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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente trabalho tem por escopo abordar acerca das medidas sócio educativas
aplicáveis aos adolescentes em conflito com a lei. Desse modo, far-se-á uma análise
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o qual trouxe em seus artigos, o
controle judicial da delinquência juvenil em razão de prática de ato definido como
crime ou contravenção penal, que se dá o nome de ato infracional.
Pois bem, o ECA surge com a finalidade de regular o artigo 227 da Constituição
Federal, que dispõe que:
Não se discute que a grande parte da violência cometida por estes jovens é apenas
parte do reflexo da violência do meio em que habitam. Dessa forma, o ECA,
baseado no sistema da proteção integral, procura ressocializar estes agentes,
através de auxílio, apoio e das medidas socioeducativas, que possuem o condão
muito mais pedagógico do que punitivo. É o que se desprende-se do artigo 100 do
ECA, in verbis:
Isto posto, tem-se que a medida sócio-educativa não busca abonar o ato infracional
cometido pelo adolescente infrator, mas sim a responsabilização por seus atos, de
modo a permitir sua regeneração, ou seja, possibilitar um despertar para sua
responsabilidade social, proporcionando-lhe um novo projeto de vida que o liberte da
marginalização.
Sendo assim, em sequência, far-se-á uma breve análise sobre o ato infracional,
onde posteriormente serão demonstradas as medidas sócio-educativas, destacando
sua natureza, bem como os princípios que as regem.
Segundo o próprio ECA, considera-se ato infracional a conduta descrita como crime
ou contravenção penal. Com o advento do estatuto, os adolescentes infratores
passaram a configurar como sujeitos passivos da ação socioeducativa proposta pelo
Ministério Público, quando da prática de atos infracionais. Esta ação assegura ao
jovem infrator diversas garantias advindas dos princípios do contraditório e da
imparcialidade do Juiz, bem como o pleno e formal conhecimento da atribuição do
ato infracional, mediante citação ou meio equivalente, igualdade na relação
processual, defesa técnica por advogado, assistência judiciária gratuita aos
necessitados, direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente e
direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do
procedimento. Sobre o tema Valter Kenji Ishida leciona:
I – Advertência;
II – Reparação do dano;
IV – Liberdade assistida;
V – Semiliberdade;
VI – Internação.
Tais medidas, de modo geral, conferem ampla resposta ao ato praticado, merecedor
de reprovação social.
2.2.1 Advertência
O artigo 116 prevê a obrigação de reparar o dano, se o ato infracional tiver reflexos
patrimoniais, determinando que o adolescente restitua ou de alguma forma
compense o prejuízo da vítima. Esta medida poderá ser substituída por outra
adequada se existir manifesta impossibilidade de ser cumprida.
Entretanto tal medida é muito pouco aplicada, considerando grande parte dos
menores que praticam atos infracionais são pouco abastados. De acordo com o
entendimento de Válter Kenji Ishida:
A lei prevê a medida de reparação de dano no caso de infrações com reflexos
patrimoniais. A lei prevê a medida de reparação de dano no caso de infrações com
reflexos patrimoniais. Poder-se-iam citar os delitos de trânsito, abrangendo as lesões
culposas, o homicídio culposo, a direção perigosa e a falta de habilitação.
2.2.5 Semiliberdade
2.2.6 Internação
Em conformidade com o artigo 121, § 2° do ECA esta medida não comporta prazo
determinado, uma vez que a reprimenda adquire o caráter de tratamento
regenerador do adolescente, e não poderá em hipótese alguma exceder a três anos
(§ 3° do art. 121), devendo ser reavaliada a cada seis meses, mediante decisão
fundamentada. Atingido o limite de três anos, o adolescente deverá ser liberado,
colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. O parágrafo 5° do
artigo 121 prevê a liberação compulsória do adolescente tão logo ele complete 21
anos de idade.
Quanto aos princípios que orientam a aplicação das medidas sócio educativas,
importante ressaltar, o princípio da Brevidade, previsto no art. 121, §3º, ECA, o que
prevê que não existirão medidas perpétuas, já que tais medidas não poderão
exceder 3 anos.
Diante disso, qualquer decisão judicial que determine previamente o período de
internação, já fica cancelada em razão do princípio da brevidade, que não permite a
perpetuação de nenhuma medida. Uma vez que a nossa Constituição Federal no
seu artigo 5º, XL, VII, b, CF, proibiu penas perpétuas, logo, seria ilógico admitir
perpetuidade de uma medida sócio educativa, pois estaria caracterizada a
desesperança na ressocialização do menor infrator e consequente descrença no
sistema penal.
Por fim, no que tange aos princípios norteadores, o principio base deve ser o da
proporcionalidade entre o bem jurídico atingindo e a medida imposta.
Sabe-se que ninguém nasce para ser infratora. Para se chegar a delinquência há
uma série de fatores por trás de tal conduta, seja conviver em um ambiente onde
não há paz, amor, pais ensinam o jovem a delinquir, falta de escolaridade, uso de
álcool e drogas. Começa com a prática de pequenos furtos, podendo chegar até um
latrocínio.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
(...)
Foi a partir do século XIX que encontramos as primeiras idéias sobre a questão da
liberdade assistida, a qual não tinha essa denominação, como veremos a seguir. Um
grupo de reformadores cristãos começaram a desenvolver determinadas atividades
com o objetivo de supervisionar os infratores. O conceito de probation merece
ênfase neste estudo, termo anglo-americano, que se refere aos acusados que
praticavam infração penal, e é de onde partiremos para se chegar à concepção
atual. Os tribunais se encontravam bastante sobrecarregados com crimes de
pequeno porte dos delinquentes, os quais referiam- se ao alcoolismo e a pobreza
material, ou seja, a desigualdade econômica prevalecia, evidentemente a iniciativa
privada inicial era essa.
Os infratores eram vistos por uma maioria da sociedade, não apenas como seres de
índole negativa, para tanto, eram portadores de defeitos morais, desprezíveis. Os
reformadores cristãos contribuíram em muito na reeducação de crianças e
adolescentes, dedicavam para tal, a preocupação que tinham por eles, eram vistas
pelos demais membros da sociedade de maneira plausível. Por volta do século XX,
na Inglaterra, o sistema de probation não obteve o resultado esperado, considerado
como falível, um recurso que em pouco determina a reabilitação de crianças e
adolescentes infratores, naquele sistema valorizava-se, primordialmente, o
comparecimento sistemático do assistido à instituição onde deveria comprovar a seu
orientador que estava trabalhando e/ou estudando. A necessidade individual só
crescia, e os orientadores daquela época, denominados probation officer não
conseguiam atender a demanda, o qual o sistema por este motivo deixava a desejar.
O Código de Menores foi introduzido em nosso país apenas por volta de 1927, o
qual ainda não usava o termo liberdade assistida, mais sim, liberdade vigiada.
Entre os anos de 1979 a 1990, entra em vigor o novo Código de Menores, de forma
que já tratava da medida socioeducativa em ênfase, dispondo sua finalidade, que
era o desvio de conduta e a pratica de delitos. Seguindo este raciocínio, o que se
observa, é que a questão do apoio a família era uma figura inexistente, e uma
diferenciação que se nota entre o artigo 112 do atual Estatuto da Criança e do
Adolescente e este Código ora mencionado, que é objeto imprescindível de estudo
do tema, é que dos sete incisos deste, apenas três deles existiam, a internação,
advertência e a própria liberdade assistida, ou seja, é de extrema importância
acompanhar e ter o conhecimento de todo contexto histórico do assunto tratado,
para ter uma compreensão e dimensão dos efeitos e respectivamente as mudanças.
Uma equipe técnica era responsável por realizar diagnósticos nos jovens que
estavam submetidos a esta medida, a questão da delinquência referia-se a
problemas desde o psicológico até o psiquiátrico, os quais eram comprovados via
exame médico rigoroso, era um exaustivo processo, cujo intuito não era apenas o de
constar o problema de saúde, existindo uma preocupação quanto ao atendimento
apropriado para cada caso especifico. Ao final, a situação que se tinha nos
relatórios, eram sempre as mesmas, uma família desestruturada economicamente e
culturalmente, o que refletia na atual situação dos filhos que cometiam
posteriormente os delitos, tidos assim, como crianças e adolescentes com patologias
psíquicas, os quais se não tratados clinicamente, jamais deixariam de praticar os
atos infracionais.
Por fim, salienta-se que a medida sócia educativa não deve ser aplicada em uma
perspectiva retributiva ou punitiva, levando em conta o que o adolescente fez, mas
sim, levando em consideração o que esse jovem infrator necessita para a sua
recuperação, de modo que sua reincidência possa ser evitada.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todavia, é notório que a melhor triagem para evitar que os jovens acabem
delinquindo, é prevenir, ou seja, investir na educação. Dados do Ministério da
Ainda, segundos os dados do Instituto Latino Americano das Nações Unidas para
Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente – ILANUD, “no Brasil cada jovem
internado custa em média aos cofres públicos R$ 1.100,00 por mês. Enquanto que
para custear um jovem estudante no ensino fundamental, são necessários apenas
R$ 700,00 por ano”.
Portanto, conclui-se que toda proposta de possibilitar uma verdadeira reabilitação do
adolescente infrator, está plenamente ligada à execução destas medidas, de modo
que propicia condições pedagógicas, permitindo então, sua reintegração ao meio
social. Nunca esquecendo que, isto também está vinculado e somado às políticas
públicas, que devem garantir os direitos fundamentais dos jovens, como
alimentação, educação, saúde, estrutura familiar, etc.
REFERÊNCIAS