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Psicologia Social nos EUA

• Até 1930, havia 2 correntes de Psicologia Social que prevaleciam nos EUA:

1. PSS: Interacionismo Simbólico (influenciado pelas ideias de Mead -


Pragmatismo).
2. Psicologia Social Psicológica: Behaviorismo (influenciado pelo Behaviorismo
Radical de Skinner e Metodológico de Watson - Positivismo).

• Após 1930, muitos teóricos da Gestalt migraram para os EUA, que traziam a influência da
Fenomenologia e propunham uma Psicologia Social que considerasse a influência da
percepção, da influência social e da cognição.

Behaviorismo (Watson e Skinner)

• Paradigma de Watson: S (estímulo) -> R (resposta). Cada estímulo causa determinada


resposta. Apenas comportamentos diretamente observáveis eram estudados.
• O behaviorismo Social estuda principalmente a aprendizagem e o comportamento
aprendido.
• A sociedade tem o papel de reforçar positiva ou negativamente o comportamento
individual, entretanto, não se limita apenas a isso.
• O reforçamento funciona como um impulso, que estimula o comportamento, mas não o
determina.
• A Psicologia Social Psicológica behaviorista fez experimentos para compreender a
aprendizagem por imitação, representada por: impulso -> sinal aprendido por imitação ->
resposta.

Influência da Gestalt

• Estímulo -> organização dos estímulos -> resposta.


• O cérebro tenta formar uma Gestalt: “um todo organizado”.
• Devemos considerar a totalidade da experiência ao analisar o comportamento.
• Entendemos as partes pelo todo da experiência e usamos os nossos sentidos para fazer
esse todo.
• A Gestalt contribui com o estudo da influência da sociedade na cognição, a percepção
social e a consistência cognitiva.
• A Gestalt em contato com o Behaviorismo Clássico deu origem a outras correntes, como
o cognitivismo-comportamental.
As leis básicas da Gestalt

1. Semelhança: organizamos uma figura pelos elementos semelhantes.


2. Proximidade: organizamos uma figura por objetos próximos uns dos outros, em
grupos.
3. Continuidade: percebemos uma figura de forma contínua, em vez de
separada/quebrada.
4. Pregnância: percebemos uma figura melhor quando sua forma é harmônica.
5. Fechamento: buscamos completar um todo.
6. Unificação: tendemos a unificar as partes em um objeto.
7. Figura-fundo: sempre organizamos um objeto por algo que se sobrepõe (a figura) e
algo que fica em segundo plano (o fundo).
8. Segregação: separar objetos.
Asch

• Inspirou-se nos experimentos sobre percepção de Muzafer Sherif, em que havia o efeito
autocinético -> o participante via um ponto fixo, mas se outra pessoa afirma que esse
mesmo ponto está se movendo, ele começava a ver se movendo também.
• Asch buscava uma teoria da influência social que explicasse as forças psicossociais que
levavam o indivíduo a contrariar suas próprias opiniões e percepção para se manter em
conformidade com o grupo.
• Os resultados da pesquisa foram publicados no artigo “Opiniões e Pressão Social”.
• Em seu experimento, os participantes eram questionados sobre qual das alternativas
tinham uma linha do mesmo tamanho que a inicial. 7 dos 8 participantes eram
colaboradores que diziam de propósito a alternativa errada.
• O participante real do experimento dizia a alternativa certa quando era perguntado
individualmente, mas quando a pergunta foi feita em grupo e todos afirmaram uma
alternativa diferente, ele mudava sua resposta conforme o grupo, mesmo estando correto
inicialmente.
• Esse experimento mostra que a percepção pode ser alterada pelo social, logo, a cognição
não é só individual.
Milgram

• Hannah Arendt escreveu A Banalidade do Mal, em que defendia que uma pessoa boa pode
cometer um ato cruel.
• Uma instituição pode desresponsabilizar uma pessoa -> “eu só cumpri ordens”. A pessoa não
se vê como autora/responsável pela crueldade, ela é apenas uma parte de um todo maior.
• Milgram tenta comprovar a tese de Arendt de forma científica.
• Em seu experimento, o participante aplicava as perguntas de um teste de memória em um
cúmplice do experimento. Ele foi orientado que, caso a pessoa errasse, teria que apertar um
botão que dava um choque e aumentar a intensidade se o erro persistisse.
• Na verdade, o choque não era real, mas o cúmplice fingia dor e errava de propósito. Além
disso, o participante recebia ordens persuasivas para continuar o experimento.
• O intuito foi verificar se as pessoas começariam a ser cruéis contra a sua própria vontade, com
o objetivo de cumprir suas ordens. O experimento comprovou essa tese, contudo, causou
danos psicológicos nos participantes.
Zimbardo

• Zimbardo se inspirou no experimento de Milgram, porém, tentou criar um experimento


que “corrigisse” algumas das críticas recebidas pelo primeiro.
• Ele estudava a diferença do comportamento de carcereiros e detentos dentro da prisão e
fora dela.
• Fez um experimento que buscou analisar o papel das instituições para que um indivíduo
comum tenha comportamentos violentos.
• Os participantes deveriam simular que estão em uma prisão, em que alguns seriam os
guardas e outros os detentos.
• Os participantes sabiam o objetivo do experimento, sabiam que estavam sendo filmados, e
tentou tornar a experiência o mais próximo da realidade, proibindo violência física.
• Os carcereiros abusaram tanto de forma psicológica dos detentos que o experimento
precisou ser interrompido.
• Zimbardo atuou como Diretor da Prisão, o que foi muito criticado anos depois, por agir
de maneira sádica e até mesmo questionaram se o experimento era válido.
• Anos depois, publicou o livro “O efeito Lúcifer: como pessoas boas se tornam más”, com
os resultados da sua pesquisa dos detentos.

Crise dos métodos tradicionais

• O psicólogo social começou a ser visto como alguém que apenas fazia pegadinhas.
• A psicologia social produzia muito conhecimento, mas não o utilizava para mudar a vida
das pessoas, então ela era vista como uma ciência pouco útil.
• A psicologia social crítica surge então como uma autocrítica, buscando uma prática que
mude a sociedade.
• “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém,
é transformá-lo” – Marx.

Influências

• Psicologia social sociológica + psicológica -> Teorias sociais e psicológicas tradicionais ->
Psicologia social tradicional.
• Psicologia histórico-cultural -> Teorias sociais e psicológicas críticas -> Psicologia social
crítica.
Materialismo histórico-dialético

• Dá origem à psicologia histórico-cultural, que influencia a psicologia social crítica.


• Defendia que na interação do indivíduo com a realidade ocorrem 2 processos:

1. Objetivação: o sujeito se comporta e muda a realidade.


2. Subjetivação: a realidade pode ser interpretada.

• Objetivação e subjetivação são processos contraditórios, complementares e


interdependentes.
• O mundo real e a subjetividade, portanto, não podem ser analisados separadamente. Há
uma coodependência.
• Tudo possui uma dimensão histórica -> as relações que eu estabeleço produzem história.
Estamos sempre inseridos dentro de uma época, um contexto histórico.

Psicologia social crítica

• A psicologia social crítica consolida-se na América Latina. No Brasil, nasce com a


ABRAPSO.
• Busca por uma práxis, ou seja, a prática da teoria -> aplicar na realidade.
• Reconhece 3 dimensões:

1. Dimensão axiológica: não existe neutralidade, um indivíduo sempre parte de valores


existentes.
2. Dimensão ideológica.
3. Dimensão histórica.
Métodos tradicionais vs Métodos críticos

• Nos métodos tradicionais há:

1. A naturalização dos fenômenos sociais e psicológicos.


2. Visão mecanicista e determinista -> a realidade é absoluta e regular.
3. Buscam descrever, interpretar, prever e fazer normas/regras.
4. Separam fenômenos opostos. Subjetividade vs objetividade.
5. Conhecem o mundo pelo racionalismo (razão) ou pelo empirismo (experiência).
6. O indivíduo deve se adaptar ao sistema moderno.
7. Busca por uma teoria/prática neutra e descolada da realidade.
8. Recusa a dimensão axiológica do conhecimento -> ideologização.

• Nos métodos críticos há:

1. A desnaturalização dos fenômenos sociais e psicológicos.


2. Visão de historicidade -> realidade em movimento.
3. Buscam eliminar todo sofrimento evitável, por meio de ações, pesquisas e não é
normativa.
4. Superam a síntese dialética, ou seja, superam essa separação entre fenômenos opostos,
como objeto vs sujeito.
5. Busca conhecer o mundo pela ação, enquanto o transformamos.
6. O indivíduo transforma o sistema moderno.
7. Busca por uma práxis, uma prática que transforme a realidade.
8. Reconhecem a dimensão axiológica do conhecimento -> desideologização.
• Busca responder como as relações de poder produzem um sujeito ideal.
• Poder: é a capacidade de influenciar o comportamento, de modo a fazer sua vontade
prevalecer e de obter a obediência de outras pessoas.
• Política: é a organização das disputas de poder em uma sociedade, em que busca-se
convencer os outros a defender os seus interesses, numa decisão que produz
consequências sobre a vida de todos.
• Todo psicólogo ao atuar com a subjetividade ou com o comportamento humano está
produzindo efeitos políticos.

Poder x Violência - Arendt

• O poder só existe numa relação consensual, onde alguém tem vontade de ser obedecido e
o outro concorda em obedecer.
• A violência só existe quando não há poder, pois é um meio recorrido quando quem quer
ser obedecido percebe que não está conseguindo influenciar o outro. A violência não é
consensual.

Uma outra concepção de poder

• Foucault concorda com a visão de Hannah Arendt de que o poder não existe como algo
material, ele só existe na relação dos indivíduos.
• Ambos defendem que o poder é produtivo e positivo, o qual permite a potência humana
criar e transformar. “Se o poder fosse somente repressivo, você acredita que seria
obedecido? O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que
ele não pesa só com uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas,
induz ao prazer, forma saber, produz discurso.” Há uma vantagem em obedecer.
• Toda relação social é uma relação de poder, pois precisamos negociar nossos interesses.
• Em toda relação social há política, pois estamos todo realizando a nossa vontade ou a de
outro.

Poder – Foucault

• O poder está presente em todas as relações humanas.


• O poder é exercido em rede. Todos os membros da sociedade concordam que ele seja
exercido, logo, ele é consensual.
• O poder vem de baixo, ou seja, são as relações micropolíticas que, ao deixarem que o
poder seja exercido, sustentam os processos macropolíticos. Uma diretora não teria poder
se os alunos não a obedecessem.
• O exercício do poder é estratégico e intencional, pois age em prol de interesses que
pretendem ser obedecidos. Nunca é ingênuo e nem casual.
• Onde há poder, sempre há resistência e disputa. Ninguém cede passivamente seu poder,
por isso para governar os sujeitos é necessário criar estratégias que reduzam a resistência,
como a punição e controle.
• Toda vez que os sujeitos se recusam a obedecer e interrompem a circulação do poder em
exercício, criam pontos de resistências à sua perpetuação, abrindo espaço para a circulação
de outros discursos.
• Todo comportamento ou ação humana é um ato político, com consequências sociais
históricas, uma vez que pode tanto potencializar a continuidade do poder em exercício
quanto interrompê-lo.
• Essa concepção contrapõe teses de Marx (classe dominante tem total poder sobre a classe
dominada) e de Freud (poder como castrador ou repressor).
Nietzsche sobre a verdade

• A verdade não existe com o propósito de ser conhecida pela humanidade. O universo tem
uma existência que supera as limitações humanas.
• A ciência não descobre a verdade, mas a inventa e a legitima.
• Tudo o que somos capazes de acessar são os efeitos da verdade, e não a verdade em si.
• Produzimos enunciados sobre a verdade a partir dos nossos sentidos e linguagem, ou seja,
nós que inventamos o conhecimento.
• As instituições legitimam, dentre os diferentes enunciados, aqueles que serão ou não
verdade.
• “A verdade é a verdade do rebanho”.

Verdade e poder – Foucault

• O fenômeno pode ser experimentado de diferentes perspectivas de acordo com os


aspectos biológicos, sociais, culturais, econômicos etc.
• Apesar da verdade existir de fato, nós humanos não conseguimos acessá-la, apenas os
efeitos do fenômeno.
• A partir dos efeitos captados pelos nossos sentidos produzimos enunciados (hipóteses)
sobre a verdade, ou seja, produzimos (inventamos) conhecimento sobre todas as coisas.
• Cada sociedade possui seu próprio regime de verdade -> legitima uns discursos e invalida
os outros de acordo com seus interesses.
• Esses discursos permitem que o poder seja exercido pois, como a sociedade forma a
subjetividade dos indivíduos, ela escolhe os discursos legitimados e os sujeitos passam a
reproduzi-los e obedecê-los. Há a produção de um sujeito obediente.
• Sempre há uma parcela nossa que vem da sociedade. Existe uma dimensão
histórica/política no comportamento individual.
• O poder produz saber. Não há poder sem a constituição de um campo de saber, nem
saber que não constitua relações de poder.
• O sujeito não é livre nas relações de poder. Pode haver coerção/persuasão, dando uma
falsa sensação de liberdade. Por isso a necessidade de conhecer sobre o poder e seus
efeitos.
• O que deveríamos procurar saber não é o que é verdadeiro ou falso. Mas sim os
elementos da sociedade que validam ou invalidam determinado discurso.

Discursos

• O discurso é um conjunto de enunciados legitimados por uma sociedade.


• Não é a verdade, mas é produto e produtor de efeitos de verdade, ao regular a
subjetividade e o comportamento das pessoas.
• O discurso constrói o conhecimento, o saber. Definem como deve ser o sujeito e como
seria uma subjetividade ideal, ao moldar o indivíduo de acordo com suas normas.
• As instituições, como a escola e a igreja, são responsáveis por perpetuar esses discursos na
sociedade, de forma que favoreça o poder em exercício. Todo conhecimento é enviesado.
• O discurso sempre antecede o autor, pois toda obra é resultado de discursos existentes.
Hitler não criou o nazismo. O pensamento/discurso nazista já existia na sociedade antes
dele. Ele apenas organizou e representou o movimento.

Estratégias de poder artificial

• Suplícios -> castigos/torturas em público, mesmo sem motivo justo/na lei. Buscava
comover o povo pelo horror, com mortes lentas e agonizantes. Ao fazer isso, o governante
se mostra acima de tudo, com um poder inquestionável.
• Sociedades punitivas -> punição de um crime em público, sustentada pela lei, para dar o
exemplo a todos. A sociedade concorda com a punição e o governante tem a figura de
protetor da ordem.
• Sociedade disciplinar -> a disciplina é uma ação coercitiva antecipatória, ou seja, produz a
obediência antes do sujeito ter um comportamento indesejado, sendo valorizada como
uma virtude. É mais eficiente que a punição e possui 3 princípios:

1. A norma – o normal (norma) é o discurso que fortalece o poder em


exercício, que propõe um comportamento e modo de pensar ideal, já o
anormal é o discurso que o contraria.
A anormalidade é alvo de disciplina. É a arte de julgar.
A norma difere da lei, pois é naturalizada pelos discursos como se fosse algo
natural, e não criado pelos homens. A lei categoriza os sujeitos em legais e
ilegais, enquanto a norma propõe um ideal e classifica os sujeitos num
continuum de acordo com o quanto estão encaixados no padrão.
2. A vigilância - o poder busca produzir saber a respeito dos vigiados e adestrar
os seus comportamentos. A presença do vigilante é onipresente e ao mesmo
tempo sutil para não ser percebida.
3. O exame – o indivíduo que tem que ser treinado, normalizado, excluído de
acordo com o discurso de poder é examinado e vira um caso, um objeto para
o conhecimento e para ser dominado.

O poder disciplinar

• O poder disciplinar é um produto da modernidade, que tem o objetivo de produzir


subjetividades dóceis, ao moldar as pessoas para obedecerem às normas, e corpos
economicamente rentáveis, que buscam ser produtivos o tempo todo.
• Esse poder é exercido na vida cotidiana, que classifica o indivíduo em categorias e
impõem-lhes uma “lei da verdade”, que todos deveriam reconhecê-la/agir de acordo.
• A sociedade disciplinar produz a vontade de obedecer, sem o indivíduo ter a sensação de
estar sendo forçado. A disciplina é feita por coerção, mas sua violência não é percebida
por ser algo implícito.
• Ser disciplinado é inclusive uma virtude valorizada socialmente.
O panóptico

• É uma estrutura que possibilita a vigilância de sujeitos considerados anormais. Tem a


forma de um anel, com celas em sua periferia e uma torre no centro.
• O vigia fica na torre central, enquanto um louco, um doente, um condenado ficam em
cada cela. Quem está na torre central tem visão de todos, mas quem está sendo vigiado
não tem visão nenhuma dos vigilantes.
• Essa invisibilidade do poder de vigiar torna a estrutura eficaz, de modo que a
possibilidade de estar sendo vigiado o tempo todo acaba produzindo uma pressão que faz
com que esses sujeitos acabem vigiando seu próprio comportamento, tornando-se seus
próprios vigilantes, então o panoptismo acaba moldando a subjetividade.

Conclusão

• Foucault defendia que não estava propondo uma teoria, uma verdade. Ele propôs um
modo crítico de pensar a sociedade, ou seja, de olhar para além das nossas certezas
teóricas e de questionar os efeitos que nosso saber psicológico, enquanto poder, produz
sobre os sujeitos e sobre a história.
• “Eu não sou um profeta, o meu trabalho é construir janelas onde antes havia somente
paredes.”

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