Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
O presente trabalho teve por objetivo desenvolver um estudo de caso sobre a série Bates Motel, a luz
da Psicologia Analítica, sobre o Transtorno Dissociativo de Identidade e sua relação com o Complexo
Materno, utilizando-se do caso do personagem Norman Bates. Para isso, buscou-se na literatura
conceitos relevantes descritos por Jung correlacionando-os com eventos ocorridos na série. Os
resultados mostraram que as informações encontradas durante a coleta de dados foram relevantes e
suficientes para responder a pergunta da pesquisa, podendo-se constatar que a psique do personagem
foi influenciada pelo Complexo Materno, do tipo negativo, forte e não resolvido que adquiriu
dominância e muita intensidade, fazendo-o perder o controle do seu psiquismo.
Abstract
The aim of this paper was to develop a case study about the television show Bates Motel, based on the
Analytical Psychology theory, about the Dissociative Identity Disorder and their links with the
Mother Complex, using the case of the character Norman Bates. For this purpose, relevant concepts
described by Jung were searched in order to correlate them with events that occurred in the series. The
results have shown that the information found during data capture were relevant and suficient to
answer the study question. It can be evidenced that the psyche of the character was affected by the
Mother Complex, the negative type, strong and unresolved which has taken dominance and great
intensity, making him lose control of his psyche.
Método
Será realizado um estudo de caso com base no personagem Norman Bates da série
televisiva americana Bates Motel. Para isso, a pesquisadora assistirá as cinco temporadas da
série, observando características presentes no relacionamento entre Norman e sua mãe, além
da sintomatologia do seu transtorno e as situações em que eles ocorrem. Após, buscará o
buscará o referencial teórico necessário, tanto para a coleta de dados quanto para sua
posterior análise, em artigos, monografias, teses, dissertações e livros nas seguintes bases de
dados: SciELO, PePSIC e Google Scholar, além da biblioteca física e virtual da PUCPR.
Como critérios de inclusão foram definidos artigos, monografias, teses, dissertações e
livros, em português e inglês, que envolvam os temas: Complexo Materno, Psicose na visão
Junguiana, Dissociação patológica e Transtorno Dissociativo de Identidade. Os critérios de
exclusão se referem a visão de outras abordagens, que não a Psicologia Analítica, sobre os
mesmos assuntos.
Resultados e Discussão
Após assistir a série, provou-se relevante a pesquisa de sua origem, no que diz
respeito à relevância social deste trabalho e da história real em que foi baseada. Bates Motel é
um prólogo contemporâneo do filme Psicose, baseado no romance de mesmo nome escrito
por Robert Bloch em 1959. O livro foi inspirado no caso real do serial killer Ed Gein. Ed
Gein era um recluso solitário de 51 anos que morava em uma fazenda de 160 acres em
Plainfield, Wisconsin, uma comunidade rural isolada com pouquíssimos habitantes. Tinha
uma figura materna dominadora, fanática religiosa, com quem tinha um relacionamento
muito próximo e que mesmo após sua morte, em 1945, ainda influenciava sua vida
fortemente (Sullivan, 2000; Rebello, 2013; Schechter, 2013).
Todas as pessoas da cidade o achavam meio excêntrico e estranhavam sua fascinação
por anatomia e pela cirurgia de mudança de sexo de Christine Jorgensen, a primeira
amplamente divulgada pela mídia. Em novembro de 1957, dois policiais desconfiaram de
Gein no caso do desaparecimento de Bernice Worden, uma popular comerciante da região, e
foram até sua fazenda investigar. Nada poderia ter previsto a surpresa dos policiais ao se
depararem com diversos móveis e roupas feitos de pele e ossos humanos, diversas cabeças e
crânios e uma geladeira cheia de órgãos humanos. Na garagem jazia o corpo de Worden,
pendurada pelos calcanhares, sem cabeça e estripada. Os policiais também encontraram
diversos livros de anatomia, revistas de terror, líquidos de embalsamento, além do quarto da
mãe de Gein intacto e imaculado (Rebello, 2013).
Calcula-se que foram encontradas partes de 15 corpos na propriedade de Gein. Foi
preso na hora e confessou este e um outro assassinato. Além disso, relatou que roubava
corpos do cemitério, sempre de senhoras que lembravam a sua mãe e que, durante a noite,
usava as roupas de pele para transvestir-se de mulher e andava de modo afetado pela fazenda,
fingindo ser sua mãe. Foi considerado apto para ir a julgamento e culpado pelos crimes, mas
mentalmente insano e enviado ao Hospital Central de Waupon. Em 1978 foi transferido para
o Instituto de Saúde Mental de Mendota onde morreu de velhice em 26 de julho de 1984. As
motivações para seus atos nunca foram descobertas (Casoy, 2014; Schechter, 2013).
Robert Bloch utilizou alguns elementos dessa história real em seu livro, além de
elementos da psicologia da anormalidade e do complexo de édipo, já que estes conceitos
eram muito populares na década de 50 (Rebello, 2013). O protagonista da história, Norman
Bates, assim como Gein, era um assassino solitário que vivia em uma localidade rural
isolada, teve uma mãe dominadora, construiu um santuário para ela em um quarto e se vestia
com roupas femininas. Norman, que gerencia um motel de beira de estrada, é um jovem
reprimido, afeminado e que nunca conseguiu diferenciar-se totalmente de sua mãe. A história
gira em torno da chegada de Marion Crane ao motel, que, após uma conversa, desperta
compaixão e luxúria em Norman e acaba assassinada. Na narrativa, o jovem, travestido como
sua mãe, mata mulheres que o atraem sexualmente, pois estes sentimentos provocam a ira e
os ciúmes descontrolados de “Norma” (Sullivan, 2000).
Alfred Hitchcock toma conhecimento do livro Psicose e imediatamente começa a
fazer manobras para transformá-lo em filme. Hitchcock comprou anonimamente, por onze
mil dólares, os direitos do livro de Robert Bloch, e depois comprou todas as cópias
disponíveis no mercado para que ninguém o lesse e, consequentemente, seu final não fosse
revelado. Com Hitchcock na direção e o roteiro nas mãos de Joseph Stefano, o filme foi
lançado em 1960. Custou 800 mil dólares e faturou 60 milhões de dólares nas bilheterias do
mundo inteiro. Foi aclamado tanto pela crítica quanto pelo público e foi indicado a diversos
prêmios importantes. Até hoje é considerado um dos filmes mais influentes de todos os
tempos do gênero terror e não há quem não se lembre da icônica cena do chuveiro (Rebello,
2013).
Buscando a compreensão da importância e da prevalência do Complexo Materno no
Transtorno Dissociativo de Identidade apresentado pelo personagem, serão discutidos os
elementos presentes no relacionamento dele com sua mãe. Além disso, com o intuito de fazer
um estudo de caso, necessitou-se recorrer à literatura para compreender alguns fenômenos
observados em Norman corroborados pela Psicologia Analítica. Para isso, uma revisão
bibliográfica de alguns conceitos se fez necessária. Buscou-se na literatura a definição do
Transtorno Dissociativo de Identidade e a visão de Jung de psicose, a fim de levantar dados
acerca do fenômeno da dissociação patológica para a Psiquiatria e para Carl G. Jung. Com
essas informações, estabeleceu-se a relevância dos complexos autônomos dentro dessa
patologia, o que justificou buscar profundidade neste tema. E, por último, através dos
acontecimentos da série no que diz respeito à importância do relacionamento entre mãe e
filho, levantou-se a hipótese da prevalência do Complexo Materno na psicopatologia do
personagem.
Considerações Finais
Esse trabalho buscou desenvolver um estudo do caso sobre a série Bates Motel, a luz
da Psicologia Analítica, sobre o Transtorno Dissociativo de Identidade e sua relação com o
complexo materno. Com isso, pôde-se perceber que a Psicologia Analítica consegue
descrever toda a temática envolvida neste transtorno, a partir do conceito de Dissociação
Patológica descrito por Jung, explicitando a importância do complexo materno do tipo
negativo no caso do personagem.
Os três objetivos específicos selecionados foram atingidos e auxiliaram uma melhor
compreensão do caso. Percebeu-se que a relação entre Norman e sua mãe era muito próxima
e fez com que sua identidade não se desenvolvesse adequadamente, misturando-se com a de
sua mãe. Também se observou, no que diz respeito ao Transtorno Dissociativo de Identidade,
diferenças na visão da Psiquiatria, que apenas lista sintomas, com a visão de Jung, que
explicava o porquê de eles acontecerem. Por último, notou-se a relevância dos complexos
autônomos dentro dessa patologia, o que possibilitou compreender a prevalência do
Complexo Materno na psicopatologia do personagem. A partir de um exame pormenorizado,
foi possível verificar que a psique do personagem foi influenciada por um complexo materno,
do tipo negativo, forte e não resolvido que adquiriu dominância e muita intensidade, fazendo-
o perder o controle do seu psiquismo.
Este trabalho fornece algumas opções no que diz respeito a continuidade do
desenvolvimento de trabalhos futuros. Dentro desse tema, podem-se desenvolver estudos
sobre a teleologia do transtorno, assim como sobre os sentidos simbólicos das manifestações
sintomáticas do personagem.
Dado ao aumento da frequência de psicopatologias na atualidade, torna-se necessário
o estudo delas a partir de um enfoque que visa, não apenas medicar os seus sintomas, mas
entendê-los em profundidade. A partir do desenvolvimento de estudos de casos, consegue-se
compreender, dentro de diversas abordagens, psicopatologias pouco conhecidas e que não são
muito estudadas, com a finalidade de melhorar o entendimento delas, proporcionando um
tratamento mais adequado e personalizado ao paciente.
Referências
A&E. (2017). About Bates Motel. Recuperado em: https://www.aetv.com/shows/bates-
motel/about/
American Psychiatric Association. (2014). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (5ª ed.). Porto Alegre.
Bizarria, F. P. A.; Tassigny, M. M.; Oliveira, N. T. G.; Jesuíno, S. L. C. S. (2013). Reflexões
sobre diagnóstico psiquiátrico à luz da psicologia analítica. Estudos Interdisciplinares em
Psicologia, 4(2), 148-168.
Byington, C. A. B. (2013). Dom Casmurro no divã: um estudo da psicologia simbólica
junguiana.
Casoy, I. (2014). Serial Killers: louco ou cruel? Rio de Janeiro: Darkside Books.
Faria, L. S. (2003). A natureza das relações co-dependentes sob o enfoque bio-psico-social.
Monografia de Graduação, Faculdade de Ciências da Saúde, Centro Universitário de Brasília,
Brasília.
Faria, M. A. (2008). O Teste de Pfister e o Transtorno Dissociativo de Identidade. Avaliação
Psicológica, 7(3), 359-370.
Jacobi, J. (1990). Complexo, Arquétipo, Símbolo. São Paulo: Cultrix.
Jung, C. G. (1986). Psicogênese das Doenças Mentais. Petrópolis: Vozes.
Jung, C. G. (2000). Arquétipos e o Inconsciente Coletivo (2ª ed.). Petrópolis: Vozes.
Jung, C. G. (2008). Estudos Psiquiátricos (2ª ed.). Petrópolis: Vozes.
Jung, C. G. (2009). Tipos Psicológicos (3ª ed.). Petrópolis: Vozes.
Kast, V. (1997). Pais e Filhas, Mães e Filhos: caminhos para a auto-identidade a partir dos
complexos materno e paterno. São Paulo: Edições Loyola.
Parra, J. C. S.; Andrade, M. L.; Donero, S. (2017). Psicose: Norman Bates e o Complexo de
Édipo. Rev. Conexão Eletrônica, 14(1), 827-838.
Perrone, M. P. M. S. B. (2008). Complexo: conceito fundante na construção da psicologia de
Carl Gustav Jung. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo,
São Paulo.
Rebello, S. (2013). Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose. Rio de Janeiro: Editora
Intrinseca.
Scarabel, C. A. (2011). A experiência da puérpera com o parto prematuro e internação do seu
recém-nascido numa unidade de terapia intensiva neonatal: estudo a partir da psicologia
analítica. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São
Paulo.
Schechter, H. (2013). Serial Killers: anatomia do mal. Rio de Janeiro: Darkside Books.
Serbena, C. A. (2010). Considerações sobre o inconsciente: mito, símbolo e arquétipo na
psicologia analítica. Revista da Abordagem Gestáltica, 16(1), 76-82.
Silva, T. V. Z. (2008). “A Cartomante” de Machado de Assis: uma leitura interdisciplinar.
Verbo de Minas, Juiz de Fora, 7(13), 23-31.
Sullivan, K. E. (2000). Ed Gein and the figure of the transgendered serial killer. Jump Cut,
(43), 38-47.