos positivos para a formação da sua personalidade.

Programa Comunitário: É previsto no art. 101, IV e VI dois tipos de programas


comunitários- um de auxílio a família e ao menor e outro de tratamento a alcoólatras
e toxicômanos.

Trata-se de um instrumento bastante eficaz, pois, conta-se com a participação da


sociedade com o Estado em executar uma política social de proteção as crianças e
adolescentes.

Tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico: Quando aplicada tal medida, deve-


se ter uma fiscalização para averiguar o seu cumprimento e real eficácia, pois em
caso de não ter o cumprimento esperado, esta medida não terá finalidade nenhuma.

Orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos: Neste caso, deve-se dar


preferência ao tratamento ambulatorial, já que estudos já comprovaram a ineficácia
de instituições psiquiátricas. A preocupação do legislador está atrelada ao fato de
que o vício com álcool, drogas é uma doença e deve ser tratada como tal. Bem
como estudos já comprovam que a criminalidade está atrelada ao vício destas
substancias.

Abrigo em entidade e colocação em família substituta: Tal medida possui caráter


excepcional e provisório. Sendo enquadrada naqueles casos em que foi comprovado
que a família não teve condições de educar e manter o menor. Lembrando que
como já foi dito anteriormente, o menor só será internado em último caso.
3. LIBERDADE ASSISTIDA

Se faz necessário que o leitor entenda como surgiu a medida socioeducativa de


liberdade assistida, assunto ora abordado neste artigo científico, desde o princípio,
para que deste modo o entendimento destarte seja alcançado de maneira bastante
satisfatória e positiva, e todas as dúvidas acerca do assunto sejam sanadas.

Foi a partir do século XIX que encontramos as primeiras idéias sobre a questão da
liberdade assistida, a qual não tinha essa denominação, como veremos a seguir. Um
grupo de reformadores cristãos começaram a desenvolver determinadas atividades
com o objetivo de supervisionar os infratores. O conceito de probation merece
ênfase neste estudo, termo anglo-americano, que se refere aos acusados que
praticavam infração penal, e é de onde partiremos para se chegar à concepção
atual. Os tribunais se encontravam bastante sobrecarregados com crimes de
pequeno porte dos delinquentes, os quais referiam- se ao alcoolismo e a pobreza
material, ou seja, a desigualdade econômica prevalecia, evidentemente a iniciativa
privada inicial era essa.

Os infratores eram vistos por uma maioria da sociedade, não apenas como seres de
índole negativa, para tanto, eram portadores de defeitos morais, desprezíveis. Os
reformadores cristãos contribuíram em muito na reeducação de crianças e
adolescentes, dedicavam para tal, a preocupação que tinham por eles, eram vistas
pelos demais membros da sociedade de maneira plausível. Por volta do século XX,
na Inglaterra, o sistema de probation não obteve o resultado esperado, considerado
como falível, um recurso que em pouco determina a reabilitação de crianças e
adolescentes infratores, naquele sistema valorizava-se, primordialmente, o
comparecimento sistemático do assistido à instituição onde deveria comprovar a seu
orientador que estava trabalhando e/ou estudando. A necessidade individual só
crescia, e os orientadores daquela época, denominados probation officer não
conseguiam atender a demanda, o qual o sistema por este motivo deixava a desejar.
O Código de Menores foi introduzido em nosso país apenas por volta de 1927, o
qual ainda não usava o termo liberdade assistida, mais sim, liberdade vigiada.
Entre os anos de 1979 a 1990, entra em vigor o novo Código de Menores, de forma
que já tratava da medida socioeducativa em ênfase, dispondo sua finalidade, que
era o desvio de conduta e a pratica de delitos. Seguindo este raciocínio, o que se
observa, é que a questão do apoio a família era uma figura inexistente, e uma
diferenciação que se nota entre o artigo 112 do atual Estatuto da Criança e do
Adolescente e este Código ora mencionado, que é objeto imprescindível de estudo
do tema, é que dos sete incisos deste, apenas três deles existiam, a internação,
advertência e a própria liberdade assistida, ou seja, é de extrema importância
acompanhar e ter o conhecimento de todo contexto histórico do assunto tratado,
para ter uma compreensão e dimensão dos efeitos e respectivamente as mudanças.

Uma equipe técnica era responsável por realizar diagnósticos nos jovens que
estavam submetidos a esta medida, a questão da delinquência referia-se a
problemas desde o psicológico até o psiquiátrico, os quais eram comprovados via
exame médico rigoroso, era um exaustivo processo, cujo intuito não era apenas o de
constar o problema de saúde, existindo uma preocupação quanto ao atendimento
apropriado para cada caso especifico. Ao final, a situação que se tinha nos
relatórios, eram sempre as mesmas, uma família desestruturada economicamente e
culturalmente, o que refletia na atual situação dos filhos que cometiam
posteriormente os delitos, tidos assim, como crianças e adolescentes com patologias
psíquicas, os quais se não tratados clinicamente, jamais deixariam de praticar os
atos infracionais.

Naquela época, os programas de liberdade assistida priorizavam o atendimento dos


jovens por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, como serviço social,
psicologia, pedagogia e psiquiatria. Por vezes, os assistidos deveriam ser atendidos
por profissionais das quatro áreas no mesmo dia, em distintos horários, sendo nítido
o quanto não distinguiam a diferença de abordagens. Era comum se observar o
adolescente percorrendo várias salas de atendimento, tonto, com um cartão de
consultas na mão, perguntando: “E agora, para onde vou?”.

Surge em 1990, com indicação da Doutrina da Proteção Integral, O Estatuto da


Criança e do Adolescente, com ideias inovadoras e eficientes, com novos
parâmetros de atendimento para os adolescentes, entre 12(doze) e 18(dezoito) anos
que estavam cumprindo a medida socioeducativa de liberdade assistida, atualmente
disposto a luz do artigo 112, inciso IV do ECA, com mudanças na política de
atendimento. A principal ideia era de cumprir o ato infracional junto de sua família e
a comunidade, consagrando uma preocupação no sentido e intuito de uma
reconstrução dos seus valores, a convivência social, familiar, profissional e escolar.
A necessidade é de romper práticas e procedimentos comumente utilizados nos
antigos serviços.
4. A NATUREZA JURÍDICA DAS MEDIDAS SÓCIO EDUCATIVAS

A definição acerca da natureza jurídica das medidas sócio educativas não é


uniforme, há de um lado doutrinadores que defendem a ideia de que as medidas
sócias educativas possuem natureza punitiva e de outro lado doutrinadores que
sustentam que estas possuem natureza sócio pedagógicas.

O Estatuto da Criança e do Adolescente ao prever que o adolescente autor de ato


infracional será responsabilizado através de uma medida sócio educativa, conclui-se
que há uma sanção- sócio educativa, logo, conclui-se que a medida sócia educativa
possui a natureza de uma sanção, cujo seu conteúdo sim deve ser pedagógico.

4.1 O Conteúdo das Sanções Sócio- Educativas

O Estatuto propõe uma nova resposta ao adolescente infrator, ao respeitá-lo como


sujeito de direitos, como pessoal em desenvolvimento e ao responsabilizá-lo por sua
conduta ilícita, pretendo que ao cumprimento uma medida sócio educativa, este
possa tomar consciência e não voltar a delinquir.

A internação, consiste numa medida de privação de liberdade, deve ser aplicada


como um meio especial e breve, sendo aplicada junto com uma proposta sócio-
pedagógica da instituição, a fim de afastar as causas que levam o jovem a delinquir
e possibilitar que os mecanismos dessa medida possam afastar essas causas e
evite que o adolescente volte a cometer o ato infracional. Vale ressaltar que essas
instituições de atendimento devem oferecer um atendimento de qualidade.

As medidas sócias educativas, embora se constituam numa resposta social


destinada ao adolescente infrator, o caráter que deve prevalecer é o sócio
pedagógico, este que para sua execução possui procedimentos, princípios, penas,
diferenciados dos exigidos para o conteúdo das penas previstas no Direito Penal.

Por fim, salienta-se que a medida sócia educativa não deve ser aplicada em uma
perspectiva retributiva ou punitiva, levando em conta o que o adolescente fez, mas
sim, levando em consideração o que esse jovem infrator necessita para a sua
recuperação, de modo que sua reincidência possa ser evitada.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o exposto, em razão da natureza e dos princípios que regem as


medidas socioeducativas, conclui-se que elas não possuem um caráter de castigo
pela infração praticada, mas sim um caráter de recuperação do infrator, o que se
mostra em perfeita sintonia com a Constituição Federal e o ECA.

Percebe-se, portanto, que a prática do ato infracional é apurada através do devido


processo legal, onde o magistrado irá analisar o fato concreto, e irá aplicar a medida
mais adequada para a recuperação do adolescente.

Dessa forma, fica evidente que os argumentos no sentido da impunidade do


adolescente e de que o ECA é o maior responsável pelos índices de delinquência
juvenil, é um verdadeiro mito. Pois como demonstrado ao decorrer do trabalho, o
ECA é instituto que possibilita refrear e regenerar o menor infrator, visto que este
está sujeito as mais variadas medidas de proteção.

Em face disto, acredita-se na proposta das medidas socioeducativas previstas no


ECA, pois tem por objetivo melhorar a qualidade de vida dos jovens infratores, de
modo a recuperá-los, permitindo sua reintegração na vida em sociedade. Ou seja,
mostra-se ser um verdadeiro instrumento de cidadania e de responsabilização
destes adolescentes.

Todavia, é notório que a melhor triagem para evitar que os jovens acabem
delinquindo, é prevenir, ou seja, investir na educação. Dados do Ministério da

Justiça mostram que dentre os adolescentes privados de liberdade, 96,6% não


concluíram o ensino fundamental; 15,4% são analfabetos; 0,1% concluíram o
segundo grau; 61,2% não frequentavam a escola quando cometeram a infração.

Ainda, segundos os dados do Instituto Latino Americano das Nações Unidas para
Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente – ILANUD, “no Brasil cada jovem
internado custa em média aos cofres públicos R$ 1.100,00 por mês. Enquanto que
para custear um jovem estudante no ensino fundamental, são necessários apenas
R$ 700,00 por ano”.
Portanto, conclui-se que toda proposta de possibilitar uma verdadeira reabilitação do
adolescente infrator, está plenamente ligada à execução destas medidas, de modo
que propicia condições pedagógicas, permitindo então, sua reintegração ao meio
social. Nunca esquecendo que, isto também está vinculado e somado às políticas
públicas, que devem garantir os direitos fundamentais dos jovens, como
alimentação, educação, saúde, estrutura familiar, etc.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição Federal. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: . Acesso em 20 de abril de 2017.

BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente (1990). Lei n. 80699, de 13 de

julho de 1990. Disponível em: Acesso em 20 de abril de 2017.

CAVALLIERI, Alyrio. Direito do Menor. Rio de Janeiro: Forense. 1986.

ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 12 ed. 2010

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