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Psicologia Social
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O Homem é um animal social – vive em grupo, inserido em culturas e sociedades. Desde que é
concebido até ao dia da sua morte influência e é influenciado pelos outros.
Objecto de estudo: os indivíduos enquanto animais sociais.
Esta área da psicologia é recente, uma vez que existe há cerca de 100 anos. Cartwright (1979)
afirma que 90% dos psicólogos sociais existentes desde a fundação da disciplina ainda estariam vivos,
pelo que é possível que essa percentagem não tenha reduzido assim tanto até aos nossos dias. No
entanto, muitos dos fenómenos estudados prevalecem desde as antigas civilizações, pois o
comportamento universal é revestido de aspectos universais. A psicologia social visa estudar o
comportamento dos indivíduos através de uma explicação psicossocial.
Tomando o exemplo de Van Gogh veremos que uma dada acção pode ser explicada de diversas
maneiras, consoante o olhar científico em causa. Precisamente o objectivo do questionamento científico é
escolher as vias alternativas para explicar o comportamento. A Psicologia Social é um domínio autónomo,
um dos muitos olhares, na compreensão desse comportamento, ainda que tenha contraído empréstimos
de outras disciplinas.
À rápida taxa de mudança (exemplo: Na Universidade de Harvard foram precisos 275 anos para
acumular um milhão de livros e, actualmente, apenas 5 para acumular outro milhão).
Psicologia Social - “ A Psicologia Social tenta compreender e explicar como os pensamentos, sentimentos
e comportamento dos indivíduos são influenciados pela presença actual, imaginada ou implicada dos
outros” (Alport, 1985). Segundo esta definição de Alport, a psicologia social é encarada como uma relação
de entrada/saída, na qual as entradas são as presenças das outras pessoas (actuais, imaginadas ou
implicadas) e as saídas são as reacções do indivíduo (pensamentos, sentimentos e comportamentos).
Nos últimos 100 anos ocorreram 2 mudanças importantes que tornaram a psicologia social
fundamental:
1. Aplicação do método científico ao k social humano, procurando descobrir relações de
causa-efeito, através da observação objectiva e da experimentação.
2. Multiplicação das relações sociais e potencialidades para a interacção social devido às
recentes viagens e comunicações em massa.
A Psicologia Social estuda e explora contextos sociais e a influência das pessoas nos outros, as diferenças, os
sentimentos, e pensamentos que envolvam corpo e mente.
Lewin: Liderança - 3 líderes (cada um deles passava três semanas em cada um dos três grupos). Conclui-se
que no grupo com líder democrata havia maior motivação e eficácia, no de total liberdade (anarquia) verificou-
se o caos total e no líder autoritário maior submissão e também maior hostilidade.
Asch: Influência do grupo de super conformismo. Num grupo de sujeitos apenas um não era comparsa. Era-
lhes perguntado qual das linhas 1,2 ou 3 era igual a A. Nesta situação todos os sujeitos escolheram 1, mesmo o
sujeito ingénuo, que apesar de saber que a resposta estava errada, não foi capaz de contrariar a opinião do
grupo, foi conformista.
Milgram: obediência. Experiencia de choques eléctricos . Mesmo sabendo que podia matar a pessoa, o sujeito
continuava a dar choques para a obedecer à autoridade (semelhante ao que aconteceu na Alemanha Nazi). A
obediência não reside só na mente fascista, é inerente ao ser humano.
Quando queremos entender alguém não podemos apenas analisar o seu comportamento e personalidade, mas
também o ambiente/contexto em que este se encontra.
Limbardo: “Guardas e Prisioneiros” – O que acontece quando se põe boas pessoas em ambientes maus? Sera
que a humanidade vence a maldade? Partia do princípio do erro de atribuição, no qual as pessoas têm
tendência de atribuir a causa do comportamento a factores pessoais, esquecendo os situacionais. Depois
montada um contexto semelhante ao de uma prisão (inclusive com uma solitária para prisioneiros abusivos e
não havia qualquer relógio) um grupo foi aleatoriamente classificado de prisioneiros e outro de guardas, sendo
que só os guardas estavam autorizados a regressar a casa e tinham um certo grau de liberdade para decidir
determinadas normas de comportamento já que ninguém os ensinou a ser guardas. Depois de uma detenção
surpresa os prisioneiros foram levados para a prisão onde lhes foi comunicada a sua condição. Além disso
vestiram um vestido com o número de identificação, o que imediatamente fez com que se comportassem de
forma mais feminina, por exemplo, ao sentarem-se. A atribuição do número fazia com que os sujeitos se
sentissem anónimos e o gorro que tinham na cabeça substituía a cabeça rapada utilizada nas prisões normais
para minimizar a individualidade e maximizar o cumprimento das regras da instituição. Verificou-se uma fusão
de identidade com o papel atribuído – os indivíduos transformaram-se, os prisioneiros desenvolveram reacções
de stress, assumiram o seu número em vez do seu nome, alguns tiveram mesmo de ser libertados, mas nunca
nenhum disse “desisto da experiência”; os guardas tornaram-se agressivos, violando as suas próprias regras
quando ponderaram deixar um prisioneiro na solitária toda a noite e não só uma hora. Até o investigador
começou a agir como superintendente da polícia! Os sujeitos encarnaram de tal forma o papel que esqueceram
a linha que separava a realidade da experiência pelo que a experiência teve de terminar 6 dias depois e não 3
meses como estava previsto.
… Como foi possível que boas pessoas à partida fizessem coisas terríveis? Todos temos o bem e o mal
dentro de nós, que virá á superfície quando o contexto o exigir.
Psicologia Social 2010 – Rita Pasion
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Alan Miner: situações de emergência. Pilotos de avião foram sujeitos a testes de visão onde não conseguiam
identificar todas as letras. Contudo, quando colocados em situações de emergência, em que era crucial ler as
letras do outro avião (iguais e à mesma distancia que os testes de visão), foram capazes de as identificar. No
entanto, quando a situação não era suficientemente poderosa não melhoraram a sua visão – os factores
pessoais influenciavam o comportamento, mas não exclusivamente: os factores situacionais também o
determinam.
Psicologia Social: ponte entre a Psicologia e a Sociologia – apesar da definição ampla de Psicologia
Social, o que a distingue da Psicologia é a enfâse no social, e o que a distingue da Sociologia é a enfâse no
individual. Os psicólogos sociais examinam os processos intrapsíquicos e os estímulos sociais que
determinam o comportamento do indivíduo. Assim, os psicólogos sociais explicam os comportamentos
através de factores individuais e sociológicos. Van Gogh teria cortado orelha para imitar o comportamento
Podemos encontrar várias psicologias sociais e explicações diferentes. Existem 2 grandes vertentes
que, embora apresentem aspectos comuns, diferem noutros, como na focalização central e nos métodos
de investigação
Estes níveis não são lineares nem estáticos, pois numa determinada situação podemos encontrar
mais de um nível (exemplo: a realização de um individuo pode ser afectada negativamente em contexto
de grupo – nível 3, o que leva a pessoa a fazer uma comparação social – nível 2, ou a mudar a percepção
de si próprio – nível 1). Isto demonstra vários processos psicológicos nesta situação social.
Platão (427-347 a.C.): Apresenta, na República, que os Estados se formam porque o indivíduo não é
auto-suficiente e necessita da ajuda dos outros – visão utilitária das interacções humanas. Platão
considera que o espírito humano tem 3 componentes: comportamental, afectiva e cognitiva, que se
localizam no abdómen, tórax e na cabeça.
São pois as diferenças individuais que produzem e explicam o carácter da sociedade - “cada um de nós é
portador das mesmas espécies de caracteres e dos mesmos costumes tal como a sociedade, pois só
podem provir de nós”
Aristóteles (384-322 a.C.): Na Política, vê as pessoas como “animais políticos”, gregários por instinto –
desprende-se do utilitarismo. É este instinto que leva o homem a afiliar-se com os outros. A interacção
social é necessária para o desenvolvimento normal do ser humano.
Hobbes (1588-1679): A motivação social não se deve a uma tendência dos homens para se amarem,
pois o seu estado natural é a guerra contra todos. Este autor desenvolveu uma análise dos processos
interpsicológicos que levam o homem à socialização: paixão de ambição, paixão de dominação, sentimento
de insegurança. Hobbes criou os alicerces para a análise da psicologia social, sendo mesmo considerado
por Murphy o primeiro psicólogo social.
Marx (1818-1883): O comportamento social é determinado pelas condições económicas (um individuo
que viva num sistema feudal, vai ser diferente do individuo que viva num sistema capitalista). Para mudar
a forma de pensar agir e sentir é necessário mudar as instituições económicas.
Nenhum destes autores concebeu a psicologia social como disciplina independente. No entanto, estes
autores permitem diferenciar a existência de 2 temas da psicologia social pré-científica:
• Disposições psicológicas individuais produzem as instituições (Platão, Aristóteles, Hobbes, Fourier)
• As condições sociais influenciam o comportamento dos indivíduos (Rousseau, Marx)
Corrente Francesa
Comte inventou o termo “sociologia” e foi o 1º autor a conceber a ideia de uma Psicologia Social, apesar
de desprezar a Psicologia. Contribuições teóricas:
- Lei dos três estádios, que que explica a emergência das ciências desde o estádio teológico, metafísico até
ao positivo. A Psicologia Social foi a ultima a emergir, pois foi a ultima a ter a capacidade de dar
interpretação sem com base em explicações.
- Classificação das ciências fundamentais abstractas - procurava uma “verdadeira ciência final” que
tratasse dos indivíduos e do modo como os indivíduos combinam influências biológicas e societais, e a que
deu o nome de Moral Positiva: concepção da psicologia social, que considera por um lado, os fundamentos
biológicos do indivíduo e, por outro lado, aborda o indivíduo num contexto cultural e social. Lançou a
questão - como é que o indivíduo pode ser ao mesmo tempo causa e consequência da sociedade?
Durkheim foi um discípulo de Comte e afirmava que o social é rigorosamente irredutível ao individual, o
que entra em choque com Tarde.
Na necessidade de se designar um só fundador da Psicologia Social, seria Comte. Contudo, é difícil afirmar
com certeza, mas o seu desenvolvimento foi potenciado por Le Bom e Tarde.
Gustave Le Bon considera que a multidão modifica o indivíduo, pois dota-o de uma “alma colectiva”. Esta
alma faz com que os indivíduos, quando se encontram em grupo, pensem, sintam e ajam de uma forma
diferente daquela quando estão sozinhos. Estes comportamentos são explicados por uma causa interna, o
contágio mental, e por uma causa externa, a existência de líderes. A multidão coloca os indivíduos perante
emoções rápidas, simples, intensas e mutáveis, tendo um raciocínio rudimentar, qualitativamente inferior
ao dos indivíduos que a compõem. Le Bon abriu assim um capítulo importante, o do comportamento
colectivo: rumor, opinião pública, propaganda, pânico.
Gabriel Tarde – Este autor alicerçava os fenómenos sociais em 2 fenómenos psicológicos: a invenção
(fruto de individualidades) e sobretudo a imitação (assegura a unidade e estabilidade sociais).
Ringelmann (1880) questionou como é que a presença de outras pessoas influenciava a realização dos
indivíduos. Descobriu que a realização individual diminuía quando trabalhavam os indivíduos
conjuntamente em tarefas mais simples. Esta investigação está na origem dos modernos estudos de
psicologia social sobre preguiça social, que tende a ocorrer em sociedades individualistas do que naquelas
em que a colectividade é muito importante. Verificou ainda o fenómeno de facilitação social – o esforço do
individuo para realizar uma tarefa é quando está sozinho, do que em grupo.
Corrente Anglo-Saxónica
Nos países anglo-saxónicos, em particular nos EUA, duas datas foram marcantes:
- 1898: 1ª experiência em Psicologia Social com Triplett
- 1908: 2 primeiros manuais
Triplett (1898): Apesar da Psicologia Social não ser muito experimental nos seus primórdios (tinha um
cariz mais especulativo) realiza 1ª experiência em Psicologia Social em que estudou os efeitos da
competição sobre o desempenho humano. Quando 40 crianças eram postas em situação de competição de
pares a enrolar um anzol mais rápido possível, o desempenho era melhor do que quando realizavam a
tarefa isoladamente.
Edward Ross (1908) publica a obra “Psicologia Social”, onde procurava aplicar as leis da sugestão e da
imitação a diversos acontecimentos do passado e do presente: moda, opinião pública, etc.
William McDougall (1908) publica a obra “Introdução à Psicologia Social”, onde o comportamento social
resulta de um pequeno número de tendências inatas ou instintos. Aparece assim, uma abordagem
individualista dos comportamentos na Psicologia, o que remete para a Psicologia Social, pois alicerça o
social no psicológico-individual. A cisma da Psicologia Social Psicológica e Psicologia Social Sociológica já
se fazia sentir.
Alport (1924) está mais próximo da Psicologia Social contemporânea – o comportamento é influenciado
pela presença dos outros e as suas acções. Discute a habilidade em reconhecer emoções dos outros nas
expressões faciais, a conformidade. O texto escrito por Alport foi o 1º livro de base em psicologia social
que permitiu a inclusão desta disciplina no programa permanente de estudos dos departamentos de
Psicologia das universidades americanas.
Robert Zanonc (1965) sugeriu que a mera exposição à presença de outras pessoas aumenta o
desempenho das respostas dominantes (isto é, bem aprendidas), mas interfere com o desempenho das
respostas não-dominantes (isto é, novas).
Sherif desenvolveu o primeiro programa de intervenção de cariz experimental no estudo das normas
sociais, isto é, regras que suscitam o comportamento de outras pessoas.
Lewin muita influência no desenvolvimento da psicologia social, ao mudar a direcção de todo um domínio
de um saber. Mostrou que é possível aplicar princípios teóricos a estudos sociais- “nada é tão prático como
uma boa teoria”, isto é, uma vez que tenhamos uma compreensão sólida e científica de algum aspecto do
comportamento social, podemos utilizar este conhecimento de modo prático. É o pai da Psicologia Social
Contemporânea.
Anos 40/50
Marcado pelos estudos empíricos - a influência dos grupos e da pertença aos grupos sobre o
comportamento individual; relações entre vários traços da personalidade e comportamento social;
atitudes. A dissonância cognitiva (Festinger) – perante incoerências entre duas cognições ou
comportamento, as pessoas procuram reduzi-las mudando quer os seus pensamentos quer os seus
comportamentos. A Psicologia Ingénua (Heider) – as pessoas atribuem um sentido à sua vida e tentam
controlar o meio.
Anos 60
Expansão do campo da Psicologia Social - obediência à autoridade; construção de julgamentos acerca dos
outros; negociação e resolução de conflitos; atracção e amizade; preconceito e mudanças de atitude.
Psicologos Sociais Europeus distanciam-se nos temas dos Americanos. Crise de confiança que leva à
discussão da ética e validade externa.
Anos 70 e 80
Continuação dos temas anteriores e enfoque noutros - atribuição; papéis sexuais e discriminação sexual;
psicologia ambiental.
A influência crescente da perspectiva cognitiva – o entendimento de uma ampla gama de fenómenos
sociais pode ser enormemente aumentada caso se adopte uma estratégia em que se procurem
compreender antes de mais os processos cognitivos que lhe estão subjacentes. É o tópico mais popular
previsto para a próxima década por psicólogos sociais americanos.
Influência da investigação aplicada em que o “mundo é o laboratório” – aplicação dos conhecimentos em
domínios da saúde, dos processos legais, do funcionamento das organizações. Esta tendência reflecte, em
parte, o facto de as teorias estarem suficientemente desenvolvidas para poderem ser aplicadas a
problemas sociais importantes. Encontra-se assim, a relevância das ciências sociais.
Os psicólogos sociais estão-se a tornar mais sensíveis ao impacto da cultura no comportamento social – o
que influencia um grupo num país, pode não influenciar no outro, ou mesmo a grupos dentro do mesmo
país. O campo deve tornar-se mais multicultural e internacional, o que não significa que os psicólogos
sociais vão deserdar dos seus laboratórios.
A investigação científica
É consensual que a observação sistemática deve estar presente na investigação científica, tanto no
sentido de desenvolver teorias com base nessas observações, fazer predições a partir delas, ou rever
essas predições se não estão certas. Popper defende que para uma teoria ser científica deve, em princípio,
ser capaz de refutação empírica – uma teoria nunca poderá ser aceite como verdadeira, pois não há
garantia que no futuro será a mesma do passado, já que a ciência cresce e muda constantemente.
São as teorias que nos ajudam a explicar o que se observa, sendo um alicerce composto por regras
retiradas das observações. O valor de uma teoria depende de certas qualidades:
o Concordância com dados científicos- o que já se encontrou
o Compreensiva compreendendo e explicando um vasto leque de comportamentos
o Parcimoniosa não contendo mais que os elementos necessários
o Susceptível de ser testada para se poder avaliar a validade empírica
o Valor heurístico, isto é, estimular o pensamento e a investigação
o Valor aplicado
Os psicólogos sociais tentam elaborar teorias para ajudar a sociedade a viver melhor a nível de
compreensão e sensibilização sobre as consequências das suas acções. Espera-se que as pessoas se
abram a ideias novas quando confrontadas com as novas, pondo de parte ideias dogmáticas (teorias
generativas)
Por vezes a investigação conduz a resultados contraditórios de um estudo para outro. Anteriormente
contavam-se os estudos que retiravam determinada conclusão e seguia-se a maioria. A meta-análise é
uma técnica estatística que permite aos investigadores combinar informação de muitos estudos empíricos
sobre um tópico e avaliar objectivamente a fidelidade e o tamanho global do efeito, podendo assim
determinar se estes pequenos efeitos são reais ou erros de medida. Qual esse tamanho global do efeito e
variabilidade nos estudos da Psicologia Social? A meta-analise ao converter o efeito observado, numa
métrica comum, como por exemplo a correlação momento-produto de Pearson consegue observar se o
efeito é pequeno (r igual ou inferior a .10), ou grande (próximo ou maior que .5). Numa compilação de
322 meta-analises (Richard et.al.) observou-se que existe uma grande diversidade nos efeitos (em 25%
há efeitos grandes e em 50% os efeitos são pequenos, sendo que as correlações mais elevadas ocorrem
nas atitudes e processos grupais. A Psicologia Social cresceu muito durante o sex. XX em parte por esta
maior base de dados que permite generalizações mais precisas e rigorosas até à data acerca da grandeza
dos efeitos psicossociais. Sugerem ainda que os efeitos situacionais são tao importantes como os pessoais
e que diferenças de género não são assim tão grandes, tendem a ser pequenas.
Teorias da Aprendizagem
Base no behaviorismo: o comportamento da pessoa é orientado pela aprendizagem anterior.
Autores importantes: Pavlov, Watson, Hull, Skinner e Bandura (aplicou os conhecimentos ao
comportamento social, dando origem à aprendizagem social)
Contribuições:
- Úteis na procura de acontecimentos ambientais ligados aos comportamentos das pessoas, podendo
prever-se a sua influência e assegurar um controlo
- Utilizadas para explicar muitos fenómenos sociopsicológicos – atracção interpessoal, agressão, altruísmo,
preconceito, formação de atitudes, conformidade e obediência.
× Atenta a padrões de reforço, esta teoria explicaria o casamento pelo interesse de Manuel no dinheiro e
fama de Maria.
Teorias Cognitivas
As Teorias da Aprendizagem salientavam o que entrava na caixa (estimulo) e o que sai dela
(resposta). As Teorias Cognitivas iluminam a caixa negra ao valorizar os elementos do interior, pois são
eles que impõem a percepção do mundo exterior. O seu objecto de estudo são as emoções e cognições.
Autores importantes: Gestalt - Kohler e Koffa.
A investigação tem também frisado as atribuições causais, isto é, a forma como as pessoas
usam a informação para determinar as causas do comportamento social, como se fossem cientistas
ingénuos (exemplo: porque é que o namoro da vizinha acabou?).
Contributos:
- explicam situações que parecem incompreensíveis (exemplo: O resultado de diferentes atitudes perante
um 14 em duas pessoas (uma reagiu bem e outra reagiu mal) no exame de Social está relacionado com a
percepção do resultado do exame – o que variou foi o significado do esforço despendido e não na nota em
si, objectivamente, pois isso é imutável.
- Aplicação em estudos de formação de impressões de outras pessoas; teorias de mudanças de atitudes;
teorias da consistência cognitiva.
Procurar-se-ia explicar como é que um elemento do casal percepciona o outro, para tentar explicar o
namoro.
Princípios:
Presta pouca atenção aos determinantes individuais do comportamento, pois o indivíduo é visto como um
produto da sociedade e como um elemento que contribui para essa sociedade, sendo assim posta uma
maior ênfase em amplas redes sociais.
Termo Central: Papel - posição ou função que um indivíduo ocupa no seio de um determinado contexto
social. Uma pessoa pode desempenhar simultaneamente muitos papéis que são guiados por determinadas
expectativas que os outros têm acerca do comportamento e por normas internalizadas no decurso da
socialização.
Contribuições:
- Mostra como a pessoa pode mudar de comportamento quando muda a sua posição social.
- Suscitou várias mini-teorias: Investigações sobre normas sociais e processos de comunicação.
- Revisão do conceito de doente mental: a doença mental é muitas vezes aprendida, da mesma forma que
se aprende um papel numa peça de teatro.
- Estudo do autoconceito, da autoconsciência (como nos tornamos conscientes de nós próprios),
autovigilância (observar o modo como as pessoas se percepcionam umas às outras), gestão de impressão
(modo como as pessoas riam impressões especificas e positivas acerca de si).
× No caso da Maria e do Manel ter-se-ia em conta os papéis que desempenham – a transição do Manuel e
Maria de filho e filha, para marido e esposa, pai e mãe, gestor e psicoterapeuta. Entrarão estes papéis
em conflito? Que expectativas de cada um em relação ao outro?
Comparação de teorias
DIMENSÃO TEORIAS DA APRENDIZAGEM TEORIAS TEORIA DO PAPEL
COGNITIVAS
CONCEITOS Relações Estímulo-resposta, Cognições, Papel e expectativa
CENTRAIS Reforço Estrutura cognitiva
1ª Fase: A formação do grupo, a atracção no grupo em relação aos membros do próprio grupo
(endogrupo) e normas do endogrupo.
Calor Competência
+ + Reagimos positivamente a essas pessoas, com orgulho porque são do nosso
grupo
- + Reagimos com inveja a essas pessoas (exemplo: ricos)
+ - Reagimos com pena dessa pessoa (exemplo: deficientes)
- - Reagimos com repugnância a essas pessoas que consideramos as piores de todas
(exemplo: drogados)
Experiência de Harris e Fishe (2006) – os três primeiros grupos apresentam actividade em áreas do
cérebro que envolvem pensamentos sociais (pensam activamente nessas pessoas), ao passo que o quarto
grupo era visto como menos humano. De facto, depois de verem imagens, os sujeitos tinham maior
actividade cerebral em resposta nos 3 primeiros grupos do que no quarto – “não vale a pena pensar neles”
Discriminação
(Comportamentos)
Estereótipos Preconceitos
(Crenças) (Atitudes)
Será que as crianças também são racistas? Segundo Allport o racismo é perspectivado como sendo um
problema só de adultos e de adolescentes. Um estudo com crianças do Porto partia da hipótese que as crianças
preferem a pessoa branca à pessoa negra. Por exemplo, as crianças achavam mais fofinho o ursinho branco e a
rapariga branca da imagem como mais feliz. As crianças preferiam não só a cor branca como a pessoa branca,
não havendo diferenças entre sexo, mas sim entre idade já que crianças com oito anos avaliavam ainda mais
positivamente o branco, do que as com cinco anos. Em Moçambique e em Lisboa os resultados mantinham-se.
Contudo, segundo a genética não existem diferenças entre os seres humanos
Segundo a professora Madalena Barbosa a discriminação das mulheres tem uma conotação histórica, pela
divisão do trabalho em que estavam encarregues do trabalho doméstico, como a limpeza por exemplo. Quando
essas actividades foram industrializadas a mulher perde importância, passando a ser vista apenas como um
meio de procriação – os homens de modo a assegurar descendência assumiram o controlo sobre a mulher.
A discriminação face aos homossexuais ainda perdura pela limitação de certas liberdades principalmente
desde que aumentou o conhecimento publico da SIDA.
José Barros defende que, no sentido de minimizar o preconceito deveria haver uma maior informação
escolar, pois a aprendizagem escolar é muito importante na medida em que quanto maior o numero de
disciplinas como a formação cívica, menor é o preconceito e maior é a tolerância.
É difícil diminuir o preconceito, mas não é por isso que se deve desistir.
Definições
Preconceito: Pode ser definido uma atitude favorável ou desfavorável (embora este conceito possa ter
uma conotação positiva ou negativa, nos países ocidentais ele adquire essencialmente uma conotação
negativa) em relação a membros de determinado grupo, que resulta sobretudo na pertença a esse grupo e
não propriamente a características particulares de cada membro. (exemplo: o preconceito sexual surge se
um sujeito é avaliado tendo em conta a sua pertença a um grupo particular (masculino ou feminino) e não
tanto por traços individuais)
- “O preconceito étnico é uma empatia baseada em generalização errada e inflexível. Pode exprimir-se
ou sentir-se. Pode dirigir-se a um grupo como um todo ou ao individuo que pertence a esse grupo” –
Allport
- “Atitude negativa em relação a um grupo definido socialmente e em relação a qualquer pessoa
percepcionada como pertencente a esse grupo” – Ashmore
- “Generalização errada de uma categorização de um grupo (estereótipo) para um membro individual
de um grupo, independentemente da veracidade do estereótipo e da aplicabilidade da categorização do
estereótipo ao individuo em questão” - Jones
É importante distinguir:
Endogrupo - é composto pelos sujeitos que consideramos pertencerem ao nosso grupo de
pertença e com quem temos tendência a identificarmo-nos. É o nós.
Exogrupo - é composto por todos os sujeitos que uma pessoa caracterizou como membros de um
grupo de pertença diferente do seu e com quem não tem tendência a identificar-se. É o eles.
O preconceito é importante, porque pode levar comportamentos que podem trazer implicações não
só na vida quotidiana, como também no próprio bem-estar da sociedade. O facto de definir-se o termo em
questão como uma atitude traz consigo duas implicações:
- O preconceito pode ser utilizado como tendo uma conotação negativa mas também positiva.
- Tem três componentes:
* Componente afectiva: refere-se a sentimentos preconceituosos experienciados em
face de membros de grupos específicos ou então porque se pensou nesses grupos.
* Componente cognitiva: refere-se não só a crenças e expectativas acerca dos
membros desses grupos, como à forma como são processadas as informações acerca desses membros.
* Componente comportamental: tendências de acção em relação a esses grupos.
Os termos “preconceito” e “discriminação” estão muito interligados, podendo-se gerar um ciclo vicioso em
que a discriminação confirma as crenças iniciais (exemplo: um banco não contratar um negro por este ser
“preguiçoso e imoral” A miséria a que fica sujeito por não ter emprego é que potencia a imoralidade e
passividade).
Um nível mais baixo é ainda proposto por Duckitt) – as expressões comportamentais subtis e indirectas
de interacção grupal (o tom de voz, menos contacto ocular, interpretações enviesadas)
Os indivíduos que estão num nível não tem necessariamente de avançar para o próximo, mas quanto
maior for a actividade nele, maior a probabilidade de passar.
Foi a antilocução de Hitler que levou os alemães a evitarem os amigos de outrora, o que tornou mais
fácil aplicar leis de discriminação, que estiveram na base de ataque a sinagogas ou ataque de
violência nas ruas. O passo final dessa progressão foram os fornos de Aushwitz – o extermínio.
Racismo
Qualquer atitude, acção, ou estrutura institucional que subordina uma pessoa por causa da sua cor”. Assim
sendo, envolve o preconceito e discriminação e pode ser pessoal, institucional ou cultural.
crença de que a falta de sucesso das pessoas utilizar termos raciais depreciativos,
não brancas se deve a inferioridade genética promulgação de estereótipos raciais
lei e política definidas de uma perspectiva dos candidatos políticos não brancos são líderes da
brancos sua etnia e candidatos brancos são líderes de
todos
na ciência a contribuição dos brancos é mais as contribuições de outros grupos raciais não
importante e a melhor obtêm sucesso nem projecção
a execução da lei é mais severa para pessoas brutalidade policial, sentenças mais severas
negras para os mesmos crimes
A noção de raça tem a sua origem na biologia e designa uma espécie geneticamente distinta das
outras. Verificou-se em genética que as diferenças que existem entre os indivíduos classificados na mesma
raça são mais importantes que as diferenças entre raças. Por isso, não se pode aplicar o termo raça aos
seres humanos.
No passado a tendência era para categorizar a raça em três tipos: amarela, branca e negra. Essa
discriminação com base na cor da pele persiste:
negros mais claros tendem a discriminar os mais escuros;
brancos tendem a discriminar todos os negros incluindo negros que são mais claros
Grupo étnico - conjunto de pessoas que têm antepassados comuns pertencentes a uma mesma
cultura e sentimentos comuns de identificação a um grupo distinto. O preconceito que tem na base
distinções étnicas designa-se por etnocentrismo.
Sexismo
Forma de preconceito e discriminação com base no género e encontra-se muitas vezes ligado aos
estereótipos. Ensina-nos os mecanismos pro-sociais associados ao preconceito em geral. São as mulheres
as mais afectadas, apesar de haver 1/2 de probabilidade para ambos os sexos, já que só existem dois.
Viés face-ismo - quando os meios de comunicação focam o sexo masculino é a sua face o mais
valorizado, enquanto nas mulheres é o seu corpo, o que vem transparecer que na nossa cultura enfatiza-
se a vida mental ligada aos homens e por outro lado, a aparência física ligada às mulheres. Quanto se dá
maior proeminência à face, melhor é a avaliação de competência.
Oportunidades desiguais de educação: Segundo o princípio da conservação físicos do séc. XIX
consideravam que as mulheres não deveriam prosseguir nos estudos, porque para estudar seria
necessário concentrar muitas energias, que elas necessitavam para o desenvolvimento dos órgãos
femininos mais importantes, como são o caso dos da reprodução, elas não deveriam estudar. No entanto,
Consequências:
Suscitam diferentes expectativas sobre homens e mulheres
Restringem a realização mediante a diminuição da auto-confiança das mulheres
Produzem atribuições diferentes sobre as realizações dos homens e das mulheres
Heterossexismo
Tem origem no advento do Cristianismo que impõe normas morais sobre o comportamento desviante.
Sistema de crenças culturais, de valores e de hábitos que exalta a heterossexualidade e critica e
estigmatiza qualquer forma não heterossexual de comportamento ou de identidade, isto é, é um
preconceito contra homossexuais, lésbicas e até bissexuais.
Registam-se diferenças entre os heterossexuais relativamente ao preconceito contra a
homossexualidade. Os heterossexuais que exprimem atitudes contra a homossexualidade tendem a:
Ser mais homens do que mulheres
Ser muito religiosos e pertencer a organizações religiosas conservadoras
Ter amigos que também apresentam atitudes negativas
Ter preconceitos raciais e ser autoritários
Ter tido menos contacto pessoal com homossexuais e lésbicas
Idadismo
Estudo recente devido ao facto de a esperança média de vida tem vindo a aumentar (um pouco mais
para as mulheres), o que gera um progressivo aumento da população idosa e com ela um acréscimo dos
encargos sociais. O peso desproporcional faz com que os jovens tenham de assumir a responsabilidade de
tratar dos problemas dos idosos, as percepções que os jovens têm dos idosos desempenharão um papel
importante no modo da sociedade tratar os problemas.
Um estudo intercultural de Neto, 1992, veio revelar que, relativamente à atribuição de características
psicológicas e de traços de personalidade, nos 19 países que fizeram parte da amostra:
Há uma tendência para as pessoas idosas serem vistas de modo mais favorável do que os jovens.
Uma tendência para as pessoas jovens serem vistas como sendo mais fortes que as idosas.
Os jovens são mais activos que os idosos.
Haverá alguém que escape de preconceito? Há uma tendência de utilizar todos os modos possíveis
para dividir as pessoas em categorias sociais que servem de base para preconceito e discriminação:
pessoas baixas, gordas, religião, com deficiência.
Técnicas para medir o preconceito, atendendo ao facto de as pessoas não admitirem ter preconceitos
Pode acontecer que as pessoas possam não querer relatar o que verdadeiramente pensam ou
sentem ou podem até não estar conscientes disso. Os psicólogos sociais dão então cada vez mais atenção
a manifestações implícitas das crenças, tentando chegar a elas por certas técnicas:
Bogus pipeline – uma máquina em que as pessoas estão ligadas por eléctrodos que supostamente regista
os verdadeiros sentimentos. Dado que as pessoas não querem ser apanhadas a mentir, este método
suscitaria respostas honestas a questões sensíveis. Estudantes universitários brancos avaliavam os negros
de modo mais negativo quando se recorria a esta técnica.
Tempo de reacção – não se fazem perguntas directas, é medida a velocidade com que se responde a uma
questão. Num estudo, sujeitos brancos carregavam num botão sempre que concordassem com o
emparelhamento de adjectivos quer positivos, quer negativos com as palavras branco e negro. Os
resultados mostraram que os sujeitos não associaram explicitamente negros com termos negativos e
brancos com termos positivos. Dado que se leva menos tempo a reagir a estímulos com as atitudes já
existentes, o resultado sugere que os sujeitos estavam mais predispostos a associar traços positivos com
brancos do que com negros.
Abordagens Históricas
Quer estas abordagens, quer as referidas anteriormente abordam factores e forças sociais que
levam ao preconceito e à discriminação. Exemplo: o aumento da urbanização - actualmente as cidades
não são vistas como locais óptimos de habitação pois não se verificam relações entre as pessoas, paira a
violência e a insegurança. Isto pode levar os habitantes citadinos a culpabilizar, por exemplo, a presença
de um determinado grupo minoritário, que passa a ser o símbolo de todos os problemas numa
determinada cidade.
Abordagens Situacionais
Este tipo de abordagem examina os factores do meio imediato da pessoa que causam o preconceito.
Segundo estas teorias o facto de se conformar aos outros traz consigo uma forte influência no preconceito.
O preconceito nas crianças forma-se logo na infância através dos processos de reforço directo e de
modelagem em contacto com os pais, outros adultos e colegas.
Mudanças que, ao longo do tempo, ocorrem nos estereótipos, são muitas vezes o reflexo de
factores situacionais, como foi o caso dos chineses que emigraram para a Califórnia. No início eram tidos
como bons trabalhadores, pessoas sérias, poupadas... Todavia, com a alteração das condições
socioeconómicas deixaram de ser considerados conforme o descrito anteriormente e tornaram-se
indesejáveis para os habitantes daquela cidade, passando a ser “sujos, fechados, misteriosos”.
Abordagens Psicodinâmicas
O preconceito resulta dos próprios conflitos e desadaptações dos indivíduos. Para se modificar o
preconceito e discriminação devemos focalizar-nos na pessoa com preconceitos.
Característica Comum: externalização – o individuo trata com os seus problemas e conflitos pela
descarga ou projecção noutros indivíduos, não reconhecendo que a causa dos seus problemas é interna e
não externa.
Alguns autores consideram que o preconceito é uma forma de agressão e que resulta da
frustração. O preconceito pode diminuir em situações de ameaça partilhada como um ciclone em que,
ao passo que este aumenta quando se refere a ameaças pessoais. Por exemplo, o preconceito contra
as minorias étnicas é agressão deslocada que resulta das frustrações pessoais de trabalho e condições
de insegurança económica. Esta interpretação é conhecida como a hipótese do bode expiatório do
preconceito (Miller e Bugelski, 1948) – solicitaram aos sujeitos uma atitude em relação a vários
sujeitos, em que metade deles era frustrados por não se lhes permitir visionar um filme desejado que
lhes disseram que iam ver. Novamente solicitadas as atitudes face a grupos minoritários o preconceito
aumentou no grupo experimental dos frustrados, face ao grupo de controlo.
Hipótese: A pessoa etnocêntrica tem preconceitos contra todos os que são estrangeiros a ele. De
facto, Os sujeitos que apresentaram fortes preconceitos para com os judeus tinham também fortes
preconceitos contra os negros e grupos minoritários. Além disso, os resultados levaram a que Adorno et al
pensassem que havia uma ligação entre ideologia política e personalidade.
Construção da Escala F (fascismo), com base na teoria freudiana, para medir as tendências
antidemocráticas dos sujeitos, constituída por 9 componentes: convencionalismo, submissão autoritária,
agressão autoritária, anti-intracepção, superstição e estereotipia, poder e “dureza”, destrutividade e
cinismo, projecção e repressão sexual. Cada resposta positiva era indicadora de personalidade autoritária.
Personalidade anti-autoritária.
Críticas
Todas as questões estão formuladas na mesma direcção, pelo que pode haver o fenómeno da
condescendência, isto é, a tendência que muitas pessoas manifestem concordância com qualquer que seja
a coisa que se diz.
Artificialidade de Correlações Elevadas nas três escalas – as escalas de atitude estavam mal construídas,
pois só utilizavam questões que se correlacionavam com o anti-semitismo
Características tidas como fulcrais na definição da pessoa autoritária podem variar de país para país,
reflectindo tendências de doutrina de mercado livre ou igualdade – os russos autoritários opõem-se ao
lassez faire, mas apoiam a igualdade, ao passo que os americanos autoritários impõe exactamente oposto.
Contudo há um aspecto em que são muito semelhantes: o preconceito contra as minorias
Não se podem sobrestimar os factores de personalidade em detrimento dos sociais (Pettigrew) – estudou
duas regiões dos EUA (norte, sul) e África do Sul. O norte dos EUA tinham menos preconceito contra
negros que no sul, embora a escala F previsse quase os mesmos resultados. Os preconceitos existentes no
Sul não se explicavam por uma maior proporção de autoritários. Resultados da África do Sul vao no
mesmo sentido.
Abordagens cognitivas
Os preconceitos não resultam da realidade objectiva da situação, mas na forma subjectiva de processar essa
informação, os processos cognitivos.
1. Categorização social
Tajfel (1970) mostrou que só a pertença a um grupo, na ausência de competição real, era uma
condição suficiente para a discriminação intergrupal, de modo favorável para o endogrupo e desfavorável
para o exogrupo (experiência: adolescentes expressavam a sua opinião sobre pinturas modernas. Era-lhes
dito que eram inseridos num grupo que tinha as suas preferências – o grupo Klee ou Kandinsky e pedia-se
para dividirem recompensas monetárias pelo seu grupo e o outro. Mesmo postos no paradigma grupo
mínimo, em que nunca tiveram contacto real para conhecer o grupo e a tarefa não tem consequências, o
grupo favorecido era o seu à custa do outro – o preconceito advém da percepção em que categorizamos)
Para além da percepção influencia a memória. Park e Rothbart encontraram que os membros do
endogrupo tendiam a ver os membros do exogrupo como sendo mais homogéneos e menos diferenciados
que os membros do endogrupo. O favoritismo pelo endogrupo é ainda explicado pelo facto do elemento se
avaliar em relação ao grupo para encontrar uma identidade social positiva.
2. Os estereótipos
Tendência para assumir a homogeneidade do exogrupo - há uma maior semelhança entre membros
dentro de exogrupos que dentro de endogrupos, que os elementos de grupos onde não estamos inseridos
são todos iguais (exemplo: as mulheres dizem… “Homens, são todos iguais!”). As pessoas estão
geralmente conscientes de diferenças muitas vezes subtis entre pessoas dos seus grupos, sendo mais fácil
formar estereótipos para o exogrupo (experiência: em duas universidades mostrava-se um vídeo de um
outro estudante a tomar uma decisão. Quando lhes era dito que o individuo era da sua instituição os
sujeitos generalizavam mais o comportamento desse elemento do exogrupo para o seu grupo, do que
quando esse elemento era da sua instituição).
Correlação ilusória - Consiste em percepcionar uma relação que não existe realmente entre pertença a
um grupo e o facto de possuir certos traços inusitados (experiência: Sujeitos liam o enunciado sobre o
comportamento de dois grupos. Havia duas vezes mais enunciados que descreviam o grupo A. Como o
grupo B tinha duas vezes descrições os actos indesejáveis apareciam simultaneamente e chamavam a
atenção por ser mais raro. O grupo B, minoritário, foi sobreavaliado no comportamento negativo. Depois
de efectuada a associada a informação subquente será enviesada na mesma direcção – viés no
processamento de informação). Isto é grave pois actos muito negativos tendem a ser raros e observações
de membros minoritários são mais raras que observações de membros maioritários (exemplo: o
assassinato é raro, mas aparece nas primeiras páginas dos jornais, principalmente quando é um Cabo
Verdiano aparece mais vezes associada a nacionalidade. Já quando é um português o acontecimento é
menos particular e mais frequente, pelo que já não é tantas vezes referida a nacionalidade. Alimenta-se
uma ilusão de que há uma forte correlação nacionalidade/assassinato. Ao adquirir-se a crença,
julgamentos futuros serão influenciados por ela). Os mecanismos cognitivos que levam a correlações
ilusórias colocam minorias em desvantagem em termos de como são tratadas nos nossos estereótipos.
3. Atribuições
É o processo de explicar o comportamento. Se este processo foi influenciado por preconceitos, pode
haver duas consequências:
Erro irrogável da atribuição - as pessoas com preconceitos apresentam tendência para manifestarem
este tipo de erro, que não é mais do que uma extensão do erro fundamental da atribuição. O 1º erro
referido sugere que quando as pessoas com preconceitos vêem o alvo do preconceito a executar uma
acção negativa, tendem a atribuí-la a traços estáveis dos membros dos grupos minoritários. Porém quando
um membro de um grupo minoritário é visto a executar uma acção positiva, ela não é atribuída a
disposições internas, mas sim a outros factores pouco lisonjeiros e vitoriosos: sorte, factores situacionais
que estão fora do seu controlo, alta motivação para o sucesso e esforço extraordinário.
4. Crenças Sociais
Alvo do preconceito
A fonte do preconceito foi até agora posta no observador, mas será que os estereótipos são descrições
certas dos alvos dos preconceitos? Após revisão bibliográfica pôde tirar-se 2 conclusões:
a) parece certo que os estereótipos do endogrupo são mais certos que os dos exogrupos, que
reflectem mais exagero
Certos autores referem que existe um fundo de verdade dos estereótipos, pelo menos em
pessoas que tem o mínimo contacto com o outro grupo. Preconceito e hostilidades intergrupais
Ao longo dos anos têm sido propostas várias teorias para explicar o preconceito (anos 50 – personalidade,
anos 60 e 70 – socioculturais). Mais recentemente a abordagem cognitiva tem apresentado um contributo
importante para a compreensão e explicação do preconceito. Apesar disso depara-se com muitos limites já
que não contempla os factores afectivos nas relações intergrupais.
Duckitt tentou integrar esta abordagem noutras teorias para fornecer uma explicação mais completa do
fenómeno do preconceito:
A complexidade do problema não levou os psicólogos sociais a desistir dele. Pelo contrário, ao serem
agentes de mudança importa compreenderem as consequências e atenua-las. A pior consequência remete
para o extermínio como o dos oito milhões de judeus no período anti-semita.
Allport, 1954, identificou 15 consequências possíveis que as pessoas que são alvo de preconceitos podem
passar: afastamento; passividade; militância; agressão contra o exogrupo; auto-agressão…
Intrapunitivas - tratam-se de defesas que implicam auto-culpabilidade (os elementos dos grupos
minoritários que a apresentam são hostis para o seu próprio grupo).
Extrapunitivas - tratam-se de defesas em que a culpa é projectada para os outros (os indivíduos de
grupos minoritários que possuem este tipo de defesa tornam-se fieis ao seu próprio grupo e manifestam
agressividade em relação a outros grupos).
Tajfel e mcKirnon (1984) avança três tipos de respostas: 1) resignar-se á situação ainda que com
remorso 2) tentar libertar-se em sociedade ou 3) agir colectivamente para melhorar o estatuto do grupo.
criaram um modelo com 5 estádios que mostra como os grupos tratam com o preconceito e uma posição
não favorecida na sociedade:
relações grupais claramente estratificadas,
emergência de uma ideologia individualista
O racismo tem efeitos em todas as pessoas, sejam elas vítimas os próprios racistas ou até mesmo os
seus observadores. A imersão de pessoas numa rede social racista torna difícil para qualquer pessoa
branca evitar a sua influência, e tem efeitos principalmente sobre as crianças:
ignorância das outras pessoas;
desenvolvimento de uma consciência psicológica dupla e confusão moral;
conformidade ao grupo.
Terry defende que o racismo mina e distorce a mente dos brancos, fazendo com que muita coisa fique
fora do seu controlo. Os brancos estão profundamente feridos com o racismo, então as barreiras sociais
erigidas são um mecanismo de defesa.
Essas barreiras vêm restringir aspectos quotidianos da sua vida como divertir-se.
Há ainda pesadas consequências emocionais: culpa, vergonha, sentir-se mal.
A redução do preconceito e discriminação, por vezes adoptados pelos próprios elementos do grupo, passa
por 3 métodos abordados pelos psicólogos sociais:
Tomada de consciência
Da pertença a um grupo minoritário: Tornar os membros do grupo minoritário sensíveis às
influências opressivas que pesam sobre as suas vidas, assegurando-lhes um meio de defesa colectiva.
Processo de tomada de consciência segundo Mednick (1975)
1. o sujeito sente insatisfação com a sua condição, podendo autocensurar-se, ganhando
sentimento limitado de controlo pessoal e de acção (exemplo: as mulheres consideraram que a
sua condição de dona de casa é miserável e podem sentir-se infelizes).
2. Se ganha consciência ao reconhecer que o problema é partilhado enquanto grupo e não
causado por si, adquire um sentimento de igualdade e de competência.
3. Apercebe-se que pode exercer mais controlo como membro do grupo. A ideologia do agente
consciente propõe uma ideologia que lhe permita congregar as mulheres.
4. Pode então dirigir uma acção contra o sistema.
5. Com a reacção do sistema há aumento do sentimento de controlo pessoal.
De distinções: A maior parte das vezes acabamos por processar informação de modo automático
e passivo, fiando-nos nas categorias que estão à nossa disposição, em vez de fazermos formulações novas
– falta de atenção. Se encontramos uma pessoa pertencente a um grupo minoritário, as nossas reacções
podem ser polarizadas por essa característica. Se prestarmos mais atenção às pessoas muito
provavelmente aceitamo-las com maior facilidade – paradoxo: quanto mais discriminamos os outros,
menos os consideramos membros de uma categoria abstracta (experiência: os sujeitos que foram postos a
A hipótese do contacto
Poderá o preconceito ser reduzido ao aumentar o grau de contacto entre diferentes grupos? A ideia de
que pode baseia-se não tanto na personalidade do indivíduo ou nas suas atitudes mas sim no
desenvolvimento de uma nova identidade grupal. Se se desenvolveu uma hostilidade autista e os grupos
estão de costas voltadas cada um vê-se com razão Com o aumento do contacto, o exogrupo deixa de ser
estranho e parece mais diferenciado, podendo a discriminação ser reduzida.
Apesar dos resultados da investigação nem sempre isso se verifica pois não basta simplesmente juntar
os grupos. (exemplo: judeus e nazis viveram várias décadas juntos)
Condições necessárias:
1. Igualdade de estatuto: a interacção deve ocorrer em contextos onde os membros dos grupos
tenham estatutos aproximados (exemplo: um gestor com preconceitos para com as mulheres não
deixa de o ter para com a empregada de limpeza só pelo facto de contactar com ela. A diminuição
do preconceito só é evidente se também a mulher for gestora)
2. Intimidade de contacto entre membros de dois grupos, sendo que, para isso, a interacção deveria
ser face-a-face e manter-se durante um longo período de tempo. Quanto maior, menor o
preconceito, já que se individualiza o individuo, em vez de o estereotipar.
4. Normas sociais que favoreçam a igualdade - As normas sociais são um factor determinante, bem
como os líderes que devem orientar para a não tolerância da discriminação e reformulação de
normas que promovam as diferenças. (exemplo: tensões ligadas à raça, ao sexo e orientação sexual
tem sido atenuadas com sucesso em muitos locais de trabalho, quando os supervisores tornam claro
que afirmações preconceituosas e acções discriminatórias não são toleradas.
experiências: mulheres brancas foram seleccionadas para trabalhar com mulheres negras num jogo
de gestão de empresas. Acabaram por criar estreitos laços e a generalizar essa diminuição do
Conclusão: Juntar simplesmente os grupos não fará desaparecer, na sua totalidade, o preconceito,
mas também conservá-los separados também não ajudará.
Críticas:
É difícil conjugar todos estes factores: o turismo ajuda a maior contacto entre nações, mas se tal
não for vivenciado à janela do autocarro não surte efeitos.
Ênfase colocada na mudança de atitudes preconceituosas do grupo dominante e a subvalorização
das atitudes dos membros de grupos minoritários. É importante considerar também as atitudes e crenças
dos grupos minoritários e as crenças e ansiedade das pessoas envolvidas (exemplo: o grupo minoritário
pode ter receio de ser vitimizado e o grupo maioritário pode ter medo de fazer algo que seja interpretado
como preconceito. Por si só a ansiedade torna-se um obstáculo)
DeForges estuda a atitude de estudantes em relação a doentes mentais, em situações experimentais que
os estudantes julgavam estarem separadas.
1ª Fase:
Medem atitudes dos estudantes em relação a antigos doentes mentais numa escala desde o
extremamente positivo ao extremamente negativo. Os estudantes apresentam também uma lista com
adjectivos que caracterizem esse grupo e outros que podem não caracterizavam em nada.
A Psicologia Social do Género surgiu aquando os movimentos feministas nos finas dos anos 60 e
investiga o género enquanto norma social promovida pela cultura e nossas tendências naturais de
processamento de informação. (exemplo: o pai e o filho tem um acidente de automóvel. O pai morre, o
filho vai para o hospital em estado grave para ser operado. É chamada uma pessoa famosa para fazer a
operação. Ao chegar à sala onde se encontra o rapaz essa pessoa exclama: “Não o posso operar, é o meu
filho!”. Como é que isto é possível? – pessoas que respondem que é o pai adoptivo, o padrasto, uma
reencarnação ou um erro estão erradas, pois a resposta é mais simples: a pessoa em causa é a mãe do
rapaz. Revela-se a força do estereótipo que os cirurgiões são homens.)
Sexo – estatuto biológico que divide as pessoas em homens ou mulheres em termos genéticos
(cromossomas, órgãos reprodutores, hormonas). Não é uma variável em que há um amplo leque de
diferenças indivíduos – ou se é homem ou mulher.
Preferência sexual - ser heterossexual, atraída pelo sexo diferente, ou homossexual, atraída
pelo mesmo sexo. Tem também um amplo comportamento de papéis de género.
GÉNERO E CULTURA
A investigação intercultural pode ser valiosa ao evidenciar diferenças de género entre culturas (exemplo:
no Paquistão as mulheres tem uma roupa própria e na Suécia há o estilo unissexo)
Estereótipos - sistemas de crenças que se atribuem a grupos simplesmente pela pertença a esse grupo.
Essas generalizações ajudam a dar sentido num meio social complexo.
Estereótipos de género: referem-se a sistemas de crenças a propósito dos homens e das mulheres,
podendo-se conceptualizar a dois níveis:
Estereótipos dos papéis de género Ideologia do papel de género - crenças acerca dos papéis
adequados a homens e mulheres (exemplo: é apropriado os homens dominarem as mulheres?)
Estereótipos dos traços de género - constelações de características psicológicas que se pensa
caracterizarem os homens mais ou menos frequentemente que as mulheres (homens – agressivos)
Papéis de género: actividades com significado social em que os dois sexos participam actualmente com
frequência diferente (exemplo: os trabalhos de construção civil devem ser executados por homens, o que
se pode explicar pelos estereótipos dos traços de género – os homens são mais fortes, robustos)
(experiência: Deaux e Lewis mostraram que uma categoria de informações estereotipadas influenciava
fortemente os julgamentos acerca das outras categorias, pois com base em adjectivos os estudantes
avaliavam a probabilidade da pessoa descrita em traços desempenhar um determinado papel masculino ou
feminino, trabalho masculino ou feminino, aparência masculina ou feminina e preferência sexual).
Se os estudos de William e Best não prevêem tendências de conhecer melhor um estereótipo feminino do
que um masculino, tal não acontece em crianças brasileiras (Terrier) e portuguesas (Neto), que conhecem
melhor o estereótipo feminino, talvez porque o papel dominante na educação em ambas as culturas que
são próximas seja o da mãe, enquanto nos EUA é tanto a mãe como o pai. Essa semelhança só se acentua
Mudanças
Os movimentos feministas tiveram algum impacto tipo de nos estereótipos tradicionais? É difícil de
concluir, pois os estudos efectuados tanto dão uma resposta positiva como uma resposta negativa
Sim
Os estereótipos atenuaram-se - Num estudo com 10 anos com a primeira fase antes dos movimentos
feministas, a segunda a coincidir com o seu advento, e a terceira já depois concluiu-se, ao fim do período
dos dez anos que havia um aumento de crença em oportunidades iguais para homens e mulheres e divisão
de tarefas domésticas.
Mudou a forma de encarar os estereótipos ainda que eles perdurem – estereótipos anteriormente tidos
como negativos soa agora vistos como positivos, principalmente nas mulheres.
Outros estereótipos se juntaram para além dos tradicionais - (exemplo: mulher – ambiciosa)
Atribuições de sucesso e fracasso – uma revisão de mais de uma centena de estudos mostrou uma
fraca evidência de que as pessoas em geral avaliam o trabalho dos homens de modo mais positivo o
trabalho equivalente realizado por mulheres. Apesar do viés avaliativo poder não ser tao frequente
existe uma tendência humana para reclamar o sucesso e recusarem o fracasso. Além disso, homens
atribuem o sucesso mais a factores internos e mulheres a factores de sorte., ao passo que para o
fracasso as mulheres atribuem a falta de capacidade e os homens a má sorte. Ao se atribuir a máxima
de que o que é capacidade para o sexo masculino é sorte para o sexo feminino, faz com que o homem
receba o crédito e a mulher um efeito negativo no seu self.
Saúde - técnicos de saúde mental, quer do sexo masculino quer do sexo feminino, percepcionaram
um adulto saudável do sexo masculino (activo, forte competitivo) quase como sinónimo de um adulto
saudável. Já o adulto saudável do sexo feminino (tido como submisso, excitável) era
significativamente diferente da pessoa adulta saudável. Conclusão: há a tendência a julgar-se a
adaptação em termos masculinos. Contudo, também pode ser positivo perceber-se estereótipos na
saúde (exemplo: os homens ao serem tidos como mais independentes sairão mais rápido de casa, o
que acarreta consequências para a ansiedade ao ter medo do fracasso e essa ansiedade pode reduzir a
esperança de vida dos homens, que é sempre mais baixa que a das mulheres. Waldrom indica que
75% das diferenças de expectativa de vida se devem ao papel do homem e não tanto à genética)
Profissão - o sexo feminino está sub-representado em quase todas as profissões com prestígio, não
tendo sobressaído no domínio científico. Um estudo de Fidell (1970) ao enviar currículos iguais,
excepto no sexo, para o mesmo número de empresas mostrou que aos homens se oferecia geralmente
uma posição mais elevada que às mulheres, que muitas vezes ficavam em posições rotineiras. Os
homens são assim favorecidos para trabalhos ditos masculinos, e as mulheres para trabalhos ditos
femininos, o que se pode dever ao valor subjectivo atribuído (exemplo: homens dão mais valor à
matemática e ela é necessária para altos quadros). A discriminação no trabalho é mais grave se for
um homem a executar um papel feminino, podendo ser mais punidos que as mulheres que
habitualmente os executam
COMPARAÇÕES DE GÉNERO
Quais são efectivamente as diferenças entre o comportamento do sexo masculino e feminino?
Diferenças Cognitivas
Ao compreender as diferenças cognitivas pode-se compreender os diferentes papéis atribuídos, bem
como relaciona-las com padrões de comportamento típico.
Não existem diferenças globais caso se avalie o QI, a criatividade e aptidão, mas há algumas
diferenças específicas
As mulheres têm maior capacidade verbal – principalmente a partir da adolescência em que existe
maior riqueza de vocabulário, fluência verbal, criação de analogias, criatividade de linguagem escrita.
Os homens tem maior sucesso em testes quantitativos e espaciais – o raciocínio não-verbal tem mais
sucesso, mas isso pode dever-se a influências ambientais, já que as raparigas são afastadas da
matemática, e pode ser atenuado com o treino. Prova disso, é a diferença não aparecer na população
esquimó, em que rapazes e raparigas estão igualmente treinados para adquirir a capacidade espacial.
Diferenças emocionais
Depressão – A incidência da depressão nas mulheres é duas vezes superior aos homens. Mais que
tendências biológicas, Frieze sugere que isto se deve a uma maior tendência por parte das mulheres a
fazerem atribuições externas que internas sobre o seu comportamento, o que provoca um sentimento
de incapacidade em mudar, em controlar a situação – o desânimo aprendido que muitas vezes se
reveste de realidade, pois as mulheres tem menos controlo da sua vida do que os homens.
Bem-estar – Embora as mulheres evoquem mais o afecto negativo, também parecem experienciar
maiores alegrias, de modo que se encontra pouca diferença na satisfação global para ambos os sexos.
De facto, os estudos heterogéneos mostram resultados contraditórios e se existem diferenças elas não
são tao acentuadas como o caso da depressão, sendo difícil a interpretação. Em Portugal, só se
encontram diferenças a favor do sexo masculino em adolescentes (Neto).
Teoria da auto- O género é uma realização social que varia consoante os esquemas de género, o contexto e a
apresentação audiência.
GÉNERO E SELF
Género e auto-estima
A maior parte das revisões da literatura não encontraram diferenças consistentes na auto-estima
global de homens e de mulheres. Mas se a auto-estima global de pessoas adultas dos dois géneros não
difere, a natureza e os comportamentos em que se baseiam podem variar (exemplo: as mulheres têm
auto-estima mais baixa relativamente ao peso e a aparência). Contudo, deve-se realçar que conclusões de
que a auto-estima entre os dois sexos acaba por ser equivalente se baseia em estudos realizados nos EUA,
através de adjectivos conotados como negativos ou positivos a priori.
Encontraram-se alguns países com diferenças significativas – na Finlândia e Venezuela as mulheres
tendiam a descrever-se mais positivamente que os homens, ao contrário da Malásia e da Índia em que são
os homens a auto descreverem-se mais positivamente.
Parece haver uma tendência para as mulheres terem uma auto-estima mais elevada em
sociedades desenvolvidas economicamente e socialmente, com uma maior percentagem de protestantes
(em vez de católicos e muçulmanos), mulheres a trabalhar fora de casa e a frequentar universidades,
menos autoritárias e liberais no seu papel de género.
Género e Personalidade
Seja qual for o factor, a verdade é que muitas pessoas possuem traços de personalidade relacionados
com o género.
As primeiras escalas de masculinidade-feminilidade - tradicionalidade
Assentavam em dois postulados fundamentais:
Comportamentos, atitudes e interesses masculinos e femininos são bastante coesivos no seio
das pessoas e masculinidade e feminilidade são polos opostos de uma só dimensão bipolar- as
características são mutuamente exclusivas e não se podem encontrar na mesma pessoa
Criticas:
Atitudes, traços e interesses masculinos nem sempre são coesivos
O conteúdo da masculinidade-feminilidade, tal como os estereótipos é multidimensional, pelo
que nem sempre é bom para uma mulher ter um alto score na sua feminilidade tal como os
homens para a masculinidade.
Androgenia
Nos anos 70 surgiram vários novos métodos para avaliar os papéis de género propuseram que
masculinidade e feminilidade deveriam ser medidas com escalas separadas e independentes.
Consideravam que as pessoas não deviam ser encorajadas a comportar-se de acordo com padrões
antiquados, em vez disso deveriam ser flexíveis (andróginos) nos seus papéis de género. Sandra Bem
(1974) desenvolveu o “Bem Sex-Role Inventory” (BSRI) que fornece scores numa Escala de Masculinidade
e numa Escala de Feminilidade para cada pessoa que se avalia. Os resultados poderiam levar a 4
categorias de pessoas:
Ata masculinidade
Masculino Andrógino
Alta feminidade
Baixa feminidade
Indiferenciado Feminino
Baixa masculinidade
O BSRI e outros métodos de medida da androginia foram utilizados em centenas de estudos sobre papéis
de género o que revelou a complexidade da questão:
Homens masculinos e mulheres femininas tinham tendência e escolher uma actividade estereotipada para
o seu género, mesmo que lhes pagassem menos; pessoas andróginas eram mais flexíveis
As pessoas andróginas ajudavam mais alguém que estivesse a sufocar do que homens masculinos e
mulheres femininas
Criticas:
A relação entre altos scores de androginia e comportamento é geralmente fraca.
Além disso, uma pessoa que é andrógina numa situação pode não ser noutra.
Os items avaliados nestas escalas, apesar de negarem os papéis de género, tendem a focalizar os
items masculinos nas realizações e os femininos na expressão de sentimentos, o que só vai medir uma
parte limitada do comportamento relacionado com o género.
Ter padrões simultâneos de masculinidade e feminilidade é irrealista para a maioria das pessoas
Sugere que a solução para o viés quanto ao género está na mudança individual, contudo também é
importante melhorar a situação e não só os indivíduos.
5 técnicas para combater os efeitos de se viver numa cultura estereotipada quanto ao género
Criar meios neutros quanto ao género para as crianças de modo a encorajá-las a participar em
jogos mistos (meninas a jogar futebol e rapazes a jogar à macaca).
Ensinar pelo exemplo, pois como as crianças também apreendem os estereótipos através da
observação devem ter modelos igualitários, não havendo tarefas mais ou menos apropriadas para
o género (pais a lavar a louça, mães a cortar a relva, etc…).
Ensinar à criança a diferença entre género e sexo, explicando que esta diferença biológica só
acarreta restrições num leque limitado de comportamentos, como a reprodução, não significando
isso que não possam realizar actividades que determinadas pessoas considerem apropriadas a um
sexo.
Vigiar o divertimento das crianças nos meios de comunicação social, avaliando criticamente os
programas onde são expostos estereótipos quanto ao género e o tempo de exposição que potencia
a interiorização (exemplo: até os filmes da Disney são marcadamente estereotipados.
Na busca activa da igualdade a sociedade nunca deve estar estagnada. Cada vez mais, homens e
mulheres procuram a igualdade. É um processo em curso, não finalizado.
Mesmo se têm ocorrido amplas mudanças societais nas atitudes, valores e comportamentos, o que é
certo é que a maior parte de nós pensa que idealmente a vida inclui interagir. Aparecem, então as
relações íntimas nas mais variadas formas.
Natureza da intimidade
As noções de intimidade podem ser reagrupadas em 4 temas principais:
Uma necessidade, variando de pessoa para pessoa, exprimindo-se por uma preferência por
relações em que há muito calor e troca com outra pessoa.
Uma capacidade pessoal, de certo modo estável, em se comprometer perante a outra pessoa e
aceitar os sacrifícios que a manutenção de compromissos acarreta.
Um processo em que duas pessoas tentam aproximar-se uma da outra e estabelecem uma
interdependência
Os elementos característicos que distinguem as relações íntimas das restantes (intensidade do
sentimento, nível de compromisso, relação que se quer longa, interdependência complexa entre
duas pessoas, quantidade e qualidade da informação revelada).
Auto-revelação
É a vontade em revelar factos e sentimentos íntimos a alguém e desempenha um papel fundamental. É
mais provável de acontecer em pequeno grupo do que em grande grupo e para que pessoas que
consideramos atractivas ter como amigas. Ocorre de forma gradual.
Funções da auto-revelação:
Facilita a auto-expressão e propicia uma oportunidade para desabafar
Promove a auto-clarificação porque nos fornece uma oportunidade para pensar e compreender os
nossos próprios pensamentos e sentimentos
Oferece validação social porque obtemos retroactivamente dos outros a aprovação e a normalidade
dos nossos sentimentos
Fornece-nos controlo social, pois podemos escolher o que e quanto revelamos
Diferenças de género - Numa meta-análise de 205 estudos, verificou-se que as mulheres tendem,
ligeiramente, a auto-revelar-se mais que os homens, sendo esta tendência moderada por vários factores.
A auto-revelação para ambos os sexos ocorre mais para uma mulher que a um homem. Mulheres têm
mais facilidade de auto-revelação para com pessoas que conhecem, ao passo que os homens têm mais
facilidade com pessoas estranhas. O mito de que há grandes diferenças de género deve deixar de ser
perpetuado.
Vinculação pais-filhos
A vinculação à mãe ou a qualquer outra figura faz com que o contacto entre mãe e bebé evite
qualquer separação que ponha em causa a sobrevivência do bebé (Bowlby). A tendência para encontrar
contactos íntimos é, então, uma componente fundamental e já se encontra no recém-nascido. Bowlby
avança que os modelos de interacção aprendidos aquando relação mãe-bebé afectam os comportamentos
ultra interiores.
Parentes íntimos
Há a percepção que com a adolescência os pais são pelos jovens rejeitados. Contudo, a maioria dos
adolescentes continua a sentir sentimentos positivos, apesar de se tornarem menos próximos e
dependentes.
Num estudo de Jeffries o amor dos filhos pelos pais assenta em duas componentes básicas de amor
aos pais com 5 factores:
atracção em relação aos pais
o admiração – respeito e estima por eles
o confiança - confiar na sua integridade
o companhia: gostar da companhia deles
o intimidade: auto-revelar-se e partilhar com eles
o proximidade emocional: identificar-se com as suas alegrias e tristezas
virtude nos filhos
o caridade – ajudar, perdoar e tolerar os pais
o justiça – cumprir obrigações e respeitar os seus direitos
o prudência – usar a razão para benefício
Avós: jovens adultos referiram que se sentiam próximos de pelo menos um dos avós, com quem
gostavam de estar e se sentiam amados.
Irmãos: a interacção com irmãos é uma oportunidade de praticar habilidades sociais. Existem
sentimentos de amor/ódio que se podem vir a experienciar noutras relações mais tarde.
AMIZADE
Laços de amizade com os familiares são diferentes daqueles que se criam com os colegas. Ao
passo que a relação com os parentes não é voluntária, já a relação com os colegas faz-se de forma
voluntária e mutuamente satisfatória.
Hays (1988) definiu a amizade como “interdependência voluntária entre duas pessoas ao longo do
tempo de que se esperta que facilite objectivos sócio emocionais dos participantes, e pode envolver vários
tipos e graus de companhia, intimidade, afeição e assistência mútua”.
Auhagen aponta características: relação diádica, emocional, envolvendo reciprocidade e atracção
mútua, e que é voluntária com longa duração, positiva na sua natureza e não envolve de modo explícito
sexualidade.
Paul Wright (1984) distingue:
a amizades superficiais (são formadas e mantidas porque são recompensadoras)
amizades desenvolvidas (baseiam-se não só nas recompensas como também em assuntos mútuos
para o bem estar de cada um dos amigos)
Há seis regras específicas que contribuem para manter a amizade do mesmo sexo:
Defender o amigo na sua ausência.
Partilhar notícias de sucesso com o amigo.
Mostrar apoio emocional.
Confiar no outro.
Ajuda voluntária em caso de necessidade.
Esforçar-se ao máximo para fazer feliz o amigo enquanto está na sua companhia
As amizades com o outro sexo são um pouco diferentes (pelo menos entre heterossexuais). Estas
são mais difíceis de estabelecer e suscitam desafios tais como a atracção sexual
AMOR
Contudo, hoje reconhece-se que o amor tem um impacto considerável na nossa vida social e tem
influência no casamento e divórcio (experiência: quando nos anos Kephart interrogou os jovens se
casariam sem amor se o parceiro tivesse todas as características, a maior parte dos homens respondeu
negativamente e s mulheres mostraram-se indecisas. Com réplicas do estudo revelou-se que homens e
principalmente mulheres viam no amor um pré-requisito para o casamento, chegando quase aos 90%. Em
Portugal, Neto encontrou os mesmos resultados, sem diferenças significativas para o sexo)
Se o amor é uma emoção… O que é uma emoção? Constructo orientado para a acção organizada que é
evocado por avaliações de acontecimentos em relação a interesses. Isso implica que o amor seja mais do
que um sentimento. Ao ser um modo de pensar e agir em relação a outra pessoa, traz consequentes.
A experiência do amor
A investigação pôs em evidência diversos pensamentos, sentimentos e comportamento que estão
associados ao amor romântico, que mudam no tempo e no local.
Pensamentos
Estudantes percepcionavam que a pessoa amava o parceiro mais pela solicitude do que pela
vinculação (se as pessoa não mostram solicitude de nada serve a vinculação). Por ordem de importância
quanto ao peso no amor: solicitude, vinculação e intimidade.
Comportamentos
Comunicamos o nosso amor por comportamentos (exemplo: pôr aliança, andar de mãos dadas). Os
comportamentos que pessoas de diferentes idades pensam estar mais associados ao amor são:
afirmações verbais de afeição como “Amo-te”
comunicar não verbalmente sentimentos como felicidade
auto-revelação
sinais não materiais de amor
sinais materiais de amor como prendas
expressões físicas de amor como acariciar, olhar, abraçar, beijar (ordenação dos 4 actos mais
importantes segundo uma amostra portuguesa)
fazer sacrifícios para manter a relação
Estudantes universitárias portuguesas (Neto) consideraram como actos ligados ao amor romântico:
acariciar, olhar, beijar, abraçar e fazer amor
Nas escalas de amor e amizade para o sexo feminino a correlação entre elas era baixa, ao passo que
para os homens era mais elevada, o que sugere que as mulheres discriminam de melhor forma amor e
amizade do que o sexo feminino.
Para confirmar os seus resultados observou a totalidade de olhares trocados pelos pares enquanto
esperavam numa sala – os pares com scores mais altos na escala do amor passava mais tempo a olhar-se
nos olhos. Apesar dos seus resultados mostrarem que amizade e amor são experiências qualitativamente
diferentes, outras investigações não encontraram distinções tão claras.
Este modelo foi testado por Dutton e Aron (1974) num estudo em que se mediam as reacções a
uma atraente entrevistadora e um entrevistador por homens que atravessavam uma de duas pontes: uma
assustadora ponte suspensa e uma ponte vulgar. Quando abordados era pedido que preenchessem um
questionário (que media a activação fisiológica) e depois era dado o contacto para o caso de haver dúvidas
relativamente ao estudo. Ordem de activação fisiológica: experimentador masculino, mulher atraente na
ponte segura e mulher atraente na ponte suspensa. A mulher na ponte perigosa foi significativamente
mais contactada. Esta teoria também sugere uma explicação para o que se tem chamado Efeito Romeu e
Julieta, ou seja, pares que experienciam uma forte interferência dos pais no seu relacionamento tendem a
ter mais amor um pelo outro que os pares onde há pouca interferência. A interferência dos pais pode
aumentar o nível geral de activação o que pode ser rotulado como sendo devido ao aumento de paixão de
um pelo outro.
À medida que duas pessoas constroem uma relação satisfatória criam relações íntimas em termos
de bons amigos e companheiros em vez de intensidade dos seus sentimentos. As relações permanentes
entre casais heterossexuais evoluem tipicamente do amor apaixonado para o amor companheiro. Um
inquérito com pessoas casadas baseada nas escala de amor romântico e amizade de Rubin mostraram que
os scores de amor estavam correlacionados negativamente com a duração do casamento o que denota o
esmorecer do amor romântico. A amizade não se altera
Amor companheiro: a afeição que sentimos por aquelas pessoas com quem as nossas vidas estão
profundamente entrelaçadas, que tem uma tonalidade emocional mais moderada e onde o valor e a
afeição são mais comuns que as paixões extremas. Crê-se que o amor companheiro fornece os alicerces
para as relações a longo prazo.
Estilos de amar
A dicotomia amor romântico e companheiro pode, por vezes, ser muito reducionista. Assim sendo, Lee
propõe seis estilos de amar:
Secundários – ortogonais. derivados da mistura dos primários e logicamente interrelacionados, não deixam
de ser muito diferentes destes qualitativamente, pois são a sua transformação qualitativa:
Vantagens
A maior parte das teorias uni factoriais ou bifactoriais podem ser transportadas para um ou mais
estilos de amor
A teoria sugere uma abordagem muldimensional poderosa para medir o amor
Segundo Lee, dado as suas amostras serem suficientemente grandes e diversificadas, tal permitiu-
lhe identificar os principais estilos de amor na cultura ocidental.
Hendrick e Hendrick desenvolveram escalas quantitativas que permitiam medir o perfil do estilo de
amar de cada pessoa. Concluiram que os pares tendiam a ser semelhantes no estilo de amor e que o estilo
de amor estava correlacionado com a satisfação – eros e Storge positivamente e Ludus negativamente
Hendrick e Hendrick levantaram ainda a questão de se saber se os estilos de amor medem traços de
personalidade ou atitudes mais passageiras. Lee pensava ser possível ter relações de um tipo com uma
pessoa e de outro tipo com outra pessoa sendo então o tipo de amor determinado relacionalmente, não
sendo uma faceta da personalidade, mas também o considerava como uma tipologia, o que é sinónimo de
traço. Os dados portugueses (Neto) vão nos dois sentidos – existem diferenças nas atitudes de amor
relativamente a variáveis da pessoa como auto-estima, solidão, embaraço, mas também existem
Existem três componentes principais do amor que podem ser vistos como formando os vértices de um
triângulo:
componente intimidade inclui sentimentos de proximidade e união nas relações amorosas (neutra nos
compromissos a curto prazo e muito importante nos a longo prazo);
componente paixão refere-se aos impulsos e fontes motivacionais e de activação que levam à atracção
física, à sexualidade (muito importante nos compromissos a curto prazo e moderadamente importante
nos compromissos a longo prazo);
componente decisão/compromisso refere-se ao compromisso em manter esse amor, incluindo os
factores cognitivos da tomada de decisão (pouco importante nos compromissos a curto prazo e muito
importante nos a longo prazo).
A partir destas três componentes, Sternberg identificou oito espécies de amor, dependendo da presença
ou ausência de cada componente:
As acções suscitadas por cada um dos três componentes do amor diferem no modo de expressão,
de pessoa para pessoa, de situação em situação e de relação em relação (exemplo: intimidade – pela
comunicação de sentimentos interiores, pela oferta de apoio emocional e material; paixão – beijar, olhar
ou abraçar; compromisso – fidelidade, casamento ou permanecer numa relação em momentos difíceis)
Vinculação Emocional
As primeiras relações que teríamos com os nossos pais determinariam as relações futuras. Hazan e
Shaver propuseram que as relações amorosas dos adultos seriam semelhantes às vinculações infantis em
3 aspectos:
Vinculação infantil e amor adultos partilham características comuns, tais como intenso fascínio pelo
outro, mal-estar aquando da separação, esforços para manter proximidade…
Perturbações no amor podem também intervir no trabalho. As pessoas seguras davam valor às
outras no trabalho e estavam satisfeitas. As pessoas esquivas podem empenhar-se no trabalho, não por
gostarem dele mas porque é uma oportunidade de evitar problemas em relações, tal como os ansiosos que
não gostam de trabalho a não ser que vejam nele uma oportunidade de obter amor.
Literatura mais recente assente em modelos básicos do nosso mérito ou desmérito ou mérito e
desmérito dos outros sugere que existem dois tipos de pessoas esquivas: as que rejeitam a importância
das relações e se empenham em ser independentes e auto-suficientes e as que desejam ter relações mais
têm medo de serem feridas pelo parceiro.
Um estudo que comparava os atributos medidos por cinco instrumentos faz com que os autores
concluem que o amor é demasiado complexo para se encaixar em categorias de modo estanque e
invariável.
Género
Um dos mitos culturais muitas vezes defendidos é que os homens são mais insensíveis, acerca do
amor, que as mulheres, talvez por causa da associação da instrumentalidade aos homens e da
expressividade às mulheres. Vários autores construíram escalas para medir o romantismo e, geralmente
encontrou-se o contrário: os homens aderem mais à ideologia do romanticismo (o amor como fonte de
selecção, amor à primeira vista, amor verdadeiro e terno) que as mulheres, embora tenda a diminuir com
Personalidade
Algumas variáveis da personalidade foram relacionadas com a propensão para experiências amorosas:
Locus de controlo interno/externo: pessoas com locus de controlo interno afirmam com menos
frequência terem estado apaixonadas do que as externas e também se opunham mais
frequentemente a uma visão idealista do amor que as pessoas com locus de controlo externo.
Contudo não se diferenciavam na intensidade do amor.
Auto-estima e nível de defesa (Dion e Dion): pessoas com alta auto-estima (sentem-se bem com
elas próprias) e baixa defesa (queriam admitir ter pensamentos e sentimentos que os outros podiam
não aprovar) referiram com mais frequência estar apaixonadas e também amar sem ser amadas do
que pessoas com alta auto-estima e alta defesa. Normalmente, sujeitos com scores elevados em
Eros tinham mais alta auto-estima, enquanto sujeitos com elevados valores em Mania tinham baixa
auto-estima - confirmado em Portugal por Neto. Também os sujeitos lúdicos tinham maior auto-
estima, pois parece ser preciso um ego forte para encarar o amor como um jogo.
Ansiedade: foram encontradas correlações positivas e significativas entre ansiedade traço e estado,
e resultados numa escala de amor.
Autovigilância: as pessoas com elevada autovigilância perspectivam com sucesso o seu próprio
comportamento para criar o efeito desejado em determinadas situações. O seu comportamento vai,
então, variar de acordo com a situação - estudantes tendiam a adoptar uma orientação
descomprometida em relação ao namoro (os parceiros exclusivos só duravam em media 11 meses e
referiam querer ter outras interacções sociais, tendo maior score de múltiplos parceiros), escolhendo
pessoas de acordo com características exteriores e reconhecendo que o parceiro investia mais na
relação do que eles. Ao contrário, as pessoas com baixa autovigilância tentam mostrar as suas
próprias atitudes pouco se importando com a situação sendo por isso o seu comportamento mais
constante - estudantes tendiam a adoptar uma orientação comprometida e intimista em relação ao
Determinantes situacionais
Características da situação susceptíveis de suscitarem amor na mesma cultura, no mesmo sexo e mesma
personalidade, experiências muito diferentes no amor:
Activação – quer com efeitos positivos (exemplo: situações activantes como tempo de guerra ou
fim da época de exames podem levar ao surgir do amor, inclusive homossexuais que leram um
texto activante declararam amar mais os companheiros que os sujeitos que não leram um texto
insípido), quer com efeitos negativos (exemplo de Goldberg et. Al: quando eram sujeitos
visualizavam imagens de pessoas do sexo oposto nuas, declaravam sentir menos amor pelo
parceiro)
Diferenças:
O amor romântico é altamente valorizado nas culturas menos tradicionais em que as famílias
nucleares são a fonte primária dos laços adultos e menos valorizados nas culturas em que as redes de
parentesco são fortes. Em geral, os sujeitos Japoneses referiram de forma significantemente mais baixo a
atitudes que valorizavam o amor romântico que os sujeitos alemães. Os sujeitos americanos
posicionavam-se no meio entre estas culturas (Simmons et al.). Quando, posteriormente, se distinguiu
americanos e franceses, os franceses mostraram-se mais galantes e ciumentos (como modo de manifestar
humor) e atribuindo uma componente mais irracional. Os americanos eram mais pragmáticos
relativamente ao amor e casamento. Estudantes japoneses, noutro estudo, demonstraram ser menos
românticos.
Estudo de Buss et al. (1990) em 33 países e de análise multidimensional tinha por objectivo
conhecer quais as características que as pessoas valorizam nos potenciais companheiros. Chegou-se à
conclusão de que os efeitos culturais explicam melhor a variância (que é maior9 do que para os feitos do
género.
Castidade – Países colectivistas (China, Índia, Indonésia, Irão) deram muita importância à
castidade, ao contrário de países individualistas (Suécia, Finlândia, Noruega, Holanda)
Análise multidimensional - Dimensão 1: Desejo de casa e crianças, boa cozinha, chefe de
família, boas perspectivas financeiras e estatuto social favorável mais valorizadas pelas
culturas ocidentais. Dimensão 2: valorização de inteligência e cortesia (Espanha, Colômbia,
Grécia e Venezuela) vs personalidade agradável (Indonésia, Estónia e Japão) também
diferiam.
SEXUALIDADE
É um domínio recente na Psicologia importante, já que até pouco tempo era considerado assunto tabu (os
astronautas chegaram primeiro ao espaço antes deste assunto ser falado. Ainda assim, não deixa de ser
um objecto de estudo importante enquanto comportamento social, pela interacção que proporciona.
Amor e a sexualidade
Pode haver sexo sem amor (culturas ocidentais) e amor sem sexo (culturas tradicionais onde os
casamentos são arranjados), pelo que não devem ser considerados sinónimos.
Podemos encarar a relação entre amor e sexo tendo em conta o objectivo do sexo, havendo 3
perspectivas:
atitudes procriativas – o impulso sexual tem por base, segundo os sociólogos, perpetuar a espécie
- dominante no mundo ocidental nos últimos cem anos
atitudes recreativas - procura do prazer, em que amor e sexo são independentes - dominante no
ocidente após segunda guerra mundial
atitudes relacionais - sexo e amor são dependentes – cada vez mais valorizadas no ocidente na
última década
Revolução sexual
Houve uma mudança para uma maior permissividade até aos anos 80 das atitudes sexuais e uma
mudança nos comportamentos sexuais (exemplo: tendência da representação explícita da sexualidade nos
meios de comunicação social). Esta mudança foi confirmada por vários estudos:
inquérito feito nos EU nos anos 70 (Morton Hunt) mostrou atitudes mais liberais e permissivas: mais
de 75% dos sujeitos de ambos os sexos achavam que as escolas deveriam educar sexualmente, mais
de 50% discordava que a homossexualidade, coito anal e o sexo oral eram maus, a maior parte da
amostra era favorável à prostituição legalizada e aos abortos legais.
Entre 1965 e 1970 (King et. Al.) a amostra de estudantes que via o sexo pré-conjugal como imoral
baixou de 33% para 14% nos homens e de 70% para 34% nas mulheres. Esta permissividade parece
aumentar com o nível de instrução, havendo menos culpabilidade.
Ao aumento da permissividade correspondeu uma alteração dos comportamentos sexuais (em 1966
era maior a probabilidade dos homens solteiros serem mais sexualmente activos que as mulheres, mas
apesar da frequência ter aumentado para ambos os sexos, em 1981 era maior a probabilidade de as
mulheres se envolverem em relações pré-matrimoniais). Hunt (1974) comparou a sua amostra com os
resultados de Kinsey e encontrou uma maior frequência na masturbação, um aumento para as relações
pré-conjugais antes dos 25 anos, maior incidência de sexo oral, etc.
Em geral, os estudantes da Inglaterra eram mais permissivos que os dos EUA que, por sua vez, eram
mais permissivos que os estudantes do Canadá e Alemanha.
De todas as mudanças, a mais relevante foi para as mulheres, em vários países, daí ser uma
verdadeira revolução (exemplo: permissão para mostrar o corpo, na praia).
Variações culturais
Em Mangaia, uma ilha na Polinésia a sexualidade é vivida de forma bem diferente. Depois da
circuncisão o rapaz é instruído sobre como estimular varias vezes o orgasmo sem ejacular. Uma vez
cicatrizada a circuncisão o rapaz tem aulas laboratoriais em que complementa o ensino teórico sobre
modos de satisfazer as mulheres. É importante que este aprenda bem as lições, caso contrário, pode
ganhar a reputação de amante inepto. As mulheres também são instruídas porque o seu comportamento
sexual é mais valorizado que a aparência física. As relações pré-conjugais são habituais e não existe
pressão para a mulher se casar com o pai do filho. Já as relações extraconjugais não são admitidas a não
ser que um dos parceiros se ausente por um longo período de tempo da ilha.
Parece que mesmo um dos actos mais biológicos sofre alterações com a cultura. Ford e Beach:
Masturbação – reprovada em grande parte das culturas
Homossexualidade – é considerado um comportamento normal em 64% das culturas, sendo que
em Siwans na África e Kerakis na Nova Guiné é anormal não ser bissexual.
Beijar – apesar de ser um comportamento que acompanha relações intersexuais em muitas
culturas, 7 das culturas analisadas nunca a utiliza. Quando os Africanos do Tonga viram duas
pessoas a beijarem-se disseram “olha para eles, comem a saliva e a porcaria uns dos outros”)
Posições sexuais – se a posição do missionário parece ser comum, há 7 posições muito utilizadas e
nenhuma delas é utilizada em mais do que um quarto em culturas revistas.
PROBLEMAS RELACIONAIS
Lee (1984) a partir das respostas a um inquérito de indivíduos que tinham acabado o seu relacionamento
avançou cinco estágios para o fim de uma relação romântica:
1. descoberta do problema
2. exposição do problema
3. negociação do problema
4. forma de resolução
5. transformação da relação
Segundo Hill, Rubin e Peplau (1976) homens e mulheres referiam tipos comuns de razões para a
deterioração da relação:
aborrecimento
Análises de semelhança, referiram
atitudes e interesses diferentes que os casais mais próximos em
idade, instrução, atractividade física,
desacordo acerca do sexo e do casamento
cultura permaneciam juntos.
desigualdade de inteligência
As mulheres pareciam mais susceptíveis a terminar a relação do que os homens, o que parece ir
contra os estereótipos. Os homens tendem a sentir-se mais deprimidos, sós e infelizes, parecendo haver
três vezes mais de possibilidade de os homens se suicidarem após o amor falhado.
As pessoas confrontam-se com as suas relações conflituosas de diversos modos, mas têm sido
identificadas 4 tácticas que emergem de maneira consistente (Rusbult e Zembrodt, 1983):
Expressão – discutir problemas, sugerir soluções, tentar mudar-se a si e ao parceiro muitas vezes
com ajuda terapêutica.
Lealdade – esperar que as coisas melhorem
Negligência – evitar o parceiro, recusar discutir os problemas, criticar o parceiro por coisas que
não estão relacionadas com o problema real e procurar relações extraconjugais
Saída – separar-se formalmente, deixar a residência conjunta e obter o divórcio.
Activa
Saída Expressão
Destrutiva Construtiva
Negligência Lealdade
Passiva
O sujeito pode decidir activamente terminar o relacionamento ou trabalhar para melhorá-lo, ou as
pessoas podem esperar de modo passivo que o fim ou o melhoramento cheguem. Ou seja, existem duas
dimensões:
A utilização destas tácticas varia de acordo com a personalidade e do compromisso para com a
relação, sendo que pessoas mais satisfeitas e comprometidas com a relação utilizam a expressão e
lealdade. Ao passo que pessoas com alternativas usam as tácticas negativas (saída e negligencia), que
terá efeito em experienciar mais stress na relação. A expressão pelo contrário será a melhor estratégia a
utilizar com relativamente menos problemas relacionais.
Se a dissolução é longa e dolorosa ou relativamente rápida depende da atracção que os dois sujeitos
sentem (Lee, 1984). Assim, uma relação muito amorosa que acaba acarreta mais desprazer, medo e
solidão que uma relação com mais fracos laços emocionais.
Há investigação que sugere que os homens sofrem efeitos mais adversos da relação, o que se
pode dever ao apoio que encontram na amizade, já que a amizade dos homens é caracterizada
de “lado a lado” (os sujeitos têm actividades de camaradagem e comum, mantendo um certo
distanciamento de assuntos íntimos), ao passo que a das mulheres é chamada de “face a face”
(os sujeitos tendem a estabelecer auto-revelação emocional, desabafando os seus problemas).
Ciúmes
Os ciúmes vão para além de uma simples experiência desagradável. São uma complexa combinação
de experiências
Cognitivas - consistência de uma ameaça real ou imaginária à relação.
A análise das três componentes dos ciúmes mostrou que os ciúmes emocionais e comportamentais
estão relacionados com pessoas que não estão satisfeitas com a vida, já que mesmo não tendo uma
representação de ameaça podem existir sentimentos negativos ou acções comportamentais numa situação
que evoque o ciúme.
Não parece existir diferenças quantitativas quanto ao género, mas sim qualitativas:
Mulheres – reconhecem os ciúmes, autocensuram-se, deprimem-se e exibem cada vez mais
comportamentos dependentes.
Homens – reagem aos ciúmes por negação ou de modo zangado e competitivo - o “Efeito galo”:
reacção competitiva em que os homens sentem-se mais tocados pelo rival que pela companheira.
O mito de hemafrodite é uma explicação poética da necessidade do homem em não estar só, dado
que “nenhum homem é uma ilha intacta” (John Donne).
O tema é pertinente, pois se o Homem é um ser social não pode viver sozinho. Ainda assim, é
difícil existir um ser humano que nunca experienciou uma situação de solidão, seja por sair do país, seja
por entrar numa nova escola. A solidão é um fenómeno muito frequente na população – 26% dos
Americanos declararam sentir-se muito sós ou afastados das pessoas durante as ultimas semanas
(Bradburn). Talvez 10% da população sofra de solidão grave e persistente (Peplau e Perlman).
Até aos anos 70 esta temática não foi muito trabalhada, o que se pode explicar:
pelo estigma social ligado ao estudo da solidão - existe a ideia de que artistas e cientistas são
mais susceptíveis à solidão (exemplo: a obra comedor de batatas de Van Gogh mais do que uma critica
social à classe dominante holandesa é um reflexo da solidão do artista, na medida em que ao lavradores
do quadro apesar de estarem próximos fisicamente estão distantes emocionalmente). No caso dos
cientistas estudar a solidão pode ser olhado com desconfiança por parecer ser despoletado por problemas
pessoais não resolvidos
por ser difícil manipular e criar a condição experimental de solidão – o método de eleição dos
psicólogos sociais é o laboratório que confere maior validade aos estudos, contudo para este caso o melhor
poderá ser recorrer a instrumentos que mensurem a solidão na vida quotidiana.
O que é a solidão?
Definição:
Se para a maioria das pessoas o significado é intuitivo, é difícil definir solidão de forma unânime por ser
um conceito que varia conforme a abordagem teórica subjacente, não havendo uma única definição,
embora quase todas se centrem na natureza da solidão como deficiência social. Exemplos:
“é uma experiencia excessivamente desagradável e motriz ligada a uma descarga desadequada da necessidade
de intimidade humana” (Sullivan)
“um desejo de interacção presente do que se experiencia no presente” (Lopata)
“é causada pela ausência de um parceiro social apropriado que possa ajudar na realização de objectivos
dependentes de outras pessoas” (Derlega e Margulis)
“experiência desagradável que ocorre quando a rede social da pessoa é deficiente nalgum aspecto, seja
quantitativo, seja qualitativo” (Perlman e Peplau)
“ausência ou ausência percepcionada de relações sociais satisfatórias, acompanhada de sintomas de mal-estar
psicológico que estão relacionados com essa ausência. Pode ser vista como uma resposta à ausência de
reforços sociais” (Young)
“condição estável de mal-estar que surge quando uma pessoa se sente afastada, incompreendida, ou rejeitada
pelas outras pessoas e/ou faltam parceiros sociais apropriados para as actividades desejadas, em particular
actividades que propiciam uma fonte de integração social e oportunidades para a intimidade emocional” (Rook)
“é causada não por se estar só, mas por se estar sem alguma relação precisa de que se sente necessidade, ou
um conjunto de relações.” (Weiss)
Formas de solidão
Classificação segundo …
A ansiedade (Moustakas)
Ansiedade-solidão - experiência aversiva que resulta de uma alienação básica entre homem e
Vs homem.
.
Ansiedade existencial - comum a todos os seres humanos, podendo proporcionar o auto-
crescimento por implicar momentos de auto-confrontação.
O tempo
Traço de personalidade (solidão crónica) - pessoas solitárias que referem uma longa história de
sentimentos frequentes e intensos de solidão (experiência Shaver et. Al: caloiros com
pontuações elevadas em solidão enquanto traço eram incapazes de aproveitar as
Vs
. oportunidades que o campus dava para conhecer pessoas – já sofriam de solidão antes de
entrarem na faculdade e continuavam a senti-la).
Estado psicológico (solidão situacional) - pessoas que experienciam a solidão durante
diferentes lapsos de tempo em diferentes momentos da sua existência. (os estudantes que não
tinham estado sós no secundário fizeram uma adaptação normal.
Défice social implicado (Weiss)
Solidão social - falta da rede social de amigos e de pessoas conhecidas
Solidão emocional - insatisfação por causa de uma relação íntima. É a forma mais dolorosa de
isolamento
Uma não implica a outra – exemplo: mudar-se para um país diferente, mesmo que se mantenha uma
relação íntima (solidão social), ou ter uma extensa rede social, mas sentir-se só porque falta a pessoa
amada (solidão emocional).
Modelo Sociológico
A solidão como normativa: distribuída normalmente na população. A causa da solidão é interpessoal,
fora do individuo, num acontecimento (exemplo: divórcio).
Riesman, Glazer e Denney – os americanos tornaram-se comandados (other directed) e procuram a
aprovação social, ajustando-se continuamente ao seu meio interpessoal para saberem como comportar-se.
As pessoas comandadas estão cortadas do seu self interno, seus sentimentos e aspirações.
Pelo contrário… Slater – o compromisso perante o individualismo na sociedade americana faz com que
cada um siga o seu caminho, levando à solidão.
Síntese comparativa:
Fim Trabalho clínico Trabalho clínico Trabalho clínico Análise social Trabalho clínico investigação
Natureza da - - + - - -
solidão patológica patológica universal normativa normal normal
interpessoais
Causas intrapessoais intrapessoais condição humana ambas ambas
(sociedade)
História
Infantil vs infantil corrente perpétua ambas corrente corrente
Corrente
AVALIAÇÃO DA SOLIDÃO
Duas abordagens conceituais para avaliar a solidão:
Abordagens multidimensionais: solidão é vista como um fenómeno multifacetado que não pode ser
apreendido só por uma medida global de solidão. Tenta diferenciar os vários tipos de solidão, em
vez de os unificar ´
Abordagens unidimensionais: solidão é encarada como um fenómeno unitário que varia sobretudo
na intensidade experienciada. Há temas comuns na experiência da solidão, apesar de alguns
temas particulares. É uma escala mais geral.
O instrumento mais utilizado na literatura (cerca de 80% dos investigadores) para se avaliar a solidão é a
Escala de Solidão da UCLA que se insere numa abordagem unidimensional. É um instrumento
psicométrico, de fácil utilização seleccionado de 75 itens da escala de Sisenwein que eram julgamentos
feitos por 20 psicólogos, tendo como critério de eliminação os julgamentos muito extremos (exemplo: a
televisão é a minha única companhia). Restaram então 25 itens, em que as respostas se situavam numa
escala de 4 pontos (“sinto-me muitas vezes deste modo” até “nunca me sinto desse modo”)
Para a testar aplicou se a escala UCLA a um grupo de voluntários e um grupo de estudantes.
Encontrou-se uma elevada consistência interna (coeficiente alpha.96), pois havia uma correlação elevada
entre o score total da escala da solidão e medidas de auto-avaliação da solidão havia diferenças
significativamente o grupo de estudantes e a amostra clínica e não havia relação com outros itens que não
estavam conceitualmente relacionados com a solidão (exemplo: sentir-me trabalhador”). A versão final
constou de 20 itens escolhidos com base nas correlações item-score total, a sua fidelidade e validade
comprovada por vários estudos posteriores.
No entanto, apresentava vários problemas:
O esforço de Russel e col. para desenvolverem uma escala de solidão adequada revestiram-se de sucesso,
já que a escala é relativamente curta, fácil de administrar, altamente fidedigna e mostra ser valida quer na
avaliação da solidão quer nos outros constructos relacionados. Outras escalas não tiveram tanto sucesso.
A UCLA foi utilizada em Portugal por Neto em 1987, com a mesma ordem de itens (exemplo: “não há
ninguém a que possa recorrer”) e escala de 4 pontos (“nunca”, “raramente”, “algumas vezes”, “muitas
vezes”) em 286 estudantes da Universidade do Porto, igualmente distribuídos em termos de sexo.
Verificou-se que:
Alto nível de consistência interna (coeficiente alpha de Cronbach elevado = .87) e validade da
escala (correlação negativa entre a solidão e o autoconceito; correlação positiva entre a solidão e a
ansiedade social)
Não há diferenças significativas entre o sexo masculino e feminino
A correlação da auto-avaliação acerca da solidão e nota global de solidão é significativa – os
sujeitos com pontuações mais altas na escala da solidão descrevem-se como sentindo-se mais sós
Ligação da solidão com estados emocionais (exemplo: abandonado, aborrecido, desvalorizados,
frustrado, rejeitado, envergonhado, deprimido e não com encolerizado ou sensível)
A validade externa foi aprovada num estudo com professores através da técnica da regressão
múltipla (stepwise) para determinar quais as variáveis sociodemográficas ou psicológicas que
prediriam melhor a solidão, pela inclusão de outras escalas (exemplo: satisfação com a vida, o
autoconceito, atribuição de responsabilidade e ansiedade). Verificou-se que a dimensão social do
autoconceito é o melhor preditor da solidão, sendo que encontramos predição significativa também
para a ansiedade social, satisfação social e nível de ensino que juntos explicam 40% da variância
da solidão. Contudo, o nível de ensino pouco acrescenta às variáveis psicológicas, o que leva a
concluir que são as variáveis psicológicas os melhores preditores de solidão nos professores.
A validade concorrente também é mostrada pela relação com as pontuações da escala e solidão
actual.
os jovens estão mais propensos a falar de solidão (fase da crise de identidade segundo a teoria
de Erickson).
os jovens passam por uma série de transições sociais (1º emprego, entrada para a faculdade...).
as pessoas mais idosas têm uma vida mais estável e adquirem ao longo do tempo determinadas
habilidades para lidar com a solidão, ou as suas expectativas podem mudar tornando-se mais
realistas.
Não é todavia de excluir que a solidão seja mais comum em idades mais avançadas.
Sexo
Na adaptação da escala de solidão de UCLA para Portugal não se encontraram diferenças significativas
entre os sexos, contudo isso parece contradizer a predisposição das mulheres para serem mais emotivas e
terem reacções mais negativas.
Contudo, inquéritos como os de Weiss encontraram essas diferenças, o que se pode dever à medida
utilizada – a UCLA avalia a solidão indirectamente como subjacente a determinados itens, ao passo que o
inquérito pergunta directamente se as pessoas se sentem sós, o que faz com que os homens possam ter a
tendência de serem mais verdadeiros nas suas respostas em medidas indirectas como a UCLA e a
autocensurarem a expressão directa da solidão que podem associar a um certo estigma. Essa resistência
dos homens está associada a estereótipos de que não se espera que os homens assumam as suas
fraquezas emocionais, pelo que estes terão a propensão a agir de acordo com eles.
Estado civil
As pessoas não casadas sofrem mais de solidão do que as que estão casadas e dentro destas - As
viúvas e as divorciadas sofrem mais do que as solteiras. Talvez porque a solidão está mais determinada
pela perca de uma relação do que pela solidão em si. As mulheres referem mais solidão, mas os homens
referem-na mais para situações de ruptura, perda de uma relação conjugal.
Outras características
Nível socioeconómico - a solidão é mais característica dos pobres que os ricos, pois parece que as boas
relações se mantém com tempo e dinheiro para actividades de lazer (Weiss). Contudo, em Portugal não
foram encontradas diferenças negativas.
Variáveis sociodemográficas: não há diferenças de solidão entre zonas rurais e urbanas, entre mudar
frequentemente de casa ou raramente, mas existem diferenças de solidão para os filhos de pessoas
divorciadas sentem mais a solidão antes dos 18 anos, e muito especialmente se ocorreu antes dos 6 anos.
A morte de um dos pais não tem esse efeito duradoiro.
Factores situacionais
Acontecimentos que reduzem a quantidade e a qualidade das relações.
Tipo de factores externos que contribuem para o desenvolvimento da solidão ao serem um
obstáculo a trocas sociais satisfatórias.
Menos contacto social (exemplo: viver sozinho, menos participação em actividades
socais, voluntariado, menos tempo contacto com família e amigos, mais tempo só);
Estatuto social em disponibilidade (solteiro);
Perca relacional/rejeição (exemplo: divórcio, viuvez)
Redes sociais inadequadas (exemplo: rede com densidade mais baixa de amigos,
namorados…);
Ter um fracasso;
Barreiras indirectas (exemplo: desemprego – tanto pela diminuição de interacção na
rede de trabalho como por existir menos dinheiro disponível para actividades o que pode até
causar vergonha e inibição social, pois mesmo o baixo rendimento em pessoas empregadas
está relacionado com a solidão, transportes inadequados)
Factores temporais (partes do dia, da semana, de estação).
Novas situações (exemplo: ir para a universidade constitui o primeiro afastamento da
casa dos pais, pelo que os caloiros são forçados a criar uma nova rede social e a renegociar
relações na sua terra. No estudo de Cultrona sair de casa dos pais para ir para a
Universidade era a principal causa de stress identificada, seguida por separações românticas
e problemas com os amigos. De facto, no Outono os caloiros tendiam a sentir-se mais
sozinhos do que no fim só primeiro ano, onde já tinham criado uma nova rede de amizade.
Apesar disso 1/5 dos estudantes permaneceram sós todo o ano, mas essa solidão devia-se
mais a factores pessoais. Verificou-se então, que a qualidade percepcionada de relações era
um melhor preditor do que a quantidade de relações em numero de amigos e namorados.
As antigas relações na terra diminuíram em número e em qualidade e assiste-se ao
rompimento de quase metade das relações românticas com a entrada na universidade e a
outra metade era avaliada de modo menos positivo. Os rapazes experienciaram mais stress
nas relações pelo facto de as raparigas preferirem rapazes mais velhos e os sentimentos
para com a família tornaram-se mais positivos).
Factores pessoais
Alguns sujeitos podem tornar-se solitários ou a experienciar a solidão durante longos lapsos de
tempo, tornando-as mais vulneráveis a factores situacionais. A solidão tem como consequência o
desenvolvimento de características pessoais que tornam difícil perceber quais as são as características que
a causam, mas seja qual for a razão causal, a investigação tem revelado que pessoas que dizem estar sós
agem de modo diferente do que as que não dizem.
Depressão – estudo que aplicam conjuntamente, por exemplo, a escala da depressão de Beck
mostram que pessoas que dizem que se sentem sós também dizem que se sentem deprimidas. Mas
Atribuições causais
As pessoas também tendem a explicar os motivos da sua solidão, pois julgam que compreende-la é o
primeiro passo para a prevenir ou modificar. Peplau e a sua equipa examinaram duas dimensões das
atribuições que fazemos porque estamos descontentes com as relações sociais: locus de causalidade
(interno vs. externo) e estabilidade (estável vs. instável).
Locus de Causalidade
Interno ou pessoal Externo ou situacional
Estável
Estou sozinho porque não sou amado. É deprimente; sinto um As pessoas por aqui são frias e impessoais, nenhuma
vazio. Sento-me à noite sozinho, a beber, a comer e partilha os meus interesses ou corresponde às minhas
Estabilidade
divertindo-me a mim mesmo com a televisão. expectativas. Estou farto deste lugar.
Estou sozinho agora, mas não será por muito tempo. Deixei de O meu namorado e eu separámo-nos. É o caminho que
Instável
me dedicar tanto ao trabalho e saio e conheço novas pessoas. as relações seguem hoje em dia; algumas delas
Começarei por telefonar à pessoa que conheci na festa de um resultam e outras não. Da próxima vez talvez tenha
amigo. mais sorte.
As pessoas diferem também nas acções que realizam para se confrontar com a solidão
Rubenstein e Shaver (1982), as quatro respostas mais comuns ao que faziam quando se
sentiam sós foram: ver TV, ouvir música, chamar um amigo e ler. As respostas foram
agrupadas em quatro tipos
Tipos positivos construtivos de Tipos negativos Positivo ou negativo
conforto potencialmente destruidores
contacto social solidão activa passividade triste gastar dinheiro
Chamar um Estudar Chorar é uma categoria única, pois
amigo Trabalhar Dormir tanto pode ser positiva para
Visitar alguém Ouvir ou tocar Ficar só quem o tem, e negativa
música Comer ou beber em demasia para quem não tem).
Passear Tomar tranquilizantes
A solidão estava correlacionada com a passividade triste e inversamente correlacionada com o
contacto social.
VARIAÇÕES INTERCULTURAIS
Existe pouca investigação cultural nesta área, apesar de ser importante para descobrir factores
associados á solidão, pois se numa cultura existe maior solidão do que noutra é porque de alguma forma
existem diferentes factores situacionais implicados.
Contudo, os dados disponíveis apontam para uma maior solidão em culturas orientais (japonesas e
chinesas em particular) do que nas ocidentais ou outras culturas.
Diferenças entre o nível de solidão de portugueses que nunca emigraram e jovens de origem
portuguesa residindo em França (Neto):
Não se encontraram diferenças para sexo, idade, religião, etc. Encontraram-se diferenças em
relação às atitudes de aculturação – os jovens emigrados cujas atitudes eram favoráveis á aculturação
mostravam mais integração e menos solidão, do que os que eram favoráveis à segregação e assimilação.
Os resultados apoiam explicações situacionais e pessoais.
Num outro estudo de Neto também não se verificaram diferenças entre jovens a viver em Portugal
com jovens que nunca emigraram. Contudo, os mais atingidos pela solidão eram jovens que apresentavam
uma maior identidade francesa e não portuguesa, que percepcionavam ser reconhecidos como emigrantes
e que perspectivavam voltar a França.
Uma vez que a pessoa pense sobre as situações sociais de uma nova maneira, aprende a interagir
melhor com as outras e muda os seus estilos interpessoais, o que leva a que percepcione de maneira
diferente as suas capacidades e assim tenha êxito na interacção que quebram os muros da solidão.