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Ana Maria Serra - Ins titut o de Terapia Cognitiva São Paulo-SP

Objetivo: aprimorar os conhecimentos de estudantes


e profissionais da Psicologia sobre a Terapia Cognitiva.
Elaboração: Ana Maria Serra, PhD.
ITC – Instituto de Terapia Cognitiva, São Paulo-SP
4m ó d u l o

tr a ns t or no s
de ansiedad e
Coordenação: Claudia Stella, Psicóloga Clínica,
Doutora em Educação, Docente em Psicologia e
Editora da revista Psicologia Brasil.
Módulos: oito módulos que serão publicados em
revistas seqüenciais.

Conteúdo dos módulos:

1 Introdução à Terapia Cognitiva

2 Conceitos e preconceitos sobre Terapia Cognitiva

3 Terapia Cognitiva e Intervenção em Crise


Terapia Cognitiva e Depressão
Terapia Cognitiva e Suicídio

4 4 Terapia Cognitiva e Transtornos de Ansiedade


Tópicos especiais em Terapia Cognitiva aplicada aos
Transtornos de Ansiedade, TOC (Transtorno Obssessivo-
Compulsivo), Fobias, Transtorno de Pânico, TEPT (Transtorno
de Estresse Pós-Traumático), Ansiedade Associada à Saúde

5 Terapia Cognitiva e Dependência Química


Terapia Cognitiva e Transtornos Alimentares
Terapia Cognitiva nas Organizações

6 Terapia Cognitiva com Casais e Famílias


Terapia Cognitiva com Crianças e Adolescentes
Terapia Cognitiva e Prevenção de Depressão em
Crianças e Adolescentes

7 Terapia Cognitiva e Transtornos de Personalidade


Terapia Cognitiva e Esquizofrenia
Terapia Cognitiva e Transtorno Bipolar

8 Resistência em Terapia Cognitiva


Terapia Cognitiva com pacientes difíceis
A aliança terapêutica em Terapia Cognitiva
Questões relacionadas a treinamento em Terapia Cognitva
INTRODUÇÃO relativa e subjetiva, porquanto reflete a forma
particular de representação desse evento por cada
Os transtornos de ansiedade, que compreendem
sujeito. Como exemplo, temos o agorafóbico, que
a ansiedade generalizada, as fobias, a síndrome
experiencia ansiedade em espaços abertos, em
de pânico, o transtorno obsessivo-compulsivo, a
decorrência de uma forma subjetiva de processar
ansiedade associada à saúde e hipocondria, e o
ou representar espaços abertos, os quais, para
transtorno de estresse pós-traumático, implicam
outros, não carregam o mesmo significado de risco
em severa incapacitação em seus portadores.
e perigo. Ou o portador de síndrome de pânico,
Sua incidência, segundo estudos recentes, vem
que experiencia uma ansiedade incontrolável diante
aumentando de forma preocupante.
de uma taquicardia ou arritmia, que ele interpreta
O presente módulo, o quarto nesta série de como um sinal iminente de um ataque cardíaco,
“Estudos Transversais”, tratará da aplicação da mas que outros processam de forma neutra ou, na
Terapia Cognitiva aos transtornos de ansiedade. maioria das vezes, nem notam.
Iniciaremos explicando as bases do modelo cognitivo
Ao tratar o paciente ansioso, promovendo a
dos transtornos de ansiedade, apresentando, em
re-estruturação e a flexibilidade cognitivas, o
seguida, os modelos cognitivos específicos para
terapeuta cognitivo tem como meta levá-lo a buscar
as classes de transtornos mais freqüentemente
interpretações alternativas a suas interpretações
observados, quais sejam, as fobias, a síndrome
exageradamente catastróficas; e, em paralelo,
de pânico, o transtorno obsessivo-compulsivo,
capacitá-lo a avaliar eventos com maior realismo,
a ansiedade associada à saúde e hipocondria,
neutralizando o sentido de risco ou perigo
e o transtorno de estresse pós-traumático.
exagerado que ele vem imprimindo ao seu real,
Finalizaremos, abordando uma importante área
interno e externo.
de transtornos – o transtorno de preocupação
excessiva (“worry disorder”) – área em que a TC A hipótese de especificidade cognitiva
vem-se destacando e que mereceu um livro recente,
intitulado “The Worry Cure: Seven Steps to Stop Essa hipótese reflete a proposição de uma
Worry from Stopping You” (ainda sem título em correspondência entre o conteúdo das cognições
português), de autoria de Robert Leahy, o autor do e a qualidade e intensidade da emoção, bem como
último artigo deste suplemento. a forma do comportamento de um indivíduo diante
de uma situação. Dessa forma, seqüências típicas
de pensamentos automáticos pré-conscientes
O MODELO COGNITIVO BÁSICO DOS ocasionariam emoções típicas; por exemplo,
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE pensamentos que refletem perda (“não sou
Conforme vimos anteriormente, segundo o nada sem o emprego que perdi” ou “sem meu
modelo cognitivo, a hipótese de vulnerabilidade casamento, a vida não vale a pena”), falta de algo
cognitiva explicaria a instalação e manutenção dos (“não tenho capacidade para conseguir um bom
transtornos emocionais. Essa hipótese propõe emprego” ou “não tenho o afeto de ninguém”),
que o portador de um transtorno emocional tem ou baixo autoconceito (“sou um fracasso” ou
uma tendência aumentada a cometer distorções “sou incapaz”), estariam associados a emoções
ao processar o real interno e externo, além de de depressão. Enquanto que pensamentos que
uma rigidez que o levaria, uma vez cometida refletem um sentido exagerado de vulnerabilidade
uma distorção, a resistir à consideração de frente ao real (“se perder esse emprego, jamais
interpretações alternativas. Segundo o modelo conseguirei outro” ou “não suportarei se vier a ser
cognitivo, o ponto central para a experiência abandonado”, ou ainda, “dor de cabeça: e se eu
subjetiva de ansiedade diante de um evento não tiver um tumor cerebral?”) estariam associados à
seria o evento em si, mas a atribuição de um emoção de ansiedade. A hipótese de especificidade
significado ameaçador ou perigoso ao evento pelo cognitiva é útil ao clínico, ao facilitar a identificação
sujeito. No caso específico dos transtornos de da cognição “quente”, que está associada à raiz da
ansiedade, a experiência de ansiedade decorreria emoção, e que, desafiada, resultará na modulação
de uma atribuição exagerada de ameaça ou perigo da emoção pelo sujeito; ou, no caso particular dos
a eventos que outros poderiam processar como transtornos de ansiedade, o desafio da cognição
neutros. A valência emocional ou ansiogênica “quente” resultará na neutralização da experiência
de um evento não é, portanto, intrínseca, mas de ansiedade pelo sujeito ansioso.
O perfil cognitivo típico do portador Probabilidade Grau de
de um transtorno de ansiedade de ocorrência
do evento temido
X aversão do evento
caso ocorra
Com base na hipótese de especificidade
cognitiva podemos postular um perfil cognitivo Possibilidade Possibilidade
típico para o portador de um transtorno de
ansiedade, reunindo elementos que possibilitam
estimada de
enfrentamento
+ estimada
de resgate
a instalação e garantem a manutenção do
quadro de ansiedade. Efetivamente, em termos
de estruturas cognitivas, o ansioso tem Este modelo é de extrema utilidade para
tipicamente crenças disfuncionais focalizadas explorarmos as características específicas ao
em ameaça física ou psicológica ao próprio quadro ansioso de cada paciente, para
indivíduo ou a seus outros significativos, que formularmos a conceituação cognitiva do caso,
refletem um sentido aumentado de para planejarmos a intervenção e, finalmente,
vulnerabilidade. Em relação ao modo de para promovermos o processo clínico. É
processamento cognitivo, o ansioso processa recomendado ainda que seja apresentado ao
seletivamente sinais de ameaça, derivados de paciente esse modelo, adaptado especificamente
sua superestimação da própria vulnerabilidade, ao seu quadro clínico, como uma estratégia
e descarta elementos contrários. Sua atenção adicional facilitadora do progresso terapêutico.
autofocalizada aumenta, o que reflete a
tentativa de controlar o estímulo ameaçador. Fatores cognitivos de instalação e
Seus pensamentos automáticos refletem manutenção de quadros de ansiedade
uma negatividade ou pessimismo geral, Fatores cognitivos, ou modos específicos de
focalizam em ameaça ou perigo a si ou a seus processamento de informação utilizados por
outros significativos, e são orientados para o sujeitos ansiosos, podem reforçar cognições de
futuro, em forma de pensamentos negativos ameaça e a conseqüente resposta de ansiedade,
antecipatórios, particularmente como perguntas concorrendo dessa forma para a manutenção do
do tipo “e se?” (“E se eu esquecer tudo na hora quadro de ansiedade, através do seguinte processo.
da prova?”, “e se eu tiver um ataque cardíaco?”, Diante de estímulos potencialmente ameaçadores,
“e se eu ficar ansioso e me descontrolar no como situações, sensações ou pensamentos, o
elevador?”, ou “e se eu for abandonado e não estímulo é processado pelo ansioso, segundo a
suportar a solidão?”). Suas cognições pré- equação acima apresentada, e a valência emocional
conscientes refletem rigidez; seu pessimismo do estímulo é avaliada, sendo, no caso do ansioso,
dá origem ao caráter excessivamente catastrófico freqüentemente superestimada. A superestimação
de suas interpretações, complementado pela do potencial de ameaça ou perigo do estímulo
rigidez, que o leva a “encalhar” nessa primeira pelo indivíduo incitará a ativação de processos
interpretação e resistir ao reconhecimento de de atenção seletiva, que o levarão a concentrar
interpretações alternativas. sua atenção seletivamente nos elementos que
confirmam sua expectativa de ameaça ou perigo
A avaliação do real pelo ansioso e a descartar os elementos neutros ou os que, ao
contrário, desconfirmam sua expectativa de risco
Paul Salkovskis (1996) propôs um modelo aumentado. A percepção, através da atenção
cognitivo de ansiedade que traduz, de forma seletiva, de risco aumentado incitará nova avaliação,
criativa e eficiente, os fatores que interagem novo aumento da atenção seletiva, e assim por
e determinam a intensidade da experiência diante, fechando o primeiro ciclo vicioso para a
de ansiedade pelo paciente, diante dos eventos manutenção do quadro disfuncional de ansiedade.
que habitualmente desencadeiam sua Em paralelo, um segundo ciclo vicioso é acionado,
resposta emocional – a ansiedade – e suas refletido nas reações biológicas e fisiológicas
respostas comportamentais – as chamadas associadas ao estado de ansiedade ativado em
estratégias compensatórias. resposta ao estímulo; através da excitação, reações
Nesse modelo, quatro elementos, em sinergia, como taquicardia, tensão, respiração acelerada,
resultam na resposta de ansiedade, segundo tremor etc., podem ocorrer, que serão novamente
a seguinte fórmula: avaliadas pelo indivíduo, através da equação
acima, como ameaças adicionais, resultando no comumente praticados pelo paciente, como visitas
reforçamento de suas idéias de vulnerabilidade repetidas a médicos, que freqüentemente frustram
frente ao real, implicando em um novo aumento paciente e médicos diante da não identificação
das reações biológicas e fisiológicas, e fechando formal de uma “doença”, o uso de psicofármacos,
o segundo ciclo vicioso. Finalmente, um terceiro a esquiva de situações que o indivíduo associa com
ciclo vicioso é acionado, em que os chamados as crises, a dependência de outros etc. concorrem
comportamentos de busca de segurança – para impedir a desconfirmação da atribuição
evitação, fuga, controle excessivo, monitoramento exagerada de um valor catastrófico às sensações
permanente, alerta, neutralização etc. – aos iniciais. Vemos então que o elemento essencial
quais o indivíduo recorre em resposta a sua para a instalação e manutenção da síndrome de
avaliação catastrófica do estímulo inicial impedem pânico é a interpretação catastrófica de sensações
a desconfirmação da atribuição exagerada de freqüentes, que aciona um estado de apreensão e
ameaça ou perigo ao estímulo e concorrem para a a espiral ascendente da ansiedade. Daí decorre que
manutenção do quadro de ansiedade. o tratamento para a síndrome do pânico requer a
neutralização da atribuição catastrófica e do estado
Tópicos Especiais: de apreensão infundado, através da desativação
Modelos cognitivos específicos para os do esquema de vulnerabilidade, o desafio das
transtornos de ansiedade mais comuns interpretações distorcidas das sensações iniciais
e o abandono dos comportamentos de segurança.
Síndrome de pânico
Enfim, desativar a idéia de que as sensações iniciais
Diante de estímulos como situações, estresse, sinalizam algum perigo ou ameaça de morte ou
cansaço, pensamentos, ou simplesmente descontrole iminentes. Explica-se, dessa forma, a
em decorrência de processos biológicos inoperância dos psicofármacos no tratamento do
normais de auto-regulação, um indivíduo pode pânico, desde que este não decorre de um distúrbio
experienciar sensações físicas, como taquicardia, neufisiológico, mas cognitivo.
adormecimento, aceleração respiratória, aumento
de pressão arterial, tontura, uma “pontada” no Fobia social
peito, ou outras sensações inespecíficas que A fobia social configura um transtorno de ansiedade
ele, inclusive, tem dificuldade para descrever. As comum associado a um alto grau de angústia e
pessoas em geral descartam essas sensações incapacitação em seus portadores. A TC desenvolveu
como inofensivas, ou, na maioria das vezes, um modelo específico para conceituação e
nem as notam. Mas o indivíduo propenso à tratamento da fobia social, que enfatiza os fatores
ansiedade, e que, portanto, tem um esquema de que mantêm ativo o quadro e busca a desativação
vulnerabilidade, o qual já o predispõe ao constante desses fatores. Entre os fatores de manutenção
automonitoramento, não apenas notará essas destaca-se um desvio de atenção seletiva, em que o
sensações, mas as interpretará como sinal de paciente focaliza prioritariamente a auto-observação
ameaça ou perigo iminente. Em resposta a essa e monitoramento, utilizando esses dados para fazer
avaliação catastrófica, o indivíduo entra em um inferências errôneas sobre o que outros estão
estado de apreensão, o qual, embora infundado, pensando dele. Acrescente-se ao quadro uma
acionará a resposta de ansiedade, que agravará grande variedade de comportamentos de busca
as sensações físicas iniciais e acionará novas de segurança, que impedem a desconfirmação de
respostas fisiológicas normalmente associadas seus medos e acentuam a atenção seletiva e a auto-
à apreensão. Esse agravamento e surgimento observação, fechando o ciclo vicioso. Sob o aspecto
de novas sensações serão interpretados pelo clínico, o modelo de tratamento enfatiza vários
ansioso como uma confirmação de que algo sério elementos: o desenvolvimento de uma conceituação
está realmente ocorrendo com ele – por exemplo, cognitiva do caso clínico, baseado em uma revisão
“estou tendo um ataque cardíaco” – reforçando a de recentes episódios de ansiedade social; “role-
idéia inicial de ameaça ou perigo e intensificando plays”, com e sem os comportamentos de busca de
ainda mais a ansiedade e as sensações associadas, segurança, a fim de demonstrar o efeito adverso
em um crescendo que acaba resultando em um da atenção autofocalizada e dos comportamentos
medo descontrolado, que denominamos de crise de de busca de segurança, que conduzem a outras
pânico. Os comportamentos de busca de segurança, conseqüências negativas; demonstração, através
de várias técnicas, da inocuidade da auto-imagem Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
do paciente e de suas idéias sobre sua imagem Imediatamente após a ocorrência de eventos
social; encorajar o re-direcionamento de atenção, traumáticos, muitas pessoas experienciam
da auto-observação para o comportamento do(s) sintomas de TEPT. Muitos recuperam-se ao longo
interlocutor(es); modificação da auto-imagem social dos meses subseqüentes, porém, um grupo
negativa; redução da ruminação pós-interações significativo desenvolve TEPT crônico. O modelo de
sociais, além de experimentos para testar suas Ehlers & Clark (2000) postula que há três fatores
previsões de avaliações negativas por outros. que contribuem para a manutenção do quadro:
(1) pessoas com TEPT crônico demonstram
Ansiedade associada à saúde e hipocondria
avaliações excessivamente negativas do trauma
A hipocondria é conceituada como um transtorno e/ou seqüelas que geram uma sensação atual de
de ansiedade, em que o indivíduo interpreta de ameaça; (2) a natureza da memória traumática
forma errônea variações e sensações corporais, explica a ocorrência de sintomas recorrentes;
bem como informações médicas indicando que ele (3) a avaliação por parte dos pacientes motiva
possa estar gravemente doente. Tais interpretações uma série de comportamentos e estratégias
distorcidas freqüentemente advêm de suposições cognitivas disfuncionais (tais como supressão de
gerais acerca de doenças, saúde e a classe médica, pensamento, ruminação, comportamentos de
realizadas por indivíduos vulneráveis. A ansiedade busca de segurança), que têm como intuito reduzir
relacionada a crenças de ameaça é mantida através a sensação de ameaça, porém concorrem para a
de uma combinação de respostas fisiológicas, manutenção do problema ao impedir mudanças em
afetivas, cognitivas e comportamentais, e, muitas suas avaliações e de memória traumática, podendo
vezes, reforçadas pelo ambiente social. Esta ainda levar a um agravamento dos sintomas.
teoria gerou o desenvolvimento de um tratamento
Com base neste modelo, a TC objetiva identificar
altamente eficaz, validado por meio de diversos
e mudar as avaliações negativas idiossincráticas
estudos controlados, o qual alia técnicas cognitivas e
do trauma e/ou de suas seqüelas, de forma que
comportamentais à empatia terapêutica, de forma
o paciente abandone comportamentos e
a fazer com que o paciente se sinta compreendido.
estratégias cognitivas responsáveis pela
Enfatiza-se a importância de estratégias que se
manutenção de seu quadro. Técnicas terapêuticas
utilizam do engajamento e da descoberta guiada, de
incluem a re-encenação mental do evento,
forma a chegar a um consenso mútuo e neutralizar
para identificar significados associados, o
a preocupação excessiva com doenças e assuntos
questionamento socrático, experiências
relativos à saúde e tratamentos.
comportamentais e modificação imaginária.
Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) Estudos recentes comprovam a alta eficácia
A TC hipotetiza que o portador de um TOC sofre da TC no tratamento de TEPT.
de obsessões em decorrência de uma tendência
acentuada e relativamente estável de interpretar
a ocorrência e o conteúdo de pensamentos LEITURAS RECOMENDADAS
intrusivos normais como um sinal de que ele Beck et al. (1990) Anxiety Disorders and Phobia: A
possa tornar-se responsável por algum dano ou Cognitive Perspective. New York, Basic Books.
prejuízo a si ou a seus outros significativos. Sua
estratégia compensatória é ritualizar, através de Clark, D. M. (2005) Transtorno do Pânico: Da Teoria
comportamentos compulsivos, aos quais ele atribui à Terapia. In Fronteiras da Terapia Cognitiva, P.
uma capacidade infundada de neutralizar os efeitos Salkovskis, São Paulo, Casa do Psicólogo.
potencialmente danosos de seus pensamentos Salkovskis, P. M. (2005) A Abordagem Cognitiva aos
intrusivos. O tratamento, desenvolvido com base Transtornos de Ansiedade: Crenças de Ameaça,
nesse modelo, tem vários componentes. Além disso, Comportamento de Busca de Segurança e
este objetiva ajudar o paciente a compreender seu o Caso Especial da Ansiedade e Obsessões
problema como um transtorno, a compreender Relativas à Saúde. In Fronteiras da Terapia
seus pensamentos intrusivos como normais e livres Cognitiva, P. Salkovskis, São Paulo, Casa do
de significados ameaçadores, e a reagir conforme Psicólogo.
essa representação.
TRANSTORNO DE PREOCUPAÇÃO 5. O fracasso é inaceitável.
EXCESSIVA: SETE PASSOS PARA SUPERAR 6. Livre-se de qualquer sentimento negativo
SUAS PREOCUPAÇÕES imediatamente.
Robert L. Leahy, PhD 7. Trate tudo como se fosse uma emergência.
Tradução: Tatiana M. Martinez
Revisão: Ana Maria Serra, PhD Pense a respeito. Agora que conhece as sete
Todas as pessoas parecem preocupar-se; e quase regras, você poderá se preocupar todos os dias
todas recebem maus conselhos em como lidar de sua vida a respeito de algo que provavelmente
com suas preocupações. Um típico preocupado nunca ocorrerá. Você tem aí o CAMINHO REAL
crônico dirá: “Em toda a minha vida fui uma pessoa PARA A INFELICIDADE!
preocupada”. Preocupados crônicos levam quase Na realidade, estas sete regras são baseadas nas
dez anos para procurar psicoterapia – se é que mais recentes pesquisas acerca da natureza das
algum dia procuram. E, ao longo desse tempo todo, preocupações. O primeiro passo para lidar com
vêm ouvindo maus conselhos que podem consistir suas preocupações é perguntar: “Qual a vantagem
do seguinte: que você espera obter ao se preocupar?” Pessoas
que se preocupam excessivamente acreditam que
“Você tem que pensar de forma mais positiva”. simplesmente ter um pensamento – como “Posso
“Você tem que acreditar em si mesmo”. fracassar” – significa que elas devem se preocupar
a esse respeito. Estas pessoas de fato acreditam
que se preocupar irá prepará-las, motivá-las e
As chances de que estes conselhos funcionem são evitar que jamais sejam surpreendidas. Preocupar-
praticamente nulas. se é uma estratégia. Por exemplo, se você tem
Quando percebi que muitos de meus pacientes uma prova prestes a ocorrer, você poderá tentar
procuravam terapia reclamando de suas qualquer uma das seguintes estratégias:
preocupações, pensei: “Qual livro eu poderia 1) poderá se preocupar a respeito;
recomendar?” Então eu comecei a me preocupar!
2) poderá se embebedar; ou
Não havia nada disponível que realmente fizesse
sentido. Mas, ao longo dos últimos oito anos, 3) poderá estudar.
surgem novos e inovadores trabalhos sobre as
razões pelas quais as pessoas se preocupam e Qual dessas é a melhor estratégia?
como podemos ajudá-las. Decidi então começar a Pedimos a pessoas que se preocupam
escrever um livro de auto-ajuda para pessoas que excessivamente que distinguissem entre
se preocupam excessivamente. preocupação produtiva e preocupação improdutiva.
Por exemplo, se vou viajar de Nova York a Roma,
Qual a melhor forma de se pensar uma preocupação produtiva envolve AÇÕES QUE
a respeito das preocupações? POSSO TOMAR AGORA: posso comprar minha
Imaginemos que estamos tentando ensinar uma passagem aérea e reservar um quarto de hotel.
pessoa – digamos alguém que vem de outro Preocupação improdutiva envolve todos os “e se?”
planeta, como Marte – “Aqui estão algumas sobre os quais não posso fazer nada a respeito.
regras sobre como se preocupar”. Estes incluem: “E se minha apresentação não for
Quais seriam essas regras? bem?”, ou “E se eu me perder em Roma?”, ou ainda
“E se alguém não gostar de mim?”.
1. Se algo ruim pode acontecer – se você é
capaz de simplesmente imaginar –então é sua Isso nos leva ao segundo passo – lidando com a
responsabilidade se preocupar a respeito. incerteza. Pesquisas demonstram que pessoas
que se preocupam excessivamente não toleram a
2. Não aceite qualquer incerteza – você precisa
incerteza. Ironicamente, 85% das coisas sobre as
saber com certeza.
quais os preocupados se preocupam tendem a ter
3. Trate todos os seus pensamentos negativos um resultado positivo. E, mesmo que o resultado
como se fossem verdadeiros. seja negativo, em 79% dos casos, os preocupados
4. Qualquer coisa ruim que venha a acontecer é um dizem: “Lidei com isso melhor do que esperava”.
reflexo de quem você é como pessoa. Ajudamos os preocupados a comprometer-se a
aceitar a incerteza. Na verdade, você já aceita previsões futuras erradas que eu sempre faço?”
muitas incertezas na sua vida. Exigir certeza é O quarto passo para lidar com a preocupação
inútil; portanto podemos procurar por algumas excessiva é reconhecer como sua personalidade
vantagens em se ter algum grau de incerteza. Estas contribui para o problema. Também sabemos que
incluem novidade, surpresa, desafio, mudança e as pessoas diferem entre si com relação ao que
crescimento. Caso contrário, a vida é entediante. as preocupa. Algumas pessoas se preocupam a
Juntamente com a aceitação de algum grau respeito de dinheiro, outras a respeito de saúde,
de incerteza, sabemos que pessoas que se e outras sobre o que outras pessoas pensam
preocupam de forma excessiva evitam experiências acerca delas. E a preocupação também está
desconfortáveis. Então pedimos a estas pessoas relacionada a sua personalidade. Por exemplo,
que listassem todas as coisas que evitavam fazer você pode estar preocupado em ser abandonado
e começassem a fazê-las. A meta, nesse caso, ou em se tornar desamparado e incapaz de cuidar
é “desconforto construtivo” e “imperfeição bem- de si mesmo, ou pode estar preocupado de que
sucedida”. Você tem de se sentir desconfortável não é religioso ou moral o suficiente, ou ainda de
para motivar-se a crescer e mudar; e o sucesso é que não é superior aos demais. Podemos utilizar
adquirido a custo de imperfeições. Descobri que as técnicas da terapia cognitiva para ajudar as
estas idéias podem ser muito fortalecedoras. Uma pessoas a modificar essas preocupações. Por
vez que você descobre que já está desconfortável exemplo, podemos examinar os custos e benefícios
(porque você é uma pessoa que se preocupa de pensar em termos tão rígidos – tudo ou nada.
de forma excessiva e provavelmente está um Ou você pode se perguntar que conselho poderia
pouco deprimido), você pode ao menos usar o seu oferecer a um amigo na mesma situação. Ou
desconforto para fazer progresso. podemos estabelecer experimentos, nos quais
O terceiro passo refere-se à forma como você não solicita proteção a outros, ou não precisa
você avalia o seu pensamento. Pessoas que se agir com perfeição, ou passe tempo sozinho (se
preocupam excessivamente têm uma “fusão você acha que sempre precisa de alguém). Você
pensamento-realidade”. Elas acreditam que “Se também pode praticar escrever afirmações
eu achar que há a possibilidade de eu vir a ser assertivas ao familiar que o ensinou todas essas
rejeitado, então isso se tornará realidade – a coisas negativas a seu respeito.
menos que eu me preocupe a respeito e faça todo O quinto passo refere-se a suas idéias a respeito de
o possível para que isso não ocorra”. Nesse sentido, fracasso. Preocupados acreditam que o fracasso
as preocupações são como obsessões – pessoas é inaceitável – e que tudo pode ser visto como
tratam seus pensamentos como se já fossem um possível fracasso. Se você vai a uma festa e
fatos. Erros típicos de pensamento incluem “leitura alguém não é amigável, então VOCÊ FRACASSOU.
de pensamento” (Ele acha que sou um perdedor), Quando eu estava na faculdade, tinha um amigo,
conclusões precipitadas (Eu não sei algo, portanto Fred, que fez um trabalho para uma disciplina de
irei fracassar), racionalização emocional (Sinto- Economia. Era um plano de negócios de um serviço
me nervoso, então as coisas não darão certo), de remessa rápida noturna, nos Estados Unidos.
perfeccionismo (Preciso ser perfeito para ser Seu professor lhe deu uma nota baixa, alegando
confiante), e descontar o positivo (O fato de que “Isto é irrealista. Nunca irá funcionar”. Ele se formou
fui bem sucedido no passado não é garantia de da faculdade e se tornou o fundador da FEDERAL
nada). Os excessivamente preocupados também EXPRESS. Fracasso?
têm idéias de “emergência repentina” – tais como, Utilizo vinte estratégias para lidar com o medo
pensamentos do tipo “descida escorregadia” do fracasso. Exemplos de dez destas estratégias
(Se essa tendência continuar, as coisas poderão incluem as seguintes:
continuar desabando rapidamente) ou “armadilha”
1. Eu posso focalizar naquilo que consigo controlar.
(Eu poderei cometer um erro e minha vida inteira
poderá desmoronar). Os preocupados podem 2. Eu consigo focalizar em outros
desafiar e testar seus pensamentos – “Qual o pior comportamentos que serão bem-sucedidos.
resultado, o melhor e o mais provável?”, “Quais 3. Não era essencial ser bem-sucedido
as coisas que eu poderia fazer para lidar com um naquela tarefa.
problema real?”, “Há evidências de que o resultado 4. Adotei alguns comportamentos que
poderá ser ok?”, e “Estou fazendo as mesmas não valeram a pena.
5. Todos fracassam em alguma coisa. Ensinamos estas pessoas a desligar o senso de
6. Talvez ninguém tenha notado. urgência, a se distanciar de seu medo do futuro,
e a viver e apreciar o momento presente. Os
7. Minha meta estava correta?
excessivamente preocupados também podem se
8. Fracasso não é fatal. imaginar entrando em uma máquina do tempo e
9. Os meus padrões eram altos demais? perguntado-se: como me sentirei um mês após o
10. Desempenhei melhor do que anteriormente? evento ter ocorrido – se é que um dia realmente
ocorrerá? Como tenho lidado com problemas que
de fato existem? E, sobre o que me preocupei
O sexto passo aborda como você lida com
no ano passado? Interessantemente, uma vez
suas emoções. Pesquisas demonstram que
que a maioria das preocupações nunca torna-
a preocupação é uma forma de evitação
se realidade, essas pessoas freqüentemente
emocional – quando as pessoas engajam-se em
dizem, “Eu não consigo recordar sobre o que me
preocupações estão ativando o lado “PENSANTE”
preocupei no ano passado”. Isto nos revela que
de seus cérebros – e não se permitindo sentir
o que o está preocupando neste momento é algo
uma emoção. A preocupação é abstrata. Quando
que logo você esquecerá.
interrompem a seqüência de “e se?”, estas
pessoas experienciam tensão, suor, taquicardia
ou insônia. Observamos que pessoas que se
preocupam excessivamente têm dificuldade em Robert Leahy, PhD
rotular suas emoções e tendem a ter visões muito Diretor do American Institute for Cognitive Therapy;
negativas sobre elas. Ajudamos preocupados a Professor, Depto. Psiquiatria, Cornell University
aceitar e valorizar suas emoções, a reconhecer Medical College, Presidente da IACP – International
que os outros também têm as mesmas emoções, Association for Cognitive Psychotherapy; Presidente-
que é normal ter “sentimentos conflitantes”, e Eleito da Academy of Cognitive Therapy.
que as emoções dolorosas podem sinalizar
suas necessidades e refletir seus mais altos
valores. Emoções são temporárias – se você
permitir que elas ocorram.
Finalmente, pessoas que se preocupam
excessivamente acreditam que o mal chegará
Ana Maria Serra
muito em breve. Acreditam que o fracasso, a
rejeição, a ruína financeira, ou doenças fatais PhD em Psicologia e Terapeuta
as atingirão muito rapidamente. Tudo é uma Cognitiva pelo Institute of
emergência: “Eu preciso saber agora mesmo”. Psychiatry da Universidade
de Londres, Inglaterra.
Presidente Honorária da ABPC
– Associação Brasileira de
Psicoterapia Cognitiva.
Diretora do ITC – Instituto de
Terapia Cognitiva, que atua nas
áreas de clínica, pesquisa,
consultoria e treinamento
de profissionais, oferecendo
regularmente Cursos e Palestras,
dentre os quais um Curso de
Especialização em Terapia Cognitiva
credenciado pelo CFP – Conselho
Federal de Psicologia.
E-mail: itc@itc.web.com
© Ana Maria Serra, PhD. Site: www.itc.web.com
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exclusivamente mediante autorização expressa da autora.

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