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Suicídio: um olhar de dentro

SAMANTA NUNES
PSICÓLOGA
ATUALIZAÇÕES SEGUNDO OMS (2010-2019)
ATUALIZAÇÕES SEGUNDO OMS (2010-2019)

• Entre 2010 e 2019 → Brasil 112.230 mortes por suicídio, com um aumento de 43% no número anual
de mortes.

• todos os grupos etários.

• Aumento pronunciado nas taxas de mortalidade de adolescentes.

• Aumento sustentado das mortes por suicídio em menores de 14 anos.

• Maior risco de morte em homens (maior agressividade e emprego de métodos mais letais, maior
suscetibilidade aos impactos de instabilidades econômicas).

• O perfil das notificações de lesões autoprovocadas foi de pessoas brancas, do sexo feminino, com baixo
grau de instrução e com idade entre 15 e 29 anos.
QUEM ESTÁ EM RISCO?

• Transtornos mentais (Principalmente depressão, esquizofrenia, abuso de drogas).


• Forma impulsiva em momento de crise – tais como problemas financeiros, términos de relacionamento
ou dores crônicas e doenças.

• Enfrentamento de conflitos, desastres, violência, negligência, abusos ou perdas e um senso de


isolamento estão fortemente associados com o comportamento suicida.
• Fatores de risco como: condição socioeconômica precária, falta de acesso à educação de qualidade e à
oportunidade, problemas graves em pelo menos um dos cuidadores.
• Grupos vulneráveis que sofrem discriminação: refugiados e migrantes; indígenas; homossexuais,
bissexuais, transgêneros; pessoas privadas de liberdade.

• Mais relevante: tentativa anterior.


POR QUE ELE/A FEZ ISSO?

• Não podemos reduzir o suicídio a uma causa.


• Experiência individual, marcada pela ambivalência entre a busca da morte, como mecanismo de
cessação do sofrimento, e o desejo por socorro.

Transtorno Fatores
Doenças Casos na Abuso
mental sócio- Conflito
crônicas família sexual
80% econômicos

Experiências Abuso de
Impulsividade Agressividade Isolamento Crise álcool/drogas
traumáticas

Dor profunda
na “alma”
POR QUE DEVEMOS FALAR DISSO?

• O suicídio é inerente à natureza humana em toda parte.


• Estigma → subnotificação → impede a procura por ajuda, que poderia
evitar mortes.
• Preconceitos; julgamentos.
• Não tem como zerar, mas há uma parcela evitável.
• Morte: tabu.
• O suicídio vem na contramão da ciência → senso comum “é um louco”.

• Conhecer: conscientização → ver, ouvir e conduzir.


• Impulso suicida como ímpeto de transformação.
POR QUE DEVEMOS FALAR DISSO?

• Para cada suicídio consumado, ocorrem entre 10 e 25 tentativas.


• Medicalização da vida para manutenção desta a qualquer custo.

• Uso “ideologizante” do medicamento apenas encobre os sintomas que se manifestam nos indivíduos,
sem tocar em suas profundas raízes sociais.
• Morte como saída imediata da dor; tentativa de eliminar o sofrimento.
• A prevenção começa na família, que tem de saber lidar com a morte.

• Prevenção como um grande desafio: família, equipes de saúde, equipes de educação, direito,
engenharia, bombeiros, policiais, psicólogo, comunidade, voluntários de igrejas, ongs.
• Para a equipe e a família: PIC, (P) de parceria, (I) de informação e (C) de coragem.
SUICÍDIO: UM OLHAR DE DENTRO

• Anseio por uma transformação rápida (impaciência e intolerância).


• Indivíduo acuado por uma situação existencial dificílima, aterradora, sente-se
sem forças e sem recursos simbólicos para lançar mão da transformação.
• O julgamento, tarefas impossíveis de serem realizadas, auto-julgamento severo
não permitem que o sujeito perceba → morte e renascimento possíveis.
• Saída dos conflitos: morte literal pelo suicídio.
O QUE ESSA PSIQUE QUER?

• Aspectos sombrios do suicídio: agressão, vingança, chantagem,


sadomasoquismo, ódio do corpo, etc.
• Os movimentos suicidas nos dão pista sobre o que é esse “assassino interior” e
que ele quer?
• Esses aspectos sombrios usam o corpo como instrumento para fins concreto.
ENFRENTANDO O RISCO DE SUICÍDIO

• A ameaça suicida é um conflito entre o mundo interior e exterior.


• Sofrimento → mistura da realidade psíquica com pessoas, fatos concretos,
fantasias, ideias.
• “As pessoas passam a vida inteira julgando tudo que vêem. Jogam palavras
que não voltam, olhares que machucam, rejeitam, maltratam, usam. Isso dói, tá
legal?” → importância de base afetiva bem estruturada.
• Superficialidade das relações – redes sociais.
ENFRENTANDO O RISCO DE SUICÍDIO

• “O ser humano vai guardando isso dentro de si até formar uma grande bola
prestes a explodir. Você pode ver uma pessoa sorrindo, parecendo feliz, mas
não se engane, sempre há coisas além.” → importância das relações (família).
• Sociedade atual hiperativa, veloz.
• “Eu não queria morrer. Eu penso que tenho um futuro pela frente. Eu sei que
tenho. Tenho mais amigos para fazer, mais músicas para escutar, mais pessoas
para namorar, mais shows para ir. Tanta coisa.” → resgate possível?
• “Droga, eu queria tanto ficar aqui. Porque ninguém me ajudou antes?”
ENFRENTANDO O RISCO DE SUICÍDIO

• “Sejam mais gentis, por favor. Amem mais, ajudem mais, vêem mais, peguem na
mão de pessoas que estão se afogando. Dê sua mão. Dê um sorriso.”
• “Meu próprio pai me abusou e foi por isso que eu morri por dentro. (...) Fui
vendo minha morte sem poder fazer nada a respeito. (...) Minha mãe me tirou
minha rotina e passou a assistir tudo em total inconsciência. Eu sei que ela via,
mas quem disse que percebia?” → estrutura familiar como sustentação de uma
vida emocional, psíquica elaborada.
ENFRENTANDO O RISCO DE SUICÍDIO

• “Eu me matei porque eu não aguentava mais existir assim. Eu já estava morta, o
que mais eu serviria nesse mundo?” → sofrimento profundo há um tempo.
• Estimular nosso olhar interior x olhar exterior ocupado, cansado.
• Tabu: falar de suicídio não estimula o suicídio!
• Falar é um fator de prevenção e não de risco!
• O conhecimento habilita agentes de prevenção.
ENFRENTANDO O RISCO DE SUICÍDIO

• A melhor forma de ajudar uma pessoa que fez ou está considerando fazer uma tentativa de suicídio é
realmente ouvindo e desenvolvendo uma sensibilidade para o seu sofrimento.

• Todas as alternativas se esgotaram → o que está acontecendo na vida dessa pessoa que a leva a
comunicar dessa maneira sua necessidade de ajuda, de apoio?

• Desqualificação da subjetividade → levar a sério um sofrimento, uma ameaça cria o canal para ser
ouvido.
• Quando se sentem ouvidas, essas pessoas relatam a importância e a grande diferença que essa
oportunidade lhes confere na vida.
ENFRENTANDO O RISCO DE SUICÍDIO

• Sinais verbais ou não verbais sempre presentes.


• Ainda que, em alguns casos, possa ter um componente de manipulação, não pode
negligenciar o risco.
• A menção ao suicídio pode significar um pedido de ajuda do indivíduo.
• Ideias de morte → ideias de suicídio → planejamento →
→ pesquisa poder letal → providências pós-morte.
ENFRENTANDO O RISCO DE SUICÍDIO

• O paciente em risco de suicídio procura uma opção de morte, mas devemos lembrar que existem ainda
pulsões de vida que devemos estimulá-las para agir como um fator protetor imediato.
• Estimular a busca por alternativas não letais para aliviar o sofrimento.
• Se identificadas alterações psiquiátricas, devem ser tratadas imediatamente.
• Busque ajuda de um psicólogo.
• Não falar sobre o que provoca a dor psíquica leva ao adoecimento ou ao ato → Falar no lugar de atuar.
• Ouvir sem críticas ou julgamentos, colocando-se disponível para ajudar.
• Se você é um amigo ou um familiar, deve se oferecer para acompanhá-lo na busca de ajuda profissional.
ENFRENTANDO O RISCO DE SUICÍDIO

• Quando um familiar ou um amigo pode lhe confessar suas próprias falhas, é mais provável que essa pessoa
cuja autoestima está tão rebaixada, possa suportar a ideia de ser alguém passível de falhar e, a partir desse
ponto, um canal de comunicação importante pode ser estabelecido.
• Grande ajuda: se pessoa perceber seu real interesse em não só ajudá-la, mas, sobretudo, em compreender
seu sofrimento, não tentando reduzi-lo, com palavras como: “Que bobagem, você está sofrendo tanto por
isso?”.

• Muitas vezes é natural que se diga: “Não é bem assim”, tentando contornar, dando justificativas, mas isso
não funciona.
SINAIS DE ALERTA

• Mudanças acentuadas na personalidade ou nos hábitos;


• Comportamento ansioso, agitado ou deprimido;
• Piora no desempenho escolar, ou no trabalho, ou outras atividades;
• Isolamento social;
• Apatia, desinteresse;
• Descuido com a aparência;
• Alteração no sono;
SINAIS DE ALERTA

• Comentários autodepreciativos persistentes;


• Comentários negativos da vida presente e futura, desesperança;
• Alteração do humor – combinação de tristeza, irritabilidade, raiva;
• Comentários sobre morte, pessoas que morreram;
• Doação de pertences que valorizava;
• Expressão clara ou velada de desejo de morte ou de pôr fim à vida.
O QUE FAZER?

• Observar as redes sociais, sinais pelo corpo, o discurso passado, presente e futuro;
• Não julgar, recriminar ou dar “justificativas” para sentimentos ou pensamentos do
indivíduo;
• A escuta é fundamental;
• Aceitar as diferenças;
• Acolher falas estranhas;
• Restringir o acesso a meios letais (armas de fogo, objetos, pesticidas, remédios);
O QUE FAZER?

• Não deixar a pessoa sozinha, isolada (mas também não forçar a barra);
• Procurar ajuda de um profissional (indivíduo e família);
• Vergonha não ajuda a prevenir o suicídio!
• A importância da família.
• Recapitulando: o suicídio é um ato→ aquilo que substitui um dizer, cuja
ocorrência denuncia a interrupção da fala. Então, se oferecemos ao sujeito um
lugar onde possa falar, muito frequentemente ele não mais precisará atuar.
OBRIGADA!

Samanta Nunes
Psicóloga CGP
CRP 03/6735

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