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Fichamento sobre o Artigo “Infância, Adolescências e Famílias” (Capítulo 16, A

Produção das Infâncias e Adolescências pelo Direito), de Edinete Maria Rosa e


Eda Terezinha de Oliveira Tassara.
O artigo em questão, busca trazer à luz uma discussão entre os principais
avanços sociais e jurídicos conquistados ao longo dos anos e as dificuldades
ainda existentes na aplicação das normas que discorrem sobre os direitos
fundamentais das crianças e dos adolescentes.
Em um primeiro momento, julga-se importante destacar o histórico do
tratamento aplicado aos jovens quanto aos atos caracterizados criminosos ou
infracionais por eles cometidos. Para isso, serão discutidos dois termos
amplamente utilizados e disseminados em meio à sociedade, sendo estes
menor e delinquente. Delinquente é aquele que comete crime ou infração em
pequena escala, contrariando a lei ou a moral, muitas vezes associado o seu
ato ao aspecto social ao qual está o indivíduo inserido desde a sua infância.
Menor, por sua vez, refere-se a todo jovem com idade inferior a 18 anos que,
após o vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente, passou a ser
considerado indevido uma vez que atribui um caráter pejorativo. Eis aí a
relação entre estas duas palavras. Atribuídos os atos infracionais ao aspecto
social, havia uma relação entre a condição do menor pobre ao crime e,
consequentemente, à delinquência. Com isto, acreditava-se que o infrator mais
formava-se pela sua carência de recursos do que pela realidade social à qual
os seus direitos vinham sendo violados, sem amparo algum fosse ele jurídico
ou tão somente social. Este foi e continua sendo, sem dúvidas, o maior desafio
enfrentado por aqueles que tecnicamente são responsáveis pela aplicação do
Estatuto da Criança e do Adolescente.
Considerados, então, sujeitos de direito, traz o Estatuto os direitos
fundamentais os quais toda criança e adolescente são possuidores, devendo o
próprio Estado, a sociedade, a família e as instituições responsáveis, garantir
indiscriminadamente. Por outro lado, apesar do ganho quanto à forma de
enxergar esses jovens em formação no seio social, as normas em questão não
foram ainda capazes de aplicar de maneira efetiva medidas para proteger ou
para corrigir as ações destes sujeitos. Neste sentido, um ponto há de chamar
atenção: as medidas socioeducativas, na prática, limitam-se à punição
coercitiva, similar às práticas penais aplicadas à adultos. Ora, o número de
adolescentes que sofrem penas restritivas de liberdade é desproporcional à
quantidade de jovens que recebem outras medidas de correção para os atos
infracionais ou criminosos cometidos. O que se observa são jovens com crimes
e realidade sociais bastante diferentes, cumprindo penas desproporcionais em
relação à gravidade do ato, que terão consequências muito mais graves na sua
vida diante da medida associada e que deveriam estar inseridos em práticas de
ressocialização um tanto quanto diferentes. Outro fato preocupante é o de
haver um senso comum que defende a garantia de impunidade supostamente
ligada às medidas socioeducativas. Há de se questionar aqui, qual a real
intenção de ainda ser alimentada esta visão errônea, se pela dificuldade de
transformar-se a cultura da população ou se pelo interesse do capitalismo em
manter a dominância desta parcela, em larga escala, vítima da violação dos
seus direitos à educação, saúde e desenvolvimento.
Numa avaliação jurídica, foram observadas falhas, como por exemplo, na
tipificação de crimes contra a criança. Termos como violência e tortura
praticamente não são citados pelos juízes em se tratar da família e da
autoridade dos pais. Ora, sabe-se da existência desses abusos e o quanto são
graves à formação destes cidadãos. A violência e os abusos realizados
parecem perder importância, uma vez que a justiça considera prioridade a
manutenção da “família”, de forma à prática da proteção destes ditos sujeitos
de direito, se perder nestes processos. Como considerar protegido o jovem que
cresce ao lado de pais alcoólatras, que o espancam e que o obrigam à força de
trabalho, longe dos estudos e, até mesmo, violados sexualmente por estes ou
por terceiros?
Em síntese, pode-se dizer que os ganhos trazidos pelas normas do ECA são
negligenciadas em face da absurda necessidade de aplicar-se a prática jurídica
penal, deixando-se de lado a realidade social e culpabilizando tão somente o
jovem. Não há aqui intenção alguma de proteger ou cuidar da criança e do
adolescente, mas de julgar o acontecimento dito infração como que em defesa
da sociedade.

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