Você está na página 1de 12

Terapia do Esquema (TE)

Profa. Dra. Eliane Falcone


Aula 08
Estratégias Emocionais
de Mudança 2
Tópicos

Escrevendo cartas aos familiares


Quebrando padrões através de imagens
Exemplos
Cartas aos Pais

Objetivos:

• Resumir o que o paciente aprendeu sobre os pais a partir do


trabalho cognitivo e experiencial.

• Expressar seus sentimentos e assegurar seus direitos.


• Especificar o que o(s) pai(s) fizeram ou não fizeram e que
foi danoso para o paciente quando criança.

• Recomendar que o paciente não envie a carta.


Cartas ao pai (Kafka)

“Para ti, as coisas pareciam ser mais ou menos assim: trabalhaste pesado
durante tua vida inteira, sacrificaste tudo pelos teus filhos, e sobretudo por
mim, enquanto eu “vivi numa boa” por conta disso, gozei de toda a liberdade
para estudar o que bem quisesse, não precisei ter nenhuma preocupação
com meu sustento e portanto nenhuma preocupação, fosse qual fosse”; ...

“... estavas inteiramente preso aos teus negócios, mal te apresentavas


diante de mim durante o dia e por isso a impressão que me causavas era
mais profunda ainda, tanto que ela jamais voltou a se aplainar ao normal.

Privação emocional
Cartas ao pai (Kafka)

“Teus recursos oratórios, eficazes ao extremo e jamais falhos, pelo menos no que
diz respeito a mim, eram: insultar, ameaçar, ironia, riso malvado e – curiosamente
– autoacusação.”

“Reforçavas os praguejamentos com ameaças e então isso já valia também para


mim, por exemplo, aquele ‘Vou fazer picadinho de ti’, embora eu soubesse com
certeza que nada de mais grave haveria de acontecer (quando pequeno, no
entanto, eu não sabia); mas quase correspondia a noção que eu tinha de teu poder,
o fato de que tu também eras capaz de chegar a tanto.”

“De certa maneira a gente já se sentia punido antes mesmo de saber que havia
feito algo errado”.

Desconfiança/Abuso
Cartas ao pai (Kafka)

“Eu teria precisado de um pouco de estímulo, de um pouco de amabilidade, de um pouco de


abertura em meu caminho, mas em vez disso tu o obstruíste, por certo com a boa intenção
de me fazer percorrer um outro caminho. Mas para isso eu não servia”.

“Bastava a gente estar feliz com alguma coisa, sentir-se realizado com ela, chegar em casa
e expressá-la, para que a resposta fosse um suspiro irônico, um sacudir negativamente a
cabeça, um tamborilar de dedos sobre a mesa: ‘Já vi coisa mais interessante’.

(...) “tu precisavas causar essas decepções à criança, sempre e por uma questão de
princípio, graças ao teu ser contraditório, e, mais ainda, que essa contradição se fortalecia
sem cessar pela acumulação de material, de tal forma que no fim ela acabava se impondo
até como de costume, mesmo que às vezes tu tivesses opinião igual a minha. ”

Fracasso
Quebrando padrões através de imagens

Objetivo:
Ajudar o paciente a descobrir novas formas de se relacionar, como alternativa aos estilos
de enfrentamento atuais
(evitação ou hipercompensação).

Ex.:
Esquema de Fracasso: Imaginar-se pedindo ao chefe para fazer uma avaliação importante.
Esquema de Defectividade: Imaginar-se de um modo vulnerável com o cônjuge,
em vez de supercompensar, adotando uma postura de superioridade.
Quebrando padrões através de imagens – Exemplo
Meta: estabelecer uma relação íntima com uma mulher.

T: Feche os olhos e deixe vir uma imagem de você em uma danceteria, onde existem
mulheres solteiras disponíveis. E você está entrando no salão. Você pode se ver nessa
situação?
P: Sim, estou em uma danceteria e me sinto muito desconfortável. Eu realmente sinto que
poderia sair porta afora, mas me forço a ficar porque é importante.
T: Eu quero que você seja a parte de você agora que quer sair e fala comigo. Por que você
quer sair agora?
P: Eu sinto que não tenho muita confiança em começar uma conversa e, sabe, chegar ao
ponto em que alguém possa gostar de mim o bastante para marcarmos um encontro.
T: Por que elas não gostarão de você?
P: Por que eu não sou uma pessoa digna de ser amada. E eu não estou certo de que possa
dar amor (pausa).
(O terapeuta estimula o paciente para se imaginar superando essa evitação e se
conectando com a mulher).
T: Tente se manter na imagem, mesmo pensando que está perdendo o seu tempo e que será rejeitado. Imagine-se se
aproximando de uma mulher e me diga o que acontece.

P: (Pausa longa) Eu chego até a mesa e peço à mulher para me sentar e ela diz, “OK”. E nós estamos conversando.
Nós estamos falando sobre dança, sobre a música.

T: Como se desenvolve a conversa?

P: Está fluindo. Está boa.

T: Você já se sente confortável com isso ou ainda está nervoso?

P: Eu estou nervoso. Eu sinto que não sou eu mesmo. Eu tenho que dar mais de mim e estou tentando forçar a
conversação.

T: Você pode dizer isso para ela em voz alta? Muito embora, normalmente, você não fizesse isso?

P: (Para a mulher da imagem) Estou um tanto desconfortável aqui porque essa situação é assustadora. Eu não saio
para dançar há muito tempo e realmente não sei o que dizer ou fazer. Mas eu gosto de estar aqui sentado,
conversando com você.

T: Diga a ela como você se sente, que você não pode ser você mesmo.

P: Eu me sinto desconfortável porque eu sinto que eu não posso ser verdadeiro. Se eu for verdadeiro, você não
gostará de mim.
T: O que ela diz para você?

P: (Pausa) Ela me diz que também se sente assim.

T: E como você se sente, quando ela diz isso?

P: Isso faz eu me sentir mais relaxado.

T: Diga a ela as coisas que você tem vergonha ou medo de mostrar a ela.

P: (Para a mulher da imagem) Eu me sinto desconfortável dizendo isso, mas embora eu queira ser emocionalmente sustentador e
amável com uma mulher, eu não estou certo se posso conseguir isso.

T: Diga a ela sobre a sua raiva das mulheres.

P: E porque aconteceram algumas coisas na minha infância com minha mãe, eu tenho muita raiva das mulheres.

T: Como ela reage?

P: (Pausa) Ela me diz que tem raiva dos homens por causa de algumas coisas que aconteceram com ela.

T: Como você se sente quando ela diz isso?

P: Um pouco mais relaxado. Um pouco mais tranqüilo porque ela está sendo honesta comigo.
Referências bibliográficas

Farrell, J., Reiss, N., & Shaw, I.A. (2014). The Schema Therapy Clinician’s Guide. Malden: Wiley-Blackwell.

Mendes, M. A. & Falcone, E. M. O. (2014). Estratégias experienciais. In W. V. Melo (Ed.). Estratégias


psicoterápicas e a terceira onda em terapia cognitiva. Novo Hamburgo: Sinopsys

Stevens, B. A. & Roediger, E. (2017). Breaking negative relationship patterns. Malden: Wiley-Blackwell.

Van Vreeswijk, M. Broersen, J., Bloo, J., & Haeyen, S. (2012). Techniques within Schema Therapy. In M.
van Vreeswijk, J. Broersen, & M. Nadort (Orgs.). The Wiley-Blackwell handbook of schema therapy.
Theory, research, and practice. Malden: Wiley-Blackwell.

Young, J.E. (2003). Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: Uma abordagem focada no
esquema. Porto Alegre: Artmed.

Você também pode gostar