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CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA

Débora Alves de Souza


Emanuelle Carolina Faustino
Gustavo Henrique Broilo Campos
Izabela Maia Freire Ribeiro Moraes
Laisa Caroline Dias e Silva
Maria Claudeci Ferreira dos Santos
Rayane Ferreira Cesar Soares

CLÍNICA PSICANALÍTICA
ESTUDO DO CASO: O TRATAMENTO DE STÉPHANE

Belo Horizonte
2022
Débora Alves de Souza
Emanuelle Carolina Faustino
Gustavo Henrique Broilo Campos
Izabela Maia Freire Ribeiro Moraes
Laisa Caroline Dias e Silva
Maria Claudeci Ferreira dos Santos
Rayane Ferreira Cesar Soares

ESTUDO DO CASO: O TRATAMENTO DE STÉPHANE

Estudo do caso O Homem dos Ratos,


identificando os conceitos fundamentais da
Psicanálise desenvolvidos na disciplina
Psicologia e Orientação Psicanalítica.

Belo Horizonte
2022

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 4
HISTERIA 4
HISTÓRIA CLÍNICA 6
CONCLUSÃO 7
REFERÊNCIAS: 8

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INTRODUÇÃO

Analisando os dados coletados sobre o caso clínico lacaniano “O tratamento


de Stéphane”, esse estudo visa abordar a histeria, considerando suas reformulações
históricas e citando os principais desafios contemporâneos. A histeria diz respeito a
toda uma lógica de como pensar o sujeito a partir da hipótese, que é a sua divisão e
a presença do inconsciente. Assumindo-se a posição histérica somos levados a
questionarmos sobre quem somos, o que desejamos, quem é o outro e o que ele
espera de mim. Dessa forma, esses questionamentos são perguntas analíticas
potentes, capazes de mobilizar o sujeito.
O caso estudado é sobre Stéphane, um menino de 08 anos que após o
divórcio dos pais, que ocorreu quatro anos antes dos encontros, começou a
apresentar comportamentos de brutalidade, de raiva destruidora, e períodos de
estranha calma, tanto em casa como na escola. Diante de tal situação, a mãe de
Stéphane resolve levá-lo a consulta com terapeuta. No decorrer dos atendimentos
apresentam-se alguns temas como metáfora paterna, identidade sexual e sobre
relação com os outros.
O presente estudo baseia-se nas formulações de Freud e Lacan. O conceito
de histeria clássica proposta por Freud diz sobre o sintoma como seu interpretante,
enquanto na histeria rígida proposta por Lacan, não há intérprete. Dessa forma,
enquanto na histeria clássica o sintoma histérico se sustenta na dimensão simbólica,
pelo amor de seu pai e unido em torno do seu Nome, na histeria rígida o corpo é
agenciado pelo real, onde o sintoma pode ser distinguido como acontecimento de
corpo.

HISTERIA

A psicanálise assim como outros campos de conhecimento, passou por várias


remodelações teóricas e metodológicas, assim como as percepções e definições de
histeria. Segundo registro histórico a palavra “histeria” (hystera), foi utilizada pela
primeira vez pelo médico da Grécia antiga Hipócrates. Ele nomeava essa condição
como sufocação da matriz, presente nas mulheres. Isto é, uma doença proveniente
do útero, independente da fertilidade da mulher, caso não reproduzisse. Platão, em

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O Timeu (360 a.C), o que se chama de matriz ou útero seria como um ser vivo,
possuído pelo desejo de fazer crianças. (Ávila, et al. 2010)
Segundo Ávila e col. em 1859, Pierre Briquet escreveu o “Tratado Clínico e
Terapêutico em Histeria”, baseado em uma análise quantitativa de mais de 400
pacientes. No século XIX, a histeria ocupava o primeiro lugar entre as afecções que
levavam a internações. Segundo registros históricos, perto de 50% dos leitos
hospitalares eram ocupados por pacientes diagnosticados como histéricos. Os
autores relatam que Charcot distinguiu duas formas de histeria: uma forma “menor”,
representada por sintomas como campo visual em túnel, anestesia cutânea, ou
hipnotizabilidade, e uma forma “maior”, com suas explosões emocionais dramáticas,
em que os pacientes supostamente evoluem por fases de um ataque completo. Na
obra “Estudos sobre a Histeria” (1895), em coautoria com Breuer, Freud sugeriu que
a “histeria traumática” sería causada por eventos traumáticos vividos precocemente,
exercendo uma ação remota na vida do indivíduo, formulando a famosa frase: “o
histérico sofre de reminiscências”
No estudo “Hereditariedade e a Etiologia das Neuroses” (1896) Freud postula
como causa imediata da histeria, um distúrbio particular na economia do sistema
nervoso e, em especial, distúrbios da vida sexual do indivíduo, baseado em uma
desordem de sua vida sexual atual ou em importantes eventos de seu passado.
Segundo Ávila e col. a evolução do pensamento Freudiano, embasado
firmemente na observação clínica, desvencilhou-se dos fatores concretos. Portanto,
Freud considerou que a histeria é marcada por uma fixação do desenvolvimento
psicossexual primitivo ao complexo de Édipo, com uma desvinculação incestuosa
malsucedida com o genitor amado, o que leva a conflitos na vida adulta. Os conflitos
estão relacionados à esfera do impulso sexual e organização da personalidade do
indivíduo. O impulso fica continuamente submetido à repressão, e a energia
derivada dele é convertida em sintoma histérico, que tanto protege o doente de um
conhecimento consciente desse mesmo impulso como também lhe traz a realização
disfarçada do que está reprimindo.
Os autores relatam que em 1924, o termo “somatização”, frequentemente
relacionado à histeria, foi introduzido na psiquiatria por Wilhelm Stekel. o termo teve
grande divulgação após 1980, quando foi introduzido como um diagnóstico
psiquiátrico pelos autores do DSM-III, em parte por sua conotação neutra, em parte
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pelo poder de autoridade do sistema classificatório do DSM. A primeira edição do
DSM não utilizou o termo “histeria”, evitando o termo “transtornos psicossomáticos”,
considerando-os mais um ponto de vista em medicina que uma patologia específica,
em si. Na segunda edição do DSM, de orientação mais psicanalítica, a histeria
retornou como neuroses e neuroses histéricas, sendo subdividida em tipos
conversivo e dissociativo. O DSM-III utilizou o epônimo “síndrome de Briquet” como
sinônimo para transtorno de somatização; esse termo foi eliminado, posteriormente,
pelo DSM-IV. O DSM-IV-TR lista cinco tipos de transtornos, incluindo o transtorno de
somatização, o transtorno conversivo, a hipocondria, o transtorno dismórfico corporal
e o transtorno doloroso, além de contar com outras duas categorias residuais, a
saber: o transtorno somatoforme indiferenciado e o transtorno somatoforme sem
outra especificação.

HISTÓRIA CLÍNICA

O caso em questão é um resumo do tratamento, mantido durante um ano e


meio, sendo uma sessão por semana, com um menino de oito anos, Stéphane.
O menino foi conduzido para consulta pela mãe que, em uma consulta a parte,
explicou ao analista que tinha se divorciado há quatro anos e nos dois primeiros
anos se manteve muito próxima ao filho, mas após esse período passou a se
relacionar com o padrinho de Stéphane. Com isso, relata que ele passou a ter
comportamentos que oscilam entre períodos de brutalidade, de raiva destruidora, e
períodos de calma, de mutismo com oposição, tanto em casa como na escola.
Segundo relatos da mãe, a criança viu o pai poucas vezes após o divórcio.
Stéphane nos primeiros encontros se manteve encantado de falar, mas também
profundamente inibido e assustado. Durante a sessão, ele faz um primeiro desenho,
um barco que o analista percebeu não ter um nome, no qual o menino decidiu
colocar o sobrenome da família, o que fez com que o analista o questionasse sobre
o fato de que ele e a mãe não possuíam o mesmo nome de família. A resposta
proveniente do garoto foi que muitas vezes já lhe perguntaram sobre isso, mas que
nunca teve coragem de falar à mãe sobre o assunto.

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O analista dividiu o tratamento em quatro fases. A primeira, onde se torna
possível perceber através dos discursos e através dos desenhos, um mundo de
extrema violência, um mundo totalmente desregrado, vivenciado por Stéphane. O
período inicial terminou quando ele questionou para o que servem as notas do
analista e os desenhos que ele guardava. Segundo o terapeuta é nesse momento
que a transferência começa, consequentemente, a análise também.
A segunda fase, refere-se ao desenvolvimento da transferência, da
colocação, pela ordem de aparecimento, da metáfora paterna, da identidade sexual
e da relação com os outros, permitiu ao analista que fizesse interpretações mais
pontuais acerca do que era levado pelo Stephane para as sessões.A terceira é a
fase do tempo para compreender, através da utilização transferencial, todos os
elementos que se repetem, abrindo portas para combinar e associar uns em relação
aos outros. Essa fase dura cerca de um ano. E finalmente a quarta fase, no qual é o
momento de conclusão do tratamento, a direção da intervenção gira em torno de um
tema mais assertivo, que neste caso, se trata da busca perigosa na qual o homem
triunfa, fazendo referência com todo o contexto vivido durante as sessões.

CONCLUSÃO

“É que verificamos a princípio com grande surpresa, que cada sintoma


histérico individual desaparecia, de forma imediata e permanente, quando
conseguíamos trazer à luz com clareza a lembrança do fato que o havia
provocado e despertar o afeto que o acompanhara, e quando o paciente
havia descrito esse fato com maior número de detalhes possíveis e
traduzido o afeto em palavras”. (Freud, 1895/2006, p. 42)

Dessa formulação, podemos pensar que a histeria, como um mecanismo de


defesa do organismo diante do insuportável do real, daquilo que é fatídico, evidência
o que está presente na estrutura do aparelho psíquico. Em correlação com o caso
Stéphane, quando diante da expressão de agressividade, verificada na fala da mãe,
nos desenhos, que de alguma forma transborda, evidencia a falta do pai, a ausência

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da figura paterna e sua representação para além da função, mas na condição de
não afeto. Podemos perceber que há presença de um sintoma que nasce em seu
conflito com o questionamento que pode se supor “não estou no lugar de desejo do
meu pai?! ele me ama?!”.
Considerando as reformulações históricas sobre a histeria, as alterações no
DSM e as diferentes perspectivas de alguns autores, podemos dizer que atualmente
um dos desafios da psicanálise está relacionado à visão de pertencimento à ciência.
Desafio vivenciado por Freud desde o início das suas formulações nos congressos
de medicina. O percurso traçado pela teoria psicanalítica, baseado em inúmeros
estudos de caso clínicos, têm seu valor comprovado na aplicabilidade da teoria e
nas respostas obtidas nos tratamentos realizados.
Portanto, independente da nomenclatura utilizada nos diagnósticos clínicos,
vale ressaltar a importância dos estudos psicanalíticos na prática da psicologia
clínica. O referente estudo de caso é uma amostra da relevância dos estudos e dos
potenciais impactos na contemporaneidade.

REFERÊNCIAS:

COSTA, Carlos Alberto Ribeiro e BRITTO, Renata Gonçalves de.Histeria,


feminino e corpo: elementos clínicos psicanalíticos. Analytica [online]. 2018, vol.7,
n.13, pp. 300-314. ISSN 2316-5197.

Bocca, Francisco VerardiHisteria: primeiras formulações teóricas de Freud.


Psicologia USP [online]. 2011, v. 22, n. 4 [Acessado 28 Setembro 2022] , pp.
879-906. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-65642011005000029>.
Epub 21 Nov 2011. ISSN 1678-5177.
https://doi.org/10.1590/S0103-65642011005000029.

Motta, M. B. da. (Org.). (1989). Clínica lacaniana: Casos clínicos do campo


freudiano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ribeiro Jr., W.A. Platão / Timeu. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. URL:
greciantiga.org/arquivo.asp?num=0644. Consulta: 9/27/2022.
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Ávila, Lazslo Antônio e Terra, João Ricardo. Histeria e somatização: o que
mudou?. Jornal Brasileiro de Psiquiatria [online]. 2010, v. 59, n. 4 [Acessado 27
Setembro 2022] , pp. 333-340. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0047-20852010000400011>. Epub 01 Fev 2011. ISSN
1982-0208. https://doi.org/10.1590/S0047-20852010000400011.

Freud S. A hereditariedade e etiologia das neuroses (1896). In: Salomão J


(trad.). Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago;
1995

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