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Aspectos-Chave:
Complexidade da demanda embutida na suspeita ou declaração de que alguém irá
se matar: aqui, como em toda a medicina, a conduta depende do diagnóstico
ampliado (diagnóstico clínico+ contexto do paciente + contexto institucional do
atendimento);
Conhecer os principais fatores de risco e de proteção diante da ideação suicida;
Ganhar familiaridade com as habilidades de abordagem do risco de suicídio;
Do que se trata?
Variedade do comportamento suicida e dificuldade de um algoritmo de abordagem:
o https://www.youtube.com/watch?v=su7_PHbz5RI
o https://www.youtube.com/watch?v=PTIxLDzD-Gk
Epidemiologia
O suicídio está entre as três principais causas de morte de pessoas entre 15 a 44
anos de idade. Um milhão de óbitos (o que corresponde a 1,4% do total de mortes)
por ano no mundo. Essas cifras não incluem as tentativas de suicídio, de 10 a 20
vezes mais frequentes que o suicídio em si (WHO, 2014);
Brasil: entre os dez países que registram os maiores números absolutos de
suicídios (Värnik, 2012; WHO, 2014);
1% do total de óbitos registrados no Brasil é por suicídio. Em pessoas que têm
entre 15 e 29 anos de idade, essa proporção atinge 4% do total de mortes (Brasil,
2013)
Coeficiente médio de mortalidade por suicídio no período 2004-2010 no Brasil foi
de 5,7 por 100.000 habitantes (7,3 no sexo masculino e 1,9 no feminino) (Marín-
León et al., 2012);
Em certas localidades, bem como em alguns grupos populacionais (como, por
exemplo, o de indígenas do Centro-Oeste e do Norte, e o de lavradores do interior
do Rio Grande do Sul) os coeficientes aproximam-se dos de países do Leste
Europeu e da Escandinávia, na casa dos 15-30 por 100 mil ao ano.
Óbviamente é subnotificado
Estudo em Campinas 2003 apurou: ao longo da vida 17,1% das pessoas
“pensaram seriamente em por fim à vida”, 4,8% chegaram a elaborar um plano
para tanto, e 2,8% efetivamente tentaram o suicídio. De cada três pessoas que
tentaram se suicidar, apenas uma foi atendida em um pronto-socorro (Botega et al.,
2009);
80% dos que de fato morreram foram ao médico não psiquiatra no mês anterior ao
suicídio;
"Etiologia"
Uma revisão de 31 artigos científicos publicados entre 1959 e 2001, englobando
15.629 suicídios ocorridos na população geral, demonstrou que em mais de 90%
dos casos caberia um diagnóstico de transtorno mental (Bertolote & Fleischmann,
2002):
Fatores de risco: eventos e situações de base (fatores predisponentes) somam-se
a eventos e situações recentes (fatores precipitantes) aumentando o risco de
suicídio:
Fatores de Proteção:
Como abordar
Quando avaliar
Sentimentos (4Ds), ideias, comportamentos, eventos;
Mnemônico da American Association of Suicidology: “IS PATH WARM"
I – Ideation (ideação): falas diretas ou indiretas (fazer testamentos, despedir
de pessoas significativas)
S – Substance Abuse: aumento nos padrões de uso
P – Purposelessness (falta de propósito): perda de interesse em atividades
antes prazeirosas
A – Anxiety
T – Trapped (sentir-se preso)
H – Hopelessness/Helplessness (desesperança)
W – Withdrawal (isolamento)
A – Anger (raiva): agitação, atos violentos ou impulsivos
R – Recklessness (imprudência): comportamentos de risco
M – Mood changes (alterações do humor): negligência consigo mesmo,
dormir demais ou de menos, ganho ou perda expressiva de peso,
Outros: a) tentativa recente ou prévia, auto-multilação;
b) felicidade incomum e paz depois de um intenso período de
turbulência e das características acima;
c) Perdas recentes importantes;
d) história familiar ou doença física limitante ou dolorosa
O que deve ser avaliado
Suicidabilidade (estimativa do risco): planos, meios e data;
Fatores de risco:
Doença mental;
História pessoal e familiar de comportamento suicida;
Vinculados à esfera social e demográfica
Características psicológicas atuais (rigidez, impulsividade e ambivalênciade);
Estressores crônicos e recentes;
Doenças clínicas;
Fatores de proteção;
Como avaliar
Abordagem atenta ao mundo do paciente:
Perguntas abertas: SIFE - "Como você tem se sentido ultimamente?" “Como
tem tentado resolver seus problemas?".
Atenção ao Exame do estado mental
Perguntas fechadas em gradação:
1. Você tem planos para o futuro?
2. A vida vale a pena ser vivida?
3. Se a morte viesse, ela seria bem-vinda?
Se o paciente respondeu como foi referido acima, o profissional de saúde fará
estas próximas perguntas:
4. Você está pensando em se machucar/se ferir/fazer mal a você/em morrer?
5. Você tem algum plano específico para morrer/se matar/tirar sua vida?
6. Você fez alguma tentativa de suicídio recentemente?
Detectada intenção, detalhar planos e meios disponíveis;
Ações institucionais:
Estudo SUPRE-MISS, da OMS (2000): intervenção breve + seguimento telefônico
periódico → reduziu 10X a ocorrência de suicídio em 18 meses (com número de
tentativas sem diferença estatística);
Rede de saúde mental funcionante: APS capacitada a detectar e manejar casos,
rede secundária capaz de atender com rapidez e rede terciária disponibilizando
leitos se necessário...
Bibliografia
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Suicídio: informando para prevenir.
Brasília: CFM/ABP, 2014;
2. BERTOLE, J.M., MELLO-SANTOS, C., BOTEGA, N.J. Detecção do risco de suicídio
nos serviços de emergência. Revista Brasileira de Psiquiatria, vol 32, Supl II,
out 2010;
3. BOTEGA, N.J. Comportamento suicida: epidemiologia. Psicologia USP, vol 25 (3),
p.231-6, 2014.
4. BRASIL - Ministério da Sáude. Prevenção do suicídio: manual dirigido a profissionais
das equipes de saúde mental. Brasília : [s.n], 2006;