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Aula #007 - Análise do caso clínico de Minna, sexualidade infantil e o prazer sexual

Essa é a quarta lição e mostrei que os impulsos reprimidos que Freud verificou no tratamento
das histéricas, esses impulsos estão ligados a questões de natureza sexual. Freud verificou que
isso acontecia em todos os tratamentos, em todos os pacientes o que ele verificava era uma
repressão de impulsos sexuais e é justamente essa repressão que está na origem dos
problemas emocionais de seus pacientes.

Por outro lado, os pacientes em geral não costumam apresentar detalhes de sua vida sexual
com tanta facilidade, é preciso que estejam a vontade no tratamento e que eles confiem no
psicanalista, que se desenvolva a transferência para que suas inibições, suas resisrencia a falar
sobre sexualidade sejam amenizadas e ele coloque ao nosso dispor detalhes de sua vida sexual
especialmente de sua vida sexual infantil para que assim possamos ajuda-lo a lidar com esses
impulsos sem ser pela via da repressão que é a vida da neurose.

Em muitos casos vimos que parece que o adoecimento neurótico é consequência de algo que
aconteceu na vida atual do sujeito, como por exemplo, a morte de um familiar, o término de
um relacionamento, a perda de um emprego mas na verdade o que Freud mostra é que esses
acontecimentos atuais da vida do sujeito serviram apenas como desencadeadores, esses
acontecimentos atuais funcionaram apenas como GATILHOS para disparar o processo de
adoecimento que na verdade não foi causado por aqueles acontecimentos atuais, na verdade
foi causado por elementos da história do sujeito, da história infantil do sujeito e mais
especificamente, da história sexual infantil do sujeito, é lá na infância, na sexualidade infantil
que nós iremos encontrar os verdadeiros determinantes do adoecimento neurótico.

O que Freud tinha a ganhar propondo essa tese? Onde quer que Freud fosse apresentar essas
suas ideias, ele encontrava resistência. Ele não tinha a ganhar nada e é justamente isso que
evidencia de que Freud estava falando a verdade. Freud estava simplesmente relatando as
conclusões obtidas no tratamento de seus pacientes e o que ele verificava era aparentemente
a doença começou depois de um relacionamento, aparentemente começou depois que perdeu
o emprego mas quando escuta essa cidadão e permite ele ficar a vontade, quando tem tempo
de ouvi-lo em profundida o que se observa é que os verdadeiros determinantes do
adoecimento neurótico estão na sexualidade infantil, é ali que encontramos as verdadeiras
causas das neuroses. São esses desejos duradouras e reprimidos de infancil de natureza sexual
que tornam a pessoa vulnerável a adoecer a partir de eventos contemporâneos.

Os eventos contemporâneos funcionam apenas como GATILHOS porque por conta do que se
passou na infância do sujeito do ponto de vista sexual que esse sujeito se tornou vulnerável,
suscetível a adoecer passando pelas situações atuais. O presente nunca é a causa da
neurose, para que a neurose se estabeleça o presente nunca é o suficiente, essa é uma das
marcas da psicanalise. Os terapeutas existencial, humanistas dirão que o que importa é o
aqui e o agora, para o psicanalista não, para o psicanalista o aqui e agora importa mas
importa muito mais o passado do sujeito, importa muito mais a articulação, o vinculo entre o
presente e o passado. Essa é uma distinção do trabalho do psicanalista em relação ao
trabalho de outras psicoterapias.

E chegamos a aula de hoje.


Aquilo que está na causa da neurose são os desejos duradouras e reprimidos da infância. É o
fato de que nós reprimimos, nós decidimos quando crianças reprimir certos desejos sexuais
que nós nos tornamos vulneráveis a adoecer a partir de eventos contemporâneos. A repressão
funciona como um fator de risco, o sujeito que decidiu quando criança reprimir certos desejos
de natureza sexual estará vulnerável a desenvolver sintomas a partir de certos gatilhos de sua
vida adulta. Isso significa que os eventos do aqui e agora funcionam como desencadeadores,
como evocadores de certas questões de natureza infantil sexual e que estão na origem da
neurose.

Exemplo: O sujeito desenvolve uma neurose obsessiva depois de ter sofrido uma ameaça de
morte, quem está de fora diz que foi esse evento que fez o sujeito desenvolver neurose
obsessiva e ficou doente porque recebeu a ameaça de morte. Freud diz que não, a ameaça de
morte só funcionou como um GATILHO. Mas porque funcionou como gatilho, a ameaça não
levaria qualquer pessoa que a sofresse desenvolver uma doença? Resposta: Não. Outra pessoa
no lugar dessa não desenvolveria a doença. Esse sujeito especificamente desenvolveu e não foi
por acaso, é porque esse sujeito estava vulnerável a desenvolver a doença diante de uma
situação como essa, não é qualquer situação mas uma situação como essa de ameaça de
morte. O que tornou essa sujeito vulnerável? Resposta: Um conflito infantil. Mas não qualquer
conflito, um conflito de natureza sexual. Esse sujeito quando criança, um pequeno édipo, ele
tinha um forte desejo sexual por sua mãe, todas as crianças desenvolvem desejo sexual por
suas mães (meninos e meninas) porque a mãe é o primeiro objeto da criança para o qual ela
canaliza o seu tesão. Então esse menininho desenvolveu um forte desejo sexual por sua mãe,
um desejo para além da conta, um desejo excessivo e o que causou esse desejo excessivo?
Resposta: As circunstancias da vida desse sujeito, de tal maneira que esse sujeito ao contrário
do que acontece com grande parte das pessoas, ele não conseguiu abrir mão do desejo sexual
pela mãe, ele continuou conservando essa desejo sexual latente no seu inconsciente, e tem
mais: esse sujeito além do desejo sexual pela mãe ele tinha outro desejo correspondente a
esse que é o desejo de morte contra o pai para poder ficar com a mãe ele precisa dar um jeito
naquele que interdita, que atrapalha o relacionamento sexual com a mãe que é o pai. Além do
desejo sexual pela mãe, esse pequeno garoto que vai se tornar um N.O deseja também matar
o seu pai. Só que esse menino também aprende nesse mesmo contexto que essas duas coisas
são erradas e o que vai acontecer com esse menino? R: Ele então com medo dos próprios
desejos ele vai ter que reprimir esses desejos onde expulsa a ideia da consciência, que seja
exilada no inconsciente e assim torna essas ideias ainda mais fortes dentro de você, porque
agora longe da consciência elas não podem ser dialetizadas, não podem ser trabalhadas, não
podem ser criticadas porque estão fora da esfera da consciência, só posso mexer com aquilo
que vejo. Esse menininho pressionado pela moralidade ele fica com medo de seus próprios
desejos e os reprime e no lugar do desejo de morte pelo pai esse menino desenvolve outra
ideia, ele desenvolve a ideia de que o pai deseja mata-lo, além do recalque, além da repressão
ele utiliza outro mecanismo de defesa chamado de projeção, ou seja, ele pega a sua própria
agressividade e seu desejo de matar o pai e atribui esse desejo ao pai, dessa forma ele satisfaz
o desejo ao mesmo tempo em que não toma consciência dele. Agora não sou eu que quero
matar meu pai, é ele que quer me matar.

Na hora que esse rapaz já adulto recebe a ameaça de morte o que essa ameaça de morte que
ele sofre o que essa ameaça evoca? O medo de ser morto pelo pai que por sua vez é apenas
um disfarce para o desejo desse próprio garoto de matar o pai para ficar com a mãe. Por ter
reprimido e não solucionado o forte desejo de ficar com a mãe, o forte desejo de matar o pai
que esse sujeito se tornou vulnerável a adoecer sofrendo uma ameaça de morte. A ameaça de
morte funcionou apenas como um gatilho, as verdadeiras causas dos sintomas neuróticos
estão na dinâmica edipiana da sua vida infantil.
Outro exemplo (real): O caso é de uma mulher que foi denominada de Minna e essa mulher foi
testemunha dos atentados que aconteceram em Madrid em 2004. Minna foi a primeira das
pessoas afetadas pelos atentados terroristas ocorridos em Madrid que se dirigiu à rede
assistencial (um dispositivo criado na Espanha para atendimento psicanalítico
rápido/breve/gratuito para pessoas que precisavam) e a psicanalista a descreve como sendo
imigrante romena de 38 anos que está na Espanha há um ano e meio. Em 11 e3 março no dia
do atentado, havia combinado com suas amigas de tomar um café na estação de Atocha, antes
de ir para o trabalho. Por esse motivo, não estava em um dos trens em que as bombas
explodiram. A explosão a surpreendeu quando estava na cafeteria com suas amigas.
Escutaram a primeira explosão na estação e em seguida a segunda. Ela pensou imediatamente
em uma bomba e, tomada de terror, saiu correndo dali sem esperar por ninguém, fugindo
apavorada entre os feridos e os mortos. Em sua fuga, cruzou com o olhar de um homem
estirado no solo com o rosto ensanguentada, “como um Cristo estirado” diz Minna para a
analista. A imagem do “Cristo estirado” continua a olhá-la a cada noite nos pesadelos que se
repetem desde então. Minna desenvolveu aquilo que a psiquiatria contemporânea chama
de o transtorno do estresse pós traumático. Assim como no caso anterior que o sujeito sofre
uma ameaça de morte, no caso de Minna algo acontece: Ela está correndo de repente se
depara com o olhar de um homem estirado ensanguentado, como Cristo e é o encontro com
esse olhar que traumatiza essa moça, não é o atentado em si, o acontecimento traumático é
esse encontro de olhares, ela se deparar com essa olhar de um homem ensanguentado como
Cristo e depois disso a moça passa a ter pesadelos repetitivos que a levam de volta para a
situação dos atentados. Esses pesadelos repetitivos são sintomas do transtorno do estresse
pós traumático. Por mais que a gente possa olhar como observador externo e falar “o
atentado é traumático por si só” o que a psicanalise mostra que para algo se configurar
como traumático, aquilo que está de fora tem que se conectar com algo que está do lado de
dentro. Uma ameaça de morte não vai ser necessariamente traumática, só vai ser traumática
para alguém em quem a ameaça de morte se conectar com algo do passado do sujeito, o
trauma depende de um acontecimento presente e de algo do passado que se conecta com o
isso do presente.

Minna não fala bem o espanhol, entre lágrimas, tenta fazer-se entender. Sente-se culpada por
ter saído correndo da estação, por não ter ficado e ajudado os feridos, por não estar à altura
do ideal transmitido por seu pai, um pai todo amor, muito religioso, pertencente à Igreja dos
Adventistas do Sétimo Dia. Esse pai pobre, que era capaz de transformar um pedaço de pão
em um presente, havia-lhe ensinado que, frente à agressão do outro, devia-se responder como
Cristo, oferecendo a outra face. Ela havia faltado ao dever de socorrer os feridos, e o Cristo
estirado a lembra disso a cada noite em um pesadelo que se repete.

Porque essa moça ficou traumatizada? Porque sair correndo e se deparar com o olhar de um
homem ensanguentando precisando de ajuda e não ajudar evocou nessa moça o olhar do seu
próprio pai, o olhar de um pai amado. O olhar daquele homem que associa ao olhar de Cristo
que por extensão é o olhar de seu próprio pai, porque o pai é um mensageiro de Cristo, é o
representante de Cristo, o pai veicula a mensagem de Cristo para ela. Esse Cristo que olha essa
moça toda noite é o olhar do seu próprio pai. Essa moça sente culpa não porque é boazinha, o
sentimento de culpa vem em relação de dívida com relação ao pai, ela não se sente a altura do
ideal transmitido pelo seu pai, ela não se sente a altura da expectativa de seu pai, do olhar de
seu pai.
Mas porque essa moça precisaria estar à altura do olhar do pai? Porque esse pai é tão
importante para essa moça? Resposta: Porque ele foi e talvez inconscientemente permaneça
sendo o seu segundo objeto de amor, o seu mais precioso objeto de amor, porque é isso que
acontece na infância de todos, nós investimos sexualmente nossos pais. Os meninos em geral
investem à mãe e permanecem investido à mãe, já as meninas investem à mãe e depois
direcionam o sentimento pro pai. Esse olhar do pai que é o olhar Cristo que é do rapaz estirado
no chão não é qualquer olhar, é um olhar de desejo, é o olhar fantasiado por essa moça
quando era menina, é olhar de desejo do pai que ela fantasiou, de um pai para quem
provavelmente quis ser objeto sexual, um pai que ela quis ser a namorada, a esposa, a mulher,
por isso que ela se sente em divida com esse pai, porque esse pai é um objeto de amor.
Inconscientemente essa moça continua querendo ser a menina do pai, o objeto sexual do pai
e aí ela estava vivendo a vida dela até que o real a presenteou com esse olhar que lembra do
pai dizendo “pra ser desejada por mim, para estar à minha altura, para que eu goste de você,
para eu te queira você precisa ser conforme Cristo diz”. Esse olhar que persegue Minna é o
olhar de desejo do pai com o qual ela fantasiou, que é o olhar da própria. Mas porque essa
olhar agora incomoda e vem como um pesadelo? Resposta: Nos pesadelos estamos mais
próximo de reprimido, não vem com tanto disfarce e então sentimos medo daquilo que
reprimimos. Essa moça reprimiu o desejo pelo pai e agora o olhar do pai não é mais um olhar
de sedução, um olhar com o qual ela se deleita, agora essa olhar é um olhar persecutório,
como é habitual acontecer na histeria, agora não é mais um olhar que ela deseja ter, é um
olhar invasivo do outro sobre ela.

Perceba: não foi o atentado que causou o estresse pós traumático como a psiquiatria e as
outras correntes vão pensar, na psicanalise o buraco é sempre mais embaixo que você só se dá
conta disso se colocando para ouvir essa pessoa. A questão não era o atentado mas a culpa
que era um disfarce para a frustração de não estar à altura do desejo do pai, o olhar do rapaz
ensanguentado evocou nessa moça as suas fantasias exibicionistas vinculadas ao pai. Ela se
arrepende de não ter ido lá socorre-lo porque se tivesse socorrido teria feito jus ao desejo do
pai, só que fazer jus ao desejo do pai é perigoso pois é realizar a fantasia infantil, edipiana e aí
então ela passa a sofrer com esse olhar persecutório.

Como essa moça vai melhorar? Quando ela passar a transferir o vínculo com o pai
pro vinculo com o analista e aí o olhar do analista vai substituir o olhar do pai e ao
invés de se sentir perseguida ela vai se sentir acolhida, compreendida, apoiada, ela
vai transferir do pai para a analista e o olhar vai passar a ser encarado com mais
leveza, com mais tranquilidade, sem medo, o olhar do pai encenado pelo olhar da
analista.
O sujeito consegue resolver esse conflito edipiano?
Na psicanalise espera-se que sim, e o que é resolver o conflito edipiano? Veja, o Freud diz
que nas pessoas não neuróticos o complexo de édipo é destruído/abolido, entendo que nas
pessoas não neuróticas o que vai acontecer é que o desejo do sujeito pelo pai ou pela mãe
vai ser objeto de uma renúncia, ou seja, o sujeito vai conseguir se desligar sexualmente de
seu pai e sua mãe e os pais se tornarão apenas referenciais de como ser e de como desejar,
as marcas de pai e mãe nesse sujeito vão direcionar a constituição dele do ponto de vista dos
ideais e vão direcionar também a escolha de objeto desse sujeito, as características, os
traços desse objeto, essa vai ser a forma de presentificação da pessoa não neurótica.
Já a pessoa neurótica não se desliga, o neurótico fica inconscientemente apegado à papai e
mamãe, esse é o grande problema do neurótico. Ele fica apegado a essa forma infantil de
sexualidade que é uma sexualidade que está direcionada para figuras parentais, figuras da
família, o sujeito vai crescer e vai se tornar um adulto pode até se envolver afetivamente
com outras pessoas mas o vínculo inconsciente com o pai e com a mãe vai estar sempre
presente, resolver isso no final das contas significa abrir mão desse vinculo, renunciar esse
vinculo, que falando parece ser muito simples mas demanda muito trabalho. Resolver o
conflito edipiano é abrir mão do desejo de ficar com os pais. É abrir mão dos pais como
objetos sexuais e isso é um processo demorado e lento que se dá a partir do tratamento
psicanalítico.

O inconsciente é atemporal, é infantil então você que tem 50, 40, 30, 20 tem dentro de si a sua
criança, a criança você foi os desejos frustrados que ela teve presentes dentro de você no
inconsciente querendo se manifestar porque esses desejos infantis são duradouros, e porque
duradouros? Porque foram reprimidos. Se você não quer que algo dure, não pode reprimir
pois reprimir é conservar.

Freud enfatiza que, ao contrário do que pensa o senso comum, os impulsos sexuais não se
manifestam inicialmente na adolescência, mas desde o nascimento.

Pra convencer sua plateia, Freud diz “Esse negócio de sexualidade infantil pode parecer muito
estranho pra vocês porque o senso comum nos habituou a pensar que a sexualidade só
começa na puberdade porque na puberdade que nos tornamos capazes de gerar outro ser
humano, então quando a gente se torna capaz de produzir outros seres humanos é quando a
sexualidade aparece mas não é assim, a sexualidade só se liga à reprodução na puberdade, a
ligação entre reprodução e sexualidade se dá de fato na puberdade mas os impulsos sexuais já
nascem conosco, já nascemos com sexualidade e aí diante do possível ceticismo da plateia
Freud vai dizer “pra vocês não falarem que é uma coisa minha, vou mostrar pra vocês que essa
descoberta não foi evidenciada apenas por mim, vou mostrar por exemplo que um colega de
vocês chamado Senford Bell, professor na Universidade Clark escreveu um artigo no qual ele
detalha, ele reuniu durante 15 anos na menos que 2500 observações positivas de sexualidade
em crianças”.

Em defesa de sua teoria da sexualidade infantil, Freud evoca mais “evidencias”: o caso do
pequeno Hans, um caso semelhante atendido por Jung e um artigo de Bleuler.

O filho de Max* começa a desenvolver o seu problema tinha por volta de 5 anos e esse menino
depois que sua irmã nasce, Hans passa a ter uma fobia de cavalos, a principio ele não
conseguia sair de casa e depois conforme o tratamento vai avançando fica claro que o medo
não era da rua mas dos cavalos, ali ficam muito claras as manifestações de sexualidade, o
interesse do pequeno Hans pelo “fazedor de xixi” que era o pênis, o interesse de saber como
as crianças vem ao mundo, o desejo sexual pela mãe, a ambivalência com relação ao pai. Mas
pequeno Hans foi um caso atendido por um discípulo de Freud, o próprio Jung que estava
presente tem um caso de uma menina que ficam claras as manifestações sexuais, um artigo de
Bleuer que era colega de Jung também trazendo elementos de sexualidade infantil, mostrando
que é uma realidade e Freud vai elencando diversas fontes que comprovavam sua teoria. A
sexualidade começa quando nascemos e é preciso ter olhos pra ver. A sexualidade infantil só
começa a ter uma manifestação genital quando elas tem por volta dos 3/5 anos, mas antes
disso tem sexualidade mas uma sexualidade diferente, especificamente infantil.
Mas porque a gente não se lembra? Se nossa vida infantil era um festival de sexualidade
porque não nos lembramos disso? Freud diz que por conta do peso da educação e da
civilização.

Quando nós somos crianças por volta do 1 e 2 anos a gente trata o cocô como um objeto de
prazer, só que cocô é sujo, é fedorento, você imagina uma sociedade onde uma pessoa
continuasse tratando cocô como veículo de prazer? Uma sociedade onde pessoas
mantivessem seus desejos orais plenamente ativos lado a lado com os desejos genitais? Seria
impossível uma sociedade como essa até porque a gente precisa utilizar a energia dessa
sexualidade infantil para a construção da civilização. Naturalmente a civilização por meio da
educação vai fazendo com que a gente abandone os elementos da nossa sexualidade infantil,
mas esse abandono para ser efetivo precisa ser feito de modo radical, o que se dá por meio da
repressão, através da repressão a gente “esquece”, retira da consciência esses elementos da
sexualidade infantil e então podemos “seguir nossa vida”. Manter à consciência do que
aconteceu conosco na infância ao mesmo tempo em que a gente mantem na consciência os
parâmetros e critérios de uma vida adulta, se a gente mantivesse essas duas coisas ao mesmo
tempo na cabeça entraríamos em parafusa, não conseguiríamos viver, daria pane na nossa
cabeça porque os parâmetro e objetivos da civilização são opostos aos da sexualidade infantil,
não há lugar para a sexualidade infantil tal como ela se apresentava na infância na nossa vida
adulta, imagina carregar na cabeça que você teve vontade de transar com a sua mãe? É um
aspecto da sexualidade infantil que não se pode fazer presente na vida adulta onde tem que
buscar objetos sexuais fora da família. É preciso manter a sexualidade infantil no inconsciente
e aí algumas pessoas vão conseguir levar a vida sem quer isso traga problemas e outras terão
problemas, são aquelas que desenvolverão uma neurose.

O estudo da sexualidade infantil nos revela, em primeiro lugar, que a sexualidade é, na


verdade, uma composição de diversos impulsos de origem diversa.

Como é a sexualidade pensada tradicionalmente? R: Ela envolve a união dos genitais, pênis na
vagina, envolve uma aproximação entre duas pessoas com objetivo de promover a indução do
pênis na vagina. Nesse processo é na verdade o resultado da combinação de diversos
impulsos, por exemplo: o impulso de tocar, quando vamos ter uma relação sexual o toque é
muito importante pois é fonte de prazer, ao mesmo tempo na sexualidade habitual a pegada é
muito importante, o segurar o corpo do outro, o dominar o corpo do outro, um dos parceiros
vai fazer esse papel e o outro será dominado que é um outro componente da sexualidade que
é o impulso de domínio (impulso sádico) que é o impulso de dominar o objeto ao mesmo
tempo que tenho o impulso de ser dominado que o outro parceiro vai realizar. Tem o impulso
oral que em uma relação sexual minimamente satisfatória tem beijo, sexo oral. Tem o
elemento do olhar, pra que deseje o parceiro sexual ele primeiro se delicia através do olhar, do
caso das mulheres sobretudo vai ter o prazer do escuta.

São vários elementos que compõe uma sexualidade da forma como a gente a percebe
tradicionalmente? A versão “normal” “habitual” “convencional” da sexualidade é uma
composição de diversos elementos, de diversos impulsos que tem origem diversa. Impulsos de
ver, ouvir, dominar que tem origem nos músculos, de beijar que tem origem na boca, é uma
composição. A sexualidade habitual é na verdade uma montagem de diversos impulsos e essa
montagem vai ser especifica. Para algumas pessoas a dominação do objeto vai ser muito mais
importante do que o ver, do que o beijar, para outras pessoas o beijar vai ser a parte mais
importante. Vai ser uma montagem especifica, particular de vários elementos conectados,
uma configuração singular.
Na infância, a sexualidade serve “apenas” como promotora de prazer. É só a partir da
puberdade que ela se colocará “a serviço” da função reprodutiva.

É inegável que a sexualidade é uma função que na espécie homo sapiens está à serviço da
reprodução. Não dá pra descolar sexualidade e reprodução. Agora isso não significa que
sexualidade seja sinônimo de reprodução porque a origem da sexualidade, os momentos
iniciais da sexualidade são voltados para a buscar de prazer, então a primeira experiência que
temos com a sexualidade não é uma experiência voltada pra reproduzir outros seres humanos
e sim uma experiência de prazer. O que uma criança busca com a sexualidade não tem a ver
com gerar outra pessoa até porque não tem condições de se reproduzir evidentemente, o que
ela busca é fundamentalmente prazer, isso mostra que originalmente a sexualidade serve para
a produção de prazer. Na puberdade os impulsos sexuais vão se colocar a serviço dessa função
biológica que é a função reprodutiva.

Essa é uma característica especificamente humana, nos outros animais sexualidade é igual a
reprodução, nas outras espécies com exceção de algumas como os primatas, tem a realização
de sexo por prazer sem vínculo com a reprodução mas 99% das outras espécies fazem sexo
com a finalidade de se reproduzir. Ex: cachorro só faz sexo quando a cachorra está no cio.

Os seres humanos não fazem sexo para se reproduzir, muito pelo contrário, fazemos muito
mais sexo para não se reproduzir do que para reproduzir. Essa é uma característica
distintivamente humana.

Na espécie humana a sexualidade serve mais como promotora de prazer do que como veículo
de reprodução. Tanto é assim que a religião cristã precisará dizer para os fiés qual é a função
da sexualidade, do ponto de vista da igreja católica a função da sexualidade é promover a
união do casal e a reprodução, esses são os dois objetivos da sexualidade, não é promover
prazer e aí vem a pergunta: porque a religião tem essa necessidade de dizer isso? Porque não
deixa as pessoas viver a sexualidade? Porque naturalmente a sexualidade para nós tem como
objetivo a produção de prazer, naturalmente é assim, assim como naturalmente a nossa
vontade é de matar as pessoas por isso a religião diz "não deve matar” a mesma coisa roubar,
trair. Os dez mandamentos são necessárias justamente porque nossa tendência natural é
desobedece-los, é viver sexualidade com o objetivo em buscar prazer.

Esse negócio de união entre o casal de reprodução vem por interferência da cultura.

Na origem a sexualidade é utilizada por nós como promotora de prazer e é só na puberdade


que a sexualidade vai se colocar à serviço. É isso que a menininha que crinca com outra está
buscando, isso que o menino que brinca com a irmã está buscando, é isso que o bebê
mamando o seio da mãe está buscando, é isso que o bebê que está chupando o dedo está
buscando, é isso que a menina retendo as fezes está buscando: prazer.

E até do ponto de vista biológico faz todo sentido: a gente gosta de fazer coisas que nos dão
prazer, então faz todo sentido o sexo ser muito prazeroso, ser muito prazeroso nos incentiva a
fazer mais e consequentemente aumentar nossas possibilidades de reprodução. Isso até os
anos 60 com a chegada das pílulas e o uso mais massivo da camisinha, conseguimos criar uma
tecnologia para que possamos viver só a dimensão do prazer do sexo, pois quando não havia
essas tecnologias a gente não podia.

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