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Aula #011 - A gênese da neurose: frustração, repressão e fixação

O que vimos na aula passada?


Vimos basicamente o complexo de édipo, iniciei a aula relembrando o que vimos na aula 9 que
o envolvimento, investimento erótico que a criança faz nos seus pais, Freud assinala isso de
passagem nas 5 lições que esse investimento embora brote da própria criança ele é também
complementarmente, causado, provocado pelo próprio comportamento dos pais porque
quando os pais são suficiente bons eles são pais carinhosos com a criança, eles expressam para
a criança aquilo que chamamos de ternura/carinho e Freud entende que nessa ternura
expressos pelos pais junto à criança há sexualidade. Freud entende que o carinho dos pais é
uma forma inibida de tesão do impulso sexual. Enquanto estão cuidando da criança, fazendo
carinhos, dando banho, limpando a criança, aconchegando a criança fazendo isso os pais estão
por conta da natureza sexual desses comportamentos os pais estão incitando o desejo sexual
da criança por eles. É assim que Freud entende o início do complexo de édipo.

Faz parte da configuração do complexo de édipo o envolvimento erótico também com os


irmãos, esse investimento erótico não acontece somente direcionado aos pais mas também
aos irmãos. Vimos também que Freud descobriu através de sua experiência clínica que no
complexo de édipo, nesse envolvimento erótico da criança com seus pais e com seus irmãos
não há presença apenas de impulsos amorosos, não há somente a presença da vontade de ter
esses objetos mas também determinados impulsos hostis/agressivos e isso decorre do fato de
que sempre que estamos em uma relação de amor também estamos em uma relação de ódio,
isso porque o amor mamífero demanda exclusividade e na medida em que demanda
exclusividade surge sentimentos como inveja, ciúme, sentimentos de posse pelo objeto e isso
inevitavelmente causa conflitos, hostilidades com outras pessoas. Então a criança que está ali
desejando ficar com a mãe vai ter raiva do pai quando a mãe deixa de ficar com ele, a criança
vai ter raiva do irmão que está monopolizando o olhar do pai e da mãe.

No complexo de édipo vamos ter elementos tanto eróticos positivos e também elementos
negativos, elementos da ordem da agressividade e do ódio.

Vimos também que esse complexo de sentimentos, de desejos incestuosos, esse complexo,
essa confusão de sentimentos incestuosos é objeto de repressão. Todos nós precisamos
reprimir esse complexo de sentimentos para conseguir dar sequencia a vida, não podemos
levar para a vida adulta esses desejos eróticos pelos pais e irmãos, isso é inadmissível, então
para ser sócio da sociedade humana precisamos abandonar esses resquícios de animalidade,
de condição mamífera ao qual todos nós estamos sujeitos.

Freud diz que o complexo de édipo que é reprimido continua a agir no inconsciente, ou seja,
reprimimos mas tudo que é reprimido é guardado então portanto o complexo de édipo se fará
presente na nossa vida adulta. Ele pode se fazer presente de maneira sintomática ou pode se
fazer presente de outras formas mais criativas e simbólicas que não vão nos fazer
padecer/sofrer. Vamos ver os pontos de contato que tem entre a neurose e formas saudáveis
de lidar com os elementos que estão na origem das neuroses então vamos falar dos destinos
possíveis que temos para esses elementos inconscientes da nossa vida.

Nesse momento das 5 lições da psicanalise, Freud ainda não havia nomeado esse complexo
como sendo complexo de édipo, ele só diz que provavelmente esses conjuntos de sentimentos
é o que está na origem/núcleo das neuroses, mas ele ainda não dá esse nome para esse
fenômeno, ele vai fazer isso cerca de alguns meses que ele vai utilizar esse termo pela primeira
vez.
Falamos das teorias sexuais infantis, que nesse momento do édipo a criança constrói certas
teorias para explicar coisas que no ponto de vista dela que ainda não inexplicáveis como de
onde vem os bebês ou o que acontece quando o pai e a mãe vão para o quarto juntos e fazem
barulhos estranhos, então a criança constrói várias teorias como por exemplo que o ato sexual
é um ato agressivo, como a teoria de que o nascimento acontece pelo ânus e Freud demonstra
que na experiência clinica conseguimos compreender que algumas dessas teorias podem
permanecer funcionando para o sujeito no inconsciente, então ele continua sob a influencia
dessas teorias sem perceber e isso pode provocar alguns efeitos como quando o sujeito
sustenta e se mantem aferrado a teoria de que o ato sexual é um ato agressivo e isso pode
perturbar a sua relação sexual com uma mulher.

Freud afirma que os pais deixam de ser objetos eróticos para a criança e na vida adulta eles
vão se transformar em modelos para a escolha de objeto, então as nossas escolhas de objeto,
as pessoas que escolhemos para estarem conosco, as pessoas que nos interessamos não são
aleatórias. Sempre aquilo que vem no início acaba servindo de referência para o que vem
depois.

Também de passagem Freud fala de algumas formas sintéticas mas que precisamos ter
atenção porque guarda ensinamentos muito preciosos sobre a prática da psicanalise, como
Freud diz que a influência dos pais é o principal fator da repressão, se quisermos entender a
configuração repressiva de uma pessoa, precisamos entender como eram seus pais, na análise
isso é muito importante, entender como eram os pais da pessoas, quais eram os ideais desses
ais, o que eles entendiam como sendo posturas corretas e incorretas, quais eram as
moralidades de seus pais, quais eram as práticas parentais, como eles se comportavam em
relação ao sujeito porque a influência dos pais é o principal fator da repressão, então só vou
conseguir entender porque aquela pessoa reprimiu aquela experiência da infância, aquele
impulso, aquela fantasia, aquele desejo infantil, só vou conseguir entender porque o sujeito
reprimiu se eu entender qual foi a influencia dos pais na vida dessa pessoa, porque o motivo
pelo qual a repressão acontece é justamente em função da instalação que os pais fazem de
determinadas resistência, objetos, preconceitos, ideais, os pais instalam esse aplicativo na
criança por meio de suas práticas então é importante conhecermos essas práticas.

Finalizamos a aula em que Freud apresenta a psicanalise um aperfeiçoamento educativo


destinado a vencer os resíduos infantis, porque muitas vezes na psicanalise os comentadores
se esquecem de que Freud pensava a psicanalise como um procedimento de natureza
educativa, mas educativa não no sentido de cagação de regra em que o psicanalista ensina
para o paciente determinadas coisas. O que Freud notou e de forma perspicaz é que a neurose
ela decorre de vários fatores e dentre eles, um dos fatores principais que levam a pessoa a se
tornar neurótica é justamente o modo como essa pessoa lidou com as suas experiências
sexuais infantis, com a polimorfia de sua sexualidade infantil. Esse é um dos principais fatores
que leva uma pessoa a ser neurótica, é o modo amedrontado, moralista, censurador com que
a pessoa lidou com a sua polimorfia sexual infantil, com a anarquia sexual infantil. O modo
como o sujeito lida com a sua anarquia sexual infantil deriva de onde? Ora, da maneira como
o sujeito foi educado.

Freud não deu muito peso a esse fator externo, mas outros autores deram enfanse a esses
fatores e mostraram o seguinte: Quando a criança é criada, educada num contexto de muita
repressão, o que vai acontecer com essa pessoa? Ela vai internalizar repressão e vai olhar com
maus olhos para sua anarquis sexual infantil, e olhando com maus olhos o que acontece com
essa criança? Ela vai adquirir uma propensão para a neurose porque o neurótico é esse sujeito
que não quer admitir, não quer afirmar o seu passado, ele está mais preocupado em encarnar,
em se adequar aquilo que seus pais esperavam dele, então se o sujeito é criado em um
ambiente que é excessivamente repressivo, idealizador, que convoca aquela criança a envocar
um ideal super exigente, um ideal de pureza, se o sujeito é criado nesse ambiente repressor
ele vai internalizar a repressão e vai olhar com maus olhos para sua sexualidade infantil e
tenho aqui uma condição favorável para o desenvolvimento de uma neurose. Por outro lado o
sujeito que teve a sorte de contar com um ambiente que não era repressor, idealizador, se o
sujeito deu a sorte de contar com esse ambiente suficientemente bom, um ambiente que
permite a esse sujeito afirmar sua sexualidade infantil o que vai acontecer? Ele não vai olhar
com maus olhos, com um olhar repressor para sua própria sexualidade ele não vai precisar da
neurose, não vai precisar do sintoma porque o sujeito só recorre à neurose porque é a única
forma dele gozar então ele recorre aos sintomas.

No final das contas o problema é educativo. Então a psicanalise é um aperfeiçoamento


educativo. A psicanalise leva o sujeito a rever o seu processo educativo. Durante a infância
vários “aplicativos” são instalados na cabeça da criança como por exemplo “pegar na sua
irmãzinha” “desejar sexualmente a mãe” “brincar com o cocô” é errado, e a psicanalise
desinstala esses aplicativos. Fazemos isso através da associação livre, atenção flutuante etc.

Esse modo repressivo com o qual ele foi educado ao invés de ajudar, atrapalhou porque a
repressão significa conservar.

Aula de hoje:

Vamos entrar na quinta lição:

O que leva uma pessoa sair do seu estado de saúde psíquica e desenvolver uma neurose? E
porque nem todo mundo desenvolve uma neurose? A frases de que todo mundo desenvolve a
neurose o mais correto e preciso é dizer que todos os seres humanos tem uma propensão a
desenvolver neuroses, o fato de que para nos tornarmos sócios da sociedade precisamos
necessariamente deixar para trás uma série de elementos e esse deixar para trás para algumas
pessoas é simplesmente reprimir, então pelo fato de nós primeiramente termos uma vida
animal mamífera e uma vida social que é oposto à vida mamífera, por isso todos nós temos a
propensão de desenvolver a neurose e num sentido amplo podemos dizer que cada um de nós
temos certos elementos neuróticos no sentido de que a vida pra nós não é satisfatória, ela tem
momentos de felicidade e quando comparamos com a vida dos animais é diferente porque o
animal está o tempo todo feliz porque ele não tem um parâmetro de comparação e nós temos.
Então a gente vive na sociedade mas gostaríamos de fazer um monte de coisas que não
podemos fazer, que nossa vida social limita (ex: as vezes queremos matar uma pessoa). Muitas
vezes você não vai ser preso, é porque você não quer se ver como uma pessoa que trai, você
não quer se ver como um assassino. O mal da civilização poderia ser chamado de o
desconforto da civilização. Viver na civilização é desconfortável então nesse sentido podemos
dizer que todo mundo tem um pouco de neurose, mas vamos combinar que nem todo mundo
desenvolve sintoma obsessivos, compulsões, sintomas conversivos (dores de cabeça,
paralisias) então vamos dizer que existe saúde psíquica e existe neurose. E não existe só
neurose, existem outras formas de adoecimento. Freud então vai responder essa pergunta
mas vai responder de uma maneira sintética e nós vamos desdobrar a resposta que ele dá.
Freud inicia a lição V com uma síntese de sua teoria da gênese das neuroses. Assevera que
uma pessoa desenvolve uma neurose quando “lhe falta na realidade a satisfação das suas
necessidades sexuais”.
Quando é que uma pessoa desenvolve neurose? Quando chega por exemplo um paciente pra
você dizendo “estou com um monte de obsessões, minha cabeça não para, tenho que ficar
vendo se a porta e janela está fechada, tenho que ficar contando quantos passos eu dou para
chegar em um lugar” então a pessoa chega com essa caracterização obsessiva pra você. O que
Freud nos diz? Ele diz o seguinte: Em toda neurose você vai encontrar a seguinte situação: o
sujeito se tornou neurótico, passou a desenvolver sintomas quando “lhe falta na realidade a
satisfação das necessidades sexuais”.

Estamos falando nesse trecho de frustração, o sujeito só se torna neurótico quando ele está
frustrado na esfera sexual. “Mas eu conheço pessoas que são frustradas na esfera sexual, que
não conseguem obter satisfação sexual na realidade mas não se tornam neuróticas” Sim, nem
todo mundo que vivencia frustrações sexuais vai se tornar neurótico se não a gente diria que
todos os padres são neuróticos embora saibamos que muitos padres se masturbam, tem casos
heteros e homossexuais mas existem vários padres que se mantem castos e não
necessariamente vão desenvolver neurose, tem pessoas que ficam solteiras por anos e não
ficam neuróticas.

Mas em toda neurose você vai encontrar problemas na dimensão sexual. A luz que Freud
coloca aqui e a luz do que vemos na clínica podemos dizer é que ninguém que tem uma vida
sexual satisfatória desenvolverá uma neurose, dificilmente uma pessoa que está feliz no
campo da sexualidade desenvolverá uma neurose. A ideia é que nem todo mundo que é
frustrado na esfera sexual vai desenvolver uma neurose mas todo neurótico está frustrado na
esfera sexual.

Freud assinala que essa falta de satisfação pode ser ocasionada por “obstáculos exteriores”
ou “ausência de adaptação interna”. Isso subjetiviza o conceito de satisfação.
Por exemplo, a pessoa é solteira e ela entende que fazer sexo é algo que só deve acontecer no
casamento, só que ela seja porque ela resolveu priorizar sua carreira já tem dois anos que essa
pessoa não faz sexo, isso é um obstáculo exterior. A pessoa é um padre que fez voto de
castidade é um obstáculo exterior. O sujeito é casado mas ele foi fazer uma viagem ao exterior
e vai ficar 6 meses no exterior à trabalho, teoricamente essa pessoa não vai fazer sexo. A
pessoa namora ou é casada e o namorado/marido não quer fazer sexo é um obstáculo exterior
ou o marido está doente e não pode fazer sexo. Todos esses exemplos são exemplos de
obstáculos exteriores que pode colocar o sujeito em um estado de privação sexual.

Isso é o suficiente para causar a neurose? Não, mas em toda neurose tem isso.

O pulo do gato é que Freud diz que essa falta de satisfação pode ser causada por obstáculos
exteriores ou pela ausência de adaptação interna, o que Freud quer dizer com isso? Ele quer
dizer o seguinte: Eu posso ter privação no campo da sexualidade, só que posso ser uma pessoa
que consiga tolerar essa privação, consigo por exemplo direcionar meus impulsos sexuais que
não estão sendo satisfeito mas posso direcionar pro estudo, pro trabalho, se sou um padre
posso direcionar para a teologia, para a religião, para o exercício de minha função, para o
campo artístico se eu for um artista, posso direcionar esse impulso para a comida.

Agora pode ser também que eu tenha uma vida sexual boa, fazer sexo uma vez por semana
mas para a pessoa o sexo uma vez por semana não é o suficiente, precisa de uma frequência
maior, portanto não está necessariamente em privação mas não se adapta a essa frequência
que a realidade está proporcionando. Se eu preciso de mais eu vou estar insatisfeito. Se eu
consigo direcionar os meus impulsos sexuais para outros lugares, para outras instancias seja
comendo, trabalhando, estudando também não terá problema. O problema é quando não se
consegue fazer alguma coisa com esse desejo, esse é o pulo do gato.

Freud subjetiviza o conceito de satisfação, ele faz com que o conceito de satisfação não seja
passível de mensuração objetiva, ou seja, o sujeito me fala “eu faço sexo com a minha
namorada três vezes por semana” então não posso concluir a partir disso que o sujeito está
satisfeito. “Faz uma ano que não faço sexo” não posso concluir a partir disso que o sujeito está
insatisfeito. O sujeito que está há um ano sem fazer sexo ele está privado de sexo.

A insatisfação/frustração no campo da sexualidade tem a ver tanto com os obstáculos


exteriores ou ausência de adaptação interna. Pra saber se um sujeito está ou não está
satisfeito com a vida sexual não basta observar a vida sexual da pessoa mas precisa ouvir essa
pessoa, aí vou conseguir saber se ela está satisfeita ou não.

O que é a neurose então? A neurose é um refúgio. O sujeito adoece para fugir de uma situação
pior, e o que é a situação no caso da neurose? É a insatisfação sexual. Pra fugir da insatisfação
sexual o sujeito cria uma neurose. Esse é o ponto diferencial importantíssimo da psicanalise
para outras formas de abordagem do sofrimento psíquico. Se você perguntar para um
terapeuta comportamental ou humanista ou existencial, se a pessoa cria o adoecimento ou ela
sofre o adoecimento é bem provável que esses outros terapeutas diga que a pessoa sofre o
sofrimento porque nessas outras abordagens não se tem a ideia de que o adoecimento é
criado, é uma invenção do sujeito, o sujeito cria o adoecimento para se refugiar porque
mediante o adoecimento o sujeito encontra uma satisfação substitutiva. “A realidade não me
favoreceu, não propõe a satisfação que quero então vou busca-la em outro lugar”, mas porque
o sujeito vai escolher logo uma doença pra buscar a satisfação? Porque não procura de outra
forma? R: quando você não tem instalados na cabeça os aplicativos da censura/repressão você
dá conta de dar seus pulos (o que é a traição se não isso), raramente vai encontrar um sujeito
plenamente satisfeito com seu cônjuge então ela vai encontrar uma segunda pessoa de fora
do relacionamento para se satisfazer. Essa saída não é necessariamente uma saída neurótica
pois ela está insatisfeita na realidade e na realidade busca uma forma de satisfação, a
prostituição existe pra isso.

Porque a prostituição é a profissão mais antiga do mundo? R: porque as pessoas estão


insatisfeitas desde que mundo é mundo. Você não vai encontrar uma cachorro insatisfeito
sexualmente por exemplo, porque na hora que o cachorro dá vontade de fazer sexo ele faz.

O fato de termos nossa cultura/a fala que torna nossa vida tão rica e ao mesmo tempo
insatisfatória.

Na neurose o sujeito busca certas satisfações por meio da doença. Dai se pergunta porque ele
não buscou uma amante ou outra forma de satisfação como estudar, criar algo? Porque ele foi
criar uma neurose? R: Porque talvez esse cidadão tenha uma série de “aplicativos” que dizem
para ele que prostituição é algo perverso, inaceitável, uma coisa suja então ele não pode
recorrer a prostituição, ele não pode recorrer à traição, ele não pode recorrer à masturbação,
o que sobra?

Se você não canaliza sua libido para coisas reais como estudar, criar, trabalhar etc você vai
canalizar essa libido para o sintoma. O id não aguenta insatisfação, ele vai buscar um jeito e
esse jeito pode ser justamente a neurose. A neurose é sempre o último recurso, quanto mais
possibilidades estão abertas em sua vida, menos chance tem de você recorrer à neurose. O
que é a educação? É fechamento de porta (ex: não pode traição, não pode masturbação, não
pode prostituição, não pode fantasiar) e se todas as portas estão fechadas tem sempre uma
que vai estar aberta que é a porta da neurose que estará sempre aberta porque contra
neurose não tem repressão, de certa forma o que muitas vezes esses aplicativos que são
instalados na nossa cabeça dizem pra nós é o seguinte “é melhor adoecer do que fazer certas
coisas” “Adoeça mas não faça certas coisas” “adoeça mas não abandone seus ideais”.

Tem um detalhe: se você vai lá e arruma uma amante ou paga uma prostituta, essas saídas são
saídas em que você permanece na realidade. Na neurose não, na neurose você se afasta da
realidade, você vai pro plano da fantasia e sabe o que é pior na neurose? É que você nem vai
pro plano da fantasia consciente, você vai pro plano da fantasia inconsciente, sua libido
frustrada pela realidade vai fazer o movimento regressivo porque ela vai sair da realidade e vai
começa a investir as fantasias inconscientes que todo mundo tem, mas essas fantasias estão
reprimidas.

Essa constatação ajuda a entender porque os pacientes apresentam uma resistrencia ao


tratamento. Inconscientemente eles não querem ser curados, já que a doença proporciona
satisfação e proteger o ego.
O paciente falta, chega atrasado, as vezes não quer falar, as vezes percebe que ele não quer
mexer nas coisas que tem que ser mexidas e isso é resistência. Se você é paciente já deve ter
reparado nisso também, que tem dia que não quer ir, que na hora percebe que o papo está
indo para uma certa direção e de repente não consegue falar mais nada, faltam palavras, isso é
resistência.

Mas porque o paciente tem resistência, ele não quer se curar? Sim, uma parte dele quer ser
curado mas terá outra parte que não quer, o inconsciente não quer porque pro inconsciente
tanto faz e ele sabe que com a neurose ele tem o gozo garantido. A neurose é gozo garantido,
é renda fixa. Se abrir a mão da neurose quem disse que conseguirá satisfação? Esse é um dos
motivos pelos quais o paciente não quer abandonar a neurose.

Será que se eu deixar de ser doente, se eu perder os meus sintomas eu vou me satisfazer na
realidade? E outro motivo pelo qual inconscientemente que os pacientes não querem ser
curados é que a neurose protege o ego. Sem a neurose o ego vai estar mais sujeito a ter que
fazer contato com os conteúdo reprimidos e ele não quer, o ego tem medo do reprimido.
Enquanto ele está com a neurose ela o protege.

Na analise a gente convida o ego do sujeito a tomar coragem e olhar aquilo que está por trás
do sintoma. Os impulsos, fantasias, desejos que estão por trás do sintomas, só que o ego não
quer, ele morre de medo de entrar em contato com essas coisas, por isso o vinculo terapêutico
é muito importante, porque é esse vínculo de confiança e afetivo que vai dar ao paciente
força, coragem suficiente para conseguir olhar para o reprimido, sozinho ele não se dá conta.

Freud comparava a analisa com cirurgia pois a análise é uma cirurgia é e a transferência é a
anestesia.

A neurose oferece satisfação, renda fixa porque o sujeito não conseguiu satisfação na
realidade.

Essa satisfação proporcionada pela neurose é conquistada porque, frustrado pela realidade,
o sujeito inconscientemente regride (pela via da fantasia) a fases primitivas do seu
desenvolvimento sexual (regressão temporal) e a formas infantis de satisfação (regressão
formal).
Isso significa que o sujeito vai voltar a se comportar como criança? Como um bebê na análise?
Não! Porque essa regressão não acontece conscientemente, ela acontece pela via da fantasia.
Que fantasia é essa? Na infância, naquela anarquia sexual o sujeito constrói uma fantasia
daquilo que proporciona pra ele uma satisfação intensa e certa, essa fantasia vai ser construída
em cima daquilo que Freud chama de fixação e aí se entende então a mais um elemento
necessário para a neurose.

O primeiro elemento fundamental é a educação repressiva. Porque são esses aplicativos


repressivos que farão o sujeito entra em conflito com memória, desejos da infância. Excesso
de repressão.

Segunda condição: frustração sexual real. O sujeito precisa sentir-se insatisfeito/frustrado no


campo sexual realmente, na sua vida adulta.

Terceira condição: A fixação. Porque a fixação é uma condição? Porque o sujeito vai construir a
partir de sua fixação. Porque a fixação é uma condição? Porque o sujeito vai construir a partir
da sua fixação Por exemplo: O sujeito tem uma fixação exibicionista, ele vai construir uma
fantasia exibicionista ou então o sujeito que tem fixação sádica, ele vai criar uma fantasia
sádica... ou então o sujeito que tem fixação edipiana na mãe, ele vai construir uma fantasia
edipiana. Essa fixação e a fantasia correspondente vão funcionar para a pessoa como se fosse
o paradigma do gozo, o paradigma da satisfação.

Sabe aquelas coisas de quando você está triste e você não tá com o apetite muito bom, sabe
aquelas coisas que você sabe que se você comer vão te dar uma satisfação muito legal?

A fixação é uma força de satisfação que você sabe que dá um barato acima do normal.

A fixação é essa experiência de satisfação que você sabe que é muito gostosa e aí você cria
uma fantasia correspondente à aquela fixação. O que vai acontecer quando o sujeito neurótico
que vai desenvolver a neurose, o que vai acontecer quando esse sujeito se sentir insatisfeito,
frustrado sexualmente na realidade? A libido desse sujeito tendo todas as outras portas
fechadas, a libido desse sujeito vai regredir e vai procurar justamente a fixação, a fantasia
infantil, porque a libido sabe que lá dá um barato gostoso, ela sabe que a experiência de
satisfação lá de trás é muito agradável. E vai começar a investir essa fantasia infantil, essa
fantasia vinculada à satisfação, o problema são os aplicativos na sua cabeça, porque esses
aplicativos não vão permitir a você gozar conscientemente dessa fantasia que é o que
acontece na perversão.

Freud cita um exemplo de um rapaz perverso que ele era praticamente indiferente à genitália
feminino, o que importava pra ele era a mulher ter um pé magricela meio torto dai ele ficava
louco, extremamente excitado. E quando se analisa a historia do sujeito se percebe que
quando ele era criança tinha uma governanta que dava aula a ele de idiomas e essa
governanta tinha o pé com essas características, ele ficou fixado no pé da governanta. Como o
perverso não permitiu a instalação dos aplicativos completamente, ele deu uma enrolada nos
pais e não permitiu instalação completa dos aplicativos, ele pode gozar com a fantasia infantil
conscientemente, o neurótico não; O neurótico aceitou esses aplicativos, deixou os resquícios
infantis então ele não consegue mais gozar conscientemente daquilo que estava lá na infância,
o que vai acontecer é que vai virar sintoma porque a fantasia vai ter que se expressar de outra
forma porque a libido está se manifestando no inconsciente. Se tem aplicativo impedindo a
fantasia de se expressar explicitamente ela vai se expressar disfarçadamente, simbolicamente
através dos sintomas.

Freud diz que essa regressão que ocorre pela via da fantasia vai ter duas facetas, por um lado
ela vai ser uma regressão temporal no sentido de que o sujeito está voltando para fases do
desenvolvimento sexual que já haviam sido abandonadas, então tem um movimento temporal
e também vai ter uma regressão formal porque o modo de apresentação, o modo através do
qual o sujeito vai gozar da fantasia infantil é o modo infantil, então o sintoma nunca vai ser um
sintoma de uma relação sexual normal. Quando se pega o caso Dora Freud observou que a
Dora ela fez um sintoma que era o sintoma da afonia que é a perda da voz, quando Freud vai
investigar o caso ele observa que Dora tinha uma fixação oral então o sintoma era uma forma
de satisfação só que utilizava uma maneira infantil de satisfação que é pela via oral, no caso ali
a afonia.

Nas cinco lições Freud não fala mas também diz em outros momentos que a regressão é
sempre uma regressão, ela pode ser uma regressão a fases do desenvolvimento sexual como
fase oral, fálica mas pode ser também uma regressão a objetos da infância, a objetos eróticos
da infância como pai, a mãe e o irmãozinho. O sujeito pode não necessariamente voltar para
uma fantasia ligado ao tesão exibicionista, sádica, oral, anal mas pode voltar por exemplo em
fantasia para a relação com o pai, mãe, irmão e de qualquer forma independentemente de
qual tipo de regressão seja o resultado vai ser a expressão de sintomas, os sintomas serão a
materialização da fantasia. Veja, a neurose ocorre quando o sujeito foge para a fantasia ao
invés de utiliza-la como ponto de partida para a transformação da realidade. Então veja, o
problema não é necessariamente a fixação, é possível dizer que todos nós temos fixações,
claro que geralmente na neurose essas fixações são muito fortes e intensas mas todos nós
temos um prazer que ficou mais marcado em nós como fonte privilegiada de satisfação. Para
que a neurose aconteça precisa ter esses elementos, precisa ter a fixação, tem que ter a
frustração sexual na realidade e tem que ter os aplicativos de repressão.

O ponto que Freud acentua é que na neurose o sujeito regride para a fantasia mas essa
fantasia como está sendo barrada pelos aplicativos de censura, ela não pode ser utilizada pleo
sujeito de outra forma a não ser pela via da doença, dos sintomas. O sujeito não consegue por
exemplo pegar sua fantasia e transforma-la em alguma coisa real, em alguma coisa que vai
transformar a realidade.

Quando pensamos por exemplo na pessoa que vive só reclamando, ela só expressa o quão
insatisfeita ela é com a realidade ao passo que você tem outra pessoa que também não está
satisfeita com a realidade mas ao invés de ficar só reclamando essa pessoa vai e faz alguma
coisa, ela produz alguma coisa, ela transforma de alguma maneira a realidade. Uma queixa
tipicamente histérica “os homens são privilegiados” você pode viver se queixando disso ou
você pode ir lá e transformar a realidade como muitas mulheres fizeram no passado graças ao
qual temos o voto feminino, temos uma participação ativa na sociedade, liberdade sexual das
mulheres tudo isso foi conquistado por mulheres que se sentiam insatisfeita com a realidade
mas que ao invés de ficar em uma atitude ressentida, queixosa, foram lá e fizeram, e
transformaram a realidade.

O neurótico tem mais medo da realidade do que desejo de transforma-la por isso ele foge pra
fantasia, ele foge regressivamente pra infância.

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