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CURSOS DE PSICOLOGIA DO GRUPO UNIFTEC

DISCIPLINA: Teorias e Sistemas Psicológicos I


PROFESSORA: Dra. Débora Frizzo
NOME DO ALUNO: Carolina Fontoura da Motta
ATIVIDADE AVALIATIVA DE GRAU A

LEIA O QUÊ PEDE A QUESTÃO ATENTAMENTE E FAÇA A ATIVIDADE.


Prazo para entrega no Moodle: 28/10/2022, às 23:59.

OS CRITÉRIOS PARA CORREÇÃO SÃO:


1 – Consistência teórica utilizando a teoria Behaviorista, através dos materiais da
disciplina e/ou outros que abordem essa teoria;
2 – Cumprimento ao comando da tarefa abaixo;
3 – Ineditismo do material entregue (ou seja, não copie do colega, ele não estará no
consultório quando você atender alguém);
4 – Ausência de explicações mentalistas ou do senso comum que a Tia Lurdes
escreveria.
5 – Indicação das referências bibliográficas utilizadas (livros, artigos, textos, sites, blogs,
não necessitando ser nas normas da ABNT.

TAREFA
Escolha um post ou meme utilizado em alguma rede social, que contenha alguma frase
ou “dizer” ou mensagem. Reescreva a mensagem, frase ou “dizer” contido nele utilizando
a linguagem e a explicação behaviorista. No moodle o arquivo postado deverá conter o
post original e o texto da sua reinterpretação behaviorista. O seu texto deverá ter no
mínimo 05 linhas digitadas. Não tem máximo de linhas.
Fonte: https://imgflip.com/tag/jim+jones

O texto redigido para a realização da tarefa insuflada como quesito para obtenção
do Grau A na Disciplina Teoria e Sistemas Psicológicos I traz dois pontos, quais sejam: i)
breve contextualização do ‘meme’ escolhido para a tarefa; e, ii) uma tentativa de explicar
o comportamento religioso sob a ótica behaviorista. Por fim, após breve apresentação do
arcabouço teórico sobre o tema, há um ensaio de reescrita da frase apresentada no
‘meme’, tal qual reza o comando da tarefa.
O ‘meme’ apresentado traz a seguinte frase: “Jim Jones, o único comunista a
distribuir bebidas grátis de verdade”, em tradução livre. Jim Jones era pastor, e fundador,
do Templo do Povo, congregação religiosa na cidade de Indianápolis, nos Estados
Unidos, na década de 1960. Inicialmente uma igreja voltada para ajudar a população de
baixa renda e lutar contra a segregação racial da época, Jones, com o passar do tempo,
idealizou uma comunidade agrícola autossustentável, nos moldes comunistas.
Tal comunidade foi criada na Guiana, na década de 1970, sob o nome de
Jonestown. Uma das maiores comunidades de cidadãos americanos fora dos Estados
Unidos que, em 1978, foi palco do maior suicídio coletivo da história recente: 918
membros do Templo do Povo (entre crianças, adolescentes, adultos e idosos), incluindo
Jim Jones, tomaram uma bebida contendo veneno. Conhecendo essa história,
entendemos o ‘meme’, na medida em que as bebidas foram realmente grátis por não
houve oportunidade de cobrança. Surge, então, o questionamento: “o que leva a esse
comportamento coletivo, influenciado pela religião?”, ou, em termos behavioristas, “qual a
origem do comportamento religioso?”.
O comportamento religioso acompanha a humanidade de há muito e, hoje,
sabemos que, possivelmente, não há sociedade, ou cultura humana que, mesmo isolada,
não apresenta nenhum tipo de comportamento religioso. A orientação religiosa da pessoa
influencia a forma como ela vê a si, ao outro e ao mundo. Como a proposta do tema é
tentar entender o comportamento religioso dos membros do Templo do Povo, foram
realizadas buscas por artigos científicos, dissertações e teses sobre o assunto e pouco foi
encontrado.
Sabendo que o comportamento religioso está presente em, praticamente, todas as
sociedades, o questionamento de “o que leva a esse comportamento” se faz mais
presente. A tentativa, aqui, é uma breve explicação de quais princípios comportamentais
levam ao surgimento e a manutenção do comportamento religioso no repertório
comportamental das pessoas, podendo levar à consequência trágica experienciada em
Jonestown.
Skinner (2003) descreve a religião como uma agência de controle sobre os
comportamentos humanos, valendo-se da expressão “agência religiosa”. Schoenfeld
(1993) refere que o comportamento religioso só pode ser tratado como algo estritamente
natural, sendo, tanto o comportamento, como as suas consequências, fenômenos
unicamente físicos. Ainda na análise de Schoenfeld (1993), a religião sobrevive porque é
selecionada pelas consequências que produz e, além disso, os pecados são descrições
de regras.
Usando o Templo do Povo, de Jim Jones, como exemplo, é ‘quase’ fácil entender
por que as pessoas o seguiam. Jones, através dos recursos da igreja, proporcionava às
famílias de baixa renda a possibilidade de formação de nível superior, enviando fiéis à
faculdade, principalmente cursos na área da saúde. Assim, o comportamento de
frequentar o Templo do Povo e idolatrar Jones trazia como consequência (formação
profissional) algo que esses fiéis, talvez se valendo de outros comportamentos, não
conseguiriam.
Citando Schoenfeld (1993) “In a word: religion exists and persists amongst men,
and in each man, because of the happenings and encounters of everyday living”
entendemos que os comportamentos religiosos foram modelados durante a vida do
indivíduo por que aconteceram em momentos e contextos específicos, levando ao
aparecimento de sentimentos religiosos. Isto posto, concluímos que a origem do
comportamento religioso são as contingências implicadas na emissão do primeiro
comportamento religioso (por um grupo). Já a manutenção do comportamento está
associada às contingências que fazem com que o comportamento sobreviva na cultura,
ou grupo, e no repertório dos indivíduos.
Novamente, usando Jones e o Templo do Povo como exemplo, é possível inferir
que, além das contingências, o comportamento religioso dos fiéis acontece em virtude do
que Skinner (1946/1961, pp. 407-408) chamou de comportamento supersticioso e que
acontece em função de relações de contiguidade, ou seja, relação que ocorre entre um
evento e algo que acontece depois do evento, mas não tem relação direta com ele. Era
comum Jim Jones ‘profetizar’ sobre o fim do mundo e as ameaças de guerras nucleares
aos domingos e, às segundas-feiras serem publicadas matérias em jornais falando sobre
possíveis bombas atômicas em posse da, então, URSS. Não há relação entre a pregação
do Pastor Jones e as informações veiculadas nos jornais porém, para os fiéis, a
profetização de Jones poderia se tornar realidade1.
Ainda, segundo a teoria skinneriana, em situações extremamente adversas, os
organismos ficam mais vulneráveis a comportamos supersticiosos, visto que o valor do
reforço de apenas uma contiguidade é mais alto. Observe-se então, o tipo de público que
frequentava o Templo do Povo, do reverendo Jim Jones: negros excluídos em plena
segregação americana, idosos pobres, pessoas adictas, mães solteiras em um tempo
onde ser mãe solteira era ‘errado’, pessoas que tinham cumprido pena por cometimento
de crimes em um momento onde ex-apenados eram excluídos. Todas essas pessoas
passavam por situações adversas extrema: fome, falta de recursos financeiros, violência

1
Lembremo-nos que trata-se de período de Guerra Fria, onde havia a disputa nuclear, bem como a disputa espacial, entre os
Estados Unidos e a, à época, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
extrema. Logo, é possível inferir que a junção de fatores – ambiente adverso,
contingências e contiguidade – levaram ao comportamento supersticioso/religioso
demonstrado pelos seguidores de Jones.
Outro ponto que, inferimos, pode ter sido essencial para culminar no
comportamento de suicídio coletivo em Jonestow está relacionado ao comportamento
verbal associado ao ato religioso. “Orar” é um comportamento verbal que, quando
aprendido, é reforçado pelo aparecimento de uma consequência, mesmo que essa
consequência seja distante no tempo. Assim, o comportamento supersticioso de orar
pode ser resistente à extinção, já que, eventualmente, é atingida a consequência descrita
no momento de orar. Podemos observar esse comportamento no grupo de Jim Jones na
medida em que seus seguidores emitem o comportamento de orar por uma sociedade
melhor, mais justa, por uma oportunidade profissional, por uma comunidade igualitária.
Eventualmente, as consequências almejadas com o comportamento de orar aconteceram:
muitos seguidores conseguiram terminar cursos de nível superior, muitos seguidores
deixaram seus vícios de lado e, por fim, Jonestown, a comunidade igualitária, foi
construída.
Por fim, um terceiro ponto que acreditamos estar atrelado ao trágico episódio em
Jonestown pode ser entendido a partir da definição de comportamento social e reforço
social. Para Skinner (2003), o comportamento social acontece por que cada organismo é
importante para o outro no ambiente em que ambos interagem e, por isso, o reforço social
só acontece por que alguns comportamentos ‘dependem de outros para serem reforçados
e mantidos’. Um exemplo, conforme o autor, pode ser o sexo, em que a outra pessoa
participa do ato. Assim, segundo o behaviorista
(…) no campo do comportamento social dá-se importância especial ao reforço com
atenção, aprovação, afeição e submissão. Esses importantes reforçadores
generalizados são sociais porque o processo de generalização geralmente requer a
mediação de outros organismos. O reforço negativo – particularmente como uma
forma de punição – é mais frequentemente administrado por outros na forma de
estimulação aversiva incondicionada ou de desaprovação, desprezo, ridículo,
insulto, etc. (Skinner, 2003, p. 327).
Fatos públicos sobre os comportamentos emitidos pelo reverendo Jim Jones se
mostravam como reforçadores sociais para os seus seguidores. Tanto Jones atendia seus
fiéis com atenção total dizendo a ele que “se você quiser se eu seja seu amigo, eu sei
serei seu amigo, se você quiser que eu seja seu pai, eu serei seu pai, se você quiser que
eu seja seu Deus, eu serei seu Deus”, como relatado por um sobrevivente2 do Templo do
Povo, como os punia publicamente quando os fiéis praticavam algo que ele condenava.

2
Informação obtida através do documentário Massacre de Jonestown, disponível em https://www.youtube.com/watch?
v=1ICapmurs4w

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