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Terapia do Esquema (TE)

Profa. Dra. Eliane Falcone


Aula 05
Estratégias Cognitivas
de Mudança
Tópicos

1. Objetivos das estratégias cognitivas


2. Avaliando vantagens e desvantagens de manter o
Esquema
3. Testando a validade do Esquema
4. Cartões lembrete
1. Estratégias Cognitivas

Objetivos:

Fortalecer o modo Adulto Saudável, ajudando o paciente a se situar fora do


esquema e a avaliar a sua validade.
Sentir como verdadeiro X Consciência intelectual de ser falso.

Estilo terapêutico:

Confrontação empática.
• Validação X Conseqüências negativas do esquema.
• Equilíbrio entre empatia e teste da realidade.
2. Avaliando as vantagens e as desvantagens das respostas
de enfrentamento do paciente (Ex.1)

Objetivo: Ajudar o paciente a reconhecer a natureza auto derrotista de seus estilos de


enfrentamento.

Cliente com esquema de Abandono, com estilo de enfrentamento Evitativo. Recusa convites
dos homens e gasta o seu tempo livre na companhia das amigas. Termina abruptamente os
relacionamentos, quando se envolve.

T.: Quais as vantagens de você evitar os homens e terminar prematuramente os


relacionamentos?
P.: É mais fácil. Eu não tenho que sofrer a dor de ser abandonada.
T.: Quais as desvantagens desse seu estilo de enfrentamento?
P.: Bem, uma desvantagem é que eu perco muitos bons relacionamentos.
T.: Você sente mais alguma coisa?
P.: Sim. Eu fico triste. Sinto a falta dele. Fico triste porque ele se foi. Nós ficamos realmente
próximos por um tempo.
Avaliando as vantagens e as desvantagens das
respostas de enfrentamento do paciente (Ex.2)

O esquema trabalhado da paciente é o de subjugação, onde as vantagens e desvantagens de ser


obediente e não assertiva com a terapeuta são analisadas.

T: Quais as vantagens de você não dizer o que realmente sente e pensa para a sua terapeuta?

P: É mais confortável para mim. Assim você fica feliz de eu fazer direitinho o que me pede.

T: E quais são as desvantagens dessa sua forma de enfrentamento?

P: Bem, a verdade é que eu acabo fingindo para minha própria terapeuta ser uma pessoa que não
sou. E assim não será possível você me ajudar de verdade.

T: Você sente alguma coisa mais?

P: Sim. Fico magoada com você e acabo me distanciando, faltando às sessões, o que me deixa
mais solitária e triste
3. Testando a validade de um esquema

Esquema: Hipótese a ser testada

Construção de uma lista de evidências (do passado e do presente) que apóiam o esquema.
Construção de uma lista de evidências que refutam o esquema (muito mais difícil para o
paciente).

“Existe alguém que amou ou gostou de você?”


“Você tenta ser uma boa pessoa?”
“Existe alguma coisa boa sobre você?”
“Existe alguma coisa com a qual você se importa?”
“O que as pessoas já lhe falaram de positivo sobre isso?”
3. Testando a validade de um esquema
Paciente com esquema de defectividade – pai abusivo, violento, excessivamente crítico,
punitivo e rejeitador; mãe submissa, tentava desculpar o pai, em vez de defender os filhos

Evidências da Defectividade do paciente:

1. Fico vermelho quando constrangido;


2. Tenho medo de falar com as pessoas;
3. Temo que as pessoas descubram que eu não tenho valor;
4. Não sinto que sou agradável;
5. Evito imprevistos sociais;
6. Não faço muitas coisas que gostaria de fazer;
7. Sou fraco fisicamente (resfria facilmente).
3. Testando a validade de um esquema
Paciente com esquema de defectividade – pai abusivo, violento, excessivamente crítico,
punitivo e rejeitador; mãe submissa, tentava desculpar o pai, em vez de defender os filhos

Evidências que refutam o Esquema:

1. Possuo condições adequadas para garantir o bem dos meus filhos;


2. Tenho sucesso no trabalho e construí uma carreira de valor, bem acima da média;
3. Trato os outros com respeito. Sou um bom ouvinte;
4. Meus colaboradores afirmam que é bom e proveitoso trabalhar comigo;
5. Meus filhos e minha esposa me amam;
6. Muitas pessoas que encontrei na minha vida me tratam com carinho;
7. Sempre superei os objetivos da empresa;
8. Apesar das condições adversas de minha infância, consegui vencer e não deixar que isso
me destruísse.
3. Testando a validade de um esquema
Paciente com esquema de defectividade – pai abusivo, violento, excessivamente crítico,
punitivo e rejeitador; mãe submissa, tentava desculpar o pai, em vez de defender os filhos

Registrar e verificar como o paciente “desconta” as evidências contra o esquema. Ex.:

1. Eu faço mais para a minha família e meus amigos do que eles fazem por mim e
depois eu sinto que essa é a única razão pela qual eles se importam comigo.
2. Quando as pessoas me dão bom feedback, eu não acredito nelas. Eu acho que existe
alguma outra razão que explica o que elas acham.
3. Eu digo a mim mesmo que eu sou sensível ao sentimento dos outros porque tenho
medo de ser assertivo.
4. Acredito que eu sou um impostor e que estou enganando a todos que me valorizam.
4. Cartões lembrete

Reconhecimento do sentimento atual:


Exatamente agora eu me sinto constrangido porque quero conversar com essa pessoa, mas estou
com vergonha.
Identificação do esquema:
Entretanto, eu sei que provavelmente é o meu esquema de Defectividade / Vergonha que eu aprendi
durante a convivência com meu pai, que censurava a minha necessidade de me expressar, me
repreendendo constantemente e não me encorajando a me expressar, porque para ele isso era
inconveniente.
Testagem da realidade:
Embora eu acredite que não vou ser capaz de manter uma interação razoável e espontânea com
esta pessoa, a realidade é que essa pessoa me conhece, me respeita e reconhece o meu valor. As
evidências em minha vida que apóiam a visão saudável incluem: ele gosta de falar comigo porque
eu sei escutar as pessoas; ele me trata de forma afetuosa, demonstrando gostar de mim, além do
contato profissional, ele comprou meus serviços e ainda somos amigos / as pessoas me procuram.
Orientação comportamental:
Portanto, embora eu me sinta como uma criança desajeitada, com vergonha e não considerada
como adulta pelos outros, eu poderia em vez disso, procurar essa pessoa, mesmo me sentindo sem
graça, porque esta é a única forma que eu tenho de ter as minhas necessidades atendidas.
4. Cartões lembrete

Reconhecimento do sentimento atual


No presente momento, me sinto fracassada porque eu não fui bem sucedida profissionalmente.
Identificação do esquema
No entanto, sei que essas reações são guiadas pelo meu esquema de Fracasso, formado a partir das
críticas de meu pai, que desqualificava os meus feitos e de minha mãe, para quem nada era bom o
suficiente, levando-me a acreditar que eu era burrinha, inapta e limitada. Este esquema me leva a
exagerar o grau em que percebo as situações.
Testagem da realidade
Apesar de eu acreditar que eu não tenho capacidade para atuar profissionalmente, a realidade é que
nunca atuei plenamente em outras áreas ou em uma área específica para confirmar esta minha
crença. As evidências em minha vida que apoiam uma visão saudável incluem: quando eu me
empenhei e me dediquei em algo, como o recrutamento e entrevista, fui reconhecida pelo meu
primeiro chefe.
Orientação comportamental
Assim, ainda que seja mais confortável no momento evitar procurar novas oportunidades
profissionais, me mantendo em casa e sentindo-me triste e magoada, eu poderia em vez disso
procurar uma atividade, mesmo me sentindo ansiosa, porque esta é a forma de atingir as minhas
necessidades profissionais e emocionais.
Efeitos das estratégias cognitivas

Distanciamento do Esquema em nível racional (“Eu percebo, mas não sinto”);

Necessidade de repetição;

Algumas vezes podem ativar emoções.


Questionário de Esquemas
PRIVAÇÃO EMOCIONAL (PE) – Pai frio, hostil, indiferente. Ausência de carinho, afeto, compreensão,
empatia por parte dos pais. Itens: Em geral, quando eu era criança, não havia pessoas para me dar
carinho, segurança e afeição; Em geral, não tenho conseguido realmente comunicar minhas verdadeiras
necessidades e sentimentos.
DESCONFIANÇA/ABUSO (DA) - Pai ameaçava bater com o cinturão, reclamava, criticava. Algumas vezes,
pegava o braço dele e torcia. Usava as seguintes estratégias evitar ser “torturado”: a) tentava distraí-lo
fazendo perguntas sobre coisas que ele gostasse de falar; b) procurava evitar o contato com ele; c)
concordava sempre com ele. Itens: Eu geralmente fico procurando os motivos verdadeiros das pessoas.
Fico com raiva quando penso como fui (mal)tratado pelas pessoas durante a minha infância.
DEFECTIVIDADE/VERGONHA (DV) – Pai muito crítico. Reclamava com freqüência do seu
comportamento, censurava as suas manifestações espontâneas. Mãe ausente e submissa com o
pai. Vergonha pelas inadequações da família. Itens: Quando as pessoas gostam de mim, sinto que
as estou enganando. Não consigo deixar que as pessoas conheçam meu verdadeiro eu.
SUBJUGAÇÃO (SB) –Tende a fazer o que os clientes querem. Acredita que o desejo do cliente, mesmo
que injusto ou errado, tem peso. Com a esposa, acaba hipercompensando algumas vezes. Itens: É difícil
não ceder ao desejo das pessoas, ou elas irão me rejeitar ou me retaliar de alguma maneira. Eu me
preocupo muito em agradar aos outros para não incomodá-los.
PADRÕES INFLEXÍVEIS (PI) – “Era impossível atender às exigências do meu pai. Quando eu fazia coisas
boas, ele dizia que era obrigação. Busquei ser perfeito como uma compensação, sacrificando o lazer”.
Itens: Tento fazer o melhor, não consigo aceitar o “suficientemente bom”. Tenho tantas coisas para fazer
que quase não me sobra tempo para relaxar de verdade.
Questionário de Estilos Parentais

Esquemas mais relevantes:

PRIVAÇÃO EMOCIONAL (5 itens paternos);


DEFECTIVIDADE (5 itens paternos);
SUBJUGAÇÃO (4 itens paternos);
PADRÕES INFLEXÍVEIS (5 itens paternos);
NEGATIVISMO/PESSIMISMO (4 itens paternos);
INIBIÇÃO EMOCIONAL (4 itens paternos).

Escreveu ao final do questionário: “Faltou registrar dimensões fortes no


relacionamento com meu pai: ódio, nojo, além do seguinte:”
• Medo constante pela presença dele.
• Falta de liberdade de expressão.
• Ele desejava que eu fizesse as coisas que ele gostava.
• Não respeitava/enxergava minha identidade.
Observação do comportamento do cliente durante as sessões

Baixo contato ocular;

Sorriso tímido durante a maior parte da fala;


Dificuldades para a autorrevelação ;
Auto declarações negativas e auto depreciativas .

Pontos fortes:

Interesse elevado em ler a literatura sobre Terapia do Esquema;


Comprometimento com a terapia (autoconsciência sobre as
próprias emoções e esquemas).
Identificando o Esquema através da imagem

Imagem de quando era um garoto de 7 anos, sentado no sofá da sala, ao lado do pai,
vendo TV. Ao tentar se aproximar do pai, mexendo em seus dedos, este se irrita e
afasta a mão bruscamente, em um gesto de censura.

Sentimento: um “imbecil”, achando que cometeu um erro.

Dizendo ao pai, na imagem, como gostaria que ele fosse: “Eu gostaria que você fosse
mais gentil, bem humorado, queria que você fosse mais feliz e que não me
infernizasse. Queria não ter medo de você, que você gostasse de mim e que não
brigasse comigo. Tudo aqui é muito pesado. Melhor seria se você não estivesse aqui”.

Logo após fazer essas declarações, começou um processo de autocrítica, culpando-se


por ter sido inadequado com o pai etc. Não foi possível continuar o exercício
experiencial para avaliar o contexto atual.
Identificando o Esquema através da imagem – Exemplo
Homem com elevada ansiedade social; Forte rejeição do pai na infância e adolescência

Principais Esquemas a partir da imagem:

Defectividade (sentiu-se um imbecil, achando que cometeu um erro; rejeição do pai);

Privação emocional (distanciamento do pai; queria que você gostasse de mim);

Subjugação (queria não ter medo de você / que não brigasse comigo).
Conceitualização

Por que o cliente procurou terapia?


• Forte ansiedade e evitação social com consequentes prejuízos (ansiedade elevada,
ataques de pânico eventuais em situações sociais, tristeza, desânimo,
impedimentos sociais no trabalho).
Impressões gerais sobre o cliente:
• Reservado, fala em tom baixo, sorrisos para disfarçar o desconforto social, evitação
de contato ocular. Algumas vezes hostil quando a terapeuta aprofunda o assunto.
Diagnóstico:
• Transtorno Evitativo da Personalidade;
• Fobia Social.
Descrição geral das experiências infantis:
• Pai hostil, abusivo física e verbalmente, desqualificador, punitivo, rejeitador;
• Mãe omissa e, por vezes, diminuindo os abusos do pai.
Possíveis fatores de temperamento:
• Timidez.
Conceitualização

Reações pessoais do terapeuta ao cliente:


• Preocupações em ser eficiente; frustração ao não conseguir aprofundar certos
temas;
• Padrões inflexíveis.
Esquemas mais relevantes:
• Defectividade; Padrões Inflexíveis; Inibição emocional.
Modos de Esquema mais relevantes:
• Criança vulnerável; Protetor desligado; Pai punitivo.
Referências bibliográficas

Falcone, E. M. O. (2011). Terapia do esquema. Em B.Rangé (Org.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais. Um


diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed.

Farrell, J., Reiss, N., & Shaw, I.A. (2014). The Schema Therapy Clinician’s Guide. Malden: Wiley-Blackwell.

Malamut, G. & Falcone, E.M.O. (2012). A prática da Terapia do Esquema como tratamento alternativo: relato de caso.
Em E.M.O.Falcone, A.D.Oliva & C. Figueiredo (Orgs.). Produções em terapia cognitivo-comportamental. São Paulo: Casa
do Psicólogo.

Van Vreeswijk, M. Broersen, J., Bloo, J., & Haeyen, S. (2012). Techniques within Schema Therapy. In M. van Vreeswijk, J.
Broersen, & M. Nadort (Orgs.). The Wiley-Blackwell handbook of schema therapy. Theory, research, and practice. Malden:
Wiley-Blackwell.

Young, J.E. (2003). Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: Uma abordagem focada no esquema. Porto
Alegre: Artmed.

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