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Capítulo

A ciência da psicologia∗

René, um solitário e inteligente jovem de dezoito anos isolou-se em Saint-Germain, uma


aldeia a oeste de Paris. Ele tinha sofrido recentemente um colapso nervoso e escolheu o
refúgio para se recuperar. Mesmo antes de chegar a Saint-Germain, ele tinha ouvido falar
dos fabulosos jardins reais construídas por Henrique IV e Maria de Médici e, num dia
ensolarado, decidiu visitá-los. O guarda o parou no portão, mas quando ele se identificou
como estudante da Escola do Rei em La Flèche, foi autorizado a entrar. Os jardins
consistiam de uma série de seis grandes terraços com vistas para o rio Sena, plantados de
forma ordenadenadamente simétrica, tão amada pelos franceses. Grutas foram cortadas na
encosta de pedra calcária no fim de cada terraço. René entrou numa delas. Ele ouviu a
música misteriosa acompanhada do gorgolejar da água, mas, num primeiro momento, nada
pôde ver no escuro. Quando seus olhos se acostumaram à escuridão, ele pôde ver uma
figura iluminada por uma lanterna cintilante. Ele se aproximou da figura e logo a
reconheceu como uma jovem mulher. Quando ele se aproximou mais, viu que ela era
realmente uma estátua de bronze de Diana, tomando banho numa piscina. De repente, a
deusa grega fugiu e se escondeu atrás de uma roseira de bronze. Como René foi atrás dela,
uma imponente estátua de Netuno passou na frente dele, barrando o caminho com seu
tridente.

René ficou encantado. Ele tinha ouvido falar sobre os órgãos mecânicos que operavam
hidraulicamente as estátuas que se movimentavam, mas não esperava tal realismo.
Enquanto caminhava em direção à entrada da gruta, ele viu as placas enterradas no solo
que controlavam as válvulas de funcionamento da máquina. Ele passou o resto da tarde
vagando pelas grutas, ouvindo a música e se entretendo com as estátuas.


Tradução, para uso pessoal, do primeiro capítulo (The Sicence of Psychology) da obra Psychology: The
Science of Behavior (3ª edição), de autoria de NEIL R. CARLSON, publicada em 1990, pela Allyn and Ba-
con, Needham Heights (MA), EUA. Tradutor: Prof. Paulo S. T. do Prado (Departamento de Psicologia da
Educação, UNESP-Marília)
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A psicologia é tanto uma disciplina científica Como os psicólogos "explicam" o com-


quanto uma profissão. Os psicólogos são pro- portamento? De um modo geral, nós descobri-
vavelmente o grupo mais diversificado de pes- mos suas causas – aqueles eventos que são
soas em nossa sociedade a compartilhar o responsáveis pela sua ocorrência. Se podemos
mesmo título. De acordo com o último censo, descrever os eventos que causam a ocorrência
existem 119.000 pessoas nos Estados Unidos do comportamento, nós o "explicamos". Cada
empregadas como psicólogos. Eles se envolvem tipo de psicólogo procura por certos tipos de
em pesquisa, ensino, aconselhamento e psico- eventos causais. Alguns olham para dentro do
terapia; eles prestam aconselhamento na in- organismo no sentido literal, buscando as cau-
dústria e em agências governamentais sobre sas fisiológicas, como a atividade das células
questões de pessoal, design de produtos, pro- nervosas ou as secreções das glându-
paganda e marketing e legislação; eles elabo- las. Outros olham para o interior do organismo
ram e administram testes de personalidade, num sentido metafórico, explicando compor-
desempenho e capacidade. Os psicólogos es- tamentos em termos de estados mentais hipo-
tudam uma ampla variedade de fenômenos, in- téticos, tais como raiva, medo ou a ne-
cluindo os processos fisiológicos no sistema cessidade de realização. Outros ainda olham
nervoso, genética, eventos ambientais, habili- apenas para os eventos ambientais que causam
dades mentais e interações sociais. E a psi- a ocorrência de comportamentos.
cologia ainda é uma disciplina nova. A primeira
pessoa se autodenominar psicóloga ainda esta- A pesquisa científica das causas do compor-
va viva em 1920. tamento foi fortemente influenciada pelas ci-
ências naturais, das quais a psicologia sur-
Há muitos tipos de psicólogos. Alguns de nós giu. Um olhar sobre como a psicologia se de-
são cientistas tentando descobrir as causas senvolveu como uma ciência nos ajudará a a-
do comportamento, outros atuam em clínicas preciar algumas diferenças nas abordagens
ajudando as pessoas com transtornos mentais para explicar o comportamento.
ou problemas de adaptação à vida diária, ou-
tros trabalham para empresas de marketing e A ASCENSÃO DA PSICOLOGIA
publicidade e outros ainda planejam equipa- COMO CIÊNCIA
mentos de modo que as pessoas possam operá-
los de forma mais fácil e confiável. Neste livro Embora os filósofos e outros pensadores te-
vamos estudar a ciência da psicologia. A ênfa- nham se preocupado com questões psicológicas
se principal é descobrir as causas do compor- durante muito tempo, a ciência psicológica é
tamento humano. Claro que eu também vou relativamente jovem. Ela começou na Ale-
descrever as aplicações dessas descobertas manha, no final do século XIX. Para entender-
para o tratamento de transtornos mentais e mos como essa ciência veio à existência, de-
melhorias na sociedade, mas o foco estará na vemos primeiro procurar suas raízes na filoso-
forma como os psicólogos descobrem os fatos fia e nas ciências naturais, pois é destas disci-
que tornam essas aplicações possíveis. plinas que vêm os métodos que usamos para
estudar o comportamento humano. Estas raí-
O objetivo da pesquisa em psicologia é enten- zes levaram muitos séculos para se desenvol-
der o comportamento humano: explicar porque ver. Vamos examiná-las agora e ver como elas
as pessoas fazem o que fazem. Diferentes ti- prepararam o cenário para o surgimento da ci-
pos de psicólogos estão interessados em dife- ência psicológica no século XIX.
rentes tipos de comportamentos e diferentes
níveis de explicação. Portanto, antes de des- RAÍZES FILOSÓFICAS DA PSICO-
crever os vários tipos de psicólogos, vamos LOGIA
discutir o significado do termo “explicação”.
Cada um de nós tem consciência de sua própria
existência. Além disso, temos consciência des-
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ta consciência. Embora muitas vezes nos ve- "querem". Pelo contrário, acreditamos que ca-
mos fazendo coisas que não tínhamos planeja- em devido à existência de forças naturais ine-
do (ou que tínhamos planejado não fazer), de rentes à matéria física, mesmo que não enten-
modo geral, sentimos que estamos no controle damos o que essas forças são. Mas note que
de nosso comportamento. Ou seja, temos a im- diferentes interpretações podem ser feitas
pressão que o nosso comportamento é contro- sobre os mesmos eventos. Certamente, esta-
lado pela nossa consciência. Consideramos al- mos tão propensos a interpretações subjetivas
ternativas, fazemos planos e, então, agi- dos fenômenos naturais, embora mais sofisti-
mos, movemos nossos músculos, nos engajamos cados, quanto nossos ancestrais. Na verdade,
em algum tipo de comportamento. quando se tenta explicar porque as pessoas
fazem o que fazem, tende-se a atribuir pelo
A consciência é uma experiência privada, mas menos alguns dos seus comportamentos à ação
mesmo assim seu estudo tem uma longa histó- de um espírito motivador – isto é, uma vonta-
ria. Atualmente, embora possamos experimen- de. No dia-a-dia, essa explicação do compor-
tar apenas nossa própria consciência direta- tamento pode, muitas vezes, se adequar às
mente, supomos que nossos companheiros se- nossas necessidades. No entanto, no plano ci-
res humanos também têm consciência e, pelo entífico é preciso basear as nossas explica-
menos em certa medida, também atribuímos ções em fenômenos que podem ser observados
consciência a outros animais. À medida que e medidos objetivamente.
nossos comportamentos são semelhantes, ten-
demos a supor que nossos estados mentais A melhor maneira que temos para garantir a
também se assemelham. Desde muito cedo na objetividade é o método científico (descrito
história da nossa espécie, as pessoas foram no Capítulo 2). A psicologia, como ciência, deve
muito generosas na atribuição de um animus estar baseada na suposição de que o compor-
vivificante ou espírito a qualquer coisa que pa- tamento é estritamente sujeito a leis físicas,
recesse mover-se ou crescer de forma inde- assim como qualquer outro fenômeno natu-
pendente. Como elas sabiam que os movimen- ral. As regras da investigação científica im-
tos de seus corpos eram controlados por suas põem disciplina aos seres humanos, cujas incli-
mentes ou espíritos, elas inferiam que o sol, a nações naturais podem levá-los a conclusões
lua, o vento, as marés e outros objetos em mo- incorretas. Parecia natural para os nossos an-
vimento eram igualmente animados. Esta filo- tepassados acreditar que as pedras tinham
sofia primitiva é chamada animismo (do latim espíritos, assim como parece natural hoje em
animare, "despertar, avivar, dotar de respira- dia que as pessoas acreditem que o comporta-
ção ou alma"). Até a gravidade era explicada mento pode ser afetado pela vontade de uma
em termos anímicos: as pedras caíam ao chão pessoa. Em contraste, a idéia de que sen-
porque os espíritos dentro delas queriam se timentos, emoções, imaginação e outras expe-
reunir com a Mãe Terra. riências privadas possam ser concebidas como
produtos de leis físicas da natureza não veio
Obviamente, nosso interesse pelo animismo é facilmente. Ela evoluiu ao longo de muitos sé-
histórico. Nenhuma pessoa instruída na nossa culos.
sociedade acredita que as rochas caem porque
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tomaticamente. Descartes chamou essas ações


de reflexos (do latim reflectere, "para dobrar
sobre si mesmo"). A energia que vem da fonte
externa seria refletida de volta para os mús-
culos por meio do sistema nervoso, fazendo-os
contraírem-se (veja a figura 1.1). O termo é
usado até hoje, mas, é claro, vamos explicar o
funcionamento de um reflexo de maneira dife-
rente.

O que separava os seres humanos do resto do


mundo era a sua posse de uma mente. A mente
era um atributo exclusivamente humano e não
estava sujeita às leis do universo. Descartes
era, pois, um proponente do dualismo, a crença
Descartes foi o primeiro a empregar a palavra de que toda a realidade pode ser dividida em
reflexo para se referir a uma reação automática duas entidades distintas: espírito e matéria.
a um estímulo.
Ele fazia distinção entre "coisas extensas", ou
Embora a história da filosofia ocidental come- corpos físicos, e "coisa pensante", ou men-
ce propriamente com os gregos antigos, vamos te. Os corpos físicos, acreditava ele, não pen-
começar aqui com René Descartes, filósofo e sam, e as mentes não são feitas de matéria
matemático francês do século XVII, que foi comum. Embora Descartes não fosse o primei-
chamado o pai da filosofia moderna e de uma ro a propor o dualismo, seu pensamento diferia
tradição biológica que levou à moderna psico- do de seus predecessores num aspecto impor-
logia fisiológica. Descartes defendia uma in- tante: ele foi o primeiro a sugerir que existe
vestigação sóbria, impessoal dos fenômenos uma ligação entre a mente humana e sua mora-
naturais, com base na experiência sensorial e da puramente física. Apesar de os filósofos
no raciocínio humanos. Ele assumia que o mun- posteriores apontarem que este vínculo teóri-
do era uma entidade puramente mecânica, que, co realmente contradizia sua crença no dua-
depois de ter sido posto em movimento por lismo, a proposta de uma interação entre men-
Deus, seguiu seu curso sem interferência divi- te e matéria foi absolutamente vital para o
na. Assim, para compreender o mundo, tinha-
se apenas que entender como ele foi construí-
do. Essa postura desafiava a autoridade esta-
belecida da Igreja, que acreditava que a fina-
lidade da filosofia era conciliar as experiên-
cias humanas com a verdade das revelações de
Deus.

Para Descartes, os animais eram dispositivos


mecânicos e seu comportamento era controla-
do por estímulos ambientais. Sua visão sobre o
corpo humano era a mesma coisa: ele é uma
máquina. Assim, Descartes foi capaz de des-
crever alguns movimentos como automáticos e
involuntários. Por exemplo, a aplicação de um
objeto quente a um dedo causaria a retirada Figura 1.1. Diagrama do reflexo de retirada.
(Extraído de: Descartes, R. Traité de l’homme.
quase imediata do braço para longe da fonte 1662. Traduzido por E. S. Haldane e G. R. T.
de estimulação. Reações como essa não reque- Ross. Cambridge, Inglaterra: Editora da Uni-
rem a participação da mente, pois ocorrem au- versidade de Cambridge, 1911.)
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desenvolvimento de uma ciência psicológica. nado com as estátuas em movimento nos jar-
dins reais (Jaynes, 1970). Estes dispositivos
Descartes argumentou que a mente e o corpo serviram como modelo para Descartes teori-
podiam interagir. A mente controlava os movi- zar sobre como o corpo funcionava. Ele conce-
mentos do corpo, enquanto o corpo, por meio beu os músculos como balões. Eles inflavam
dos órgãos do sentido, fornecia à mente in- quando um líquido passava pelos nervos que os
formações sobre o que estava acontecendo no conectavam ao cérebro e à medula espinhal,
meio ambiente. Descartes supôs que essa inte- assim como a água fluía por meio de canos para
ração entre a mente e o corpo acontecia no ativar as estátuas. Essa inflação era a base da
corpo pineal, um pequeno órgão situado na par- contração muscular que nos faz mover.
te superior do tronco cerebral, enterrado em-
baixo dos grandes hemisférios ce- Esta história ilustra uma das primeiras vezes
rebrais. Quando a mente decidia realizar uma em que um dispositivo tecnológico foi usado
ação, ela inclinava o corpo pineal numa deter- como modelo para explicar o funcionamento do
minada direção fazendo o líquido do cérebro sistema nervoso. Na ciência, um modelo é um
fluir para o conjunto apropriado de nervos. sistema relativamente simples que funciona
Este fluxo de líquido fazia os músculos se in- com base em princípios conhecidos e é capaz
flarem e moverem-se. Vejamos como Descar- de fazer pelo menos algumas das coisas que
tes veio a ter essa concepção mecânica dos um sistema mais complexo pode fazer. Por e-
movimentos do corpo. xemplo, quando os cientistas descobriram que
os elementos do sistema nervoso se comuni-
A Europa ocidental no século XVII foi palco cam por meio de impulsos elétricos, pesquisa-
de grandes avanços nas ciências. Não era só a dores desenvolveram modelos do cérebro com
aplicação prática da ciência que impressionava base em centrais telefônicas e, mais recente-
os europeus, mas também a sua beleza, imagi- mente, com base em computadores. Modelos
nação e a diversão que ela proporcio- abstratos, que são completamente matemáti-
nava. Artesãos construíam muitos brinquedos cos em suas propriedades, também foram de-
e dispositivos mecânicos elaborados nesse pe- senvolvidos.
ríodo. Como vimos na vinheta de abertura, o
jovem René Descartes ficou muito impressio- Embora o modelo de Descartes sobre o corpo
humano fosse mecânico, ele era controlado pe-
la mente não mecânica (na realidade, não físi-
ca). Assim, os seres humanos nascem com uma
capacidade especial que os faz mais do que
simplesmente a soma de suas partes. Seu co-
nhecimento era mais do que simplesmente um
fenômeno físico.

Com o trabalho do filósofo Inglês John Locke,


a mecanização do mundo como um todo estava
completa. Locke não isentava o espírito das
leis mecânicas do universo material. O raciona-
lismo de Descartes (a busca da verdade por
meio da razão) foi substituído pelo empirismo
– a busca da verdade por meio da observação e
da experiência. Locke rejeitou a noção de que
Johnn Locke (1632 – 1704), em seu “Um En- as idéias eram inatamente presentes na mente
saio sobre a Compreensão Humana”, propôs a de uma criança. Em vez disso, todo o conheci-
teoria de que a mente humana, vazia ao nas- mento deve vir por meio da experiência. Ele é
cimento, adquire o conhecimento por meio da derivado empiricamente. (Em grego, empeira
percepção e da razão.
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significa "experiência".) Seu modelo de mente eram fundamentalmente a mesma coisa. A


era uma tábula de argila macia e suave que, ao composição dos seres humanos e dos animais
nascimento, encontrava-se pronta para rece- era totalmente física e eles eram completa-
ber sobre si os escritos da experiência. mente sujeitos às leis físicas do uni-
verso. Essencialmente, ele concordava com a
Locke acreditava que o conhecimento de expe- abordagem de Descartes da compreensão do
riências complexas não era nada mais do que a corpo humano, mas rejeitava o conceito de
ligação de sensações primárias simples: idéias uma mente imaterial. A mente, para Mill, era
simples combinadas para formar idéias com- tão passiva quanto o corpo. Ela respondia ao
plexas. Em contraste, o filósofo e matemático meio ambiente precisamente da mesma manei-
irlandês George Berkeley acreditava que nosso ra. Nada menos que o corpo, a mente era uma
conhecimento dos eventos no mundo não vem máquina.
simplesmente da experiência direta. Em vez
disso, ele seria o resultado de inferências ba- RESUMO INTERINO
seadas no acúmulo de experiências passa-
Podemos ver que a filosofia de meados do século XIX ha-
das. Em outras palavras, devemos aprender a via abraçado dois conceitos que levariam à investigação
perceber. Por exemplo, nossa percepção visual objetiva da mente humana: os princípios do materialismo e
de profundidade envolve várias sensações e- do empirismo. O materialismo sustentava que a mente era
lementares, tais como observar os movimentos feita de matéria, portanto, todos os fenômenos naturais,
incluindo o comportamento humano, poderiam ser explica-
relativos dos objetos enquanto movemos nossa
dos em termos de entidades físicas: a interação entre ma-
cabeça e a convergência dos nossos olhos (vi- téria e energia. O empirismo enfatizava que todo o conhe-
rando-os para dentro, um na direção do outro, cimento era adquirido através da experiência sensorial,
ou afastando-os) para focalizar objetos pró- nenhum conhecimento era inato. Ao dirigir a atenção para
ximos ou distantes. Embora nosso conhecimen- os componentes tangíveis, sensoriais da atividade huma-
na, esses conceitos lançaram as bases para uma aborda-
to da profundidade visual pareça ser imediato
gem científica em psicologia. Neste momento, a divisão en-
e direto, é realmente uma resposta secundária tre a ciência e a filosofia ainda era obscura. Mas os acon-
complexa construída a partir de um certo nú- tecimentos posteriores nas ciências naturais, especialmen-
mero de elementos simples. Nossas percep- te na biologia e na fisiologia, forneceram os ingredientes
ções do mundo também podem envolver a inte- necessários que, unidos com os componentes críticos e
analíticos da filosofia, formaram a disciplina científica da
gração da atividade de diferentes órgãos dos psicologia. Esses ingredientes foram a experimentação e a
sentidos, como quando vemos, ouvimos, senti- verificação.
mos e cheiramos o mesmo objeto.
RAÍZES BIOLÓGICAS DA PSICOLOGIA
Como você pode ver, os filósofos Locke e Ber-
keley estavam lutando com o funcionamento da René Descartes, com seu modelo de fisiologia
mente humana e o modo pelo qual as pessoas muscular, forneceu um bom começo para uma
adquirem conhecimento. Eles estavam lidando discussão sobre as raízes biológicas da psico-
com o conceito de aprendizagem. (Na verdade, logia. O conceito de Descartes baseava-se
os psicólogos modernos ainda estão preocupa- num modelo funcional real (a estátua que se
dos com as questões levantadas por Berkeley.) movia), cujos movimentos pareciam semelhan-
Como filósofos, eles estavam tentando encai- tes aos dos seres humanos. O reconhecimento
xar na equação uma variável não quantificável dessa semelhança serviu como "prova" de sua
– a razão. teoria. Ele não tinha os meios disponíveis para
oferecer uma prova científica. Mas o desen-
Com a obra do filósofo escocês James Mill, o volvimento tecnológico logo tornou possíveis a
pêndulo fez um balanço completo do animismo experimentação e a manipulação. A verdade
(matéria física animada por espíritos) para o não precisa ser apenas argumentada, ela deve
materialismo (mente composta inteiramente ser demonstrada e comprovada. Mostrou-se
de matéria). Mill baseou seu trabalhou na su- que o modelo hidráulico do movimento muscu-
posição de que os seres humanos e os animais lar, de Descartes, estava incorreto. O res-
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auditiva. O que, então, explica a habilidade do


cérebro para distinguir diferentes tipos de
informação sensorial? Isto é, porque nós ve-
mos o que os nossos olhos detectam, ouvimos o
que nossos ouvidos detectam e assim por di-
ante? Afinal, tanto os nervos ópticos quanto
os auditivos enviam o mesmo tipo de mensagem
para o cérebro.

A resposta é que as mensagens são enviadas


por diferentes canais. Como os nervos ópticos
estão ligados aos olhos, o cérebro interpreta
os impulsos recebidos destes nervos como
sensações visuais. Você provavelmente já re-
parou que esfregar os olhos provoca sensações
Johannes Muller (1801 – 1858) forneceu a ba-
se para estudos subseqüentes sobre funções de flashes de luz. Quando você esfrega os o-
especializadas de várias partes do sistema ner- lhos, a pressão contra eles estimula os recep-
voso. Ele disse que não há uma natureza única tores visuais no seu interior. O cérebro, en-
da mensagem enviada por diferentes recepto- tão, interpreta essas mensagens como sensa-
res sensoriais que nos fazem experimentar di-
ções de luz.
ferentes sensações. É o canal que capta e
transmite a mensagem e a porção do cérebro
que a recebe que fazem as sensações diferi- A doutrina de Müller teve implicações impor-
rem. tantes. Se o cérebro reconhece a natureza de
ponsável por isso foi Luigi Galvani (1737- uma determinada entrada sensorial por meio
1798), um fisiologista italiano que descobriu do nervo particular que conduz a mensagem,
que os músculos podem se contrair aplicando- então, talvez o próprio cérebro seja igual-
se uma corrente elétrica diretamente neles ou mente especializado, com diferentes partes
no nervo conectado a eles. tendo diferentes funções. Em outras palavras,
se as mensagens enviadas pelos nervos são a-
É no trabalho do fisiologista alemão Johannes natomicamente distintas, aquelas regiões do
Müller que nós notamos uma transição muito cérebro que recebem essas mensagens tam-
bem definida de casos algo esporádicos e iso- bém devem ser anatomicamente distintas. As
lados de pesquisa em fisiologia humana para a idéias de Müller têm sido duradouras, forman-
exploração cada vez mais direta e precisa do do a base para investigações sobre as funções
corpo humano. Müller foi um vigoroso defen- do sistema nervoso. Durante séculos, o pensa-
sor da aplicação de procedimentos experimen- mento ou a consciência foram identificados
tais para o estudo da fisiologia. Ele recomen- como traços distintivos da mente humana e lo-
dou que os biólogos deviam fazer mais do que calizados como uma função do cérebro. Agora
observar e classificar. Eles deviam remover ou os componentes do sistema nervoso estavam
isolar os órgãos dos animais, testar suas res- sendo identificados e seus modos de operação
postas a produtos químicos e manipular outras explorados.
condições a fim de ver como o organismo fun-
cionava. Sua contribuição mais importante pa- Pierre Flourens, um fisiologista francês, for-
ra o que viria a ser a ciência da psicologia foi a neceu evidências experimentais para as impli-
doutrina das energias nervosas específi- cações da doutrina das energias nervosas es-
cas. Ele observou que a mensagem básica envi- pecíficas, de Müller. Ele removeu várias par-
ada ao longo de todos os nervos era a mesma – tes do sistema nervoso de animais e descobriu
um impulso elétrico. E o impulso era o mesmo, que os efeitos resultantes dependiam de quais
independentemente de a mensagem em ques- partes tinham sido removidas. Ele observava o
tão ser, por exemplo, uma percepção visual ou que o animal não conseguia mais fazer e con-
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cluía que a capacidade perdida devia ser fun- mental não havia fornecido. Por exemplo,
ção da parte removida. Por exemplo, se um a- Fritsch e Hitzig descobriram que a aplicação
nimal não podia mover suas pernas depois que de um pequeno choque elétrico em diferentes
parte de seu cérebro foi removida, então, a- partes do córtex cerebral provocava os movi-
quela região devia normalmente controlar os mentos de diferentes partes do corpo. Na
movimentos da perna. Este método, chamado verdade, o corpo parecia estar "mapeado" na
de ablação experimental (do latim ablatus, superfície do cérebro. (Veja a figura 1.2.)
"remover"), logo foi adotado por neurologistas
e ainda é usado por cientistas hoje. Por meio O trabalho do físico e fisiologista alemão
da ablação experimental, Flourens afirmou ter Hermann von Helmholtz fez muito para de-
descoberto as regiões do cérebro que contro- monstrar que o fenômeno mental poderia ser
lam a taxa de batimentos cardíacos e a respi- explicado por meios fisiológicos. Esse cientis-
ração, os movimentos intencionais e os refle- ta extremamente produtivo deu contribuições
xos visuais e auditivos. tanto para a física quanto para a fisiologia. Ele
ativamente se desligou da filosofia natural, da
A pessoa que aplicou a lógica do método de qual muitas suposições sobre a natureza da
Flourens aos seres humanos foi Paul Broca. Em mente foram derivadas. Müller, com quem
1861, Broca, cirurgião francês, realizou uma Helmholtz havia realizado sua primeira pesqui-
autópsia no cérebro de um homem que tinha sa, acreditava que os órgãos humanos eram
tido um acidente vascular cerebral vários anos dotados de uma força vital imaterial que coor-
antes. O derrame fez com que ele perdesse a denava o comportamento fisiológico, uma for-
capacidade de falar. Broca descobriu que o ça que não estava sujeita à investigação ex-
derrame havia danificado uma parte do córtex perimental. Helmholtz não permitiria tais su-
cerebral no lado esquerdo do cérebro do ho- posições sobre fenômenos não comprovados (e
mem. Ele sugeriu que essa região do cérebro é não comprováveis). Ele defendia uma aborda-
um centro da fala. gem

Apesar de a pesquisa posterior ter revelado


que a fala não é controlada por um único "cen-
tro” no cérebro, a área identificada por Broca
é realmente necessária para a produção da fa-
la. A comparação dos resultados anatômicos
pós-morte com déficits comportamentais e in-
telectuais do paciente tornou-se um importan-
te meio para se estudar as funções do cére-
bro. Psicólogos podem operar cérebros de a-
nimais de laboratório, mas, obviamente, não
podem operar cérebros de seres humanos. Em
vez disso, eles devem estudar os efeitos da
lesão cerebral que ocorrem por causas natu-
rais.

Em 1870, os fisiologistas alemães Gustav


Fritsch e Eduard Hitzig introduziram o uso de
estimulação elétrica como uma ferramenta pa-
Figura 1.2. Centros motores do cérebro de um
ra o mapeamento das funções do cérebro. Os cão, identificados mediante estimulação elétri-
resultados deste método complementaram a- ca por Fritsch e Hitzig: 1 – contração dos
queles produzidos pela destruição experimen- músculos do pescoço; 2 – abdução da pata di-
tal do tecido nervoso e forneceram algumas anteira; 3 – flexão da pata dianteira; 4 – mo-
vimento da pata dianteira; 5 – contração facial.
respostas que o método da ablação experi-
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tais em si mesmos poderiam ser objeto de in-


vestigação científica. Possivelmente, se as
técnicas adequadas pudessem ser desenvol-
vidas, poder-se-ia investigar o que se passava
dentro do cérebro humano. Portanto, a pesqui-
sa de Helmholtz foi muito importante na defi-
nição do cenário para a ciência da psicologia.

Na Alemanha, um contemporâneo de von Hel-


mholtz, Ernst Weber, começou o trabalho que
levou ao desenvolvimento de um método para
medir a magnitude das sensações huma-
Hermann von Helmholtz (1821 – 1894), em nas. Weber, um anatomista e fisiologista, des-
seu laboratório de pesquisa, demonstrou habi-
cobriu que a capacidade das pessoas para di-
lidade e disposição para analisar suposições
filosóficas sobre as quais muito da ciência se zer a diferença entre dois estímulos seme-
baseava. lhantes – como o brilho de duas lâmpadas, o
peso de dois objetos ou a altura de dois tons –
puramente científica, com conclusões basea- seguia leis ordenadas. Essa regularidade suge-
das em investigação objetiva e mensurações riu a Weber e seus seguidores que o estudo do
precisas. fenômeno perceptivo pode ser tão científico
como os da física ou da biologia. No capítulo 6
Até a época de Helmholtz, os cientistas acre- vamos considerar o estudo da relação entre as
ditavam que a transmissão dos impulsos atra- características físicas de um estímulo e as
vés dos nervos era tão rápida quanto a veloci- percepções que eles produzem, um campo
dade da eletricidade nos fios. De acordo com chamado psicofísica, ou a física da mente.
essa suposição, a transmissão seria pratica-
mente instantânea, tendo em vista as peque- RESUMO INTERINO
nas distâncias que os impulsos têm de viajar
Para resumir a nossa história até agora, voltamo-nos para
dentro do corpo humano. Helmholtz mediu, o filósofo e matemático francês do século XIX, Auguste
com sucesso, a velocidade do impulso nervoso Comte. Sua lei de três estágios, que traçou o desenvolvi-
e descobriu que ela era de apenas cerca de mento intelectual humano, oferece-nos uma analogia inte-
27,4 metros por segundo, o que é con- ressante. Os seres humanos passaram de um estágio teo-
lógico (o mundo e o destino humanos explicados em ter-
sideravelmente mais lento que a velocidade da
mos de deuses e espíritos), através de um estágio de tran-
eletricidade nos fios. Essa descoberta sugeriu sição (explicações dadas em termos de essências, causas
a pesquisadores posteriores que o impulso finais e outras abstrações), para o estágio positivo moder-
nervoso é mais complexo do que a simples pas- no (explicações dadas em termos de leis naturais e dados
sagem de corrente elétrica pelo fio, o que, de empíricos). Podemos relacionar o desenvolvimento do es-
tudo da mente humana aos três estágios de Comte: come-
fato, é verdade.
çando com o animismo, passamos pela teologia e a filo-
sofia e, de lá para as arenas da biologia e da fisiologia. Es-
Helmholtz também tentou medir a velocidade sa evolução levou-nos para o laboratório de Ernst Weber e
de reação de uma pessoa a um estímulo físico, o desenvolvimento da psicofísica.
mas abandonou essa tentativa, pois houve mui-
ta variabilidade de pessoa para pessoa. No en- PRINCIPAIS TENDÊNCIAS NO DE-
tanto, essa variabilidade interessou a cientis- SENVOLVIMENTO DE PSICOLOGIA
tas que o seguiram, pois eles tentavam expli-
car a razão para as diferenças individuais no A Psicologia começou na Alemanha, no final do
comportamento. Como tanto a velocidade dos século XIX, com Wilhelm Wundt. Wundt foi a
impulsos nervosos como as reações de uma primeira pessoa se autodenominar como psicó-
pessoa a estímulos podem ser medidos, os logo. Ele compartilhou a convicção de outros
pesquisadores teorizaram que os eventos men- cientistas alemães de que todos os aspectos
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clima que Müller, Helmholtz e Wundt realiza-


ram suas pesquisas.

Estruturalismo. Wundt definiu a psicologia


como a "ciência da experiência imediata" e sua
abordagem foi chamada de estruturalis-
mo. Seu tema foi a estrutura da mente, cons-
truída a partir dos elementos de consciência,
como idéias e sensações. Sua matéria-prima
foi fornecida por observadores treinados, que
descreviam suas próprias experiências. Os ob-
servadores eram ensinados a fazer intros-
pecção (literalmente, "olhar para dentro"). E-
Wilhelm Wundt (1832 - 1920) fundou o pri- les observavam estímulos e descreviam suas
meiro laboratório psicológico em Leipzig, em experiências. Wundt e seus colegas faziam in-
1879. Enquanto cientista, ele considerava a
ferências sobre a natureza dos processos
descrição como o problema da ciência e a ob-
servação como seu método. Como um psicó- mentais, vendo como mudanças no estímulo
logo, ele estava interessado na análise intros- provocavam mudanças nos relatos verbais de
pectiva dos conteúdos da consciência humana. seus observadores treinados. Wundt estava
da natureza, incluindo a mente humana, podem particularmente interessado no problema que
ser estudados cientificamente. Seu livro Prin- tinha intrigado George Berkeley: como as in-
cípios de Psicologia Fisiológica foi o primeiro formações sensoriais básicas dão lugar à per-
compêndio de psicologia. cepção complexa? Seus observadores treina-
dos tentavam ignorar as percepções comple-
O fato de a Alemanha ter sido o berço da psi- xas e relatar apenas as primárias. Por exem-
cologia teve muito a ver com as influências so- plo, a sensação de ver uma mancha vermelha é
ciais, políticas e econômicas, tanto como com imediata e elementar, ao passo que a percep-
as habilidades de seus cientistas e estudio- ção de uma maçã é complexa.
sos. O sistema universitário alemão estava
bem estabelecido e os professores eram Wundt foi um cientista muito ambicioso e pro-
membros muito respeitados da sociedade. A dutivo, que escreveu muitos livros e treinou
tradição acadêmica na Alemanha enfatizava muitos outros cientistas em seu laborató-
uma abordagem científica para um grande nú- rio. No entanto, seu método não sobreviveu ao
mero de áreas, como a história, a fonética, a teste do tempo. O estruturalismo morreu no
arqueologia, a estética e a literatura. Assim, início do século XX. O maior problema com a
em contraste com os estudiosos franceses e sua abordagem foi a dificuldade encontrada
britânicos, que adotavam uma abordagem filo- pelos observadores em relatar os dados bru-
sófica mais tradicional para o estudo da mente tos da sensação, os dados não modificados pe-
humana, os estudiosos alemães estavam aber- la experiência. Além disso, a ênfase da inves-
tos à possibilidade de que a mente humana pu- tigação psicológica mudou do estudo da mente
desse ser estudada cientificamente. A fisiolo- humana para o estudo do comportamento hu-
gia experimental, uma das raízes mais impor- mano. Mais recentemente, os psicólogos têm
tantes da psicologia experimental, estava bem retomado o estudo da mente humana, mas ago-
estabelecida. Um fator mais mundano e práti- ra temos melhores métodos para estudá-la do
co que favoreceu a Alemanha como o berço da que os que estavam à disposição de Wundt.
psicologia foi que as suas universidades eram Embora o estruturalismo tenha sido suplanta-
bem financiadas, havia dinheiro para apoiar os do, a contribuição de Wundt deve ser reco-
investigadores que queriam expandir a investi- nhecida. Ele estabeleceu a psicologia como
gação científica para novos campos. Foi nesse uma ciência experimental, independente da fi-
losofia. Ele treinou um grande número de psi-
11

cólogos, muitos dos quais estabeleceram seus


próprios laboratórios e continuaram a evolução
da nova disciplina

Ebbinghaus: pioneiro nas pesquisas sobre


memória humana. A maioria dos pioneiros da
psicologia fundou escolas, grupos de pessoas
com uma crença comum numa determinada te-
oria e metodologia. (Neste contexto, a palavra
escola refere-se a um ramo de uma determi-
nada disciplina acadêmica, não a um edifício ou
instituição. Por exemplo, o estruturalismo era
Hermann Ebbinghaus (1850 – 1909) conduziu
uma escola de psicologia.) Exceção a essa ten-
a primeira investigação experimental sistemá-
dência foi Herrmann Ebbinghaus. Em 1876, tica da aprendizagem e do esquecimento. Ele
após ter recebido seu Ph.D. em filosofia, mas inventou “sílabas sem sentido” para o seu pro-
ainda sem vínculo com alguma instituição aca- pósito.
dêmica, Ebbinghaus se deparou com uma cópia
de segunda mão de um livro de Gustav Fech- A abordagem da memória, de Ebbinghaus, era
ner, no qual ele descrevia sua abordagem ma- totalmente empírica. Ele não inventou teoria
temática para a mensuração das sensações alguma sobre porque a aprendizagem ocorre e
humanas. Intrigado com a pesquisa de Fe- estava apenas interessado em juntar fatos por
chner, Ebbinghaus decidiu tentar medir a me- meio de observação cuidadosa e sistemáti-
mória humana: os processos de aprendizagem ca. No entanto, apesar da falta de teoria, seu
e de esquecimento. trabalho deu contribuições importantes para o
desenvolvimento da ciência da psicologia. Ele
Trabalhando sozinho, Ebbinghaus desenvolveu
introduziu o princípio da eliminação de erros
métodos para mensurar a memória e a veloci-
variáveis, fazendo observações repetidas ve-
dade com que o esquecimento ocorria. Ele per-
zes em diferentes ocasiões (utilizando listas
cebeu que não poderia comparar o aprendizado
diferentes a cada vez) e calculando a média
e o esquecimento de duas passagens em prosa
dessas observações. Erros variáveis incluem os
ou dois poemas, porque algumas passagens sem
erros causados por diferenças aleatórias no
dúvida seriam mais fáceis de aprender do que
humor do sujeito, ou seu estado de alerta, ou
outras. Por isso, ele desenvolveu um conjunto
por mudanças não controladas
relativamente uniforme de materiais – sílabas
no ambiente. Ele construiu gráficos da taxa
sem sentido, como juz, bul, e gof. Ele imprimia
em que as listas de memorização de sílabas
as sílabas em cartões e as lia em conjunto,
sem sentido eram esquecidas, o que proporcio-
controlando a taxa de apresentação pelo ti-
nou uma forma de medir o conteúdo mental ao
que-taque de um relógio. Depois de ler o con-
longo do tempo. Como veremos no capítulo 8, a
junto, ele fazia uma pausa por um período fixo
pesquisa de Ebbinghaus proporcionou um mo-
de tempo e, em seguida, lia os cartões nova-
delo sistemático e rigoroso de procedimentos
mente. Ele registrava o número de vezes que
experimentais ainda imitados por psicólogos
ele tinha que ler os cartões para ser capaz de
modernos.
recitar as sílabas sem erro. Ele media o
esquecimento tentando recitar as sílabas sem Funcionalismo. Depois do estruturalismo, a
sentido em uma ocasião posterior – minutos, próxima tendência em psicologia foi o funcio-
horas ou dias depois. O número de sílabas que nalismo. Esta abordagem, que começou nos Es-
ele lembrava era um índice da porcentagem de tados Unidos, foi, em grande parte, um pro-
memória que havia sido retida. testo contra o estruturalismo, de Wundt. Os
Estruturalistas estavam interessados no que
eles chamaram de componentes de consciência
12

Charles Darwin (1809 – 1882) foi o primeiro


cientista a prover evidência adequada para a
teoria da evolução e para explicar como os
processos da seleção natural produzem adap-
tação. Os psicólogos fizeram uso de seu con- William James (1842 – 1910) estabele-
ceito de evolução funcional no seu estudo do ceu um ponto de vista funcional na psi-
comportamento humano. cologia. Ele tratou o pensamento e o
conhecimento como instrumentos na lu-
ta pela sobrevivência, assimilando a ci-
(idéias e sensações). Os funcionalistas enfoca- ência mental a disciplinas da biologia.
ram o processo de atividade consciente (per-
cepção e aprendizagem). O funcionalismo cres- te. Assim, o comportamento tem um contexto
ceu a partir da nova perspectiva sobre a natu- biológico. Darwin reuniu provas de que com-
reza proporcionada por Charles Darwin e seus portamentos, tal como partes do corpo, podem
seguidores. Os proponentes do funcionalismo ser herdados. No A Expressão das Emoções no
salientavam a importância biológica (o propósi- Homem e nos Animais, ele propôs que os ges-
to ou função) de processos naturais, inclusive tos faciais que os animais fazem ao expressar
comportamentos. A ênfase era nos comporta- suas emoções descendiam de movimentos que
mentos abertos, observáveis, não em eventos já tiveram outras funções. Novas áreas de ex-
mentais privados. ploração foram abertas para os psicólogos pela
idéia de que existia uma continuidade evolutiva
Charles Darwin propôs a teoria da evolução em
entre as várias espécies de animais e que com-
seu livro A Origem das Espécies por Meio da
portamentos, como partes do corpo, tinham
Seleção Natural. Como você sabe, o trabalho
histórias evolucionárias.
dele, mais do que qualquer outra pessoa, re-
volucionou a biologia. O conceito de seleção O psicólogo mais importante a abraçar o fun-
natural mostrou como as consequências das cionalismo foi William James. Como James
características do animal afetam sua capaci- disse, "Meu pensamento é, em primeiro lugar,
dade de sobreviver. Em vez de simplesmente em último lugar e sempre por causa do meu fa-
identificar, descrever e nomear as espécies, zer." Ou seja, o pensamento não era um fim
os biólogos começaram agora a olhar para o em si mesmo. Sua função era a de produzir
significado adaptativo das maneiras em que as comportamentos úteis. Embora James fosse
espécies diferem. um campeão da psicologia experimental, ele
próprio não parecia gostar de fazer pesquisa,
A teoria de Darwin sugeriu que com-
mas passava a maior parte de seu tempo lendo,
portamentos, assim como outras ca-
pensando, ensinando e escrevendo durante sua
racterísticas biológicas, poderiam ser melhor
carreira como professor de filosofia (mais
explicados compreendendo-se seu papel na a-
tarde, professor de psicologia) da Universida-
daptação do organismo ao seu ambien-
de de Harvard. Seu curso, intitulado "As re-
13

dor. Embora ele não tenha produzido qualquer


pesquisa experimental importante, seus ensi-
namentos e escritos influenciaram aqueles que
o seguiram. Sua teoria da emoção é uma das
mais famosas e duradouras teorias psicológi-
cas. Ela ainda é citada em livros de psicologia
moderna. (Sim, você vai ler sobre isso mais a-
diante neste livro.) Os psicólogos continuam
achando que vale a pena ler os escritos de Ja-
mes, ele proporcionou idéias para experimen-
tos que ainda hoje parecem frescas e novas.

Ao contrário do estruturalismo, o fun-


cionalismo não foi suplantado. Em vez disso,
Darwin concluiu que os gestos faciais servem seus princípios fundamentais foram absorvi-
a importantes funções comunicativas e que dos pelo seu sucessor, o behaviorismo. Um dos
nossos gestos faciais foram herdados de nos- últimos funcionalistas, James Angell, assim
sos ancestrais.
descreveu seus princípios básicos:

lações entre a fisiologia e a psicologia", foi o 1. A psicologia funcional é o estudo das


primeiro curso de psicologia experimental a operações mentais e não das estrutu-
ser oferecido nos Estados Unidos. ras mentais. (Por exemplo, a mente se
lembra, ela não contém uma memória).
James foi um brilhante escritor e pensa- Não basta compilar um catálogo do que
a mente faz. Há que se tentar enten-
der o que a mente satisfaz com esse
fazer.

2. Os processos mentais não são


estudados como eventos isolados e
independentes, mas como parte da
atividade biológica do organismo.
Esses processos são aspectos da
adaptação do organismo ao meio
ambiente e são um produto da sua
história evolutiva. O fato de que
estamos conscientes implica que a
consciência tem valor adaptativo para
a nossa espécie.

3. A psicologia funcional estuda a relação


Sigmund Freud (1856 – 1939) foi o primeiro a entre o ambiente e a resposta do or-
empregar métodos psicanalíticos no tratamen- ganismo ao ambiente. Não há diferen-
to de seus pacientes. Dessa forma, ele tratou ça significativa entre a mente e o cor-
com sucesso doenças que aparentemente não po. Eles fazem parte da mesma enti-
tinham explicação orgânica. Freud acreditava
dade.
que tais doenças eram manifestações de uma
vida mental inconsciente. Para tratar o pacien-
te, era necessário trazer para o nível conscien- A Teoria Psicodinâmica de Freud. Enquanto a
te fatos e circunstâncias de experiências e sen- psicologia se desenvolvia como uma ciência in-
timentos reprimidos no passado. cipiente, uma figura importante, Sigmund
14

Freud, formulava uma teoria do comportamen- dos sobre o comportamento de gatos enquanto
to humano que afetaria muito a psicologia e a eles aprendiam uma tarefa o levou a formular
psiquiatria e influenciaria radicalmente inte- a lei do efeito. Ele colocava os gatos em gaio-
lectuais de todos os tipos. Freud começou sua las equipadas com um trinco. Os gatos, que es-
carreira como neurologista, por isso seu tra- tavam famintos, tinham que operar uma trava
balho foi firmemente enraizado na biologi- a fim de sair da gaiola e comer a comida colo-
a. Logo ele se interessou por problemas com- cada num recipiente no lado de fo-
portamentais e emocionais e começou a formu- ra. Thorndike observou que a atividade agita-
lar sua teoria psicodinâmica da personalidade, da dos gatos eventualmente resultava no acio-
que evoluiu ao longo de sua longa carrei- namento acidental da trava. Em tentativas
ra. Apesar de sua abordagem ter se baseado subseqüentes, o comportamento dos gatos se
na observação de pacientes e não em experi- tornava mais e mais eficiente, até que eles o-
mentos científicos, ele permaneceu convencido peravam a trava logo que eram colocados na
de que a base biológica de sua teoria acabaria gaiola. Ele chamou o processo de “aprendiza-
por ser estabelecida. gem por tentativa e sucesso acidental.”

Freud e sua teoria são discutidos em detalhes Thorndike observou que alguns eventos, ge-
no capítulo 16. Eu o menciono aqui apenas para ralmente aqueles que se esperaria que fossem
marcar seu lugar na história da psicologia. Sua agradáveis, pareciam "estampar" uma resposta
teoria da mente incluía estruturas, mas o seu que acabara de ocorrer. Eventos nocivos pare-
estruturalismo era completamente diferente ciam "remover" a resposta ou torná-la menos
do de Wundt. Ele inventou os conceitos de e- provável de ocorrer. (Hoje em dia, nós chama-
go, superego, id e outras estruturas mentais mos esses processos de reforço e punição, os
por meio de conversas com seus pacientes, não quais são descritos mais detalhadamente no
de experimentos de laboratório. Suas hipoté- Capítulo 4.) Thorndike definiu a lei do efeito
ticas operações mentais incluíam muito do que da seguinte forma:
era inconsciente e, portanto, não acessível à
introspecção. E ao contrário de Wundt, Freud Qualquer ato que em uma dada situação produz
enfatizava a função. Suas estruturas mentais satisfação fica associado a esta situação, de
modo que quando a situação se repete, também
serviam a impulsos biológicos e instintos e re-
fletiam a nossa natureza animal.

Behaviorismo. A próxima grande tendência na


psicologia, o behaviorismo, seguiu-se direta-
mente do funcionalismo. Ele foi além em sua
rejeição à natureza especial dos eventos men-
tais, negando que eventos mentais não obser-
váveis e não verificáveis fossem propriamente
o objeto de estudo da psicologia. Como a psi-
cologia é o estudo dos comportamentos obser-
váveis, eventos mentais que não podem ser ob-
servados estão fora da esfera da psicologia. O
behaviorismo é, portanto, o estudo da relação
entre o ambiente das pessoas e seu compor-
tamento, sem apelar para eventos hipotéticos
que ocorrem dentro de suas cabeças. John B. Watson (1878 – 1958) procurou
transformar a psicologia num ramo puramente
Um dos primeiro behavioristas foi Edward L. objetivo e experimental das ciências naturais,
Thorndike, um psicólogo americano que estu- restringindo-a ao estudo de relações entre
eventos ambientais (estímulos) e
dou o comportamento de animais. Seus estu-
comportamento (respostas).
15

é mais provável do que antes que o ato volte a substituindo-os por termos mais objetivos que
ocorrer. Por outro lado, qualquer ato que em refletiam o comportamento do organismo em
uma determinada situação produz desconforto vez de quaisquer sentimentos que ele pudesse
se torna dissociado dessa situação, de modo
ter.
que quando a situação se repete é menos pro-
vável do que antes que o ato retorne. (Thorndi-
Outra figura importante no desenvolvimento
ke, 1905, p. 203).
da tendência behaviorista não era um psicólo-
A lei do efeito está, certamente, na tradição go, mas sim um fisiologista: Ivan Pavlov, um
funcionalista. Ela observa que as consequên- russo que estudou a fisiologia da digestão (pe-
cias de um comportamento retroagem sobre o lo que, mais tarde, recebeu o Prêmio No-
organismo, afetando a probabilidade de que o bel). No decorrer dos estudos sobre os estí-
comportamento que já ocorreu irá ocorrer no- mulos que produzem salivação, ele descobriu
vamente. O gato acidentalmente aciona o trin- que cães famintos salivavam ao ver o atenden-
co e as conseqüências desse ato (ser capaz de te que trazia seu prato de comida. Pavlov des-
sair da gaiola e comer) torna o acionamento da cobriu que um cão podia ser treinado a salivar
trava mais provável na próxima vez que o gato a estímulos completamente arbitrários, como o
for colocado na gaiola. Este processo é muito som de uma sineta, se o estímulo fosse rapi-
parecido com o princípio da seleção natural, damente seguido pela entrega de um pouco de
assim como os organismos que conseguem se comida na boca do animal.
adaptar a seu meio ambiente são mais prová-
A descoberta de Pavlov teve profundo signifi-
veis de sobreviver e se reproduzir, comporta-
cado para a psicologia. Ele mostrou que atra-
mentos que causam resultados úteis se tornam
vés da experiência um animal podia aprender a
mais provável de ocorrer de novo.
produzir uma resposta a um estímulo que nun-
Embora Thorndike insistisse que o objeto de ca tinha causado essa resposta antes. Essa ca-
estudo da psicologia era o comportamento, su- pacidade, por sua vez, poderia explicar como
as explicações continham termos mentalis- os organismos aprendem relações de causa e
tas. Por exemplo, em sua lei do efeito que ele efeito no ambiente. Em contraste, a lei do e-
falou de "satisfação", que certamente não é feito, de Thorndike, sugeria uma explicação
um fenômeno que pode ser observado direta- para a adaptação do comportamento de um in-
mente. Mais tarde, behavioristas descartaram divíduo ao seu ambiente particular. Assim, a
termos como "satisfação" e "desconforto", partir dos estudos de Thorndike e Pavlov, dois

Ivan Pavlov (1849 – 1936) em seu laboratório com alguns de seus colaboradores. Sua história
é uma das mais felizes ocorrências nas quais a pesquisa revela um resultado valioso, apesar
de não procurado.
16

importantes princípios do comportamento ti- Os psicólogos, incluindo behavioristas moder-


nham sido descobertos. nos, afastaram-se do behaviorismo estrito de
Watson. Os processos mentais, tais como a
O behaviorismo, como uma escola formal da imaginação e a atenção, são novamente consi-
psicologia, teve início com a publicação de um derados como objeto de estudo próprio para
livro escrito por John B. Watson: A Psicologia investigações científicas. Mas a ênfase de
do Ponto de Vista de um Behaviorista. Watson Watson sobre a objetividade na investigação
foi professor de psicologia na Universidade psicológica permanece, de modo que a discipli-
Johns Hopkins. Ele era um professor e um es- na é conhecida por alguns como behaviorismo
critor popular e um defensor muito convincen- metodológico. Mesmo aqueles psicólogos mo-
te do behaviorismo. Mesmo depois de sair de dernos, que mais veemente protestam contra a
Johns Hopkins e embarcar numa carreira al- estreiteza percebida no behaviorismo, empre-
tamente bem sucedida na publicidade, ele con- gam os mesmos princípios de objetividade para
tinuou a fazer palestras e a escrever artigos orientar sua pesquisa. Como cientistas, eles
científicos sobre psicologia para revistas. devem manter os princípios da objetividade,
que evoluíram do positivismo ao funcionalismo
De acordo com Watson, a psicologia era uma e ao behaviorismo. Uma pessoa que estuda e-
ciência natural, cujo domínio estava restrito a ventos mentais privados percebe que esses
eventos observáveis: o comportamento dos or- eventos só podem ser estudados indiretamen-
ganismos. Ele acreditava que os elementos da te, por meio do comportamento – relatos ver-
consciência estudados pelos estruturalistas bais de experiências interiores. Os psicólogos
eram muito subjetivos para se prestarem à in- perceberam que esses relatos não são refle-
vestigação científica. Ele definiu a psicologia xos puros dos eventos mentais. Como outros
como o estudo objetivo dos estímulos e dos comportamentos, essas respostas podem ser
comportamentos que eles produzem. Até afetadas por muitos fatores. Mas, tanto quan-
mesmo o pensamento foi reduzido a uma for- to possível, eles se esforçam para manter uma
ma de comportamento – o falar para si mesmo: postura objetiva para garantir que os resulta-
dos de sua pesquisa sejam válidos e capazes
Agora, o que podemos observar? Podemos ob-
de serem verificados.
servar o comportamento – o que o organismo
faz ou diz. E vamos apontar ao mesmo tempo:
esse dizer é fazer – isto é, comportar-se. Falar
Reação Contra o Behaviorismo: A Revolução
abertamente ou para nós mesmos (pensar) é Cognitiva. A ênfase no behaviorismo restringia
tão objetivo como um tipo de comportamento o objeto de estudo da psicologia a comporta-
como jogar beisebol. (Watson, 1930, p. 6). mentos observáveis. Por muitos anos, concei-
tos como consciência foram consideradas fora
O behaviorismo ainda está muito em evidência do domínio da psicologia. Como disse um psicó-
hoje na psicologia. Seus defensores incluem B. logo, “a psicologia primeiro negociou o fim de
F. Skinner, um dos psicólogos mais influentes sua alma e, em seguida, deixou de fora sua
do século XX. O behaviorismo deu origem à mente e agora... parece ter perdido toda a
tecnologia das máquinas de ensino (que foram consciência" (Burt, 1962, p. 229). Durante as
substituídas por computadores), o uso da mo- duas últimas décadas, muitos psicólogos pro-
dificação do comportamento na instrução de testaram contra as restrições do behavioris-
pessoas com atraso de desenvolvimento e o mo e se voltaram para o estudo da consciência,
uso da terapia comportamental para o trata- sentimentos, sonhos e outros eventos priva-
mento de transtornos mentais. A Investigação dos. Grande parte da psicologia cognitiva utili-
sobre a natureza dos princípios básicos que za uma abordagem chamada processamento da
foram descobertos por Thorndike e Pavlov a- informação. A informação recebida por meio
inda continua. dos sentidos é "processada" por vários siste-
mas de neurônios no cérebro. Alguns sistemas
armazenam as informações em forma de me-
17

mória e controlam o comportamento de outros


sistemas. Alguns sistemas funcionam de forma
automática e inconsciente, ao passo que outros
são conscientes e exigem um esforço por par-
te do indivíduo. Como a abordagem de proces-
Figura 1.3. Um dos desenhos usados no estu-
samento da informação foi criada para des- do de Kosslyn sobre imagem mental. (Ex-
crever as operações de complexos sistemas traído de Kosslyn, S. M. Perception and Psy-
físicos, como os computadores, o moderno mo- chophysics. 1973, 14, 90-94.)
delo do cérebro humano é, para a maioria dos
oposto do barco, ela devia ser localizada no
psicólogos cognitivos, o computador. (Como vo-
"lado oposto" da imagem.
cê vai aprender no capítulo 7, outro modelo
está começando a substituir o computador.)
Kosslyn descobriu que as pessoas podiam res-
ponder muito rapidamente a uma pergunta so-
Embora os psicólogos cognitivos agora estu-
bre uma característica do barco que estava
dem as estruturas mentais e operações, eles
perto do lugar que eles estavam focalizando,
não voltaram aos métodos introspectivos que
mas eles demoravam mais para responder a
foram utilizados pelos estruturalistas, como
uma pergunta sobre uma parte que estava mais
Wundt. Eles ainda usam métodos objetivos de
longe. Era como se eles tivessem que esqua-
pesquisa, assim como fazem os behavioris-
drinhar sua imagem mental para ir de um lugar
tas. Por exemplo, vários psicólogos modernos
para o outro (veja a Figura 1.3). Como nós não
têm estudado o fenômeno da imagem men-
podemos observar o que está acontecendo
tal. Se você fecha seus olhos e imagina como
dentro da cabeça de uma pessoa, o conceito
lhe parecem as páginas abertas deste livro,
de imagem mental permanece hipotético. No
você está vendo uma imagem mental do que
entanto, este conceito hipotético explica e or-
você já tinha visto antes. Essa imagem só e-
ganiza muito bem alguns resultados concretos
xiste dentro do seu cérebro e pode ser viven-
– isto é, a quantidade de tempo que um sujeito
ciada apenas por você e mais ninguém. Eu não
leva para dar uma resposta. Embora a explica-
tenho nenhuma maneira de saber se suas ima-
ção para os resultados deste experimento se-
gens são como as minhas mais do que eu sei se
ja colocada em termos de eventos privados (i-
a cor vermelha parece a você como ela se pa-
magens mentais), os dados comportamentais
rece para mim. A experiência da imagem men-
(quanto tempo se demora para responder às
tal não pode ser compartilhada.
perguntas) são empíricos e objetivos.
Mas comportamentos que se baseiam em ima-
RESUMO INTERINO
gens podem realmente ser mensurados. Por
exemplo, Kosslyn (1973, 1975) pediu a um gru- Podemos ver que a psicologia percorreu um longo caminho em
po de pessoas para memorizar vários dese- um tempo relativamente curto. O primeiro laboratório de psicolo-
gia experimental foi estabelecido em 1879, não muito mais de um
nhos. Depois ele pediu a elas para imaginar um século atrás. Filósofos do século XIX configuraram o cenário para
deles, concentrando sua atenção sobre um as- a psicologia por meio da doutrina do positivismo; os biólogos pro-
pecto particular da imagem. Em seguida, fez- porcionaram os meios para realizá-la através do estabelecimento
da ciência da fisiologia experimental. Wilhelm Wundt estabeleceu
lhes uma pergunta sobre um detalhe da ima- a psicologia como uma disciplina que era independente da filoso-
gem que estivesse "perto" do ponto que esta- fia. Na mesma época, Ebbinghaus contribuiu com importantes
vam focalizando ou "longe" dele. Por exemplo, métodos para medir objetivamente a aprendizagem e o esqueci-
mento. Mesmo que o estruturalismo de Wundt não tenha durado
se eles estavam imaginando um barco, ele po- muito, o interesse pela psicologia continuou a crescer. Ela expan-
deria pedir-lhes para imaginar que estavam o- diu sua amplitude e seu alcance com o surgimento do funciona-
lhando para a sua popa (traseira). Então ele lismo, que, por sua vez, cresceu a partir da teoria da evolução, de
Darwin, com sua ênfase no valor adaptativo dos fenômenos bio-
pôde perguntar-lhes se o barco tinha um leme lógicos. O funcionalismo deu lugar à objetividade do behavioris-
na popa, ou se uma corda estava presa à sua mo, que, apesar da reação de muitos psicólogos modernos, ainda
domina o modo como fazemos pesquisa.
proa (frente). Como a proa está no extremo

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