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FACULDADE DE AMERICANA

CURSO DE PSICOLOGIA
ELISAMA ROQUE MARTINS RA 20232371
ESTER MONTANARI JUVÊNCIO RA 20232393
JULIA LAUREN LEITE DA SILVA RA 20231511
KEILA PONTES SANTOS SOLERA RA 20230181
LUIZA FERREIRA DOS SANTOS RA 20230445
VALÉRIA BERNARDIN RA 20230722

PROJETO INTEGRADOR: UM OLHAR ABRANGENTE SOBRE O


TRANSTORNO DE PERSONALIDADE NARCISISTA

AMERICANA
2023
FACULDADE DE AMERICANA
ELISAMA ROQUE MARTINS RA 20232371
ESTER MONTANARI JUVÊNCIO RA 20232393
JULIA LAUREN LEITE DA SILVA RA 20231511
KEILA PONTES SANTOS SOLERA RA 20230181
LUIZA FERREIRA DOS SANTOS RA 20230445
VALÉRIA BERNARDIN RA 20230722

PROJETO INTEGRADOR: UM OLHAR ABRANGENTE SOBRE O


TRANSTORNO DE PERSONALIDADE NARCISISTA

Trabalho integrador do 2º semestre do curso de Psicologia


apresentado à Faculdade de Americana (FAM), como parte integrante
das avaliações (N1). Orientadora: Profa. Dra. Paula Gabriela F.
Quaresma Bergonsi.

AMERICANA
2023
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo estudar o tema Transtorno de Personalidade
Narcisista, fundamentando-o através de levantamento bibliográfico integrado aos
estudos em sala de aula. O Transtorno de Personalidade Narcisista é caracterizado
pelo exagero de adoração que a pessoa tem por si própria, levando-a ter inúmeras
dificuldades em relacionar-se com as pessoas. Ao escolher a narrativa de Jim Jones
como base para o estudo, por ser um caso real, pode-se observar que ele passou a
infância e adolescência sendo negligenciado pelos pais, sendo esse fator, importante
elemento na modelagem do comportamento. Na fase adulta com o domínio da
oratória, conseguia manipular as pessoas e as controlava através de condicionamento
operante e reforçamento positivo, que em pouco tempo passariam a ser substituídos
por estímulos aversivos e punições. A característica de uma pessoa com Transtorno
de Personalidade Narcisista é não sentir empatia pelas pessoas. Por isso, foram
primordiais os estudos de algumas estruturas do Sistema Nervoso Central, bem como
os processos sinápticos para compreensão da farmacocinética (neurotransmissores
GABA), além da farmacodinâmica do medicamento Valium, utilizado junto com drogas
pelo Pastor. Para finalizar o estudo, houve a exposição das principais características
do perfil da pessoa com o TPN e o atendimento do profissional de psicologia, além da
possível contribuição da Terapia Cognitivo-Comportamental e algumas técnicas que
poderão auxiliar o profissional durante o atendimento.
Palavras-Chave: Psicologia; Transtorno de Personalidade; Narcisismo.
ABSTRATC
This work aims to study the theme of Narcissistic Personality Disorder, substantiating
it through a bibliographic survey integrated with classroom studies. Narcissistic
Personality Disorder is characterized by the exaggeration of self-worship, leading to
numerous difficulties in relating to people. By choosing Jim Jones' narrative as the
basis for the study, as it is a real case, it can be observed that he spent his childhood
and adolescence being neglected by his parents, and this factor is an important
element in modeling behavior. In adulthood, with the mastery of oratory, he was able
to manipulate people and control them through operant conditioning and positive
reinforcement, which in a short time would be replaced by aversive stimuli and
punishments. The characteristic of a person with Narcissistic Personality Disorder is
that they do not feel empathy for people. Therefore, the study of some structures of
the Central Nervous System, as well as the synaptic processes to understand the
pharmacokinetics (GABA receptor), as well as the pharmacodynamics of the drug
Valium, used together with drugs by Pastor, were essential. To conclude the study,
there was an exposition of the main characteristics of the profile of the person with
Narcissistic Personality Disorder and the care of the psychology professional, in
addition to the possible contribution of Cognitive Behavioral Therapy and some
techniques that can help the professional during the care.
Key words: Psychology; Personality Disorder; Narcissism.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CID – Manual de Classificação Internacional de Doenças

DSMV/5 – Manual de diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

GABA - Ácido Gama-aminobutírico

IDEs – Desenvolvimento de esquemas iniciais desadaptativos

MC – Massa Cinzenta

MG/dia – Miligramas por dia.

NPI - Inventário de Personalidade Narcisista


R-S – Estímulo e Resposta

SNC – Sistema Nervoso Central

TCC – Terapia Cognitivo-Comportamental

TPN – Transtorno de Personalidade Narcisista


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6

1 CONHECENDO JIM JONES ................................................................................... 6

2 SOBRE A PERSONALIDADE NARCISISTA ......................................................... 9

3. ESTUDOS SOBRE A MENTE NARCISISTA DE JIM JONES ............................. 12

3.1 O PRAZER E A PUNIÇÃO DOS SEGUIDORES ............................................. 16

4 CAMINHOS PARA O DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE


E POSSÍVEL AVALIAÇÃO. ...................................................................................... 16

4.1 ATUAÇÃO CLÍNICA DIANTE DE UM PACIENTE NARCISISTA ..................... 18

4.2 TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL - INTERVENÇÃO


TERAPÊUTICA ................................................................................................... 19

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 22


6

INTRODUÇÃO

Ao saber que “Transtornos de Personalidade” serviria como temática para o


Trabalho Integrador Semestral, o grupo escolheu após várias discussões, abordar o
Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN). Dessa maneira, o objetivo geral deste
trabalho é integrar os conhecimentos obtidos das disciplinas com a teoria existente,
através de leitura de artigos científicos e livros.
Especificamente, o grupo pretende obter, através de levantamento teórico,
conhecimento sobre TPN, usando como aporte para obtenção das informações, a
história de Jim Jones, um ícone religioso dos anos 70 nos Estados Unidos, um homem
com perfil narcisista, que com sua inteligência e persuasão, levou ao subjugamento e
a morte de aproximadamente 900 seguidores.
O termo Narcisismo, de acordo com a morfologia, vem do grego, “Narke”, que
significa entorpecimento, neste caso, por si próprio, como explica a narrativa grega de
Ovídio, no século VIII, depois de Cristo, sobre Narciso, que se apaixonou pela própria
imagem refletida no lago. Pessoas com essas características têm um excesso de
amor, uma auto adoração por si mesmo, que extrapola os limites da normalidade
(SALANT, 2022).
Na atualidade, observa-se com a disseminação das redes sociais uma grande
necessidade do indivíduo em promover-se, mas para isso, existem os chamados
“seguidores”, neste caso “virtuais”. Ao comparar ao caso Jim Jones, a diferença torna-
se concreta: os seguidores dele eram pessoas reais, que tinham família e ideais,
entretanto, foram ludibriados com as falsas promessas do Pastor. Em virtude desse
comprometimento com Jim Jones, os adeptos se deixaram controlar e condicionar,
sendo manipulados e reforçados através da eloquência do líder, muitas vezes, de
maneira punitiva, reforçando o medo, deixando-os submissos a exploração e aos
maus tratos (ANTUNES, 2017).
Para entender como ocorreu o fato e analisá-lo a luz da ciência, o trabalho inicia
por conhecer a história de Jim Jones; na sequência, entender a personalidade
narcisista através do desenvolvimento humano e da Psicologia Comportamental;
conhecer biologicamente o funcionamento da mente de Jim Jones, e por último,
verificar como ocorre um possível diagnóstico do transtorno de personalidade.
7

1 CONHECENDO JIM JONES

Como enfatizado na introdução desse estudo, o intuito do grupo é trazer uma


problemática afim de facilitar comentar sobre o Transtorno de Personalidade
Narcisista, e para isso, explorar esta histórica verídica, auxiliará na explanação do
tema.
Segundo o documentário: “Como se Tornar um líder de Seita”, da Netflix
(2023)1, Warren Jones nasceu em maio de 1931, em Indiana, nos Estados Unidos.
Cresceu em um lar de origem humilde, seu pai era alcoólatra, não trabalhava,
enquanto sua mãe sustentava a casa e referia ter dado à luz a um “Messias”,
entretanto seus cuidados sempre foram negligenciados pelos progenitores. Desde
criança apresentava comportamentos incomuns, formou-se no ensino médio em 1948.
Em seguida, trabalhou em um hospital, onde conheceu sua futura esposa. Constituiu
uma grande família com seis crianças de diferentes etnias, entre elas, um filho
biológico.
Conforme o documentário, Jones frequentava a Igreja Metodista e, em 1956,
fundou sua própria instituição religiosa chamada “Templo do Povo”, ficando conhecido
mundialmente pelo codinome Jim Jones. Nesse ínterim, já como Pastor passou por
diversas cidades no estado da Califórnia. O grande carisma, simpatia e eloquência
alavancavam a quantidade de fiéis de sua igreja, pois conseguia dissuadí-los, atraindo
cada vez mais membros a sua congregação através de ideias revolucionárias. Sua
personalidade narcisista despontava-se, pois arquitetava projetos grandiosos para
seus adeptos, um mundo perfeito, controlado por ele. Além das promessas, Jones
incitava falsas curas, ajudado por seguidores mais íntimos.
Com o passar do tempo, Jim Jones passou a contradizer suas próprias ideias
e atacar o Cristianismo, colocando-se como um “Ser superior” e, por esta razão, ser
reconhecido como tal. Ao decorrer dos anos, tornou-se alcoólatra e usuário de drogas,
misturando com medicamentos tranquilizantes, como por exemplo: Valium, o qual
fazia uso constante (ANTUNES, 2017).

1
Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/81596972 acessado em 28/09/2023
8

Com efeito do seu comportamento controlador e abusivo espalhou o medo


entre os membros da comunidade, pois eram perseguidos, castigados e mortos caso
não se submetessem a soberania de Jim Jones. Com passividade, estes passaram a
acatar seus caprichos, abrindo mão de salários e bens materiais, em troca de moradia
e alimentação. A dominação do narcisista chegava a tamanha intensidade que Jones
interferia na vida matrimonial e sexual dos casais que viviam na comunidade, bem
como nos aspectos relacionados a criação e educação das crianças, e a própria
escolha da maternidade, pois indicava o aborto. Entre outras inúmeras atrocidades
cometidas pelo Pastor, existiam relatos de abusos sexuais, escravidão e
constrangimentos públicos como forma de punição, desde castigos físicos, até mesmo
submeter adultos e crianças ao uso sem prescrição médica de drogas, como: Valium,
Hidrato de cloral, Demerol, Tiopental, entre outras (ANTUNES, 2017).
A partir de 1971, o templo do povo passou a ser alvo de investigações,
denúncias vindas por parte de antigos membros e matérias jornalísticas, o que levou
Jones, em 1977, a construir Jonestown, uma comunidade na Guiana, país localizado
na América do Sul. Após os questionamentos levados ao governo dos Estados Unidos
por parte dos familiares, pois alegavam a vida em cárcere que seus parentes estavam
vivendo, uma ação foi tomada, no dia 18 de novembro de 1978. Algumas horas depois,
Jim Jones sugestionou a seus membros a ingerirem veneno (mistura de cianureto com
fazendo uso oral uma mistura tóxica: cianeto, provocando envenenamento, levando a
parada cardiorrespiratória, através de uma sedação severamente letal (OGA,
CAMARGO, BATISTUZZO, 2008). Cerca de 909 pessoas morreram, alguns dos que
ali viviam, sobreviveram, enquanto Jones foi encontrado com um tiro na cabeça
(ANTUNES, 2017).
9

2 SOBRE A PERSONALIDADE NARCISISTA

Quando um indivíduo está inserido em um determinado contexto é necessário


adaptar-se as diversas mudanças que o mundo apresenta, sendo que as condições
internas e externas são fatores importantes para análise do desenvolvimento humano.
Esse é o caso de Jim Jones, que mediante as dificuldades iniciadas na infância, teve
que lidar com infortúnios como a falta de uma família que o direcionasse, o abandono
e a necessidade de ser visto e admirado pelo Outro. Nesse viés, o transtorno narcisista
foi uma variável que afetou todo o desenvolvimento (cognitivo, afetivo, biológico ou
social), impedindo-o ver as possibilidades e de explorá-las com seus sentidos inatos
e criar suas próprias experiências (MOTA, 2005).
A constante transformação obtida através das vivências modela profundamente
o desenvolvimento do ser humano, durante o ciclo vital e os eventos singulares. Diante
da história e traumas vivenciados por Jim Jones na primeira infância já narrados, é
possível perceber que ele tenha desenvolvido o modelo de apego inseguro
ansioso/ambivalente, que é uma característica em crianças que têm vivência na
ansiedade por ser amado, em sentir-se suficientemente valioso e que possuem uma
grande preocupação pelo interesse e disponibilidade emocional para si, além de
possivelmente, não conseguirem como fazer a manutenção dos vínculos, para
desfrutar ou manejar, causando-lhes dificuldade em refletir sobre a responsabilidade
nas relações (BASSANI, 2019).
Dessa forma, as pessoas com traços narcisistas fortes, sentem que não devem
acreditar nos outros, somente em si próprios. Estão convencidos de que não podem
confiar no amor ou na lealdade de ninguém. Consideram-se autossuficientes, mas no
seu íntimo magoam-se e tem o sentimento de perda e de vazio, e para mascarar a
sua insegurança, preocupa-se em estabelecer sua competência, seu poder, sua
beleza, seu status, seu prestígio e sua superioridade (BASSANI, 2019).
Conforme afirmou Riquelme, Henrique e Álvarez (2003) apud Antunes (2017)
sobre a relação entre a teoria da mente e o apego, descobriu-se que o cuidado da
infância tem um impacto importante no processo de mentalização. Este último está
relacionado a comportamentos, como a capacidade de compreender, prever e explicar
o comportamento humano em termos de estados mentais internos (PREMACK &
WOODRUFF, 1978 apud ABREU, 2022), e que fazem com que o Outro se aproxime,
10

como por exemplo o ato do sorriso, o chorar e até mesmo o contato olho a olho. É
admissível que é o padrão desses comportamentos, e não a frequência, que releva a
força ou qualidade do vínculo afetivo ou do apego. Através destes comportamentos,
concebe-se o conhecimento e percepção do apoio que a criança recebe dos
envolvidos no seu cuidado (fisicamente e emocionalmente), formando assim, um
aparelho psíquico saudável (ABREU, 2022).

Em vista disso, a possibilidade de formação de personalidades distintas está


ligada a percepção única que cada indivíduo tem com o ambiente e o seu contexto de
vida, e a forma de lidar com as relações (sociabilidade, maior confiança na solução de
problemas, autoestima, obediência, empatia e menos dependência do Outro) vai
sendo construída pelo sujeito a partir da qualidade do vínculo parental e das
experiências subjetivas e traumas durante infância e adolescência (BEE,1997).

Dessa maneira, o olhar para o Outro faz parte de uma fase do desenvolvimento
em que a troca de afeto, no início em meio familiar, permeia e tange esta percepção;
através dela o Outro não faz parte do próprio limite do indivíduo, afirma CATT (1986,
apud Antunes, 2017). Observou-se através de relatos que Jones parou nesta fase,
sem entender estes limites. No decorrer do ciclo de vida do indivíduo, ele estará
propenso a passar por adversidades em função desta falta de empatia. Assim,
conforme apontou Matos (1983) apud Pinto (2016) se entende que o TPN afeta todo
um grupo, uma vez que o comportamento adquirido na infância vai refletir na família
que ele virá a constituir e no grupo ao qual o indivíduo pertença.
Segundo Langaro e Benetti (2014), no desenvolvimento saudável do sujeito,
durante o final da adolescência e aparecimento da vida adulta, é a fase da separação
dos progenitores e o desenvolvimento de um Eu individualizado. Os autores afirmam
que poderá ser facilitado, através da presença do que é conhecido como Narcisismo
adaptável, que apoia e liberta o quase adulto a desenvolver suas próprias metas,
valores e esforços automotivados. Também, é observado a aptidão da pessoa em
descentralizar o mundo de si, suportando e aceitando que suas atitudes sobre o Outro
o afetam, entendendo que este, merece o respeito e amor. Entretanto, o caráter
narcísico de Jones denotou através da falta de autoconsciência, isto é, estava
desintegrado do seu verdadeiro self, pois “sentia-se assombrado por sentimentos de
solidão, vazio, auto aversão e procurava substituí-los por sentimentos de afeto e
adulação alimentados pelo Outro” (PINSKY;YOUNG, 2009, p.88 apud ANTUNES,
11

2017). Conforme Charteris-Black (2005) apud Antunes (2017), no caso de Jim Jones,
através da boa oratória e capacidade de manipulação, ele conseguia nutrir uma
presença onipotente que o libertava da sua infinita solidão e carência.

Diferente do sujeito egoísta que consegue amar o Outro e aceitar o seu amor,
o narcisista por não enxergar o Outro como parte ímpar. Neste caso, conforme nos
relata CATT (1986) apud Antunes (2017), existe uma variável de limites onde o
Narcisista se sobrepõe ao Outro e a interesses próprios. O fato de passar por
infortúnios comuns, como a maioria dos indivíduos passa durante o ciclo da vida, neles
os sintomas são mais evidentes.
Ao analisar o fato pelo prisma da Psicologia comportamental, Jones eliciava os
seguidores a terem um comportamento operante, pois ele interagia e modificava o
ambiente dessas pessoas com um estímulo: a oratória que deixava as pessoas como
que “hipnotizadas” pelas promessas de uma vida perfeita, causando-lhes uma
motivação intrínseca, reforçada positivamente toda a vez que estes iam até os cultos.
Skinner, pioneiro da Psicologia Experimental, fez isso com os ratos, modificava as
condições da “caixa de Skinner”, para obter novas aprendizagens, através do R-S
(Estímulo-Resposta), também conhecido como Relação Funcional, que são as
consequências pelas respostas (ações) emitidas, servem como variáveis para os
estudos nesta área da Psicologia (BOOK; FURTADO; TEIXEIRA, 2023).
Jim Jones formou um grande grupo de adeptos e estes eliciavam Jones com
um reforçamento secundário, chamado de Generalizado. O emparelhamento dos
estímulos: aprovação social, dinheiro e poder, reforçavam cada vez mais o
comportamento de Jones. Entretanto, ao passar do tempo o Pastor passou a ser
extremamente controlador, aplicando reforços negativos através de estímulos
aversivos, chegando à punição e diminuindo a resposta positiva no grupo, causando
como resposta imediata o medo. Nessa contingência, muitos adeptos, chegaram a ter
o comportamento de fuga para esquivar-se totalmente dos estímulos aversivos. A
punição neste caso, como narrada na história de Jim Jones, eram intensas e
contemplavam todos os membros, inclusive crianças, das famílias controladas. Com
o tempo, o grupo diminuiu, mas entre os adeptos que viviam na comunidade, era
recorrente o medo, sendo que aqueles que fugiram, voltavam-se contra ao controle
de Jones, denunciando as barbáries as autoridades (BOOK; FURTADO; TEIXEIRA;
2023).
12

3. ESTUDOS SOBRE A MENTE NARCISISTA DE JIM JONES

Jones era um homem com muita articulação com as palavras, falava o que as
pessoas queriam ouvir e por essa razão, tinha muitos adeptos. A facilidade em
conseguir o que queria, era expressiva. Muito se sobressaia por sua oratória,
chegando a tornar-se uma pessoa fascinante. Segundo Antunes (2017) inseria-se em
qualquer tipo de contexto, conseguia poder político e ao seu lado sempre estavam
profissionais renomados, dentre eles, muitos médicos e advogados. Entretanto, tinha
sérios problemas com a empatia.
Ao analisar a mente narcisista de Jones, observou-se que nas funções
cerebrais, basicamente a falta de empatia é um fator preponderante no Narcisismo.
“A característica essencial do Transtorno de Personalidade Narcisista é um padrão
difuso de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia que surge no
início da vida adulta e está presente em vários contextos” (DSM-V, 2013, p. 670).
A empatia como é popularmente dito é a capacidade de se colocar no lugar do
outro. É possível descrever também a empatia como um comportamento, ou seja,
“uma ação que ocorre em resposta a emoção” (QUARESMA, 2023). Segundo
ESPERIDIÃO-ANTONIO et al (2008), em parâmetros neurobiológicos a empatia é
dividida em cognitiva e emocional. A primeira é a habilidade de compreender o
problema do outro, já a segunda refere-se à sensibilidade de ter compaixão pelo outro.
Para entender melhor a respeito é necessário conhecer e compreender o sistema
límbico.
O sistema límbico é um conjunto de estruturas que faz parte do Sistema
Nervoso Central (SNC), responsável por regular as emoções, o comportamento
motivado e a memória. Segundo Papez apud Barreto e Silva (2010, p.3) fazem parte
do sistema límbico o córtex insular, córtex cingulado, giro parahipocampal,
hipocampo, fórnix, corpo mamilar e núcleos anteriores do tálamo. A partir dessa teoria,
foi possível criar novos estudos que de maneira geral incluem outras estruturas no
sistema límbico, como “os giros corticais, os núcleos de substância cinzenta e tratos
de substância branca dispostos nas superfícies mediais de ambos os hemisférios e
em torno do terceiro ventrículo.” (BARRETO; SILVA, 2010, p. 3). Além disso, já é
conhecido que a amígdala e o hipotálamo também desempenham um papel
13

importante neste sistema, contudo neste estudo será abordado com mais relevância,
sequencialmente, a amígdala, a ínsula e o córtex cingulado.
A amígdala é uma estrutura que exerce ligação essencial entre as áreas do
córtex cerebral, recebendo informações de todos os sistemas sensoriais.
Estas, por sua vez, projetam-se de forma específica aos núcleos
amigdalianos, permitindo a integração da informação proveniente das
diversas áreas cerebrais, através de conexões excitatórias e inibitórias a
partir de vias corticais e subcorticais. Os núcleos basolaterais são as
principais portas de entrada da amígdala, recebendo informações sensoriais
e auditivas; já a via amigdalo-fugal ventral e a estria terminal estabelecem
conexão com o hipotálamo, permitindo o desencadeamento do medo. A estria
terminal está relacionada à liberação dos hormônios de estresse das
glândulas hipófise e suprarrenal durante o condicionamento. (BARRETO;
SILVA, 2010, p. 5).

A principal função da amígdala é desencadear a sensação de medo, estresse


e ansiedade em uma reação de luta e/ou fuga, além de ter uma participação no
comportamento sexual. Tais funções podem ser notadas com certa alteração nas
condutas de Jones. No documentário “Como Se Tornar Um Líder De Seita” da Netflix
(2023), é relatado que Jim chegou a ser preso por violar sexualmente um homem,
além de outros ex-membros do Templo do Povo. Ao deporem contra ele, as queixas
repetiam sobre esse tipo de comportamento. Um dos sobreviventes do massacre,
também relatou que em um de seus discursos, que Jim falava abertamente as
pessoas sobre terem relações sexuais com ele. Pressupõe-se com esse fato, que o
Pastor desenvolveu a hipersexualidade a partir de uma lesão no corpo amigdaloide,
sendo que Kluver e Bucy apud Meneses (2015) constataram essa teoria em animais.
Após ser preso, Jones com a ajuda de seus fiéis e com a influência política,
conseguiu esconder o caso de modo que a notícia de sua prisão não chegasse às
mídias. Nas palavras de ex-membros, isso fez com que o líder da seita ficasse mais
descuidado ao cometer suas atrocidades. Uma hipótese seria que a amígdala de
Jones sofreu uma má formação, ou então, uma deficiência que gerou a diminuição do
medo e fez com que ele não temesse mais as consequências (Kluver; Bucy apud
MENESES, 2015).
Outra estrutura importante que faz parte do sistema límbico é a ínsula, uma
região cerebral localizada no fundo do sulco lateral, entre o lobo temporal, lobo parietal
e o lobo frontal. Desempenha um papel muito importante no que diz respeito ao
autorreconhecimento, sensação de nojo, está envolvido nas emoções como um todo,
mas principalmente na empatia (MENESES, 2015). Segundo ESPERIDIÃO-
ANTONIO et al (2008), ela também participa da integração da emoção e razão, sendo
14

ativada no momento em que o indivíduo recorda memórias eliciando sensações


específicas como euforia ou raiva. Um estudo mostrou que há uma menor
concentração de massa cinzenta na região da ínsula em pacientes com TPN, se
comparado aos que não possuem esse transtorno.
A análise complementar de todo o cérebro ilustrou que o Narcisismo
patológico é caracterizado por menor volume de MC em uma rede fronto-
paralímbica (...). Em particular, os pacientes com TPN apresentaram volumes
menores de MC na região insular anterior esquerda, no giro frontal superior
bilateral (incluindo áreas dorsolaterais e mediais) e no giro frontal médio
bilateral. Além disso, menor volume de MC em pacientes com TPN foi
encontrado no córtex cingulado rostral direito e mediano esquerdo, bem como
em partes do giro pré e pós-central (...). O contraste reverso (indicando maior
volume de MC em pacientes com TPN) não revelou agrupamentos
significativos. (ROEPKE et al, 2013, p. 3).

A massa cinzenta (MC) pode ser encontrada na parte externa do encéfalo, junto
ao córtex cerebral, e na medula espinhal na parte interna. Nela localizam-se os corpos
celulares dos neurônios que são receptores da informação nervosa e dos estímulos
excitatórios e inibitórios. “Constitui regiões do cérebro que são essenciais para o
controle muscular, percepção sensorial, tomada de decisões e autocontrole (...)”
(MILLS; ANANDAKUMAR, 2023, p. 79). Já a massa branca localiza-se abaixo do
córtex cerebral, armazena a maior parte de axônios que são responsáveis pela
condução nervosa. “(...) Um aumento da matéria branca está relacionado com um
aumento da velocidade dos sinais enviados entre as células cerebrais” (MILLS e
ANANDAKUMAR, 2023, p. 79).
Conforme afirmado por Antunes (2017) Jones era uma pessoa agitada e
propensa a ter ansiedade, por sua personalidade narcisista. Fazia, segundo Antunes
(2017) uso abusivo do álcool e do psicofármaco Valium. Conforme Cordioli; Galloi;
Passos, (2023) o psicofármaco Valium, pertence à subclasse dos benzodiazepínicos,
que surgiram na década de 60 e até nos dias atuais são utilizados, na clínica médica
e na saúde mental. O nome comercial mais comum, depois de Valium, é Diazepam.
Os benzodiazepínicos são substâncias que diminuem a ansiedade e induzem
a sonolência e, por essa razão, a nomenclatura ansiolíticos e hipnóticos. Além desses
efeitos terapêuticos, também promovem o relaxamento muscular e têm ação
anticonvulsivante (CORDIOLI; GALLO; PASSOS, 2023). O Valium, por exemplo,
classificado como um benzodiazepínico de ação longa (24h-48h). A meia vida fica
entre 20 a 40 horas, a uma dose equivalente a 5 mg/dia, entretanto a faixa terapêutica
pode variar de pessoa para pessoa, indo de 5 mg/dia até 40 mg/dia. Em pessoas
15

idosas essa faixa diminui para 2,5 mg/dia a 15 mg/dia (CORDIOLI; GALLOI; PASSOS,
2023).
Tratando ainda dos aspectos farmacodinâmicos, as vias de administração
podem ser através da via oral, intramuscular e endovenosa, dependendo da
prescrição médica. Sobre a farmacocinética do medicamento, após a ingestão oral,
que é uma das vias mais usadas pela praticidade, o fármaco tem a metabolização
feita através do fígado lentamente, mas o efeito é rápido, a partir de 2 horas de
ingestão. Essa fórmula química será levada pela corrente sanguínea até o SNC e suas
moléculas ligam-se rapidamente às proteínas, pois são consideradas lipossolúveis,
fazendo assim, uma sinapse química. Esses medicamentos são excretados pelo rim,
através da urina (KATZUNG, 2017).
Os benzodiazepínicos têm como principal reação adversa a sonolência e
diminuição dos reflexos, fator esse que é contraindicado aos usuários manusear
máquinas que oferecem risco de acidentes e até mesmo conduzir qualquer tipo de
veículo automotor. Também foram citados como efeitos colaterais, a diminuição de
memória e concentração, fadiga e têm a tendência a levar a dependência (BAEZ;
JURUENA, 2017). Segundo Quevedo e Izquierdo (2020, p. 222), os
benzodiazepínicos têm em sua composição química “(...) um anel benzênico que se
liga a um anel diazepínico e, em conjunto com um grupamento 5-arila, constituem o
5-aril-1,4- benzodiazepínico.”
Em relação a farmacocinética do psicofármaco, o neurotransmissor que
interage com esse tipo de substâncias é o Ácido Gama-aminobutírico (GABA A) e que
é responsável pela ação agonista da substância e sua ativação se faz através de um
ligante. O GABA A é um canal de iônico que faz uma abertura rápida, em
milissegundos, dos canais cloro (elemento químico) auxiliando a entrada dessas
moléculas para a célula nervosa. Este receptor está ligado diretamente ao
neurotransmissor GABA que é um importante inibidor do Sistema Nervoso Central que
propicia uma hiperpolarização (devido estar com muitos elementos negativos) de
membrana celular, gerando a diminuição dos potenciais de ação (QUEVEDO;
IZQUIERDO, 2020).
O antagonista desse grupo de psicofármacos é o Flumazenil, que bloqueia a
ação dos benzodiazepínicos, entretanto, por terem ação mais longa, muitas vezes se
faz necessário, a reaplicação do medicamento antagonista para anular os efeitos
16

sedativos causados na ingestão excessiva de dosagem medicamentosa (KATZUNG,


2017).
Afirmou Antunes (2017), que Jim Jones, também fazia uso de bebidas
alcoólicas. Vale ressaltar, conforme Baes e Juruena (2017), que durante o processo
de absorção do álcool no organismo, ocorre a interação com mesmo receptor GABA
que o psicofármaco, fazendo que seu uso em concomitância seja perigoso, pois
intensifica e potencializa o efeito do Valium no organismo, principalmente os efeitos
sedativos. Como efeito colateral, o indivíduo poderá ficar agitado, agressivo e, por
vezes, poderá apresentar crises de delírio.

3.1 O prazer e a punição dos seguidores

O córtex cingulado faz parte do sistema límbico que está relacionado ao


desencadeamento do prazer, segundo Suffren et al (2011) apud Rodrigues (2015),
estudos de neuroimagem mostraram que a parte anterior é ativada durante a
evocação de memórias felizes e relacionadas ao amor. ROEPKE et al (2013), em seus
estudos sobre a massa cinzenta mostram que há um menor volume nessa região do
córtex cingulado, ademais a partir de uma dada emoção é gerado o comportamento
de empatia, esse por sua vez desencadeia uma reação cognitiva e afetiva, tendo a
possibilidade de gerar um sentimento de prazer por nutrir uma autoconsciência
positiva de si e do outro. Portanto, é possível deduzir que o fato de pessoas com TPN
carecerem do comportamento empático surge também da diminuição da MC na região
do córtex cingulado ligado ao prazer.
É importante ressaltar sobre a questão do prazer sentido por Jim Jones ao punir
seus seguidores de forma insana, fazendo-os tomar medicamentos como o Valium,
Hidrato de cloral, Demerol, Tiopental, entre outras substâncias para disciplinar e/ou
controlar as crianças do grupo (ANTUNES, 2017). A classificação dessas substâncias
usadas indiscriminadamente para manipulação são: Valium: benzodiazepínicos;
Hidrato de Cloral: hipnótico e sedativo; Demerol: analgésico de alta potência;
Tiopental: anestésico. Não foram exploradas as dose e como as pessoas eram
induzidas à ingestão desses medicamentos por Jones (BAEZ e JURUENA, 2017).
17

4 CAMINHOS PARA O DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO DE


PERSONALIDADE E POSSÍVEL AVALIAÇÃO.

O Transtorno de Personalidade Narcisista consta descrito no DSM-V (2014) e


no CID-10 F60.81, tem como característica principal um padrão de grandiosidade em
suas fantasias e comportamentos. Resende (2019), pontua que na avaliação para o
fechamento do diagnóstico é necessário encontrar alguns critérios comportamentais,
tais como: percepção de grandiosidade de si, o reconhecimento como superior, a
preocupação com o sucesso e poder, admiração excessiva ou um tratamento
especial, que costuma favorecê-lo sempre, a fim de atingir os objetivos e interesses
pessoais.
De acordo com Resende (2019), a pessoa com TPN tem dificuldade de sentir
empatia com o próximo, de reconhecer os sentimentos e as necessidades dos outros,
além de não aceitar ou minimizar os seus comportamentos problemáticos. YOUNG
(2008) observa que traços narcisistas são diferentes de um Transtorno de
Personalidade Narcisista: o transtorno transforma o sujeito em um ser com
dificuldades em várias áreas da sua vida. A diferença do transtorno para os traços
está na intensidade dessas características e o impacto que gera na vida deste
indivíduo.
Segundo o DSM-V, atualmente, as características principais e norteadoras que
distinguem esse tipo de transtorno de personalidade, são alguns testes de avaliação
que identificam e contribuem para o apontamento do diagnóstico. O primeiro a ser
descrito é O Inventário de Personalidade Narcisista (NPI), um instrumento que analisa
as características psicométricas do indivíduo como fator exploratório e,
posteriormente, confirmatório do diagnóstico (RESENDE, 2019).
Resende (2019) refere que o questionário possui 40 questões, contendo vários
itens com um par de declaração Narcisista ou não Narcisista, no qual são analisados
sete fatores que definem o transtorno de personalidade, como: autoridade,
exibicionismo, superioridade, intitulação, explorabilidade, autossuficiência e vaidade;
este teste foi desenvolvido por Raskin e Terry em 1988. O autor, também, descreve a
Escala de Autoestima de Rosenberg, este foi desenvolvida em 1965, onde consta dez
afirmações associadas a sentimentos envolvendo a autoestima, autoaceitação, tendo
quatro pontos de escala, tais como: concordo totalmente, concordo, discordo e
discordo totalmente.
18

Um outro instrumento de avaliação é o questionário de esquemas de Young,


de acordo com Beck; Davis; Freeman (2017), geralmente nesse questionário são
encontrados escores altos relacionados a merecimento, intolerância a frustração e
grandiosidade. Portanto, os autores concluem que para uma avaliação assertiva é
necessário o uso dos instrumentos de avaliação como descritos acima e várias
sessões de terapia para uma análise clínica, ajudando na identificação ou
investigação do TPN.

4.1 Atuação clínica diante de um paciente narcisista

A Psicologia trabalha com a subjetividade do indivíduo, seja conhecendo as


emoções, sentimentos, crenças, comportamentos, fantasias, vivências, história de
vida, sonhos, idealizações individuais que afetam diretamente o indivíduo como o
coletivo, contribuindo com o autoconhecimento, fortalecendo as relações consigo
mesmo e com o mundo exterior, potencializando o bem-estar físico, psíquico mental
e até social (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2023). Evidentemente, no atendimento
clínico, o profissional irá observar dentro da sua abordagem vários casos de
transtornos de personalidade. No primeiro momento, não será identificado, porém
com o tempo e com os comportamentos apresentados pelo paciente durante a
sessão, o profissional possivelmente identificará alguns sinais e características do
transtorno (WAINER, 2016).
Young (2008) trouxe uma observação muito relevante, pois durante o
atendimento terapêutico, o paciente poderá gerar emoções negativas no profissional,
com um diálogo que despertará sentimentos de raiva e insegurança, porque esses
pacientes costumam ser rígidos, questionadores e conflitantes, apresentando uma
necessidade de sempre subjugar o outro, para que ele se sinta superior. Ademais,
existem pacientes narcisistas que não se expressam e reprovam o profissional através
da expressão corporal, uma vez que, ele estará presente fisicamente, mas não
conectado com a terapia.
WAINER (2016) relata que o paciente narcisista, geralmente, em suas falas
durante a sessão terapêutica, tende a usar termos desrespeitosos ao se referir às
demais pessoas, tirando o foco do seu comportamento, mantendo uma postura de
vitimização. Além disso, costuma questionar e contrariar o psicólogo, empregando de
19

estratégias que fazem tipicamente parte do seu comportamento. Destaca-se que na


conduta durante a abordagem, o profissional não poderá tratar um assunto, no qual
irá apontar diretamente as falhas do comportamento do narcisista, porque essa
postura iria afastá-lo do processo terapêutico. No entanto, o profissional precisará criar
formas para não direcionar o foco para o paciente e, sim, para as circunstâncias,
associando comportamento negativos e desadaptativos (YOUNG, 2008).
O processo terapêutico é um caminho longo e desafiador, pois envolvem
mudanças significativas de pensamento e comportamento, no qual demanda do
profissional de psicologia adquirir a confiança do paciente, mostrando os aspectos
positivos da abordagem, buscando a motivação e se empenhando a criar um vínculo
entre terapeuta e paciente (BECK, DAVIS e FREEMAN, 2017).

4.2 Terapia cognitiva comportamental - intervenção terapêutica

Obviamente, Jim Jones não foi diagnosticado e muito menos recebeu


intervenção terapêutica para o seu tratamento, mas num contexto que descobrissem
suas dificuldades, assim como foi descoberto, não teria como resultante a maior
tragédia da década de 70. Caso ele tivesse recebido as acusações e se entregado
para a polícia, poderia posteriormente receber o diagnóstico e, contudo, iniciar um
tratamento.
De acordo com Beck (2014), o processo terapêutico para a pessoa que sofre
do TPN, contribui em ajudar o indivíduo a desenvolver uma percepção de suas
atitudes, fantasias, crenças e comportamentos, adquirir a empatia e buscar conexão
e sociabilidade, descentralizando o seu ego e centrando na sua relação com o mundo
externo e com as demais pessoas. Em conformidade com os autores, BECK; DAVIS;
FREEMAN, (2017), a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) será uma abordagem
possível para o tratamento deste tipo de transtorno, pois despertará as mudanças de
pensamentos e comportamentos disfuncionais, negativos e desadaptativos
associados ao Narcisismo. O profissional irá trabalhar desafiando as crenças
irracionais deste paciente, criando formas de aprendizado de novas habilidades
sociais e de resolução de conflitos.
Ainda afirmam os autores, que caso opte pela abordagem Terapia Cognitivo-
Comportamental, o profissional de psicologia deverá montar um esquema com a
20

contextualização cognitiva do paciente, no qual será pontuado aspectos de autoestima


adaptativa e socialmente aceitável. Entretanto, não significa que o paciente Narcisista
precisará ficar mais confiante ou com mais ideal de grandeza, pois este tipo de
comportamento disfuncional já existe nele, o pensamento em achar-se superior, não
tem relação com a autoestima, e sim, com uma perturbação da autoimagem. No
entanto, a autoestima é uma habilidade importante para que o indivíduo estabeleça
uma relação entre si e o mundo vinculada através de expectativas sociais e
culturalmente mediadas. Em outro momento, seria trabalhado as habilidades sociais,
já que o paciente tem dificuldade de apresentar empatia, isto faz com que as relações
afetivas e sociais sejam prejudicadas. Deste modo, não conseguindo ser adaptativo
nas convivências, as pessoas acabam afastando-se (BECK; DAVIS; FREEMAN,
2017).
Os autores pontuam que outro aspecto a ser trabalhado são as alterações de
grandiosidade e o humor deprimido, entretanto, a falta do autoconhecimento
fortalecido, bem como a não visão realista sobre si, intolerância as próprias falhas, o
fracasso, levam muitos deles a desenvolverem quadros de depressão e ansiedade.
Young (2003) reforça que, a personalidade forma-se de acordo com as necessidades
emocionais básicas e fundamentais que são atendidas durante a infância para o
desenvolvimento saudável. A aceitação e pertencimento, autonomia e desempenho,
limites realistas com afeto, o direcionamento das próprias necessidades emocionais,
a autenticidade nas expressões emotivas, espontaneidade e lazer, cada uma dessas
necessidades se não supridas e atendidas podem gerar um contraponto, criando um
domínio esquemático, que são o desenvolvimento de esquemas iniciais
desadaptativos (IEDs), na qual as crenças nucleares são associadas ao
desenvolvimento emocional do indivíduo.
Beck, Davis e Freeman (2017) ressaltam que, os domínios esquemáticos são
desenvolvidos na infância e na adolescência, fase em que surgem as maiores
necessidades, desenvolvendo esquemas não saudáveis e os desadaptativos. Como
resposta a esse domínio, “(...) os esquemas desadaptativos de supercompensação
da pessoa com o Transtorno de Personalidade Narcisista são autocontrole
insuficiente, merecimento, busca por aprovação e padrões rígidos (...)” (BECK, DAVIS
E FREEMAN, 2017, p. 413).
Esses autores também reiteram que, o principal objetivo da TCC consiste em
modificar os modos esquemáticos desadaptativos, identificando quais são as formas
21

de ativação, analisando as necessidades internas do paciente, ou seja, o processo


terapêutico desenvolvendo um lado adulto saudável, ao passo que o paciente consiga
ver melhorias nas relações interpessoais, no trabalho e no seu autoconhecimento.
Conforme Rangé (2011) existem várias técnicas que a TCC oferece para que
o terapeuta utilize durante o tratamento, seja o confronto empático, feed back
imediato, mapas mentais guiados, dramatização para a identificação e modificação de
crenças disfuncionais, cartão de vantagens e desvantagens, aprendizado por manejo
de tempo, psicoeducação, mindfulness2, role play3 e entre outras técnicas.
Beck (2014) enfatiza que as imagens mentais guiadas e mindfulness auxiliam
a trabalhar as crenças emocionais distorcidas. Já a técnica de exposição, estimula
estar diante de situações desafiadoras e de desconforto para o paciente, que
geralmente, cria formas de enfrentamento, como a esquiva. Outra técnica, também,
muito utilizada é o role play, a qual consiste em uma dramatização, simulação de
situação-problema, buscando os pensamentos automáticos, trabalhando na
modificação de crenças e habilidades sociais, como: empatia, afeto e frustração.
Todavia, para a mudança de pensamentos automáticos é necessário o registro desses
pensamentos e identificação dos momentos que ocorrem.
Beck (2014) salienta que a terapia não incide apenas no encontro terapeuta e
paciente em consultório para que o tratamento seja pontual e assertivo, é necessário
a continuidade dos exercícios no dia a dia, sendo este um fator obrigatório e não
opcional, pois faz parte do processo de aprendizagem, na identificação e
monitoramento dos pensamentos automáticos. Alguns profissionais usam lembretes,
sendo que os registros dessas atividades contribuem na identificação das mudanças
e da evolução do quadro, motivando a dar seguimento ao processo terapêutico. Aqui
estão detalhadas algumas técnicas da TCC que poderão ser utilizadas para a pessoa
com Transtorno de Personalidade Narcisista pelo profissional de psicologia.

2
Mindfulness2 (técnica de relaxamento),
3 Técnica de dramatização.
22

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho procurou-se conhecer e analisar o Transtorno de Personalidade
Narcisista a partir da história de vida de Jim Jones, correlacionando-os com as
disciplinas instruídas durante o semestre, cumprindo assim com a exigência de
apresentar a discussão de forma harmônica e integrada.

Em síntese, segundo o DSM-V (2014), o TPN é caracterizado pelo excesso de


admiração, sentimentos de grandiosidade e inveja, ausência de empatia,
demonstração de comportamentos arrogantes e egocêntricos, e idealização de poder
manifestado no início da vida adulta. Como contribuição específica, o grupo julgou ser
importante ressaltar a diferença entre um indivíduo com traços narcísicos e um que
possui o TPN. Também, possíveis testes utilizados no diagnóstico dessa patologia,
bem como apresentação da TCC.

Ao compreender que a construção da personalidade é feita a partir das


vivências e do ambiente em que o indivíduo está inserido, em todas as fases da vida,
observa-se na história de Jim Jones indícios do TPN, pois através da oratória, ele
conseguia condicionar seus seguidores através do reforçamento positivo e mantê-los
por um tempo. Ao depararem-se com o temperamento de Jones, seus adeptos eram
levados através da contingência ao reforçamento negativo e a esquiva, convivendo
com medo e o desconforto a vida proporcionada na comunidade do líder.

Nas bases biológicas, o grupo optou por dar destaque ao estudo da empatia a
partir das estruturas do SNC, bem como levantou-se a hipótese de que as ações
inconsequentes de Jim Jones poderiam ser características de um déficit ou má
formação da amígdala. O Pastor fazia uso abusivo de Valium e álcool. Pelos estudos
do psicofármaco Valium foram verificados os processos da farmacocinética,
farmacodinâmica e também a interação dos neurotransmissores GABA que geravam
os comportamentos inconsequentes de Jim Jones.

Finalizando, é importante o investimento para pesquisas futuras que se


aprofundem em estudar mais este tema, bem como quais são seus efeitos nos
indivíduos e sociedade. Dessa forma, o estudo da psicologia aliado com outras
ciências poderá contribuir para a sociedade na melhoria da qualidade de vida e do ser
humano.
23

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