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Psicologia Social
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Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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1. Domínio da Psicologia Social

O Homem é um animal social – vive em grupo, inserido em culturas e sociedades. Desde que é
concebido até ao dia da sua morte influência e é influenciado pelos outros.
Objecto de estudo: os indivíduos enquanto animais sociais.
Esta área da psicologia é recente, uma vez que existe há cerca de 100 anos. Cartwright (1979)
afirma que 90% dos psicólogos sociais existentes desde a fundação da disciplina ainda estariam vivos,
pelo que é possível que essa percentagem não tenha reduzido assim tanto até aos nossos dias. No
entanto, muitos dos fenómenos estudados prevalecem desde as antigas civilizações, pois o
comportamento universal é revestido de aspectos universais. A psicologia social visa estudar o
comportamento dos indivíduos através de uma explicação psicossocial.
Tomando o exemplo de Van Gogh veremos que uma dada acção pode ser explicada de diversas
maneiras, consoante o olhar científico em causa. Precisamente o objectivo do questionamento científico é
escolher as vias alternativas para explicar o comportamento. A Psicologia Social é um domínio autónomo,
um dos muitos olhares, na compreensão desse comportamento, ainda que tenha contraído empréstimos
de outras disciplinas.

O QUE É A PSICOLOGIA SOCIAL?


Definir o campo de estudo da Psicologia Social não é fácil devido:

 À sua diversidade de domínios

 À rápida taxa de mudança (exemplo: Na Universidade de Harvard foram precisos 275 anos para
acumular um milhão de livros e, actualmente, apenas 5 para acumular outro milhão).

Nenhuma definição é tida como definitiva

Psicologia Social - “ A Psicologia Social tenta compreender e explicar como os pensamentos, sentimentos
e comportamento dos indivíduos são influenciados pela presença actual, imaginada ou implicada dos
outros” (Alport, 1985). Segundo esta definição de Alport, a psicologia social é encarada como uma relação
de entrada/saída, na qual as entradas são as presenças das outras pessoas (actuais, imaginadas ou
implicadas) e as saídas são as reacções do indivíduo (pensamentos, sentimentos e comportamentos).

Entrada: presença de outras pessoas

Presença actual – Carla e o rapaz Presença imaginada – ao Presença implicada – O rapaz


pelo qual está apaixonada, trocam relembrar, na manhã seguinte, pode não estar presente, mas
olhares. Carla tem o Carla volta a reconstruir o deixou na sala de aula o seu
comportamento de entornar a acontecimento e sentir o que caderno de apontamentos, o
bebida. sentiu ao ter o comportamento de que volta a remeter para ele e
entornar a bebida. para o ocorrido

Saídas: A reacção do individuo:


 Pensamentos: “ele pensa que eu sou estúpida”

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 Sentimentos: embaraço, vergonha
 Comportamentos: pedir desculpa

Nos últimos 100 anos ocorreram 2 mudanças importantes que tornaram a psicologia social
fundamental:
1. Aplicação do método científico ao k social humano, procurando descobrir relações de
causa-efeito, através da observação objectiva e da experimentação.
2. Multiplicação das relações sociais e potencialidades para a interacção social devido às
recentes viagens e comunicações em massa.

Video: The power of situation – www.leaner.org

A Psicologia Social estuda e explora contextos sociais e a influência das pessoas nos outros, as diferenças, os
sentimentos, e pensamentos que envolvam corpo e mente.

Lewin: Liderança - 3 líderes (cada um deles passava três semanas em cada um dos três grupos). Conclui-se
que no grupo com líder democrata havia maior motivação e eficácia, no de total liberdade (anarquia) verificou-
se o caos total e no líder autoritário maior submissão e também maior hostilidade.

Asch: Influência do grupo de super conformismo. Num grupo de sujeitos apenas um não era comparsa. Era-
lhes perguntado qual das linhas 1,2 ou 3 era igual a A. Nesta situação todos os sujeitos escolheram 1, mesmo o
sujeito ingénuo, que apesar de saber que a resposta estava errada, não foi capaz de contrariar a opinião do
grupo, foi conformista.

Milgram: obediência. Experiencia de choques eléctricos . Mesmo sabendo que podia matar a pessoa, o sujeito
continuava a dar choques para a obedecer à autoridade (semelhante ao que aconteceu na Alemanha Nazi). A
obediência não reside só na mente fascista, é inerente ao ser humano.

Quando queremos entender alguém não podemos apenas analisar o seu comportamento e personalidade, mas
também o ambiente/contexto em que este se encontra.

Limbardo: “Guardas e Prisioneiros” – O que acontece quando se põe boas pessoas em ambientes maus? Sera
que a humanidade vence a maldade? Partia do princípio do erro de atribuição, no qual as pessoas têm
tendência de atribuir a causa do comportamento a factores pessoais, esquecendo os situacionais. Depois
montada um contexto semelhante ao de uma prisão (inclusive com uma solitária para prisioneiros abusivos e
não havia qualquer relógio) um grupo foi aleatoriamente classificado de prisioneiros e outro de guardas, sendo
que só os guardas estavam autorizados a regressar a casa e tinham um certo grau de liberdade para decidir
determinadas normas de comportamento já que ninguém os ensinou a ser guardas. Depois de uma detenção
surpresa os prisioneiros foram levados para a prisão onde lhes foi comunicada a sua condição. Além disso
vestiram um vestido com o número de identificação, o que imediatamente fez com que se comportassem de
forma mais feminina, por exemplo, ao sentarem-se. A atribuição do número fazia com que os sujeitos se
sentissem anónimos e o gorro que tinham na cabeça substituía a cabeça rapada utilizada nas prisões normais
para minimizar a individualidade e maximizar o cumprimento das regras da instituição. Verificou-se uma fusão
de identidade com o papel atribuído – os indivíduos transformaram-se, os prisioneiros desenvolveram reacções
de stress, assumiram o seu número em vez do seu nome, alguns tiveram mesmo de ser libertados, mas nunca
nenhum disse “desisto da experiência”; os guardas tornaram-se agressivos, violando as suas próprias regras
quando ponderaram deixar um prisioneiro na solitária toda a noite e não só uma hora. Até o investigador
começou a agir como superintendente da polícia! Os sujeitos encarnaram de tal forma o papel que esqueceram
a linha que separava a realidade da experiência pelo que a experiência teve de terminar 6 dias depois e não 3
meses como estava previsto.
… Como foi possível que boas pessoas à partida fizessem coisas terríveis? Todos temos o bem e o mal
dentro de nós, que virá á superfície quando o contexto o exigir.
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Alan Miner: situações de emergência. Pilotos de avião foram sujeitos a testes de visão onde não conseguiam
identificar todas as letras. Contudo, quando colocados em situações de emergência, em que era crucial ler as
letras do outro avião (iguais e à mesma distancia que os testes de visão), foram capazes de as identificar. No
entanto, quando a situação não era suficientemente poderosa não melhoraram a sua visão – os factores
pessoais influenciavam o comportamento, mas não exclusivamente: os factores situacionais também o
determinam.

O poder de situações activadoras (ver o caso da ponte mais à frente)

 Tópicos da Psicologia Social


Os psicólogos sociais investigam numerosos tópicos. Numa revisão bibliográfica nos EUA (1979) e
referindo só os temas mais investigados, 55 estudos eram sobre a atribuição, 50 sobre atitudes e
mudanças nas atitudes e 44 sobre desenvolvimento da personalidade.
As áreas de comportamento humano estudadas podem dividir-se em 3 grupos:
• Fisiológico: pressão arterial, adrenalina (exemplo: a activação do sistema nervoso devido ao
sobrepovoamento)
• Cognitivo-atitudinal: opiniões, crenças, valores, sentimentos (exemplo: intenções de voto,
estereótipos)
• De realização: habilidade na realização de tarefas (exemplo: sob o efeito de pressão, observação)

Alguns tópicos perduram ao longo dos tempos, enquanto outros cessam.

 Relação com outros campos


Relação próxima com a Sociologia e a Psicologia.
Enquanto estes 2 campos põe em relação um sujeito (individual/colectivo) e um objecto
(meio/estímulo), a psicologia social estabelece uma relação ternária:
• Sujeito individual (ego)
• Sujeito social (alter)
• Objecto (físico, social, imaginário ou real)
Há uma mediação constante entre o sujeito e o objecto e através desta relação criam-se
modificações no pensamento e no comportamento de cada indivíduo.

Psicologia: estudo científico do indivíduo e do comportamento individual. Normalmente, o indivíduo


é estudado fora do contexto social, sendo abordados processos internos (memória, motivação, etc..). A
mutilação de Van Gogh deve-se á castração simbólica para punir a sua homossexualidade, ou então, o seu
pensamento estava tao perturbado que o levou a um estado psicótico.

Sociologia: estudo científico da sociedade humana. O comportamento humano é estudado num


contexto mais amplo: instituições sociais, estratificação social, processos sociais básicos e estrutura de
unidades sociais. É dada grande importância às normas que regem o comportamento, fruto de pressões
externas. Van Gogh terá cortado a orelha ao identificar-se com párias desviantes, como as prostitutas que
frequentava e a quem ofereceu a orelha.

Psicologia Social: ponte entre a Psicologia e a Sociologia – apesar da definição ampla de Psicologia
Social, o que a distingue da Psicologia é a enfâse no social, e o que a distingue da Sociologia é a enfâse no
individual. Os psicólogos sociais examinam os processos intrapsíquicos e os estímulos sociais que
determinam o comportamento do indivíduo. Assim, os psicólogos sociais explicam os comportamentos
através de factores individuais e sociológicos. Van Gogh teria cortado orelha para imitar o comportamento

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dos outros, já que nas corridas de touros é usual cortar-se a orelha do touro que se saiu melhor, a pedido
da multidão. Essa orelha é depois oferecida à mulher preferida, que no seu caso, era a prostituta.
No entanto, para um dado comportamento existe uma multiplicidade de explicações possíveis, pois o
comportamento social resulta de várias causas
- Comportamento e características das outras pessoas
- Cognição social (atitudes, pensamentos acerca dos indivíduos que nos rodeiam)
- Variáveis ecológicas (influência do meio físico)
- Contexto sociocultural em que ocorre o comportamento social
- Aspecto da nossa natureza biológica relevante para o comportamento social

Para um comportamento existe uma multiplicidade de explicações possíveis

Cada explicação depende do nível de análise focalizado pelo investigador

Podemos encontrar várias psicologias sociais e explicações diferentes. Existem 2 grandes vertentes
que, embora apresentem aspectos comuns, diferem noutros, como na focalização central e nos métodos
de investigação

Psicologia Social Psicológica Psicologia Social Sociológica


A focalização central é no indivíduo e na forma
A focalização central é no grupo ou na
como reage a estímulos sociais, mesmo
sociedade
quando se estuda a dinâmica de grupos
Os investigadores tentam compreender o Os investigadores tentam compreender o
comportamento social analisando estímulos comportamento social mediante a análise de
imediatos, estados psicológicos e traços de variáveis societais, tais como o estatuto social,
personalidade papéis e normas sociais
Objectivo principal da investigação é a O objectivo principal da investigação é a
predição do comportamento descrição do comportamento
A experimentação (laboratorial) é o principal Inquéritos e observação participante são os
método de investigação principais métodos de investigação
Experiências de laboratório Investigação por inquérito
Investigação por inquérito Investigação bibliotecária
Estudos de campo Estudos de campo
Experiências de campo (83%) Experiências de laboratório (89%)
Autores: Lewin, Festinger, Schachter, Asch, Autores: Mead, Goffman, French, Homans e
Campbell e Alport Bales
Ambas tentam compreender o comportamento dos indivíduos no seu contexto social

Ambas partilham a atenção dada ao mundo subjectivo do indivíduo, às interpretações cognitivas


da realidade, que correspondem ao meio percepcionado e não ao meio actual e que vão orientar
os comportamentos subsequentes

Ambas reconhecem implícita ou explicitamente a influência recíproca do indivíduo e da


sociedade na construção social da realidade

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Segundo Lewin, não importa de onde vêem as ideias, mas até que ponto funcionam e explicam o k.

Razões para o estudo das 2 psicologias sociais:


 As 2 perspectivas combinadas promovem um conhecimento mais rico de um dado assunto. Devem
complementar-se, uma vez que cada uma tem os seus pontos fortes e pontes fracos.
 As 2 abordagens convergem, pois tentam compreender o comportamento dos indivíduos no seu contexto
social. Há uma grande interacção dos assuntos e dos métodos. Reconhecem a influencia reciproca
meio/individuo.
 Ambas as abordagens partilham a atenção dada ao mundo subjectivo do indivíduo, percepcionada por ele
(mesmo que não seja o real). Ambas se focalizam nas interpretações cognitivas da realidade.

Sendo o comportamento variado e as causas diversas recorrem-se a diversos níveis de análise:


Doise (1982) distinguiu 4 níveis de análise:
1.Processos “psicológicos” ou “intra-individuais” – que deveriam dar conta de como o indivíduo
organiza a sua experiência do mundo social (exemplo: que processos permitem a um indivíduo ter uma
opinião global acerca de alguém, a partir da integração de diferentes traços de personalidade que lhe são
apresentados)
2.Dinâmica de processos “inter-individuais” e “intra-situacionais” – (exemplo: estudo de atribuições a
outrem.)
3.Diferenças de posições ou de “estatutos sociais” – (exemplo: quando uma argumentação convence
alguém porque quem a apresenta tem um estatuto social mais elevado)
4.“Crenças ideológicas universalistas” – que induzem representações e condutas diferenciadoras e até
discriminatórias.

Estes níveis não são lineares nem estáticos, pois numa determinada situação podemos encontrar
mais de um nível (exemplo: a realização de um individuo pode ser afectada negativamente em contexto
de grupo – nível 3, o que leva a pessoa a fazer uma comparação social – nível 2, ou a mudar a percepção
de si próprio – nível 1). Isto demonstra vários processos psicológicos nesta situação social.

ESBOÇO HISTÓRICO DA PSICOLOGIA SOCIAL


A Psicologia Social é um dos campos mais recentes da Psicologia que se fundou no laboratório de
Psicologia Científica de Wundt (1879, Leipzig), começando-se a esboçar enquanto centro de interesse
científico nos finais do século XIX, inícios do século XX. A Psicologia Social é o resultado de uma evolução
que se operou progressivamente e posteriormente.
Questões centrais no pensamento social ao longo do tempo:
- As pessoas são concebidas como indivíduos de forma semelhante ou única?
- A pessoa é a função da sociedade ou a sociedade é a função da pessoa?
- A natureza humana é naturalmente egoísta e precisa de processos de educação para possibilitar
a vida em sociedade? Ou são naturalmente sociais e são as influências boas/más da sociedade que os
determinam sócias/anti-sociais?
- O ser humano é livre e responsável ou é determinado por forças sociais?

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Os filósofos gregos foram, provavelmente, os primeiros teóricos em psicologia social, na medida
em que até há um século todos os psicólogos sociais eram filósofos e todos os filósofos eram psicólogos
sociais – “A Psicologia tem um longo passado, mas uma breve história”. A história da filosofia não pode ser
esquecida, pois até a um século atrás todos os filósofos eram psicólogos e todos os psicólogos eram
filósofos.

Platão (427-347 a.C.): Apresenta, na República, que os Estados se formam porque o indivíduo não é
auto-suficiente e necessita da ajuda dos outros – visão utilitária das interacções humanas. Platão
considera que o espírito humano tem 3 componentes: comportamental, afectiva e cognitiva, que se
localizam no abdómen, tórax e na cabeça.

Desejos (de) Virtudes Actividades


Afectos matérias (umbigo) Temperança Artesanal
Se afirmar (coração) Coragem Guerreira
Conhecer (cabeça) sabedoria Magistratura

São pois as diferenças individuais que produzem e explicam o carácter da sociedade - “cada um de nós é
portador das mesmas espécies de caracteres e dos mesmos costumes tal como a sociedade, pois só
podem provir de nós”

Aristóteles (384-322 a.C.): Na Política, vê as pessoas como “animais políticos”, gregários por instinto –
desprende-se do utilitarismo. É este instinto que leva o homem a afiliar-se com os outros. A interacção
social é necessária para o desenvolvimento normal do ser humano.

Hobbes (1588-1679): A motivação social não se deve a uma tendência dos homens para se amarem,
pois o seu estado natural é a guerra contra todos. Este autor desenvolveu uma análise dos processos
interpsicológicos que levam o homem à socialização: paixão de ambição, paixão de dominação, sentimento
de insegurança. Hobbes criou os alicerces para a análise da psicologia social, sendo mesmo considerado
por Murphy o primeiro psicólogo social.

Rousseau (1712-1778): Afirmava que as condições sociais transformam verdadeiramente o homem. A


natureza não destinava o homem à vida em sociedade, tendo este vivido milénios só e independente.

Marx (1818-1883): O comportamento social é determinado pelas condições económicas (um individuo
que viva num sistema feudal, vai ser diferente do individuo que viva num sistema capitalista). Para mudar
a forma de pensar agir e sentir é necessário mudar as instituições económicas.

Nenhum destes autores concebeu a psicologia social como disciplina independente. No entanto, estes
autores permitem diferenciar a existência de 2 temas da psicologia social pré-científica:
• Disposições psicológicas individuais produzem as instituições (Platão, Aristóteles, Hobbes, Fourier)
• As condições sociais influenciam o comportamento dos indivíduos (Rousseau, Marx)

 As origens da Psicologia Social

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É difícil situar o nascimento da psicologia social, pois aparece como resultado de uma evolução
progressiva. No entanto, encontramos as condições propícias à sua eclosão na confluência de 2 correntes:
uma francesa e uma anglo-saxónica.

Corrente Francesa

Comte inventou o termo “sociologia” e foi o 1º autor a conceber a ideia de uma Psicologia Social, apesar
de desprezar a Psicologia. Contribuições teóricas:
- Lei dos três estádios, que que explica a emergência das ciências desde o estádio teológico, metafísico até
ao positivo. A Psicologia Social foi a ultima a emergir, pois foi a ultima a ter a capacidade de dar
interpretação sem com base em explicações.
- Classificação das ciências fundamentais abstractas - procurava uma “verdadeira ciência final” que
tratasse dos indivíduos e do modo como os indivíduos combinam influências biológicas e societais, e a que
deu o nome de Moral Positiva: concepção da psicologia social, que considera por um lado, os fundamentos
biológicos do indivíduo e, por outro lado, aborda o indivíduo num contexto cultural e social. Lançou a
questão - como é que o indivíduo pode ser ao mesmo tempo causa e consequência da sociedade?

Durkheim foi um discípulo de Comte e afirmava que o social é rigorosamente irredutível ao individual, o
que entra em choque com Tarde.
Na necessidade de se designar um só fundador da Psicologia Social, seria Comte. Contudo, é difícil afirmar
com certeza, mas o seu desenvolvimento foi potenciado por Le Bom e Tarde.

Gustave Le Bon considera que a multidão modifica o indivíduo, pois dota-o de uma “alma colectiva”. Esta
alma faz com que os indivíduos, quando se encontram em grupo, pensem, sintam e ajam de uma forma
diferente daquela quando estão sozinhos. Estes comportamentos são explicados por uma causa interna, o
contágio mental, e por uma causa externa, a existência de líderes. A multidão coloca os indivíduos perante
emoções rápidas, simples, intensas e mutáveis, tendo um raciocínio rudimentar, qualitativamente inferior
ao dos indivíduos que a compõem. Le Bon abriu assim um capítulo importante, o do comportamento
colectivo: rumor, opinião pública, propaganda, pânico.

Gabriel Tarde – Este autor alicerçava os fenómenos sociais em 2 fenómenos psicológicos: a invenção
(fruto de individualidades) e sobretudo a imitação (assegura a unidade e estabilidade sociais).

Ringelmann (1880) questionou como é que a presença de outras pessoas influenciava a realização dos
indivíduos. Descobriu que a realização individual diminuía quando trabalhavam os indivíduos
conjuntamente em tarefas mais simples. Esta investigação está na origem dos modernos estudos de
psicologia social sobre preguiça social, que tende a ocorrer em sociedades individualistas do que naquelas
em que a colectividade é muito importante. Verificou ainda o fenómeno de facilitação social – o esforço do
individuo para realizar uma tarefa é quando está sozinho, do que em grupo.

Corrente Anglo-Saxónica
Nos países anglo-saxónicos, em particular nos EUA, duas datas foram marcantes:
- 1898: 1ª experiência em Psicologia Social com Triplett
- 1908: 2 primeiros manuais

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No entanto, estes não foram os primeiros acontecimentos em Psicologia Social, havendo já um
livro que data de 1896.

Triplett (1898): Apesar da Psicologia Social não ser muito experimental nos seus primórdios (tinha um
cariz mais especulativo) realiza 1ª experiência em Psicologia Social em que estudou os efeitos da
competição sobre o desempenho humano. Quando 40 crianças eram postas em situação de competição de
pares a enrolar um anzol mais rápido possível, o desempenho era melhor do que quando realizavam a
tarefa isoladamente.

Edward Ross (1908) publica a obra “Psicologia Social”, onde procurava aplicar as leis da sugestão e da
imitação a diversos acontecimentos do passado e do presente: moda, opinião pública, etc.

William McDougall (1908) publica a obra “Introdução à Psicologia Social”, onde o comportamento social
resulta de um pequeno número de tendências inatas ou instintos. Aparece assim, uma abordagem
individualista dos comportamentos na Psicologia, o que remete para a Psicologia Social, pois alicerça o
social no psicológico-individual. A cisma da Psicologia Social Psicológica e Psicologia Social Sociológica já
se fazia sentir.

Alport (1924) está mais próximo da Psicologia Social contemporânea – o comportamento é influenciado
pela presença dos outros e as suas acções. Discute a habilidade em reconhecer emoções dos outros nas
expressões faciais, a conformidade. O texto escrito por Alport foi o 1º livro de base em psicologia social
que permitiu a inclusão desta disciplina no programa permanente de estudos dos departamentos de
Psicologia das universidades americanas.

Robert Zanonc (1965) sugeriu que a mera exposição à presença de outras pessoas aumenta o
desempenho das respostas dominantes (isto é, bem aprendidas), mas interfere com o desempenho das
respostas não-dominantes (isto é, novas).

 Evolução da Psicologia Social


Depois da publicação do texto de Allport, a Psicologia Social estava projectada e o ideal de transformar
a Psicologia Social numa disciplina empírica foi aceite no final dos anos 2º e início dos anos 30.
A publicação de três trabalhos é de salientar (anos 30):

Moreno: dinâmica de grupo - o sistema sociométrico para analisar as interacções individuo/grupo

Sherif desenvolveu o primeiro programa de intervenção de cariz experimental no estudo das normas
sociais, isto é, regras que suscitam o comportamento de outras pessoas.

Lewin muita influência no desenvolvimento da psicologia social, ao mudar a direcção de todo um domínio
de um saber. Mostrou que é possível aplicar princípios teóricos a estudos sociais- “nada é tão prático como
uma boa teoria”, isto é, uma vez que tenhamos uma compreensão sólida e científica de algum aspecto do
comportamento social, podemos utilizar este conhecimento de modo prático. É o pai da Psicologia Social
Contemporânea.

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… A “teoria de campo”, segundo a qual o comportamento social resultaria da relação entre a
pessoa e o meio. O comportamento humano era influenciado por factores internos (diferenças entre
indivíduos) e externos (diferença entre situações), numa perspectiva interaccionista que combina a
psicologia da personalidade e a psicologia social. Como convencer as pessoas a comer alimentos mais
nutritivos em contexto de Segunda Guerra Mundial? As senhoras que participavam activamente nessa
discussão revelavam maiores mudanças para hábitos alimentares saudáveis do que as que ouviam a lição
passivamente.

Anos 40/50
Marcado pelos estudos empíricos - a influência dos grupos e da pertença aos grupos sobre o
comportamento individual; relações entre vários traços da personalidade e comportamento social;
atitudes. A dissonância cognitiva (Festinger) – perante incoerências entre duas cognições ou
comportamento, as pessoas procuram reduzi-las mudando quer os seus pensamentos quer os seus
comportamentos. A Psicologia Ingénua (Heider) – as pessoas atribuem um sentido à sua vida e tentam
controlar o meio.

Anos 60
Expansão do campo da Psicologia Social - obediência à autoridade; construção de julgamentos acerca dos
outros; negociação e resolução de conflitos; atracção e amizade; preconceito e mudanças de atitude.
Psicologos Sociais Europeus distanciam-se nos temas dos Americanos. Crise de confiança que leva à
discussão da ética e validade externa.

Anos 70 e 80
Continuação dos temas anteriores e enfoque noutros - atribuição; papéis sexuais e discriminação sexual;
psicologia ambiental.
A influência crescente da perspectiva cognitiva – o entendimento de uma ampla gama de fenómenos
sociais pode ser enormemente aumentada caso se adopte uma estratégia em que se procurem
compreender antes de mais os processos cognitivos que lhe estão subjacentes. É o tópico mais popular
previsto para a próxima década por psicólogos sociais americanos.
Influência da investigação aplicada em que o “mundo é o laboratório” – aplicação dos conhecimentos em
domínios da saúde, dos processos legais, do funcionamento das organizações. Esta tendência reflecte, em
parte, o facto de as teorias estarem suficientemente desenvolvidas para poderem ser aplicadas a
problemas sociais importantes. Encontra-se assim, a relevância das ciências sociais.

Os psicólogos sociais estão-se a tornar mais sensíveis ao impacto da cultura no comportamento social – o
que influencia um grupo num país, pode não influenciar no outro, ou mesmo a grupos dentro do mesmo
país. O campo deve tornar-se mais multicultural e internacional, o que não significa que os psicólogos
sociais vão deserdar dos seus laboratórios.

A PSICOLOGIA SOCIAL COMO CIÊNCIA


Os psicólogos sociais querem compreender as pessoas e ajudá-las a remediar problemas humanos,
enveredando por uma abordagem científica para os seus assuntos.

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Ciência: um corpo organizado de conhecimentos em diversas áreas e não uma em particular, que
advêm da observação objectiva e de testagem sistemática. Formulam-se teorias, uma descrição de
relações entre símbolos que representam a realidade.
As Ciências Comportamentais abordam observações acerca de actividades como sejam operações
mentais e respostas motoras, de animais e de seres humanos. As Ciências Sociais abordam actividades
das pessoas inseridas em comunidades humanas.
A Psicologia social investiga as acções de indivíduos e de indivíduos dentro de grupos, sendo uma
ciência comportamental e social.

 A investigação científica
É consensual que a observação sistemática deve estar presente na investigação científica, tanto no
sentido de desenvolver teorias com base nessas observações, fazer predições a partir delas, ou rever
essas predições se não estão certas. Popper defende que para uma teoria ser científica deve, em princípio,
ser capaz de refutação empírica – uma teoria nunca poderá ser aceite como verdadeira, pois não há
garantia que no futuro será a mesma do passado, já que a ciência cresce e muda constantemente.

Pode-se partir de uma:


- Lógica Indutiva: passagem de observações específicas a regras gerais ou teorias
- Lógica dedutiva: Uma teoria, com hipóteses susceptíveis de serem testadas faz predições acerca de
fenómenos e é passível de voltar a ser testada confirmando a teoria, ou não.

São as teorias que nos ajudam a explicar o que se observa, sendo um alicerce composto por regras
retiradas das observações. O valor de uma teoria depende de certas qualidades:
o Concordância com dados científicos- o que já se encontrou
o Compreensiva compreendendo e explicando um vasto leque de comportamentos
o Parcimoniosa não contendo mais que os elementos necessários
o Susceptível de ser testada para se poder avaliar a validade empírica
o Valor heurístico, isto é, estimular o pensamento e a investigação
o Valor aplicado

Os psicólogos sociais tentam elaborar teorias para ajudar a sociedade a viver melhor a nível de
compreensão e sensibilização sobre as consequências das suas acções. Espera-se que as pessoas se
abram a ideias novas quando confrontadas com as novas, pondo de parte ideias dogmáticas (teorias
generativas)

 Objectivos científicos da psicologia social


A Psicologia Social é aceite como ciência por obedecer a certos requisitos:
 Descrição: emana da colecção sistemática de observações acerca de qualquer fenómeno
 Explicação: identificação das relações causais que produzem comportamentos particulares
 Predição: a melhor medida de uma teoria é a sua capacidade de fazer predições certas. As teorias e as
predições ajudam a compreender os motivos da ocorrência de fenómenos comportamentais
 Controlo de fenómenos comportamentais como, por exemplo, colocar o cinto de segurança para reduzir o
número de mortos na estrada
 Seria necessário dispor de uma descrição das pessoas que utilizam os cintos e em que situação os
poem. Pode-se desenvolver uma teoria com as razões sociopsicológicas que expliquem o

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comportamento de por o cinto. Predizendo, os cientistas podem propor aos programas educativos
que chamem a atenção para as consequências nefastas de não utilizar cinto. Se se verificar uma
diminuição de acidentes automóveis fatais, a teoria está correcta.

 Processo de investigação em psicologia social


Permite estudar de modo eficaz o comportamento social ao planear meticulosamente a investigação.
1. Seleccionar um tópico de investigação – ideia que vale a pena investigar. Não são desligadas do
contexto.
2. Busca da documentação da investigação – delimitam-se os estudos anteriores sobre o assunto,
modelando o decurso da investigação.
3. Formulação de hipóteses – expectativas específicas com base nessa teoria.
4. Escolha de um método de investigação – dois métodos utilizados pelos psicólogos sociais: correlacional
(associado à investigação de campo) e experimental (associado à investigação laboratorial)
5. Recolha de dados (auto-avaliações – mede estados subjectivos como a percepção das pessoas que
nem sempre se mostram disponíveis para o fazer, observações directas, informação de arquivo –
recolha de informação importante)
6. Análise de dados – duas estatísticas utilizadas pelos psicólogos sociais: descritivas (descrição do
comportamento ou das características em causa) e inferenciais (a partir da descrição avalia-se a
probabilidade de uma diferença encontrada nas pessoas estudadas ser encontrada na população, com
uma diferença significativa 0.05)
7. Relatório dos resultados – em artigos, conferências… Mediante a difusão destes resultados pode haver
o aperfeiçoamento no trabalho e o enriquecimento do campo

Por vezes a investigação conduz a resultados contraditórios de um estudo para outro. Anteriormente
contavam-se os estudos que retiravam determinada conclusão e seguia-se a maioria. A meta-análise é
uma técnica estatística que permite aos investigadores combinar informação de muitos estudos empíricos
sobre um tópico e avaliar objectivamente a fidelidade e o tamanho global do efeito, podendo assim
determinar se estes pequenos efeitos são reais ou erros de medida. Qual esse tamanho global do efeito e
variabilidade nos estudos da Psicologia Social? A meta-analise ao converter o efeito observado, numa
métrica comum, como por exemplo a correlação momento-produto de Pearson consegue observar se o
efeito é pequeno (r igual ou inferior a .10), ou grande (próximo ou maior que .5). Numa compilação de
322 meta-analises (Richard et.al.) observou-se que existe uma grande diversidade nos efeitos (em 25%
há efeitos grandes e em 50% os efeitos são pequenos, sendo que as correlações mais elevadas ocorrem
nas atitudes e processos grupais. A Psicologia Social cresceu muito durante o sex. XX em parte por esta
maior base de dados que permite generalizações mais precisas e rigorosas até à data acerca da grandeza
dos efeitos psicossociais. Sugerem ainda que os efeitos situacionais são tao importantes como os pessoais
e que diferenças de género não são assim tão grandes, tendem a ser pequenas.

TEORIAS EM PSICOLOGIA SOCIAL


O papel da teoria em Psicologia Social – Procura descrever e explicar comportamentos,
sentimentos e pensamentos. Fazendo o enquadramento pela teoria (exemplo: teoria do efeito da lentidão
minoritária - quando as pessoas acreditam que têm uma perspectiva minoritária são mais lentas a afirmá-
la) pode-se formular uma hipótese (exemplo: o efeito será reduzindo se as pessoas puderem afirmar as

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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suas opiniões em privado) que poderá confirmar a teoria e reforçar a sua confiança nesta, ou não a
confirmar o que pode levar à sua rejeição e modificação.
Nenhuma teoria permite explicar de modo adequado todos os fenómenos sociais. Entre as
principais posições teóricas amplas em Psicologia Social figuram as teorias da aprendizagem, cognitivistas
e das regras e papéis. No seio destas 3 teorias desenvolvem-se mini-teorias, que tentam explicar um
leque mais restrito do comportamento humano. A investigação em psicologia foi fortemente influenciada
pelo espírito do tempo.
Consoante os princípios básicos da teoria em que o investigador ocorre, focalizar-se-á no individuo
ou no meio, no passado ou no presente, em comportamentos limitados ou globais.
Para evidenciar as diferenças abordagens explicativas tomaremos como exemplo o caso do Manuel
e Maria que se casaram. Manuel era oriundo da classe média e procurava subir de estatuto estudando
intensivamente. Maria vinha da classe alta e aspirava ajudar crianças com dificuldades. Os pais não viram
com bons olhos p casamento, mas com o tempo Manuel assumiu a orientação da empresa dos pais. Maria
dedicou-se a cuidar dos seus três filhos e quando estes cresceram realizou o sonho de montar um
gabinete de apoio a crianças com dificuldades.

 Teorias da Aprendizagem
Base no behaviorismo: o comportamento da pessoa é orientado pela aprendizagem anterior.
Autores importantes: Pavlov, Watson, Hull, Skinner e Bandura (aplicou os conhecimentos ao
comportamento social, dando origem à aprendizagem social)

Três mecanismos de aprendizagem social:


 Associação ou condicionamento clássico – os cães de Pavlov associavam o som da campainha à vinda de
alimento, começando a salivar, mesmo que a comida não aparecesse.
 Reforço – através de recompensas e castigos. (exemplo: as crianças aprendem a regular o seu
comportamento social porque, em parte, os pais reforçam de forma positiva os comportamentos
desejáveis (sorrisos, rebuçados) e de forma negativa os menos desejáveis (reprimendas)).
 Aprendizagem observacional ou imitação – aquisição de comportamento pela simples observação de
outros, mesmo na ausência de reforço.

Contribuições:
- Úteis na procura de acontecimentos ambientais ligados aos comportamentos das pessoas, podendo
prever-se a sua influência e assegurar um controlo
- Utilizadas para explicar muitos fenómenos sociopsicológicos – atracção interpessoal, agressão, altruísmo,
preconceito, formação de atitudes, conformidade e obediência.

× Atenta a padrões de reforço, esta teoria explicaria o casamento pelo interesse de Manuel no dinheiro e
fama de Maria.

 Teorias Cognitivas
As Teorias da Aprendizagem salientavam o que entrava na caixa (estimulo) e o que sai dela
(resposta). As Teorias Cognitivas iluminam a caixa negra ao valorizar os elementos do interior, pois são
eles que impõem a percepção do mundo exterior. O seu objecto de estudo são as emoções e cognições.
Autores importantes: Gestalt - Kohler e Koffa.

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Princípios:
 O comportamento de um indivíduo depende do modo como percepciona a situação social.
 As pessoas tendem espontaneamente a agrupar ou a categorizar objectos.
 Percepcionamos imediatamente algumas coisas como sendo salientes (figura – colorida, em
movimento, barulhenta, única, próxima) e outras como estando atrás (fundo – suaves,
monótonos, longínquos).

São centrais para a percepção do mundo social e para a sua interpretação.


A investigação sobre a cognição social abarca a forma como processamos informação social acerca de
pessoas, situações sociais e grupos e tem sido efectuada em 3 áreas:
- Percepção social ……… percepciona o estímulo – preocupação em determinar estruturas que nos ajudam
a prestar atenção a vastas quantidades de informação
- Memória social ……….. armazena-o nalguma forma de representação – como se armazenam esquemas
sobre as representações de conhecimento integrado de acontecimentos e pessoas e depois os recuperam
- Julgamentos sociais…. mais tarde utiliza-o - forma como integra e junta informação para fazer
inferências para o mundo social.

A investigação tem também frisado as atribuições causais, isto é, a forma como as pessoas
usam a informação para determinar as causas do comportamento social, como se fossem cientistas
ingénuos (exemplo: porque é que o namoro da vizinha acabou?).

Contributos:
- explicam situações que parecem incompreensíveis (exemplo: O resultado de diferentes atitudes perante
um 14 em duas pessoas (uma reagiu bem e outra reagiu mal) no exame de Social está relacionado com a
percepção do resultado do exame – o que variou foi o significado do esforço despendido e não na nota em
si, objectivamente, pois isso é imutável.
- Aplicação em estudos de formação de impressões de outras pessoas; teorias de mudanças de atitudes;
teorias da consistência cognitiva.
 Procurar-se-ia explicar como é que um elemento do casal percepciona o outro, para tentar explicar o
namoro.

 Teoria dos Papéis


É uma abordagem sociológica da Psicologia Social. Embora se refira o termo teoria dos papéis ela não
é uma teoria única, mas sim uma rede ligada de pressupostos e de amplos constructos. Ainda que seja
possível delinear o seu começo nas concepções dos papéis teatrais há mais de 2 milénios em autores
gregos, foi Herbert Mead (1913) que tornou o conceito de papel popular.

Princípios:
 Presta pouca atenção aos determinantes individuais do comportamento, pois o indivíduo é visto como um
produto da sociedade e como um elemento que contribui para essa sociedade, sendo assim posta uma
maior ênfase em amplas redes sociais.
 Termo Central: Papel - posição ou função que um indivíduo ocupa no seio de um determinado contexto
social. Uma pessoa pode desempenhar simultaneamente muitos papéis que são guiados por determinadas
expectativas que os outros têm acerca do comportamento e por normas internalizadas no decurso da
socialização.

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 Muitas vezes os papéis entram em conflito uns com os outros: interpapel (diversas posições com
exigências incompatíveis – um estudante ter de decidir entre o seu papel de estudar e o seu papel de
namorado ao sair com a namorada) e intrapapel (um só papel com expectativas incompatíveis – o
estudante ter de decidir se estuda para o exame do dia a seguir, ou se acaba o trabalho que também é
para entregar no dia a seguir).

Contribuições:
- Mostra como a pessoa pode mudar de comportamento quando muda a sua posição social.
- Suscitou várias mini-teorias: Investigações sobre normas sociais e processos de comunicação.
- Revisão do conceito de doente mental: a doença mental é muitas vezes aprendida, da mesma forma que
se aprende um papel numa peça de teatro.
- Estudo do autoconceito, da autoconsciência (como nos tornamos conscientes de nós próprios),
autovigilância (observar o modo como as pessoas se percepcionam umas às outras), gestão de impressão
(modo como as pessoas riam impressões especificas e positivas acerca de si).

× No caso da Maria e do Manel ter-se-ia em conta os papéis que desempenham – a transição do Manuel e
Maria de filho e filha, para marido e esposa, pai e mãe, gestor e psicoterapeuta. Entrarão estes papéis
em conflito? Que expectativas de cada um em relação ao outro?

 Comparação de teorias
DIMENSÃO TEORIAS DA APRENDIZAGEM TEORIAS TEORIA DO PAPEL
COGNITIVAS
CONCEITOS Relações Estímulo-resposta, Cognições, Papel e expectativa
CENTRAIS Reforço Estrutura cognitiva

Aprendizagem de novas Formação e mudança de K no papel


K PRIMÁRIOS respostas; processos de crenças e de atitudes
EXPLICADOS troca
As pessoas são hedonistas; As pessoas são seres As pessoas são
SUPOSIÇÕES os seus actos são cognitivos que agem com conformistas e
ACERCA DA determinados por padrões de base nas suas cognições comportam-se de acordo
NATUREZA reforço com expectativas de
HUMANA papéis
FACTORES Mudança na quantidade, tipo Estado de inconsistência Mudança nas expectativas
MUDAM K ou frequência de reforço cognitiva de papéis
Podem-se recorrer a várias teorias para compreender o comportamento social, mas cada uma leva
por um caminho diferente.
A abordagem cognitiva é a que tem maior relevo hoje em dia, mas todas elas estão na base da
orientação teórica das micro-teorias, essas teorias mais específicas para fenómenos com amplitude
limitada.
A tendência é ainda de fazer uma síntese entre estas três teorias.

 A Psicologia Social Contemporânea

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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A Psicologia Social é uma ciência em ebulição (grande explosão de conhecimentos, descobertas e
publicações em 21 revistas). É um dos domínios mais importantes de investigação na Psicologia, em
particular, e nas Ciências Sociais, no geral.
A imagem que é reflectida pela publicação em revistas científicas é que a psicologia social americana
tem um peso preponderante no domínio, pois para além de terem maior número de revistas, também
contribuem para as que são publicadas na Europa. A língua inglesa é língua de eleição no domínio da
psicologia social.
A psicologia social aparece sobretudo ligada à psicologia. Só duas são publicadas por
responsabilidade de sociólogos.
Actualmente são cada vez mais numerosos os investigadores em psicologia social. Os autores mais
citados permanecem estáveis ao longo dos últimos 15 anos.
A seguir a Clinica e Experimental é a área que tem maior número de diplomados. A maioria dos
empregos em psicologia social é obtida ao nível do ensino e da investigação.
Se o primeiro mundo exporta conhecimentos para o segundo mundo e para o terceiro é pouco
influenciado pela psicologia dos outros dois mundos. Hoje em dia, há um grande cruzamento de ideais
entre os psicólogos sociais de diferentes mundos.
Enfoque actual:
 Cognição e comportamento – os psicólogos sociais da actualidade reconhecem que pensamento
social e comportamento social são duas faces da mesma moeda, e que há uma intima relação
complexa entre elas, que até então era esquecida
 Neurociência Social – procura-se relacionar a actividade do cérebro e de outros acontecimentos
biológicos com os aspectos nucleares do pensamento e de comportamento social.
 Processo implícitos e não conscientes – investigação em bebés. Foi comprovado que as pessoas
reconhecem de modo mais correcto os rostos do seu grupo étnico do que os outros, pois as
pessoas de um grupo étnico diferente tendem parecer “todas iguais”. Bebés com cerca de três
meses viram fotografias de vários grupos étnicos e o tempo que demoravam a olhar para a
fotografia era maior para o seu grupo étnico, o que é sinal de reconhecimento
o Grupo 1 – bebés africanos a viver em África – olharam mais para os rostos africanos
o Grupo 2 – bebés africanos a viver em Israel (tinham na sua sociedade rostos africanos
e caucasianos) – não demostraram preferência
o Grupo 3 – bebés a viver em Israel – preferência pelos rostos caucasianos
 Diversidade Social – uma perspectiva mais multicultural que reconhece a importância de factores
culturais no pensamento e comportamento social.

APLICAÇÕES: O ESTUDO DA CAVERNA DOS LADRÕES


Este estudo constitui uma combinação da abordagem da psicologia social psicológica e psicologia
social sociológica, por Muzaref Sherif, psicólogo, e Carolyn Sherif, socióloga. Estudaram as relações
intergrupais nas modalidades formação de grupo, conflito e técnicas para reduzir o conflito, num grupo de
crianças de 10 e 11 anos, que frequentavam um campo de férias e não estavam cientes da sua
participação numa experiência.

1ª Fase: A formação do grupo, a atracção no grupo em relação aos membros do próprio grupo
(endogrupo) e normas do endogrupo.

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Os rapazes foram distribuídos por dois grupos, sem saberem da existência do outro grupo.
Traçaram elementos de coesão como nome de equipa (Águias e Serpentes), símbolo (bandeira), hierarquia
e actividades favoritas. Sem qualquer interferência dos investigadores desenvolveram normas do grupo
(um desejava ser visto como duro e o outro como bem comportado).
Quando os grupos souberam da existência um do outro, apareceu o conflito intergrupal o que
suscitou encontros espontâneos com interacção competitiva que à medida que se repetiam fortaleciam os
laços como o endogrupo, e aumentavam a hostilidade com o exogrupo, formando estereótipos negativos.

2º Fase: Reduzir o conflito intergrupal


Tentaram simplesmente o contacto entre grupos, mas isso só servia como oportunidade de
aumentar a hostilidade.
A solução verificou-se com a introdução de objectivos supraordenados, objectivos que cada grupo
tinha de realizar, mas que só era possível com a cooperação entre grupos. Após o corte de água do campo
de férias, um desses objectivos era encontrar o corte de água, em que os dois grupos tiveram de trabalhar
conjuntamente, o que teve sucesso na redução de conflitos e criação de estereótipos positivos, chegando a
mudar-se de amizades.

… Combinação de técnicas da Psicologia Social Sociológica (entrevistas em profundidade e observação) e


da Psicologia Social Psicológica (questionários estandardizados)
… Combinação de níveis de análise psicológicos (observações dos comportamentos individuais) e de
análise sociológica (explicação para esses comportamentos no grupo).
 Conclusão: A subjectividade dos processos de observação foi compensada pelo rigor de
procedimentos estandardizados. A artificialidade do estandardizado pode ser complementada pela
riqueza dos dados de observação e entrevistas. Dados qualitativos e quantitativos podem ser
complementados, beneficiando-se da vantagem de duas psicologias sociais.

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II - Preconceitos e Discriminação
As atitudes indicam-nos o modo como pensamos e sentimos em relação a pessoas, objectos e
questões do meio que nos rodeia. Num sentido mais geral elas estão relacionadas com graves questões
sociais de que são o exemplo do preconceito e discriminação que desenvolvemos quer para objectos, quer
para pessoas. Os preconceitos e discriminações não só existiram no passado, como perduram
actualmente.
Estavam cinco macacos numa jaula que tinha por cima uma casca de bananas. Sempre que um
dos macacos tentava subir, os treinadores atingiam-lhes com um jacto de água fria, até que os macacos
impediam-se uns aos outros de subir. Ao longo do tempo, os macacos foram substituídos e verificou-se
que os mais velhos não deixavam os mais novos subir. Por consequência estes aprendiam que não podiam
subir e ensinavam aos que vinham a seguir, até que um dia um dos macacos perguntou “porque não
podemos apanhar as bananas?” ao que lhe responderam “porque sempre foi assim”. Ou seja, mesmo os
macacos que impediam os outros de subir já não sabiam porque o faziam.
Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito” (Einstein)
Foram identificadas duas dimensões subjacentes ao preconceito: 1) calor e 2) competência que
dão origem a 4 formas de preconceito:

Calor Competência
+ + Reagimos positivamente a essas pessoas, com orgulho porque são do nosso
grupo
- + Reagimos com inveja a essas pessoas (exemplo: ricos)
+ - Reagimos com pena dessa pessoa (exemplo: deficientes)
- - Reagimos com repugnância a essas pessoas que consideramos as piores de todas
(exemplo: drogados)

Experiência de Harris e Fishe (2006) – os três primeiros grupos apresentam actividade em áreas do
cérebro que envolvem pensamentos sociais (pensam activamente nessas pessoas), ao passo que o quarto
grupo era visto como menos humano. De facto, depois de verem imagens, os sujeitos tinham maior
actividade cerebral em resposta nos 3 primeiros grupos do que no quarto – “não vale a pena pensar neles”

Existem dois tipos de discriminação:


Baseadas nos estereótipos Há uma relação entre eles – os estereótipos podem tornar a
Baseadas nos preconceitos pessoa preconceituosa e as pessoas preconceituosas podem usar
os estereótipos para justificara as suas acções

Discriminação
(Comportamentos)

Estereótipos Preconceitos
(Crenças) (Atitudes)

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Vídeo Preconceito e Discriminação:

Será que as crianças também são racistas? Segundo Allport o racismo é perspectivado como sendo um
problema só de adultos e de adolescentes. Um estudo com crianças do Porto partia da hipótese que as crianças
preferem a pessoa branca à pessoa negra. Por exemplo, as crianças achavam mais fofinho o ursinho branco e a
rapariga branca da imagem como mais feliz. As crianças preferiam não só a cor branca como a pessoa branca,
não havendo diferenças entre sexo, mas sim entre idade já que crianças com oito anos avaliavam ainda mais
positivamente o branco, do que as com cinco anos. Em Moçambique e em Lisboa os resultados mantinham-se.
Contudo, segundo a genética não existem diferenças entre os seres humanos
Segundo a professora Madalena Barbosa a discriminação das mulheres tem uma conotação histórica, pela
divisão do trabalho em que estavam encarregues do trabalho doméstico, como a limpeza por exemplo. Quando
essas actividades foram industrializadas a mulher perde importância, passando a ser vista apenas como um
meio de procriação – os homens de modo a assegurar descendência assumiram o controlo sobre a mulher.
A discriminação face aos homossexuais ainda perdura pela limitação de certas liberdades principalmente
desde que aumentou o conhecimento publico da SIDA.
José Barros defende que, no sentido de minimizar o preconceito deveria haver uma maior informação
escolar, pois a aprendizagem escolar é muito importante na medida em que quanto maior o numero de
disciplinas como a formação cívica, menor é o preconceito e maior é a tolerância.
É difícil diminuir o preconceito, mas não é por isso que se deve desistir.

 Definições
 Preconceito: Pode ser definido uma atitude favorável ou desfavorável (embora este conceito possa ter
uma conotação positiva ou negativa, nos países ocidentais ele adquire essencialmente uma conotação
negativa) em relação a membros de determinado grupo, que resulta sobretudo na pertença a esse grupo e
não propriamente a características particulares de cada membro. (exemplo: o preconceito sexual surge se
um sujeito é avaliado tendo em conta a sua pertença a um grupo particular (masculino ou feminino) e não
tanto por traços individuais)
- “O preconceito étnico é uma empatia baseada em generalização errada e inflexível. Pode exprimir-se
ou sentir-se. Pode dirigir-se a um grupo como um todo ou ao individuo que pertence a esse grupo” –
Allport
- “Atitude negativa em relação a um grupo definido socialmente e em relação a qualquer pessoa
percepcionada como pertencente a esse grupo” – Ashmore
- “Generalização errada de uma categorização de um grupo (estereótipo) para um membro individual
de um grupo, independentemente da veracidade do estereótipo e da aplicabilidade da categorização do
estereótipo ao individuo em questão” - Jones

É importante distinguir:
Endogrupo - é composto pelos sujeitos que consideramos pertencerem ao nosso grupo de
pertença e com quem temos tendência a identificarmo-nos. É o nós.
Exogrupo - é composto por todos os sujeitos que uma pessoa caracterizou como membros de um
grupo de pertença diferente do seu e com quem não tem tendência a identificar-se. É o eles.

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Estes grupos psicológicos são um produto dos processos mais fundamentais do ser humano: a
categorização - utensílio cognitivo que nos permite classificar e ordenar o meio que nos rodeia, para
existir uma melhor adaptação do ser humano).

O preconceito é importante, porque pode levar comportamentos que podem trazer implicações não
só na vida quotidiana, como também no próprio bem-estar da sociedade. O facto de definir-se o termo em
questão como uma atitude traz consigo duas implicações:
- O preconceito pode ser utilizado como tendo uma conotação negativa mas também positiva.
- Tem três componentes:
* Componente afectiva: refere-se a sentimentos preconceituosos experienciados em
face de membros de grupos específicos ou então porque se pensou nesses grupos.
* Componente cognitiva: refere-se não só a crenças e expectativas acerca dos
membros desses grupos, como à forma como são processadas as informações acerca desses membros.
* Componente comportamental: tendências de acção em relação a esses grupos.

Caso estas acções sejam postas em prática estamos perante a discriminação.

 Discriminação: Manifestação comportamental do preconceito. O preconceito nem sempre leva à


discriminação (pessoas podem não discriminar devido ao receio de represálias sociais), e a discriminação
nem sempre leva ao preconceito (as pessoas podem discriminar devido a pressões sociais – exemplo: no
romance de Kafka, a personagem principal K. chega a uma aldeia que é dominada pela autoridade de um
palácio que não da valor a estrangeiros. Um hotel recusa-lhe estadia devido à pressão do palácio, e não
porque sinta preconceitos em relação ao estrangeiro).

Os termos “preconceito” e “discriminação” estão muito interligados, podendo-se gerar um ciclo vicioso em
que a discriminação confirma as crenças iniciais (exemplo: um banco não contratar um negro por este ser
“preguiçoso e imoral” A miséria a que fica sujeito por não ter emprego é que potencia a imoralidade e
passividade).

Modelo de Allport das expressões do preconceito num continuum

 Antilocução – conversa hostil e difamação verbal.


 Evitamento – manter o grupo étnico separado do grupo dominante na sociedade (exemplo: o gueto)
 Discriminação – o grupo minoritário é excluído de direitos civis, alojamento, emprego.
 Ataque físico – violência contra pessoas e propriedades que pode advir de grupos racistas não
organizados, especialmente em períodos económicos de crise.
 Extermínio – violência indiscriminada contra todo um grupo de pessoas.

Um nível mais baixo é ainda proposto por Duckitt) – as expressões comportamentais subtis e indirectas
de interacção grupal (o tom de voz, menos contacto ocular, interpretações enviesadas)
Os indivíduos que estão num nível não tem necessariamente de avançar para o próximo, mas quanto
maior for a actividade nele, maior a probabilidade de passar.
 Foi a antilocução de Hitler que levou os alemães a evitarem os amigos de outrora, o que tornou mais
fácil aplicar leis de discriminação, que estiveram na base de ataque a sinagogas ou ataque de
violência nas ruas. O passo final dessa progressão foram os fornos de Aushwitz – o extermínio.

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Grupo minoritário: O que distingue um grupo maioritário de um grupo minoritário é o poder relativo que
estes exercer na sociedade e não o número de elementos de cada grupo (exemplo: há mais mulheres que
homens no Mundo, seriam elas a ter o poder se fosse pelo numero de elementos).

Para Wagley e Harris as minorias são:


 são sectores subordinados de uma sociedade
 possuem traços físicos e culturais pouco apreciados pelo grupo dominante
 estão conscientes do seu estatuto minoritário
 tendem a transmitir normas que encorajam a afiliação
 tendem a encorajar o casamento com membros do mesmo grupo

CATEGORIAS DO PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO

 Racismo

Qualquer atitude, acção, ou estrutura institucional que subordina uma pessoa por causa da sua cor”. Assim
sendo, envolve o preconceito e discriminação e pode ser pessoal, institucional ou cultural.

Características Gerais RACISMO INDIVIDUAL Expressão Societal

perseguição racial: violência; gozo dos


crença na superioridade dos brancos
costumes, gozo com anedotas

recusa da existência de qualquer forma de


não apoio de legislação sobre direitos civis
racismo

crença de que a falta de sucesso das pessoas utilizar termos raciais depreciativos,
não brancas se deve a inferioridade genética promulgação de estereótipos raciais

Características Gerais RACISMO CULTURAL Expressão Societal

limitar o acesso ao trabalho e à “educação


superioridade na linguagem
branca”

lei e política definidas de uma perspectiva dos candidatos políticos não brancos são líderes da
brancos sua etnia e candidatos brancos são líderes de
todos

na ciência a contribuição dos brancos é mais as contribuições de outros grupos raciais não
importante e a melhor obtêm sucesso nem projecção

Características Gerais RACISMO INSTITUCIONAL Expressão Societal

a execução da lei é mais severa para pessoas brutalidade policial, sentenças mais severas
negras para os mesmos crimes

desemprego e subemprego para pessoas taxa de desemprego de negros 3x superior à

negras – o Conselho Economico do Canada dos brancos, imigrantes com empregos

observa que para igual competência a desadequados ao seu nível de instrução

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experiencia de trabalho adquirida no Canadá,
os ordenados dos Antilhanos ou da Asia de
Leste são inferiores aos dos Canadianos
nascidos no país. Têm também menos ajudas
sociais

discriminação no empréstimo sob hipoteca,


bairros só de grupos raciais

Situtional Testing – uma agência de Paris


recebe visitas de 3 pessoas (um francês, um
português, um antilhano – francês negro) com
alojamento inadequado a mesma categoria socioprofissional, que eram
na realidade actores. Ao pedirem aluguer do
mesmo tipo, há uma distinção entre o
português e o francês, mas que é muito maior
face ao Antilhano, apesar de o estrangeiro ser o
português e o antilhano ser francês

A noção de raça tem a sua origem na biologia e designa uma espécie geneticamente distinta das
outras. Verificou-se em genética que as diferenças que existem entre os indivíduos classificados na mesma
raça são mais importantes que as diferenças entre raças. Por isso, não se pode aplicar o termo raça aos
seres humanos.
No passado a tendência era para categorizar a raça em três tipos: amarela, branca e negra. Essa
discriminação com base na cor da pele persiste:
 negros mais claros tendem a discriminar os mais escuros;
 brancos tendem a discriminar todos os negros incluindo negros que são mais claros

Grupo étnico - conjunto de pessoas que têm antepassados comuns pertencentes a uma mesma
cultura e sentimentos comuns de identificação a um grupo distinto. O preconceito que tem na base
distinções étnicas designa-se por etnocentrismo.

 Sexismo
Forma de preconceito e discriminação com base no género e encontra-se muitas vezes ligado aos
estereótipos. Ensina-nos os mecanismos pro-sociais associados ao preconceito em geral. São as mulheres
as mais afectadas, apesar de haver 1/2 de probabilidade para ambos os sexos, já que só existem dois.

Viés face-ismo - quando os meios de comunicação focam o sexo masculino é a sua face o mais
valorizado, enquanto nas mulheres é o seu corpo, o que vem transparecer que na nossa cultura enfatiza-
se a vida mental ligada aos homens e por outro lado, a aparência física ligada às mulheres. Quanto se dá
maior proeminência à face, melhor é a avaliação de competência.
Oportunidades desiguais de educação: Segundo o princípio da conservação físicos do séc. XIX
consideravam que as mulheres não deveriam prosseguir nos estudos, porque para estudar seria
necessário concentrar muitas energias, que elas necessitavam para o desenvolvimento dos órgãos
femininos mais importantes, como são o caso dos da reprodução, elas não deveriam estudar. No entanto,

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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o sexismo na educação ainda perdura actualmente, quando por exemplo rapazes e raparigas se dividem
para a realização de jogos ou então quando os professores fazem competir rapazes contra raparigas.

Consequências:
 Suscitam diferentes expectativas sobre homens e mulheres
 Restringem a realização mediante a diminuição da auto-confiança das mulheres
 Produzem atribuições diferentes sobre as realizações dos homens e das mulheres

 Heterossexismo
Tem origem no advento do Cristianismo que impõe normas morais sobre o comportamento desviante.
Sistema de crenças culturais, de valores e de hábitos que exalta a heterossexualidade e critica e
estigmatiza qualquer forma não heterossexual de comportamento ou de identidade, isto é, é um
preconceito contra homossexuais, lésbicas e até bissexuais.
Registam-se diferenças entre os heterossexuais relativamente ao preconceito contra a
homossexualidade. Os heterossexuais que exprimem atitudes contra a homossexualidade tendem a:
 Ser mais homens do que mulheres
 Ser muito religiosos e pertencer a organizações religiosas conservadoras
 Ter amigos que também apresentam atitudes negativas
 Ter preconceitos raciais e ser autoritários
 Ter tido menos contacto pessoal com homossexuais e lésbicas

 Idadismo
Estudo recente devido ao facto de a esperança média de vida tem vindo a aumentar (um pouco mais
para as mulheres), o que gera um progressivo aumento da população idosa e com ela um acréscimo dos
encargos sociais. O peso desproporcional faz com que os jovens tenham de assumir a responsabilidade de
tratar dos problemas dos idosos, as percepções que os jovens têm dos idosos desempenharão um papel
importante no modo da sociedade tratar os problemas.
Um estudo intercultural de Neto, 1992, veio revelar que, relativamente à atribuição de características
psicológicas e de traços de personalidade, nos 19 países que fizeram parte da amostra:
 Há uma tendência para as pessoas idosas serem vistas de modo mais favorável do que os jovens.
 Uma tendência para as pessoas jovens serem vistas como sendo mais fortes que as idosas.
 Os jovens são mais activos que os idosos.

Haverá alguém que escape de preconceito? Há uma tendência de utilizar todos os modos possíveis
para dividir as pessoas em categorias sociais que servem de base para preconceito e discriminação:
pessoas baixas, gordas, religião, com deficiência.

FACE MUTANTE DO PRECONCEITO


A face do racismo tem vindo a mudar e, embora esteja um pouco em declínio, o certo é que
aparecem novas formas de racismo que tendem a aumentar. As perspectivas do racismo moderno
afirmam que o racismo já não é aceite de modo aberto na sociedade e que a maior parte das pessoas
tenta combatê-lo. O que se desenvolve é o racismo latente.
 Racismo simbólico: os brancos dissimulariam muito simplesmente o seu racismo e manifestá-lo-iam de
modo mais subtil, em situações em que o comportamento não possa ser rotulado directamente de racista.

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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 Teoria da ambivalência-amplificação: os brancos têm sentimentos efectivamente positivos em relação
aos negros, mas estes sentimentos estão também misturados com sentimentos negativos, que se
expressam consoante as circunstâncias amplificados.
 Racismo progressivo: os brancos partilham hoje em dia uma norma mais igualitária que está em
contradição com os antigos modos de tratar os negros. Esta norma guia os comportamentos na maior
parte das situações. Todavia em situações de stress os membros da maioria têm tendência a regressar a
comportamentos discriminatórios em relação a grupos minoritários.
 Racismo aversivo: as pessoas brancas escondem o seu racismo a elas próprias, em especial às pessoas
liberais e com boas intenções. O seu comportamento conforma-se com a norma que proíbe a
discriminação. Os verdadeiros sentimentos só se exprimem quando o seu comportamento discriminatório
pode ser imputado a motivos que nada tem a ver com o racismo.
O racismo moderno enfatiza que os aspectos afectivos das atitudes raciais são, na sua maioria,
adquiridos na infância e por isso muito difíceis de mudar.

Técnicas para medir o preconceito, atendendo ao facto de as pessoas não admitirem ter preconceitos

Pode acontecer que as pessoas possam não querer relatar o que verdadeiramente pensam ou
sentem ou podem até não estar conscientes disso. Os psicólogos sociais dão então cada vez mais atenção
a manifestações implícitas das crenças, tentando chegar a elas por certas técnicas:

 Bogus pipeline – uma máquina em que as pessoas estão ligadas por eléctrodos que supostamente regista
os verdadeiros sentimentos. Dado que as pessoas não querem ser apanhadas a mentir, este método
suscitaria respostas honestas a questões sensíveis. Estudantes universitários brancos avaliavam os negros
de modo mais negativo quando se recorria a esta técnica.

 Tempo de reacção – não se fazem perguntas directas, é medida a velocidade com que se responde a uma
questão. Num estudo, sujeitos brancos carregavam num botão sempre que concordassem com o
emparelhamento de adjectivos quer positivos, quer negativos com as palavras branco e negro. Os
resultados mostraram que os sujeitos não associaram explicitamente negros com termos negativos e
brancos com termos positivos. Dado que se leva menos tempo a reagir a estímulos com as atitudes já
existentes, o resultado sugere que os sujeitos estavam mais predispostos a associar traços positivos com
brancos do que com negros.

 TAI (Teste de Associação implícita) (https://implicit .harvard.edu/impact/Portugal) – Este site é um


autentico laboratório virtual e é um projecto que resulta de uma colaboração entre investigadores para
desenvolver certas inovações para estudar as cognições sociais implícitas da internet. Estas cognições soa
um desafio, pois são “introspectivamente inacessíveis”. O TAI aborda certas avaliações pelo tempo de
latência para a categoria de tarefas de julgamento, pela lógica de que julgamentos congruentes com as
associações implícitas são mais fáceis e portanto mais rápidos do que os incongruentes. Com poucas
excepções todos os grupos mostram mais preferência para com um grupo do que para com outro – as
preferências sociais são uma característica humana.

GÉNESE DO PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO

Compreender a sua génese é necessário para dominar técnicas que o erradiquem.

 Abordagens Históricas

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Os historiadores consideram que para uma melhor compreensão do preconceito será importante ter
em conta o contexto histórico dos conflitos (exemplo: Allport, refere que o preconceito contra os negros
nos EUA tem as suas raízes na escravatura e no fracasso na reconstrução da zona sul dos EUA depois da
guerra civil. O preconceito contra as mulheres também pode ser compreendido pela abordagem histórica,
uma vez que determinadas profissões foram sempre tomadas como sendo mais apropriadas para os
homens, porque se considerava que algumas exigiam ou muito esforço físico ou envolviam decisões
importantes, facto que a mulher não tinha poder para o efeito. Segundo a teoria económica de Karl Marx a
classe dominante propaga preconceitos para justificar a exploração da classe trabalhadora)

 Abordagens Socioculturais (anos 60 e 70)

Quer estas abordagens, quer as referidas anteriormente abordam factores e forças sociais que
levam ao preconceito e à discriminação. Exemplo: o aumento da urbanização - actualmente as cidades
não são vistas como locais óptimos de habitação pois não se verificam relações entre as pessoas, paira a
violência e a insegurança. Isto pode levar os habitantes citadinos a culpabilizar, por exemplo, a presença
de um determinado grupo minoritário, que passa a ser o símbolo de todos os problemas numa
determinada cidade.

 Abordagens Situacionais

Este tipo de abordagem examina os factores do meio imediato da pessoa que causam o preconceito.
Segundo estas teorias o facto de se conformar aos outros traz consigo uma forte influência no preconceito.
O preconceito nas crianças forma-se logo na infância através dos processos de reforço directo e de
modelagem em contacto com os pais, outros adultos e colegas.
Mudanças que, ao longo do tempo, ocorrem nos estereótipos, são muitas vezes o reflexo de
factores situacionais, como foi o caso dos chineses que emigraram para a Califórnia. No início eram tidos
como bons trabalhadores, pessoas sérias, poupadas... Todavia, com a alteração das condições
socioeconómicas deixaram de ser considerados conforme o descrito anteriormente e tornaram-se
indesejáveis para os habitantes daquela cidade, passando a ser “sujos, fechados, misteriosos”.

 Abordagens Psicodinâmicas

O preconceito resulta dos próprios conflitos e desadaptações dos indivíduos. Para se modificar o
preconceito e discriminação devemos focalizar-nos na pessoa com preconceitos.
Característica Comum: externalização – o individuo trata com os seus problemas e conflitos pela
descarga ou projecção noutros indivíduos, não reconhecendo que a causa dos seus problemas é interna e
não externa.

 Alguns autores consideram que o preconceito é uma forma de agressão e que resulta da
frustração. O preconceito pode diminuir em situações de ameaça partilhada como um ciclone em que,
ao passo que este aumenta quando se refere a ameaças pessoais. Por exemplo, o preconceito contra
as minorias étnicas é agressão deslocada que resulta das frustrações pessoais de trabalho e condições
de insegurança económica. Esta interpretação é conhecida como a hipótese do bode expiatório do
preconceito (Miller e Bugelski, 1948) – solicitaram aos sujeitos uma atitude em relação a vários
sujeitos, em que metade deles era frustrados por não se lhes permitir visionar um filme desejado que
lhes disseram que iam ver. Novamente solicitadas as atitudes face a grupos minoritários o preconceito
aumentou no grupo experimental dos frustrados, face ao grupo de controlo.

Dentro destas abordagens têm sido utilizados 2 tipos de explicações:

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 O preconceito encontra-se enraizado na condição humana Enfatiza-se as semelhanças entre
indivíduos. A frustração é vista como inevitável à condição humana.
 O preconceito está relacionado com diferentes tipos de personalidade. Enfatizam-se as
diferenças dos indivíduos.

Estudo da Personalidade Autoritária de Adorno et al (1950).


Objectivo – examinar diferentes configurações de atitudes, para ver se as pessoas com preconceitos
contra grupos minoritários específicos tinham igualmente outras espécies de ideias e determinados traços
de personalidade, através de uma Escala Anti-Semitismo para medir atitudes em relação aos judeus e a
Escala de Etnocentrismo para medir o preconceito em geral (nota: o anti-semitismo não é mais do que
uma forma de etnocentrismo).

Hipótese: A pessoa etnocêntrica tem preconceitos contra todos os que são estrangeiros a ele. De
facto, Os sujeitos que apresentaram fortes preconceitos para com os judeus tinham também fortes
preconceitos contra os negros e grupos minoritários. Além disso, os resultados levaram a que Adorno et al
pensassem que havia uma ligação entre ideologia política e personalidade.

Construção da Escala F (fascismo), com base na teoria freudiana, para medir as tendências
antidemocráticas dos sujeitos, constituída por 9 componentes: convencionalismo, submissão autoritária,
agressão autoritária, anti-intracepção, superstição e estereotipia, poder e “dureza”, destrutividade e
cinismo, projecção e repressão sexual. Cada resposta positiva era indicadora de personalidade autoritária.

Em função dos dados recolhidos, os sujeitos foram repartidos em:

 Personalidade anti-autoritária.

 Personalidade autoritária – depois de entrevistas fez-se um estudo psicológico individual. O autoritário é


um indivíduo que recalcou as suas tendências individuais; que tende a projectar nos outros as tendências
que não aceita para ele; mostra intolerância em relação aos outros; admira o poder; mostra uma
dominação excessiva dos fracos e uma submissão exagerada aos fortes. Os sujeitos estão convencidos da
superioridade nacional, dos seus costumes e valores.

Críticas

 Todas as questões estão formuladas na mesma direcção, pelo que pode haver o fenómeno da
condescendência, isto é, a tendência que muitas pessoas manifestem concordância com qualquer que seja
a coisa que se diz.

 Artificialidade de Correlações Elevadas nas três escalas – as escalas de atitude estavam mal construídas,
pois só utilizavam questões que se correlacionavam com o anti-semitismo

 Substimação do autoritarismo – Só estuda o autoritarismo da extrema-direita, esquecendo a extrema-


esquerda que tem como característica comum “mentes fechadas”. Rokeach ao medir estes dois tipos e
autoridade em si concluiu que o dogmatismo está presente em ambos os grupos conservadores que
obtinham scores mais elevados.

 Características tidas como fulcrais na definição da pessoa autoritária podem variar de país para país,
reflectindo tendências de doutrina de mercado livre ou igualdade – os russos autoritários opõem-se ao
lassez faire, mas apoiam a igualdade, ao passo que os americanos autoritários impõe exactamente oposto.
Contudo há um aspecto em que são muito semelhantes: o preconceito contra as minorias

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 Não é necessário recorrer à personalidade para explicar o preconceito a partir do momento que o nível de
instrução e o estatuto socioeconómico oferecem uma explicação mais plausível. A personalidade autoritária
é mais provável em pessoas com um nível baixo de instrução e de estatuto socioeconómico. Hyman e
Sheatsley

 Não se podem sobrestimar os factores de personalidade em detrimento dos sociais (Pettigrew) – estudou
duas regiões dos EUA (norte, sul) e África do Sul. O norte dos EUA tinham menos preconceito contra
negros que no sul, embora a escala F previsse quase os mesmos resultados. Os preconceitos existentes no
Sul não se explicavam por uma maior proporção de autoritários. Resultados da África do Sul vao no
mesmo sentido.

 Abordagens cognitivas

Os preconceitos não resultam da realidade objectiva da situação, mas na forma subjectiva de processar essa
informação, os processos cognitivos.

1. Categorização social

 O mero facto de categorizar as pessoas em dois grupos, um a que se pertence (endogrupo) e o


outro a que não se pertence (exogrupo) tem influência sobre o comportamento e a percepção do
indivíduo. Mesmo numa população homogénea fisicamente como na Irlanda do Norte, os indivíduos
conseguem distinguir-se com base em informações subtis como o nome ou escola.

 Tajfel (1970) mostrou que só a pertença a um grupo, na ausência de competição real, era uma
condição suficiente para a discriminação intergrupal, de modo favorável para o endogrupo e desfavorável
para o exogrupo (experiência: adolescentes expressavam a sua opinião sobre pinturas modernas. Era-lhes
dito que eram inseridos num grupo que tinha as suas preferências – o grupo Klee ou Kandinsky e pedia-se
para dividirem recompensas monetárias pelo seu grupo e o outro. Mesmo postos no paradigma grupo
mínimo, em que nunca tiveram contacto real para conhecer o grupo e a tarefa não tem consequências, o
grupo favorecido era o seu à custa do outro – o preconceito advém da percepção em que categorizamos)

 Para além da percepção influencia a memória. Park e Rothbart encontraram que os membros do
endogrupo tendiam a ver os membros do exogrupo como sendo mais homogéneos e menos diferenciados
que os membros do endogrupo. O favoritismo pelo endogrupo é ainda explicado pelo facto do elemento se
avaliar em relação ao grupo para encontrar uma identidade social positiva.

 Verificou-se que as pessoas percepcionam um maior grau de semelhança entre si e os outros


que pensam acreditar em coisas semelhantes às suas. Do mesmo modo, encontram-se maiores diferenças
do que as existentes quando os outros acreditam em coisas diferentes das suas. É o poderoso efeito de
categorização (experiência Tajfel e Wilkes: pediram a três grupos para jugarem um conjunto de linhas de
comprimento diferente. O grupo experimental era categorizado com A para as linhas mais curtas e B para
as mais longas. No grupo dois não havia categorias e o grupo três a categoria era aleatória. A
categorização influenciou a percepção das linhas pelos sujeitos – a linha mais curta da mais longas (B) era
percepcionada como sendo mais longa do que era).

 A categorização social, processo em que as pessoas percepcionam os seus semelhantes, é


suficiente para despoletar discriminação social, pois está na génese do preconceito ao acentuar diferenças
entre grupos e semelhanças no grupo. O viés do endogrupo tem uma função hedónica – apoia
directamente a auto-estima do individuo criando uma identidade social positiva, na medida em que retiram

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aspectos positivos do grupo para a sua auto-imagem. Numa competição social se a sua imagem é positiva,
a do outro grupo é negativa (experiência Meindler et al.: uma situação de fracasso, de golpe à auto-estima
levaria à necessidade de aumentar a auto-estima e por consequência a categorização social. Depois de
expor, ou não, Canadianos Anglófonos a condições de ameaça à auto-estima verificou-se que o grupo que
tinha sofrido uma diminuição de auto-estima avaliavam o exogrupo mais extremamente)

 Allport – há preconceito pelo que pensamos (estereótipos), correlações ilusórias (exemplo: o


telefone toca sempre que estou na casa de banho), o preconceito é desfavorável.

2. Os estereótipos

“Imagens na cabeça”, conjunto de crenças acerca de membros de um grupo. Estas crenças


geralmente são simples, muitas vezes generalizadas de modo excessivo e frequentemente erradas (é
preciso ter em conta que nem sempre são incorrectos). São armazenados na memória a longo termo e
ajudam-nos a compreender comportamentos. (experiência Katz e Braly: para descobrir o conteúdo de um
estereótipo e em que medida são partilhados pediram a 100 estudantes para descrever traços que melhor
descreviam nove grupos étnicos. Os negros foram associados a preguiçosos e os brancos a inteligentes –
os sujeitos possuíam estereótipos)

Explicações para a formação dos estereótipos:

 Tendência para assumir a homogeneidade do exogrupo - há uma maior semelhança entre membros
dentro de exogrupos que dentro de endogrupos, que os elementos de grupos onde não estamos inseridos
são todos iguais (exemplo: as mulheres dizem… “Homens, são todos iguais!”). As pessoas estão
geralmente conscientes de diferenças muitas vezes subtis entre pessoas dos seus grupos, sendo mais fácil
formar estereótipos para o exogrupo (experiência: em duas universidades mostrava-se um vídeo de um
outro estudante a tomar uma decisão. Quando lhes era dito que o individuo era da sua instituição os
sujeitos generalizavam mais o comportamento desse elemento do exogrupo para o seu grupo, do que
quando esse elemento era da sua instituição).

 Correlação ilusória - Consiste em percepcionar uma relação que não existe realmente entre pertença a
um grupo e o facto de possuir certos traços inusitados (experiência: Sujeitos liam o enunciado sobre o
comportamento de dois grupos. Havia duas vezes mais enunciados que descreviam o grupo A. Como o
grupo B tinha duas vezes descrições os actos indesejáveis apareciam simultaneamente e chamavam a
atenção por ser mais raro. O grupo B, minoritário, foi sobreavaliado no comportamento negativo. Depois
de efectuada a associada a informação subquente será enviesada na mesma direcção – viés no
processamento de informação). Isto é grave pois actos muito negativos tendem a ser raros e observações
de membros minoritários são mais raras que observações de membros maioritários (exemplo: o
assassinato é raro, mas aparece nas primeiras páginas dos jornais, principalmente quando é um Cabo
Verdiano aparece mais vezes associada a nacionalidade. Já quando é um português o acontecimento é
menos particular e mais frequente, pelo que já não é tantas vezes referida a nacionalidade. Alimenta-se
uma ilusão de que há uma forte correlação nacionalidade/assassinato. Ao adquirir-se a crença,
julgamentos futuros serão influenciados por ela). Os mecanismos cognitivos que levam a correlações
ilusórias colocam minorias em desvantagem em termos de como são tratadas nos nossos estereótipos.

 Profecia de auto-realização – é um fenómeno que favorece a estabilidade cognitiva dos estereótipos,


pois os estereótipos são esquemas armazenados e o que relembramos é essa informação. Mas, podemos
encontrar pessoas de um grupo que não correspondem ao estereótipo (exemplo: há homossexuais que
não são efeminados). É o efeito do caso excepcional – a informação individual que contradiz o estereótipo

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raramente nos leva a mudar o estereótipo me questão, pois este continua a alicerçar-se ao grupo e
apenas se torna a excepção que confirma a regra. Além disso, como os comportamentos em relação a um
membro de um exogrupo se alicerçam nos nossos estereótipos, podem levar esta pessoa a reagir
consoante as nossas expectativas (exemplo: há o estereótipo que as mulheres atraentes são socialmente
competentes. Se numa conversa telefónica o homem acreditar que a mulher é atraente terá tendência a
ser afável, o que provoca segurança e assertividade na mulher, tonando-a socialmente competente).

3. Atribuições

É o processo de explicar o comportamento. Se este processo foi influenciado por preconceitos, pode
haver duas consequências:

Rotulagem enviesada - Acontece quando ks de alguns membros do exogrupo parecem ser


semelhantes ao do endogrupo e por isso acabam por ser descritos de maneira diferente. Por ex. uma
pessoa pode orgulhar-se de ser bom trabalhador e repara que um membro do grupo que considera
antipático também o é. Face a tal situação vai considerar o seu k como sendo muito bom e desfavorecer o
k do outro indivíduo. A rotulagem é enviesada, pois o mesmo k é descrito de modo favorável para o
endogrupo e desfavorável para o exogrupo.

Erro irrogável da atribuição - as pessoas com preconceitos apresentam tendência para manifestarem
este tipo de erro, que não é mais do que uma extensão do erro fundamental da atribuição. O 1º erro
referido sugere que quando as pessoas com preconceitos vêem o alvo do preconceito a executar uma
acção negativa, tendem a atribuí-la a traços estáveis dos membros dos grupos minoritários. Porém quando
um membro de um grupo minoritário é visto a executar uma acção positiva, ela não é atribuída a
disposições internas, mas sim a outros factores pouco lisonjeiros e vitoriosos: sorte, factores situacionais
que estão fora do seu controlo, alta motivação para o sucesso e esforço extraordinário.

4. Crenças Sociais

Alguns preconceitos estão baseados em ideologias políticas, ideologias religiosas, ideologia do


mundo justo - quem sofre é porque merece, no sentido em que fez algo de mal para o merecer como
castigo. São pessoas mais susceptíveis de censurar a vítima. (experiência: um dos participantes foi
seleccionado á sorte para uma prova de memória. Cada vez que falha, recebe choques dolorosos. Os
observadores que nada podiam fazer para alterar a sorte da vítima desvalorizaram-na). As pessoas que
vivem em países mais pobres não acreditam no mundo justo.

 Alvo do preconceito

A fonte do preconceito foi até agora posta no observador, mas será que os estereótipos são descrições
certas dos alvos dos preconceitos? Após revisão bibliográfica pôde tirar-se 2 conclusões:

a) parece certo que os estereótipos do endogrupo são mais certos que os dos exogrupos, que
reflectem mais exagero

b) a força da identificação com o endogrupo exacerba as diferenças endogrupo/exogrupo na verdade


do estereótipo.

 Certos autores referem que existe um fundo de verdade dos estereótipos, pelo menos em
pessoas que tem o mínimo contacto com o outro grupo. Preconceito e hostilidades intergrupais

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podem basear-se em características reais de grupos – ideia de reputação ganha. Mas, como os
estereótipos são representações tendem a ser exageradas, não permitindo uma previsão certa.

 Quadro integrador das teorias

Ao longo dos anos têm sido propostas várias teorias para explicar o preconceito (anos 50 – personalidade,
anos 60 e 70 – socioculturais). Mais recentemente a abordagem cognitiva tem apresentado um contributo
importante para a compreensão e explicação do preconceito. Apesar disso depara-se com muitos limites já
que não contempla os factores afectivos nas relações intergrupais.

Duckitt tentou integrar esta abordagem noutras teorias para fornecer uma explicação mais completa do
fenómeno do preconceito:

1. Todos os seres humanos encontram-se de uma certa forma predispostos para o


desenvolvimento de preconceitos.
2. Dinâmicas sociais e intergrupais referem que as condições de contacto intergrupal elaboram
estas predisposições para padrões normativos de preconceito.
3. Os mecanismos de transmissão explicam como é que estes padrões são transmitidos
socialmente a membros individuais destes grupos.
4. As dimensões de diferenças individuais determinam a susceptibilidade dos indivíduos ao
preconceito e por isso acabam por controlar o impacto dos mecanismos de transmissão social sobre
os indivíduos.

CONSEQUÊNCIAS DO PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO

A complexidade do problema não levou os psicólogos sociais a desistir dele. Pelo contrário, ao serem
agentes de mudança importa compreenderem as consequências e atenua-las. A pior consequência remete
para o extermínio como o dos oito milhões de judeus no período anti-semita.

 Reacções das vítimas ao preconceito

Allport, 1954, identificou 15 consequências possíveis que as pessoas que são alvo de preconceitos podem
passar: afastamento; passividade; militância; agressão contra o exogrupo; auto-agressão…

Estas consequências podiam ser enquadradas em 2 categorias gerais:

 Intrapunitivas - tratam-se de defesas que implicam auto-culpabilidade (os elementos dos grupos
minoritários que a apresentam são hostis para o seu próprio grupo).
 Extrapunitivas - tratam-se de defesas em que a culpa é projectada para os outros (os indivíduos de
grupos minoritários que possuem este tipo de defesa tornam-se fieis ao seu próprio grupo e manifestam
agressividade em relação a outros grupos).

Tajfel e mcKirnon (1984) avança três tipos de respostas: 1) resignar-se á situação ainda que com
remorso 2) tentar libertar-se em sociedade ou 3) agir colectivamente para melhorar o estatuto do grupo.
criaram um modelo com 5 estádios que mostra como os grupos tratam com o preconceito e uma posição
não favorecida na sociedade:
 relações grupais claramente estratificadas,
 emergência de uma ideologia individualista

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 mobilidade social individual
 tomada de consciência
 relações intergrupais competitivas
A discriminação é percepcionada como ameaçadora e em certas circunstâncias as pessoas discriminadas
podem agir de forma violenta contra o grupo dominante (exemplo: os negros que participaram em motins
raciais nos EUA, eram mais sensíveis à discriminação e aceitavam menos os estereótipos negativos)

 Consequências do racismo sobre o racista

O racismo tem efeitos em todas as pessoas, sejam elas vítimas os próprios racistas ou até mesmo os
seus observadores. A imersão de pessoas numa rede social racista torna difícil para qualquer pessoa
branca evitar a sua influência, e tem efeitos principalmente sobre as crianças:
 ignorância das outras pessoas;
 desenvolvimento de uma consciência psicológica dupla e confusão moral;
 conformidade ao grupo.
Terry defende que o racismo mina e distorce a mente dos brancos, fazendo com que muita coisa fique
fora do seu controlo. Os brancos estão profundamente feridos com o racismo, então as barreiras sociais
erigidas são um mecanismo de defesa.
Essas barreiras vêm restringir aspectos quotidianos da sua vida como divertir-se.
Há ainda pesadas consequências emocionais: culpa, vergonha, sentir-se mal.

REDUÇÃO DO PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO

A redução do preconceito e discriminação, por vezes adoptados pelos próprios elementos do grupo, passa
por 3 métodos abordados pelos psicólogos sociais:

 Tomada de consciência
Da pertença a um grupo minoritário: Tornar os membros do grupo minoritário sensíveis às
influências opressivas que pesam sobre as suas vidas, assegurando-lhes um meio de defesa colectiva.
 Processo de tomada de consciência segundo Mednick (1975)
1. o sujeito sente insatisfação com a sua condição, podendo autocensurar-se, ganhando
sentimento limitado de controlo pessoal e de acção (exemplo: as mulheres consideraram que a
sua condição de dona de casa é miserável e podem sentir-se infelizes).
2. Se ganha consciência ao reconhecer que o problema é partilhado enquanto grupo e não
causado por si, adquire um sentimento de igualdade e de competência.
3. Apercebe-se que pode exercer mais controlo como membro do grupo. A ideologia do agente
consciente propõe uma ideologia que lhe permita congregar as mulheres.
4. Pode então dirigir uma acção contra o sistema.
5. Com a reacção do sistema há aumento do sentimento de controlo pessoal.

De distinções: A maior parte das vezes acabamos por processar informação de modo automático
e passivo, fiando-nos nas categorias que estão à nossa disposição, em vez de fazermos formulações novas
– falta de atenção. Se encontramos uma pessoa pertencente a um grupo minoritário, as nossas reacções
podem ser polarizadas por essa característica. Se prestarmos mais atenção às pessoas muito
provavelmente aceitamo-las com maior facilidade – paradoxo: quanto mais discriminamos os outros,
menos os consideramos membros de uma categoria abstracta (experiência: os sujeitos que foram postos a

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um treino de atenção estavam mais dispostos a ir a um piquenique com uma pessoa deficiente do que as
que não tinham passado por esse treino. Também escolhiam pessoas deficientes como colegas de grupo –
pensavam nos eficientes não como categoria, mas consoante as suas falhas e dificuldades)

O assimilador cultural: Técnica de sensibilização que permite considerar o mundo do ponto de


vista cultural de outra pessoa. Para tal, são ensinadas regras e modos de vida de um outro grupo com o
objectivo de fazer atribuições correctas em relação aos comportamentos dos membros de outro grupo.
Esta técnica recorre a incidentes críticos - episódios importantes para a interacção intergrupal e que
podem ser mal interpretados por aquelas pessoas que não estão habituadas a lidar com o público-alvo.
A pessoa que está a ser treinada lê o episódio que se refere a uma interacção intercultural e faz uma
interpretação dessa interacção. Explica-se à pessoa se a sua resposta está ou não certa. Se por ventura
estiver errada, no sentido em que se tiram conclusões que não estão explicitas no texto, o indivíduo
deverá voltar ao episódio e escolher outra opção. Resultados mostraram que as pessoas que passam por
este treino tendem a ter atitudes mais positivas em relação a membros de outros grupos.

 A hipótese do contacto

Poderá o preconceito ser reduzido ao aumentar o grau de contacto entre diferentes grupos? A ideia de
que pode baseia-se não tanto na personalidade do indivíduo ou nas suas atitudes mas sim no
desenvolvimento de uma nova identidade grupal. Se se desenvolveu uma hostilidade autista e os grupos
estão de costas voltadas cada um vê-se com razão Com o aumento do contacto, o exogrupo deixa de ser
estranho e parece mais diferenciado, podendo a discriminação ser reduzida.
Apesar dos resultados da investigação nem sempre isso se verifica pois não basta simplesmente juntar
os grupos. (exemplo: judeus e nazis viveram várias décadas juntos)

Condições necessárias:

1. Igualdade de estatuto: a interacção deve ocorrer em contextos onde os membros dos grupos
tenham estatutos aproximados (exemplo: um gestor com preconceitos para com as mulheres não
deixa de o ter para com a empregada de limpeza só pelo facto de contactar com ela. A diminuição
do preconceito só é evidente se também a mulher for gestora)
2. Intimidade de contacto entre membros de dois grupos, sendo que, para isso, a interacção deveria
ser face-a-face e manter-se durante um longo período de tempo. Quanto maior, menor o
preconceito, já que se individualiza o individuo, em vez de o estereotipar.

3. Necessidade de partilhar objectivos comuns que exigem interajuda em actividades conjuntas


(jigsaw technique). (exemplo: soldados brancos que combateram ao lado de negros tinham menos
atitudes preconceituosas). A competição tem efeitos devastadores nas relações, ao passo que a
cooperação favorece a recategorizarão do exogrupo.

4. Normas sociais que favoreçam a igualdade - As normas sociais são um factor determinante, bem
como os líderes que devem orientar para a não tolerância da discriminação e reformulação de
normas que promovam as diferenças. (exemplo: tensões ligadas à raça, ao sexo e orientação sexual
tem sido atenuadas com sucesso em muitos locais de trabalho, quando os supervisores tornam claro
que afirmações preconceituosas e acções discriminatórias não são toleradas.

 experiências: mulheres brancas foram seleccionadas para trabalhar com mulheres negras num jogo
de gestão de empresas. Acabaram por criar estreitos laços e a generalizar essa diminuição do

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preconceito, pois tinham igual estatuto, objectivos e acabaram por criar uma relação intima. Já
Stephan (1978) estudou os efeitos da desagregação racial nas escolas e observou que as atitudes
dos brancos em relação aos negros mostram pouca redução, enquanto os preconceitos destes
últimos tanto podem aumentar, como diminuir, tudo porque se descuidou do contacto intergrupal)

Conclusão: Juntar simplesmente os grupos não fará desaparecer, na sua totalidade, o preconceito,
mas também conservá-los separados também não ajudará.

Críticas:
É difícil conjugar todos estes factores: o turismo ajuda a maior contacto entre nações, mas se tal
não for vivenciado à janela do autocarro não surte efeitos.
Ênfase colocada na mudança de atitudes preconceituosas do grupo dominante e a subvalorização
das atitudes dos membros de grupos minoritários. É importante considerar também as atitudes e crenças
dos grupos minoritários e as crenças e ansiedade das pessoas envolvidas (exemplo: o grupo minoritário
pode ter receio de ser vitimizado e o grupo maioritário pode ter medo de fazer algo que seja interpretado
como preconceito. Por si só a ansiedade torna-se um obstáculo)

 Contacto vicariante através dos meios de comunicação social


Muitas vezes não temos de encontrar fisicamente membros de outro grupo para estarmos em contacto
com esse grupo, na medida em que os meios de comunicação social podem ser veículos de muitos
preconceitos e estereótipos. Apesar de já não serem tao extremistas, ainda veiculam estereótipos.
Se conseguem contribuir talvez possam contribuir para a sua redução em exposição prolongada
(experiência: Crianças que viam a Rua Sésamo eram mais susceptíveis de escolher crianças não brancas
para uma brincadeira do que as que não viram).

APLICAÇÕES: ESTRATÉGIAS PARA MUDAR ATITUDES NEGATIVAS


Elliot Aronson tinha como objectivo reduzir a tensão inter-racial nas escolas completamente
segregadas nos EUA. Após observação pensou que a dinâmica psico-social era notavelmente semelhante à
descrita por Sherif na experiência de campo da Caverna dos Ladrões.
Aronson e a sua equipa desenvolveram uma técnica de aprendizagem que foi denominada de
“técnica do quebra-cabeças” (jigsaw technique) - os estudantes eram colocados em grupos de
aprendizagem de seis pessoas, misturados do ponto de vista racial e académico. A lição do dia era dividida
em 6 subtópicos e cada estudante aprendia uma parte da lição e tinha de a ensinar aos outros elementos.
Resultados:
 Diminuição no preconceito e um aumento em gostar uns dos outros.
 Melhorou o gosto pela escola, a auto-estima, os resultados académicos dos estudantes minoritários.
Questões … Há generalização ou excepção à regra? Há outras formas de contacto interdependente para
reduzir o preconceito? Qual o processo pelo qual se mudam estereótipos?

DeForges estuda a atitude de estudantes em relação a doentes mentais, em situações experimentais que
os estudantes julgavam estarem separadas.
1ª Fase:
Medem atitudes dos estudantes em relação a antigos doentes mentais numa escala desde o
extremamente positivo ao extremamente negativo. Os estudantes apresentam também uma lista com
adjectivos que caracterizem esse grupo e outros que podem não caracterizavam em nada.

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2ª Fase:
Estudantes tinham de estudar em par 6 páginas com um comparsa que era tido como “antigo
doente mental”
 1ª condição (controlo): sentavam-se em lados opostos e estudavam cada um por si só.
 2º condição: quebra-cabeças – cada um recebia diferentes segmentos pelo que tinham de comunicar.
 3ª condição: recebiam fragmentos idênticos e cada um resumia para o outro, enquanto o outro ouvia
e dava uma retroacção. Depois trocavam de posições no segmento seguinte.
Depois de 50 minutos de contacto usaram a lista de adjectivos que tinham utilizado na 1ª Fase
3ª Fase:
Responderam de novo a questões sobre atitudes em relação a antigos doentes mentais em geral e
outros grupos minoritários.
Resultados:
 O antigo doente mental recebeu uma avaliação mais positiva depois do contacto, quando comparado à
avaliação prévia do antigo doente mental típico.
 Os antigos doentes mentais típicos como grupo no geral foi também melhor avaliado, o que sugere
uma generalização ao grupo minoritário como o todo através da cooperação
 O quebra-cabeças não é a única técnica para reduzir o preconceito, pois a 3ª condição também
assistiu a uma redução do preconceito. O grupo que tinha contacto, mas não cooperação não teve este
resultado, o que evidencia os benefícios do contacto cooperativo estruturado.

Modelo dos três estádios com base no contacto cooperativo estruturado


Estádio 1: Expectativa – as pessoas que vao interagir com um membro de um grupo
estereotipado esperam interagir com alguém semelhante ao membro típico.
Estádio 2: Adaptação – o contacto cooperativo com um membro de um grupo estereotipado
negativamente, suscita uma impressão mais positiva do que o esperado.
Estádio 3: Generalização – a impressão positiva de modo inesperado de um membro de um grupo
específico estereotipado negativamente, generaliza-se a um retrato mais positivo do membro típico e a
adopção de uma atitude mais positiva.

Sintese de redução do preconceito:


- aumento do nível de educação
- fazer cumprir leis que tornam a discriminação ilegal, pois o comportamento modifica a atitude
- legislar para a igualdade
- olhar critico para com a imprensa
- contacto vicariante pelos meios de comunicação
- encorajar o contacto intergrupal (com base na hipótese do contacto)

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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III Género

A Psicologia Social do Género surgiu aquando os movimentos feministas nos finas dos anos 60 e
investiga o género enquanto norma social promovida pela cultura e nossas tendências naturais de
processamento de informação. (exemplo: o pai e o filho tem um acidente de automóvel. O pai morre, o
filho vai para o hospital em estado grave para ser operado. É chamada uma pessoa famosa para fazer a
operação. Ao chegar à sala onde se encontra o rapaz essa pessoa exclama: “Não o posso operar, é o meu
filho!”. Como é que isto é possível? – pessoas que respondem que é o pai adoptivo, o padrasto, uma
reencarnação ou um erro estão erradas, pois a resposta é mais simples: a pessoa em causa é a mãe do
rapaz. Revela-se a força do estereótipo que os cirurgiões são homens.)

Sexo – estatuto biológico que divide as pessoas em homens ou mulheres em termos genéticos
(cromossomas, órgãos reprodutores, hormonas). Não é uma variável em que há um amplo leque de
diferenças indivíduos – ou se é homem ou mulher.

Género – Significações que sociedades dão na pertença ao grupo masculino ou feminino. As


pessoas podem apresentar uma ampla variação no género, pois comportamentos vistos como femininos
numa cultura podem ser masculinos noutra (exemplo: na Nova Guiné os Tchumbali esperavam que os
homens fossem artistas, ciumentos e dependentes emocionalmente e as mulheres dominantes, impessoais
em responsáveis. A verificar-se no ocidente seria o inverso). Além disso, mesmo que as pessoas aprendam
a agir de forma normal para o sexo, podem não se conformar comas expectativas tradicionais e os
homens apresentarem características femininas e as mulheres características masculinas.

Preferência sexual - ser heterossexual, atraída pelo sexo diferente, ou homossexual, atraída
pelo mesmo sexo. Tem também um amplo comportamento de papéis de género.

GÉNERO E CULTURA

A investigação intercultural pode ser valiosa ao evidenciar diferenças de género entre culturas (exemplo:
no Paquistão as mulheres tem uma roupa própria e na Suécia há o estilo unissexo)

 Natureza dos estereótipos de género

Estereótipos - sistemas de crenças que se atribuem a grupos simplesmente pela pertença a esse grupo.
Essas generalizações ajudam a dar sentido num meio social complexo.
Estereótipos de género: referem-se a sistemas de crenças a propósito dos homens e das mulheres,
podendo-se conceptualizar a dois níveis:
 Estereótipos dos papéis de género Ideologia do papel de género - crenças acerca dos papéis
adequados a homens e mulheres (exemplo: é apropriado os homens dominarem as mulheres?)
 Estereótipos dos traços de género - constelações de características psicológicas que se pensa
caracterizarem os homens mais ou menos frequentemente que as mulheres (homens – agressivos)
Papéis de género: actividades com significado social em que os dois sexos participam actualmente com
frequência diferente (exemplo: os trabalhos de construção civil devem ser executados por homens, o que
se pode explicar pelos estereótipos dos traços de género – os homens são mais fortes, robustos)

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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Os estereótipos de género devem focalizar-se em quatro áreas:
não se pode falar só de 1) Traços e
2) Papéis
Embora relacionadas, podem operar de modo
mas também de 3) Profissões e relativamente independente
4) Características físicas.

(experiência: Deaux e Lewis mostraram que uma categoria de informações estereotipadas influenciava
fortemente os julgamentos acerca das outras categorias, pois com base em adjectivos os estudantes
avaliavam a probabilidade da pessoa descrita em traços desempenhar um determinado papel masculino ou
feminino, trabalho masculino ou feminino, aparência masculina ou feminina e preferência sexual).

 Variações nos estereótipos de género


Um projecto de investigação intercultural em 30 países (William e Best) obteve informações sobre os
estereótipos dos traços sexuais em crianças e adultos num grande número de países, através da técnica
picture story baseada na Medida dos Estereótipos de Género com adjectivos definidos por estudantes
universitários. O objectivo era obter informações de traços sexuais atribuídos por crianças e adultos de
diferentes países e analisar as semelhanças como indicadores de generalização pancultural e as diferenças
como indicadores de variação cultural. Os resultados mostraram variações de país para país, mas estas
diferenças eram relativamente pequenas em relação à semelhança geral entre países.
Os dados recolhidos em Portugal por Neto vao ao encontro de 25 países – o estereótipo masculino é
visto como mais activo e forte e o feminino mais favorável. Com a análise transaccional para o ego
verificou-se que o estereótipo feminino é mais elevado para o pai afectuoso e criança adaptada, enquanto
o estereótipo era masculino era mais elevado para o estado de ego critico, pai e criança livre em Portugal.

Os resultados portugueses confirmam o estudo de William e Best, na medida em que ao provarem


semelhança, provam generalização - há estereótipos de género panculturais que são evidentes em todas
as culturas, mas que são modificados de certo modo por influências culturais específicas.

Em Portugal (Neto) estudos com crianças evidenciaram efeitos quanto à


 Idade – aumento do conhecimento dos estereótipos de género em crianças dos 5 aos 8 anos e um
aumento mais pequeno e não significativo nas crianças dos 8 aos 11 anos. Estudos nos EUA sugerem
que essa aprendizagem é mais distribuída e gradual, podendo estender-se à adolescência.
 Nível Sociocultural – maior conhecimento dos estereótipos de género entre as crianças de nível
sociocultural mais alto, seguindo-se as crianças de nível médio e menor nos de nível mais baixo. As de
nível alto e médio tinham maiores ganhos entre os 8 e 11 anos, talvez por terem mais acesso á
televisão, fonte de aprendizagem de estereótipos.
 Residência urbana-rural e emigração - maior conhecimento dos estereótipos de género em crianças de
origem portuguesa residentes em França e em crianças que viveram pelo menos os cinco primeiros
anos em França, que as portuguesas residentes em Portugal quer nas zonas urbanas quer nas rurais.

Se os estudos de William e Best não prevêem tendências de conhecer melhor um estereótipo feminino do
que um masculino, tal não acontece em crianças brasileiras (Terrier) e portuguesas (Neto), que conhecem
melhor o estereótipo feminino, talvez porque o papel dominante na educação em ambas as culturas que
são próximas seja o da mãe, enquanto nos EUA é tanto a mãe como o pai. Essa semelhança só se acentua

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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e tem maior diferença relativamente a outros países a partir dos 8 anos – as primeiras aprendizagens, até
aos 8 anos são relacionadas com aspectos panculturais dos estereótipos, e as influências posteriores soa
fruto da cultura específica. Também noutros países se encontram diferentes traços estereotipados
consoante o grupo que o avalia.

 Activação dos estereótipos de género


Há 3 factores segundo Deaux e Major que determinam a activação de estereótipos de género:
 Pessoa-alvo: há diversas características da pessoa-alvo que contribuem para activar os estereótipos de
género sendo particularmente importante as características físicas que quanto mais acentuadas mais
activam (exemplo; um homem com costas largas é mais rapidamente visto como forte e activo) e
informação comportamental que se vai contra a corrente dos estereótipos pode eliminar os seus efeitos.
 Pessoa que percepciona: esquemáticos do género – pessoas que prestam atenção ao sexo para inferir
características e que percepcionam o geral com lentes masculinas ou femininas pessoas, o que faz com
que os membros dos grupos sejam todos iguais, aumentando a probabilidade de tirar conclusões erradas.
Aesquemáticas – pessoas que não processam a informação segundo o género para inferir características.
 Situação: em contextos em que o sexo da pessoa-alvo está particularmente saliente favorece a activação
dos estereótipos de género. Em grupos em que um determinado sexo está em maioria numérica (exemplo:
cabeleireiro), o sexo em minoria não só é alvo de atenção desproporcionada, como também é mais
susceptível de ser avaliado de modo estereotipado quanto ao género (experiência: ao avaliar um grupo de
pessoas que discutiam um assunto e que a contribuição era a mesma, os grupos tinham uma só pessoa
homem ou mulher, essa pessoa era avaliada de forma mais forte e estereotipada do que para o grupo em
que o número de homens e mulheres estava repartido).
 Pressão temporal (Jamieson e Zanna): os estereótipos de género são mais susceptíveis de aparecer na
percepção social quando as pessoas estão sob constrangimentos de tempo.

Agentes de socialização dos estereótipos de género


Quem transmite os estereótipos de género?
 Família: Interacção prolongada e intensa e diferenças de poder. Muito antes de a criança nascer, as
crenças estereotipadas afectam a preferência dos pais pelo sexo do bebé, pois a criança é desde cedo
categorizada - “É menino(a)!”. Assim, as crenças acerca do género vão-se enraizar de tal forma que
começam a influenciar o comportamento dos adultos (experiência: não havia diferenças entre peso , altura
e outras características físicas, contudo 24h após o nascimento os pais de meninas entrevistados viam-nas
como mais frágeis, afáveis e pequenas ao passo que os pais de rapazes os viam como mais fortes, maiores
e mais activos. Contudo, não parece que as crenças influenciem a forma de tratamento dos pais que
tratam as filhas ou filhos de forma semelhante, excepto em atribuição de tarefas domésticas e escolha de
brinquedos). Também os irmãos, em particular, os mais velhos reforçam e modelam os comportamentos e
interesses estereotipados de género.
 Escola: Desde a escola primária à secundária que os professores interagem muitas vezes com os seus
alunos de modo a reforçar estereótipos de género e a favorecer os rapazes em relação às raparigas – ao
verem as mulheres como maternais, vêm nos rapazes maior probabilidade de seguir carreira e por isso
colocam-lhes questões mais complexas e interagem mais com eles. Em segundo lugar, os professores dão
muitas vezes mais poder e estatuto aos alunos que às alunas (exemplo: os rapazes terem melhor lugar na
sala para ver para o quadro). Em terceiro lugar, os estereótipos de género podem levar a que os
professores avaliem alunos e alunas de modos muito diferentes (exemplo: os rapazes com base na

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competência e as raparigas com base na aparência, o que faz com que se avalie de forma mais negativa as
mulheres que seguem para um trabalho tipicamente masculino.
 Colegas: São modelos. Muitas vezes a pressão dos colegas é mais forte e eficaz que a dos pais ou de
outros adultos, em especial durante a adolescência. Desde a pré-primária à adolescência, as crianças que
enveredam por formas tradicionais de comportamento de papel de género são mais aceites socialmente
pelos seus colegas que as que não adoptam comportamentos tradicionais (exemplo: as raparigas buscam
maior passividade para serem aceites e os rapazes mais agressão e assertividade). O facto de se ligarem a
elementos do mesmo grupo faz com que haja uma segregação sexual e se cresça em subculturas.
 Meios de comunicação social: São influentes na sociedade especialmente em crianças que não
distinguem a realidade da fantasia. Em diferentes meios de comunicação social os homens desempenham
mais papéis e sobretudo papéis mais importantes que as mulheres.
*Televisão: retrata com grande realismo o status quo e é acessível. (exemplo: as mulheres na tv
são retratadas em ambientes românticos, em casa, em família e mais susceptíveis de ser vitimizadas,
enquanto os homens a trabalhar fora de casa em profissões de estatuto elevado. A voz da autoridade dos
anúncios é quase sempre masculina e a feminina aparece associada á culinária, crianças ou produtos
cosméticos. 70% dos homens são os peritos nos anúncios e 86% das mulheres resumem-se a serem
utilizadoras do produto nos anúncios. Pela análise de cartas ao Pai Natal os meninos preferem brinquedos
tidos como masculinos nos anúncios – armas – e as meninas as bonecas. Quando um brinquedo neutro é
posto nas brincadeiras do sexo oposto a criança recomenda o brinquedo para o irmão do sexo oposto)
*Vídeos de música Rock – passam os estereótipos muito marcados da mulher como submissa
sexualmente e o homem como sexualmente agressivo.
*Livros de criança – a maior parte das personagens é do sexo masculino

 A veracidade dos estereótipos de género


Com base em investigação sobre diferenças biológicas, psicológicas e sociais entre os sexos pode-se
concluir que os estereótipos de género podem ter um fundo de verdade, mas simplificando e exagerando
todavia essa verdade. Parece que as crenças sobre as diferenças sexuais são mais acentuadas e
abundantes que as próprias diferenças (experiência: Pedia-se para analisar traços que descreviam
verdadeiramente homens e mulheres, e noutro grupo a percentagem de validade desse traço para um
homem ou para uma mulher. Verificou-se que as expectativas excediam a realidade. Contudo, outro
estudo mostrou que só houve sobreavaliação das diferenças em duas categorias das seis possíveis, o que
demonstra um acerta validade na opinião dos estereótipos sexuais).

 Mudanças
Os movimentos feministas tiveram algum impacto tipo de nos estereótipos tradicionais? É difícil de
concluir, pois os estudos efectuados tanto dão uma resposta positiva como uma resposta negativa

Sim
 Os estereótipos atenuaram-se - Num estudo com 10 anos com a primeira fase antes dos movimentos
feministas, a segunda a coincidir com o seu advento, e a terceira já depois concluiu-se, ao fim do período
dos dez anos que havia um aumento de crença em oportunidades iguais para homens e mulheres e divisão
de tarefas domésticas.
 Mudou a forma de encarar os estereótipos ainda que eles perdurem – estereótipos anteriormente tidos
como negativos soa agora vistos como positivos, principalmente nas mulheres.
 Outros estereótipos se juntaram para além dos tradicionais - (exemplo: mulher – ambiciosa)

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Não
 Sujeitos de ambos os sexos continuam a ver homens como mais fortes, independentes, rudes, e as
mulheres como mais emotivas, educadas e submissas
 Estudos interculturais com base no estudo de William e Best não observam diferenças significativas num
período de dez anos nos EUA, permanecendo mais forte e activo, ao passo que na Noruega foi o
estereótipo masculino que evidenciou uma redução na actividade e força, passando a ser mais favorável

 Efeitos dos estereótipos de género

 Atribuições de sucesso e fracasso – uma revisão de mais de uma centena de estudos mostrou uma
fraca evidência de que as pessoas em geral avaliam o trabalho dos homens de modo mais positivo o
trabalho equivalente realizado por mulheres. Apesar do viés avaliativo poder não ser tao frequente
existe uma tendência humana para reclamar o sucesso e recusarem o fracasso. Além disso, homens
atribuem o sucesso mais a factores internos e mulheres a factores de sorte., ao passo que para o
fracasso as mulheres atribuem a falta de capacidade e os homens a má sorte. Ao se atribuir a máxima
de que o que é capacidade para o sexo masculino é sorte para o sexo feminino, faz com que o homem
receba o crédito e a mulher um efeito negativo no seu self.
 Saúde - técnicos de saúde mental, quer do sexo masculino quer do sexo feminino, percepcionaram
um adulto saudável do sexo masculino (activo, forte competitivo) quase como sinónimo de um adulto
saudável. Já o adulto saudável do sexo feminino (tido como submisso, excitável) era
significativamente diferente da pessoa adulta saudável. Conclusão: há a tendência a julgar-se a
adaptação em termos masculinos. Contudo, também pode ser positivo perceber-se estereótipos na
saúde (exemplo: os homens ao serem tidos como mais independentes sairão mais rápido de casa, o
que acarreta consequências para a ansiedade ao ter medo do fracasso e essa ansiedade pode reduzir a
esperança de vida dos homens, que é sempre mais baixa que a das mulheres. Waldrom indica que
75% das diferenças de expectativa de vida se devem ao papel do homem e não tanto à genética)
 Profissão - o sexo feminino está sub-representado em quase todas as profissões com prestígio, não
tendo sobressaído no domínio científico. Um estudo de Fidell (1970) ao enviar currículos iguais,
excepto no sexo, para o mesmo número de empresas mostrou que aos homens se oferecia geralmente
uma posição mais elevada que às mulheres, que muitas vezes ficavam em posições rotineiras. Os
homens são assim favorecidos para trabalhos ditos masculinos, e as mulheres para trabalhos ditos
femininos, o que se pode dever ao valor subjectivo atribuído (exemplo: homens dão mais valor à
matemática e ela é necessária para altos quadros). A discriminação no trabalho é mais grave se for
um homem a executar um papel feminino, podendo ser mais punidos que as mulheres que
habitualmente os executam

 Ideologias do papel de género


Estas ideologias são crenças sobre relações de papel adequados entre mulheres e homens. Enquanto
os estereótipos sexuais são crenças consensuais mantidas acerca de características dos homens e das
mulheres, a ideologia do papel sexual consiste em crenças prescritivas acerca do comportamento
apropriado às mulheres e aos homens.
Os papéis sexuais mais igualitários provem de pessoas que acreditam que as diferenças sexuais
observadas são fruto da aprendizagem e da sociedade. As pessoas que as diferenças se devem ao género
e que o ser se deve a ele resumir tem um papel de género mais tradicional.

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Foi analisada junto da população portuguesa a SRIS (sex-role ideology scale) de modo que os
resultados altos indicassem uma ideologia igualitária, ao passo que resultados baixos indicassem uma
ideologia do homem dominante. Portugal está na 6ª posição junto de países como a Itália e EUA. Em 15
países os mais igualitários revelaram ser países desenvolvidos com estatuto económico elevado, população
maioritariamente cristã e uma elevada percentagem de mulheres a trabalhar fora de casa (Holanda,
Alemanha e Finlândia), ao passo que que essas ideologias mais tradicionais se encontraram na Índia,
Paquistão e por ultimo a Nigéria.
Relativamente ao papel de género há estudos que mostram grandes diferenças culturais no
comportamento julgado apropriado para cada sexo – há mais acordo entre homens e mulheres do mesmo
grupo cultural do que homens e mulheres de diferentes grupos culturais.

Conclusão: Apesar de haver um acordo intercultural sobre características psicológicas do género, o


mesmo já não acontece com os papéis em que existe uma variação intercultural nas crenças sobre os
papéis apropriados para homens e mulheres.

COMPARAÇÕES DE GÉNERO
Quais são efectivamente as diferenças entre o comportamento do sexo masculino e feminino?

 Análise de diferenças de género de Maccoby e Jacklin


Efectuaram uma revisão de mais de 1000 estudos e examinaram mais de 100 traços comportamentais e
defenderam que havia áreas do funcionamento psicológico em que
as diferenças de género podiam ser documentadas: havia pouca evidência para apoiar as crenças:
as mulheres têm maior capacidade verbal As mulheres têm mais necessidades sociais
os homens têm maior sucesso em testes de Os homens são melhores em tarefas mais
matemática complexas e as mulheres nas mais repetitivas
os homens têm maior capacidade visuo-espacial Os homens são mais analíticos
os homens são mais agressivos As mulheres são mais sensíveis a estímulos
As mulheres tem auto-estima mais baixa e uma
necessidade de realização mais baixa

 Diferenças Cognitivas
Ao compreender as diferenças cognitivas pode-se compreender os diferentes papéis atribuídos, bem
como relaciona-las com padrões de comportamento típico.
 Não existem diferenças globais caso se avalie o QI, a criatividade e aptidão, mas há algumas
diferenças específicas
 As mulheres têm maior capacidade verbal – principalmente a partir da adolescência em que existe
maior riqueza de vocabulário, fluência verbal, criação de analogias, criatividade de linguagem escrita.
 Os homens tem maior sucesso em testes quantitativos e espaciais – o raciocínio não-verbal tem mais
sucesso, mas isso pode dever-se a influências ambientais, já que as raparigas são afastadas da
matemática, e pode ser atenuado com o treino. Prova disso, é a diferença não aparecer na população
esquimó, em que rapazes e raparigas estão igualmente treinados para adquirir a capacidade espacial.

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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Conclusão: Ao considerar o peso das variáveis ambientais sobre as biológicas é preciso ser cauteloso
quando se orienta alguém vocacionalmente com base em diferenças cognitivas que podem nem existir,
pois diferenças de género para capacidade espacial, como se viu, podem não ser universais nem
inevitáveis, e a grandeza das diferenças nas capacidades verbais já não é actualmente tão evidente,
excepto nalguns pontos específicos.
Por outro lado, as diferenças entre sexos são mais pequenas do que dentro do mesmo sexo.

 Diferenças emocionais
 Depressão – A incidência da depressão nas mulheres é duas vezes superior aos homens. Mais que
tendências biológicas, Frieze sugere que isto se deve a uma maior tendência por parte das mulheres a
fazerem atribuições externas que internas sobre o seu comportamento, o que provoca um sentimento
de incapacidade em mudar, em controlar a situação – o desânimo aprendido que muitas vezes se
reveste de realidade, pois as mulheres tem menos controlo da sua vida do que os homens.
 Bem-estar – Embora as mulheres evoquem mais o afecto negativo, também parecem experienciar
maiores alegrias, de modo que se encontra pouca diferença na satisfação global para ambos os sexos.
De facto, os estudos heterogéneos mostram resultados contraditórios e se existem diferenças elas não
são tao acentuadas como o caso da depressão, sendo difícil a interpretação. Em Portugal, só se
encontram diferenças a favor do sexo masculino em adolescentes (Neto).

 Diferenças no comportamento social


 Agressão: A tendência do sexo masculino em ser mais agressivo que o sexo feminino surge cedo no
desenvolvimento humano e tem sido amplamente constatada em diversas culturas (em duas meta-
analises verificou-se que os homens eram mais agressivos que as mulheres tanto na agressão física
como na verbal, embora a diferença fosse menor para a verbal). Contudo, esta tendência não reflecte
todos os casos, quer de homens quer de mulheres. A agressão é apropriada ou em todo o caso é um
comportamento esperado no sexo masculino, mas inapropriado para o sexo feminino. As reacções que
a agressão suscita nos outros por parte das mulheres, pode contribuir para inibir ou reprimir esse
comportamento. Esta perspectiva encontra o seu suporte no facto de as mulheres exibirem tanta
agressão como os homens em privado, mas não em público.
 Influenciabilidade e conformidade: Os estereótipos retratam as mulheres como sendo mais
condescendentes e conformistas que os homens. Eagly rejeitou essa hipótese quando encontrou que
diferenças na conformidade desaparecem quando as tarefas dadas aos homens e às mulheres são
iguais relativamente à sua familiaridade para ambos os sexos. Para Becker as mulheres são
ligeiramente mais influenciáveis, pelo que os resultados contraditórios não deixam
 Comportamento de ajuda: Os homens são mais susceptíveis que as mulheres de oferecerem
assistência em situação aflitiva. Contudo esta abordagem era limitada a este comportamento pro-
social, esquecendo outros como reconfortar um idoso, aconselhar um amigo, etc. Aí, as mulheres são
mais susceptíveis que os homens ao prestar favores pessoais e aconselhar amigos acerca de
problemas pessoais.
 Comportamentos não-verbais: Os estereótipos a respeito da “intuição” feminina deixam filtrar que
o sexo feminino pode descodificar melhor o comportamento não-verbal que o sexo masculino.
(experiência: numa revisão de 75 estudos em que a tarefa era ver um vídeo de pessoas a manifestar
emoções e descodifica-las, 68% das mulheres descodificava melhor que os homens (13%) e em 19%
não havia diferenças significativas). Esta tendência é sustentada por várias hipóteses ainda não
comprovadas: 1) o sexo feminino tem uma sensibilidade “programada” geneticamente para as

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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informações não-verbais, uma vez que a mãe tem de estar atenta aos sinais do bebé; 2)as mulheres
ao terem menos poder nas relações sociais, desenvolveram esta aptidão para interpretarem melhor os
outros; 3) as mulheres respondem de um modo emotivo e por isso lidam melhor com comportamento
não-verbal. Além disso, as mulheres riem mais, mantem maior contacto ocular e proximidade que os
homens. Os homens são mais expansivos e põe pausas de preenchimento ao discurso.
 Comportamentos em grupos pequenos: Mulheres mostram mais comportamentos sócio
emocionais positivos e os homens mostram mais comportamentos orientados para a tarefa. Estes
dados podem denotar que as mulheres são mais eficazes em tarefas que exigem negociação e
discussão, e os homens mais voltados para comportamentos orientados para a tarefa. Mulheres
surgem mais como líderes sociais e emocionais, preocupando-se em aspectos de interacção como
manter laços dentro do grupo s e os homens líderes de grupos orientados para a tarefa e obtenção de
recompensas. As mulheres em posições de liderança adoptam um estilo mais democrático e
participativo que os homens.

 Diferenças de Género: conclusões e precauções


A investigação neste domínio pode estar carregada de resultados enviesados:
 Os estudos que avaliavam o comportamento de forma subjectiva encontravam maiores
diferenças que os objectivos.
 Diferenças encontradas entre o grupo têm por medida a média, o que faz com que tendências
extremas regridam para ela, tornando a abordagem limitada (exemplo: Camões manejava
melhor a língua que muitas mulheres.
 Se se ultrapassar o viés a investigação poe em evidência mais mas semelhanças que as
diferenças, pois as diferenças dentro dos sexos são maiores que entre os sexos.
 São estudos correlacionais, nada nos dizem sobre as causas das diferenças.

TEORIAS ACERCA DO PAPEL DE GÉNERO

Teoria Focalização principal


Teorias biológicas As diferenças entre sexo são inatas derivadas de pressões evolutivas sobre homens e mulheres
Teorias evolutivas pré-históricos – as mulheres forma responsáveis ao longo da história evolutiva para cuidar das
Teorias fisiológicas crianças o que as tornou mais afectivas e os homens para caçar e lutar, o que os tornou mais
agressivos e tem maior capacidade espaço-visual.
Diferenças hormonais e no cérebro entre os sexos
Criticas: A origem biológica parece dizer só respeito à agressão, já que outros comportamentos
sociais não apresentam assim tantas diferenças. Determina a pessoa à condição do seu sexo.
Teorias da As diferenças entre os sexos são aprendidas por:
aprendizagem social Condicionamento Clássico - Rótulos como “maricas” adquirem fortes conotações emocionais ao
ridicularizar o rapaz
Condicionamento Operante - Diferentes comportamentos recompensados e punidos para os
rapazes e para as raparigas (exemplo: uma rapariga recebe um sorriso por brincar com bonecas,
um rapaz recebe um olhar de desaprovação)
Condicionamento por observação- As crianças aprendem comportamento sem recompensas ou
associações, mas pela simples observação dos pais, colegas e modelos mediáticos. Em países
que os modelos são consistentes e rígidos existe uma passagem de geração em geração, ao
passo que países em transição como Portugal pode haver modelos contraditórios para imitar.

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Teoria cognitivo As crianças em vez de passivas são activas na aquisição do papel de género quando alcançam o
desenvolvimentista período crítico do desenvolvimento.
A auto-rotulagem como homem ou mulher leva a comportamentos relacionados com o género –
não são as recompensas que fazem o rapaz masculino, é a identificação de si próprio como
homem que faz as actividades masculinas serem recompensadoras
Amplia a abordagem, cognitiva e integra a teoria da aprendizagem social. Os esquemas de
género são aprendidos e incluem crenças culturais acerca do género; as pessoas esquemáticas
Teoria de esquema de género, baseadas em crenças tradicionais, guiam o seu próprio comportamento e o dos
do género outros em relação à masculinidade e à feminilidade de uma forma mais forte. Assim, o
pensamento da criança, enquanto agente activo ao longo do desenvolvimento, encoraja também
o desenvolvimento do papel de género.
Diferentes papéis sociais ocupados elos homens e pelas mulheres levam a estereótipos de
Teoria do papel
género e a comportamentos diferentes nos homens e nas mulheres
social

Teoria da auto- O género é uma realização social que varia consoante os esquemas de género, o contexto e a

apresentação audiência.

GÉNERO E SELF

 Género e auto-estima
A maior parte das revisões da literatura não encontraram diferenças consistentes na auto-estima
global de homens e de mulheres. Mas se a auto-estima global de pessoas adultas dos dois géneros não
difere, a natureza e os comportamentos em que se baseiam podem variar (exemplo: as mulheres têm
auto-estima mais baixa relativamente ao peso e a aparência). Contudo, deve-se realçar que conclusões de
que a auto-estima entre os dois sexos acaba por ser equivalente se baseia em estudos realizados nos EUA,
através de adjectivos conotados como negativos ou positivos a priori.
Encontraram-se alguns países com diferenças significativas – na Finlândia e Venezuela as mulheres
tendiam a descrever-se mais positivamente que os homens, ao contrário da Malásia e da Índia em que são
os homens a auto descreverem-se mais positivamente.
Parece haver uma tendência para as mulheres terem uma auto-estima mais elevada em
sociedades desenvolvidas economicamente e socialmente, com uma maior percentagem de protestantes
(em vez de católicos e muçulmanos), mulheres a trabalhar fora de casa e a frequentar universidades,
menos autoritárias e liberais no seu papel de género.

 Género e Personalidade
Seja qual for o factor, a verdade é que muitas pessoas possuem traços de personalidade relacionados
com o género.
As primeiras escalas de masculinidade-feminilidade - tradicionalidade
Assentavam em dois postulados fundamentais:
 Comportamentos, atitudes e interesses masculinos e femininos são bastante coesivos no seio
das pessoas e masculinidade e feminilidade são polos opostos de uma só dimensão bipolar- as
características são mutuamente exclusivas e não se podem encontrar na mesma pessoa

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Feminilidade baixa Masculinidade baixa
(masculinidade alta) Feminilidade baixa

 Ideia de que é bom parta as pessoas terem pontuações elevadas de masculinidade-


feminilidade consoante o sexo – é bom para os homens terem elevados níveis de
masculinidade.

Criticas:
 Atitudes, traços e interesses masculinos nem sempre são coesivos
 O conteúdo da masculinidade-feminilidade, tal como os estereótipos é multidimensional, pelo
que nem sempre é bom para uma mulher ter um alto score na sua feminilidade tal como os
homens para a masculinidade.

Androgenia
Nos anos 70 surgiram vários novos métodos para avaliar os papéis de género propuseram que
masculinidade e feminilidade deveriam ser medidas com escalas separadas e independentes.
Consideravam que as pessoas não deviam ser encorajadas a comportar-se de acordo com padrões
antiquados, em vez disso deveriam ser flexíveis (andróginos) nos seus papéis de género. Sandra Bem
(1974) desenvolveu o “Bem Sex-Role Inventory” (BSRI) que fornece scores numa Escala de Masculinidade
e numa Escala de Feminilidade para cada pessoa que se avalia. Os resultados poderiam levar a 4
categorias de pessoas:

Ata masculinidade

Masculino Andrógino

Alta feminidade
Baixa feminidade

Indiferenciado Feminino

Baixa masculinidade

1. Pessoas indiferenciadas que têm um score baixo em masculinidade e feminilidade


2. Pessoas femininas que têm alto score na escala de feminilidade e baixo na masculinidade
3. Pessoas masculinas que têm altto score na escala de masculinidade e baixo na feminilidade
4. Pessoas andróginas que têm alto score em ambas as escalas

O BSRI e outros métodos de medida da androginia foram utilizados em centenas de estudos sobre papéis
de género o que revelou a complexidade da questão:
 Homens masculinos e mulheres femininas tinham tendência e escolher uma actividade estereotipada para
o seu género, mesmo que lhes pagassem menos; pessoas andróginas eram mais flexíveis
 As pessoas andróginas ajudavam mais alguém que estivesse a sufocar do que homens masculinos e
mulheres femininas

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 Os homens andróginos são passíveis de acreditar que as mulheres são andróginas, mais do que femininas
 As pessoas altas em masculinidade têm maior auto-estima e adaptação para com os outros. Como a
feminilidade propicia a baixa auto-estima, pessoas andróginas não se consideram geralmente mais
positivas que as pessoas que são altamente masculinas.

Criticas:
 A relação entre altos scores de androginia e comportamento é geralmente fraca.
 Além disso, uma pessoa que é andrógina numa situação pode não ser noutra.
 Os items avaliados nestas escalas, apesar de negarem os papéis de género, tendem a focalizar os
items masculinos nas realizações e os femininos na expressão de sentimentos, o que só vai medir uma
parte limitada do comportamento relacionado com o género.
 Ter padrões simultâneos de masculinidade e feminilidade é irrealista para a maioria das pessoas
 Sugere que a solução para o viés quanto ao género está na mudança individual, contudo também é
importante melhorar a situação e não só os indivíduos.

Transcendencia do papel de género


As falhas da androginia fizeram com que alguns autores se virassem para ao artigo de Rebecca et
al (1976) que defende a transcendência do papel de género, o que significa que as pessoas não combinam
simplesmente papéis de género como na androginia mas vão mais além, exprimindo livremente as suas
qualidades humanas sem se preocuparem com a violação de estereótipos.
A androginia enfatizava que as pessoas podiam ser flexíveis, ou masculinas, ou femininas
dependendo da situação. O conceito de transcendência vai além disso (exemplo: num mercado de trabalho
competitivo a mulher andrógena escolhe masculina ao ser agressiva, a mulher que transcende o papel de
género escolhe voltar a interpretar a situação não actuando de modo agressivo.

APLICAÇÕES: EM BUSCA DA IGUALDADE ENTRE GÉNEROS


Para muitos cientistas, a igualdade entre os géneros quando se realizar igualdade económica. Outros
juntam as mudanças na família. Como isso é quase uma utopia não nos podemos render a ela, pois
começa nas pessoas de hoje modelar a vida da geração seguinte.
Pais e professores precisam de aprender a tratar as crianças mas com base nas suas diferenças individuais
no que nas presumidas diferenças de género.

5 técnicas para combater os efeitos de se viver numa cultura estereotipada quanto ao género
 Criar meios neutros quanto ao género para as crianças de modo a encorajá-las a participar em
jogos mistos (meninas a jogar futebol e rapazes a jogar à macaca).
 Ensinar pelo exemplo, pois como as crianças também apreendem os estereótipos através da
observação devem ter modelos igualitários, não havendo tarefas mais ou menos apropriadas para
o género (pais a lavar a louça, mães a cortar a relva, etc…).
 Ensinar à criança a diferença entre género e sexo, explicando que esta diferença biológica só
acarreta restrições num leque limitado de comportamentos, como a reprodução, não significando
isso que não possam realizar actividades que determinadas pessoas considerem apropriadas a um
sexo.
 Vigiar o divertimento das crianças nos meios de comunicação social, avaliando criticamente os
programas onde são expostos estereótipos quanto ao género e o tempo de exposição que potencia
a interiorização (exemplo: até os filmes da Disney são marcadamente estereotipados.

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 Situar o género numa perspectiva intercultural e histórica – pode-se ensinar à criança que as
crenças quanto ao género variam na cultura e no tempo.

Na busca activa da igualdade a sociedade nunca deve estar estagnada. Cada vez mais, homens e
mulheres procuram a igualdade. É um processo em curso, não finalizado.

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IV - Relações Íntimas

Mesmo se têm ocorrido amplas mudanças societais nas atitudes, valores e comportamentos, o que é
certo é que a maior parte de nós pensa que idealmente a vida inclui interagir. Aparecem, então as
relações íntimas nas mais variadas formas.

 Natureza da intimidade
As noções de intimidade podem ser reagrupadas em 4 temas principais:
 Uma necessidade, variando de pessoa para pessoa, exprimindo-se por uma preferência por
relações em que há muito calor e troca com outra pessoa.
 Uma capacidade pessoal, de certo modo estável, em se comprometer perante a outra pessoa e
aceitar os sacrifícios que a manutenção de compromissos acarreta.
 Um processo em que duas pessoas tentam aproximar-se uma da outra e estabelecem uma
interdependência
 Os elementos característicos que distinguem as relações íntimas das restantes (intensidade do
sentimento, nível de compromisso, relação que se quer longa, interdependência complexa entre
duas pessoas, quantidade e qualidade da informação revelada).

Burgess e Huston sugerem o seguinte perfil como um consenso sobre a intimidade


 Duas pessoas interagem mais frequentemente durante um tempo mais longo e em mais situações
do que o fazem amigos menos íntimos ou pessoas conhecidas
 Quando separadas tentam restaurar a proximidade
 Abrem-se mutuamente, revelando segredos, sentimentos, elogios e críticas
 Desenvolvem os seus próprios modos de comunicar
 Cada uma desenvolve a capacidade em antecipar como é que a outra pessoa se comportará e
sentirá
 Os seus comportamentos e objectivos tornam-se sincronizados
 Cada uma investe cada vez mais na relação
 Cada vez mais o interesse de cada uma depende do bem-estar da relação
 Consideram a relação como sendo virtualmente insubstituível e única
 Tendem a relacionar-se como um par ou um casal

 Auto-revelação
É a vontade em revelar factos e sentimentos íntimos a alguém e desempenha um papel fundamental. É
mais provável de acontecer em pequeno grupo do que em grande grupo e para que pessoas que
consideramos atractivas ter como amigas. Ocorre de forma gradual.

Funções da auto-revelação:
 Facilita a auto-expressão e propicia uma oportunidade para desabafar
 Promove a auto-clarificação porque nos fornece uma oportunidade para pensar e compreender os
nossos próprios pensamentos e sentimentos
 Oferece validação social porque obtemos retroactivamente dos outros a aprovação e a normalidade
dos nossos sentimentos
 Fornece-nos controlo social, pois podemos escolher o que e quanto revelamos

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 Importante para o desenvolvimento de relações, pois a reciprocidade na partilha de informação
íntima faz a relação amadurecer.

Diferenças de género - Numa meta-análise de 205 estudos, verificou-se que as mulheres tendem,
ligeiramente, a auto-revelar-se mais que os homens, sendo esta tendência moderada por vários factores.
A auto-revelação para ambos os sexos ocorre mais para uma mulher que a um homem. Mulheres têm
mais facilidade de auto-revelação para com pessoas que conhecem, ao passo que os homens têm mais
facilidade com pessoas estranhas. O mito de que há grandes diferenças de género deve deixar de ser
perpetuado.

Diferenças entre culturas – norte-americanos tendem a auto-revelar-se mais e em diversos contextos do


que as culturas colectivistas (Japão e China). Não quer dizer que os norte-americanos tenham mais
relações íntimas, mas pode reflectir que revelar aspectos do self permita numa sociedade individualista
uma ocasião para identificarem a sua distintividade. Também pode indicar a ideia das sociedades
colectivistas que não se exprimir é um sinal de força emocional.

 Desenvolvimento das relações íntimas


Entre as várias relações que temos só algumas delas chegam a relações íntimas. Qual o processo?

Modelo de Levinger (1974) – é um continuum.


Ausência de contacto – duas pessoas não relacionadas
1. estádio da atenção – conhecimento (nenhuma interacção)
2. estádio do contacto superficial (alguma interacção)
3. estádio da mutualidade
× Interacção insignificante
× Interacção moderada
× Grande interacção

Modelo de Murstein (1976) –teoria “estímulos-valores-papéis” - 3 estádios que levam ao casamento


1. estádio dos estímulos em que uma pessoa percepciona as características físicas, psicológicas e sociais
de outra e faz uma avaliação das vantagens proporcionadas pela associação com essa pessoa.
2. estádio dos valores em que as duas pessoas vêm os valores fundamentais que têm em comum. É assim
determinada a eventual gratificação que advém de uma associação a longo prazo.
3. estádio do papéis em que cada pessoa avalia-se a ela própria e à outra para estabelecer a
correspondência nos papéis de cônjuge.

Modelo de Secord e Backman (1974) – 4 estádios


1. estádio precoce em que as duas pessoas exploram as vantagens que podem advir de uma relação.
2. estádio de negociação em que se negoceia as condições e as concessões que permitirão o
estabelecimento da relação.
3. estádio do compromisso em que aumenta a dependência e diminui a comparação das gratificações da
relação actual com outras potenciais relações.
4. estádio da institucionalização em que o carácter legítimo e exclusivo da relação é reconhecido de modo
oficial pelos outros.

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Característica comum dos 3 modelos:
 Enfâse nas avaliações virtuais das gratificações no início da relação (por vezes as expectativas
definidas podem não ocorre porque a informação colectada é a de características exteriores)

RELAÇÕES INTÍMAS NA FAMÍLIA


Quando se pede a estudantes para identificarem uma pessoa de que se sentem próximos ,
descrevem uma das três relações: membro da família (14%), amigo (36%) e parceiro romântico (47%).

 Vinculação pais-filhos
A vinculação à mãe ou a qualquer outra figura faz com que o contacto entre mãe e bebé evite
qualquer separação que ponha em causa a sobrevivência do bebé (Bowlby). A tendência para encontrar
contactos íntimos é, então, uma componente fundamental e já se encontra no recém-nascido. Bowlby
avança que os modelos de interacção aprendidos aquando relação mãe-bebé afectam os comportamentos
ultra interiores.

Ainsworth identificou três tipos de relações entre filhos e mães:


 Estilo de vinculação seguro – as mães são sensíveis aos sinais das crianças transmitindo segurança ao
bebé. Tornam-se confiantes nas pessoas que lhes são próximas e não se preocupam muito com o
abandono e um sentimento de que se é valorizado e amado. Socialmente competentes
 Estilo de vinculação esquivo – as mães comportam-se de modo distante, evitando as tentativas da criança
em estabelecer intimidade, fazendo com que as crianças aprendam a evitar quem cuida delas e a
suprimir as suas necessidades de vinculação. Tornam-se distanciadas emocionalmente. Comportamento
social contraditório – por vezes iniciam o contacto, mas depois afastam-se o que faz com que os colegas
os rejeitem e confirmem a crença inicial.
 Estilo de vinculação ansioso/ambivalente – as mães são inconsistentes e autoritárias na sua afeição, pois
ora inundam a criança de afecto ora são indiferentes. Devido ao amor inconsistente tornam-se crianças
ambivalentes, temperamentais e ansiosas com as pessoas que não lhe retribuem a sua afeição.

 Parentes íntimos
Há a percepção que com a adolescência os pais são pelos jovens rejeitados. Contudo, a maioria dos
adolescentes continua a sentir sentimentos positivos, apesar de se tornarem menos próximos e
dependentes.
Num estudo de Jeffries o amor dos filhos pelos pais assenta em duas componentes básicas de amor
aos pais com 5 factores:
 atracção em relação aos pais
o admiração – respeito e estima por eles
o confiança - confiar na sua integridade
o companhia: gostar da companhia deles
o intimidade: auto-revelar-se e partilhar com eles
o proximidade emocional: identificar-se com as suas alegrias e tristezas
 virtude nos filhos
o caridade – ajudar, perdoar e tolerar os pais
o justiça – cumprir obrigações e respeitar os seus direitos
o prudência – usar a razão para benefício

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o temperança – autodisciplina em controlar emoções disruptivas
o força moral – aguentar dificuldades em seu favor
Se as duas componentes ocorrem os jovens também se vao sentir amados pelos pais, experienciam
felicidade e satisfação na relação, mostram auto-estima, confiam nas pessoas e são altruístas.

Avós: jovens adultos referiram que se sentiam próximos de pelo menos um dos avós, com quem
gostavam de estar e se sentiam amados.
Irmãos: a interacção com irmãos é uma oportunidade de praticar habilidades sociais. Existem
sentimentos de amor/ódio que se podem vir a experienciar noutras relações mais tarde.

AMIZADE
Laços de amizade com os familiares são diferentes daqueles que se criam com os colegas. Ao
passo que a relação com os parentes não é voluntária, já a relação com os colegas faz-se de forma
voluntária e mutuamente satisfatória.
Hays (1988) definiu a amizade como “interdependência voluntária entre duas pessoas ao longo do
tempo de que se esperta que facilite objectivos sócio emocionais dos participantes, e pode envolver vários
tipos e graus de companhia, intimidade, afeição e assistência mútua”.
Auhagen aponta características: relação diádica, emocional, envolvendo reciprocidade e atracção
mútua, e que é voluntária com longa duração, positiva na sua natureza e não envolve de modo explícito
sexualidade.
Paul Wright (1984) distingue:
 a amizades superficiais (são formadas e mantidas porque são recompensadoras)
 amizades desenvolvidas (baseiam-se não só nas recompensas como também em assuntos mútuos
para o bem estar de cada um dos amigos)

Há seis regras específicas que contribuem para manter a amizade do mesmo sexo:
 Defender o amigo na sua ausência.
 Partilhar notícias de sucesso com o amigo.
 Mostrar apoio emocional.
 Confiar no outro.
 Ajuda voluntária em caso de necessidade.
 Esforçar-se ao máximo para fazer feliz o amigo enquanto está na sua companhia
 As amizades com o outro sexo são um pouco diferentes (pelo menos entre heterossexuais). Estas
são mais difíceis de estabelecer e suscitam desafios tais como a atracção sexual

Diferenças nas amizades:


 as amizades nas mulheres são mais íntimas que as dos homens
 as amizades dos homens são mais orientadas para a actividade.
 pode ser mais difícil estabelecer relações de amizade com outro sexo se a pessoa for
heterossexual, uma vez que há outros desafios como negociar a atracção sexual.
 as amizades tendem a ser mais íntimas na adolescência do que na infância
 antes, a amizade no ocidente era baseada em valores masculinos (coragem, dever, lealdade), hoje
existem valores femininos (confiança, preocupação, intimidade)

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 difere nas ocasiões, mas também na habilidade de cada um – pessoas com maior locus interno
consideram que as relações são fruto das suas capacidades. As pessoas com alta vigilância tendem
a adaptar-se e dividem as suas amizades por parcelas, ao passo que pessoas com baixa
autovigilância escolhem parceiros globalmente semelhantes, criando um mundo homogéneo.

AMOR

 Dificuldade no estudo do amor


 O amor era demasiado misterioso e inatingível para ser estudado cientificamente – acreditava-se que
ao estudá-lo ele perderia o seu encanto. Além disso, o amor era um tópico para um romance e não
para uma ciência, estando fora do âmbito da disciplina.
 O amor era considerado um tópico fora das fronteiras dos investigadores, sendo uma intrusão na
esfera íntima e pessoal – o assunto era quase tabu
 Difícil abordar um tópico tão complexo – pois o amor não pode ser manipulado em laboratório e as
suas causas e consequências não se isolam facilmente numa só sessão.

Contudo, hoje reconhece-se que o amor tem um impacto considerável na nossa vida social e tem
influência no casamento e divórcio (experiência: quando nos anos Kephart interrogou os jovens se
casariam sem amor se o parceiro tivesse todas as características, a maior parte dos homens respondeu
negativamente e s mulheres mostraram-se indecisas. Com réplicas do estudo revelou-se que homens e
principalmente mulheres viam no amor um pré-requisito para o casamento, chegando quase aos 90%. Em
Portugal, Neto encontrou os mesmos resultados, sem diferenças significativas para o sexo)

 O amor como emoção


O que é o amor? Se queremos abordar o amor cientificamente, importa, antes de mais, defini-lo.
Ainda não há uma definição universal, única e simples do amor aceite pelos cientistas sociais. Além de
as ciências sociais serem recentes, principalmente neste tópico faz parte do comportamento complexo
humano, o que torna A incapacidade em obter consenso é compreensível, pois não pode haver um
pequeno conjunto de características comuns a todas as instâncias do amor e só a ele referentes. É uma
emoção prototípica.
 Freud: o amor é o desejo de união sexual. Compensa-se a frustração do recalcamento
mediante a idealização de outra pessoa e apaixonando-se por ela
 Watson: emoção inata suscitada pela estimulação das zonas erógenas.
 Fromm: dispositivo para reduzir a solidão
 Centers: ao mor é uma resposta evocada quando a interacção com alguém é gratificante
 Lasswell e Lasswell: amor é afecto, sentimento emoção.

Se o amor é uma emoção… O que é uma emoção? Constructo orientado para a acção organizada que é
evocado por avaliações de acontecimentos em relação a interesses. Isso implica que o amor seja mais do
que um sentimento. Ao ser um modo de pensar e agir em relação a outra pessoa, traz consequentes.

O diagrama do amor (Shaver et al. 1987)

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Antecedentes possíveis Consequentes possíveis

Familiaridade Sentir-se seguro, confiante

O outro satisfaz necessidades Querer o melhor para o outro,


da pessoa AMOR querer dar ao outro

O outro inspira confiança, Querer proximidade física do


segurança outro

 A experiência do amor
A investigação pôs em evidência diversos pensamentos, sentimentos e comportamento que estão
associados ao amor romântico, que mudam no tempo e no local.

Pensamentos
Estudantes percepcionavam que a pessoa amava o parceiro mais pela solicitude do que pela
vinculação (se as pessoa não mostram solicitude de nada serve a vinculação). Por ordem de importância
quanto ao peso no amor: solicitude, vinculação e intimidade.

Comportamentos
Comunicamos o nosso amor por comportamentos (exemplo: pôr aliança, andar de mãos dadas). Os
comportamentos que pessoas de diferentes idades pensam estar mais associados ao amor são:
 afirmações verbais de afeição como “Amo-te”
 comunicar não verbalmente sentimentos como felicidade
 auto-revelação
 sinais não materiais de amor
 sinais materiais de amor como prendas
 expressões físicas de amor como acariciar, olhar, abraçar, beijar (ordenação dos 4 actos mais
importantes segundo uma amostra portuguesa)
 fazer sacrifícios para manter a relação

Estudantes universitárias portuguesas (Neto) consideraram como actos ligados ao amor romântico:
acariciar, olhar, beijar, abraçar e fazer amor

Comportamentos específicos da progressão de pares de namorados até ao casamento, num tempo


que é variável para algumas pessoas:
1. Passar um dia juntos ou chamar o parceiro por um nome terno
2. Depois, declaravam-se como namorados e faziam coisas juntos como casal
3. Dizer amo-te e ter um namoro exclusivo
4. Porem a hipótese de viverem juntos e passarem férias juntos
5. Viverem efectivamente juntos e tornarem-se noivos

Sentimentos – um forte sentimento de bem-estar, grande dificuldade em concentrar-se, sentir-se


nervoso, fortes sensações físicas como mãos frias e tremores. Sentir-se nas nuvens e atordoado. Ver o
mundo cor-de-rosa, de uma forma mais positiva.

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 Variedades de amor
Ao pedir a jovens universitários para indicar tipos de amor que lhes passassem pela mente, verificou-
se que perante uma grande diversidade havia necessidade de classificar e distinguir

Amor vs Amizade - Rubin


Amor: atitude tida para com uma pessoa particular, envolvendo predisposições a pensar, sentir,
comportar-se de certas maneiras em relação a essa pessoa. O amor está relacionado com a amizade, são
ambos atitudes mas também parecem ser diferentes, tendo sido Rubin (1970), um dos primeiros cientistas
sociais a estudar esta dicotomia.

Os sentimentos em relação a um amigo deverão suscitar mais resultados na secção A e os


sentimentos em relação a um parceiro romântico suscitariam resultados mais elevados na secção B do seu
questionário. Os resultados encontrados nas escalas de amor e amizade foram ao encontro da sua
hipótese, na maneira de como as pessoas percepcionam um amigo ou namorado.
componentes do amor componentes da amizade
Vinculação (necessidade da outra pessoa) tendência a percepcionar a outra pessoa como
preocupação (fazer sacrifícios, ajudar) sendo parecida consigo
sentimento de exclusividade a avaliação positiva do outro em várias dimensões
sexo feminino (r=.84) sexo feminino (r=.81)
sexo masculino (r=.86) sexo masculino (r=83)

Nas escalas de amor e amizade para o sexo feminino a correlação entre elas era baixa, ao passo que
para os homens era mais elevada, o que sugere que as mulheres discriminam de melhor forma amor e
amizade do que o sexo feminino.
Para confirmar os seus resultados observou a totalidade de olhares trocados pelos pares enquanto
esperavam numa sala – os pares com scores mais altos na escala do amor passava mais tempo a olhar-se
nos olhos. Apesar dos seus resultados mostrarem que amizade e amor são experiências qualitativamente
diferentes, outras investigações não encontraram distinções tão claras.

Amor apaixonado e amor companheiro


Como é que se percebe que está apaixonado? “Está-se apaixonado quando se pensa que o está”.
Amor apaixonado: emergiu historicamente culturas ocidentais como sendo o pilar fundamental do
casamento. Caracteriza-se por uma forte activação fisiológica, uma idealização e atracção pelo parceiro,
em que as emoções assumem um papel fundamental. É um estado emocional caprichoso e intenso com
sentimentos ternos e sexuais, alegria e dor, ansiedade e alívio, altruísmo e ciúme, que coexistem numa
confusão de sentimentos.
Berscheid e Walster, na teoria das duas componentes baseada na Schachter, sugeriram que as
pessoas experienciavam o amor romântico quando ocorriam simultaneamente:
 Activação fisiológica intensa que pode advir de estimulação sexual, excitamento ou até de emoções
negativas como medo e ira.
 Informações situacionais que indicam que é amor o que se está a sentir.

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Explica porque é que a pessoa rejeitada continua a amar. Os sentimentos de rejeição acarretam elevada
activação fisiológica que pode ser rotulada como amor, atracção. Já Ovídeo recomendava levar o parceiro
a uma luta de gladiadores (experiência fisiológica activante).

Este modelo foi testado por Dutton e Aron (1974) num estudo em que se mediam as reacções a
uma atraente entrevistadora e um entrevistador por homens que atravessavam uma de duas pontes: uma
assustadora ponte suspensa e uma ponte vulgar. Quando abordados era pedido que preenchessem um
questionário (que media a activação fisiológica) e depois era dado o contacto para o caso de haver dúvidas
relativamente ao estudo. Ordem de activação fisiológica: experimentador masculino, mulher atraente na
ponte segura e mulher atraente na ponte suspensa. A mulher na ponte perigosa foi significativamente
mais contactada. Esta teoria também sugere uma explicação para o que se tem chamado Efeito Romeu e
Julieta, ou seja, pares que experienciam uma forte interferência dos pais no seu relacionamento tendem a
ter mais amor um pelo outro que os pares onde há pouca interferência. A interferência dos pais pode
aumentar o nível geral de activação o que pode ser rotulado como sendo devido ao aumento de paixão de
um pelo outro.

À medida que duas pessoas constroem uma relação satisfatória criam relações íntimas em termos
de bons amigos e companheiros em vez de intensidade dos seus sentimentos. As relações permanentes
entre casais heterossexuais evoluem tipicamente do amor apaixonado para o amor companheiro. Um
inquérito com pessoas casadas baseada nas escala de amor romântico e amizade de Rubin mostraram que
os scores de amor estavam correlacionados negativamente com a duração do casamento o que denota o
esmorecer do amor romântico. A amizade não se altera

Amor companheiro: a afeição que sentimos por aquelas pessoas com quem as nossas vidas estão
profundamente entrelaçadas, que tem uma tonalidade emocional mais moderada e onde o valor e a
afeição são mais comuns que as paixões extremas. Crê-se que o amor companheiro fornece os alicerces
para as relações a longo prazo.

Estilos de amar
A dicotomia amor romântico e companheiro pode, por vezes, ser muito reducionista. Assim sendo, Lee
propõe seis estilos de amar:

Os primários - comparando-os com as cores primárias vermelho, amarelo e azul, são:


 Eros - amor apaixonado, amor romântico
o focaliza-se na beleza e na atractividade física
o pessoas com score alto: acreditam no amor à 1ª vista
o mais sensíveis aos defeitos físicos do parceiro e na sua resposta genital
 Ludus - amor como um jogo, não demasiado sério
o pessoas com score alto: namoram muito sem compromisso sério e param a relação quando
esta deixa de ser engraçada
o desprendem-se fácil e rapidamente e gostam de aborrecer os parceiros
o poderão sair muitas vezes com uma pessoa mesmo sabendo que não querem envolver-se
 Storge - amor baseado na amizade
o pessoas com score alto: crêem que o amor advém da amizade
o podem suportar longas separações sem sentirem que o relacionamento está ameaçado

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o não procuram excitação na relação com os parceiros

Secundários – ortogonais. derivados da mistura dos primários e logicamente interrelacionados, não deixam
de ser muito diferentes destes qualitativamente, pois são a sua transformação qualitativa:

 Pragma - amor prático


o pessoas com score alto: perguntam-se se o parceiro será bom pai ou mãe
o avaliam o futuro da carreira do parceiro
o tomam em consideração as origens do parceiro e as suas características, como a afiliação
religiosa e política, atitudes e lazer
o trata-se de pessoas realistas e não românticas
 Mania - amor dependente, possessivo
o pessoas com score alto: crêem que ficando doentes ou fazendo asneiras recuperam a atenção
do parceiro, caso alguma vez o parceiro as tenha ignorado
o quando a relação está perturbada desenvolvem doenças
 Ágape - amor altruísta, incondicional
o dar à pessoa amada sem expectativas de reciprocidade
o expresso através do auto-sacrifício, da paciência, da fé na pessoa amada

Vantagens
 A maior parte das teorias uni factoriais ou bifactoriais podem ser transportadas para um ou mais
estilos de amor
 A teoria sugere uma abordagem muldimensional poderosa para medir o amor
 Segundo Lee, dado as suas amostras serem suficientemente grandes e diversificadas, tal permitiu-
lhe identificar os principais estilos de amor na cultura ocidental.

Hendrick e Hendrick desenvolveram escalas quantitativas que permitiam medir o perfil do estilo de
amar de cada pessoa. Concluiram que os pares tendiam a ser semelhantes no estilo de amor e que o estilo
de amor estava correlacionado com a satisfação – eros e Storge positivamente e Ludus negativamente
Hendrick e Hendrick levantaram ainda a questão de se saber se os estilos de amor medem traços de
personalidade ou atitudes mais passageiras. Lee pensava ser possível ter relações de um tipo com uma
pessoa e de outro tipo com outra pessoa sendo então o tipo de amor determinado relacionalmente, não
sendo uma faceta da personalidade, mas também o considerava como uma tipologia, o que é sinónimo de
traço. Os dados portugueses (Neto) vão nos dois sentidos – existem diferenças nas atitudes de amor
relativamente a variáveis da pessoa como auto-estima, solidão, embaraço, mas também existem

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diferenças no tempo de estar ou não apaixonado, pois pessoas que estão apaixonadas são mais eróticas,
agapicas e menos lúdicos. Diferenças sexuais reflectem diferentes socializações.

Modelo Triangular do Amor de Sternberg


Modelo tripartido de diferenças e semelhanças entre natureza do amor diferentes espécies de relação.

Existem três componentes principais do amor que podem ser vistos como formando os vértices de um
triângulo:
 componente intimidade inclui sentimentos de proximidade e união nas relações amorosas (neutra nos
compromissos a curto prazo e muito importante nos a longo prazo);
 componente paixão refere-se aos impulsos e fontes motivacionais e de activação que levam à atracção
física, à sexualidade (muito importante nos compromissos a curto prazo e moderadamente importante
nos compromissos a longo prazo);
 componente decisão/compromisso refere-se ao compromisso em manter esse amor, incluindo os
factores cognitivos da tomada de decisão (pouco importante nos compromissos a curto prazo e muito
importante nos a longo prazo).

A partir destas três componentes, Sternberg identificou oito espécies de amor, dependendo da presença
ou ausência de cada componente:

Espécie de Amor Intimidade Paixão Compromisso


Não amor - - -
Gostar + - -
Amor louco - + -
Amor vazio - - +
Amor romântico + + -
Amor companheiro + - +
Amor insensato - + +
Amor perfeito + + +

As acções suscitadas por cada um dos três componentes do amor diferem no modo de expressão,
de pessoa para pessoa, de situação em situação e de relação em relação (exemplo: intimidade – pela
comunicação de sentimentos interiores, pela oferta de apoio emocional e material; paixão – beijar, olhar
ou abraçar; compromisso – fidelidade, casamento ou permanecer numa relação em momentos difíceis)

Vinculação Emocional
As primeiras relações que teríamos com os nossos pais determinariam as relações futuras. Hazan e
Shaver propuseram que as relações amorosas dos adultos seriam semelhantes às vinculações infantis em
3 aspectos:
 Vinculação infantil e amor adultos partilham características comuns, tais como intenso fascínio pelo
outro, mal-estar aquando da separação, esforços para manter proximidade…

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 À semelhança das vinculações infantis, pensa-se que os laços românticos dos adultos têm uma
origem biológica
 As vinculações românticas são semelhantes na forma aos três tipos de vinculação infantil, pois
pode-se encontrar uma personagem semelhante para a existência de cada grupo de vinculação
nos adultos quando comparados aos grupos das crianças com cada padrão de vinculação:

Adultos seguros (56%) Adultos esquivos (25%) Adultos ansiosos/ambivalentes 19%

– têm vinculações românticas – referem um desconforto em – procuram intimidade, mas


seguras, amistosas, fonte de obterem intimidade com outras preocupados com a possibilidade de os
felicidade e amistosas, obtendo pessoas outros não manifestarem o mesmo
relações íntimas com facilidade - nas relações amorosas sentimento
e preocupando-se poucas vezes referiam ter medo de - descreviam relações envolvendo
em serem abandonadas. intimidade e ciúmes obsessão, desejo de união, atracção
– tendem a descrever os pais – tendem a descrever os pais sexual extrema e ciúmes
em termos positivos como sendo mais exigentes, – tendem a descrever os pais como
– valores altos em Eros e mais críticos e não carinhosos sendo mais intrusos, exigentes e o
Ágape – valores baixos em Eros e casamento dos pais infeliz
Ágape – valores altos em Mania

Perturbações no amor podem também intervir no trabalho. As pessoas seguras davam valor às
outras no trabalho e estavam satisfeitas. As pessoas esquivas podem empenhar-se no trabalho, não por
gostarem dele mas porque é uma oportunidade de evitar problemas em relações, tal como os ansiosos que
não gostam de trabalho a não ser que vejam nele uma oportunidade de obter amor.

Literatura mais recente assente em modelos básicos do nosso mérito ou desmérito ou mérito e
desmérito dos outros sugere que existem dois tipos de pessoas esquivas: as que rejeitam a importância
das relações e se empenham em ser independentes e auto-suficientes e as que desejam ter relações mais
têm medo de serem feridas pelo parceiro.

Um estudo que comparava os atributos medidos por cinco instrumentos faz com que os autores
concluem que o amor é demasiado complexo para se encaixar em categorias de modo estanque e
invariável.

 Diferenças individuais no amor


Uma miríade de factores pessoais influencia o modo como amamos, para além dos factores situacionais.

Género
Um dos mitos culturais muitas vezes defendidos é que os homens são mais insensíveis, acerca do
amor, que as mulheres, talvez por causa da associação da instrumentalidade aos homens e da
expressividade às mulheres. Vários autores construíram escalas para medir o romantismo e, geralmente
encontrou-se o contrário: os homens aderem mais à ideologia do romanticismo (o amor como fonte de
selecção, amor à primeira vista, amor verdadeiro e terno) que as mulheres, embora tenda a diminuir com

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a idade, com a saída do secundário, (relação curvilínea romantismo/idade) e mais tarde reatado por
acontecimentos como casamento, saída dos filhos. Só nalguns pontos a mulher ultrapassa o homem.
Estudos que consideraram o amor como um conjunto de emoções e de atitudes em relação a uma
ou mais pessoas (Rubin) verificaram que o amor em relação ao parceiro era idêntico para homens e
mulheres, contudo as mulheres gostavam mais dos companheiros (e amigos) do que os homens,
principalmente em pontos que vão de acordo com estereótipos (inteligência, liderança). Contudo, Hendrick
defende que há dados que não se podem generalizar a toda a população já que são feitos em estudantes
universitários (até entre universidades forma encontradas diferenças)
Num estudo efectuado em Portugal (Neto, 1992), foi confirmado o estereótipo popular que vê o
sexo masculino como mais lúdico, não foi confirmado o estereótipo que acentua o altruísmo no sexo
feminino pois foi o sexo masculino que se revelou mais agápico. Nos restantes estilos de amor não
aparecem diferenças significativas onde, por exemplo, não se verificaram diferença entre os sexos em
Mania não se tendo confirmado, por isso, o estereótipo das mulheres como mais dependentes, ou em
Pragma, apesar de a sociedade defender a procura de o homem com os melhores atributos.
Outros estudos mostraram que os homens se apaixonavam mais facilmente que as mulheres, que
estas eram mais cautelosas sobre a entrada num relacionamento e a comprometerem-se, que as mulheres
tendiam a ver o seu parceiro de modo mais favorável o que poderá sugerir que idealizam mais a pessoa
amada que os homens. Todavia homens e mulheres não diferiam significativamente nos subtipos de amor
que avaliavam o que sugere que têm o mesmo conceito de amor, apesar de diferirem nas suas crenças
acerca deste.

Personalidade
Algumas variáveis da personalidade foram relacionadas com a propensão para experiências amorosas:
 Locus de controlo interno/externo: pessoas com locus de controlo interno afirmam com menos
frequência terem estado apaixonadas do que as externas e também se opunham mais
frequentemente a uma visão idealista do amor que as pessoas com locus de controlo externo.
Contudo não se diferenciavam na intensidade do amor.
 Auto-estima e nível de defesa (Dion e Dion): pessoas com alta auto-estima (sentem-se bem com
elas próprias) e baixa defesa (queriam admitir ter pensamentos e sentimentos que os outros podiam
não aprovar) referiram com mais frequência estar apaixonadas e também amar sem ser amadas do
que pessoas com alta auto-estima e alta defesa. Normalmente, sujeitos com scores elevados em
Eros tinham mais alta auto-estima, enquanto sujeitos com elevados valores em Mania tinham baixa
auto-estima - confirmado em Portugal por Neto. Também os sujeitos lúdicos tinham maior auto-
estima, pois parece ser preciso um ego forte para encarar o amor como um jogo.
 Ansiedade: foram encontradas correlações positivas e significativas entre ansiedade traço e estado,
e resultados numa escala de amor.
 Autovigilância: as pessoas com elevada autovigilância perspectivam com sucesso o seu próprio
comportamento para criar o efeito desejado em determinadas situações. O seu comportamento vai,
então, variar de acordo com a situação - estudantes tendiam a adoptar uma orientação
descomprometida em relação ao namoro (os parceiros exclusivos só duravam em media 11 meses e
referiam querer ter outras interacções sociais, tendo maior score de múltiplos parceiros), escolhendo
pessoas de acordo com características exteriores e reconhecendo que o parceiro investia mais na
relação do que eles. Ao contrário, as pessoas com baixa autovigilância tentam mostrar as suas
próprias atitudes pouco se importando com a situação sendo por isso o seu comportamento mais
constante - estudantes tendiam a adoptar uma orientação comprometida e intimista em relação ao

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namoro; não desejavam ter outros parceiros, se não estavam numa relação fixa tinham menor score
de múltiplos parceiros referiam investir mais na relação do que o parceiro e tinham tendência a
rejeitar outra hipótese de namoro se tinham saído de um há pouco tempo.

 Determinantes situacionais
Características da situação susceptíveis de suscitarem amor na mesma cultura, no mesmo sexo e mesma
personalidade, experiências muito diferentes no amor:

 Activação – quer com efeitos positivos (exemplo: situações activantes como tempo de guerra ou
fim da época de exames podem levar ao surgir do amor, inclusive homossexuais que leram um
texto activante declararam amar mais os companheiros que os sujeitos que não leram um texto
insípido), quer com efeitos negativos (exemplo de Goldberg et. Al: quando eram sujeitos
visualizavam imagens de pessoas do sexo oposto nuas, declaravam sentir menos amor pelo
parceiro)

 Pensamento - modelo de mudança de atitude auto-generada declara uma relação entre


pensamento e amor, pois se quanto mais pensamos sobre uma questão mais extremas serão as
nossas atitudes em relação e essa questão, da mesma forma quanto mais amamos alguém mais
pensamos sobre a pessoa amada e quanto mais pensamos na pessoa amada mais amamos.
(exemplo: efeitos da ausência sobre os amantes (Tesser e Paulus) - se estivéssemos muito
ocupados não sentiríamos tanto a falta do parceiro, mas se estivéssemos aborrecidos pensaríamos
e sentiríamos mais a falta do outro)

 Semelhanças e diferenças interculturais no amor

Diferenças:
O amor romântico é altamente valorizado nas culturas menos tradicionais em que as famílias
nucleares são a fonte primária dos laços adultos e menos valorizados nas culturas em que as redes de
parentesco são fortes. Em geral, os sujeitos Japoneses referiram de forma significantemente mais baixo a
atitudes que valorizavam o amor romântico que os sujeitos alemães. Os sujeitos americanos
posicionavam-se no meio entre estas culturas (Simmons et al.). Quando, posteriormente, se distinguiu
americanos e franceses, os franceses mostraram-se mais galantes e ciumentos (como modo de manifestar
humor) e atribuindo uma componente mais irracional. Os americanos eram mais pragmáticos
relativamente ao amor e casamento. Estudantes japoneses, noutro estudo, demonstraram ser menos
românticos.
Estudo de Buss et al. (1990) em 33 países e de análise multidimensional tinha por objectivo
conhecer quais as características que as pessoas valorizam nos potenciais companheiros. Chegou-se à
conclusão de que os efeitos culturais explicam melhor a variância (que é maior9 do que para os feitos do
género.
 Castidade – Países colectivistas (China, Índia, Indonésia, Irão) deram muita importância à
castidade, ao contrário de países individualistas (Suécia, Finlândia, Noruega, Holanda)
 Análise multidimensional - Dimensão 1: Desejo de casa e crianças, boa cozinha, chefe de
família, boas perspectivas financeiras e estatuto social favorável mais valorizadas pelas
culturas ocidentais. Dimensão 2: valorização de inteligência e cortesia (Espanha, Colômbia,
Grécia e Venezuela) vs personalidade agradável (Indonésia, Estónia e Japão) também
diferiam.

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Semelhanças:
Apesar das diferenças culturais, apareceram semelhanças entre todas as amostras: valorização da
característica atracção mútua-amor, valorização das características do companheiros de digno de
confiança, estabilidade emocional. A grande semelhança na ordenação das características do companheiro
implica um grau de unidade psicológica que transcende a diversidade geográfica, social, política, étnica e
sexual.

SEXUALIDADE
É um domínio recente na Psicologia importante, já que até pouco tempo era considerado assunto tabu (os
astronautas chegaram primeiro ao espaço antes deste assunto ser falado. Ainda assim, não deixa de ser
um objecto de estudo importante enquanto comportamento social, pela interacção que proporciona.

 Amor e a sexualidade
Pode haver sexo sem amor (culturas ocidentais) e amor sem sexo (culturas tradicionais onde os
casamentos são arranjados), pelo que não devem ser considerados sinónimos.
Podemos encarar a relação entre amor e sexo tendo em conta o objectivo do sexo, havendo 3
perspectivas:
 atitudes procriativas – o impulso sexual tem por base, segundo os sociólogos, perpetuar a espécie
- dominante no mundo ocidental nos últimos cem anos

 atitudes recreativas - procura do prazer, em que amor e sexo são independentes - dominante no
ocidente após segunda guerra mundial
 atitudes relacionais - sexo e amor são dependentes – cada vez mais valorizadas no ocidente na
última década

 Estudo da sexualidade humana


 Inquérito (e entrevistas) - atingem uma vasta população e é uma maneira mais ética de estudar a
sexualidade. Contudo, a representatividade da amostra pode ser posta em causa devido ao facto
de os sujeitos que aceitam participar no estudo não são aleatórios, mas sim autoseleccionados, na
medida em que são sujeitos que não sentem problemas em falar do assunto, o que põe em causa
a generalização dos resultados para a população. Também a exactidão da resposta pode não ser
precisa, já que pode haver a tendência de ou reservar a resposta real por esta ir contra ao
socialmente aceitável, ou exagerar na resposta real para demonstrar uma atitude vanguardista e
revolucionaria num período em que se fala de revolução sexual.
 Experiencias de laboratório – ao ser uma réplica de situações privadas do que pode acontecer num
quarto pode recolher dados mais realistas. Contudo, o consentimento do individuo deve ser total e
ter a possibilidade de desistir. Um exemplo clássico é a exposição a filmes eróticos, ou a
manifestarem certos comportamentos para com o comparsa.

 Mudanças nas atitudes e comportamentos sexuais

O comportamento sexual e as reacções á sexualidade variam segundo as culturas e as gerações.


Evolução das atitudes e comportamentos sexuais: repressão (o assunto era tabu), revolução sexual
e um certo retrocesso ao se verificarem alguns efeitos negativos da Revolução Sexual.

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Repressão
Kinsey (década 40/50) - pioneiro no estudo da sexualidade, realizou entrevistas pormenorizadas
com sujeitos voluntários que puseram em evidência muitos tabus acerca de comportamentos
sexuais, tendo tido muito cuidado em manter o anonimato.
Resultados - maior percentagem de homens que de mulheres em todas as práticas sexuais: pré-
conjugais, extraconjugais, masturbação, experiências homossexuais. Todavia os resultados deitaram
por terra o mito da passividade sexual das mulheres na medida em que a percentagem de mulheres
em cada prática foi muito superior à esperada (por exemplo: metade das mulheres declararam ter
tido sexo extra conjugal vs. 85% dos homens; dois terços admitiu já se ter masturbado até ao
orgasmo vs. 94% dos homens)
Críticas: os sujeitos eram voluntários, não sendo representativos da população, pois provavelmente
eram mais activos sexualmente do que a população em geral e sobreavaliação de muitas formas de
comportamento sexual para os parceiros do mesmo sexo. Apesar destes limites, comparando com
outros estudos, o estudo de Kinsey revelou-se consistente.

Revolução sexual
Houve uma mudança para uma maior permissividade até aos anos 80 das atitudes sexuais e uma
mudança nos comportamentos sexuais (exemplo: tendência da representação explícita da sexualidade nos
meios de comunicação social). Esta mudança foi confirmada por vários estudos:
 inquérito feito nos EU nos anos 70 (Morton Hunt) mostrou atitudes mais liberais e permissivas: mais
de 75% dos sujeitos de ambos os sexos achavam que as escolas deveriam educar sexualmente, mais
de 50% discordava que a homossexualidade, coito anal e o sexo oral eram maus, a maior parte da
amostra era favorável à prostituição legalizada e aos abortos legais.
 Entre 1965 e 1970 (King et. Al.) a amostra de estudantes que via o sexo pré-conjugal como imoral
baixou de 33% para 14% nos homens e de 70% para 34% nas mulheres. Esta permissividade parece
aumentar com o nível de instrução, havendo menos culpabilidade.

Ao aumento da permissividade correspondeu uma alteração dos comportamentos sexuais (em 1966
era maior a probabilidade dos homens solteiros serem mais sexualmente activos que as mulheres, mas
apesar da frequência ter aumentado para ambos os sexos, em 1981 era maior a probabilidade de as
mulheres se envolverem em relações pré-matrimoniais). Hunt (1974) comparou a sua amostra com os
resultados de Kinsey e encontrou uma maior frequência na masturbação, um aumento para as relações
pré-conjugais antes dos 25 anos, maior incidência de sexo oral, etc.
Em geral, os estudantes da Inglaterra eram mais permissivos que os dos EUA que, por sua vez, eram
mais permissivos que os estudantes do Canadá e Alemanha.
De todas as mudanças, a mais relevante foi para as mulheres, em vários países, daí ser uma
verdadeira revolução (exemplo: permissão para mostrar o corpo, na praia).

 Percepções de sexo e envelhecimento – A percepção que os idosos são seres assexuais


transparece quando Pocs e Godow perguntaram a estudantes sobre a vida sexual dos
pais e compararam aos dados de Kinsey, que remetiam para os pais desta geração – só
10% dos alunos acreditava que as suas mães tenham tido relações pré-conjugais (vs.
50% dos dados de Kinsey); 55% do sexo masculino acreditavam que os pais tinham
casado virgens (vs. 85% reais). O tabu do incesto parece fazer com que os filhos
percepcionem os pais como assexuais, já que sobreavaliam pessoas que não são seus

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pais. Se há mudanças fisiológicas nos órgãos sexuais (Masters e Johnson) o
comportamento sexual continua a ser uma continuação de padrões vitais de longo
termo, ambos os sexos mantem o prazer, e o declínio na actividade sexual deve-se mais
à falta de disponibilidade do companheiro ou morte do mesmo.
Contra-revolução
Na década de 80 parece ter havido uma mudança na permissividade sexual em resultado de
factores de saúde e de mudança de valores (exemplo: a epidemia da SIDA aumentou de 118 casos em
1981 para 16000 em 1986 nos EUA). Encontraram-se mudanças de comportamento e de atitudes que
podem ser prenúncio de uma inversão na actividade sexual, mas só investigação mais futura nos poderá
dizer se é um fenómeno real.
Numa continuação do estudo de King. et al acima mencionado, na mesma universidade em 1980,
verificou se que a permissividade e os comportamentos se pareciam manter – 64% das mulheres (vs.57%
em 1975) e 77% dos homens (vs. 74% em 1975) tinham tido relações sexuais, mas as atitudes mudaram
– 27% dos homens e 39% das senhoras em 1980 (vs. 29% e 30% em 1975) pensavam que um homem
que tivesse tido várias relações era imoral. Esboça-se neste campo menor permissividade (talvez por
haver maior probabilidade de ser infectado e infectar com DST’s com quantos mais parceiros tiver) e foi
também posto em evidência aumento do número de homens e de mulheres que defendem um duplo
padrão, isto é, uma mulher promíscua é mais severamente julgada que um homem promíscuo.
Já Gerald encontrou mudanças no comportamento sexual em 1986 ao constatar que a percentagem
de estudantes femininos sexualmente activos tinha diminuído em meados dos anos 80 face aos anos 70.

 Variações culturais
Em Mangaia, uma ilha na Polinésia a sexualidade é vivida de forma bem diferente. Depois da
circuncisão o rapaz é instruído sobre como estimular varias vezes o orgasmo sem ejacular. Uma vez
cicatrizada a circuncisão o rapaz tem aulas laboratoriais em que complementa o ensino teórico sobre
modos de satisfazer as mulheres. É importante que este aprenda bem as lições, caso contrário, pode
ganhar a reputação de amante inepto. As mulheres também são instruídas porque o seu comportamento
sexual é mais valorizado que a aparência física. As relações pré-conjugais são habituais e não existe
pressão para a mulher se casar com o pai do filho. Já as relações extraconjugais não são admitidas a não
ser que um dos parceiros se ausente por um longo período de tempo da ilha.

Parece que mesmo um dos actos mais biológicos sofre alterações com a cultura. Ford e Beach:
 Masturbação – reprovada em grande parte das culturas
 Homossexualidade – é considerado um comportamento normal em 64% das culturas, sendo que
em Siwans na África e Kerakis na Nova Guiné é anormal não ser bissexual.
 Beijar – apesar de ser um comportamento que acompanha relações intersexuais em muitas
culturas, 7 das culturas analisadas nunca a utiliza. Quando os Africanos do Tonga viram duas
pessoas a beijarem-se disseram “olha para eles, comem a saliva e a porcaria uns dos outros”)
 Posições sexuais – se a posição do missionário parece ser comum, há 7 posições muito utilizadas e
nenhuma delas é utilizada em mais do que um quarto em culturas revistas.

 Efeitos das imagens eróticas


 Ao nível fisiológico – suscitam excitação sexual. Nos estudos de Kinsey, as mulheres declaram que
eram menos estimuladas que os homens por materiais eróticos (15% vs. 50%), contudo essas
diferenças parecem não ser quantitativas, mas sim qualitativas, já que em estudos posteriores as

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fantasias declaradas não mudavam em número, mas sim no modo, já que as das mulheres eram mais
ricas emocionalmente.
 Ao nível mental – podendo causar culpabilidade que, por sua vez, faz com que essas pessoas sejam
menos susceptíveis de verem materiais eróticos e manifestem menos estimulação sexual quando a
eles são expostos. A excitação sexual intensifica quer as respostas positivas, quer negativas - os
sujeitos avaliem uma pessoa atraente como mais atraente e uma pessoa não atraente como menos
atraente. Podem ainda levar a uma maior procura de gratificação, pois indivíduos que foram
estimulados eram mais activos nos tempos que se seguiam à estimulação.

PROBLEMAS RELACIONAIS

 Amor não correspondido


As relações nem sempre são mútuas, aliás o amor correspondido parece ser mais frequente. Foi
encontrado haver dor em ambos os lados em tal relação.
Pessoa rejeitada Pessoa que rejeita
Sofre uma mágoa e uma perca de auto-estima, Ainda que tenha inicialmente vivenciado um período de
mas ao por vezes manter esperança pode auto-estima elevada, estes sentimentos são
recordar vivencias positivas, ainda que suplantados por sentimentos de culpa, irritação e
suplantados por sentimentos de desilusão. mesmo raiva.

 Dissolução das relações


Apesar de muitas vezes o enfoque da Psicologia Social ser no início das relações, nomeadamente na
atracção, a tendência actual de divórcios e ligações amorosas que acabam faz-nos olhar para o outro lado
da moeda: a deterioração da atracção interpessoal.

Lee (1984) a partir das respostas a um inquérito de indivíduos que tinham acabado o seu relacionamento
avançou cinco estágios para o fim de uma relação romântica:
1. descoberta do problema
2. exposição do problema
3. negociação do problema
4. forma de resolução
5. transformação da relação

Segundo Hill, Rubin e Peplau (1976) homens e mulheres referiam tipos comuns de razões para a
deterioração da relação:
 aborrecimento
Análises de semelhança, referiram
 atitudes e interesses diferentes que os casais mais próximos em
idade, instrução, atractividade física,
 desacordo acerca do sexo e do casamento
cultura permaneciam juntos.
 desigualdade de inteligência
As mulheres pareciam mais susceptíveis a terminar a relação do que os homens, o que parece ir
contra os estereótipos. Os homens tendem a sentir-se mais deprimidos, sós e infelizes, parecendo haver
três vezes mais de possibilidade de os homens se suicidarem após o amor falhado.

Características das pessoas que se divorciam (Morgan e Rindsuff)

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O factor idade – quanto mais jovem é o casal, maior possibilidade existe de rompimento, uma vez que os
jovens são menos maduros emocionalmente e ainda têm adaptações a fazer (exemplo: escolher a
profissão) que podem gerar incompatibilidade para com o parceiro .

As pessoas confrontam-se com as suas relações conflituosas de diversos modos, mas têm sido
identificadas 4 tácticas que emergem de maneira consistente (Rusbult e Zembrodt, 1983):
 Expressão – discutir problemas, sugerir soluções, tentar mudar-se a si e ao parceiro muitas vezes
com ajuda terapêutica.
 Lealdade – esperar que as coisas melhorem
 Negligência – evitar o parceiro, recusar discutir os problemas, criticar o parceiro por coisas que
não estão relacionadas com o problema real e procurar relações extraconjugais
 Saída – separar-se formalmente, deixar a residência conjunta e obter o divórcio.
Activa

Saída Expressão
Destrutiva Construtiva
Negligência Lealdade

Passiva
O sujeito pode decidir activamente terminar o relacionamento ou trabalhar para melhorá-lo, ou as
pessoas podem esperar de modo passivo que o fim ou o melhoramento cheguem. Ou seja, existem duas
dimensões:

Resposta activa – saída e expressão Vs. Resposta Passiva – Negligência e Lealdade


Destrutiva – saída e negligência Vs. Construtiva – expressão e lealdade

A utilização destas tácticas varia de acordo com a personalidade e do compromisso para com a
relação, sendo que pessoas mais satisfeitas e comprometidas com a relação utilizam a expressão e
lealdade. Ao passo que pessoas com alternativas usam as tácticas negativas (saída e negligencia), que
terá efeito em experienciar mais stress na relação. A expressão pelo contrário será a melhor estratégia a
utilizar com relativamente menos problemas relacionais.

Se a dissolução é longa e dolorosa ou relativamente rápida depende da atracção que os dois sujeitos
sentem (Lee, 1984). Assim, uma relação muito amorosa que acaba acarreta mais desprazer, medo e
solidão que uma relação com mais fracos laços emocionais.
 Há investigação que sugere que os homens sofrem efeitos mais adversos da relação, o que se
pode dever ao apoio que encontram na amizade, já que a amizade dos homens é caracterizada
de “lado a lado” (os sujeitos têm actividades de camaradagem e comum, mantendo um certo
distanciamento de assuntos íntimos), ao passo que a das mulheres é chamada de “face a face”
(os sujeitos tendem a estabelecer auto-revelação emocional, desabafando os seus problemas).

 Ciúmes
Os ciúmes vão para além de uma simples experiência desagradável. São uma complexa combinação
de experiências
 Cognitivas - consistência de uma ameaça real ou imaginária à relação.

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 Emocionais - variedade de sentimentos negativos, incluindo surpresa, medo, mal-estar, ira,
aborrecimento e posse.
 Comportamentais - estratégias de confronto que ajudam as pessoas ciumentas a adaptarem-se
ao medo percepcionado.
 Acções de detecção – questionar o parceiro.
 Acções de protecção – interpor-se, por exemplo, numa conversa entre o
parceiro e o rival.

A análise das três componentes dos ciúmes mostrou que os ciúmes emocionais e comportamentais
estão relacionados com pessoas que não estão satisfeitas com a vida, já que mesmo não tendo uma
representação de ameaça podem existir sentimentos negativos ou acções comportamentais numa situação
que evoque o ciúme.

Não parece existir diferenças quantitativas quanto ao género, mas sim qualitativas:
 Mulheres – reconhecem os ciúmes, autocensuram-se, deprimem-se e exibem cada vez mais
comportamentos dependentes.
 Homens – reagem aos ciúmes por negação ou de modo zangado e competitivo - o “Efeito galo”:
reacção competitiva em que os homens sentem-se mais tocados pelo rival que pela companheira.

APLICAÇÕES: CONFRONTO COM A TIMIDEZ


A timidez consiste em ansiedade e inibição social, sendo que algumas pessoas são mais tímidas
que outras, apesar de em algum momento toda a gente ser tímida – mais de 80% de estudantes referem
ser tímidos em alguma altura das suas vidas. Se você não for tímida, é provável que duas das quatro
pessoas que encontre nos próximos momentos o sejam e uma delas poderá precisar de ajuda profissional.
Muitas pessoas são tímidas em situações que envolvam o medo emocional relativamente a pessoas do
sexo oposto. Contudo, a timidez costuma ser estável no tempo e no espaço, podendo ter um factor
genético.
Ela parece depender de traços emocionais de forma negativa como pouca auto-estima, satisfação
com a vida e atractividade física (Neto). As suas consequências são graves e conhecidas: as pessoas muito
tímidas têm desvantagens face ao namoro, pois encaram-no com medo, o que as priva de uma vida social
normal.
Muito embora a timidez possa ter um carácter hereditário urge aprender a reduzir e modificar a
timidez quando esta acarreta problemas (exemplo: exercícios de relaxamento).
Importa compreender como a pessoa tímida se auto-interpreta. A pessoa tímida geralmente
experiencia sintomas fisiológicos num primeiro encontro (suores, tremores, mãos frias). Segundo a teoria
da atribuição-amplificação ao atribuir-se esses sintomas à timidez esses sintomas aumentariam
(experiência: foi dito a estudantes tímidas que estavam a participar numa experiência sobre os efeitos do
barulho que poderiam ter como efeito secundário sintomas como os atrás referidos. Logo após a exposição
ao barulho encontravam um comparsa, um jovem atraente. As estudantes comportaram-se de modo
menos tímido por atribuírem os sintomas à experiência, sendo capazes de resolver o problema).
A psicologia social enfatiza o poder do contexto, acreditando que o modo de alterar uma percepção
de “eu sou tímida” é colocar a pessoa num contexto que leve à mudança do comportamento (exemplo:
colocar a pessoa numa situação em que falará com sucesso. Experiência: estudantes tímidos que não

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namoravam muito com mulheres foram colocados numa conversa com comparsas femininos que tinham
indicações para serem o mais gentis possíveis, sem que o sujeito percebesse que estava a ser tratado à
timidez. O facto de manterem conversas agradáveis alterou a sua percepção e reduziu de modo
significativo a sua timidez, a longo termo).

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V-Solidão
O hemafrodite é um ser mítico que ocupou a terra antes do ser humano. Esta criatura tinha
características humanas, mas tinha os dois sexos num só corpo o que o fazia ser poderoso e rivalizar com
os Deuses. Assim sendo, Zeus dividiu o hemafrodite em dois sexos e desde esse tempo, homens e
mulheres foram forçados a encontrar-se para superarem a sua imperfeição.

O mito de hemafrodite é uma explicação poética da necessidade do homem em não estar só, dado
que “nenhum homem é uma ilha intacta” (John Donne).
O tema é pertinente, pois se o Homem é um ser social não pode viver sozinho. Ainda assim, é
difícil existir um ser humano que nunca experienciou uma situação de solidão, seja por sair do país, seja
por entrar numa nova escola. A solidão é um fenómeno muito frequente na população – 26% dos
Americanos declararam sentir-se muito sós ou afastados das pessoas durante as ultimas semanas
(Bradburn). Talvez 10% da população sofra de solidão grave e persistente (Peplau e Perlman).
Até aos anos 70 esta temática não foi muito trabalhada, o que se pode explicar:
 pelo estigma social ligado ao estudo da solidão - existe a ideia de que artistas e cientistas são
mais susceptíveis à solidão (exemplo: a obra comedor de batatas de Van Gogh mais do que uma critica
social à classe dominante holandesa é um reflexo da solidão do artista, na medida em que ao lavradores
do quadro apesar de estarem próximos fisicamente estão distantes emocionalmente). No caso dos
cientistas estudar a solidão pode ser olhado com desconfiança por parecer ser despoletado por problemas
pessoais não resolvidos
 por ser difícil manipular e criar a condição experimental de solidão – o método de eleição dos
psicólogos sociais é o laboratório que confere maior validade aos estudos, contudo para este caso o melhor
poderá ser recorrer a instrumentos que mensurem a solidão na vida quotidiana.

 O que é a solidão?

Definição:
Se para a maioria das pessoas o significado é intuitivo, é difícil definir solidão de forma unânime por ser
um conceito que varia conforme a abordagem teórica subjacente, não havendo uma única definição,
embora quase todas se centrem na natureza da solidão como deficiência social. Exemplos:
“é uma experiencia excessivamente desagradável e motriz ligada a uma descarga desadequada da necessidade
de intimidade humana” (Sullivan)
“um desejo de interacção presente do que se experiencia no presente” (Lopata)
“é causada pela ausência de um parceiro social apropriado que possa ajudar na realização de objectivos
dependentes de outras pessoas” (Derlega e Margulis)
“experiência desagradável que ocorre quando a rede social da pessoa é deficiente nalgum aspecto, seja
quantitativo, seja qualitativo” (Perlman e Peplau)
“ausência ou ausência percepcionada de relações sociais satisfatórias, acompanhada de sintomas de mal-estar
psicológico que estão relacionados com essa ausência. Pode ser vista como uma resposta à ausência de
reforços sociais” (Young)
“condição estável de mal-estar que surge quando uma pessoa se sente afastada, incompreendida, ou rejeitada
pelas outras pessoas e/ou faltam parceiros sociais apropriados para as actividades desejadas, em particular
actividades que propiciam uma fonte de integração social e oportunidades para a intimidade emocional” (Rook)
“é causada não por se estar só, mas por se estar sem alguma relação precisa de que se sente necessidade, ou
um conjunto de relações.” (Weiss)

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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Parece haver acordo em três aspectos gerais:
 É uma experiência subjectiva que pode não estar relacionada com o isolamento objectivo
 Esta experiência subjectiva é psicologicamente desagradável para o indivíduo
 Resulta de um relacionamento deficiente
Se podemos sentir solidão quando estamos sozinhos, também a podemos sentir quando estamos
rodeados de pessoas mas queremos estar com alguém específico que não está connosco.

 Formas de solidão
Classificação segundo …
 A ansiedade (Moustakas)
 Ansiedade-solidão - experiência aversiva que resulta de uma alienação básica entre homem e
Vs homem.
.
 Ansiedade existencial - comum a todos os seres humanos, podendo proporcionar o auto-
crescimento por implicar momentos de auto-confrontação.
 O tempo
 Traço de personalidade (solidão crónica) - pessoas solitárias que referem uma longa história de
sentimentos frequentes e intensos de solidão (experiência Shaver et. Al: caloiros com
pontuações elevadas em solidão enquanto traço eram incapazes de aproveitar as
Vs
. oportunidades que o campus dava para conhecer pessoas – já sofriam de solidão antes de
entrarem na faculdade e continuavam a senti-la).
 Estado psicológico (solidão situacional) - pessoas que experienciam a solidão durante
diferentes lapsos de tempo em diferentes momentos da sua existência. (os estudantes que não
tinham estado sós no secundário fizeram uma adaptação normal.
 Défice social implicado (Weiss)
 Solidão social - falta da rede social de amigos e de pessoas conhecidas
 Solidão emocional - insatisfação por causa de uma relação íntima. É a forma mais dolorosa de
isolamento
Uma não implica a outra – exemplo: mudar-se para um país diferente, mesmo que se mantenha uma
relação íntima (solidão social), ou ter uma extensa rede social, mas sentir-se só porque falta a pessoa
amada (solidão emocional).

 O que se sente quando se está só?


Diferentes pessoas, em diferentes situações podem experienciar diferentes sentimentos de solidão.
A experiência de solidão na viuvez (Lopata):
 Desejar estar com o marido
 Querer ser amada e querer amar e tratar de alguém
 Querer partilhar experiencias e casa
 Experienciar falta de estatuto e falta de outras pessoas, bem como noção de incapacidade de fazer
novos amigos
 Desejo de uma forma prévia de vida
A solidão inclui o desejo do passado, frustração com o presente e receio do futuro.

Sentimentos associados à solidão da população em geral, segundo Rubeinstein e Shaver:

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Desespero Depressão Aborrecimento impaciente Autodepreciação
Desespero Triste Impaciente Pouco atractivo
Aterrorizado Deprimido Aborrecido Severo consigo
Desamparado Vazio Desejo de estar noutro local Estúpido
Assustado Isolado Inquieto Envergonhado
Sem esperança Pesaroso Zangado inseguro
Abandonado Malancólico Incapaz de se concentrar
vulnerável Alienado
Desejo de estar com uma pessoa
particular

ABORDAGENS TEÓRICAS DA SOLIDÃO


 Modelo Psicodinâmico (Sullivan, Fromm-Reichman)
A solidão como uma força dinâmica, provocadora e patológica. Consideram as pessoas solitárias como
apáticas, passivas e deprimidas e atribuem a solidão a experiências de infância. Embora possa ser de
natureza interpessoal (no exterior), valoriza-se mais o intrapessoal, o modo como os factores
intrapsíquicos (interiores) podem provocar a solidão.

 Modelo Fenomenológico (Rogers, Moore)


A solidão como a manifestação de um mau ajustamento causado pelo facto de os indivíduos terem
deixado cair as suas defesas para entrarem em contacto com o self interior, receando a rejeição de
outrem. Salientam aspectos intrapessoais, mas não só centrados na infância.

 Modelo Existencialista (Moustakas)


A solidão como uma condição facilitadora e criadora, apesar de dolorosa. Os seres humanos são
fundamentalmente pessoas sós - ninguém pode sentir os nossos pensamentos e sentimentos, pois estar
separado é uma condição essencial da nossa existência. Autores abordam o modo como se pode viver com
a solidão de modo positivo.

 Modelo Sociológico
A solidão como normativa: distribuída normalmente na população. A causa da solidão é interpessoal,
fora do individuo, num acontecimento (exemplo: divórcio).
Riesman, Glazer e Denney – os americanos tornaram-se comandados (other directed) e procuram a
aprovação social, ajustando-se continuamente ao seu meio interpessoal para saberem como comportar-se.
As pessoas comandadas estão cortadas do seu self interno, seus sentimentos e aspirações.
Pelo contrário… Slater – o compromisso perante o individualismo na sociedade americana faz com que
cada um siga o seu caminho, levando à solidão.

 Modelo Interaccionista (Weiss)


A solidão como distinção entre solidão emocional e social (ver acima). A solidão não é só uma função de
factores de personalidade ou de factores situacionais, é o produto dos seus efeitos combinados.

 Modelo cognitivo (Perlman e Peplau)

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A solidão como uma divergência entre os níveis de contactos sociais desejados e realizados – os contactos
sociais do individuo são mais restritos ou satisfatórios em relação ao seu desejo. A cognição é o factor
mediador entre a experiencia de solidão que pode ser só subjectiva e percepcionada e não real e objectiva.

Síntese comparativa:

Psicodinâmico Fenomenológico Existencialista Sociológico Interaccionista cognitivo

Fim Trabalho clínico Trabalho clínico Trabalho clínico Análise social Trabalho clínico investigação

Natureza da - - + - - -
solidão patológica patológica universal normativa normal normal

interpessoais
Causas intrapessoais intrapessoais condição humana ambas ambas
(sociedade)

História
Infantil vs infantil corrente perpétua ambas corrente corrente
Corrente

Nestas seis abordagens verifica-se que:


• há um consenso quanto ao trabalho clínico
• poucas a perspectivam como algo psicopatológico
 Aspecto comum evidente: a dimensão temporal – pode sentir-se em relação ao passado,
presente ou futuro e todas vêem a solidão de uma forma negativa

AVALIAÇÃO DA SOLIDÃO
Duas abordagens conceituais para avaliar a solidão:
 Abordagens multidimensionais: solidão é vista como um fenómeno multifacetado que não pode ser
apreendido só por uma medida global de solidão. Tenta diferenciar os vários tipos de solidão, em
vez de os unificar ´
 Abordagens unidimensionais: solidão é encarada como um fenómeno unitário que varia sobretudo
na intensidade experienciada. Há temas comuns na experiência da solidão, apesar de alguns
temas particulares. É uma escala mais geral.

O instrumento mais utilizado na literatura (cerca de 80% dos investigadores) para se avaliar a solidão é a
Escala de Solidão da UCLA que se insere numa abordagem unidimensional. É um instrumento
psicométrico, de fácil utilização seleccionado de 75 itens da escala de Sisenwein que eram julgamentos
feitos por 20 psicólogos, tendo como critério de eliminação os julgamentos muito extremos (exemplo: a
televisão é a minha única companhia). Restaram então 25 itens, em que as respostas se situavam numa
escala de 4 pontos (“sinto-me muitas vezes deste modo” até “nunca me sinto desse modo”)
Para a testar aplicou se a escala UCLA a um grupo de voluntários e um grupo de estudantes.
Encontrou-se uma elevada consistência interna (coeficiente alpha.96), pois havia uma correlação elevada
entre o score total da escala da solidão e medidas de auto-avaliação da solidão havia diferenças
significativamente o grupo de estudantes e a amostra clínica e não havia relação com outros itens que não
estavam conceitualmente relacionados com a solidão (exemplo: sentir-me trabalhador”). A versão final
constou de 20 itens escolhidos com base nas correlações item-score total, a sua fidelidade e validade
comprovada por vários estudos posteriores.
No entanto, apresentava vários problemas:

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 Enviesamento de respostas, já que todos os itens estavam todos formulados no mesmo sentido- a
tendência de responder sempre da mesma maneira podia influenciar sistematicamente a forma de
resposta
 Validade discriminante pouco clara – a solidão pode ser diferente dos constructos relacionados com
ela
 Desejabilidade social – a solidão a pode ter algum estigma para a pessoa

Houve duas revisões da escala:


1. 10 itens foram redigidos de modo negativo de os outros 10 de modo positivo, apresentando
correlações superiores a .40 e o coeficiente alpha de .94. Estavam ainda correlacionadas com
outras medidas de estado emocional (exemplo: inventário da depressão de Beck e escalas de
ansiedade e de Depressão de Costello-Comrey)
2. Confirma-se a validade concorrente pela relação entre solidão e comportamento social e a validade
discriminante pela distinção solidão da desejabilidade social, da tomada de riscos, de estados
emocionais negativos e motivação afiliada.

O esforço de Russel e col. para desenvolverem uma escala de solidão adequada revestiram-se de sucesso,
já que a escala é relativamente curta, fácil de administrar, altamente fidedigna e mostra ser valida quer na
avaliação da solidão quer nos outros constructos relacionados. Outras escalas não tiveram tanto sucesso.

A UCLA foi utilizada em Portugal por Neto em 1987, com a mesma ordem de itens (exemplo: “não há
ninguém a que possa recorrer”) e escala de 4 pontos (“nunca”, “raramente”, “algumas vezes”, “muitas
vezes”) em 286 estudantes da Universidade do Porto, igualmente distribuídos em termos de sexo.
Verificou-se que:
 Alto nível de consistência interna (coeficiente alpha de Cronbach elevado = .87) e validade da
escala (correlação negativa entre a solidão e o autoconceito; correlação positiva entre a solidão e a
ansiedade social)
 Não há diferenças significativas entre o sexo masculino e feminino
 A correlação da auto-avaliação acerca da solidão e nota global de solidão é significativa – os
sujeitos com pontuações mais altas na escala da solidão descrevem-se como sentindo-se mais sós
 Ligação da solidão com estados emocionais (exemplo: abandonado, aborrecido, desvalorizados,
frustrado, rejeitado, envergonhado, deprimido e não com encolerizado ou sensível)
 A validade externa foi aprovada num estudo com professores através da técnica da regressão
múltipla (stepwise) para determinar quais as variáveis sociodemográficas ou psicológicas que
prediriam melhor a solidão, pela inclusão de outras escalas (exemplo: satisfação com a vida, o
autoconceito, atribuição de responsabilidade e ansiedade). Verificou-se que a dimensão social do
autoconceito é o melhor preditor da solidão, sendo que encontramos predição significativa também
para a ansiedade social, satisfação social e nível de ensino que juntos explicam 40% da variância
da solidão. Contudo, o nível de ensino pouco acrescenta às variáveis psicológicas, o que leva a
concluir que são as variáveis psicológicas os melhores preditores de solidão nos professores.
 A validade concorrente também é mostrada pela relação com as pontuações da escala e solidão
actual.

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QUEM SÃO AS PESSOAS SÓS?
 Idade
Sullivan defendera que a solidão não pode ocorrer até à pré-adolescência, mas evidencia empírica
mostra solidão em crianças de sete anos.
Estereótipo de que as pessoas idosas são mais solitárias não se confirma, segundo uma série de
estudos que demonstram haver uma tendência geral para a solidão diminuir com a idade, obtendo as
pessoas mais idosas as pontuações mais baixas de solidão (estudo Parlee – sentimento de solidão menos
de 18 anos (79%) vs. sentimento de solidão em +55 anos (37%)). Isto pode acontecer porque:

 os jovens estão mais propensos a falar de solidão (fase da crise de identidade segundo a teoria
de Erickson).

 os jovens passam por uma série de transições sociais (1º emprego, entrada para a faculdade...).

 as pessoas mais idosas têm uma vida mais estável e adquirem ao longo do tempo determinadas
habilidades para lidar com a solidão, ou as suas expectativas podem mudar tornando-se mais
realistas.
Não é todavia de excluir que a solidão seja mais comum em idades mais avançadas.

 Sexo
Na adaptação da escala de solidão de UCLA para Portugal não se encontraram diferenças significativas
entre os sexos, contudo isso parece contradizer a predisposição das mulheres para serem mais emotivas e
terem reacções mais negativas.
Contudo, inquéritos como os de Weiss encontraram essas diferenças, o que se pode dever à medida
utilizada – a UCLA avalia a solidão indirectamente como subjacente a determinados itens, ao passo que o
inquérito pergunta directamente se as pessoas se sentem sós, o que faz com que os homens possam ter a
tendência de serem mais verdadeiros nas suas respostas em medidas indirectas como a UCLA e a
autocensurarem a expressão directa da solidão que podem associar a um certo estigma. Essa resistência
dos homens está associada a estereótipos de que não se espera que os homens assumam as suas
fraquezas emocionais, pelo que estes terão a propensão a agir de acordo com eles.

 Estado civil
As pessoas não casadas sofrem mais de solidão do que as que estão casadas e dentro destas - As
viúvas e as divorciadas sofrem mais do que as solteiras. Talvez porque a solidão está mais determinada
pela perca de uma relação do que pela solidão em si. As mulheres referem mais solidão, mas os homens
referem-na mais para situações de ruptura, perda de uma relação conjugal.

 Outras características
Nível socioeconómico - a solidão é mais característica dos pobres que os ricos, pois parece que as boas
relações se mantém com tempo e dinheiro para actividades de lazer (Weiss). Contudo, em Portugal não
foram encontradas diferenças negativas.
Variáveis sociodemográficas: não há diferenças de solidão entre zonas rurais e urbanas, entre mudar
frequentemente de casa ou raramente, mas existem diferenças de solidão para os filhos de pessoas
divorciadas sentem mais a solidão antes dos 18 anos, e muito especialmente se ocorreu antes dos 6 anos.
A morte de um dos pais não tem esse efeito duradoiro.

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FONTES DE SOLIDÃO
A experiência resulta da interacção de factores situacionais e pessoais.

 Factores situacionais
Acontecimentos que reduzem a quantidade e a qualidade das relações.
Tipo de factores externos que contribuem para o desenvolvimento da solidão ao serem um
obstáculo a trocas sociais satisfatórias.
 Menos contacto social (exemplo: viver sozinho, menos participação em actividades
socais, voluntariado, menos tempo contacto com família e amigos, mais tempo só);
 Estatuto social em disponibilidade (solteiro);
 Perca relacional/rejeição (exemplo: divórcio, viuvez)
 Redes sociais inadequadas (exemplo: rede com densidade mais baixa de amigos,
namorados…);
 Ter um fracasso;
 Barreiras indirectas (exemplo: desemprego – tanto pela diminuição de interacção na
rede de trabalho como por existir menos dinheiro disponível para actividades o que pode até
causar vergonha e inibição social, pois mesmo o baixo rendimento em pessoas empregadas
está relacionado com a solidão, transportes inadequados)
 Factores temporais (partes do dia, da semana, de estação).
 Novas situações (exemplo: ir para a universidade constitui o primeiro afastamento da
casa dos pais, pelo que os caloiros são forçados a criar uma nova rede social e a renegociar
relações na sua terra. No estudo de Cultrona sair de casa dos pais para ir para a
Universidade era a principal causa de stress identificada, seguida por separações românticas
e problemas com os amigos. De facto, no Outono os caloiros tendiam a sentir-se mais
sozinhos do que no fim só primeiro ano, onde já tinham criado uma nova rede de amizade.
Apesar disso 1/5 dos estudantes permaneceram sós todo o ano, mas essa solidão devia-se
mais a factores pessoais. Verificou-se então, que a qualidade percepcionada de relações era
um melhor preditor do que a quantidade de relações em numero de amigos e namorados.
As antigas relações na terra diminuíram em número e em qualidade e assiste-se ao
rompimento de quase metade das relações românticas com a entrada na universidade e a
outra metade era avaliada de modo menos positivo. Os rapazes experienciaram mais stress
nas relações pelo facto de as raparigas preferirem rapazes mais velhos e os sentimentos
para com a família tornaram-se mais positivos).

 Factores pessoais
Alguns sujeitos podem tornar-se solitários ou a experienciar a solidão durante longos lapsos de
tempo, tornando-as mais vulneráveis a factores situacionais. A solidão tem como consequência o
desenvolvimento de características pessoais que tornam difícil perceber quais as são as características que
a causam, mas seja qual for a razão causal, a investigação tem revelado que pessoas que dizem estar sós
agem de modo diferente do que as que não dizem.

 Depressão – estudo que aplicam conjuntamente, por exemplo, a escala da depressão de Beck
mostram que pessoas que dizem que se sentem sós também dizem que se sentem deprimidas. Mas

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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apesar destes conceitos serem coincidentes são também distintos: nem todas as pessoas sós se
sentem deprimidas, e nem todas as pessoas deprimidas se sentem sós (distinção de Brag entre solidão
não deprimida em que os sujeitos experienciam insatisfação só com as suas relações e solidão
deprimida em que a insatisfação se prolonga a outras facetas da vida)
 Autoconceito (Young): devido a pensamentos automáticos consideram-se com defeitos indesejáveis
que por considerarem ter base na personalidade parecem-lhes imutáveis (exemplo: julgam-se
aborrecidos, não atractivos, frios ou egoístas). Assim, os solitários podem apresentar um autoconceito
negativo. Num estudo realizado em Portugal por Neto encontrou-se uma correlação negativa entre a
solidão e o autoconceito, principalmente para a dimensão aceitação e rejeição social que era a melhor
preditora dois valores da solidão.
 Auto-estima: é um corolário íntimo do autoconceito, pelo que baixa auto-estima corresponde a
valores mais altos de solidão. As pessoas solitárias identificam-se como indignas e desprezíveis. Há
portanto uma correlação forte entre a discrepância do conceito ideal do sujeito e o conceito actual.
Contudo, esta ligação é recíproca – a solidão também pode provocar baixa de auto-estima, pois
pessoas com baixa auto-estima podem censurar-se pelos seus fracassos sociais, o que reforça o seu
próprio conceito de auto-estima.
 Timidez: pode predispor a solidão ao ser uma tendência para a evitar participar em interacções
sociais. Forma encontradas fortes correlações negativas também em Portugal (Neto)
 Habilidades sociais: a sua falta pode estar associada à solidão, pois mais do que serem rejeitadas,
rejeitam-se a elas próprias, ao esperarem ser rejeitadas pelos outros. Vários estudos mostram que
estudantes com pontuações mais altas de solidão parecem interagir menos com o companheiro, fazer
menos perguntas, mantendo o tópico por iniciado pelo companheiro. Contrastando com a pouca auto-
revelação deles próprios, alguns solitários fazem excessiva auto-revelação precocemente.

Conclusão: As pessoas solitárias são:


 pessoas com uma visão pessimista delas próprias e dos outros;
 tímidas e sem assertividade;
 não respondentes e insensíveis nas interacções sociais;
 diferentes em determinadas características nas situações sociais.

 Atribuições causais
As pessoas também tendem a explicar os motivos da sua solidão, pois julgam que compreende-la é o
primeiro passo para a prevenir ou modificar. Peplau e a sua equipa examinaram duas dimensões das
atribuições que fazemos porque estamos descontentes com as relações sociais: locus de causalidade
(interno vs. externo) e estabilidade (estável vs. instável).

Locus de Causalidade
Interno ou pessoal Externo ou situacional
Estável

Estou sozinho porque não sou amado. É deprimente; sinto um As pessoas por aqui são frias e impessoais, nenhuma
vazio. Sento-me à noite sozinho, a beber, a comer e partilha os meus interesses ou corresponde às minhas
Estabilidade

divertindo-me a mim mesmo com a televisão. expectativas. Estou farto deste lugar.

Estou sozinho agora, mas não será por muito tempo. Deixei de O meu namorado e eu separámo-nos. É o caminho que
Instável

me dedicar tanto ao trabalho e saio e conheço novas pessoas. as relações seguem hoje em dia; algumas delas
Começarei por telefonar à pessoa que conheci na festa de um resultam e outras não. Da próxima vez talvez tenha
amigo. mais sorte.

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Impacto nas expectativas, emoções e comportamento:
 Os sentimentos mais severos de solidão surgem quando fazemos atribuições internas, estáveis, pois o
modo mais acentuado de o sentir é quando cremos que não temos relações satisfatórias porque não
temos competência nas nossas qualidades que por serem internas são imutáveis. As explicações
estáveis para o fracasso, segundo a teoria da atribuição, contribuem para expectativas mais baixas e
negativas do futuro, trazendo pessimismo. São também mais susceptíveis de ter sentimentos de
depressão. No comportamento, os estudantes que faziam a atribuição a traços internos apresentavam
não só expectativas mais baixas, como também motivação e desempenho mais baixo.
 Quando fazemos qualquer um dos outros três tipos de atribuições, podemos ter sentimentos de
solidão, mas estes são muito menos susceptíveis de serem severos, sobretudo nas atribuições
internas, instáveis, em que somos capazes de controlar o estado de solidão, o que pode ajudar a
reduzir os sentimentos de mal-estar.

CONFRONTO COM A SOLIDÃO

 O que as pessoas fazem quando estão sós


As pessoas diferem na facilidade em reconhecer ou admitir a solidão - O temor de estigma pode levar
algumas pessoas sós a evitar a etiqueta “só” mesmo quando procuram ajuda de um profissional, além de
negar a solidão é uma estratégia para evitar o sofrimento. Os clínicos devem estar preparados para inferir
a presença de solidão em clientes relutantes em admiti-la ou que a experienciam inconscientemente.

As pessoas diferem também nas acções que realizam para se confrontar com a solidão
 Rubenstein e Shaver (1982), as quatro respostas mais comuns ao que faziam quando se
sentiam sós foram: ver TV, ouvir música, chamar um amigo e ler. As respostas foram
agrupadas em quatro tipos
Tipos positivos construtivos de Tipos negativos Positivo ou negativo
conforto potencialmente destruidores
contacto social solidão activa passividade triste gastar dinheiro
Chamar um Estudar Chorar é uma categoria única, pois
amigo Trabalhar Dormir tanto pode ser positiva para
Visitar alguém Ouvir ou tocar Ficar só quem o tem, e negativa
música Comer ou beber em demasia para quem não tem).
Passear Tomar tranquilizantes
A solidão estava correlacionada com a passividade triste e inversamente correlacionada com o
contacto social.

 Estratégias encontradas por Paloutzian e Ellison em estudantes universitários:


o Respostas orientadas sensualmente (exemplo: beber, drogar-se, encontros sexuais)
o Respostas religiosas (exemplo: rezar, ler a bíblia)
o Respostas de procura (exemplo; ir à discoteca)
o Diversões não sociais (exemplo: ler, estudar, trabalhar)
o Contacto íntimo (exemplo: desabafar com algum amigo só para estar junto dele)
o Passividade (exemplo: dormir)

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Os estudantes que avaliavam as suas habilidades socais de modo mais positivo eram menos
susceptíveis de enveredar por actividades sensuais ou de diversão, por as julgarem como menos
eficazes para reduzir a solidão, face a contacto íntimo. Era até mais provável enveredarem por
respostas religiosas.

 Três agrupamentos de confronto com a solidão (Rockach e Brock)


o Aceitação e desenvolvimento de recursos (reflexão e aceitação, compreensão, religião
e fé) – há um aumento da consciência da pessoa a nível de pensamentos, sentimentos
e reflexão sobre o seu lugar no Universo que ajuda a ganhar um poder mais elevado
no sentido da vida e explicações universais.
o Construção de pontes sociais (rede de apoio social e aumento da actividade) – deve
haver um esforço para criar redes de apoio social para aumentar a probabilidade de
actividade em se ligar intimamente a outras pessoas.
o Confronto com a solidão, distanciamento e negociação – deve haver a capacidade de
encarar a solidão e não a negar para dela se tornar consciência.

 Estratégias de auto-ajuda (Rook e Peplau) utilizadas por estudantes universitários:


o Estratégias cognitivas – para resolver o problema (o que fazer para vencer este
problema?) e para distracção (pensar noutras coisas propositadamente)
o Estratégias comportamentais – ser amigável, ajudar mais alguém, envolver-se em
actividades. Num estudo de Cultrona procurar um namorado parecia ser a melhor
estratégia
Mais prováveis do que envolver-se em drogas ou álcool.

 Três abordagens gerais do confronto com a solidão (Perlman e Perplau, 1982):


o reduzir a sua necessidade de contacto social encontrando outras tarefas que possa
realizar sozinha e que a preencham (adaptação positiva) ou enveredar por álcool e drogas
(adaptação negativa);
o aumentar a quantidade e a qualidade de contactos sociais tornando-se mais atractivo,
associar-se em clubes, aprofundar relações existentes…;
o reduzir o fosso entre os níveis desejados e realizados de contacto social

 Como ajudar as pessoas a sentirem-se menos sós


Não existe uma estratégia de cura, mas muitas estratégias devido ao facto de também haver
vários tipos de solidão. Constatou-se que psicoterapia adequada ao problema específico da solidão
surtia mais efeito que estratégias mais gerais.

Quatro abordagens de estratégias (Rook)


o Tratamento cognitivo - tem como objectivo mudar as expectativas das pessoas de que
serão rejeitadas nos encontros sociais, convencendo-a que se trata de uma auto-percepção
incorrecta. As pessoas sós são geralmente muito ansiosas socialmente e sentem-se
ridicularizadas pelos outros. A terapia cognitiva encoraja a pessoa a envolver-se e, actividades
com outras pessoas, inclusive pela auto-revelação
o Treino das habilidades sociais que tem como objectivo melhorar a habilidade das pessoas
para serem eficazes nos encontros sociais, ajudando-a a não se sentir embaraçada percebendo

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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que não é o centro do mundo. Mediante o treino de parafrasear comentários as pessoas
conseguiram sentir-se mais competentes socialmente, motivando o contacto social e, por
consequência, a redução da solidão e timidez.
o Terapia de grupo que tem como objectivo aumentar a sensibilidade às outras pessoas.
o Abordagens comunitárias que têm por objectivo aumentar as oportunidades das pessoas
para a interacção. Não são muito úteis se a pessoa ainda não adquiriu habilidades sociais.

VARIAÇÕES INTERCULTURAIS
Existe pouca investigação cultural nesta área, apesar de ser importante para descobrir factores
associados á solidão, pois se numa cultura existe maior solidão do que noutra é porque de alguma forma
existem diferentes factores situacionais implicados.
Contudo, os dados disponíveis apontam para uma maior solidão em culturas orientais (japonesas e
chinesas em particular) do que nas ocidentais ou outras culturas.

Diferenças entre Japoneses e Australianos (Schumaker). Porquê?


 Padrões de interacção social mais introvertido e sem revelação
 Práticas de socialização mais tendenciosas para a solidão
 Maiores níveis de neurocitismo
 Maior solidão também nas relações românticas, comparativamente a americanos
 Maior solidão em estudantes universitários (Xie) talvez por enfatizarem a família como
principal apoio e terem dificuldade em criarem outra rede de apoio quando têm de sair de casa
para estudar.

Diferenças entre Porto Rico e EUA (Jones et.al):


A amostra de Porto Rico apresenta maior solidão que os americanos, por diferenças em grande
parte das variáveis da personalidade e interpessoais consideradas. Contudo, a correlação para ambas
parece ser semelhantes, o que sugere que a organização geral das personalidades se mantem estável
entre culturas, enquanto os valores específicos dessas medidas reflectem a variação cultural.

Diferenças entre jovens adultos de Cabo Verde e Portugal (Neto e Barros):


Não havia diferenças entre solidão – os adolescentes sentiam mais que os adultos - e as variáveis
que melhor prediziam a solidão (exemplo: o neurocitismo) eram semelhantes

Diferenças entre o nível de solidão de portugueses que nunca emigraram e jovens de origem
portuguesa residindo em França (Neto):
Não se encontraram diferenças para sexo, idade, religião, etc. Encontraram-se diferenças em
relação às atitudes de aculturação – os jovens emigrados cujas atitudes eram favoráveis á aculturação
mostravam mais integração e menos solidão, do que os que eram favoráveis à segregação e assimilação.
Os resultados apoiam explicações situacionais e pessoais.
Num outro estudo de Neto também não se verificaram diferenças entre jovens a viver em Portugal
com jovens que nunca emigraram. Contudo, os mais atingidos pela solidão eram jovens que apresentavam
uma maior identidade francesa e não portuguesa, que percepcionavam ser reconhecidos como emigrantes
e que perspectivavam voltar a França.

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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Importa referir que a solidão não é algo que deva ser sempre evitado. Pode fazer parte de um
processo de crescimento, um processo de transformação que pode normal a solidão desagradável como
agradável ao ser um tempo que nos dá a oportunidade de reflectir e promover o autoconhecimento que
nos ajudará a manter relações, ou um tempo fazer actividades que nos dão prazer.

APLICAÇÕES: QUEBRAR O MUNDO DO ISOLAMENTO SOCIAL


As relações sociais são importantes e cruciais na vida do homem e se inexistentes põem em risco a
saúde física e psicológica. Contudo, o homem é também resiliente, por isso se as dificuldades nas relações
podem despoletar a solidão, as relações também podem ser a cura.
Algumas estratégias que as pessoas usam como por exemplo deixar-se absorver pelo trabalho,
consumir álcool e drogas ou ouvir música (triste) pode agravar a situação. Duas técnicas de confronto com
muito sucesso são:
Terapia cognitiva – as cognições das pessoas sós e não sós são muito diferentes, pois os esquemas
das pessoas sós focam uma atenção selectiva na informação negativa, fortalecendo esse autoconceito
negativo. O objectivo é modificar essas percepções (por exemplo: uma pessoa que não tenha relações por
se julgar enfadonha pode perceber com a ajuda do terapeuta que essa percepção é errada, bem como não
são só as pessoas espirituosas que têm amigos). Tais mudanças na cognição têm de se fazer acompanhar
por mudanças comportamentais.
Treino de habilidades sociais – as pessoas que sentem solidão, além de terem falta de habilidades
sociais, ficam ansiosas por não as terem. Uma forma de treino é expor as pessoas que desempenham
papéis com sucesso do ponto de vista interpessoal e vídeo. Pode também praticar habilidades socais em
situações não muito ameaçadoras e ver os resultados em vídeo, já que interacções muito especificas
(exemplo: falar ao telemóvel) podem ser treinadas. Há provas que este treino melhora o nível de
satisfação social (experiência de Jones et.al: ensinaram a um grupo de estudantes como aumentar a
atenção pessoal em interacção diádica com mulheres estranhas. A seguir a quatro interacções os jovens
sós eram instruídos sobre como fazer perguntas, como se dirigir, etc para com as mulheres pela pratica da
modelagem, interacção pratica e retroacção. Este grupo de estudantes, face ao de controlo sentiu menos
solidão, autoconsciência e timidez). Muito embora este treino possa melhorar a iniciação na interacção
social é também importante que as pessoas consigam aprofundar essas relações, pelo que pode ser
complementado, por exemplo, com técnicas de relaxamento que num estudo surtiu mais efeito do que só
uma técnica ou nenhuma técnica. Verificou-se ainda que três meses depois as pessoas referiam mudanças
sociais significativas nas suas vidas.

Uma vez que a pessoa pense sobre as situações sociais de uma nova maneira, aprende a interagir
melhor com as outras e muda os seus estilos interpessoais, o que leva a que percepcione de maneira
diferente as suas capacidades e assim tenha êxito na interacção que quebram os muros da solidão.

Psicologia Social 2010 – Rita Pasion


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